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A noção de uma organização sistêmica das coisas possui matriz Kantiana e informa-se em

critérios de ordenação e unidade, através da formulação de princípios gerais, que irão


determinar a condução dos elementos que integram uma totalidade. Através da
formulação de sistemas se estabelece um critério racional ao desenvolvimento da
atividade pretendida, evitando, também, que não haja identidade daquelas ações
desenvolvidas em seu contexto. A relevância de um sistema se fixa como sendo a adoção
de um critério de racionalidade ao desenvolvimento de uma atividade científica. Assim,
como Claus Canaris, concebemos que sistema é a tradução, também, da ordem de valores
e princípios jurídicos gerais.

Os sistemas processuais podem ser classificados em três sistemas históricos distintos,


separados de acordo com o seu princípio regente, ou seja, de acordo com o princípio que
lhe unifica e sustenta. Podemos dividir os sistemas processuais em: inquisitivo, acusatório
e misto.

O sistema inquisitivo rege-se pelo princípio de mesmo nome, “inquisitivo”, tendo por
característica fundante, a inexistência de uma repartição democrática de papéis entre os
sujeitos que integram o processo. Como consequência, o sistema inquisitivo é marcado
pela concentração de poderes na figura do juiz, que será o detentor do poder de gestão da
prova, em detrimento das partes.

Trata-se de um sistema que origina-se no Direito Canônico e que, portanto, traz como
reflexo da cultura religiosa, a escrita. A ausência de uma estrutura democrática reflete-se
na hierarquização do processo, que se manifesta na união da figura da acusação e da
decisão num só órgão: o inquisidor. Outros traços lhe são característicos, como, por
exemplo: a investigação secreta e contínua, o tratamento do acusado como objeto da
persecução penal, etc.

O sistema acusatório, por outro lado, faz-lhe oposição vez que oriundo de uma estrutura
política que se pretende democrática. Iniciado nos institutos jurídicos Romanos e Gregos,
marca-se pela transferência da gestão da prova às partes, com notada redução do papel da
autoridade judicial. Nesse sistema, a distribuição democrática de papéis entre os sujeitos
processuais tem como reflexo a diluição do órgão inquisidor. À partir de então, a acusação
será exercida por um órgão específico, apartado do julgador (papel a ser ocupado por uma
pessoa física).
Sendo marcado pela descentralização do rito processual, o sistema acusatório possibilita
a conversão da hermética condução do caso em um debate público, oral e amplo, com
respeito às garantias individuais e humanização do réu, que deixa de ser objeto de
persecução e passa a ser sujeito de direitos. Cita-se, ainda, a fixação do livre
convencimento motivado das decisões, bem como do contraditório e da ampla defesa.

Há uma radicalização nas formulações teóricas próprias do sistema acusatório no pós-


guerra, em especial com a declaração universal dos direitos humanos, que tendem a
centrar seus esforços em constructos que não forcem o desconhecimento do acusado
enquanto pessoa.

Evidentemente, com a inauguração da atual ordem constitucional, em 1988, o processo


penal Brasileiro passou a ser, em tese, acusatório, vez que que a carta magna promoveu
uma alteração paradigmática significativa na forma de condução da vida pública. Se
outrora o campo político era marcado por uma centralização arbitrária, agora, sob o signo
da democracia, passava a ser amplificado, o que, sem dúvidas, refletiu no processo penal.

Trata-se, portanto, em razão dessa harmonização para com a Constituição Federal, do


sistema reconhecido pelo poder judiciário como o sendo seguido no Brasil, embora a
doutrina seja fragmentária, com partidários das mais distintas posições.

A LEI N. 11.719/08 ADEQUOU O SISTEMA ACUSATÓRIO DEMOCRÁTICO,

INTEGRANDO-O DE FORMA MAIS HARMONIOSA AOS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS

DA CARTA DA REPÚBLICA DE 1988, ASSEGURANDO-SE MAIOR EFETIVIDADE DE

SEUS PRINCÍPIOS, NOTADAMENTE OS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.

POR SER MAIS BENÉFICA E HARMONIOSA COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL (STF –


HC 127.900/AM, REL. MIN. DIAS TOFFOLI, DJE 03.08.2016)

Todavia, há aqueles autores que discordam de ambas as posições, enxergando a existência


de um sistema misto, caracterizado pela união de premissas e características dos dois
sistemas acima mencionados.

1-A jurisdição penal é exercida pelos tribunais, reconhecendo-se, em alguns


casos, a legítima participação popular;
2 – A persecução penal é exercida, na maioria dos casos, por um órgão público;
3 – O imputado é considerado sujeito de direitos e sua posição jurídica, durante o
processo, é a de um inocente até que venha a ser considerado culpado;
4 – O procedimento traduz os interesses públicos de perseguir e de impor a sanção
penal ao agente, assegurando-lhe, outrossim, o respeito à sua liberdade;
5 – O tribunal pode ser composto por juízes leigos e profissionais ou apenas por
juízes profissionais, adotando-se o sistema de livre convencimento;
6 – As decisões são recorríveis.

Guilherme Nucci cita como marcas de um sistema misto o fato de que, em suas
palavras “fosse verdadeiro e genuinamente acusatório o nosso sistema, não se poderia
levar em conta, para qualquer efeito, as provas colhidas na fase inquisitiva, o que não
ocorre em nosso processo na esfera criminal, bastando fazer a leitura do art. 155 do
CPP”

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