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O Livro de

Morienus

Essa é a história de como o Príncipe Khalid ibn Yazid ibn


Mu’awiyya chegou à ciência da riqueza espiritual entregue a
Morienus, o velho monge, por Estéfano de Alexandria, como está
escrito no livro de Ghalib, o fiador do Califa Yazid ibn Mu’awiyya,
de quem foi servo fiel, confiado com todas as posses de seu mestre,
e à época, é dito, se tornou de igual modo servo fiel de Khalid, filho
de Yazid.
Ghalib conta como Khalid ibn Yazid procurou Morienus, o
Grego, que viveu recluso nas montanhas de Jerusalém. Um dia,
Khalid viajou para um local chamado Dirmanam. Ele era assíduo
em sua busca pela Grande Obra, investigando continuamente todo
aquele que ele imaginasse estar a par dessa Operação, e nesta
ocasião um certo homem veio até ele, desejando lhe falar. Sabendo
disto, Khalid permitiu que o homem se aproximasse. Ele saudou
Khalid, que retornou seu cumprimento.

O camarada disse a Khalid:


- Eu moro nas montanhas de Jerusalém e vim ao Senhor, ó
Rei, com boas notícias. Nunca ninguém antes de mim deu a
qualquer rei tal motivo para alegrar-se.
- E que notícias são essas? – Perguntou Khalid.

Ele respondeu:
- Eu tenho ouvido muitos dizendo que és tu que busca
continuamente pela Operação a qual os Filósofos chamam de
Grande Obra. Eu trarei a ti o conhecimento através de um certo
romano bizantino, que vive recluso nas montanhas de Jerusalém,
mas cujo lar eu conheço bem. Ele envia grandes quantidades de
ouro a Jerusalém todo ano.

Khalid lhe disse:


- Se eu concluir que você disse a verdade, recompensarei com
o que você pedir. Mas se você mentir, deverá esperar o pior.

- Bem, – disse o camarada – que assim seja.

Então Khalid se alegrou bastante e ordenou que o homem


fosse recompensado com presentes, roupas e muito mais, assim
como prometido. E o rei me ordenou junto a outros servos para
segui-lo. E assim foi. Após bastante tempo indo de um lugar para
outro, na esperança de encontrar o recluso, finalmente
conseguimos. Ele era de estatura alta e, embora fosse velho e
magro, de semblante tão nobre que era uma maravilha a se
contemplar. Nos alegramos ao encontra-lo e conversar gentilmente
com ele, finalmente convencendo com palavras doces a ceder, e o
trouxemos de volta conosco ao nosso país, apresentando-o ao Rei
Khalid. Nunca antes vimos o rei tão satisfeito com algo. Enfim ele
se dirigiu a mim e perguntou o que nos havia motivado a ir e vir e
eu lhe contei a história do início ao fim.
Então o rei olhou o homem que havíamos trazido e desejou
saber por qual nome era chamado. O senhor respondeu:
- Eu me chamo Morienus, o grego.
E Khalid perguntou:
- Há quanto tempo você vive recluso nas montanhas?
Ele respondeu:
- Eu comecei o meu retiro quatro anos após a morte do Rei
Herakleios. (645 d.C.)

Então o rei convidou Morienus para se sentar e se levantou


ele mesmo para lhe dar um assento a seu lado, muito satisfeito com
sua reserva, modéstia e elegância.

O Rei lhe disse:


- Ó, Morienus, embora você seja recluso, não seria melhor
que você vivesse em convivência com os outros que sozinho nas
montanhas?

- Talvez, ó rei. – ele disse – Mas as virtudes que eu busco


estão em Deus e em Suas mãos, que farão como ele desejar. E
enquanto eu conceder isso, como você tem dito, a vida será mais
fácil para mim que nas montanhas, pois apenas que semeia deve
colher, e deverá colher aquilo que semeou. Agora eu acredito que
eu recebi alguma virtude por mim próprio. Um homem não pode
obter repouso exceto pelo trabalho do espírito.

- Isso é verdade – disse o Rei – se ditas do coração de quem


crê em Deus. Ó, Morienus, eu sou grato que você permaneça em
sua fé. Desejei vê-lo e então envia-lo.

Morienus disse a ele:


- Você não deve se maravilhar de alguém como eu, um mero
filho da raça de Adão. Na melhor das hipóteses, eu poderia ser
atraente de algum modo, exceto que o passar do tempo me
transformou. Há muitos como eu entre os homens. E por fim é a
morte cruel, cuja punição não há pior, mesmo uma punição mais
severa aguarda o espírito após a morte. Mas o Criador Todo
Poderoso é nosso auxílio.
O rei respondeu:
- Assim Deus pode confundir o homem, que é mais
desprezado a medida em que envelhece.

Então, o rei me ordenou a conduzir Morienus a uma habitação


próxima ao palácio real e buscar um dos sábios cristãos que
pudessem conversar com ele e confortá-lo com doces palavras, e
deixar seu coração em paz. Assim eu fiz e o rei tornou um hábito
visitar Morienus duas vezes por dia, sentando com ele e falando
com ele, sem lhe perguntar nada a respeito de seu Magistério. O rei
frequentemente passou um bom tempo e Morienus confiou
grandemente nele. Khalid perguntou diversas vezes a respeito dos
costumes tanto reais quanto comuns dos gregos e de seus tempos e
histórias. Sem prejuízo de nenhuma resposta, Morienus recontou
as maravilhas de seus feitos e discursou sabiamente em sua ciência,
todos assuntos que o rei nunca havia ouvido falar nem nunca havia
ninguém conseguido um lugar firme na afeição do rei quanto
Morienus conseguiu.

