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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 654 – STF


Márcio André Lopes Cavalcante

Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados com menor relevância para
concursos públicos, bem como aqueles que tratam sobre direito penal militar e direito processual militar.

DIREITO PENAL

Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006)

Lei Maria da Penha – 1


Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de
a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres.
Comentários A Presidência da República ingressou com uma ação declaratória de constitucionalidade
(ADC n. 19) com o objetivo de declarar que o art. 1º da Lei seria constitucional.

O art. 1º da Lei estabelece:


Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros
tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar.

A ADC foi necessária porque havia alguns juízes estaduais que declaravam inconstitucional a
Lei Maria da Penha porque ela faria discriminação entre homem e mulher ao proteger
apenas as mulheres em detrimento dos homens.

A ADC foi julgada procedente por unanimidade, ou seja, o STF declarou constitucional o art.
1º da Lei, afirmando que não há violação ao princípio da igualdade.

Dessa feita, conclui-se que a Lei Maria da Penha somente protege a mulher.
O homem até pode ser vítima de violência doméstica e familiar (ex: homem que apanha de
sua esposa). No entanto, somente a mulher recebe uma proteção diferenciada. O homem
recebe a proteção comum prevista no Código Penal.

A mulher, conforme o Relator, Min. Marco Aurélio, é vulnerável quando se trata de


constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. “Não há dúvida
sobre o histórico de discriminação por ela enfrentado na esfera afetiva. As agressões
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sofridas são significativamente maiores do que as que acontecem – se é que acontecem –


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contra homens em situação similar”, avaliou.

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O Relator afirmou que a Lei Maria da Penha promove a igualdade em seu sentido material,
sem restringir de maneira desarrazoada o direito das pessoas pertencentes ao gênero
masculino. O legislador utilizou meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado
pelo referido preceito constitucional.

Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo como critério de


diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado.

Frisou-se que, na seara internacional, a Lei Maria da Penha seria harmônica com o disposto no
art. 7º, item “c”, da Convenção de Belém do Pará e com outros tratados ratificados pelo país.

Assim, trata-se de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da mulher.

Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a norma seria corolário da incidência do


princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais.

O Min. Ayres Britto disse que a Lei está em consonância plena com o que denominou de
“constitucionalismo fraterno”, que seria a filosofia de remoção de preconceitos contida na
Constituição Federal de 1988.

O Min. Gilmar Mendes lembrou que não há inconstitucionalidade em legislação que dá


proteção ao menor, ao adolescente, ao idoso e à mulher.

Igualdade formal e material


A igualdade formal (também chamada de igualdade perante a lei, civil ou jurídica) está
prevista no art. 5º, caput da CF/88 e consagra que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza.
A igualdade material (igualdade perante os bens da vida, substancial, real ou fática)
preconiza que as desigualdades fáticas existentes entre as pessoas devem ser reduzidas por
meio da promoção de políticas públicas e privadas. A igualdade material também encontra
previsão na CF/88 (art. 3º, III).

A igualdade material e a formal acabam sendo conflitantes entre si.


Com efeito, a igualdade formal pressupõe um tratamento igual. Quando se trata todos da
mesma forma, está se promovendo a igualdade formal, mas relegando a igualdade material.
Quando se trata desigualmente os desiguais, promove-se a igualdade material em
detrimento da igualdade formal.

As ações afirmativas são medidas especiais que têm por objetivo assegurar progresso
adequado de certos grupos raciais, sociais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem de
proteção e que possam ser necessárias e úteis para proporcionar a tais grupos ou indivíduos
igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais (REsp 1264649/RS,
Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, julgado em 01/09/2011).

Desse modo, ao contrário do que muitas pessoas pensam, as ações afirmativas não se
restringem à proteção de negros, mas também de mulheres e outros grupos.
Processo Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012.
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Lei Maria da Penha – 2
Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Esta determinação, que consta no art. 33 da Lei, não ofende a competência dos Estados
para disciplinarem a organização judiciária local.
Comentários A ADC também tinha como objetivo declarar constitucional o art. 33 da Lei, que prevê:
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar
as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas
as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o
processo e o julgamento das causas referidas no caput.

