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Editora Árvore da Vida

www.arvoredavida.org.br
© Living Strean Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© Editora Árvore da Vida

Título do original em Inglês


Further Talks on the Church Life

4ª Edição – Novembro / 1990


5ª Edição – Maio / 1992
6ª Edição – Agosto/1993 – 2.000 exemplares
7ª Edição – Novembro / 1994 – 5.000 exemplares
8ª Edição – Outubro / 2000 - 5.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do


Living Strean Ministry e todos os direitos reservados
para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil
ÍNDICE
Capítulo Página

Introdução....................................................................03
Prefácio ….....................................................................04
O Problema da Base da Igreja..........................................06
A Igreja numa Cidade e a Igreja numa Casa......................20
O Conteúdo da Igreja.....................................................31
O Problema da Unidade da Igreja.....................................45
O Serviço da Igreja........................................................81
O Caminho para a Obra Doravante….................................92

INTRODUÇÃO

Entre os que falam a língua portuguesa, o irmão Watchman Nee é bastante


conhecido, face às várias edições de seus livros "Paz, Ação e Firmeza" (edição
esgotada), "A Vida Normal da Igreja Cristã ", "O Obreiro Cristão Normal" e "A Vida
Cristã Normal".
Recentemente, quando a segunda edição desse último foi publicada, os editores
o consideraram um "eloqüente apóstolo chinês de nossa época" e "um daqueles
grandes embaixadores". Isto não só é digno de toda aceitação, como também
devemos ainda salientar o fato de que tudo o que foi visto pelo irmão Nee na Bíblia
Sagrada não serviu somente para seu país , nem, certamente, para estabelecer seu
próprio nome, mas serviu para a edificação do Corpo de Cristo, ao qual amou,
entregando-se por ele.
Este livro é, por assim dizer, uma continuação de seu primeiro livro "A Vida
Normal da Igreja Cristã"; todavia, com um destaque: o primeiro foi fruto da
revelação do Senhor a este irmão no início de seu ministério, e este segundo é o
resultado dessa revelação posta verdadeiramente em prática e testada por mais de
vinte anos .
Nestes últimos dias, quando o Corpo de Cristo está dividido em mais de mil
pedaços, quando todos os esforços humanos para uni-Lo através de movimentos,
convenções, denominações, associações, organizações, etc...etc... só têm produzido
mais e mais divisões, cremos que "Palestras Adicionais Sobre a Vida da Igreja" vem
ao encontro desta ardente necessidade.
O Senhor falou de "um corpo", "uma fé " e "uma unidade do Corpo de
Cristo". Em "Palestras Adicionais...", vemos que ele já providenciou a maneira de
tornar isso possível.
Ao entregar este livro aos irmãos de língua portuguesa, oramos para que
muitos dos que buscam o Senhor com simplicidade e pureza de coração possam ver
o que Ele tem preparado para o Seu Corpo — A Igreja !
Efetuamos a tradução para o português com o maior senso de fidelidade às
idéias apresentadas pelo autor, para que ficasse o mais perto possível do original
Chinês. Assim, quando você ler este livro , com um coração aberto e um espírito
sincero para com o Senhor , receberá as idéias do autor tão claras e precisas como
na ocasião em que foram originalmente proferidas. Também respeitamos
cuidadosamente a linguagem , para que , assim pudéssemos expressar , em
português correto , o irmão Watchman Nee.

Os editores

PREFÁCIO

Esta publicação é uma coletânea de mais algumas palestras proferidas pelo


irmão Watchman Nee sobre a vida da Igreja, no período entre 1948 e 1951, mais
de dez anos após a publicação das mensagens contidas no livro intitulado
"Concernente à Nossa Missão", cujo título atual é "Vida Normal da Igreja Cristã". A
palestra sobre a unidade da igreja, impressa no quarto capítulo do presente livro,
foi proferida no ano de 1951, pouco tempo antes do seu aprisionamento, o que
ocorreu no começo de 1952.
Em uma dessas palestras, o irmão Nee enfatizou que a luz referente à igreja —
que o Senhor lhe dera antes do ano de 1937, e que fora dada a conhecer a todos
os seus cooperadores nesse mesmo ano, sendo publicada no livro "Concernente à
Nossa Missão" — não podia ser mais clara, mesmo após dez anos de experiências
e testes. Noutra palestra, declarou, nítida e definitivamente, crer ainda mais
naquilo que vira anteriormente. Portanto, estas palestras não são apenas uma
prova suficiente de que, até os últimos anos do seu ministério, o irmão Nee ainda
mantinha o mesmo ponto de vista, como sempre teve durante todo tempo com
relação à vida da igreja, a qual ministrou ao corpo de Cristo, antecedendo um longo
período de experiência.
O ministério do irmão Nee sempre teve dois lados: o lado espiritual e o lado
prático. Através da publicação de alguns de seus livros, que foram traduzidos para
a língua inglesa, o lado espiritual de seu ministério tem-se tornado razoavelmente
conhecido, constituindo-se em grande ajuda para o povo de Deus nos países de
língua inglesa. Já que o presente mover do Senhor em Sua restauração se tem
propagado vitoriosamente, mais e mais, no mundo ocidental, nós, que somos alguns
dos cooperadores do irmão Nee, recebemos o profundo encargo de publicar vários de
seus livros sobre o lado prático de seu ministério, livros esses que podem ajudar
aqueles já beneficiados pelo lado espiritual
a terem uma perspectiva integral e uma visão equilibrada de todo o ministério que
lhe foi comissionado pelo Senhor para o Seu Corpo. Cremos plenamente que, na
situação atual, quando há muita confusão e um grande número de contrariedades e
distrações, este livro suprirá a necessidade urgente de tantos que O buscam entre
os Seus filhos.
A palestra do primeiro capítulo sobre a questão da base da igreja é um verdadeiro
remédio para a perplexidade de hoje. Neste, ele afirma que a base da igreja é
composta por dois elementos básicos — a autoridade do Espírito e o limite da
localidade. Hoje em dia, existe uma ênfase considerável para com a autoridade do
Espírito, mas uma negligência quase que completa quanto ao limite da localidade.
A questão da localidade é até propositadamente refutada por alguns, e
maliciosamente debatida. Ela, porém, é um teste à realização adequada da prática
da vida da igreja.
Enquanto a palestra do segundo capítulo esclarece a definição da igreja numa
casa (lar), e confirma o princípio de uma localidade com apenas uma igreja, a
palestra do capítulo terceiro revela que uma igreja genuína, em qualquer localidade,
tem de ser inclusiva. Deve ter capacidade para incluir e conter todos os tipos de
verdadeiros cristãos e todas as coisas positivas das Escrituras; caso contrário,
perderá a sua base.
A palestra do capítulo quarto é uma grande revelação! Enfatiza que a unidade
genuína da igreja é a unidade de todo o Corpo de Cristo, expressa em genuínas
igrejas locais. Todos os outros tipos de unidades são unidades de divisões.
Em resumo, os quatro primeiros capítulos dizem-nos clara, enfática e
francamente, que as denominações são erradas e que as igrejas são locais.
Qualquer denominação, qualquer seita, qualquer divisão é condenada por Deus.
Não há desculpa em caso algum. Uma igreja tem de ser local, permanecendo sobre
a base da unidade, disposta a acolher todos os filhos de Deus e pronta para incluir
todas as coisas bíblicas.
Estas palestras são palavras fiéis de alguém que jamais "deixou de anunciar coisa
alguma que fosse proveitosa à igreja" e nunca "procurou agradar a homens". As
oposi-ções que encontrou e as perseguições que sofreu (foram, na maioria, devidas à
sua fidelidade em seu ministério, quanto ao lado prático da vida da igreja. Se jamais
"deixou de anunciar coisa alguma, como poderemos nós, seus cooperadores, que
estamos com ele no interesse do Senhor, deixar de anunciar algo, não nos mantendo
fiéis à incumbência do Senhor, como ele o foi durante todo o tempo?
O Senhor é soberano e vitorioso! Defendeu Seu caminho no passado, bem em
face da oposição e do ataque do inimigo sutil. Que Ele aumente a Sua defesa
continuamente, concedendo Sua abundante bênção sobre o caminho determinado
por Ele para Sua igreja, caminho este tomado pelos Seus fiéis nestes últimos dias! Ele
é gracioso, digno de toda a confiança e capaz! Cumprirá o que prometeu. Mas "quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz". "A sabedoria é justificada pelos seus filhos".
Estas mensagens foram publicadas originalmente em língua chinesa,
exatamente como foram proferidas. A presente tradução para a língua inglesa,
principalmente os quatro primeiros capítulos, é feita tão literalmente quanto
possível, para apresentar aos leitores, de maneira bem precisa, o pensamento
genuíno do autor. Portanto, na tradução, foi dispensada mais atenção ao sentido
do que à linguagem.

WITNESS LEE

Los Angeles, Califórnia, U.S.A. 20 de dezembro de 1968.


CAPÍTULO UM

O PROBLEMA DA BASE DA IGREJA


(Palestra proferida aos irmãos e irmãs em Xangai, a 1° de abril de 1950, e publicada
em "A Porta Aberta", a 30 de junho de 1950).

Qual é a verdadeira base da igreja? Esta questão é muito importante, pois, na


Bíblia, o Senhor nos mostrou explicitamente que a igreja tem sua base definida.
Presumo que todos reconheçamos que a bênção de Deus, o Espírito Santo de Deus,
a luz de Deus e ainda a própria vida do Senhor Jesus estão todos na igreja. Ainda
que comumente possamos dar ênfase à vida do Senhor nos indivíduos, o fato é que
a Sua vida está na igreja. Por haver Deus comissionado à igreja tantas coisas
espirituais, é uma questão muito importante saber se uma assim chamada "igreja"
é realmente uma igreja. Se Deus nos tivesse dado individualmente muitas coisas
espirituais, o problema não seria tão grande. Mas Ele nos mostrou na Bíblia que
colocou todas as coisas espirituais na igreja. Portanto o fato de o grupo a que
pertenço ser ou não a igreja é um assunto muito sério! Se tenho comunhão com
irmãos e irmãs que não são a igreja, tal será uma grande perda.
Por exemplo, algumas das irmãs que trabalham no laboratório do hospital usam
lâminas de vidro para exames bacteriológicos. Para esta finalidade, uma lâmina de
vidro tem utilidade. Todavia, se um irmão for visitá-las, uma lâmina de vidro não
poderá ser usada para servir um refrigerante. A lâmina de vidro tem sua função
vital no laboratório, mas não serve para servir refrigerantes. O visitante não é um
gafanhoto ou um pardal, que se satisfazem com um pingo d'água numa lâmina.
Você deverá servi-lo em um copo. Há muitos problemas que jamais poderão ser
resolvidos por meio de uma lâmina de vidro. Mas um copo feito por muitas lâminas
poderá facilmente ser usado para solucionar o problema da sede.
Uma superfície plana tem uma capacidade muito menor que um objeto
tridimensional. Não estamos hoje procurando anular o que, como indivíduos,
alguns têm conseguido espiritualmente diante de Deus. Um indivíduo pode desfrutar
de muitas coisas espirituais e, às vezes, alcançar o mais elevado nível espiritual.
Deus, entretanto, tem posto mais coisas espirituais na igreja; portanto, quando uma
pessoa as procura individualmente, não as consegue. Isto não quer dizer que um
indivíduo não tenha bênção alguma, mas sim que você não pode obtê-la por meio
de sua busca individual. Hoje, as riquezas de Deus estão na igreja, a qual é um
objeto tridimensional, exatamente como um copo. Você, como indivíduo, precisa
tornar-se parte deste copo antes de poder tocar a Água Viva. Só a igreja pode
conter os muitos itens espirituais.
Precisamos ver claramente, diante de Deus, que muitas coisas espirituais estão
na igreja, e não com os indi víduos. A palavra do Senhor "sobre esta rocha edificarei
a minha igreja" (grego) é muito clara e maravilhosa. O resultado disso é que "as
portas do inferno não prevalecerão contra ela". Esta promessa destina-se à igreja, e
não aos indivíduos. Muitas vezes, é bastante difícil aos indivíduos resistir ao inimigo;
mas, assim que aparece a igreja, Satanás é imediatamente derrotado. Na verdade,
os indivíduos realmente têm bênçãos; elas, porém, são limitadas. Somente na igreja
as bênçãos são ilimitadas e ricas. Portanto, tão logo uma pessoa deixe o caminho da
igreja, a presença de Deus e as bênçãos se tornam limitadas. (Não estou dizendo
"nulas", mas, na verdade, "limitadas"). Além disso, tal pessoa não será capaz de
tocar muitas coisas espirituais diante de Deus. Perdoem-me, por favor, por falar
tão francamente. Principalmente nesses últimos dez anos, tenho procurado ver se
as pessoas sabem o que é a igreja.

É bastante estranho que muitos irmãos que têm conhecido o Senhor por vinte ou
trinta anos não conheçam a igreja de Deus. Até mesmo aquilo que eles um dia
obtiveram desvaneceu-se gradativamente; e mesmo aquilo que pensam ter não
pode ser conservado intacto. Ao mesmo tempo, há outros irmãos que conhecem a
igreja de Deus; conseqüentemente, as riquezas do Cabeça passam a ser as
riquezas deles, e assim são capazes de prosseguir continuamente.
Desejo, portanto, que todos os irmãos e irmãs jovens percebam que um cristão
não deve preocupar-se apenas com seu próprio proveito espiritual, mas também
deve preocupar-se com saber se os irmãos com os quais tem comunhão são ou não
a igreja. Lembrem-se de que cada pessoa é apenas um indivíduo. Dois podem ser a
igreja, ou apenas podem ser dois indivíduos, e não a igreja. Não presuma que um
grupo de quinhentas pessoas reunidas, ou mesmo mil, seja a igreja. Esta pode não
ser verdadeira. Graças a Deus, mil pessoas podem tornar-se a igreja, mas mil
pessoas podem ser somente mil indivíduos. Serão, assim, apenas mais indivíduos,
mas não ainda a igreja. Existe aqui uma grande diferença. Os filhos de Deus, hoje,
percebem que uma pessoa não pode ser a igreja, mas não reconhecem que mil
pessoas podem ser talvez apenas mil indivíduos, e não a igreja. Lembrem-se, por
favor, de que mesmo dez mil pessoas podem ainda assim permanecer como dez
mil indivíduos, e não serem a igreja. Esta, perante Deus, tem outros requisitos.
Nós, portanto, como Seus filhos, devemos dar especial atenção à base da igreja.

DOIS REQUISITOS BÁSICOS

Deixem-me hoje expor dois assuntos. Ambos devem ocorrer antes que possa
haver a igreja. O Novo Testamento claramente nos revela dois requisitos básicos: 1)
A autoridade do Espírito Santo; 2) O limite da localidade.

A. A AUTORIDADE DO ESPIRITO SANTO

Devemos observar que, onde não há o Espírito Santo, não há igreja. A igreja não
é, absolutamente, Witness Lee, nem é Yu-Tsé Chang, nem Ching-Hwa Yu; a igreja
deve ser apenas o Espírito Santo. Em outras palavras, a igreja, do princípio ao fim,
só pode ter uma autoridade, um poder e uma vida, que é o Espírito Santo. Só há
uma vida, a do Espírito Santo; só há um poder, o do Espírito Santo; e só há uma
autoridade, a do Espírito Santo.
Temos, por exemplo, muitos irmãos idosos, hoje, aqui. O irmão Yu poderá dizer:
"Já que estou na igreja há vinte anos, posso fazer uma sugestão ou iniciar alguma
coisa". Veja, existe aqui algo extra, que veio à tona para perturbar. Quando este
irmão aparece, não temos o Espírito Santo nem a igreja. Lembrem-se, por favor,
de que, onde o Espírito Santo não está, também a igreja não existe. A igreja é um
corpo, por meio do qual o Espírito do Senhor pode expressar Seus desejos sem
impedimento algum. Assim como o Senhor Jesus usou o corpo que a virgem Maria
Lhe deu quando estava na terra, da mesma maneira Ele, hoje, no Espírito Santo, usa
a igreja. Esta, em seu estado mais elevado, é ainda o Corpo de Cristo. Noutras
palavras, somente aquilo que é capaz de expressar a mente do Espírito Santo
pode ser chamado de igreja.

Só o Espírito Santo Tem Autoridade

Prosseguirei um pouco mais, falando primeiro aos irmãos mais velhos. Vocês
sabem mais ou menos o que é autoridade, e dizem aos irmãos jovens que se
submetam à autoridade. A questão básica, hoje, é esta: vocês obedecem à
autoridade; mas de quem é esta autoridade a que vocês obedecem? Deixem-me
dizer que, do mesmo modo como os irmãos jovens se tornam um distúrbio quando
falam por si mesmos, também os irmãos mais velhos se tornam um distúrbio
quando falam por si mesmos. Os jovens que falam por si mesmos são uma
perturbação, e os idosos que falam por si mesmos também o são. Somente a autoridade
do Espírito Santo é autoridade. Por que é que, então, os irmãos mais jovens precisam
obedecer aos mais idosos? É porque os idosos têm aprendido mais diante de Deus e
conhecem mais da Sua autoridade; conseqüentemente, o Espírito Santo pode fluir mais
facilmente através deles. São como um cano de água através do qual esta tem fluído há
anos, sem nenhuma interrupção. Os jovens devem obedecer aos idosos, não porque
estes sejam a autoridade, mas porque é fácil ao Espírito Santo falar através dos mais
velhos. Pelo fato de terem trabalhado para o Senhor por muitos anos, é fácil ao Espírito
Santo fluir deles. Eu aprendo a me submeter aos irmãos idosos, porque eles estão
investidos da autoridade do Espírito Santo. Quando não obedeço, facilmente perco a
autoridade do Espírito Santo sobre mim. Não estamos, de modo algum, instituindo a
autoridade dos irmãos mais velhos, mas sim a autoridade do Espírito Santo, que flui
facilmente dos mesmos. Em outras palavras, a única autoridade na igreja é a autorida-
de do Espírito Santo. Não há autoridade alguma que emane de determinados
indivíduos. Os presbíteros não têm autoridade, os irmãos mais velhos não têm
autoridade, e os espirituais também não têm autoridade. Somente o Espírito Santo
tem autoridade. A isto se dá o nome de "Corpo de Cristo".

