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V Seminá

inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC


Car
19 a 23 de outubro de 2009

HUSSERL E A HERANÇA CARTESIANA: DO E


EGO
PSICOLÓGICO
O À SUBJETIVIDADE TRANSCEND
DENTAL

Edson
nR Ribeiro de Lima
Doutorado Universid
rsidade Federal de
São CCarlos (UFSCar)
B
Bolsista CAPES.
edson1978
78@yahoo.com.br

Dentre os muitos paralelismos


pa afirmados entre o pai do Cogito e o fundador da
Fenomenologia, certamente
nte o problema do sujeito possui um papel fund
ndamental. Afinal,
se Husserl afirma que a “fenomenologia é o sonho secreto de toda
t a filosofia
moderna”206, é em Des
escartes que ele encontra o germe dee uma filosofia
verdadeiramente rigorosa.
a. M
Mesmo o tema do transcendental teria aí si
sido vislumbrado
pela primeira vez na histó
stória da filosofia: “As sementes da filosofia
fia transcendental
ricamente em Descartes”207. Deste modo, cons
encontramo-las nós historic nstatamos algo no
mínimo inusitado ao perco
rcorrermos o tema do transcendental na feno
nomenologia: nas
Investigações lógicas, ond
nde não há ainda o transcendental observam
amos um Husserl
efetivamente cartesiano em seus temas e, a partir de 1907, um Husse
sserl que se refere
freqüentemente ao pai do ccogito, mas num nível de análise que lembra
ra muito pouco os
fundamentos cartesianos eestritos, pois a redução – que possibilitaria
ria o “verdadeiro
transcendental” – não faz restar nada das oposições que aindaa vigoravam nas
Investigações de 1900. Com
omo pergunta Pedro Alves, “por que razão,, nno momento em
que a fenomenologia a si m
mesma se determina como um filosofia transc
scendental, se põe
...)?”208. É sabido,
ela surpreendentemente sob o signo de Descartes e não de Kant (...)
também, que ao mesmo te
tempo em que Descartes vislumbra a possib
sibilidade de uma
filosofia realmente científic
ífica, põe tudo a perder ao confundir o transc
scendental com o
empírico. “Entre a idéia
ia sem efetividade, seja em Descartes seja
ja na posteridade
cartesiana, e a efetividade
ade kantiana da idéia do transcendental, po
por que razão a
fenomenologia insiste apesa
esar de tudo na reivindicação de uma filiação
ão que, olhados os

206
Erste Philosophie, Erster Teil:
eil: Kritische Ideengeschichte, Hua VII.
207
Krisis, Beilage VIII, Hua VI,
I, p.
p 415.
208
Alves, Pedro M. S. , “Subjetiv
tividade e tempo na fenomenologia de Husserl”, p. 302.
2.
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legítimos sucessores de D
Descartes, se arrisca a só se poder afirm
irmar como uma
descendência bastarda?”209
Se a confusão entr
ntre o transcendental e o empírico encontra
ra no conceito de
sujeito seu fio condutor,
r, é necessário, portanto, investigar os seus
us motivos. Esta
“confusão” se torna ainda
nda mais grave ao lembrarmos que Descart
artes toma como
fundamento filosófico a ev
evidência e a exigência de encontrar apenas
as conteúdos que
sejam certos e indubitáveis,
eis, “(...) uma vez que a razão já me persuadee dde que não devo
menos cuidadosamente im
impedir-me de dar crédito às coisas que nos parecem
(...)”210. Com efeito, se “antes de Descartes,, hhavia sempre um
manifestamente ser falsass (.
conteúdo que o pensar nãoo hhavia colocado e que se devia acolher comoo vverdadeiro antes
de filosofar. É com esse habitus
hab que rompe a resolução cartesiana de tom
tomar por primeiro
princípio metafísico a ‘ce
‘certeza imediata do pensar’ e, por conse
seguinte, de não
reconhecer como verdade
adeiro senão o que comporta ‘a evidênc
ência interior da
consciência’”211. Aos olhos
hos de Husserl, contudo, este rompimento pare
arece não ter sido
completo. Ou ainda, a epoc
poché cartesiana não tirou todas as conclusões
es que poderia ter
tirado a partir do princípio
io da dúvida, uma vez que quando Descartes “d
“descobre” o ego
“ele o determina como uma
ma esfera obtida por abstração do corpo e, nes
neste momento, só
pode concebê-lo como men
ens sive animus sive intellectus. Este ego sóó ppoderá ser visto
agora como um resíduo do mundo, como uma ‘região’ oposta a umaa ooutra região, e a
independência da subjetiv
tividade em relação ao mundo será interp
rpretada como a
tre duas substâncias”212.
separação (Trennung) entre
O problema do suje
ujeito, assim, parece vir acompanhado do pape
pel que a redução
deveria exercer na econ
onomia do método fenomenológico. Ora,
ra, é a redução
fenomenológica e transcend
endental a responsável pelo ultrapassamento da posição natural
rumo à conquista de um terr
território propriamente fenomenológico.
II
O pensamento natu
atural define-se pela relação imediata e diret
reta com as coisas
compreendidas enquanto
to meros objetos componentes do m
mundo, tomados
independentemente da temaatização desta relação. Ou melhor: as coisas
sas são apreendidas
sempre a partir do juízo,, dda percepção, da recordação, da imaginação
ão, do querer, etc,
entretanto o modo de apreen
eensão mesmo, ou a condição de possibilidade
de da apreensão, no

