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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL 104

APELAÇÃO N° 0056343-88.2012.8.19.0002

Apelante: WANDERSON GONÇALVES DA SILVA


Apelado: SERMEDE SERVIÇO MÉDICO E DENTÁRIO LTDA
Origem: Juízo de Direito da 10ª Vara Cível da Comarca de Niterói

APELAÇÃO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZATÓRIA. Exclusão do autor do plano de saúde.
Alegação de comportamento inadequado. Atraso na entrega dos
exames gerando a discussão. Incontroversa a falha na
prestação do serviço. Se de um lado houve eexcesso praticado
pelo autor ao adentrar o estabelecimento da apelada e reclamar
em voz alta e alterada, também houve excesso da ré em
desligar sumariamente o apelante e sua esposa dos quadros de
associados, caracterizando a culpa concorrente. Dano moral
configurado. Quantum indenizatório que deve ser mitigado.
Invertidos os ônus da sucumbência. Jurisprudência dominante.
RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, NA FORMA DO ART.
557, § 1º-A, DO CPC.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c indenizatória na qual o


autor pleiteia a sua imediata inclusão e de sua esposa nos quadros de
associados da ré, bem como que esta se abstenha de negar-lhes
atendimento, além da condenação em danos materiais e morais.

A sentença (pasta 00083, do indicador eletrônico) julgou


parcialmente procedente o pedido, tão somente, para confirmar a tutela
antecipada determinante que a ré mantenha o autor e sua esposa em
seus quadros, abstendo-se de negar-lhes atendimento. Determinou o
rateio das custas processuais e compensação dos honorários,
considerando a sucumbência recíproca, observado quanto o autor o
disposto no art. 12, da Lei nº 1.060/50.

O recurso, tempestivo e ao abrigo da gratuidade, foi recebido no


efeito devolutivo (pasta 00097). Almeja a condenação da ré na reparação
por dano moral, bem como nos ônus da sucumbência (pasta 00087).

A ré não apresentou contrarrazões (pasta 00098).

É o relatório. Passo a decidir.

O tema de que se ocupam estes autos se sujeita às normas do


Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 14, § 3º, inciso II, impõe
responsabilidade civil objetiva ao fornecedor do serviço, salvo se este
comprovar que o defeito inexiste ou decorre de culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro, hipótese em que se rompe o nexo de
causalidade entre o serviço prestado e os danos supostamente
resultantes de defeito na sua prestação.

0056343-88.2012.8.19.0002 - AR Página 1

CLAUDIO LUIS BRAGA DELL ORTO:000014566 Assinado em 24/02/2014 22:54:38


Local: GAB. DES CLAUDIO LUIS BRAGA DELL'ORTO
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VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL 105

Narra o autor ser usuário do plano de saúde, ora réu, contratado


pelo seu empregador. Aduz que a sua esposa necessitou realizar exame
de sangue para a continuação do seu pré-natal, e que houve atraso
injustificado na entrega do resultado. Afirma que foi destratado pelo
médico responsável pelo estabelecimento réu, e indevidamente excluído
dos quadros de associados.

A ré afirma que o desligamento decorreu da conduta do autor “que


invadiu o consultório do médico e começou a reclamar em voz alta e
alterada”. Alega culpa exclusiva do usuário, o que retiraria o dever de
indenizar.

Incontroversa a falha na prestação do serviço (nem tal capítulo foi


devolvido ao exame do Tribunal – art. 515 do CPC), cingindo-se a questão
recursal em aferir a responsabilidade da empresa pelo fato narrado na
inicial e a ocorrência de dano moral.

Compulsando os autos verifica-se que de fato houve atraso na


entrega dos exames, o que resultou na discussão entre o autor e o
preposto da ré. Também restou comprovada a exclusão do autor dos
quadros de associados por “comportamento inadequado.” (fls. 28).

Ora se de um lado houve excesso praticado pelo autor ao adentrar


o estabelecimento da apelada e reclamar em voz alta e alterada, também
houve excesso da ré em desligar sumariamente o apelante e sua esposa
do plano de saúde, caracterizando a culpa concorrente.

Ante tais considerações, inafastável o dever de indenizar.

No que tange a configuração de dano moral na hipótese, tem-se


que os fatos aqui fatos narrados ultrapassam o que se pode considerar
como mero aborrecimento ou simples descumprimento contratual.

Assim é porque, além do abalo emocional causado no momento do


fato (discussão decorrente do atraso na entrega dos exames para
prosseguimento do pré-natal de sua esposa), o desligamento do plano de
saúde trouxe frustrações e sofrimento ao apelante.