Até que Khalid se dirigiu a ele:


- Ó, Morienus, saiba que venho buscado há bastante tempo
pelo Magistério Superior, mas não encontrei quem me
aconselhasse nesse assunto. Portanto eu sinceramente peço que
você prepare para mim uma porção do seu Magistério. Você terá
de mim, então, o que quer que você me peça e eu verei que você
retorne a sua própria terra, se Deus quiser. Nem você precisa de
agora em diante ter qualquer medo de mim.

Morienus lhe respondeu:


- Ó Rei, que Deus lhe dê riqueza. Agora eu entendo que você
veio até mim apenas por uma grande necessidade. Mas eu desprezo
o tipo de segurança que você acrescentou, a saber que eu não
deveria teme-lo, na medida em que eu não tenho necessidade de
temer ninguém, salvo o próprio Deus. Você se aproximou de mim
como um igual em espírito, e agora eu vejo por sua afeição,
excelência e discriminação que alguém como eu não tenho razão
para guardar de você nada do que você busca, pois você é um
homem de boas intenções tanto quanto ações e demais virtudes.
Pois bem, você chegou a sua iniciação e instrução de modo simples
e com a maior facilidade. Que Deus seja louvado!

Após isso, Rei Khalid sorriu e disse:


- A grosseria da pressa ilude qualquer homem, a menos que
seja regido pela paciência. Eu sou da casa de Mu’awiyya e lá não
há força salvo a que reside no Deus mais alto.

- Ó rei, - disse Morienus – Que Deus lhe dê riqueza. Agora


cuida de examinar essa Operação e você a conhecerá e a
compreenderá bem. Examine-a cuidadosamente do início ao fim e
você saberá tudo quanto lhe pertença, com fé em Deus. Ninguém
será capaz de realizar ou concluir isto que você tanto vem buscando
através de qualquer conhecimento, exceto pela afeição e gentil
humildade, um perfeito e verdadeiro amor. Pois isto é algo que
Deus concede à guarda segura de seus servos eleitos até o momento
em que ele possa preparar alguém a quem possa ser entregue os
seus segredos. Assim é apenas a dádiva de Deus, que escolhe entre
seus servos humildes e obedientes aqueles a quem revela-los.

- Certamente sabemos que nada pode ser feito sem o auxílio


e orientação de Deus, o mais alto e eterno. – disse Khalid.

Então o Rei Khalid me disse:


- Ó, Ghalib, rápido, sente-se e escreva o que temos dito.

Então Morienus prosseguiu:


- Deus Todo-poderoso em Seu poder criou servos incapazes
que nem desfazem o que ele fez nem adiantar o que ele retém, nem
sequer podem saber nada exceto o que Ele lhes concede. Nem são
capazes sequer de possuir nada exceto pela força que o mesmo
Deus lhe confere, nem governam seu próprio espírito exceto na
medida e pelo tempo em que Ele lhes determina. E dentre esses
servos, Ele escolhe alguns poucos pelo conhecimento que Ele
estabeleceu que resgata aquele que o domina da miséria desse
mundo e garante que se torne rico, pelo Querer Divino. Enquanto
aqueles assim escolhidos costumavam entregar esse conhecimento
a seus próprios herdeiros, ele foi perdido e seus mestres dele
desprovidos quando ninguém poderia encontrar quem mais o
conhecesse. Mas dos livros que descreveram o assunto
corretamente lá restou um pouco vindo dos profetas antigos, que
vieram antes de nós. Eles deixaram seu conhecimento como um
legado a seus sucessores, a quem Deus escolheu para se tornar
Adeptos de acordo com os métodos que tem sido explicado sincera
e francamente por seus predecessores. Os antigos, contudo, não se
dirigiam aos assuntos pertencentes a essa ciência usando seus
verdadeiros nomes, falando ao invés, como bem sabemos, em
linguagem velada, de modo a confundir os tolos em suas más
intenções. Isso eles fizeram formulando sua convicção e provérbios
em parábolas, assim apenas aqueles de grande sabedoria seria
capazes de desvendar seu verdadeiro significado. Desde os antigos
que ocultavam esse conhecimento, aqueles que queriam aprender
deveriam compreender suas máximas. Nem poderiam desistir
disso, mas deveriam fixar sua fé em Deus e persistir até o fim em
que Ele lhes traria a esse conhecimento, graduando seu estado, e
dando-lhes acesso direto e infalível aos métodos dessa ciência.

O Rei Khalid disse então:


- Agora bem-dito e ensinado, ó Morienus, não considero esses
preceitos estranhos, vindo de um professor de tal sabedoria e
experiência igual à sua, que deseja que eu possa aprender essa
ciência. Portanto explique-me claramente aquilo que eu lhe pedir,
poupando-me de trabalho inútil sobre essa matéria da qual eu busco
em você. Diga-me se esta Operação é realizada apenas com um
único princípio ou por diversos.
Morienus falou:
- Tudo é certificado por muitos e eu declaro que o que você
busca e muitas outras matérias, de acordo com testemunho de
autoridades. Quando você tiver examinado esses aforismos e lhes
dedicado bastante estudo, você descobrirá que o que as autoridades
ensinaram em seus livros é verdade. Agora, respondendo à sua
pergunta de se essa Operação tem uma raiz ou diversas, saiba que
tem apenas uma raiz, uma matéria e uma substância da qual e
somente com a qual é realizada, nada lhe é adicionado ou subtraído.
Quando alguns dos discípulos de Heráclio lhe perguntou o que
você me perguntou, ele lhes disse como uma única raiz se desdobra
em muitas coisas que retornam novamente a Um, se tiverem ar.
Ostanes declarou que os quatro elementos, calor, umidade, frio e
secura, são basicamente um e que alguns desses são compostos de
outros, bem como são a raiz da qual os outros são compostos. As
verdadeiras raízes são a água e o fogo e desses são compostos o ar
e a terra. Ostanes também disse a Maria que é o nosso Mercúrio
que tem domínio sobre nossa terra, sendo claro e puro, enquanto a
terra é feita da água mais grosseira. Hermes disse que a terra é a
mãe dos elementos, que dela nascem e a ela retornam. Moisés,
também, disse que todas as coisas vêm da terra e a ela retornam.
Como Hermes disse, assim como todas as coisas vêm de uma única
coisa, também a Grande Obra é realizada de uma coisa e uma
substância. Mesmo assim o homem contém os quatro elementos
unidos em seu corpo, embora Deus os tenha criado
diversificadamente secos ou separados, juntos e reunidos ou
espalhados. Mas cada operação funciona de modo diferente, tendo
sua cor específica e aplicação apropriada. É por conta disse que
essa matéria deve ser compreendida. Os filósofos têm dado muitas
confirmações.