209
Alves, idem ibidem, p. 303.
210
Descartes, “Meditações”, prim
rimeira meditação, §2, p. 94.
211
Lebrun, Gérard “Hegel e a ‘in
‘ingenuidade’ cartesiana”, in Revista Analytica, vol. 3, nn° 1, p. 158, 1998.
212
Moura, Carlos Alberto Ribe ibeiro de “Cartesianismo e fenomenologia: exame dde paternidade”, in
Revista Analytica, vol. 3, n° 1,, p. 197, 1998.
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domínio natural, não é aind


nda tematizada. Neste contexto, o mundo é com
ompreendido como
uma extensão no espaço nno interior do qual as coisas se situam,, nnuma relação de
exterioridade absoluta entre
tre si. As coisas estão à disposição, e a part
artir dos diferentes
modos da percepção sens
ensível pode se estabelecer cadeias dedutiv
tivas, relações de
causalidade, semelhança, di
diferença e contigüidade. E tudo isto não som
omente de maneira
arbitrária, mas segundo um
uma pretensa catalogação lógica em que oos conhecimentos
concordam uns com os out
utros, seguem uns aos outros, quer dizer, se organizam numa
egional213.
região de coisas passíveis de serem tratadas por uma ciência positiva regi
Quando afirmamos
os que as coisas “estão disponíveis” descob
obrimos que esta
disposição se dá para um eeu que observa. Este eu pode igualmente torn
tornar-se objeto de
uma ciência particular. É este o recuo básico que Descartes realizaa ao suspender o
conhecimento sensível enqu
nquanto fonte de erro e engano. No entanto,, es
este recuo é feito
apenas ao modo de um rec
recuo psicológico, uma vez que assimilandoo a consciência à
alma, esta é ainda “parte
rte” em relação à realidade. Deste modo,, o psicologismo
cartesiano pretende um con
onhecimento mais radical ao operar o deslocam
amento das coisas
para a estrutura que perman
anece na base deste aparecimento: o ego. Não
ão obstante, ele é
tomado no mesmo nível das coisas214, como extensão psíquica dos obje
bjetos no espaço e,
mutatis mutandis, o próprio
rio eu é compreendido espacialmente ou natur
turalizadamente e,
assim “o conhecimento é um fato da natureza, é vivência de seres
res orgânicos que
conhecem, é um factum psicológico. Pode, como qualquer factu
ctum psicológico,
descrever-se segundo as su
suas espécies e formas de conexão e investi
stigar-se nas suas
relações genéticas”215.
O eu e a consciên
iência são, segundo esta posição, compreen
endidos enquanto
factum. Não obstante, o eu não está num mero mundo de coisas, m
mas num mundo
contendo valores, bens ou num mundo prático, mesmo na atitude nat
natural. Mesmo aí
onde as coisas são tomadas
as em si há um horizonte (ainda que natural)
l) eem que elas são
determinadas como isto ou
o aquilo: “As coisas se apresentam imedi
ediatamente como
objetos usuais: a ‘mesa’ ccom seus ‘livros’, o ‘copo’, o ‘vaso’, o ‘pi
‘piano’, etc. Estes
valores e aspectos prático
ticos pertencem também a título constitutiv
utivo aos objetos