Nesta linha de intelecção, tem-se que a indenização deve


representar uma compensação razoável pelo abalo emocional
experimentado, devendo ser mitigada considerando a culpa concorrente.

Na hipótese em exame, fixo o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais),


considerando a dinâmica dos fatos.

Em sentido análogo, a jurisprudência desta Corte de Justiça:

0149695-89.2001.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. LUCIANO


SILVA BARRETO - Julgamento: 07/08/2013 - VIGÉSIMA
CÂMARA CÍVEL - APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO
CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
PELO FATO DO SERVIÇO. PRELIMINARES DE
CERCEAMENTO DE DEFESA E DE SENTENÇA. ULTRA
PETITA AFASTADAS. MÉRITO. FALHA DO SERVIÇO

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DEMONSTRADA. DEVER DE INFORMAÇÃO E SEU


COROLÁRIO DA VULNERABILIDADE TÉCNICA
PARCIALMENTE OBSERVADOS. APLICAÇÃO DO ARTIGO
14 DO CDC. CONCORRÊNCIA DE CAUSAS PARA O
EVENTO DANOSO EVIDENCIADA. CULPA
CONCORRENTE RECONHECIDA. MITIGAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE DA PRESTADORA DE SERVIÇO
PÚBLICO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
INEXISTÊNCIA DE DANOS MATERIAIS NA MODALIDADE
DE LUCROS CESSANTES. PENSIONAMENTO DEVIDO.
RECURSO DA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO
PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO DOS DEMAIS
APELANTES IMPROVIDOS;

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. SUPERMERCADO. TOMBAMENTO DE BALCÃO
EM CIMA DA MENOR. FALHA NO DEVER DE CUIDADO
DA GENITORA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE
O MOBILIÁRIO NÃO REPRSENTAVA RISCO EM SUA
UTILIZAÇÃO NORMAL. DANO MORAL CONFIGURADO.
CULPA CONCORRENTE CONFIGURADA COM REFLEXO
NA QUANTIFICAÇÃO DO DANO. Demanda objetivando a
condenação do Réu ao pagamento de indenização pelos
danos materiais e morais sofridos em razão de acidente
ocorrido no interior de seu estabelecimento comercial, por
tombamento de balcão em cima da menor, o que lhe
causou lesões no pé, com a necessidade de imobilização e
colocação de gesso. Sentença de improcedência,
reconhecendo a excludente de culpa exclusiva da
vítima. Responsabilidade da Ré que é objetiva. Risco do
empreendimento. (Art.14, caput, do CDC). Dinâmica dos
fatos e prova testemunhal que aponta para a existência de
culpa concorrente, eis que ficou evidenciada a falta de
cuidado da genitora, mas não foi possível atestar as
condições de segurança do mobiliário, em seu uso normal,
uma vez que foi feita reforma no estabelecimento, o que
impossibilitou a produção da prova pericial requerida pela
parte Ré. Dano moral configurado. Culpa concorrente
que não afasta o dever de indenizar, mas influi na
quantificação do dano. Indenização que se fixa em R$
2.000,00 (dois mil reais), para cada uma das Autoras,
por ser este patamar razoável e consentâneo com os
valores fixados pela jurisprudência desta Corte em
casos análogos. Danos Materiais comprovados. Matéria
pacífica. Provimento liminar do recurso pelo Relator, com
fundamento no artigo 557, § 1°-A, do CPC.” (Apelação nº
0010280-78.2007.8.19.0002 - Des. Lúcio Durante –
Vigésima Terceira Câmara Cível - Julgamento:
31/10/2013); Grifei.

A correção monetária da verba indenizatória de dano moral deve


fluir a partir da sentença (verbetes 97 e 362, das Súmulas deste TJRJ e
do STJ, respectivamente), e os juros de mora desde a citação (art. 405 do
CC) por se tratar de relação contratual.

Condeno a ré no pagamento integral das custas processuais e de


honorários advocatícios que fixo em 10% sobre o valor da condenação,
nos termos do art. 20, § 3º, do CPC.

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Por estas razões, com base no artigo 557, § 1º-A, do CPC, dou
provimento monocrático ao recurso para condenar a ré a reparar
dano moral, cujo valor arbitro em R$ 2.000,00 (dois mil reais),
corrigido monetariamente a partir da prolação deste julgado e
acrescido de juros legais e 1% ao mês desde a citação. Condeno,
ainda, a ré no pagamento das custas processuais e de honorários
advocatícios de 10% sobre o valor da condenação.

Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2014.

CLÁUDIO DELL´ORTO
DESEMBARGADOR RELATOR

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