Havia uma corrente de juízes e Desembargadores que defendia que este art. 33 da Lei
violava os arts. 96, I, a e 125, § 1º da CF:
 Art. 96. I, a: afirma que compete privativamente aos tribunais elaborar seus regimentos
internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das
partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos.
 Art. 125, § 1º: prevê que a competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Segundo o Relator, a Lei Maria da Penha não implicou obrigação, mas a faculdade de
criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher.

O art. 33 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas e não estabelece um
número de magistrados a serem alocados aos Juizados de Violência Doméstica e Familiar.
Estes temas seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais.

O mencionado artigo apenas faculta a criação desses juizados e atribui ao juiz da vara
criminal a competência cumulativa das ações cíveis e criminais envolvendo violência
doméstica contra mulher ante a necessidade de conferir tratamento uniforme especializado
e célere em todo o território nacional sobre a matéria.

Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação
de órgãos jurisdicionais especializados, tendo isso já ocorrido, por exemplo, com o Estatuto
da Criança e do Adolescente e com a Lei de Falência, cujas respectivas leis recomendaram a
criação de varas especializadas no julgamento de tais matérias.
Processo Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012.

Lei Maria da Penha – 3


Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a Lei
dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo que a pena seja menor que 2 anos.
Comentários O art. 41 da Lei Maria da Penha tem a seguinte redação:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995.

O STF decidiu que este art. 41 é constitucional e que, para a efetiva proteção das mulheres
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vítimas de violência doméstica, foi legítima a opção do legislador de excluir tais crimes do
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âmbito de incidência da Lei n. 9.099/95.

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Vale ressaltar que a Lei n. 9.099/95 não se aplica nunca e para nada que se refira à Lei
Maria da Penha.

Obs: o STJ interpretava este art. 41 afirmando que a inaplicabilidade da Lei n. 9.099/95
significava apenas que os institutos despenalizadores da Lei dos Juizados é que não
poderiam ser utilizados na Lei Maria da Penha, ou seja, transação penal e suspensão
condicional do processo.

O STF foi além e disse que, além dos institutos despenalizadores, nenhum dispositivo da Lei
n. 9.099/95 pode ser aplicado aos crimes protegidos pela Lei Maria da Penha.

Desse modo, a Lei n. 11.340/06 exclui de forma absoluta a aplicação da Lei n. 9.099/95
aos delitos praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas e familiares.

Aqui o julgamento foi 10 x 1, vencido o Min. Cezar Peluso.


Processo Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012.

Lei Maria da Penha – 4


Ponto mais importante e polêmico da decisão:
Toda lesão corporal, ainda que de natureza leve ou culposa, praticada contra a mulher no
âmbito das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA.
Comentários O crime de lesões corporais está previsto no art. 129 do CP.

O Código Penal não diz que o crime de lesões corporais é de ação pública condicionada.

Logo, quando a lei não diz que determinado crime é de ação pública condicionada, a regra é
de que este delito é de ação pública incondicionada (art. 100, § 1º do CP).

Ocorre que a Lei n. 9.099/95 afirmou, em seu art. 88, que os crimes de lesões corporais
leves e culposas seriam de ação penal pública condicionada:
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

Assim, por exemplo, quando, em uma briga de bar, João desfere um soco em Ricardo,
causando-lhe lesões corporais leves, este crime é de ação penal pública condicionada, ou
seja, qualquer providência para apurar este delito e para dar início ao procedimento
criminal só se inicia se o ofendido (no caso, Ricardo) tiver interesse e provocar os órgãos
públicos (procurar a polícia ou o Ministério Público).

Repita-se que, se não houvesse este art. 88 da Lei n. 9.099/95, a ação penal nos crimes de
lesões corporais leves e culposas seria pública incondicionada, considerando que o Código
Penal não exige representação para este crime (art. 129 c/c art. 100, § 1º do CP).

Antes do julgamento do STF, a dúvida era então a seguinte:


As lesões corporais leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência
doméstica eram de ação pública incondicionada ou condicionada?
Em outras palavras, este art. 88 da Lei n. 9.099/95 também valeria para as lesões corporais
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leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência doméstica?