213
A propósito das ciências daa natureza material e das diferentes regiões da realidaidade, compreendidas
num sentido pré-fenomenológic gico, conferir Idéias III: “A natureza material está tá aí como algo de
inteiramente fechado e ela conse serva sua unidade fechada e o que lhe é próprio, de modo
mo essencial, neste
fechamento: não somente no si simples contexto da experiência teórica, mas també bém no contexto do
pensamento teórico da experiêncincia, que nós denominamos, no sentido habitual, de ciên
iência da natureza que
seria preferível nomear mais prec
recisamente de ciência da natureza material” (§1, p. 5-6)
6).
214
Para a caracterização da psico
icologia (em especial o psicologismo) e a antropologia como
co ciência natural
do psíquico e ciência natural doo hhomem respectivamente cf. Investigações Lógicas, Pro
Prolegômenos §38.
215
Die Idee der Phänomenologiegie / Fünf Vorlesungen, Martinus Nijhoff, p. 19, 1958.
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‘presentes’ enquanto tais.....” (idem). Contudo é justamente pelo fato dde que as coisas
possuem um sentido prático
tico que o problema da “possibilidade” do conh
onhecimento não é
posto: a crença na existênci
ncia real não é tematizada, pois na atitude natur
tural ela ainda não
“sabe de si” mesma. Somen
ente a suspensão da crença permitiria revelar
lar a existência da
crença, o que aqui ainda não é realizado216. Radicalizando a investigaç
gação na atitude
natural da consciência, desc
escobre-se que “por detrás” de cada ato de conh
nhecimento há um
cogito tácito que acompanh
nha todas as nossas representações, o que é, em grande parte a
concepção kantiana quee carece igualmente de uma “depuração”
o”. Embora esta
constatação de uma instân
tância “pré-reflexiva” nos mostre com maiss clareza
c a região
consciência o passo decisiv
isivo da redução do mundo natural ainda não
ão é dado: o que
ito mundano ou psicológico217.
temos é somente um cogito
É somente com a redução
r da objetividade que a atitude fenom
nomenológica tem
início. A reflexão que prod
oduz um corte entre a região consciência e a re
região do mundo
na atitude natural precisa
sa recuar ainda mais e operar, primeiramente
nte, uma redução
eidética da vivência. Neste
te rrecuo, a consciência descobre-se aquém ou al
além, mas não no
mesmo plano dos objetoss nnaturais, estabelecendo uma separação entre
re fato e essência,
segundo a terminologia das Idéias I218. A primeira redução move-se já no domínio das
essências: neste o objeto é ssomente o que nos aparece como cogitatum do
d cogito. O que
assim se evidencia é a con
onsciência pura como correlato essencial doo oobjeto reduzido,
consciência esta que já nã
não possui qualquer predicado substanciall ccomo ocorre no
âmbito do psicologismo. O que o psicologismo realiza sem a redução
ão é somente uma
mudança de objeto, não de atitude, permanecendo (no que se referee aao problema do
conhecimento) tributário de todos os prejuízos naturalistas.
É necessário apresen
sentar a redução como a atitude propriamentee ffenomenológica,
pois esta instala-se numa re
região aquém de toda oposição e dualidade,, nna qual a própria
zada219. A atitude reflexiva nos mostra quee aali onde parecia
posição natural é tematizad

216
Cf. Nabais, Nuno in “A evidên
dência da possibilidade”, Introdução, p. 22. “Há assim uuma não autonomia
metodológica dos argumentoss qque tornam necessária a redução fenomenológica.. S Só a suspensão da
crença permite revelar a existênc
ência da crença. Mas essa suspensão, porque é uma dec ecisão metodológica,
só pode ser praticada – ou melhor
hor ensaiada – sobre a tese da sua existência como um dadado prévio”.
217
Para Descartes, o que poderi
eria ser compreendido como imanência transcendental tal é encarado apenas
como imanência real, como umaa região interior, como res cogitans oposta à res extensa
nsa.
218
Idéias I, §3, p.19-20.
219
Cf. Barbaras, Renaud, in “InIntroduction à la phénoménologie de Husserl”, p. 91 91: “O mundo não é
posto, ele é reencontrado, descob
oberto. O próprio da atitude natural é justamente que o mundo se dá como
anterior e fundador dos atos pelo
elos quais eu me refiro a ele – e não como o correlatoo destes
d atos, ou seja,
como posto por eles. Assim, em m virtude desta própria tese natural, a dimensão propria
riamente subjetiva da
relação ao mundo é, ela mesma,a, cconcebida de modo intramundano.”
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haver somente uma atitu