O Rei Khalid então respondeu:


- Como pode ser que a Grande Obra tenha apenas uma raiz e
substância? Muitas autoridades se referem à sua raiz por um grande
número de diferentes nomes.

Morienus disse:
- Seus nomes podem variar, mas já disse que é apenas uma.
Nesse ponto citareis as autoridades que confirmarão o que tenho
dito.
- Diga-me tudo a respeito da maestria dessa Operação. – disse
o Rei Khalid.

Morienus disse:
- Heráclio disse que alguns de seus discípulos que a tâmara
vem da palmeira, bem como a palmeira é produzida daquela mesma
tâmara e de sua raiz cresce o caule pelo qual ela se multiplica.
Nesse ponto, Hermes disse: “Considere como o vermelho é
completamente feito por graus de vermelhidão. Considere também
o vermelho como um todo e o amarelo, em graus de amarelice e o
amarelo como um todo. De igual maneira com as outras cores.”
Assim como o caule emerge de um grão, também muitos ramos
surgem da árvore e a árvore de sua semente. Um certo observador
que renunciou inteiramente o mundo também disse coisas como as
que temos dito, a saber, que o homem vem do esperma, assim como
de um simples grão centenas de outros surgem, dos quais imensas
árvores crescem. Assim também a mulher foi feita de um homem,
mas então de ambos nascem muitas crianças, cada uma com
diferentes cores e aparências. Novamente diz o observador:
“Imagine o alfaiate costurando seu tecido, com o qual fez uma
roupa ou adereço, usando apenas o tecido. A gola, as mangas e a
camisa são todas do tecido, costurados com um fio também feito
do tecido, nada mais sendo exigido. Assim também consiste a
Grande Obra em si, não exigindo nada mais, o próprio Segredo dos
Filósofos. Eles a chamaram em todos os lugares por diversos
nomes, ocultando-a assim de todos exceto os sábios, que
demonstraram e glorificaram essa Operação. Mas os tolos a
desprezaram e não se deram conta, ignorando do que ela é. Os
sábios usaram muitos termos nos livros, como sendo “esperma”,
que, quando convertido, se torna sangue, e então se consolida com
a carne como sendo parte dela. Assim, o processo de geração segue
por uma sucessão de formas, até que o homem é feito. Um outro
semelhante é o da palmeira, quanto à coloração e natureza de seus
frutos, antes de amadurecerem. Outros são como a árvore de má
semente, ou trigo, ou leite, ou tantos outros nomes. Embora todos
tenham apenas uma raiz, há uma operação que alteram cada um,
dando diversas novas cores e naturezas, e consequentemente
diversos nomes. Akaifrem disse verdadeiramente que é apenas a
multidão de termos que pode induzir ao erro os mestres desta
operação. Mas aquele que sabe que estes termos são apenas como
as diversas cores vistas em conjunção não dispersarão do
verdadeiro caminho desta Operação.

Então o Rei Khalid foi além e perguntou:


- Agora deixe-me saber a respeito dessas cores, como a
mudança de uma para outra ocorre, se em uma simples
composição, em duas ou em mais.

- Elas são feitas em um único estágio, – respondeu Morienus


– mas seus nomes crescem em número tanto quanto o Fogo cresce
seu calor. Zózimo disse assim a Teosebéia: “Eu lhe mostrarei que
os sábios variaram seus axiomas e composições por desejarem ser
compreendidos apenas por homens de sabedoria e prudência,
enquanto o ignorante deveria permanecer cego para elas. Esta é,
claramente, a razão pela qual os sábios escreveram diversamente
em seus livros a respeito dos estágios da Operação. Há, entretanto,
um estágio e um caminho necessário à sua maestria. Embora todas
as autoridades tenham usado diferentes nomes e axiomas, eles se
referiam a apenas uma coisa, um caminho e um estágio. Portanto,
ó Rei, você não precisa indagar além nesse ponto, desde que o que
já foi dito é suficiente. Os sábios falam de diversas composições,
matérias e cores, em modo de parábolas, pela qual muitos homens
são despistados. Ainda assim, eles não estão mentindo, mas ao
aprender a arte dessa Operação, apenas afirmaram o que eles viram,
de uma maneira que possa passar despercebida por outros.
- Eu lhe pedi para explicar sua cor para mim – disse o Rei
Khalid, então – assim como você declarou sua natureza,
verdadeiramente e sem alegorias ou semelhantes.