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Havia duas correntes sobre o tema:
1ª corrente: ação pública INCONDICIONADA 2ª corrente: ação pública CONDICIONADA
(art. 88 não vale para a Lei Maria da Penha) (art. 88 vale para a Lei Maria da Penha)
Argumentos principais: Argumentos principais:
a) A ineficiência do Estado na proteção da a) O art. 41 da Lei só veda medidas
mulher vítima de violência doméstica despenalizadoras que não integrem a
representa grave violação de direitos vontade da mulher (veda transação penal e
humanos; suspensão do processo).
b) O projeto de lei previa representação e b) Por razões de política criminal e de
foi alterado. proteção da família reconstituída, é
c) A Lei 11.340/06 é expressa ao importante que a mulher tenha poder de
determinar que não se aplica a Lei decidir se deseja instaurar ou não a
9.099/95. persecução penal.

Antes do STF proferir o julgamento que estamos analisando, quem primeiro teve que
enfrentar a discussão foi o STJ.

De início, o STJ entendeu que se tratava de ação pública incondicionada:


HC 96.992-DF, Rel. Min. Jane Silva (Des. convocada do TJ-MG), julgado em 12/8/2008.

Ocorre que esse entendimento mudou e o STJ passou a adotar, de maneira pacífica, a 2ª
corrente, ou seja, de que se tratava de ação pública CONDICIONADA.
Sustentava-se, dentre outros argumentos que “não há como prosseguir uma ação penal
depois de o juiz ter obtido a reconciliação do casal ou ter homologado a separação com a
definição de alimentos, partilha de bens, guarda e visitas. Assim, a possibilidade de
trancamento de inquérito policial em muito facilitaria a composição dos conflitos
envolvendo as questões de Direito de Família, mais relevantes do que a imposição de pena
criminal ao agressor” (REsp 1.097.042-DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 24/2/2010).

O Plenário do STF julgou a questão e modificou novamente o panorama da jurisprudência pátria.

O que decidiu o STF?


Qualquer lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, praticada contra mulher no âmbito
das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA, ou seja, o Ministério
Público pode dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima.

O Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta, proposta pelo Procurador Geral da
República, para atribuir interpretação conforme a Constituição aos arts. 12, I; 16 e 41, todos
da Lei 11.340/2006, e assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime
de lesão corporal, praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher.

Em suma, o STF adotou a 1ª corrente acima exposta.

O resultado do julgamento foi 10 votos a favor da tese, vencido apenas o Min. Cezar Peluzo.

Para a maioria dos ministros do STF, se a ação penal fosse considerada condicionada esta
circunstância acabaria por esvaziar a proteção constitucional assegurada às mulheres.

Entendeu-se, contudo, que permanece a necessidade de representação para crimes


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dispostos em leis diversas da Lei 9.099/95, como o de ameaça e os cometidos contra a


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dignidade sexual.

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Algumas consequências que vislumbramos ser decorrentes deste entendimento do STF:
 Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não deve fazer com que
ela assine uma representação, uma vez que não existe mais representação para tais
casos. Bastará que o delegado colha o depoimento da mulher e, com base nisso,
havendo elementos indiciários, instaure o inquérito policial;

 Como já exposto acima, em caso de lesões corporais leves ou culposas que a mulher for
vítima, em violência doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o
inquérito policial e não o termo circunstanciado;

 Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada
com o cônjuge, procura o delegado, o promotor ou o juiz dizendo que gostaria que o
inquérito ou o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá
nenhum efeito jurídico, devendo a tramitação continuar normalmente;

 Se um vizinho, por exemplo, presencia a mulher apanhando do seu marido e comunica


ao delegado de polícia, este é obrigado a instaurar um inquérito policial para apurar o
fato, ainda que contra a vontade da mulher. A vontade da mulher ofendida passa a ser
absolutamente irrelevante;

 É errado dizer que, com a decisão do STF, todos os crimes praticados contra a mulher,
em sede de violência doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam
existindo crimes praticados contra a mulher (em violência doméstica) que são de ação
penal condicionada, desde que a exigência de representação esteja prevista no Código
Penal ou em outras leis, que não a Lei n. 9.099/95. Assim, por exemplo, a ameaça
praticada pelo marido contra a mulher continua sendo de ação pública condicionada
porque tal exigência consta do parágrafo único do art. 147 do CP. O que o STF decidiu
foi que o delito de lesão corporal, ainda que leve, praticado com violência doméstica
contra a mulher, é sempre de ação penal incondicionada porque o art. 88 da Lei n.
9.099/95 não pode ser aplicado aos casos da Lei Maria da Penha.