Um Canal para a Autoridade do Espírito Santo

Recentemente, vi o que aconteceu a um irmão cuja mão carregara há vários anos


um objeto muito pesado por uma distância muito grande. Depois disso, sua mão ficou
inflamada. Agora, piorou tanto, que mal pode movê-la! Este irmão finalmente disse:
"Todo o meu corpo me pertence, exceto esta mão. Este membro parece pertencer a
outra pessoa e, ao mesmo tempo, parece lutar comigo". Eu jamais ouvira alguém
falar algo assim. Sou alguém que adoece freqüentemente, e sei que toda vez que
sinto a existência de certo membro, este, certamente, deve apresentar alguma
enfermidade. Quando o corpo humano está em perfeitas condições, não se tem
consciência de sua existência. Sempre que sentimos os pulmões respirarem, então
eles devem estar doentes. Sempre que sentimos bater o coração, ele deve estar
enfermo. Desde o meu nascimento até a minha mocidade, jamais tive consciência de
meus dentes; mas, no dia em que os senti, não pude dormir a noite inteira. O
corpo é muito natural e espontâneo. Não é harmonioso no sentido de que você sinta
a sua existência, mas é tão harmonioso, que parece nem existir. Hoje, talvez, você
não sinta que tem alguns dedos. Você acharia engraçado se eu lhe perguntasse:
"você sente que tem dedos?". Mas, se um de seus dedos estivesse quebrado, você
se sentiria incomodado o dia todo. Sempre que sente algo, então, algo está errado
com você. Toda vez que o corpo não pode usar um de seus membros, ele está
enfermo. O Espírito Santo deve ter completa autoridade na igreja; então o Corpo
inteiro se moverá como desejar, sem qualquer empecilho. Quando há um obstáculo
em certa parte, o Corpo inteiro fica doente. Quando cada um está sob a autoridade
do Espírito Santo, Ele pode usar a todos; então não há qualquer impedimento no
Corpo. Tudo caminha muito suavemente. Quando a autoridade opera suave-
mente, esse é o momento em que o Corpo está sadio. Quando cada um pode ser
usado pelo Espírito Santo, Este, então, tem autoridade, e tudo é muito natural e
espontâneo. A autoridade completa do Espírito Santo é a base da igreja, na qual
está o Corpo de Cristo.
Um grupo hoje pode ter irmãos e irmãs que estejam debaixo da autoridade do
Espírito Santo e outros irmãos e irmãs que não estejam debaixo dessa autoridade.
Imediatamente, você poderá ver que lá não existe base alguma da igreja. A base
desta é o Espírito Santo. Toda vez que Ele é contrariado, a base da igreja se perde.
Não é pelo fato de todos os irmãos e irmãs terem tomado hoje uma decisão, que
teremos aí o Corpo de Cristo. Não é por haver mil e seiscentas pessoas, e todas
terem levantado as mãos para tomar uma resolução, que teremos a igreja. Não é
questão de haver mil e seiscentas pessoas, mas sim de estar sendo ou não exercida
a autoridade do Espírito Santo. Onde não há autoridade do Espírito Santo, não
existe qualquer base para a igreja. Somente quando cada um se submete à
autoridade do Espírito Santo, é que a igreja tem a sua base.
Que é o corpo? É aquilo que você pode usar livremente, movendo-se dentro dele.
Não apresenta conflitos nem dificuldades. Tudo o que você quiser que ele faça, ele
fará. Aquilo que luta contra você não é o corpo. Uma igreja local pode ou não ser
manifestada; tudo depende de ela ser ou não capaz de submeter-se ao Espírito
Santo. Quando tal tipo de submissão é manifestado, a igreja é manifestada.
Lembrem-se, portanto, de que, se um irmão gosta de falar e tomar decisões por
conta própria, a autoridade do Espírito Santo fica danificada, o Corpo de Cristo
sofre danos, e a igreja sofre perdas. Conseqüentemente, não há igreja nesse lugar.
Não é por haver um edifício com uma placa afixada, que temos a igreja, mas sim
pelo fato de os irmãos e irmãs abandonarem suas próprias idéias e se sujeitarem à
autoridade do Espírito Santo, e esta autoridade poder fluir através deles sem
nenhum impedimento; aí, então, teremos a igreja.
Você que serve a Deus e tem responsabilidade na obra, precisa lembrar-se de
uma coisa: após vinte ou trinta, ou mesmo cinqüenta ou sessenta anos, quando
todos os seus cabelos já estiverem brancos, você ainda será apenas um transmissor
da autoridade, um canal, ou um porta-voz da autoridade — você mesmo não será a
autoridade. Sempre que você se tornar a autoridade, tudo estará terminado. Os
irmãos e irmãs cooperadores devem conhecer minuciosamente o que é autoridade do
Espírito Santo. Não pense que, ao menos hoje, você possa fazer alguma sugestão.
Permita-me dizer-lhe que sua sugestão não serve. O Senhor jamais lhe deu
autoridade para dar suas próprias sugestões. Você só pode ser o canal da
autoridade, mas nunca a própria autoridade. Ainda que vivesse cem anos, e tivesse
seguido o Senhor durante todo esse tempo, não pense que poderia fazer algumas
sugestões. É pelo fato de o meu espírito ter sido treinado e ter aprendido algo, que
a percepção dele pode ser mais aguda, que eu posso ter mais luz, que os princípios
básicos de Deus puderam ser mais tocados por mim, que estou familiarizado com a.
palavra de Deus; portanto é mais fácil fluir a autoridade do Espírito Santo.
Usamos a autoridade para servir os irmãos e irmãs, não para governá-los. A
autoridade é apenas uma parte do nosso serviço. Espero que todos os responsáveis
pelas casas onde há reuniões tomem nota disto. A autoridade se relaciona ao seu
ministério, e é só um dos seus muitos ministérios. Não existe para que você governe
os outros, mas para que possa supri-los. Em certo assunto, outros irmãos talvez não
vejam, mas eu vejo; é possível que não compreendam, mas eu consigo compreender.
Como entendo o desejo do coração de Deus, comunico-lhes o Seu desejo dizendo-
lhes: "Irmãos, vocês não devem fazer isso dessa maneira; eu sei que não vai dar
certo. Se fizerem assim, violarão a autoridade de Deus; portanto devem deixar esse
assunto de lado". Isso não é exercitar a autoridade para governar os irmãos, mas é
suprir e servi-los. Estamos, diante de Deus, aprendendo a ser o canal da autoridade
do Espírito Santo para suprir os irmãos. Não estamos governando-os. Estamos
aprendendo a deixar que a autoridade de Deus flua como suprimento, e não a
estabelecer a nossa própria autoridade.
Não importa que tipo de posição um irmão possa ocupar, seja ele um supervisor,
um apóstolo ou um diácono; sempre que estabelecer ou manifestar sua própria
autoridade, perderá e arruinará toda a base da igreja. Esta se estabelece sobre a
autoridade do Espírito Santo. Sempre que a autoridade do Espírito Santo for
afrontada, a base da igreja se acabará.
Quando toda a igreja está sob a autoridade do Espírito Santo, é como se o
Senhor usasse o Seu próprio corpo que Maria Lhe deu quando estava nesta terra,
falando, escutando e caminhando conforme desejava. O corpo que Maria Lhe
preparou não poderia ser mais apropriado. Tinha tanta coordenação, que era como
se ele não estivesse lá, e no entanto era o próprio Senhor. Era muito harmonioso,
muito unido, não tinha nenhuma dificuldade ou conflito, em absoluto. Não era
como se alguém precisasse das mãos e não pudesse usá-las; ou como se os olhos
fossem solicitados e não pudessem funcionar; ou a língua fosse necessária, e
estivesse ferida; ou fosse requerida a cabeça, e ela se mostrasse incapaz de pensar.
A igreja, de semelhante modo, pode chegar também a esse ponto, ou seja: ela
existe e, no entanto, é como se não estivesse lá: somente se percebe Cristo. O
Senhor pode mover-Se espontaneamente e passar através dela livremente. E tão
harmoniosa, tão em unidade, tão espontânea, que é como se o Senhor não
estivesse passando. A autoridade do Espírito Santo passa através da igreja tão
livremente, tão harmoniosamente, que é como se Ele não estivesse passando em
seu meio. Quando a autoridade do Espírito Santo pode passar completamente,
então temos a igreja. Sempre que houver resistência ou obstáculo, tal não será a
igreja. Sempre que o Espírito Santo não puder mover-Se, sempre que os indivíduos
sobressaírem, haverá algum problema, e a igreja sofrerá danos, a ponto de não
poder mais chamar-se igreja.
Hoje, há muitas opiniões de homens, muitas decisões de homens, muitos
métodos humanos, muitas organizações criadas pelos homens, muitos nomes de
homens e muitas tradições humanas nos grupos que invocam o nome do Senhor.
Não gostaria de falar mais sobre isso. Do começo ao fim, desde que fomos chamados
pelo Senhor, há uma base fundamental, isto é, devemos obedecer à autoridade do
Espírito Santo na igreja e estabelecê-la, destruindo a nossa própria autoridade. Peço
ao Senhor que me perdoe por dizer isso, pois a autoridade do Espírito Santo não
precisa ser estabelecida pelo homem. Desculpem-me por usar a seguinte ilustração
para o bem dos irmãos jovens. Amanhã, se eu soltasse um tigre na rua, seria
necessário enviar guardas a protegê-lo? Não, o tigre não necessita de nenhuma
proteção; ele pode se proteger. Do mesmo modo, o Espírito não necessita do nosso
apoio. A autoridade do Espírito Santo está na igreja, não precisando de nosso zelo
para estabelecê-la. A única coisa necessária é que os filhos de Deus estejam
dispostos a consagrar-se e entregar-se, para que a autoridade do Espírito Santo
possa manifestar-se continuamente. A questão, agora, é se estamos ou não prontos
a nos consagrar. Sempre que os filhos de Deus desobedecem, a autoridade do
Espírito Santo não pode manifestar-se. A questão básica, hoje, é se nós nos temos ou
não consagrado adequadamente.
Espero que nos consagremos novamente diante de Deus, tendo em vista a
autoridade do Espírito Santo. Devemos orar: "Senhor, Tu és o Cabeça da igreja.
Concede-me a graça, para que eu não seja alguém que entrave nem alguém que
resista, que eu não tenha nada meu...". Você precisa perceber que sempre que tiver
algo seu introduzido na igreja, a despeito de quão bom isso venha a ser, haverá algo
extra adicionado à igreja, e isso será um empecilho. Meu corpo só pode consistir em
seus próprios membros. Não posso permitir que coisas de outros lhe sejam adicio-
nadas. Mesmo as melhores coisas dos outros não podem ser colocadas em meu
corpo. O que é do meu corpo deve ser de mim mesmo. As coisas dos outros podem
ser preciosas, mas, uma vez que sejam acrescentadas ao meu corpo, podem
tornar-se venenosas. Preciso aprender diante de Deus a não trazer as minhas
próprias coisas para dentro da igreja. Algumas dessas coisas podem ser muito boas,
mas, se não forem do Espírito Santo, não poderão ser colocadas na igreja. Uma vez
colocadas dentro da igreja, esta perderá sua base. Na igreja, há somente um Espírito
Santo, uma autoridade, um poder, uma comunhão, um Nome. Qualquer coisa
colocada nela, que não seja do Espírito Santo, arruinará a sua base, e, então, ela
acabará.

O que não é Iniciado pelo Espírito Santo não é Igreja

Em Xangai, muitas pessoas podem estabelecer uma missão de pregação do


evangelho, um seminário, um Instituto Bíblico, ou ainda uma escola de estudos
bíblicos. O erro, em tais casos, é menor. Mas ninguém pode estabelecer uma igreja!
Se você não for capaz de obedecer ao Espírito Santo, e forem introduzidas a
autoridade e as coisas humanas, então não haverá igreja! Se não for iniciada pelo
Espírito Santo, não será igreja. Não sei se você percebe a seriedade disto! E possível
que alguns de nós montem uma fábrica, com a direção do Espírito Santo; mas isso
será impossível com relação à igreja. Não faz diferença se você é um cristão ou não, se
tem a vida de Deus ou não; — você não pode estabelecer uma igreja. Se não for iniciada
pelo Espírito Santo, não será uma igreja. Este é um assunto muito sério. Ninguém
pode começar a estabelecê-la, pois, desde o princípio, tal pessoa não terá a autoridade
do Espírito Santo. Se não há autoridade do Espírito, não há a igreja. Seja qual for a
situação, se o Espírito Santo não começar, você não poderá estabelecer uma igreja.
Primeiramente, temos que perguntar: E o início? Se o Espírito Santo não começar a
igreja, não haverá uma maneira de iniciarmos. Devemos submeter-nos ao poder
grandioso do Espírito Santo e colocar-nos sob a autoridade determinada por Deus,
totalmente restringidos, sem procurar nossa própria liberdade. Devemos permitir
que a autoridade do Espírito Santo passe livremente através de cada um de nós.
B. O LIMITE DA LOCALIDADE

Uma igreja também requer uma segunda base. Sem essa, tampouco, haverá
base para a igreja. Você, provavelmente, perguntará: já que todos expressamos a
autoridade do Espírito Santo e vivemos debaixo dela, isso não basta para se
estabelecer uma igreja? Não, não basta! A Bíblia claramente nos mostra duas
coisas que devem existir, para que se estabeleça uma igreja: 1°) a autoridade do
Espírito Santo; 2°) o limite da localidade. Se você não o enxergar, não poderá
compreender a base da igreja. Você está surpreso? Isso parece uma queda de três
mil metros, lá do céu para a terra, não parece? Sim, de fato, a igreja também está
sobre a terra. Ela está parcialmente no céu e parcialmente na terra. A parte celestial
diz respeito à autoridade do Espírito Santo; a parte terrena refere-se ao limite da
localidade. Este é um assunto muito maravilhoso na Bíblia. A Bíblia claramente nos
mostra isto: que a igreja pertence totalmente a uma localidade. Tal como a igreja
em Jerusalém, Jerusalém é um lugar; a igreja em Corinto, Corinto é um lugar; a
igreja em Antioquia, Antioquia é. uma cidade; a igreja em Éfeso, Éfeso é um porto
marítimo. Na Bíblia, a base da igreja é a localidade onde está a igreja. As igrejas
todas tomam a localidade por limite.
Aqui está um ponto importante; por favor, prestem atenção. Se os irmãos e
irmãs de Xangai, por exemplo, desejarem posicionar-se sobre a base da igreja, só
poderão fazê-lo sobre a base do Espírito Santo e de Xangai. Devem posicionar-se
sobre a base do Espírito Santo, mas também devem posicionar-se sobre a base de
Xangai, porque Xangai é a localidade onde moram. Uma vez mudada a localidade,
imediatamente você perderá a base da igreja. Vamos a algumas ilustrações.

A Igreja e as Igrejas

Primeira Tessalonicenses 2:14 diz: "igrejas... na Judéia". A igreja mencionada aqui


está no plural em grego, inglês e chinês. São as igrejas na Judéia. Por que está no
plural? É porque, naquela época, a Judéia era uma província de Roma. Como numa
província existem muitas localidades, conseqüentemente existem muitas igrejas. Por
isso, não se fala em "igreja na Judéia", mas "igrejas na Judéia". Nas Escrituras, há
somente a igreja local e não a igreja provincial. O mesmo acontece com a Galácia,
que era uma província constituída de muitas localidades; portanto se diz: "às igrejas
da Galácia" (l Co 16:1). Éfeso era um porto marítimo, uma localidade; por isso a
"igreja em Éfeso" está no singular (Ap 2:1). Este ponto está muito claro na Bíblia.
Filadélfia, por exemplo, era uma cidade, e só existia uma igreja lá (Ap 3:7). A Ásia,
hoje conhecida como Ásia Menor, era uma grande província; portanto a Bíblia diz: "às
sete igrejas... na Ásia" e não "à igreja... na Ásia" (Ap 1:4, 11).

Somente uma Igreja em uma Localidade

Há uma coisa que todos precisamos observar: o mundo não tem uma só igreja; a
Igreja Católica Romana, portanto, é errada. Um país não tem uma igreja; portanto a
Igreja Anglicana (Igreja da Inglaterra ou Igreja Episcopal) é errada. Uma província
não tem uma igreja, tampouco uma raça. Na Bíblia, somente a menor unidade
administrativa tem uma igreja, somente uma localidade ou uma cidade tem uma
igreja. A igreja de uma localidade não pode unir-se com a igreja de outra
localidade, para ambas se tornarem uma igreja. Cada cidade só pode ser ajustada a
uma igreja, assim como um esposo só pode ser combinado com uma esposa.
Portanto, em Antioquia, temos a igreja de Antioquia" e não as "igrejas de
Antioquia" (At 13:1). Seria errado dizer as "igrejas de Antioquia". De acordo com a
determinação de Deus, uma localidade só pode ser combinada com uma igreja,
nunca com muitas igrejas. Na Bíblia você jamais encontrará as igrejas em Corinto,
ou as "igrejas de Antioquia". Mas a Bíblia, na verdade, diz: a "igreja de Antioquia", a
"igreja... em Corinto" (l Co 1:2), a "igreja em Filadélfia", todas no singular. Não havia
"igrejas" em Antioquia, em Corinto ou em Filadélfia.
A determinação de Deus para a igreja é: a autoridade do Espírito Santo, no lado
espiritual, e o limite da localidade, em sua aparência externa. Quando a igreja em
Corinto teve a tendência de dividir-se em quatro facções, Paulo imediatamente os
repreendeu, por serem facciosos e carnais. Quando os coríntios estavam a ponto de
dividir-se em muitas pequenas igrejas — uma de Paulo, outra de Cefas, outra de
Apoio e outra de Cristo — o Espírito Santo falou-lhes que aquilo era carnal. Cada
cidade, cada localidade só pode ser combinada com uma igreja. Sempre que
aparecer mais de uma, tal será uma divisão, uma seita, o que é rejeitado por
Deus. Do ponto de vista de Deus, a igreja em Corínto tornou-se carnal. Por quê?
Porque só pode haver uma igreja em uma localidade; uma segunda não pode ser
estabelecida. Quando uma igreja já está estabelecida, a segunda, então, é uma
divisão, e é carnal. Nunca poderá haver mais de uma igreja em uma localidade.
Alguns dizem que desejam suprir os outros com alimento espiritual, mas alimento
espiritual não é base suficiente para se estabelecer uma igreja. Outros dizem que
querem ajudar as pessoas a entender a Bíblia, mas ajudar os outros a entender a
Bíblia também não é base suficiente para se estabelecer uma igreja. Tampouco
ensinar os outros a conhecer o Espírito Santo é base adequada para se
estabelecer uma igreja. Alguns dizem que precisamos de um reavivamento, e que
uma igreja de reavivamento deveria ser estabelecida. Recentemente, em certo
lugar, alguém estabeleceu uma "Igreja do Reavivamento", com o único objetivo
de reavivamento espiritual; mas, com o reavivamento, também não existe base
para se estabelecer uma igreja. Os homens não podem estabelecer uma igreja,
porque eles não têm a base para estabelecer a igreja. Paulo não tinha base para
estabelecer a igreja; tampouco Cefas ou Apoio. Éfeso tem a base para estabelecer
uma igreja, mas Paulo não é igual a Éfeso! Corinto tem a base para estabelecer
uma igreja, mas Paulo não é igual a Corinto, tampouco o é Cefas ou Apoio; eles
todos não eqüivalem a Corinto. Não tinham a base e não eram qualificadas a
estabelecer uma igreja, porque cada igreja deve ser combinada com uma locali-
dade. Se não se combinar com uma localidade, será impossível estabelecer-se
uma igreja. Se não há localidade, não há igreja. É mais do que evidente que Deus
toma por base o limite da localidade.