itude ingênua já habitava o transcendental
al de modo não
tematizado.
Temos, pois, a posiç
sição de existência dos objetos reduzida peran
ante a consciência
pura em que o que aparece
ece é tomado como um dado (Gegebenheit)) absoluto.
a “Nada
inquirimos então acerca de fenômenos psicológicos, não falamos deles
les, nem de certas
ocorrências da chamada re
realidade efetiva (cuja existência permanecee iinteiramente em
questão), mas do que é e va
vale, quer exista ou não algo como a realidad
ade objetiva, quer
sição de tais transcendências”220.
seja ou não legítima a posiç
A redução transcend
endental, por conseguinte, reduz toda transcen
cendência objetiva
ao absolutamente dado à co
consciência, a um campo de imanência transc
nscendental. Neste
sentido, pouco interessa a eexistência efetiva do puramente percepciona
nado. O mundo é
isto que se apresenta enqua
uanto pensado, expresso pela fórmula tardiaa qque a Krisis nos
apresenta: Ego-cogito-cogi
ogitata qua cogitata. O dado numa vivên
vência puramente
considerada é um dado abso
bsoluto.
Porém, a partir daa caracterização
c feita acima não acabamos reca
ecaindo na mesma
posição de Descartes ao estabelecer
e a certeza apodítica do Cogito?? Isto exige que
retornemos mais uma vezz à noção de intencionalidade e o estatuto radi
adical que Husserl
lhe confere como essênciaa dda consciência.
Como é sabido,, nas Meditações cartesianas, Husserll afirma que a
mesmo ser considerada, em certa medi
fenomenologia poderia m edida, como um
tanto, um dos muitos aspectos que separam Hu
neocartesianismo. No entan Husserl do pai do
Cogito é o conceito de inten
tencionalidade que está na base da compreensão
são de consciência
pela fenomenologia221. A intencionalidade é um conceito que H
Husserl herda de
Brentano, e é enunciadoo dda seguinte maneira: “Na percepção é perc
ercebido algo; na
representação imaginativa
va é representado imaginativamente algo; nno enunciado é
enunciado algo; no amorr aalgo é amado; no ódio algo é odiado, etc.”222
22
. Ou seja, toda
consciência visa algo quee não ela mesma, ruma constantemente para
ra fora de si. Mas
Husserl divide ainda a inten
tencionalidade em psicológica e transcendental
tal e, segundo seu

220
Die Idee der Phänomenologiegie, p. 61.
221
Descartes ao atravessar o per
percurso da dúvida metódica chega à conclusão indubit bitável de que é algo
enquanto duvida: “Ora, eu souu uuma coisa verdadeira e verdadeiramente existente,, mas m que coisa? Já o
disse: uma coisa que pensa.”” ((Descartes, Meditações metafísicas; meditação segu gunda). O problema
posterior será o de saber como se dá a relação entre a consciência e os objetos compre reendidos como duas
instâncias separadas, como exter
teriores enfim. Esta separação, para Husserl, é a continu
inuação filosófica dos
prejuízos galilaicos que estavam
am na base da teorização da natureza, pois Galileu, ao enxergar o mundo
pelas lentes da geometria, fazia
zia “abstração dos sujeitos” e compreendia a natureza za como “mundo de
corpos realmente fechado sobre re si”. Com a redução, não faz sentido pensar o subjet jetivo oposto ao não-
subjetivo. O objetivo torna-se também
tam subjetivo como seu ato correlato. Cf. Krisis, p.. 82
8 e ss.
222
Investigações Lógicas V, §10
10.
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juízo, seu mestre havia fic