Morienus respondeu:
- As autoridades habitualmente fizeram primeiro uma
essência ou alume disto e os seus meios, antes de tratar qualquer
coisa a respeito. Talvez seja suficiente que eu cite Zózimo, que
disse que ainda que o latão seja vermelho de início, você não
obterá nenhum benefício dele até que esteja branqueado. Agora,
certifique-se pela autoridade de Zózimo nesse assunto, que disse a
Teosebéia que o nigredo é a primeira cor. De acordo com esse
axioma, então, após remover o negrume e conseguir o
branqueamento com sal e sódio, e uma substância fria e seca, que
você chama de bórax, comprovará a afirmação de Zózimo de que
o negrume é a primeira, imediatamente embranquecida com sal,
que é Ar, e sódio, que é Fogo, se torna vermelho antes de
finalmente branquear, que remove seu negrume para que então seja
mudado para um vermelho bem claro. E Maria disse que quando o
latão, ou a terra, é queimado com enxofre até que derreta ou ferva,
se torna algo tão fino cuja existência só é possível com o auxílio
Divino. E outra autoridade disse procurar pela recompensa de
alguém que refinou o latão até brilhar como olhos de peixe, pois
assim ele terá sido convertido à sua cor e natureza básica. E outro
disse: “Saiba que quanto mais uma substância é lavada, mais clara
e melhor ela aparentará, mas se não é lavada, não se tornará clara
nem será reduzida à sua própria natureza.” Maria também disse
que não há nada que possa remover do latão ou da terra seu
negrume, ou mais apropriadamente, a cor negra, mas o mercúrio a
cobre no início, tornando-a branca e, quando no latão predomina o
mercúrio, o enrubesce. E um filósofo disse que o mercúrio não
remove do latão a substância de sua cor, exceto na aparência. Mas
o latão, ou terra, pode assumir a substância da branquidão do
mercúrio, que tem um maravilhoso poder de fazer surgir todas as
cores após a lavagem, remoção do negrume e impurezas e fusão no
branco, exceto no latão, que enrubesce. E Zósimo disse que apenas
disso e com isso se chega a qualquer resultado, nem se consegue
qualquer tintura exceto dessa maneira. Novamente, Andarnah
disse: “Agora saiba porque outros antes de nós temos reunido
essas diversas parábolas, é para que vocês possam ver que o início
desse assunto certifica a sua conclusão e a sua conclusão o seu
início, e para que você possa saber que toda a coisa é apenas uma
substância, tendo pai e mãe que a fez e sustentou, e que a
substância em si mesma é seu próprio pai e sua própria mãe.” E
Teosebéia perguntou: “Como é possível uma espécie se afastar de
sua própria origem?” Zósimo respondeu: “É verdade que se
afastou e que regressará.”

Então disse o Rei Khalid:


- Agora, tendo perguntado a respeito de sua natureza e cor,
desejo saber mais a respeito da textura e massa desta pedra, bem
como o seu sabor e a natureza pela qual ela é realizada.

Morienus respondeu:
- Essa pedra é de toque delicado e há mais suavidade em sua
textura que em sua substância. Em massa é bem pesada, mas de
sabor doce e sua natureza própria é aérea.
Khalid disse:
- Diga-me de seu odor, antes e após a sua confecção.

Morienus respondeu:
- Antes de sua confecção, seu odor é pesado e repugnante.
Mas uma autoridade disse que quanto ao seu odor após a confecção
que está água, ou leite da virgem, remove de um cadáver (terra, na
qual não há mais espírito) o odor que é tão repugnante quanto o das
tumbas. Mais que isso, uma autoridade disse que quando o espírito
branco ou leite é produzido e elevado e o corpo residual é bem
preparado, de tal modo que sua escuridão e odor fétido sejam
removidos, a extração do espírito do corpo está concluída. E no
momento da conjunção do espírito com aquele corpo, grandes
maravilhas podem ser vistas. Neste ponto, os filósofos que se
reuniram ante Maria disseram a ela: “És afortunada, Maria, pois
o esplêndido mistério escondido de muitos lhe foi revelado.”
O Rei Khalid disse:
- Explique-me as diferentes naturezas. Como o que está
embaixo (terra) se eleva e como o que está no alto (fogo) desce e
como um se une ao outro para que eles então sejam misturados e
quais os efeitos dessa mistura, como essa água benta ou leite da
virgem vem limpar as coisas daquele odor terrível que é como o
odor das tumbas onde os mortos são enterrados?

Morienus respondeu:
- Neste ponto, Marqūnas disse a Safanjā: “Por quais nomes
essa matéria é conhecida?”. E ele respondeu: “Fragrância e
incenso. Logos após, sua cor é refinada, não restando em si nada
de trevas ou cheiro fétido.”

Então o Rei Khalid disse:


- Diga-me se essa matéria é muito comum ou muito rara.

Morienus respondeu:
- Agora examine o que disse uma autoridade, que esse
Magistério é habitualmente concluído com uma única matéria.
Atente bem para isto e você não encontrará contradição alguma
entre as naturezas que você perceberá. Saiba que o enxofre e o
ouro-pimenta queimam, mas não suportam longas combustões. O
mercúrio sempre suporta longas combustões, enquanto toda
substância que se aproxime da natureza do Fogo queima
rapidamente. Assim você pode esperar melhores resultados de algo
que queima mais rápido no fogo e é reduzido ao carvão. Nem você
precisa sequer supor que as pedras entrarão nesta operação. Tente
acompanhar a purificação sem se desviar do que as autoridades têm
explicado e afirmado. Se o que você busca é encontrado no esterco,
pegue. Mas se você não encontrar, não recorra à sua bolsa, pois
qualquer coisa comprada a grande preço é considerada falso na arte
desta operação. Agora lhe expliquei e lhe dei a conhecer o que você
procurou. Siga isto e tome cuidado para não desperdiçar nada nesta
matéria, pois nenhum gasto é necessário. Nesse ponto, Zósimo
disse: “Eu lhe ordeno que não gaste nada para esta operação,
particularmente na Obra Dourada.” E, novamente, ele disse:
“Quem quer que tenha exigido outra coisa que esta pedra para a
Grande Obra é como um homem tentando subir uma escada sem
degraus, pois ele não poderá, e cairá de face no chão.”

O Rei perguntou:
- Essa coisa de que você fala é rara ou comumente
encontrada?