Só Pode Haver uma Igreja em Xangai

Nós, em Xangai, temos uma igreja que não se posiciona sobre nenhuma base de
denominação, nenhuma base de sectarismo, e nenhuma base de qualquer outra
coisa, mas sobre a base de Xangai. Esta é a igreja em Xangai. Suponhamos que eu
tivesse uma desavença com o irmão Chang; então o deixaria fazendo suas reuniões
na Rua Nan-Yang, enquanto eu acharia um lugar na Rua Szechwan para as minhas
reuniões. É como se você fosse para o sul, e eu, por isso, fosse para o norte,
totalmente opostos um ao outro. Na Rua Szechwan, prego o evangelho, e um grupo
de pessoas são salvas. O local de reuniões da Rua Nan-Yang pode acomodar 2.400
pessoas; eu construo um maior na Rua Szechwan para acomodar 2.600. Lá
também prego o evangelho. Mas deixem-me dizer-lhes algo: posso conduzir muitos
à salvação, posso dar mensagens, posso edificar os santos, mas jamais poderei
tornar-me a igreja. Por quê? Porque a qualificação para tomar Xangai como base da
igreja já foi tomada por outros.Por isso, não estou qualificado a estabelecer outra
igreja, pois só pode haver uma igreja em Xangai.

Uma Igreja Pode Ser Estabelecida em uma Localidade Onde não


Existe Igreja

Atualmente, por exemplo, em Pi-Chieh, na província de Kweichow ninguém até


agora tomou a posição de estabelecer uma igreja sobre a base da localidade. Se
alguém deseja fazê-lo, então está bem, que ele vá a Pi-Chieh e o faça, porque, em
uma localidade, só pode haver uma igreja local. Se uma igreja adicional aparecer
por lá, Deus a considerará uma divisão. É como uma mulher unindo-se a um
homem. Se casar com um homem solteiro, será sua esposa. Se ele já for casado, como
poderá ela tornar-se sua esposa? Ela só poderá unir-se a um homem que não tem
esposa. Todo o Novo Testamento fala-nos uma coisa: a igreja é local. Precisamos ver
que ela é local. Nas epístolas, observamos a igreja em Corinto (l Co 1:2), a igreja em
Cencréia (Rm 16:1). Em Apocalipse notamos as sete igrejas na Ásia (Ap 1:4). Em cada
localidade, há somente uma igreja. A igreja não pode desvincular-se da localidade e
ser independente.
Lembrem-se, por favor, de que uma igreja só pode ser estabelecida em uma
localidade onde não há igreja. Se já existe uma igreja em uma localidade, só
poderemos unir-nos a ela; não poderemos estabelecer uma outra. Uma vez
estabelecida outra, tal será uma divisão, que é seita condenada por Deus. Qual é a
diferença entre uma esposa e uma concubina? Tudo é o mesmo, exceto a posição!
Só a base é diferente; no resto, tudo é o mesmo. Embora exteriormente possam
parecer iguais, algo falta a uma delas, isto é, a base.

Que é Divisão?

Divisão significa falta de base, e o estar sem a base é condenado por Deus! Por
favor, desculpem-me por usar novamente Pi-Chieh, província de Kweichow, como exem-
plo. Qual é a diferença entre você ir a Pi-Chieh pregar o evangelho, salvar pessoas,
edificar os santos; e ir à Rua Szechwan, em Xangai, e lá fazer o mesmo? Exteriormente,
não há diferença alguma! Isso não significa que, quando você prega o evangelho na
Rua Szechwan, as pessoas não possam ser salvas; não quer dizer que, quando você
prega o evangelho na Rua Szechwan, as pessoas não possam receber a vida eterna;
tampouco vem indicar que as pessoas da Rua Szechwan vão abandonar sua
experiência de salvação. A verdade do evangelho ainda é a mesma, e as mensagens
podem ser dadas de uma maneira muito clara, como se tudo fosse o mesmo. Mas
você não pode estabelecer outra igreja na Rua Szechwan. Se você for até lá para
estabelecer uma igreja, tal será uma divisão. As mensagens que você prega em Pi-
Chieh, província de Kweichow, podem ser exatamente as mesmas que você prega
na Rua Szechwan, em Xangai. Nas duas diferentes localidades, porém, existem duas
bases distintas. Em Pi-Chieh, província de Kweichow, poderá existir uma igreja, ao
passo que na Rua Szechwan existirá uma divisão. A mesma mensagem é pregada
nestas duas localidades, mas que grande diferença! Suponhamos que você
estabeleça a Mesa do Senhor em Pi-Chieh, isto é, a Ceia do Senhor, o Partir, do Pão.
Um dia, você muda essa mesma Mesa com todos os participantes de Pi-Chieh para a
Rua Szechwan, em Xangai. Aqui você ora, estuda a Bíblia e louva ao Senhor da
mesma maneira como fazia antes. Nestas coisas não há diferença alguma. Mas, em
Pi-Chieh, você é uma igreja, enquanto na Rua Szechwan você será uma divisão.
Quando uma mulher casa com um homem solteiro, ela é sua esposa; mas, se casar
com um homem já casado, ela não será sua esposa. Quando vamos a um lugar
onde não há igreja, podemos estabelecer uma igreja. Mas, num lugar onde já
existe uma igreja, só podemos unir-nos a ela; não podemos estabelecer outra.
Este é um princípio básico na Bíblia. Se você não der importância ao limite da
localidade, tudo estará terminado. Se o menosprezar, então você não terá a
base.
Espero que, diante de Deus, você compreenda estes dois pontos: 1) a igreja de
Deus é estabelecida sobre a autoridade do Espírito Santo; 2) a igreja de Deus é
estabelecida sobre o limite da localidade. A base da igreja é estabelecida na direção
do Espírito Santo. Você não pode dizer: "É por direção do Espírito Santo que
estamos nos reunindo na Rua Szechwan". Se realmente fosse a direção do Espírito
Santo, a primeira coisa que Ele argumentaria é que o lugar onde você se reúne é
errado. Conseqüentemente, você violou e contrariou a primeira limitação Dele;
você, portanto, não tem a base sobre a qual posicionar-se. Dizer apenas que você
tem o Espírito Santo não é suficiente; também deve considerar a jurisdição da
localidade, que é estabelecida pelo Espírito Santo. A localidade é a jurisdição da qual
você jamais pode afastar-se; você só pode submeter-se. Os homens não têm
liberdade alguma quanto à jurisdição da localidade estabelecida pelo Espírito Santo.

A Localidade Restringe a Formação de Divisões

Espero que os irmãos e as irmãs se apeguem firmemente a esse princípio


básico, para que possam ver clara e minuciosamente as assim chamadas
denominações, igrejas, grupos e organizações. Se qualquer grupo não estiver
edificado sobre a base da localidade, você saberá que ele não é a igreja. Está claro?
Você acha estranho? Eu o acho estranho, quando leio na Palavra. Ir da autoridade
do Espírito Santo para o limite da localidade parece-se com cair de três mil metros
de altura, numa queda só, do céu para a terra! A Bíblia realmente nos revela que a
base da igreja é a autoridade do Espírito Santo. A Bíblia, todavia, também nos
mostra que só ter o Espírito Santo não é suficiente; precisamos, também, que a
isto se acrescente a base da localidade. Esses dois requisitos, colocados juntos,
produzem a igreja. À medida que olhamos para trás, vamos ficando mais claros e
mais louvamos a Deus. Se, nos últimos dois mil anos, as pessoas da igreja
estivessem dispostas a ser limitadas pela localidade, não teria havido tantas
dificuldades e tanta confusão. Se o homem tivesse se submetido à autoridade de
Deus, tanto o Catolicismo quanto o Protestantismo jamais poderiam estabelecer-
se. Tampouco teriam sido estabelecidas as mais de cem denominações na China,
e as mais de seiscentas grandes organizações e cinco mil organizações menores em
todo o mundo. Todas teriam sido restringidas pelo limite da localidade.
A Localidade nunca Muda

Perdoem-me por usar termos políticos. Uma dinastia pode mudar, mas uma
localidade nunca muda; um partido político pode mudar, mas uma localidade não;
até mesmo um país pode mudar, mas ainda assim uma localidade permanecerá a
mesma. Xangai sempre foi Xangai, e Chang-Chun sempre foi Chang-Chun. Durante
a dinastia Ching, Xangai era Xangai; durante a República, ainda era Xangai; até
agora, continua sendo Xangai. Durante a guerra sino-japonesa, quando o país quase
passou a fazer parte de outro, a localidade permaneceu a mesma. Todas as coisas
mudarão, mas a localidade nunca mudará. Deus deseja a localidade como base
para a igreja. Podemos ter a igreja na localidade de Roma, mas nunca a igreja do
Império Romano. O nome é o mesmo, mas, na realidade, são diferentes. A igreja na
cidade de Roma é reconhecida pelo Espírito Santo, mas a igreja do Império Romano
não. Por esse motivo, precisamos aprender diante de Deus a não perder esta
base da localidade.
Por favor, lembrem-se disto: a igreja deve posicionar-se sobre a base da
localidade. Por muitos anos, nós nos temos posicionado sobre essa base, rejeitando
tudo o que não está de conformidade com ela, rejeitando todos os outros rótulos.
Qualquer grupo que não toma Xangai como base, não é a igreja em Xangai. O
trabalho que aqui temos é realizado com a esperança de edificar a igreja em Xangai.
Se alguém de fora perguntar sobre esse assunto, você deverá deixar-lhe claro que a
igreja interiormente tem a autoridade do Espírito Santo como conteúdo, e,
exteriormente, o limite da localidade. A autoridade do Espírito Santo mais o limite
da localidade formam uma igreja. Se não houver autoridade do Espírito Santo inte
riormente e se não houver o limite da localidade, tal não será uma igreja.

A Base da Igreja e as Bênçãos Espirituais

Quanto mais clara é a base da igreja, mais ricas são as bênçãos espirituais.
Principalmente nesses últimos dois anos, temos visto que Deus definitivamente
abençoou a base da igreja. Muitos irmãos e irmãs começaram a perceber a
diferença entre o caminho do individualismo e a base da igreja.
Você pode ver a bênção do Senhor, porque a autoridade do Espírito Santo está
em todos os membros, levando-os a servir a Deus em coordenação, e não em
atividades individuais. Em algumas igrejas locais, o número de membros aumentou
duas vezes, cinco vezes e dez vezes, tudo em múltiplos.
Originalmente, havia em Taipé aproximadamente trinta membros, mas agora
aumentaram para mais de mil (Nota dos tradutores: Em 1977, a igreja em Taipé
contava com mais de vinte e três mil membros). Enviamos a essa cidade alguns
irmãos, que trabalham muito diligentemente. Deus continua a abençoar, e o
número de membros continua aumentando. Quando estava em Hong-Kong (na
primavera de 1950 - editor), recebi uma carta de um irmão, através da qual pude
sentir que ele realmente conhecia o que era a igreja, e isto devido ao seguinte
incidente. A igreja em Taipé esperava que o irmão Witness Lee fosse responsável pela
campanha de evangelização, por ocasião do Ano Novo chinês. Depois de estar tudo
acertado, o irmão Lee precisou vir até Hong-Kong, para resolvermos alguns
assuntos. Eles ficaram realmente desapontados, pensando que não poderiam
realizar tal campanha. O irmão Lee disse-lhes: "Para mim, ter um irmão Lee é
apenas ter um irmão a mais; perder um irmão Lee é simplesmente perder um irmão".
Se houvesse uma igreja em Taipé, ter ou perder o irmão Lee seria uma questão de
ter ou perder um irmão. Todavia, se não houvesse igreja em Taipé, então, quando
o irmão Lee se fosse, metade de Taipé também se iria. Não obstante, o resultado
daquela campanha de evangelização foi maravilhoso! Alguns dos irmãos que vocês
suporiam incapazes de pregar o evangelho o fizeram contra toda expectativa. Como
resultado, mais de mil e quatrocentos pessoas receberam o Senhor. Nas reuniões
dos dois dias seguintes, duzentos e vinte e oito foram batizadas. Não faz diferença
se um irmão é tirado ou acrescentado, porque lá existe a igreja. Voltando agora à
carta do irmão, estou contente pela sua afirmação: "Acredito que, se nós, irmãos,
aprendêssemos a servir o Senhor de uma maneira coordenada, mesmo que
houvesse três mil ou dez mil convertidos, seríamos capazes de digeri-los e absorvê-
los". Quando a igreja vem à existência e começa a funcionar, então, se vierem
quinhentos, quinhentos serão digeridos; se vierem mil, mil serão digeridos. Esta é a
igreja de Deus.

Um Vaso Necessário para Conter a Bênção de Deus

Alguns de nós oramos ao Senhor, pedindo-Lhe que nos abençoe da mesma


maneira como abençoou a igreja durante o Pentecoste. Mas, se o Senhor realmente
respondesse às nossas orações, o que faríamos? Se Ele realmente nos concedesse a
bênção de Pentecoste, o que faríamos? Se o Senhor nos desse três mil ou cinco mil
pessoas, o que faríamos? Se vários milhares de pessoas subitamente enchessem o
nosso local de reuniões, você imediatamente veria que não seríamos capazes de
digerir a todos eles. Por exemplo, se em Xangai três mil pessoas fossem acrescenta-
das de uma só vez, não seríamos capazes de digeri-las. Não saberíamos como batizá-
las, como distribuí-las nas várias casas onde há reuniões para ter a Mesa do Senhor,
como edificá-las e como visitá-las. Todavia, quando Deus abençoa e a igreja é forte,
podemos facilmente digeri-las. Não importa quantos venham: não ficaremos nos
arrastando, sem saber como conduzi-las adequadamente. Temos aqui cerca de mil e
quinhentos irmãos e irmãs entre nós, e a nossa comunhão ainda não é adequada. O
que faríamos se outros mil nos fossem acrescentados? Ser-nos-ia difícil carregá-los,
se Deus nos abençoasse assim. Não estamos falando de uma organização, mas de
um organismo que possa suportar as bênçãos de Deus. Se Deus nos abençoasse,
dando-nos três mil, e dois mil desaparecessem depois de dois dias, isso não seria a
igreja. Se Deus nos desse tantas pessoas, poderíamos nem sequer notar que elas
desapareceram. Se não percebermos quando as pessoas vêm e quando elas vão,
isso não é igreja. A igreja é um organismo com tal capacidade, que pode conter a
bênção de Deus. Espera-se que a igreja atinja um ponto tal, que, quando Deus
abençoar abundantemente, haja um vaso capaz de conter essa bênção. Quando
todo o corpo de irmãos e irmãs obedecem ao Espírito Santo, todos têm parte no
serviço e todos são abençoados. Ninguém do corpo introduzirá suas próprias
opiniões, mas todos estarão ocupados em servir; é nesse momento que surge a
igreja de Deus.
Digo-lhes que, se vocês não se estão preparando para a obra do Espírito Santo,
Ele não agirá. Vocês todos devem preparar-se para a obra Dele. Sempre devemos
preparar mais lugares, preferindo deixar o Senhor trazer as pessoas a deixá-lo levá-
las embora. Quando o Espírito Santo começar a agir, você verá que não haverá
lugares suficientes. Precisamos preparar-nos para a obra do Espírito Santo,
providenciando um local de reuniões maior e ampliando a nossa capacidade; então o
Senhor abençoará. Precisamos preparar homens para o serviço; então o Senhor
abençoará. Se não prepararmos cada um para o serviço, o Espírito Santo não terá
meios para agir.

Todos Precisamos Aprender a Servir

Espero que os irmãos e as irmãs vejam que a base da igreja fundamenta-se na


localidade e na autoridade do Espírito Santo. Uma vez que a autoridade do
Espírito Santo se faz presente, isso significa que cada um começa aprendendo a
libertar-se de suas próprias idéias e a submeter-se à autoridade de Deus. À medida
que cada um começa aprender a servir, a igreja de Deus aparece. Na igreja, não é
suficiente que as nossas opiniões pessoais não sejam introduzidas, mas também, do
lado positivo, é necessário que cada um se submeta à autoridade do Espírito Santo.
Uma vez que as pessoas se submetam à autoridade do Espírito Santo, imediatamente a
Sua autoridade começará a nos dirigir e fará com que todos comecem a servir; e,
assim, todos servirão.
Vocês, irmãos responsáveis pelas casas onde há reuniões, perdoem-me por dizer
as seguintes palavras: a responsabilidade básica que vocês têm diante de Deus é que
vocês mesmos precisam servir; mas isso não é suficiente. Se vocês podem fazer, mas
não conseguem levar os outros a fazer, estão fracassados. O Espírito Santo deseja
levar todos a servir. Do lado negativo, não introduza suas próprias idéias; do lado
positivo, deixe que o Espírito Santo faça com que cada um sirva. A autoridade do
Espírito Santo significa que Ele pode fluir através de cada um, que Ele pode dirigir
cada um. Portanto aquele que só pode servir por si mesmo, mas não pode confiar
responsabilidades a outros, é alguém que fracassa. Aquele que não conserva a
responsabilidade nas suas próprias mãos, mas a distribui aos irmãos e irmãs, para que
eles tenham parte na obra, é aquele a quem Deus usará.
Não pense que, quando as necessidades surgirem, será seu direito fazer tudo. Se,
quando as necessidades surgem, você as resolve rapidamente, conservando-as em
suas mãos, sem distribuí-las, isso bloqueia a obra do Espírito Santo. As
responsabilidades devem ser distribuídas; não devem ser retidas em suas próprias
mãos. Retê-las é sempre um obstáculo. As responsabilidades não devem estar presas a
você. Quando a autoridade do Espírito Santo tem liberdade na igreja, não importa se é
você quem faz ou não, mas é uma questão de permitir que o Espírito Santo tenha
liberdade para liberar-Se. Quando a autoridade Dele age, move-se e é liberada em todo
o Corpo, então temos a igreja.
O trabalho sempre deve ser distribuído; distribuir é um princípio. Sempre que
algo lhe aparece, você o distribui imediatamente. Quando algo pode ser feito por
uma pessoa e também pode ser feito por cinco pessoas, é melhor distribuí-lo entre
as cinco. Sempre procure fazê-lo levando outros consigo. Quando proceder assim,
você estará treinando os irmãos e levando-os a fazer as coisas, de modo que todos
estejam aprendendo a servir.
O irmão Witness Lee e eu passamos um longo tempo buscando o Senhor e
conversando (Nota dos editores: em fevereiro e março de 1950, em Hong-Kong).
Cremos ainda mais naquilo que vimos antes. Nos dias vindouros, Deus certamente
usará o caminho da migração. Portanto cada irmão precisa aprender a ser treinado.
Vocês não devem esperar que, no futuro, um grupo de irmãos migrem para Nan-
Chang, e que lá a igreja em Nan-Chang vá treiná-los por vocês. Temos que treiná-los
agora! Temo que os irmãos e irmãs não tenham aprendido o suficiente diante de
Deus e que, quando chegar a época da migração, tais irmãos não possam sair e
migrar. Portanto cada um deve aprender algo referente à igreja. Precisamos,
porém, aprender muito mais diante do Senhor sobre o serviço de todo o Corpo.
Assim haverá um caminho para que Deus flua de nós.
CAPÍTULO DOIS

A IGREJA NUMA CIDADE E A IGREJA NUMA CASA

(Palestra proferida aos irmãos em Xangai, a 1° de abril de 1950, e publicada em "A Porta
Aberta", a 30 de junho de 1950).