ficado apenas na primeira. Além desta distin
tinção, Husserl dá
ainda um passo radical ao
ao definir a intencionalidade como essência da consciência e,
neste sentido, a consciência
cia não preexiste ao seu ato. A unidade da cons
nsciência não está
dada previamente à multi
ltiplicidade das vivências, não sendo, desta
ta maneira, mera
condição de possibilidadee ppara as vivências. Antes, é no interior doo ppróprio fluxo da
vivência que a consciência
ia se dá. Os atos da consciência são definidos
os como vivências
intencionais, e não comoo atividades psíquicas; distante de qualque
quer compreensão
“(...) referência intencional”223.
psíquica, a consciência é “(.
No entanto, se a consciência
con é necessariamente consciência dee algo, em que se
pese ser a intencionalidade
de sua “estrutura” fundamental, qual o estatu
atuto da “coisa” a
qual a consciência se refe
efere? Há também a necessidade de que tod
toda intenção seja
preenchida através de umaa intuição sensível? Estas questões exigem uum retorno à VI
Investigação. Aí, já a dist
istinção entre intenção de significação e pre
preenchimento de
intenção nos mostra que a iintuição possui um sentido mais amplo quee aaquele dado por
Kant a este conceito. O pree
reenchimento de intenção comporta graus, não
ão havendo, então,
a necessidade de que a tod
toda intenção corresponda uma intuição, embbora para o caso
específico do conhecimento
nto o preenchimento deva ocorrer.
Desde as “Investiga
gações lógicas” Husserl admitia uma modalid
lidade de intenção
que é vazia, meramente si
significativa, para os casos em que não há preenchimento
possível. Trata-se neste cas
caso apenas de uma intenção significativa, sem
em preenchimento
real. A percepção é um ato que apenas determina a significação, mass nnão a contém: a
significação reside numaa esfera anterior à percepção como umaa iintencionalidade
peculiar que a possibilita.. O visar algo se preenche na percepção, mas
as não é a própria
percepção224. Podemos dize
izer, de modo geral, que a intencionalidade é aanterior à esfera
da percepção e do juízo, co
como componente essencial para a consciênci
ncia perceptiva ou
judicativa, componente esse
ssencial este que se constitui como significação
ção. “O caráter de
ato do indicar, quando regi
gido pelo intuir, recebe uma determinação de intenção que se
preenche, nesse intuir, de acordo com um teor de componentes”225. Desde então a
intencionalidade é este “ind
indicar”, esta “direção” que expressa um senti
ntido sem mesmo,
num primeiro momento, rei
reivindicar qualquer base intuitiva. Por outro la
lado conhecemos
também o teor antiformalis
alista expresso no lema “zu den Sachen selbs
lbst” pelo qual as
Investigações se tornaram ccélebres.

223
Investigações Lógicas V, §11.
1.
224
Cf. Investigações Lógicas VI,, §5, p.28.
225
Idem, ibidem p.27.
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BIBLIOGRAFIA

Obras de Husserl:

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Erste Philosophie, Haag: M
Martinus Nijhoff, Band VII, Erster Teil, 1956.
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T Gabrielle Peiffer et E. Lévinas, Paris: Vr
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issenschaft, Frankfurt am Main: Vittorio Klost
Philosophie als strenge Wis ostermann, 1965.

Outras Obras:

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bjectividade e tempo na fenomenologia de Huusserl, Centro de
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Barbaras, Renaud – Introdu
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Les Éditions de la
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Conrad-Martius, H. – Die hänomenologie, in
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185 Haag: M. Nijhoff.
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Júnior, in Col. Os
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Levy, Lia – “Eu sou eu exi
existo: isto é certo; mas por quanto tempo?” O Tempo, o Eu e
os Outros Eus. In Analytica,
An Vol. 2, N° 2, 1997.
Moura, Carlos Alberto R
Ribeiro de – Cartesianismo e fenomenolo
ologia: exame de
paternidade, in Revi
evista Analytica, volume 3, número 1, 1998.
Nabais, Nuno – A evidênc
ncia da possibilidade (A questão modal na fen
fenomenologia de
Husserl), Lisboa: Relógio
Re D´Água Editores, 1998.

ISSN 2177-0417 - 147 - PP


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