Morienus respondeu:
- Como disse uma autoridade, está lá tanto para os ricos
quanto para os pobres, tanto para os mesquinhos quanto para os
generosos, para aquele que está sentado e para o que corre. É jogada
nas ruas e pisada no estrume, mas ninguém se esforça para extraí-
la. Os tolos têm frequentemente desperdiçado muito entusiasmo no
estrume com esperança de extraí-la, mas eles têm agido em
ignorância. O sábio sabe que esta única coisa está escondida e que
é ela que contém em si os quatro elementos, tendo poder sobre eles.

O Rei Khalid disse:


- Diga-me onde estão as fontes desta coisa, de onde ela pode
ser conseguida, caso se precise dela.

Mas Morienus entrou em silêncio e, lançando seu olhar para


baixo, refletiu profundamente durante um tempo. Então levantou a
cabeça e disse:
- Na verdade, esta matéria é aquela criada por Deus que está
cativa dentro de você mesmo, inseparável de você e qualquer
criatura de Deus privada dela morrerá.

O Rei Khalid disse:


- Explique-me mais dessa matéria.
Morienus prosseguiu:
- Os discípulos de Heráclio perguntaram a ele, dizendo:
“Mestre, os sábios de antigamente transmitiram seu poder a seus
filhos e discípulos através dos livros. Agora, nós sinceramente
pedimos que você nos demonstre algo dessa operação a respeito
do que os antigos videntes falavam tão diversamente. Ao que,
Heráclio respondeu: “Ó, filhos do saber, saibam que o abençoado
e mais alto, o Criador, criou o mundo de quatro elementos
diferentes, estabelecendo o homem como o mais esplêndido em seu
meio.”

Mas o Rei Khalid disse:


- Ó, Morienus, explique isso ainda mais para mim.

Morienus disse:
- O que mais posso te dizer? Pois esta matéria vem de você,
que é você mesmo a fonte, onde ela é encontrada e de onde se pode
extraí-la, e quando você a vê, seu entusiasmo por ela crescerá.
Examine isso e você descobrirá que é verdade.

O Rei Khalid disse:


- Há alguma outra pedra como essa que você conheça, pelo
poder da qual a mesma Obra seja realizada?

Morienus respondeu:
- Não conheço qualquer outra pedra como esta nem que tenha
seus poderes. Enquanto os quatro elementos estão contidos nessa,
ela sendo assim como o mundo (em composição), já nenhuma outra
pedra de poder ou natureza semelhantes é encontrada no mundo,
nem quaisquer das autoridades realizou a Operação de outra
maneira que não por ela. E os compostos tentados por aqueles
usando qualquer outra substância em sua composição falharão e
não obterão qualquer resultado.

Então Morienus prosseguiu:


- Para resguardá-lo do erro, eu lhe direi novamente o que disse
de início. Cuide de não se afastar da raiz, nem busque de outra
maneira, pois você obterá o benefício e a recompensa que você
persegue apenas por este meio. Não há nenhuma necessidade de
que você reduza ou misture qualquer coisa a mais a ela.
Novamente, advirto que você preste bem atenção ao que dissemos
até agora.

O Rei Khalid disse:


- Ó, Morienus, diga-me a maneira de conduzir essa Operação,
com o auxílio Divino.

Morienus respondeu:
- Eu o direi, de acordo com os termos que as autoridades têm
usado.

- Muito bem. – disse o Rei Khalid.

Morienus disse:
- Para a condução desta Operação, você deve emparelhar,
produzindo uma geração, gravidez, nascimento e criação. Pois a
união é seguida pela concepção, que dá início à gravidez, de onde
se segue o nascimento. Agora a realização desse composto é
semelhante à geração do homem, de quem o grande Criador fez não
após a maneira pela qual uma casa é construída nem como nada
mais é construído pela mão do homem. Pois uma casa é construída
colocando-se uma coisa sobre outra, mas o homem não é feito de
objetos. Sua substância, por sua vez, antes de ele ser formado, é
aperfeiçoado através de sucessivas mudanças até que o ser vivo
está pronto, o qual continua de dia a dia e de mês a mês, até que o
Criador finalmente conclui seu grande artesanato no tempo da
maturidade. Assim também o Criador primeiro fez a semente dos
quatro elementos e definiu para eles o momento certo em que
seriam formados, depois do que eles poderiam ser concluídos, tal
como ele ordenaria. E essa Operação é nada mais que o Segredo
dos Segredos do Grande e Alto Deus, que ele revela aos seus
profetas, cujas almas Ele reuniu a Si no paraíso. E exceto que as
autoridades tenham sido, como foram, o vaso no qual os profetas
realizaram a composição dessa matéria, outros nunca seriam
capazes de realizar tal feito, pois ninguém antes das autoridades
tinha sequer visto ou sabido qual a sua origem, até que os profetas
lhe revelaram. Esteja certo disso.
- Agora, – prosseguiu Morienus – eu lhe mostrei que esta
operação não está distante das coisas viventes, nem foi nada
carregado ou dotado com o espírito ou crescimento, exceto para a
putrefação e mudança de aparência. Assim é que uma autoridade
disse, que esta Operação não beneficia nada até após seu
decaimento. E novamente ele disse que esta matéria deve putrefar
antes que possa ser derramada ou liquefeita, sem o que nada será
obtido.

O Rei Khalid perguntou:


- O que há após a putrefação?

Morienus respondeu:
- É então feito aquilo pelo qual o Grande Criador Mais Alto
complete o composto requisitado. E saiba que esta operação deve
ser feita duas vezes e dois compostos devem ser concluídos, um
após o outro e quando o segundo estiver pronto, a Obra inteira está
finalizada.