Com referência à base da igreja, dissemos que, em uma cidade, deve haver
somente uma igreja, pois deve haver apenas uma unidade. Mas algumas pessoas
dizem que "a igreja em uma casa" — tomando por base as Escrituras — "é uma
unidade adicional à localidade". O que querem dizer é que a igreja pode ter várias
unidades numa localidade. O que dizer sobre tal tipo de afirmação? O Novo
Testamento, em quatro lugares diferentes, menciona a igreja em uma casa, isto é,
num lar.
1. Romanos 16:5:"Saudai, igualmente a igreja que se reúne na casa deles..."
"Deles se refere a Priscila e Áqüila, do versículo terceiro. Aqui o fato é simples. A
igreja em Roma, como centenas e milhares de outras igrejas, começou,
primeiramente, na casa de um irmão. Isso significa que os principais membros da
casa desse irmão já eram irmãos no Senhor. Ao mesmo tempo, não havia muitos
membros na igreja; usavam, portanto, a casa deste irmão como seu local de
reuniões. Este é um fato histórico, e não doutrinário. É possível justificar uma
doutrina; mas o mesmo não ocorre com a História, pois acontecimentos históricos
são fatos. Qualquer pessoa que esteja familiarizada com a História sabe que
centenas e milhares de igrejas, primeiramente, se iniciaram em lares. A igreja
num determinado lugar, portanto, tornou-se a igreja na casa de uma certa pessoa.
A igreja em Roma era a igreja na casa de Priscila e Aqüila.
Alguns podem perguntar: "Uma vez que Paulo enviou saudações tanto à igreja em
Roma como à igreja em uma casa, mostrando assim não haver somente a igreja
local, mas também a igreja numa casa, não existiriam, conseqüentemente, duas
igrejas?"
Vamos devagar: Temo que você não tenha ouvido a Palavra de Deus
cuidadosamente. O livro de Romanos jamais menciona o termo "a igreja em
Roma". Como, então, o apóstolo pode ter saudado a igreja em Roma? O livro de
Romanos, ao enviar saudações, não o faz claramente à "igreja em Roma", mas sim a
igreja em casa". Está implícito, entretanto, que a saudação enviada à igreja em casa
de Priscila e Aqüila é a saudação enviada à igreja em Roma, a qual se reunia em casa
de Priscila e Aqüila. Assim a igreja em Roma era a igreja na casa deles.
Presumo que a dificuldade daqueles que discutem sobre isso advenha do fato de
que, após o versículo quinto, Paulo novamente menciona vários nomes. Acredito que
todos os expositores da Bíblia sabem que, após ter saudado a igreja no versículo
quinto, Paulo mencionou propositadamente um bom número de pessoas
importantes, e especialmente as saudou uma a uma. Isto não significa, todavia, que
tais pessoas estivessem fora da igreja em casa, mas sim que eram as pessoas, dentro
da igreja em casa, às quais Paulo especialmente enviava suas saudações. Algumas,
além de estarem incluídas nas saudações gerais à igreja, necessitavam de uma
atenção especial. Não cometam o erro de pensar que, pelo fato de estarem todos
incluídos nas saudações gerais à igreja, seja desnecessário acrescentar-lhes outras
saudações feitas individualmente. Isto não é afeição santa nem tampouco o que
ocorreu. Paulo não fez isto e nem mesmo nós o faríamos.
A prova disto está no versículo terceiro. Se a saudação enviada à igreja
automaticamente incluía a todos, e não havia necessidade de saudá-los novamente,
mencionando certos nomes, então Paulo não deveria ter saudado a Priscila e Áqüila no
versículo terceiro. Ele deveria saudar apenas "a igreja que se reúne na casa deles"
[de Priscila e Áqüila] (versículo quinto). O fato de haver saudado a "igreja que se
reúne na casa deles" [de Priscila e Áqüila já não significava a inclusão de ambos?
A saudação a toda a igreja naturalmente, inclui a cada um individualmente.
Mencionar estes indivíduos, todavia, além de saudar a igreja, não significa que eles
não sejam membros da igreja, ou que sejam membros de um outro grupo. Se assim
fosse, então Priscila e Áqüila não seriam da igreja que se reunia em sua própria casa!
Você percebe agora? Paulo saudou a Priscila e Áqüila no versículo terceiro; e, no
versículo quinto, prosseguiu saudando a igreja que estava na casa de Priscila e
Áqüila. Se a menção dos nomes de alguns indivíduos, além da saudação à igreja,
significa que tais indivíduos não eram desta igreja, e que existia uma outra igreja na
cidade, então até mesmo Priscila e Áqüila, cujos nomes Paulo também mencionou
separadamente em sua saudação, não pertenciam à igreja que estava em sua
própria casa!
O fato é que a igreja na casa de Priscila e Áqüila era a igreja em Roma. A igreja
em Roma, naquela época estava na casa de Priscila e Áqüila. Da mesma maneira
que os indivíduos mencionados antes do versículo quinto — tais como Priscila e
Áqüila — eram desta igreja, assim os muitos indivíduos nomeados após o versículo
quinto também eram desta igreja. E, além disso, muitos outros indivíduos não
mencionados também eram desta mesma igreja.
Nos versículos décimo e décimo - primeiro, mais duas casas são mencionadas, nas
quais também havia o povo do Senhor. Entretanto Paulo não disse: "saudai a igreja
na casa de Aristóbulo" ou "saudai a igreja na casa de Narciso". Somente no
versículo quinto ele realmente disse: "Saudai igualmente a igreja que se reúne na
casa deles" [a de Priscila e Áqüila]. Embora toda a casa de Aristóbulo tenha crido
no Senhor, em Roma havia apenas uma igreja — a igreja que estava na casa de
Priscila e Aqüila. Portanto, embora houvessem cristãos na família de Aristóbulo, eles
não podiam tornar-seuma igreja. Apesar de muitos da casa de Narciso serem cristãos,
estes de sua casa não podiam tornar-se uma igreja independente. Só havia uma
igreja em Roma, que era a igreja na casa de Priscila e Aqüila. Por isso a Bíblia não
menciona a igreja na casa de Narciso. A casa de Aqüila, a casa de Aristóbulo e a casa
de Narciso, todas pertenciam à igreja em Roma. Embora houvesse três casas de
cristãos, não eram três igrejas. Havia somente uma igreja. Roma era uma
localidade; tinha, portanto, apenas uma igreja — a que estava na casa de Priscila e
Aqüila.
Além disso, a História nos conta que, à época do Senhor, Roma já era uma
cidade muito grande. Mas, no início, os cristãos em Roma eram poucos. Por ser
grande a cidade e estarem espalhados os cristãos por toda a cidade, era natural que
Paulo acrescentasse saudações pessoais às saudações enviadas à igreja em Roma, a
qual se reunia na casa de Priscila e Aqüila. Por isso mencionou especialmente: "Saudai
a Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e aos irmãos que se reúnem com
eles" (versículo catorze), e também: "Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e sua irmã,
a Olimpas e a todos os santos que se reúnem com eles (versículo quinze). Tais
santos estavam espalhados por lugares distantes uns dos outros, através de toda a
cidade de Roma, assim como os irmãos, hoje, na igreja em Xangai, que moram em
Young Shu Pó e Kiang Wan. Mas Paulo nos diz que havia somente uma igreja na cidade
de Roma, e que tal era aquela que se reunia em casa de Priscila e Aqüila. Embora
estivessem espalhados, e alguns irmãos se reunissem com aqueles que moravam
perto, Paulo, contudo, não os chamou de igreja; chamou-os somente de "irmãos que
se reúnem com eles" ou "todos os santos que se reúnem com eles". Só pode existir
uma igreja em uma localidade.
2. Primeira Coríntios 16:19: "No Senhor muito vos saúdam Aqüila e Priscila e,
bem assim, a igreja que está na casa deles". Esta saudação foi enviada em 59 d.C,
quando Áqüila e Priscila moravam em Éfeso (At 18:18-19). Como a igreja em Éfeso
se reunia na casa deles, foi, portanto, chamada de "igreja que está na casa deles".
Isso não significa que houvesse uma igreja na cidade de Éfeso e outra, na casa de
Áqüila e Priscila, mas que a igreja na cidade de Éfeso era a igreja na casa de Áqüila e
Priscila. Tal fato histórico de maneira alguma pode ser mudado.
Mais tarde esses dois retornaram a Roma, e, mais uma vez, abriram sua casa
para local de reuniões da igreja em Roma. Eram realmente um casal fiel e amável.
3. Colossenses 4:15-16: "Saudai aos irmãos que estão em Laodicéia. e a Ninfa e
à igreja que está em sua casa. E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós,
fazei que também o seja na igreja dos laodicenses..." (VRC) (a palavra "e", usada
duas vezes no versículo quinze, é a mesma palavra em grego).
Podemos descobrir, por meio da História, que a igreja em Laodicéia se reunia em
casa de um irmão chamado Ninfa, um cristão de Laodicéia, não de Colossos.
(Verifique isso, por favor, nos escritos de Moore, Alfred, Earle e Finley). Paulo,
portanto, chamou à igreja de Laodicéia de "igreja que estava na casa de Ninfa", isto
é, "a igreja de Laodicéia na casa de Ninfa". Tal é um fato, e está bem evidente
nesta passagem.
É possível que os irmãos mencionados no versículo quinze sejam diferentes da
igreja? Não, é impossível! Paulo mencionou três categorias de pessoas: 1) os
irmãos, 2) Ninfa, 3) a igreja.
Se os irmãos e a igreja não são os mesmos, então onde colocar Ninfa? O
versículo diz: "os irmãos e Ninfa". A expressão "os irmãos" inclui "Ninfa" ou não?
Não importa quem você seja; tem de reconhecer que "os irmãos" inclui "Ninfa".
Logo tanto "os irmãos" quanto "Ninfa" pertencem ao mesmo grupo. Embora
ambos sejam do mesmo grupo, todavia, depois de ter saudado os irmãos (isto é,
após Ninfa ter sido incluído na saudação aos irmãos), Paulo especialmente
destacou Ninfa dentre eles, saudando-o pessoalmente.
Além disso, com relação às categorias (2) Ninfa, e (3) a "igreja que está em sua
casa" [de Ninfa], podemos dizer que a "igreja que está em sua casa" inclui Ninfa? É
claro que sim, a igreja o inclui. Assim sendo, por que não é suficiente que Paulo
diga: "saudai a igreja que está em casa de Ninfa"? Embora a igreja em sua casa
inclua Ninfa, Paulo ainda assim diz: "Saudai... a Ninfa e à igreja que está em sua
casa". Ele saúda a igreja, mas principalmente a Ninfa.
Nestas três categorias de pessoas, Ninfa é parte de cada uma delas. Da mesma
maneira, "os irmãos" e "a igreja são idênticos. Portanto Paulo não pára com a
saudação aos "irmãos de Laodicéia", mas prossegue, saudando a um irmão em
particular chamado "Ninfa". Já que a reunião da igreja se fazia em casa de Ninfa,
Paulo continua, saudando a "igreja que está em sua casa". "Os irmãos" se refere a
indivíduos; "a igreja" se refere a todo o grupo. Mas eles são idênticos. Paulo
primeiramente saúda os indivíduos, depois saúda toda a igreja.
Qual é o relacionamento existente entre a igreja na casa de Ninfa (versículo
quinze) e a igreja em Laodicéia (versículo dezesseis)? O versículo quinze é uma
saudação, enquanto o versículo dezesseis refere-se à leitura da epístola. O versículo
quinze fala da saudação aos irmãos em Laodicéia, os quais eram a igreja que se
reunia em casa de Ninfa. No versículo dezesseis, espontaneamente, sem qualquer
explicação, Paulo informa aos colossenses que os irmãos em Laodicéia (a quem
saudou no versículo quinze) eram a igreja que se reunia em casa de Ninfa, e que
tal igreja era a igreja em Laodicéia. Então, solicitou aos irmãos em Laodicéia que
providenciassem que a epístola fosse lida aos colossenses (Colossos distava apenas
20 km de Laodicéia). Lendo esses dois versículos cuidadosamente, você perceberá
que a igreja em casa de Ninfa, em Laodicéia (versículo quinze), é a própria igreja em
Laodicéia (versículo dezesseis). Pedro é Cefas, e Cefas é Pedro: os dois são
permutáveis. O mesmo ocorre aqui.
4. Filemom 1-2: a "...Filemom... Afia, e a Arquipo... e à igreja que está em tua
casa". Filemom era um cristão que morava em Colossos e era um cooperador do
apóstolo Paulo. A igreja em Colossos reunia-se em sua casa; a frase "à igreja que
está em tua casa", conseqüentemente, indica a igreja em Colossos. Isto é a História!
Teotóno afirma que, até o século quinto, sempre que visitavam Colossos, os
turistas freqüentemente consideravam a casa de Filemom como um ponto histórico.
Sendo famoso lugar histórico, era ponto turístico obrigatório aos que iam a Colossos.
Tal se devia ao fato de que a igreja em Colossos se reunia naquela casa em
particular.
A igreja na casa de Filemom era a igreja em Colossos, pois a igreja em Colossos se
reunia na casa de Filemom. Todas as igrejas na Bíblia, portanto, tomam a localidade
como a unidade: a casa jamais pode ser a unidade para a igreja.

A CASA, UMA UNIDADE INSUFICIENTE

Já vimos que o Novo Testamento menciona quatro vezes a igreja em uma casa.
O que tudo isso, na verdade, significa? Devemos observar essa questão por um
outro ângulo, e ver se a casa é ou não a unidade para a jurisdição de uma igreja. Não
sei se você compreende ou não o que se chama de "unidade de jurisdição". Quando
pesamos alguma coisa, por exemplo, usamos o quilo como unidade; assim o quilo é
a "unidade de peso". Quando medimos coisas, usamos o metro como unidade;
assim o metro é a "unidade de comprimento". O quilo é a unidade de peso, e o
metro, a unidade de comprimento. É uma casa a "unidade de jurisdição" para a
igreja? Como já disse antes, em outros lugares, a unidade de jurisdição para a
igreja é uma cidade ou localidade. Isto se baseia nos ensinamentos de Deus.
Por que uma cidade ou uma localidade pode tornar-se a unidade? É porque Éfeso,
Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia, todas eram localidades, e
apenas uma igreja posicionava-se em cada localidade. A questão agora é que, se
Deus não tivesse tomado a localidade como a unidade de jurisdição da igreja,
então não deveria haver sete igrejas nestas sete localidades. Por que não deveria
haver uma igreja para todas as sete localidades? Ou, se a localidade não fosse
mantida como unidade, por que não deveria haver mais de sete igrejas? Mas, na
Bíblia, Deus nos disse que havia sete localidades e que também havia sete igrejas!
Elas eram as "sete igrejas na Ásia", não "a igreja na Ásia"; eram "as igrejas", não "a
igreja"; eram as "ecclesiae", não a "ecclesia". Não somente existiam sete igrejas
diferentes nesta terra, mas também havia sete candelabros no santo lugar, diante
do Senhor. Havia sete, não um. Sem dúvida, está evidente que as pessoas devem
obedecer àquilo que Deus nos mostrou quanto à questão de tomar a localidade
como unidade de jurisdição para uma igreja.
Permitam-me perguntar novamente: pode a casa tornar-se a unidade para a
igreja? Para responder a esta pergunta, precisamos ter uma mente bastante clara;
caso contrário, cometeremos erros. Precisamos compreender a diferença entre a
casa mencionada na Bíblia e a casa mencionada por aqueles que, hoje, defendem
a igreja numa casa. A casa ensinada na Bíblia é o lugar onde a igreja se reunia
naquela localidade. A igreja na casa de uma pessoa, portanto, é também a igreja
naquela localidade. A igreja na casa de Aqüila era a igreja em Roma, a igreja na casa
de Ninfa era a igreja em Laodicéia, e a igreja na casa de Filemom era a igreja em
Colossos.
Mas, e hoje? As pessoas ensinam que Roma é uma localidade, mas que pode
haver lá duas igrejas: uma em uma rua e outra em uma casa. Em Colossos, pode
haver três igrejas: uma em uma rua, duas em duas diferentes casas. Portanto as
pessoas ensinam que a igreja em uma casa é uma igreja menor do que a
jurisdição de uma localidade; isto é, na mesma localidade, pode haver muitas
igrejas. Utilizam a palavra "casa" da Bíblia para entenderem que a unidade da
igreja nas Escrituras não está limitada a uma localidade, mas a uma casa. Por isso
vocês devem atentar em que a "casa" mencionada na Bíblia e a casa proposta por
algumas pessoas têm significados completamente diferentes.
Agora, a questão é: existe na Bíblia uma unidade menor do que a localidade
para o limite, para a jurisdição da igreja? O homem diz que sim, porém Deus diz
que não! Essa pergunta é bem fácil de se responder. Já vimos que só havia uma
igreja em Roma, uma igreja em Colossos e uma igreja em Laodicéia. O livro de
Apocalipse claramente nos mostra que a igreja em Laodicéia está no singular, o que
também corresponde a um candelabro de ouro nos céus.
O exemplo mais evidente foi a igreja em Jerusalém, que, àquela época, era a
igreja com o maior número de pessoas. Todos os que estudam a Bíblia sabem que
as reuniões da igreja em Jerusalém eram realizadas em diferentes casas. A Bíblia
diz: "Diariamente persevera-vam unânimes no templo... de casa em casa..." (At
2:46). A palavra "casa" aqui não é meramente uma casa. Atos 5:42 também diz:
"...no templo e de casa em casa...". Aqui também não é meramente uma casa.
Mais tarde, quando Pedro saiu da prisão, foi para a "casa de Maria" (At 12:12),
que era uma entre muitas casas. Agora a questão é se esse tipo de casa pode ser
a unidade de jurisdição para a igreja. A História nos mostra que, entre todas as
outras igrejas, Jerusalém teve o maior número de membros e o maior número de
reuniões em lares. Se Deus tivesse qualquer intenção de tomar a casa como
unidade da igreja, então Jerusalém teria sido a localidade mais qualificada e o
exemplo mais típico. Se em Jerusalém, onde havia muitos membros e muitas
casas, Deus não usou a casa para ser a esfera, a jurisdição da igreja, concluímos
então ser totalmente impossível encontrar em qualquer outro lugar o fato de que
uma casa seja a esfera da igreja.
Qual é, então, a realidade? Havia muitas casas em Jerusalém, mas Deus tinha
somente uma igreja em Jerusalém, a Cada vez que mencionou a igreja em
Jerusalém, o Espírito Santo usou convictamente a palavra "igreja" no singular, e
nunca 'igrejas" no plural. A Bíblia registra somente o termo "a igreja em Jerusalém",
e não "as igrejas em Jerusalém". Ela jamais declara: "cada igreja em cada casa em
Jerusalém". É possível que tenha havido muitas casas de reuniões, mas, mesmo
assim, elas eram a única igreja em Jerusalém. Qualquer idéia de tomar a casa como
unidade para a igreja é um conceito humano e não o ensinamento da Bíblia. Só
esta frase "a igreja em Jerusalém" (At 8:1). Já é suficiente para impossibilitar a
qualquer um que deseje o estabelecimento de uma igreja isolada, independente,
individualista e solitária em uma casa.
Podemos também comparar Atos 14:23 com Tito 1:5, isto é: "...promovendo-lhes
em cada igreja a eleição de presbíteros..." e "...em cada cidade, constituísses
presbí-teros...". Esses dois versículos se correspondem e concordam um com o
outro. "Cada igreja" está em "cada cidade". Está em "cada cidade", e não em cada
casa. A casa pode ser usada como um local de reuniões, e a igreja pode ser
chamada de igreja na casa de certa pessoa; mas a igreja na casa de Ninfa ainda era
a igreja em Laodicéia. A cidade ou a localidade — jamais a casa — é o limite, a
jurisdição e unidade da igreja.