 Os arts. 12, I e 16, da Lei Maria da Penha não foram declarados inconstitucionais. O que
o STF fez foi tão-somente dar interpretação conforme a Constituição a estes
dispositivos, confirmando que deveriam ser interpretados de acordo com o art. 41 da
Lei. Em suma, deve-se entender que a representação mencionada pelos arts. 12, I e 16
da Lei Maria da Penha refere-se a outros delitos praticados contra a mulher e que sejam
de ação penal condicionada, como é o caso da ameaça (art. 147 do CP), não valendo
para lesões corporais.
Processo Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Procedimento e nulidade

No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, não há
previsão legal para que o MP se manifeste sobre esta peça defensiva.
No entanto, caso o juiz abra vista ao MP mesmo assim, não haverá qualquer nulidade.
Comentários Conceito de procedimento: é sucessão coordenada de atos processuais.

Conceito de procedimento penal: é a sucessão coordenada de atos que ocorrem no


processo destinado à apuração de crimes.
Espécies de procedimentos penais:
Existem várias espécies de procedimentos penais, que variam de acordo com o crime que
está sendo apurado.

O procedimento penal divide-se em:


I – COMUM:
Rito para apuração de crimes para os quais não haja procedimento especial previsto em lei.
Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposição em contrário do
CPP ou de lei especial.

II – ESPECIAL:
São os ritos previstos no CPP ou em leis especiais para determinados crimes específicos.
Ex1: procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523 do CPP).
Ex2: procedimento para os processos de competência do Júri (arts. 406 a 497).
Ex3: procedimento para os crimes da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006).

O procedimento COMUM, por sua vez, subdivide-se em:


a) Procedimento comum ordinário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima
prevista seja igual ou superior a 4 anos. É previsto no CPP.
b) Procedimento comum sumário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima
prevista seja inferior a 4 anos, excluídos os casos do sumaríssimo. É previsto no CPP.
c) Procedimento comum sumaríssimo: rito para processamento de contravenções penais
e crimes de menor potencial ofensivo (pena máxima prevista não superior a 2 anos).
Aqui, aplica-se a Lei n. 9.099/95.

Vejamos algumas etapas do procedimento comum (ordinário e sumário):

Absolvição
sumária
Citação Resposta (art. 397)
Recebimento Réu citado p/
responder à acusação
preliminar
em 10 dias. (art. 396-A) Rejeição da absolvição
Denúncia sumária e designação
de audiência
Rejeição
(art. 395, CPP)
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Desse modo, conforme se observa, após a resposta preliminar*, não há previsão de o
Ministério Público se manifestar sobre o que o acusado alegou. Pela letra da lei, o juiz, após
receber a resposta escrita do réu, deve simplesmente absolvê-lo sumariamente (se houver
qualquer das hipóteses do art. 397 do CPP) ou rejeitar a absolvição sumária e designar
audiência, podendo, ainda, eventualmente, deferir a produção de outras provas requeridas
pelo réu na resposta, como perícias, por exemplo.

* Uma observação terminológica antes de prosseguirmos:


A resposta apresentada pelo art. 396-A do CPP não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP
chama de “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência denomina “resposta
preliminar”. O Min. Marco Aurélio, em julgado que veremos abaixo, utilizou a expressão
“defesa prévia” (que era uma nomenclatura que existia na redação anterior do CPP e que,
em nossa modesta opinião, é a menos adequada por ter um potencial de gerar confusão
com o antigo instituto).
Não deve ser utilizada, para esta peça do art. 396-A a expressão “defesa preliminar”, tendo
sido ela rechaçada expressamente pelo Min. Marco Aurélio quando de seu voto.

Pois bem, retomando, pelo texto legal, após a resposta preliminar (resposta escrita/defesa
prévia), não há previsão de o Ministério Público se manifestar sobre o que o acusado alegou
nesta peça defensiva.