Quanto a isso, o Rei Khalid perguntou:


- Mas como é que ela deve ser feita duas vezes, com dois
compostos? Você não disse anteriormente que tudo é nada mais
que uma única matéria, tendo apenas um caminho?
Morienus respondeu:
- Ó, Rei, que Deus o afortune. De fato, este composto não é
obra de uma mão. Isto é crucial, tal como muitas autoridades tem
tido motivo para lamentar, pois declararam que aquele que por
meio deste conhecimento descobre esse composto, facilmente
entenderá a Operação por completo, a qual, contudo, permanecerá
oculta de quem não a descobriu.

Então, o Rei Khalid perguntou:


- Mas o que é esse maravilhoso composto?

E Morienus respondeu:
- As autoridades o compararam a uma alternância de
naturezas, uma maravilhosa mistura de calor com o frio, isto é, do
Fogo com a Água, da umidade com a secura, isto é, do Ar com a
Terra, em proporções exatas.

O Rei Khalid disse:


- Ó, Morienus, já que a mão não realiza esse composto, como
ele é feito?

Morienus respondeu:
- De acordo com as autoridades, o Mercúrio e o Fogo (da
pedra) lavam o latão, ou Terra, e o limpam de sua escuridão. Uma
das autoridades disse que se você tem a graduação correta de Fogo,
Mercúrio e Fogo são tudo que você precisa nesse composto, com
o Querer Divino. Mas como disse Esbo, o Assassino, não deixe
nossos corações se corromperem com o branqueamento de latão ou
a leitura de livros.
O Rei Khalid então perguntou:
- Ó, Morienus, um composto não antecede a putrefação?
Morienus respondeu:
- Sim, um composto precede a putrefação, mas este não é um
composto verdadeiro.

- O que é, então? – pergunta Khalid.

Morienus diz:
- Isso consiste na extração de Água da Terra e dispersá-la,
para que a Terra comece a putrefar. Quando ela tiver então
putrefata e purificada, a Operação completa está concluída, com o
auxílio do Grande Deus, o Mais Alto. Então você obterá o que você
tem buscado, que é o Composto dos Videntes, sendo a terça parte
da Operação completa. E saiba que você não terá concluído nada
de sua operação até que tenha purificado, secado e clareado o corpo
impuro, ou Terra, e assim o infundido com espírito, ou Fogo, que
a tintura descende até ele e nele penetra após ele estar tão puro e
aperfeiçoado, que não haja nenhum rastro de impureza ou maldade
nele. Pois o espírito rapidamente entra em seu corpo apropriado,
mas você não será capaz de juntá-lo a qualquer outra corpo, tente
o quanto quiser.

- Que o Criador venha em meu auxílio, - disse o Rei – Agora


descreva para mim a segunda Operação, e diga-me se ela é a
conclusão da primeira.

Morienus respondeu:
- É, de fato. Quando você tiver tratado o corpo, ou Terra, da
maneira que descrevemos, coloque-o em uma quarta parte de
fermento, ou leite. Pois a fermentação do ouro é como a do pão.
Então coloque-o no Sol, ou no esterco, para que seja aquecido (e
assim se forme uma substância) e seco. Então louve a Deus e inicie
a lavagem. Retire uma parte da substância mortificada e cozinhe
por três dias, tendo o cuidado de não prolongar ou encurtar o
tempo, e não deixe o Fogo, que deve ser gentil, se apagar ou
abrandar. Se você negligenciar isso, seu pote e o conteúdo nele
estará arruinado, muito para sua perda. Então aguarde dezessete
dias, após os quais retorne para o seu pote e o abra. Mude o líquido
nele, substituindo por novo, e faça tudo isso três vezes, até que a
fermentação deste ouro esteja concluída e essa quarta parte do
preparado seja reduzida pela metade. Após vinte dias, retire-o e
seque. Em árabe, é chamado Elixir. Então coloque o corpo lavado
e preparado em seu forno e umedeça-o diariamente com a quarta
parte da matéria mortificada que restar, tendo o cuidado para que a
chama do fogo não toque o pote, que será destruído, se isso
acontecer. Finalmente, coloque o pote em um forno largo e acenda
um fogo em seu topo, mantendo sem diminuir por dois dias e
noites. Então retire o pote do Fogo e agradeça a Deus, pelo que ele
lhe deu.

O Rei Khalid disse:


- Eu farei assim, que Deus seja louvado. Amém.

Morienus prosseguiu:
- Agora eu lhe explicarei mais a esse respeito, o bem completo
consiste em buscar a união e harmonia dos corpos que são
fragmentados e então reunidos novamente e os quais são tão
purificados e tratados que surgem diretamente pelo poder do Fogo.
Aqueles que buscam pelo conhecimento destes corpos devem
entender sua perseguição e captura, sua dissolução e composição,
e como construí-los e fervê-los, deve conhecer suas naturezas e
temperaturas, e como fabricar fornos para eles e acender o Fogo no
local adequado, e deve saber o número correto de dias para cada.
Pois eu obtive o conhecimento completo dessas coisas pelo Querer
do Grande Criador Mais Alto. E a principal raiz deste
conhecimento é agir com cuidado e percepção do tempo da
composição, evitando toda pressa e erro, assistindo pacientemente
dia e noite a sua fixação. Mas aquilo do qual se prepara este corpo
é o sangue, ou leite da virgem, pois une todas as diversas
substâncias e propriedades em um corpo, sendo apenas necessário
aplicar-lhe um calor gentil longa e continuamente no mesmo grau,
nem diminuindo nem aumentando. Mas a substância eudica
(esmalte) deve ser usada para agitar os corpos que você converteu
em Terra para que eles não sejam queimados, pois se forem
consumidos rapidamente, não conteriam seu espírito por muito
tempo. Eudica se harmoniza bem com todos os corpos, animando-
os e preparando-os sem confundi-los, mas convertendo uma parte
sua em outras e resistindo ao calor do Fogo. Se você deseja obter
eudica, procure por ela em minerais vítreos. Mas tendo-a
encontrado, você deve cuidar de não a usar se seu espírito tiver
escapado, pois você prejudicaria sua Operação. Para isso, preserve-
a quando a encontrar. Agora a Terra má recebe prontamente as
fagulhas brancas e previne a destruição do sangue, ou Ar, ou leite
da virgem, durante a decocção. Mas tal é a força do sangue que ele
deve ser quebrado de modo a promover, em vez de impedir, e isto
é feito após o que quer que ainda permanecesse escuro dos minerais
confusos tenha sido clareado, assim conseguindo o fruto completo
deste Magistério, a Verdade que você pode não ter visto bem a
princípio. Em suma, isto é o segredo de sua Operação, assim como
condensei e defini para você. Pois certamente, uma parte dessa
matéria colocada sobre mil partes de prata a converterá em ouro
fino e vermelho, com o Querer Divino. Portanto, não busque nada
além dessa matéria e Deus lhe tornará rico e a todos os adeptos
deste conhecimento. Mas a raiz da posse é apenas a dádiva do
Grande Deus Mais Alto, que tem recompensado a seus servos.