DOIS ERROS

Os dois maiores erros cometidos pelo homem são: 1. Querer ter uma igreja maior
do que a cidade ou a localidade; querer unir muitas igrejas em diferentes loca-
lidades e fazer delas uma grande igreja, maior do que a localidade. Jamais
pensaram que, nas Escrituras, não se registra um termo equivalente a "igreja na
China". Quantos são capazes de perceber que o termo "a igreja na China" não é
bíblico? Todos os filhos de Deus devem compreender que, nas Escrituras, não
há uma igreja unida maior do que a localidade.
Temos, por exemplo, 'às igrejas da Galácia", e não "à igreja da Galácia" (Gl
1:2). Temos "as igrejas aos gentios", e não a "igreja dos gentios" (Rm 16:4). Temos
as "igrejasde Deus... na Judéia" (uma província), e não a "igreja de Deus... na
Judeía" (l Ts 2:14). Temos "às sete igrejas... na Ásia", e não "à igreja... na Ásia"
(Ap 1:4). Temos ainda "as igrejas" na Síria e Cilícia (distritos) e não "a igreja" na
Síria e Cilícia (Atl5:41).
Portanto o limite, a jurisdição da igreja sobre a terra, está restrito a uma
localidade. Ainda que você junte duas igrejas, que estão em duas localidades
diferentes, elas não podem ser uma igreja; ainda são duas igrejas. Na província da
Ásia, se você somar as igrejas como uma, mais uma, mais uma, mais uma, mais
uma, mais uma, mais uma, o resultado não será uma igreja, mas sete igrejas. Se
você somar todas as igrejas das diferentes localidades de toda a província da
(Galácia, você ainda não terá a igreja na Galácia, mas as "igrejas da Galácia".
Quem disse que a igreja está acima, além da localidade? Que Deus possa abrir
os seus olhos, a fim de que você não cause confusão ao testemunho de Deus.
2. Por outro lado, as pessoas desejam ter uma igreja menor do que a cidade ou
a localidade. Desejam dividir uma localidade em muitas "igrejas", muitas
"assembléias", muitas "congregações", ou igrejas em casas", usando este último
como um maravilhoso título. Mas estas são todas da mesma natureza, isto é,
servem para causar divisões, para estabelecer suas próprias seitas segundo a
carne. Os filhos de Deus devem diferenciar bem a "casa" mencionada na Bíblia da
"casa" concebida pelo pensamento humano. Na Bíblia, quando a casa eqüivale a
uma localidade ou cidade, os cristãos que nela se reúnem são chamados de
igreja, como a igreja em Roma, a igreja em Colossos, a igreja em Laodicéia, etc.
Mas, quando a casa é menor do que a localidade ou cidade, os cristãos que nela
se reúnem não são chamados de igreja, como as reuniões da igreja em Jerusalém
realizadas em várias casas. Isto é muito diferente da casa concebida pelo
pensamento humano, que é feita menor do que a localidade ou a cidade,
perpetuando assim a vida das seitas, ou dando outra forma às mesmas.
Os irmãos, portanto, devem lembrar-se de que o ensinamento bíblico é "a igreja
em Jerusalém", e não "as igrejas em Jerusalém" (At 8:1); é "a igreja... cm Corinto", e
não "as quatro igrejas em Corinto" (l Co 1:2); é "a igreja em Laodicéia" (Ap 3:14;
Cl 4:15-16). Encontramos "a igreja em Éfeso", e não "as igrejas em Éfeso" (Ap 2:1).
Temos "a igreja dos Tessalonicenses", e não "as igrejas dos Tessalonicenses" (l Ts 1:1).
Também temos "a igreja... em Antioquia", e não "as igrejas em Antioquia" (At 13:1 -
V.R.C.).
A igreja de Deus toma a localidade como o seu limite! Quando a igreja na casa de
certa pessoa é completamente equivalente à igreja daquela localidade, pode ser
chamada de igreja na casa dessa pessoa. Todavia, quando a "igreja" na casa de
certa pessoa é menor do que a igreja em sua localidade, não pode ser chamada de
igreja. Quando você junta as "igrejas" na "casa" de Cefas, na "casa" de Paulo, na
"casa" de Apoio e na "casa" de Cristo, não existem quatro igrejas em Corinto, mas
sim a igreja em Corinto, no singular. Então se conclui que Deus nunca fez deste tipo
de "casa" uma unidade para o limite, para a jurisdição da igreja. Como as quatro
casas não são quatro unidades, os cristãos que nelas se reúnem, respectivamente,
não podem ser quatro igrejas.
Deve ter havido mais de dez mil irmãos em Jerusalém, e é possível que eles se
tenham dividido em cem casas para as reuniões (não sabemos o número exato).
Como casas desse tipo são menores do que a cidade, menores do que a localidade e
menores do que Jerusalém, elas não são suficientes para se tornarem as unidades
das igrejas. Portanto, se você juntar as cem casas, não se tornarão cem igrejas. Na
Bíblia, só há a igreja em Jerusalém, no singular. Já que as cem casas juntas não
podiam tornar-se cem, mas só podiam totalizar uma, isso significa que cada uma
das cem não era suficiente para tornar-se uma unidade por si mesma.
Se a igreja na casa de Ninfa (Cl 4:15) e a igreja em Laodicéia (versículo dezesseis)
não são a mesma, então, ao somá-las, o resultado será duas igrejas. Mas, depois
que "as" somamos, Deus diz, em Apocalipse 3:14, a "igreja em Laodicéia", e não as
igrejas" ou as "duas igrejas" em Laodicéia. São uma somente.
Quando menor do que a localidade, a casa não é suficiente para tomar-se a
unidade. Quando equivalente a uma localidade, então é qualificada para tornar-se a
unidade. Mas a unidade é a localidade, jamais a casa. Devemos ficar bem claros de
que, na Bíblia, a unidade-padrão para a igreja, o limite da igreja, é a cidade ou a
localidade. Quando a casa eqüivale à localidade, então podemos dizer "a igreja na
casa de Fulano de Tal". Quando a casa é menor do que a localidade, você pode somar
um mais um, mas o total será um, não dois. Você pode somar dez mais dez, porém
o total não será vinte, será um. Você pode somar cem mais cem, mas o total não
será duzentos, será só um. Todos os totais serão um! Através disso, conclui-se que
nenhuma das "casas" pode igualar-se com a unidade para o limite, para a
jurisdição da igreja.
Quem pode mostrar, na Bíblia, que haja duas igrejas em uma localidade?
Ninguém! Hoje, só podemos dizer que há duas denominações em uma localidade,
quatro seitas numa localidade, ou cem manifestações da carne em uma localidade;
mas nunca poderemos dizer que haja duas ou mais igrejas em uma localidade.
Podemos dizer que há cem reuniões caseiras em uma certa localidade, mas só pode
haver uma igreja nessa localidade. Isso é certo!
Por causa da voz de Deus, nos últimos vinte e oito anos, as seitas perderam o seu
lugar naqueles que amam ao Senhor, Os irmãos que defendem a divisão da igreja
em casas devem estar alerta, suspeitando de que isto vem a ser uma outra forma
de pedir autorização para o ego ou para as seitas. Que Deus possa abrir os olhos de
Seus filhos, para verem que aqueles que deixaram as denominações não deixaram
necessariamente as seitas. Que Deus tenha misericórdia, pois eu falo
honestamente.
Todos precisamos examinar seriamente os nossos próprios corações na luz: não é
verdade que, de um lado, nós gostamos de rejeitar o pecado do
denominacionalismo, e, contudo, por outro lado, também não ouvimos a igreja, e
então adotamos o caminho cômodo de ter a "igreja" em casa? Que o Senhor tenha
misericórdia de vocês por fazerem isto, e de mim por falar desta maneira.
Meu coração está muito triste, porque, ao mesmo tempo em que o Senhor
obtém Sua vitória, ainda ocorre tal perturbação. Um pouco da nossa desobediência
hoje, se o Senhor adiar a Sua vinda, resultará numa bifurcação no percurso da
igreja cem anos depois. Desejaria que os irmãos orassem por nossos irmãos com
jejuns, para que Deus possa converter seus corações. Por outro lado, vocês, irmãos,
que ainda se comunicam com eles, devem mostrar-lhes o seu amor firme para com
eles, a fim de que o Senhor possa ganhá-los. Que o Senhor lhes conceda um coração
de temor e tremor, para que saibam o quanto o falar em nome do Senhor requer
que eles se despojem de seu "ego", requer que sejam humildes e que não falem, até
que vejam e ouçam. Que o Senhor lhes faça ver quão sério é o resultado do
proferir uma palavra sem revelação. Uma vez que damos à luz a Ismael, o que é
carnal perseguirá o que é espiritual para sempre.

NUNCA DUAS UNIDADES PARA A IGREJA

Algumas pessoas pensam erroneamente. Concordam que o limite, a jurisdição da


igreja, é a localidade, mas, como não estão dispostas a sair das seitas, pensam que
a casa é também um limite da igreja. Pensam que as duas podem viver lado a lado,
sem serem contrárias entre si. Não podem distinguir em que ponto a casa se iguala à
localidade, e em que ponto a casa difere da localidade. Quando a casa é o mesmo
que a localidade, pode ser o limite da igreja. Quando a casa é diferente da
localidade, as duas não podem ser ao mesmo tempo o limite, a unidade da igreja.
O ponto-chave está na localidade, no fato de a casa ser ou não igual à localidade.
Precisamos saber que, se a casa é a unidade, então a localidade, que é maior do que
a casa, não pode ser a unidade. Como a localidade pode ser a unidade, se ela pode
ser dividida em unidades ainda menores? Mas, se reconhecemos a localidade como
unidade, como podemos reconhecer a casa também como uma unidade? Sendo a
localidade a menor unidade, como pode ela ser dividida em unidades ainda
menores, tais como uma casa? Por exemplo, se o comprimento é representado por
uma unidade de medida, que é o metro, então um centímetro não é suficiente para
ser a unidade, porque é menor do que uma unidade completa. Se você tomar um
centímetro para ser a unidade, o metro já não poderá ser a unidade, porque o
metro será então equivalente a cem unidades. Do mesmo modo, se a unidade para
a igreja é a localidade, então as muitas casas nessa localidade não podem ser as
muitas igrejas. Uma localidade com uma casa tem apenas uma igreja; uma
localidade com cem casas também tem apenas uma igreja. Com cem casas, não
temos cem igrejas. Se a casa é a unidade, então com uma casa há uma igreja, e com
cem casas há cem igrejas; daí, então, uma localidade com cem casas jamais poderia
ter somente uma igreja. Ambas, a casa e a localidade, são unidades completamente
diferentes. Ou tomamos a casa para ser a unidade, ou tomamos a localidade para
ser a unidade. Deve haver uma unidade, mas não podemos ter ambas. A casa e a
localidade não podem ser ao mesmo tempo unidades para a igreja.
Se a localidade é a unidade, então: 1) A igreja que une várias localidades é
errada; 2) as divisões fragmentárias numa só localidade também são erradas. Mas,
se a casa é a unidade, então 1) a igreja que une várias localidades ainda é errada;
mas 2) as divisões em uma localidade são certas. Todas as divisões podem
esconder-se atrás da palavra "casa". Se a "casa" é a unidade, todos aqueles que
recusam "ouvir... a igreja" (Mt 18:17) podem organizar "igrejas-casas" separadas. A
"igreja-casa" torna-se, assim, um refúgio para todos os facciosos em uma localidade.
Que o Senhor seja misericordioso para com a Sua igreja!
Você, portanto, precisa estar claro de que, entre a casa e a localidade, só uma
delas pode ser a unidade, e não as duas juntamente. Isto é tal qual a nossa
salvação: se não é pela graça, então é pelas obras. Não pode ser pela graça e pelas
obras; você não pode ter ambas. De acordo com a Bíblia, assim como a nossa
salvação é pela graça, também o limite, a jurisdição da igreja, é a localidade. Dividir
a igreja numa localidade em muitas "igrejas-casa" é introduzir divisões no Corpo, e
é obra da carne.
Acredito que Deus, em Sua grande sabedoria, decidiu ter a localidade como o
limite da igreja, a fim de eliminar as obras do homem no sentido de dividir a
igreja em uma localidade.