E se o juiz, mesmo não havendo previsão legal, após o réu apresentar sua resposta
preliminar, abrir vista ao Ministério Público para que ele se manifeste a respeito do que o
acusado alegou, haverá nulidade?
NÃO. Não há nulidade no fato de o juiz ouvir o MP depois da resposta preliminar
apresentada pelo acusado. Foi o que entendeu a 1ª Turma do STF.

O Min. Marco Aurélio, relator do processo, afirmou, em síntese, que a oitiva do MP, no caso
concreto, decorreu da observância do contraditório e que não havia qualquer nulidade na
conduta adotada pelo magistrado.

Sublinhou que, após o réu apresentar defesa prévia na qual são articuladas preliminares ou
juntados novos documentos seria cabível a audição do parquet para se definir sobre o
prosseguimento da ação penal.

Ressaltou que somente haveria nulidade se o MP tivesse falado depois da defesa nas
alegações finais, isto é, se, após as alegações finais da defesa, o MP voltasse aos autos e se
manifestasse sobre isso. Como não era essa a hipótese, não havia qualquer vício a macular
o processo.

Obs: no caso julgado pelo STF, tratava-se de um crime de calúnia (art. 138 do CP), delito
para o qual o CPP prevê um procedimento especial. As únicas especificidades deste
procedimento estão no fato de que é possível a tentativa de conciliação entre querelante e
querelado (art. 520 do CPP), bem como o oferecimento de exceções de verdade ou de
notoriedade (art. 523 do CPP). Tirando estas peculiaridades, a instrução é a mesma do
procedimento comum previsto no art. 394 e ss. do CPP.
Processo 1ª Turma. HC 105739/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, julgado em 08/02/2012.
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) A Lei n. 11.340/2006, mais conhecida como “Lei Maria da Penha” viola o art. 5º, caput, da CF, ao
estabelecer distinção irrazoável entre homem e mulher, contrariando, assim, cláusula pétrea
constitucional. ( )
2) A Lei Maria da Penha prevê legítima ação afirmativa em favor da mulher, estando em consonância com
o que se tem denominado de “constitucionalismo fraterno” ( )
3) É sempre desproporcional ou ilegítimo o sexo como critério de diferenciação. ( )
4) As ações afirmativas consistem em políticas públicas voltadas a reduzir as desigualdades materiais
apenas decorrentes da raça. ( )
5) Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas
decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. ( )
6) É inconstitucional lei federal que recomenda aos Tribunais de Justiça a criação de órgãos jurisdicionais
especializados. ( )
7) Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 apenas quanto às medidas
despenalizadoras. ( )
8) A Lei Maria da Penha, ao excluir do seu âmbito a aplicação da Lei 9.099/95, violou o art. 98, I, da CF/88. ( )
9) Os crimes de lesões corporais leves e culposas são delitos de ação penal pública condicionada. ( )
10) As lesões corporais leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência doméstica são
de ação pública condicionada. ( )
11) Por razões de política criminal e de proteção da família, a mulher tem poder de decidir se deseja instaurar
ou não a persecução penal no caso de lesão leve sofrida no âmbito de violência doméstica. ( )
12) Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada com o
cônjuge, procura o delegado, o promotor ou o juiz dizendo que gostaria que o inquérito ou o processo
não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum efeito jurídico, devendo a tramitação
continuar normalmente. ( )
13) Após a decisão do STF, no julgamento da ADI 4424/DF, os crimes praticados contra a mulher, em sede
de violência doméstica, serão de ação penal incondicionada com o fim de não esvaziar a proteção
constitucional assegurada às mulheres. ( )
14) No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, o juiz sempre
deverá abrir vista ao MP para que este se manifeste sobre a peça defensiva. ( )
15) No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, se o juiz abrir vista
ao MP para que este se manifeste sobre a peça defensiva, haverá nulidade considerando que inexiste
previsão legal neste sentido e tendo ainda em conta o princípio do favor rei. ( )
16) O procedimento penal sumaríssimo, previsto na Lei 9.099/95, segundo o CPP, é etiquetado como
especial. ( )

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. E 8. E
9. C 10. E 11. E 12. C 13. E 14. E 15. E 16. E
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