Em seguida, Morienus começou a enumerar as diversas


substâncias, dizendo:
- Ó, meu Rei, que Deus o afortune! Preste atenção ao que
digo, que você poderá ouvir e compreender tudo que lhe direi.

E o Rei Khalid disse:


- Ó, Morienus, diga-me o que você quer que eu saiba.
Morienus disse:
- A coisa na qual a completa conclusão desta Operação
consiste são o vapor vermelho, vapor amarelo, vapor branco, o
leão verde, ocre, as impurezas dos mortos e das pedras, sangue,
eudica e a Terra má.

- Explique-me esses termos. – disse o Rei Khalid.

Morienus respondeu:
- Antes que eu lhe explique, eu tanto lhe trarei as coisas que
têm esses nomes, para que você as veja, quanto trabalharei com
elas em sua presença. Estas dez são da mesma família, e se você
desejar encontrá-las, distribuí-las e dissolve-las, e endurecer, unir
e prepara-las exatamente como eu farei diante de você, você deverá
fazer de modo semelhante, pois esta é a raiz deste conhecimento e
operação, o qual muitos buscam em diversos tipos de minerais,
secos e molhados. Mas aja como um dos que vê, pois o ignorante
não é como o sábio, nem o cego é como o que vê. Não se desvie do
que eu lhe disse e mostrei, pois você se perderá. Há muitos
obstáculos ao conhecimento. Mas aquele que tenha visto esta
Operação realizada não é como um que tenha buscado apenas
através de livros, pois há livros que despistam aqueles que estão
em busca desse conhecimento. E a maior parte daqueles livros são
tão obscuros e desorganizados que apenas aqueles que os
escreveram podem compreendê-los. Mas aquele que anseia por
esse conhecimento e o busca faz bem, pois por seus meios ele terá
acesso a coisas estranhas que ele nunca conheceu antes.

- A verdade de que você fala floresce e brilha em sua


explanação. – disse o Rei Khalid.

Morienus prosseguiu:
- Na preparação do corpo, ou Terra, para a purificação, você
o fará de modo duro e seco em natureza, e então clareará pela
purgação e lavagem, investindo-o com o espírito, auxilia quanto a
busca pelo vapor branco ou leitoso, pelo leite vermelho, ígneo ou
virginal, antes de o elixir ser colocado nele, pois o elixir é
absorvido apenas por um corpo bom e puro, sem sujeira, de modo
que é belamente colorido após seu contato com o elixir. Esse é o
composto das autoridades e é o primeiro composto. Então comece
em nome do Criador e com o seu vapor pega a brancura do vapor
branco. Agora derrame essas coisas e comece com elas, tomando
um peso igual de cada. Então elas serão misturadas juntas.
Empacote a mistura em um recipiente que irá guardar todo o
conteúdo. Esta é a melhor maneira de manipular essas coisas, pois
elas contém vapor que escapará, a menos que vedadas em um
recipiente. Agora vede bem a boca desse recipiente com o agente
de cimentação que as autoridades usam, adicionando um pouco de
sal para fortalece-lo, assim poderá suportar melhor o calor do fogo.
Deixe o forno ser aquecido com esterco de ovelha ou folhas de
oliva e o recipiente com seu conteúdo será colocado à sublimação.
A sublimação deve ser feita após o pôr do sol e o recipiente pode
ficar até o frio da noite. Então desvede o vaso e quebre-o,
examinando o que então é extraído e se você achar que está bem
consolidado, como uma pedra, triture-a. Peneire e ponha em outro
recipiente, com fundo circular. Construa para isso um forno dos
filósofos e deixe que o fogo dos filósofos acenda nele e o mantenha
por um período de 24 dias. Após esse tempo, você deve remover o
recipiente do forno e secar o que você encontrar nele. Junte uma
parte desse que está impuro, prosseguindo nessa ordem, um após o
outro, até que todos estejam misturados, do que o elixir então será
feito. Então examine seu interior e se você encontrar retida a
branquidão, bem fixa e calcinada, não expulsa pelo calor do fogo
após muito aquecimento, você terá concluído ambas as naturezas
desta Operação. Mas saiba que se você deu seu reino inteiro e
reuniu todos os seus assuntos de uma vez para projetar a brancura
na matéria purificada, eles teriam sido incapazes de fazê-lo por tais
meios. Pois o espírito entra prontamente em seu próprio corpo, mas
se você tentar colocá-lo em um corpo estrangeiro, você terá
desperdiçado seus esforços. Essa verdade é perfeitamente clara.
- Você tem falado verdadeiramente, como tenho
testemunhado – disse o Rei Khalid – e que Deus possa receber a
alma de seus filósofos em sua guarda.