A INTENÇÃO E O RESULTADO

Quando esquadrinhamos a Bíblia para achar evidência e ajuste de algum


ensinamento, não devemos verificar somente a intenção do nosso coração, mas
também precisamos atentar para o lugar a que este tipo de ensinamento conduzirá
os filhos de Deus, e qual será o resultado.
Por exemplo, alguém disse que a Bíblia jamais proibiu os cristãos de fumar ópio.
Ele falou: "Se você diz que os cristãos não devem fumar ópio, por favor, prove isso
através da Bíblia". Sem dúvida alguma, a Bíblia não tem uma declaração escrita
proibindo claramente o fumar ópio. Mas devemos dar atenção ao resultado que tal
tipo de conversa trará aos filhos de Deus. O resultado não será outro senão fazer
com que as pessoas entrem no mundo e satisfaçam as suas concupiscências. Outro
exemplo é o batismo. Alguns pensam que, embora a imersão seja correta, a
aspersão também serve, e podem dar muitas razões.
Mas o resultado destas razões é dizer-nos que o homem pode mudar a Palavra
de Deus. Semelhantemente, se alguém diz que pode haver a igreja em uma casa,
além da igreja numa localidade, também perguntamos: "Qual será o resultado
deste tipo de ensinamento? Poderia haver qualquer outro resultado, além de dar
ao povo nessa localidade a liberdade na carne para quebrar a unidade da igreja e
conduzir os filhos de Deus ao caminho das divisões? Se em uma localidade há
"igrejas-casa", cada uma delas tendo uma administração própria, e todas pensando
ser espiritualmente uma, não estão porventura enganando a si mesmas? Se
mantivermos tal tipo de ensinamento, quantas divisões adicionais surgirão em uma
localidade com as assim chamadas "igrejas-casa"? Agora há um grande número de
igrejas denominacionais; mas, se as "igrejas-casa" forem bíblicas, haverá centenas
de igrejas numa localidade! É esta a expectativa de alguém que se consagrou ao
Senhor e O ama?
Todos sabemos que há somente uma igreja. Em nosso país e no exterior, no
passado e no presente, há somente uma igreja. Por haver somente um Cabeça, há
somente um Corpo. A igreja é um Corpo com vida; sendo assim, não é certo dividi-
lo por qualquer motivo. Devemos enfatizar isto: a igreja é uma, porque o Corpo é
um. Portanto qualquer razão para dividir a igreja é pecado. Uma divisão é um
pecado, porque ela é um "schism [grego - divisão] no corpo" (l Co 12:25).
Porém, embora a igreja seja uma, é impossível que todos os irmãos se reúnam
juntos. O tempo e o espaço impedem que todos os irmãos de todo o mundo sempre
se reúnam juntos. Além disso, não é prático que a administração da igreja
supervisione e dirija os assuntos de todos os irmãos em uma igreja mundial. A
Palavra de Deus, portanto, não só o permite, mas também providencia para que a
igreja possa ser separada. Para que a igreja (singular) se torne igrejas (plural),
Deus decidiu a maneira pela qual, nesta terra, uma única igreja e uma outra única
igreja não podem tomar-se uma igreja, porém duas igrejas. Este é o princípio da
"localidade", segundo o que a Bíblia revela.
Na Bíblia, nenhuma igreja é maior do que a localidade ou cidade; nem tampouco
igreja alguma é menor do que a localidade ou cidade. Uma localidade é o lugar onde
as pessoas se juntam e moram juntas. Desde que a localidade é um lugar onde as
pessoas se juntam e moram juntas, ela é, segundo a Bíblia, o limite da igreja. As
pessoas que moram juntas em uma localidade podem ser independentes de outras
localidades. Não é uma questão de número de pessoas (cristãos), mas é questão de
localidade. A razão de se separarem não se baseia no amor, mas na localidade. A
razão pela qual Deus permite que a igreja esteja separada é a localidade. Qualquer
outro tipo de separação é pecado. Vocês cometerão pecado, se vierem a separar-se
de seus irmãos por quaisquer outras razões que não sejam a localidade. Na Bíblia, há
somente a diferença da localidade, que não é diferença em natureza. A diferença da
localidade é a grande sabedoria de Deus. Estou em Xangai, e você está em Soochow',
mas, quando ambos chegamos a Nanking, não haverá problema de diferenças. Além
do limite da localidade, não deve haver absolutamente nenhum outro limite. Na
igreja, Deus só permite que nos dividamos de acordo com o princípio da localidade.
Sem dúvida, a igreja é uma; assim, como pode haver muitas igrejas? Só pode ser
devido à diferença de localidade. Porque temos nosso corpo na carne, estamos natural-
mente restringidos por limites geográficos. Qualquer diferença devida a nomes,
qualquer diferença devida a sentimentos humanos, ou qualquer outro tipo de
diferença é nocivo à natureza da igreja. Só a localidade não fere a natureza da igreja.
Isto fará com que os irmãos e os outros sejam incapazes de escapar da localidade.
Você pode ser capaz de fazer o que quiser, mas não está qualificado a estabelecer
uma igreja de acordo com sua preferência. Quando você vir que a base da igreja é
local, não haverá razão alguma para a existência de quaisquer seitas. A questão da
localidade corta a carne do homem até à parte mais profunda.
Agora deixem-me repetir o que disse até aqui acerca da natureza da igreja. Qualquer
motivo para dividir a igreja causa danos à sua natureza, isto é, transforma a unidade
da igreja em desunião. Pelo fato de estarmos no corpo humano, só a razão geográfica
poderia dividir-nos, sem causar danos à natureza da unidade da igreja. Deus, por
conseguinte, decidiu ter a localidade como limite da igreja sobre esta terra. E
também decidiu que, em uma localidade, só deveria haver uma igreja a expressar a
unidade da igreja celestial.
Precisamos também ver a razão espiritual de dividir a igreja por localidades.
Assim poderemos compreender se o princípio praticado hoje de dividir a igreja por
casas é de Deus ou não. A maneira de dividir por casas os santos em Jerusalém é
bíblica. Devido ao grande número de pessoas — uma razão física — estavam divididos
em muitas reuniões caseiras. Mas a igreja ainda era uma, "a igreja (singular) em
Jerusalém". Mas, atualmente, a maneira de dividir por casas é uma maneira de dividir
a igreja em muitas igrejas em uma localidade. Não se deve à razão física; tampouco
se deve à razão geográfica; nem mesmo se deve a grandes distâncias, que tornam
difícil que as pessoas se ajuntem; não se-deve a uma grande multidão sem lugar
suficiente que acomode a todos; não se deve ao fato de haver tanta gente, que
cuidar de todos seria impossível, e não se deve a grandes distâncias que tornam difícil
a administração; todavia estão divididos em muitas igrejas. Portanto a razão de dividir
as pessoas em muitas igrejas deste modo pode causar danos à natureza da igreja.
Divisões sem exigências geográficas ou físicas são espirituais, ferindo a unidade
espiritual. Tal tipo de divisão não é exterior e limitada, mas interna e espiritual. Qual-
quer divisão que não se deva a uma razão geográfica ou física é, interiormente, uma
divisão real, básica e espiritual.
Esse tipo de divisão, portanto, é uma divisão na verdadeira natureza, na essência,
arruinando a unidade espiritual.
Logo isso é muito sério. Desde que vimos pela primeira vez a luz concernente à
unidade do Corpo de Cristo, há vinte e oito anos, atravessamos muitas ondas de
adversidade. Mas creio que jamais passamos por uma mais séria e mais ambígua do
que o ensinamento relativo à ."igreja-casa". Esta é a primeira vez que pessoas se
opõem à verdade concordando com ela..Como somos todos pessoas que servem a
Deus, imploro-lhes que busquem a Sua luz. Não propaguem uma voz de confusão na
igreja de Deus, mas, ao contrário, livrem-se do sectarismo de seus corações.
Não devemos empurrar a unidade da igreja inteiramente para o lado "espiritual",
dizendo: "Somos um na vida! Somos um espiritualmente!". Irmãos, quando não
vivemos juntos na mesma cidade, ainda podemos cobrir-nos com palavras espirituais e
esconder completamente a desunião com a "unidade espiritual". Mas, agora, já que
todos vivemos na mesma cidade e estamos na mesma localidade, é concebível que
não expressemos ou demonstremos a nossa unidade? Já que não há fatores geográficos
e físicos para nos dividir, não é este o momento para demonstrarmos que somos uma
igreja? Por que em um tempo tão oportuno, quando nos é possível mostrar nossa
unidade, deveria surgir esta diferente "igreja-casa"? Esta "casa" representa a
unidade, ou separação e seita? Ó Senhor, tem misericórdia de nós.
Não me atrevo a dizer de onde procede o ensinamento acerca da "casa". Mas temo
que o irmão que fala sobre isto não tenha visto o pecado da seita. Esta "casa" está a
meio caminho da seita; não é uma rejeição completa da seita. Faz com que aqueles
que deixaram as denominações não deixem as seitas. Temo que alguns que não estão
dispostos a serem restringidos pelo Corpo, que só conhecem sua ação individual, seu
viver individual e seu trabalho individual, apreciem tal tipo de conversa sobre a
"igreja-casa". Aqueles que não desejarem ouvir a igreja, mas desejarem
estabelecera igreja, valorizarão tal tipo de "doutrina". Que o sangue do Senhor me
cubra por falar assim. Acho, contudo, que a humildade é proveitosa para muitos; não
andar no nosso próprio caminho é proveitoso aos filhos de Deus.
Finalmente, este tipo de "casa" não é a casa referida nas Escrituras. Este tipo de
"casa" é uma seita. Uma seita disfarçada. Este tipo de "casa" faz as pessoas se dividir,
mas nunca se unir. Este tipo de "casa", ao mesmo tempo em que fere a natureza da
igreja, não permite que esta ferida seja revelada. Este tipo de "casa" aperfeiçoa a
muitos que são individualistas, a muitos que não querem ser restringidos e a muitos
que se deliciam com ser "líderes". Que o Senhor tenha misericórdia de mim por falar
desta maneira e tenha misericórdia das Suas igrejas, para que não sejam feridas.
CAPÍTULO TRÊS

O CONTEÚDO DA IGREJA

(Palestra proferida aos irmãos em Xangai, a 4 de dezembro de 1950, publicada


em "A Porta Aberta", a 1° de março de 1951).

Gostaria de falar-lhes um pouco mais sobre o problema da igreja. Esta deve ter
tanto a autoridade do Espírito quanto a unidade da localidade. A base da
localidade, todavia, não é um assunto tão simples, pois a igreja ainda precisa do
seu conteúdo. Sem conteúdo, ela ainda não pode ser reconhecida como uma igreja
local. Estar certo quanto ao nome é uma questão muito importante, mas isso não
quer dizer necessariamente que não haja problemas. Por isso é que eu gostaria de
ver, na Bíblia, junto com vocês, irmãos, os vários requisitos de uma igreja em uma
localidade. Dizer simplesmente que estamos posicionados sobre a base da localidade
não é suficiente. Além de posicionar-nos sobre a base da localidade, deve haver os
requisitos, as condições e o conteúdo da igreja. Se tais requisitos e condições não
são satisfeitos, então ainda não estamos posicionados sobre a base da localidade.

1. RECEPTIVA

Antes de tudo, se uma igreja está realmente posicionada sobre a base da


localidade, conforme se apresenta na Bíblia, ela tem de receber todos aqueles a
quem o Senhor recebe. Romanos 15:7 diz: "Portanto acolhei-vos uns aos outros,
como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus". Vemos aqui uma coisa: o
acolher dos cristãos se baseia no acolher de Cristo, isto é, devemos nos acolher uns
aos outros como também Cristo nos acolheu. Em outras palavras, não poderemos
rejeitar aqueles a quem Cristo recebe. Hoje, se um pecador foi recebido por Cristo,
então temos que recebê-lo como irmão. Se há um homem a quem Cristo acolheu, e,
ainda assim, não o acolhemos, imediatamente nos tornamos uma seita, não uma
igreja.
O que é uma igreja? Uma igreja significa que, em uma localidade, todos aqueles a
quem Cristo recebeu nós também recebemos. Deus não pediu a vocês, que moram
em Xangai, que recebessem os irmãos residentes em Nanking ou os irmãos de
Chungking, mas pediu-lhes que recebessem os irmãos de sua localidade. Devem
receber todos aqueles a quem Cristo recebeu. Quando desejo saber se uma igreja é
ou não a igreja em Tientsin, tudo o que devo fazer é ver se ela recebe todos os
salvos residentes em Tientsin. Suponhamos que os irmãos em Tientsin queiram ser
seletivos: só desejam receber determinado tipo de pessoas recebidas por Cristo,
mas não a outro tipo de pessoas a quem Cristo também recebeu. Então, tal não é a
igreja. Vocês não podem dizer que recebem somente aqueles que são iguais a vocês
e rejeitam os que não são iguais. Não podem, por razão alguma, deixar de receber
alguém a quem o Senhor recebeu! Caso contrário, não são a igreja.
"Acolhei ao que é débil na fé... porque Deus o acolheu" (Rm 14:1, 3).
Suponhamos que haja alguém que só coma legumes. Você, pode considerá-lo muito
fraco. Mas o nosso acolhimento não está baseado no fato de o irmão ser forte ou
fraco, mas no fato de Deus o haver recebido ou não. Talvez seja um irmão fraco,
mas mesmo assim você precisa recebê-lo. Deus já o recebeu, seja ele fraco ou forte;
portanto você não pode fazer outra coisa, a não ser recebê-lo também. A comunhão
fundamental de uma igreja em uma localidade está baseada na comunhão com
Deus. Um irmão a quem Deus já recebeu nós também temos de receber. Não
podemos ter razão alguma para rejeitá-lo; caso contrário, seremos uma seita, e não
uma igreja. Noutras palavras, que é uma igreja? É que o nosso acolher em uma
localidade é tão amplo quanto Deus, e também tão rigoroso quanto Deus: todos
aqueles a quem Deus recebe, nós recebemos; e todos aqueles a quem Deus não
recebe, nós tampouco recebemos. A igreja universal é aquela que recebe todos
aqueles a quem Deus recebeu, no mundo inteiro; uma igreja local é aquela que
recebe todos aqueles recebidos por Deus numa localidade. Não importa quão
diferente um irmão seja de nós, ou quanto lhe falte para chegar ao nosso padrão;
há somente um requisito para o acolhermos — isto é, Deus o acolheu? Se Deus já o
recebeu, também nós devemos fazê-lo! Portanto uma igreja local — devemos, antes
de tudo, estar bem claros quanto a isso — precisamos tomar a vida de Cristo e a f é
em Deus como a base para receber cristãos. Fora disso, não temos nenhuma outra
exigência. Se fazemos outras exigências, ou certos requisitos, somos uma seita
igual a qualquer outra, e uma seita é condenada; portanto isso é um assunto muito
sério.

II. EXERCENDO DISCIPLINA

Isso quer significar que devemos receber todos os cristãos de uma localidade
sem reserva alguma? Não! Uma igreja em uma localidade deve não apenas receber
todos aqueles a quem Cristo recebeu nessa localidade, mas também deve exercer
a disciplina da igreja. Que é a disciplina da igreja? Quando um irmão, que foi
recebido pelo Senhor, comete algo, de modo que o próprio Senhor o exclui da
comunhão, nós também exercemos disciplina sobre ele. Você não deve dizer que
queremos todos os que o Senhor quer e também todos os que o Senhor não quer.
Se Ele coloca certa pessoa no mundo, e ainda assim você a coloca na igreja, você
abre na igreja uma porta para o mundo. Conseqüentemente, não haverá uma
linha demarcatória entre a igreja e o mundo: a muralha que há entre os dois foi
derrubada por você.
Sempre usamos esta ilustração: Quando um barco está no mar, o barco e o mar
não podem ter comunhão. Tão logo começam a ter comunhão, mais cedo ou mais
tarde, o barco afundará. Do mesmo modo, se você fizer um furo na igreja, a linha de
separação entre a igreja e o mundo desaparecerá. A igreja local, portanto, deve
exercer disciplina; deve haver ação disciplinar, para tornar-se uma igreja local.
Que é ação disciplinar? Primeira Coríntios 5 menciona seis diferentes tipos de
pessoas salvas e que tinham a vida de Deus. Mas, de um modo especial, eles
desleixaram, tornando-se respectivamente fornicador, avarento, idolatra,
maldizente, beberrão e roubador. Paulo disse-lhes (à igreja em Corinto): "expulsai,
pois, de entre vós o malfeitor" (l Co 5:13). A ordem de l Coríntios 5 não diz que,
assim que um irmão peque, vocês devem expulsá-lo de seu meio. Contudo o que
realmente diz é que, quando um irmão se torna /a/pessoa, aí então, vocês devem
expulsá-lo. Não diz: aquele que comete fornicação, mas sim "um fornicador"; não
um irmão que maldiz, mas sim "um maldizente". Quando um homem se torna tal
pessoa, a igreja deve expulsá-lo, deve excomungá-lo. Aquele a quem o Senhor não
quer na igreja, você também não deve querer naquela localidade. Se vocês, em sua
localidade, conservarem alguém que o Senhor não quer, essa retenção causará sérios
problemas. O Senhor disse que tal pessoa é como um pouco de fermento que leveda
toda a massa (l Co 5:6). Dentro de pouco tempo, a igreja inteira ficará mofada. A
igreja inteira já não será mais a farinha pura, mas o fermento. A igreja, portanto,
precisa ter disciplina. Além disso, ela sabe que tipo de pessoa um irmão é. Isso se
reflete nas palavras da irmã M. E. Barber: "A unidade da igreja é a voz do Espírito
Santo". Se todos os irmãos sentem que um irmão é tal pessoa, então ele com certeza é
tal pessoa. Você não pode dizer que todos os irmãos o entenderam mal. Uma igreja
local, por conseguinte, deve executar a disciplina de Deus em sua localidade.
Além disso, a Bíblia revela-nos que a igreja exerce disciplina não só no aspecto
moral, mas também no aspecto doutrinário. O Senhor, todavia, não deseja que
exerçamos disciplina com relação a doutrinas vulgares. Alguns, por exemplo, guardam
o dia do Senhor, enquanto outros guardam o sábado (isto não se refere aos
Adventistas do Sétimo Dia, que estão retornando à lei). Isso não devemos discutir.
Alguns guardam ambos os dias; isso tampouco deveríamos discutir. Alguns irmãos
comem legumes, e outros comem carne; tampouco devemos discutir isso. Há um tipo
de doutrina que obrigatoriamente devemos discutir, e isto se refere à Pessoa do Senhor
Jesus. Isso está mencionado em 2 João 7-11: "Porque muitos enganadores têm saído
pelo mundo f ora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne: assim é o enganador
e o anticristo... Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece, não
tem Deus... Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa,
nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das
suas obras más." Aqui, penso eu, está muito claro que uma igreja em uma localidade
deve guardar a Pessoa do Senhor Jesus. Se o Senhor Jesus não é Deus vindo em
carne, se é somente carne, então não é Deus; sendo assim, o Senhor Jesus não
poderia ter realizado a redenção por nós, e a igreja estaria basicamente anulada. A
igreja, conseqüentemente, deve ser rigorosa, e de maneira alguma desleixada e
tolerante em qualquer coisa que se relacione à Pessoa de Cristo. Se alguém pregar um
ensinamento diferente sobre a Pessoa do Senhor, não o receba em sua casa, nem
tampouco lhe dê as boas-vindas. Caso contrário, a igreja perderá sua base. Se não
há disciplina, ela perde a sua qualificação de igreja. Logo, a confusão moral é errada e
proibida pela igreja; a confusão doutrinária também é errada, e não é permitida pela
igreja. Todavia de modo algum pense que isso se refere a doutrinas vulgares. Se a
igreja se preocupa com doutrinas vulgares, toda ela será derrotada, dividida em
pedaços. Não deveremos discutir doutrinas vulgares. Devemos somente combater as
doutrinas relativas à Pessoa de Cristo. Aqui, a igreja precisa exercer disciplina;
doutra sorte, ela estará acabada.
Mateus 18:15-17 diz: "Se teu irmão pecar [contra til, vai argüi-lo entre ti e ele só...
se, porém, não te ouvi toma ainda contigo uma ou duas pessoas. ..E, se ele não os
atender, dizei-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como
gentio..'.
Algumas igrejas são muito preguiçosas e não se preocupam em tratar com
assuntos problemáticos. Todavia, aqui, o Senhor disse que a igreja deve cuidar dos
assuntos disciplinares. O ensino do Senhor aqui se refere à igreja local, lugar onde
podemos contar nossos problemas. A igreja numa localidade deve cuidar de tais
assuntos. Se uma igreja local não o faz, está negligenciando seu dever. Se vocês
são a igreja em uma localidade, devem assumir toda a responsabilidade nessa
localidade.
III. INCLUSIVA