Aqui está outra composição dos diálogos de Morienus, o


grego, com o Rei Khalid ibn Yazid.

Morienus disse:
- Pegue o vapor branco, ou leite da virgem, e o leão verde,
ou Fogo, e o ocre vermelho, ou Fogo, e a impureza dos mortos, ou
Terra. Dissolva-os e faça-os ascender e unir, usando para cada
parte do leão verde, três partes da impureza. Então ponha uma parte
do vapor branco e duas partes do ocre em um recipiente verde para
ser fervido, vedando bem sua boca com cimento. Ponha no sol até
que seque, e então ponha nele o elixir. Derrame quantidade
suficiente da água sanguínea por sobre, até que o encubra, e após
três dias, umedeça com a água suja. Mas tenha cuidado para nem
interromper rapidamente nem estender o tempo, nem deixar o Fogo
ir embora, pois isso deve ser feito exatamente assim. De igual
modo, observe que o Fogo não esteja muito quente, pois sua jarra
será destruída, com tudo que esteja dentro. Espere dezessete dias,
então vá até sua jarra, abra-a e retire a água que você encontrar,
substituindo com a água suja, mantendo a jarra no forno. Após
vinte dias, retire do forno e seque o elixir com o que estiver contido.
Então pegue o corpo bem lavado no qual você encontrará uma
brancura pura e fixa, e coloque-o em uma jarra que seja pequena o
suficiente para contê-lo e encaixar perfeitamente no forno o qual
você fez para retirá-lo. Aqueça-o fortemente no forno, mas não
deixe a chama tocar, pois isso o destruirá. Então pegue uma
quantidade tal do elixir que forme onze partes para cada dez partes
do corpo branco. Una-os e para cada onça desta mistura, adicione
um quarto de dram de eudica. Então coloque a jarra em um forno
largo e acenda o fogo, mantendo-o contínuo por dois dias sem ser
extinto em nenhum momento do dia ou da noite. Quando estiver
feito, retire o que você encontrar na jarra e agradeça ao Grande
Criador Mais Alto pelo que Ele lhe deu.
Agora, aqui está uma explanação das diversas substâncias, de
acordo com Morienus, que disse que os filósofos chamam o corpo
impuro de chumbo. O corpo purificado é o estanho. O leão verde é
vidro e o almagre é latão, embora possa ter sido chamado de terra
vermelha recentemente. E sangue é ouro pimenta e terra suja é
enxofre sujo. Eudica está a parte desses e é chamada de verniz, ou
resíduos e impurezas do vidro. O vapor vermelho é ouro pimenta
vermelho, o vapor branco é Mercúrio e o vapor amarelo é Enxofre.
Esta é a natureza do vapor branco, leão verde e da água suja.

- Portanto – disse Morienus – guarde esses três consigo. Pois


embora os homens busquem essa Operação entre todas as outras,
eles vão se desviar completamente até que o Sol, ou Fogo, seja
composto em um único corpo com a Terra e a Lua, o qual não
ocorrerá até que Deus queira. Mas você me perguntou o que é
aquilo que os homens pensam ser o segredo desta Operação do
Magistério e com o que eles supõem que a operação seja concluída.
Alguns pensaram que seja a Terra, ou uma pedra, ou um ovo,
sangue, urina ou vinagre. E eles trituraram e examinaram e
extraíram e escavaram por todas essas coisas, envoltos em sua
fantasia, mas errando tanto mais quanto mais confiante estivessem
de ter encontrado o que buscavam. Agora você deve saber que a
terra e a pedra e todas essas coisas que eu tenho dito, na qual os
homens acreditam, são falsas e não chegam a um bom resultado. A
chave completa para a conclusão dessa Operação está no Fogo,
com o qual os minerais são preparados e os maus espíritos são
retidos e com o qual o espírito e o corpo se unem. O Fogo é o
verdadeiro teste de toda essa matéria. E se a verdade de tudo que
pertence a este Magistério não está uma vez aparente, o que não
levará a nada, então quando ela não germinar nem se misturar com
a substância impura para formar um corpo, você procurará em vão
por algo daquilo que você buscou conseguir. Pois quando você faz
da maneira como eu lhe disse, você encontrará o que você busca,
com fé em Deus. Agora saiba bem, entenda e lembre-se, conheça a
composição dessa matéria e lhe dê muito estudo, que lhe revelará
o caminho reto. Nada mais então poderá se esconder de você. E
ainda mais fundamental é que você saiba quais são os mais altos
minerais, para que toda a Obra não seja arruinada. Mas
respondendo à sua questão a respeito do vapor branco, ou leite
virginal, você pode saber que é uma tintura e espírito daqueles
corpos já dissolvidos e mortos, dos quais o espírito já tenha sido
retirado. Então os espíritos são novamente restaurados a eles. Mas
qualquer espírito sem corpo é escuro. É o vapor branco que flui no
corpo e remove sua escuridão (ou terrosidade) ou impureza, unindo
os corpos em um e aumentando suas águas. Pois a impureza negra
não é persistente e quando a escuridão é removida, a água será
assim fortalecida e incrementada, assim sua beleza aparecerá e nela
a tintura será concluída. Você deve conhecer isso bem e entender,
você está no caminho certo na direção do mais fino ouro vermelho,
do qual nada melhor ou puro poderá ser encontrado. Por essa razão
é chamado Ouro Romano. Sem o vapor branco, não haveria ouro
puro nem qualquer benefício nele. Agora a prova total de que
colocando uma parte desta Alquimia em mil partes de prata, a qual
será enrubescida e purificada, assim como temos dito, se o Grande
Deus Mais Alto assim quiser, pois não há nenhuma força ou
socorro exceto pelo Querer do Deus Mais alto.

Aqui termina o Livro de Morienus, como é


chamado.
Louvado seja Deus.
Amém.

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