Além disso, a questão mais importante para a igreja em uma localidade é que
ela deve ser inclusiva, não exclusiva. O que a igreja deve incluir tem dois aspectos:
o da conduta e o da doutrina. Primeiramente, vamos considerar o aspecto da
conduta cristã, que a igreja não deve excluir.
Em Atos 20:27, Paulo disse aos presbíteros de Éfeso: "Porque jamais deixei de
vos anunciar todo o desígnio de Deus" ou "nunca deixei de anunciar-vos a perfeita e
completa vontade de Deus". Se a igreja em uma certa localidade está firmada na
posição de igreja, não pode deixar de declarar a perfeita e completa vontade de
Deus. Não podemos esperar que um irmão alcance a perfeita e completa vontade
de Deus, mas pelo menos, como Paulo, não podemos rejeitar ou deixar de anunciar
nenhuma verdade referente a esta vontade perfeita e completa. Assim que vocês
evitarem algo, imediatamente se tornarão uma seita. Porque não são capazes de
incluir todos os filhos de Deus, vocês excluem aqueles que acreditam naquilo que
vocês deixam de anunciar.
A "igreja... é o Seu Corpo, a plenitude Daquele que a tudo enche em todas as
coisas" (Ef 1:22-23). O Senhor enche a igreja universal; o Senhor também enche a
igreja local. Se uma igreja local tem só uma parte de Cristo, não é a igreja. A igreja
é o Corpo de Cristo, o que significa todo o Cristo. Por exemplo, se minha cintura
fosse de noventa e oito centímetros, e você me desse uma roupa com uma cintura
de setenta e cinco centímetros, eu não poderia usá-la. A roupa deverá ser
suficientemente grande, para que eu possa usá-la. O relacionamento entre a igreja
e Cristo é igual ao corpo e a vida, e não como o relacionamento entre a roupa e o
corpo. Às vezes, você pode forçar um pouco a roupa para que se ajuste ao corpo;
mas você jamais poderá forçar o corpo a conter a vida. Deve haver um corpo que
seja completo, a fim de incluir plenamente toda a vida de Cristo. Só quando a
plenitude do Senhor for colocada na igreja em Xangai é que esta poderá ser chama-
da de igreja em Xangai. Suponhamos que a igreja permita que haja uma certa
coisa, mas não permita uma outra. Então ela carece de algo. Pelo fato de o Cristo
dessa porção que vocês não querem não poder ser incluído entre vocês, vocês não
estão perfeitamente completos. Essa porção fica inutilizada. Isto é muito importante.
A igreja está cheia da plenitude de Cristo. Desde que ela é o Corpo de Cristo, e
Cristo precisa revestir-Se dela, esta tem que ser suficientemente grande, para que
possa revestir Cristo. A igreja precisa ter um invólucro suficientemente grande, para
que Cristo se encaixe nele. Se não tiver tudo que a Sua vida possui, não poderá
expressar o Cristo completo e não poderá ser chamada de igreja.
"Da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me
foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus" (Cl 1:25).
Dentro da igreja, deve haver a plena Palavra de Deus. A Sua Palavra deve ser
cumprida na igreja.
Após ler essas palavras, talvez você não compreenda o seu lado prático. Que
significa ter a Palavra de Deus e todos os tipos de conduta bíblica cumpridos na
igreja? Que significa dizer que uma igreja local deve ser inclusiva e não exclusiva?
Vem à tona, por exemplo, o assunto dos dons espirituais, sobre os quais temos
falado nestes dias. Dizemo-nos ser a igreja em Xangai; mas suponhamos que os
irmãos daqui não acreditem em dons espirituais. Isso está correto? Não! A igreja não
pode deixar de crer em dons espirituais, porque na Bíblia há dons espirituais. No
momento em que vocês não acreditam em dons espirituais, não podem ser a igreja
em Xangai. Só podem ser chamados "uma igreja em Xangai que não acredita em
dons espirituais". A sua falta em não crer nos dons espirituais faz com que vocês
não sejam inclusivos, mas exclusivos para com certos irmãos.
Suponhamos que haja vinte irmãos em Xangai que acreditam em dons
espirituais. Uma vez que vocês recusam acreditar em dons espirituais, não
podem incluí-los, e os marginalizam. Como eles são membros do Corpo de Cristo, o
fato de vocês os excluírem talvez não seja como amputar uma das mãos, mas
pelo menos é como amputar um dedo. Vocês, por conseguinte, não podem dizer que
essa igreja está cheia da plenitude de Cristo. Vocês não cumpriram a Palavra de
Deus. Amputaram uma parte de Cristo.
Tomemos uma questão mais importante, tal como vender tudo para seguir o
Senhor. Suponhamos que os irmãos em Xangai não acreditem no vender tudo, mas
em trabalhar diligentemente para ganhar dinheiro e tirar uma certa porcentagem
para dar aos pobres. Se cem irmãos em Xangai fossem movidos pelo Espírito do
Senhor a vender tudo e segui-Lo, sentiriam não haver lugar para eles nessa igreja.
Como vocês não têm meios de incluí-los, são exclusivos em relação a eles. Mas
vender tudo para seguir o Senhor também é uma parte da vida de Cristo. Se vocês
não podem incluir os irmãos que têm essa porção de vida, mas os marginalizam,
percebam que essa igreja é demasiadamente pequena e defeituosa. Isso é
exatamente como a amputação de uma das mãos ou de um dos pés. Como pode
a igreja não ter o que Cristo tem? Se a igreja não aceita aquilo que Cristo tem, não
pode permanecer na posição de igreja. Assim vocês são uma seita, não uma igreja.
Uma igreja deve incluir a plenitude de Cristo. O resultado será que essas cem
pessoas se tornarão uma "igreja que vende tudo para seguir o Senhor", e, assim,
mais uma seita será gerada. Vocês não são completos, tampouco eles. Sua
doutrina não é suficiente para incluí-los, e a deles não é também a perfeita e
completa vontade de Deus. Vocês os amputam, e eles os amputam como a outra
parte. Uma igreja local, portanto, tem de incluir todos os tipos de filhos de Deus que
buscam o Senhor. Deve ser capaz de incluir todos os irmãos que vendem tudo, como
também os que não vendem tudo. Tudo o que não está na Bíblia, não podemos
incluir; caso contrário, incluiremos o mundo. Mas tudo o que está na Bíblia,
devemos incluir; doutro modo, separaremos e excluiremos alguns filhos de Deus.
"Conservando-o (o campo), porventura, não seria teu?" (At 5:4). Está evidente
que, enquanto não era vendida, a propriedade podia continuar sendo dos seus
donos. A Bíblia nos mostra que aqueles que nada vendiam ainda podiam ser
cristãos. Se um certo grupo não crê que devem ser aceitos os que não vendem seus
bens, tal grupo é uma "família" — como foi praticado por alguns cristãos na China
— mas não a igreja. As denominações, em geral, não exigem que todos vendam
tudo o que possuem, mas a "família" exige; portanto todos eles não são a igreja.
Qualquer coisa que exclua uma parte dos filhos de Deus é exclusiva e sectária. O
melhor para os irmãos em todo o lugar seria tomarem o caminho da perfeição. Se,
todavia, você não for capaz de escalar este caminho, de modo algum impeça os
outros de o fazerem. Somente assim poderemos ser inclusivos e ser chamados de
igreja. O melhor para todos os servos de Deus é escalarem este caminho. Caso não
sejamos capazes, devemos deixar que outros tomem o caminho. O que a Bíblia
permite, também devemos permitir; o que a Bíblia não permite, nós tampouco
devemos permitir. Nós mesmos devemos subir cada vez mais alto. Devemos ter a
esperança de subir cada vez mais alto. Não importa quão difícil seja o caminho;
precisamos trilhá-lo. Mas, em caso de não conseguirmos, ainda assim deveremos
deixar que outros irmãos o trilhem. Jamais deve ocorrer o fato de a igreja ter o que
você tem e não ter o que você não tem. Por você não ser suficientemente grande,
não está apto a ser a base de uma divisão.
Andrew Murray disse certa vez: "Nós, que somos servos do Senhor, mais cedo
ou mais tarde teremos que pregar palavras que nós mesmos não somos capazes
de cumprir". Eu jamais deverei impedir os outros de ir em frente só porque não
posso prosseguir. A igreja em uma localidade deve ter essa tolerância, para que
possa permanecer na posição de igreja. Talvez pareça estranho, mas isto é um
fato. O andar de Paulo concordava com tudo o que pregava. Mas, pessoas como
nós, mesmo que não sejamos capazes de ir em frente adequadamente, ainda
assim precisamos pregar.
Outro exemplo é o dos irmãos que usam medicamentos quando estão doentes.
Têm base bíblica para fazê-lo, pois Lucas continuou sua profissão de médico depois
de salvo. Durante a doença, é certo tomar-se alguma coisa para ajudar o corpo.
Mas alguns irmãos dependem somente do Senhor, e não tomam medicamento de
modo algum. A atitude correta da igreja é incluir os dois. Se os irmãos puderem
crer na cura divina sem ajuda de médico ou medicamento, tal é o ideal. Se alguns
irmãos, por lhes faltar fé, consultam um médico e tomam algum medicamento, não
há problema. Se um grupo de irmãos acredita na ciência e pensa que seja
exagero não tomar medicamento, e por isso rejeita os outros, imediatamente se
poderá ver que esse grupo de irmãos é exclusivo para com alguns irmãos, e os
rejeita. Não devemos, todavia, ir ao outro extremo, insistindo em não ir ao
médico nem em tomar medicamentos. Se assim fizermos, aqueles que carecem
de fé morrerão.
No lado oeste do Egito, ao longo do Sudão, prevalecia seriamente a malária. Muitos
irmãos, que criam na cura divina, foram para lá e diziam: "O quinino é medicamento,
não o tomaremos". Como resultado, a cada ano, de um grupo de cem, dezenas
morriam. Mas um outro grupo de irmãos falou: "Num lugar como este, o quinino é
alimento, e não medicamento". Conseqüentemente, poucos dentre cem morriam a
cada ano. Sem dúvida, isto prova que a proposta do primeiro grupo estava errada.
Basicamente, nossa atitude deve ser: não aceitar aquilo que a Bíblia não permite;
mas aceitar aquilo que ela permite. Essa é a maneira de ser inclusivo, e não exclusivo.
Não devemos dizer que precisamos depender dos medicamentos. Se assim falarmos, os
que acreditam na cura divina irão embora. Também não devemos insistir em não
tomar medicamentos; caso contrário, os fracos na fé irão embora. Uma igreja deve ser
inclusiva, e não exclusiva. Todas as seitas são o resultado do fracasso havido nesse
aspecto. Devemos, portanto, voltar a isso nossa atenção.
4) Com relação à questão da santidade, muitos dos filhos de Deus acreditam
que, uma vez que crêem no Senhor, são perfeitos. Outros dos filhos de Deus acreditam
que ainda precisam de uma segunda bênção, para que possam ser perfeitos. Na Bíblia,
alguns foram aperfeiçoados ao serem abençoados, mas alguns também foram
abençoados uma segunda e uma terceira vez, e, então, alcançaram a perfeição. Pelo
fato de alguns do grupo dos "Irmãos" crerem na perfeição através de serem abençoa-
dos uma única vez, os do grupo da "Santidade" irão embora, porque acreditam
firmemente que só após uma segunda bênção é que se alcança a perfeição. Por causa
de sua absoluta crença na segunda bênção para alcançar a perfeição, aqueles que
estão no grupo dos "Irmãos" irão embora, pois crêem na perfeição através de serem
abençoados uma única vez. Se uma igreja selecciona apenas os trechos das Escrituras
em que acredita, automaticamente não está firmada na posição da igreja, mas, de
fato, na posição de uma denominação. Nós pregamos ambas — a doutrina da
perfeição por ser abençoado uma vez, e a doutrina da perfeição por receber uma
segunda bênção. Levamos as pessoas a ser aperfeiçoadas através da primeira
bênção, e também levamos as pessoas a ser liberadas, recebendo uma segunda
bênção. Logo a possibilidade de surgirem mais seitas e divisões no futuro depende
do fato de vocês reservarem ou não um lugar para todos os filhos de Deus. Se não
reservarem um lugar para todos os filhos de Deus, serão uma seita.

Mencionarei, agora, várias questões externas.


Por exemplo: o cobrir a cabeça está definitivamente na Bíblia. Hoje, a igreja
deve ser absolutamente a favor do cobrir a cabeça. Mas, se alguns irmãos ainda
não viram isso, devemos tomar a atitude de Romanos 14, e esperar que eles o
vejam, porque devemos receber aqueles aos quais o Senhor recebe. Embora não
vejam agora, esperamos que o vejam no futuro. Com referência a tudo o que
está na Bíblia, a igreja só pode firmar-se no lado positivo, e não no lado negativo.
Se alguns ainda não viram a questão do cobrir a cabeça, a igreja só pode dizer
que, apesar da sua fé fraca, os receberá também. Se uma irmã cobre a cabeça e a
igreja não a recebe, ela sentirá que a igreja não é dela e, por isso, irá embora.
Então vocês forçarão o surgimento de uma seita dos que cobrem a cabeça. Se
firmarem na posição de não favorecer o cobrir a cabeça, e de não permitir que as
irmãs o façam, vocês não serão a igreja. O receber os santos não se baseia no
fato de cobrir ou não a cabeça. Se o acolher o irmão estiver baseado no fato de cobrir
a cabeça, e não no acolhimento de Cristo, as irmãs que o fazem sentirão que tal
igreja não é delas. Precisamos, portanto, ver claramente que devemos ficar com a
Bíblia, de acordo com o que está nela. Se há alguns capazes de alcançar esse
nível, devemos suportá-los com paciência.
A questão da imposição de mãos é também encontrada na Bíblia. Alguns irmãos
não podem concordar
O CONTEÚDO DA IGREJA 69

com isso; todavia não os forçamos. Se não praticamos isso, que está na Bíblia, alguns
irmãos nos deixarão. Então os que se opõem à imposição de mãos são uma seita, a
seita dos "não impositores de mãos". Se vocês quiserem permanecer na posição de
igreja, devem aceitar tudo que estiver na Palavra de Deus.
O batismo é o problema mais discutido. Por que tem havido tanta discussão sobre
este assunto durante os últimos séculos? É porque alguns trouxeram coisas do
Catolicismo Romano para o Protestantismo. Pelo fato de o Catolicismo Romano
aspergir água sobre a cabeça das pessoas, muitas igrejas protestantes seguiram
o mesmo caminho.
Originalmente, é provável que ambas as partes tenham tido muitas discussões,
até que cada um tomou seu próprio caminho. Diante de qualquer mandamento da
Bíblia, se a igreja não ficar firme no lado positivo, a fim de preservar o que se
encontra na Bíblia, estará criando uma seita.
O partir do pão, na Bíblia, significa que se lembre o Senhor no primeiro dia de cada
semana. Se algumas igrejas não o praticam de acordo com a Bíblia, os que desejam
lembrar o Senhor com mais freqüência terão de ir embora.
O lavar os pés também está na Bíblia. Alguns radicalmente se opõem a este assunto,
e o reduzem a nada por meio de seus ensinamentos. Em conseqüência, os que
desejam obedecer à ordem do Senhor no que se refere ao lavar os pés, terão de
sair.
Entre os filhos de Deus, alguns são mestres, alguns enfatizam a vida mais
profunda, e outros, a pregação do evangelho. Alguns irmãos são tão zelosos na
pregação do evangelho, que desprezam os que enfatizam a vida mais profunda; e,
alguns, que enfatizam a vida mais profunda, desprezam os que pregam o evangelho.
Você me despreza, e eu o desprezo. Imediatamente, surgem as divisões.
Darei um outro exemplo: Alguns irmãos dão ênfase ao pregar por inspiração.
Obviamente, isso não é comum. Prega-se pela inspiração que vem dos dons
espirituais. Isto é muito bom. O profetizar mencionado em l Coríntios 14 é desse
tipo. Tais irmãos são absolutamente contrários à exposição da Bíblia. Mas não está
isto na Bíblia? Na Bíblia, há os que pregam o evangelho, e há os que são mestres. Se
os irmãos desaprovam a exposição da Bíblia, os que estudam a Bíblia acharão tal fato
insuportável, e os que são mestres terão de ir embora. Mas, se a igreja só crê no
ensino através da exposição das Escrituras, os que acreditam na inspiração não
poderão tolerá-lo. Como resultado, haverá divisões.
Toda a dificuldade é que somos demasiadamente pequenos. Nosso coração não é
suficientemente amplo perante o Senhor, nem tampouco nossa pessoa. "Quero isto,
mas não quero aquilo; a igreja deve ser dirigida de acordo com a minha idéia". Por
favor, lembre-se: a igreja deve ser dirigida de acordo com a vontade do Senhor, e
não de acordo com a sua idéia, porque você é muito pequeno. Sempre há alguns
irmãos melhores do que você em certos aspectos; não pode dizer que é superior a
todos os irmãos. Sempre há alguns irmãos e irmãs que estão acima de você em alguns
pontos. Você não pode correr à frente de todos eles. Precisamos aprender a receber
os pontos bons de todos os irmãos, porque só o Senhor é equivalente a uma igreja.
Somente quando a igreja inteira for juntada, é que ela se igualará ao único Senhor.
Ainda que tenha recebido misericórdia especial do Senhor, você só pode ser
equivalente a uma parte; não pode ser equivalente a todos os irmãos. Se pode
eqüivaler a dois ou a vinte irmãos, isso já é misericórdia especial do Senhor. Mas, se
pensa que é igual a toda a igreja, que tipo de orgulho é este? Como você pode fazer
com que todos os irmãos sejam iguais a você? Se cada irmão ou irmã for como você,
a igreja não terá futuro algum. Os irmãos e irmãs devem ser melhores que você em
muitos aspectos. Falta equilíbrio à igreja, quando ela dá atenção a uma coisa
somente. Quando você enfatiza uma coisa, outro irmão salienta uma outra, e mais
outro irmão ressalta outra ainda; isso representa desenvolvimento para toda a
igreja. Mas, assim que você tomar a dianteira da igreja, ela estará acabada. Admito
que você seja melhor do que muitos irmãos, mas você jamais poderá ser igual a
todos os irmãos. Só o próprio Senhor é igual a toda a igreja, não você. Mesmo o
irmão mais novo pode enfatizar algo que você não enfatizou. A virtude de alguns
irmãos é o amor, mas nem todos os irmãos têm o amor como virtude principal. Se todos
virmos isso, a igreja poderá crescer equilibradamente. 12) Se uma determinada igreja,
por exemplo, deseja guardar o "Natal", os que servem a Deus fielmente terão que
seguir por outro caminho; não há absolutamente nem "Natal" nem "Páscoa» (a que é
celebrada pelo Cristianismo) na Bíblia. Se a igreja guarda tais ocasiões, imediatamente
se verá que ela não vai bem. Há muitas outras coisas que não se encontram na Bíblia,
tais como os ídolos do Catolicismo Romano. Se você se render a elas, os problemas
virão imediatamente.
Vários Princípios Básicos

Resumindo os pontos acima mencionados, encontramos vários princípios básicos.


Primeiro: a igreja deve firmar-se no lado positivo de tudo aquilo que está na Bíblia,
e tolerar também o lado negativo. Se alguns são fracos e não se acham capazes de
alcançar o que está na Bíblia, a igreja precisa suportá-los com paciência.
Segundo: com relação a determinadas verdades, a Bíblia apresenta dois lados,
como já mencionamos em relação à doutrina da santidade. Assim também a igreja
deve ter dois lados. Ter só um deles gerará uma seita.
Terceiro: tudo o que a Bíblia não tem, a igreja deve rejeitar completamente. Caso
contrário, todos os que seguem ao Senhor fielmente irão embora, quando virem a
igreja contendo o que a Bíblia não tem.
De qualquer forma, com relação a tudo o que a Bíblia tem, precisamos firmar-nos
no lado positivo. Para qualquer assunto em que a Bíblia permite dois lados, devemos
firmar-nos em ambos. E tudo o que ela não tem, devemos rejeitar.
Quarto: em tudo o que a Bíblia dá liberdade às pessoas, também devemos dar,
como, por exemplo, guardar o dia do Senhor ou o dia do sábado. Isso não significa
que a Bíblia não creia no dia do Senhor, mas sim que os fracos ainda acreditam no
dia do sábado. Ainda são judeus. A Bíblia claramente aprova o comer carne; mas,
se alguns defendem comer legumes, a igreja deve permitir que o façam. O guardar
o sábado não se refere aos Adventistas do Sétimo Dia de hoje. Estes estão
envolvidos com a questão da lei; é todo um sistema. Isso é totalmente contrário ao
livro de Gaiatas, e é uma heresia não encontrada na Bíblia.
A igreja que inclui todos os filhos de Deus pode ser reconhecida como a
verdadeira igreja. Se vocês dão especial atenção a alguma doutrina, ou muita
ênfase a certa coisa, se rejeitam determinados tipos de ensinamento e excluem o
restante dos filhos de Deus, não podem ser considerados como igreja. Vocês não
podem ser a igreja, se não forem inclusivos. Com esta capacidade de inclusão,
vocês começarão a perceber que podemos ser irmãos e irmãs juntamente com
todos os filhos de Deus. Podemos ficar juntos com qualquer um que ama o Senhor. Os
irmãos responsáveis, portanto, devem crescer diante do Senhor, de modo a
poderem atingir o grau mais elevado e mais perfeito. Permitam-me repetir mais
uma vez: se vocês ainda não atingiram o grau mais elevado, o seu coração deve
ser suficientemente grande, de modo que, em nenhuma circunstância, sejam
obstáculo para outros irmãos. Se, ao mesmo tempo, vocês não conseguem atingir
e não permitem que outros prossigam, são uma seita, não uma igreja.
Não somos a igreja quando tomamos o nome de igreja local, mas sim quando
existe capacidade de inclusão espiritual para conter todos os filhos de Deus. Se a
igreja inclui a todos e não exclui a nenhum dos filhos de Deus, ela não será
responsável pelos irmãos que desejam trilhar outro caminho, pois eles é que estão
criando a divisão, não a igreja. Portanto vocês precisam ser quebrados em pedaços!
Precisam ser escavados profundamente! Você não pode considerar-se como a
vara de medida da igreja, pois é demasiadamente curto. Deus tem um trabalho
para todo irmão e irmã, e Ele confia algo a cada um deles. Quando todos puderem
estar em bom desempenho, então teremos a igreja. Esta, portanto, precisa ser
inclusiva, não exclusiva.
IV. SUPRINDO O SERVIÇO

Uma igreja pode ou não estar na posição de igreja, dependendo também do fato
de ela dar ou não a todos os irmãos e irmãs a oportunidade de trabalharem, de
conceder ou não a todos a oportunidade de servirem a Deus. Há uma coisa a que
vocês precisam atentar: quando recebe a vida de Deus, um cristão tem a disposição
para servi-Lo, sua natureza deseja servi-Lo. Se não lhe derem tal oportunidade,
haverá uma ruptura, e esse irmão se tornará uma seita.
Os ensinamentos da Bíblia são bem claros com relação a este assunto. Há três
trechos na Escritura a nos mostrarem que o Corpo de Cristo tem um relacionamento
especial com serviço.
Romanos 12:4-5: "Porque, assim como num só corpo temos muitos membros,
mas nem todos os membros têm a mesma função; assim também nós, conquanto
muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros."
Estes dois versículos dizem que somos um corpo e, individualmente somos
membros. Os versículos de 6 a 8:"Tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça
que nos foi dada: se profecia,... se ministério,... ou o que ensina,... ou o que
exorta,... etc."
Em outras palavras, a igreja é o Corpo de Cristo. Como um corpo, inclui muitos
membros e inclui cada membro. A este Corpo você deve oferecer trabalho; deve dar-
lhe oportunidade de desenvolver suas funções.
Paulo aqui nos mostra que se deve usar qualquer tipo de dom que se possua.
Jamais se deve fazer além e acima do grau de sua fé; deve-se dar lugar à atuação
de outros irmãos. Se você fizer todos os trabalhos, os outros irmãos nada terão a
fazer. Se pregar todas as mensagens, os outros irmãos nada terão a pregar.
Portanto, na igreja, é melhor que uma pessoa tome uma porção, e não duas; não é
bom que uma pessoa faça todas as coisas. Uma porção deve ser designada a cada
irmão, para que ele a cumpra. A cada irmão e irmã deve ser dada a oportunidade
de servir a Deus, assim como você tem essa oportunidade.
Primeira Coríntios 12:27-28: "Ora, vós sois Corpo de Cristo; e, individualmente,
membros desse Corpo." A seguir diz: "A uns estabeleceu Deus na igreja, primeira-
mente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois
operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas". O maravilhoso aqui é que Paulo, no próximo versículo, pergunta: "São
todos apóstolos? Ou todos profetas? São todos mestres? Ou operadores de
milagres?". São todos apóstolos? Deus está perguntando aqui. É verdade que todos
o são? Pelo fato de haver profetas que querem ocupar toda a igreja de Deus, de
haver mestres que desejam ocupar toda a igreja de Deus e operadores de milagres
que desejam ocupar toda a igreja de Deus, o Senhor pergunta: São todos profetas?
São todos mestres? São todos operadores de milagres? Mesmo que cada um, em
toda a igreja, operasse milagres, isso ainda não seria a igreja. Ainda que cada um,
em toda a igreja, pudesse pregar, isso não seria a igreja. Mesmo que cada um, em
toda a igreja, fosse profeta, assim mesmo isso não seria a igreja. Todos recebem
dom de curar? Certamente, há grupos que se especializam só em curar. Mas,
mesmo que cada um de nós pudesse curar, ainda assim não seríamos a igreja.
Falam todos em línguas e interpretam-nas todos? Mesmo que cada um falasse em
línguas e as interpretasse, isso não seria a igreja. "São todos...?" Significa "nem
todos", pois deveria haver apóstolos, mestres, os que prestam socorros a outros, os
que governam, etc. Com todos estes tipos de funções colocados juntos, temos a
igreja. Ficamos assombrados, porque há muitos que preferem só um tipo de
trabalho. Alguns pensam simplesmente que o tipo de trabalho que eles têm é o mais
importante. Se cada irmão é um com o dom de curar, então os apóstolos, profetas e
mestres serão todos inúteis. Portanto os que arcam com a responsabilidade da igreja
devem deixar que os profetas tenham a oportunidade de profetizar, que os mestres
tenham a oportunidade de ensinar, que dêem aos que têm o dom de cura, a oportuni-
dade de curar; aos que falam em línguas a oportunidade de falar em línguas, e aos que
governam a oportunidade de governar. No que se refere ao serviço, a igreja não deve
restringir nenhum irmão ou irmã; então teremos a igreja. Caso contrário, teremos uma
seita, não a igreja. Pelo fato de vocês não darem aos irmãos e irmãs uma oportunidade
de servir, eles haverão de buscar um outro caminho.
Se os irmãos jovens ainda estão misturados com a carne, vocês só podem
exercer a autoridade para tratar com eles. O Senhor não tem absolutamente a
intenção de que os que só têm um talento o enterrem. Aos Seus olhos, o dom maior é
cinco talentos, e o menor, um talento. Se a igreja pusesse todos os de um talento em
uso, isso compensaria vários cinco talentos. Se só alguns de vocês estão servindo, a
igreja não pode ser forte. Isto não significa que os membros de um talento, que
recentemente creram no Senhor, não terão nenhum ato carnal. Em muitos pontos,
vocês devem fazê-los escutar e obedecer; mas, assim mesmo, ainda devem usá-los.
Nunca, ao tratar com a carne, você deverá tratar com o dom. Todos os irmãos
cooperadores, os líderes nas igrejas, devem dar a cada irmão a oportunidade de
servir. Os dons registrados em Romanos 12 são mais complexos que os de l Coríntios.
Profetizar, ministrar, ensinar, exortar e contribuir estão todos incluídos. Quando todos
os de um só talento têm a oportunidade de manifestar seus dons, as seitas não
podem aparecer.
Efésios 4 tem palavras similares. Os versículos onze e doze dizem: "E Ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do Corpo de Cristo" (VRC). Esta passagem também
mostra que os dons não são os mesmos. O versículo dezesseis diz: "Do qual todo o
Corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa
operação de cada parte, faz o aumento do Corpo, para Sua edificação em amor"
(VRC). O pensamento de Deus aqui é que só quando todos os membros funcionam,
o Corpo de Cristo pode ser edif içado. Se nem todos os irmãos e irmãs estão
servindo, o Corpo de Cristo não pode ser edif içado. Os irmãos responsáveis em
cada localidade devem lembrar que, se estão ocupados enquanto os irmãos e
irmãs não estão, fracassam grandemente. Vocês jamais devem pensar que, pelo
fato de estarem fazendo muito, isso seja o bastante. Se você pode levar outros
irmãos e irmãs a trabalharem na obra do Senhor, permita-me dizer-lhe que o
Senhor deseja que você os leve a trabalhar ainda mais do que você.
A questão é esta: como você se considera? Se pensa que, fazendo tudo
perfeitamente, pode edificar o Corpo de Cristo, então continue. Mas, se tiver a visão,
poderá perceber que os assuntos da igreja não podem ser dirigidos por você
somente. No máximo, você é apenas um membro da igreja. Cada membro do Corpo
de Cristo tem seu próprio trabalho. Se os introduz também no serviço, então você
alcançou o que é chamado de Corpo de Cristo. Você precisa ver que não pode
substituir os irmãos e irmãs. De modo algum pode trabalhar no lugar deles. Não
importa quão perfeito seja, quão bom seja no seu serviço, ou quão grandes sejam
os seus dons; se não pode introduzir os irmãos e irmãs no serviço, então no lugar
onde você está ainda não existe a igreja. São todos mãos? Mil mãos, ou cem mãos
são um monstro, não um corpo.
Iria um passo além, e perguntaria: há uma só mão? De qualquer forma, não
conseguirá dizer que, sozinho, pode fazer esse tipo de trabalho. Precisamos ver que
o Corpo de Cristo inclui muito mais do que a minha pessoa. Cada um pode receber
graça diretamente do Cabeça, não necessariamente através de mim. A graça do
Senhor sempre me assombra. Como ela é grande! Já que Ele é gracioso, pode fazer
com que recebam graça sem mim. Pode fazer com que recebam a Sua bênção sem
passar por mim. Na igreja, Ele pode levantar todo tipo de cooperadores. Precisamos
introduzir todos os irmãos no serviço. Não devemos tentar fazê-los iguais a nós. Se,
em certo lugar, os irmãos e irmãs não podem trabalhar, e só poucos estão
servindo, isto é mais ou menos a mesma coisa que o serviço de um só homem nas
denominações. Assim como o serviço de um só homem é abominável diante de Deus,
o serviço de poucas pessoas também o é. O serviço de todo o Corpo é o que agrada
a Deus. Deus diz que cada um deve servir. Quando você introduzir todos no serviço,
verá que esta é a igreja, que este é o conteúdo da igreja.

V. NÃO SISTEMATIZANDO

Finalmente, não devemos, de maneira alguma, abraçar qualquer pensamento


de sistematização. De modo algum, deveremos pensar que a verdade e o
evangelho de Deus só podem sair do nosso meio. Nossa intenção é somente
encontrar as pessoas que Deus usa em cada localidade. Não iremos
necessariamente a muitos lugares para dirigir os outros, pois Deus tem a Sua
própria direção em cada lugar. Vamos lá simplesmente à procura de comunhão.
Jamais deveremos ter a atitude de que vamos a certa localidade para ser um Pastor.
Não devemos tomar-nos sistematizados. Quando vou a qualquer lugar, vou à
procura de comunhão. Além de Elias, havia muitos outros profetas. Poderia haver
milhares de "Elias" no mesmo lugar, firmados na mesma base. São nossos irmãos,
e eles também vêem que somos seus irmãos.
Suponhamos que um grupo de irmãos tenha estado a se comunicar uns com os
outros em uma determinada localidade, e você vá lá e inicie uma nova obra no
mesmo lugar, mas não se comunique com eles. Isto claramente prova que você
não conhece a igreja. Suponhamos que cinqüenta irmãos estejam firmados na base
da igreja em uma certa localidade; mais tarde, outros cinqüenta irmãos, no mesmo
lugar, sejam iluminados e claramente vejam a base da igreja. Com absoluta certeza,
tais irmãos ficarão juntos com o primeiro grupo de irmãos. Guardando a base da
localidade, o problema de sistematizar não surgirá. Numa localidade, você é pela
igreja nessa localidade, e não para o estabelecimento de uma igreja do "nosso"
sistema. Quando você está em Chung-King, você é a igreja em Chung-King, e
quando está em Tsing-Tao, você é a igreja em Tsing-Tao. Não é a igreja de um
determinado sistema. Cometerá um grande erro se tornar uma igreja de um certo
sistema. No instante em que tiver o pensamento de sistematizar, imediatamente se
tornará uma seita.
Gostaria de tomar Hsi-An como exemplo. Desta vez, não é uma questão de
nome ou organização. Quando as duas reuniões em Hsi-An foram unidas, houve
dificuldades para decidir quem seriam os responsáveis, os que assumiriam a
liderança. No grupo "A", por exemplo, havia três irmãos na liderança; no grupo
"B", também havia três irmãos na liderança; agora, quem seriam os irmãos
responsáveis? Na obra de Deus, os responsáveis não são determinados pela
quantidade de tempo, mas pela medida de experiência espiritual. A reunião do grupo
"A" pode ter tido uma história de vinte anos, e a reunião do grupo "B" pode ter
tido uma história de apenas cinco meses. Mas a experiência dos irmãos
responsáveis pelo grupo "A" é limitada diante do Senhor, enquanto a experiência
dos irmãos responsáveis pelo grupo "B", diante do Senhor, é de muitos anos. De
acordo com o costume do mundo, os que se reuniram por vinte anos devem definiti-
vamente ser os responsáveis, quando se juntarem com aqueles que estão
reunindo-se por apenas cinco meses. Mas não é assim na Palavra do Senhor. Os
responsáveis devem ser os que têm a história mais longa diante do Senhor, e não
os que têm a história mais longa de reuniões. Portanto, quando as duas reuniões se
juntam, os irmãos responsáveis pelo grupo "A" devem imediatamente deixar que os
irmãos responsáveis pelo grupo "B" assumam a liderança. De forma alguma, os
irmãos responsáveis são determinados pela qualificação de qualquer reunião. A
posição da igreja está baseada no tempo, mas os irmãos responsáveis não devem
apegar-se à igreja em que tinham a liderança; tudo depende de quanta experiência
espiritual eles têm diante do Senhor.

VI. PROCURANDO OS IRMÃOS

Hoje, em Xangai, devemos dar uma atenção considerável a certos irmãos e irmãs
que querem deixar as denominações. Se realmente viram que a localidade é a base
estabelecida pela Bíblia, não devem, em circunstância alguma, estabelecer outra
reunião. Quando deixei as denominações, por exemplo, não pensava em mim
mesmo como sendo o primeiro a deixá-las. No meu coração esperava encontrar
outros que, de igual modo, as houvessem deixado. Se fosse deixar as
denominações em Xangai, definitivamente iria procurar e inquirir se também outros
irmãos as haviam deixado ou não. Quando estava para deixá-las, há trinta anos,
em Foochow, saí por toda a cidade, procurando irmãos que já as haviam deixado.
Isso não significa que, quando as deixei, me haja tornado o cristão mais
maravilhoso do mundo inteiro. Mas meu primeiro pensamento, nessa época, foi
procurar irmãos. Amar os irmãos é uma disposição natural; procurar os irmãos é
também uma disposição natural. Devemos estar muito felizes por nos reunir com
aqueles que buscam o Senhor de coração puro. Alguns irmãos dizem que deixaram
as denominações, mas a intenção deles era mais estabelecer uma igreja do que
realmente deixar as denominações. Assim, não procuram os que já as deixaram. O
objetivo de muitos é estabelecer uma igreja por sua conta. Não sentem, portanto, a
preciosidade dos outros irmãos que também as deixaram. Mas os que realmente as
deixaram vão considerar todos os irmãos em iguais condições como amáveis e
preciosos para si. Há, portanto, dois tipos de pessoas que deixam as denominações:
o primeiro tipo são aqueles que realmente as deixam; assim sendo, procuram estar
juntos com os que servem ao Senhor de coração puro. Os outros são aqueles que as
deixam, porque desejam estabelecer uma igreja por conta própria. Esta situação não
existe apenas em Xangai, mas também em Tsing-Tao, em Pequim, e até mesmo no
noroeste. Em Xangai, parece que começamos mais cedo que outros. Hoje, eles não
nos procuram, mas nós temos que procurá-los. Eles têm o problema do sistema,
mas nós não podemos tê-lo. Se hoje vamos a Ping-Liang, Tien-Sui ou Ti-Hua,
devemos ter muito cuidado para jamais estabelecer primeiro uma igreja, mas para
procurar os irmãos.
Se a primeira coisa que fizerem, ao chegar a um novo lugar, for estabelecer uma
igreja, estarão cometendo o mesmo erro de alguns irmãos em Xangai, que já men-
cionamos. Há provavelmente um grupo de irmãos cuja base não é errada e estão
indo rumo à melhor direção. Não se pode dizer que não estejam familiarizados com a
Bíblia. São irmãos cuja base não é errada. Assim, você precisa a qualquer preço
procurá-los, até que não encontre realmente nenhum; então poderá ter um novo
começo. Muitas vezes, você só poderá unir-se a outros, e não ter um novo
começo. Em nenhuma circunstância, deverá sentir que se unir a outros seja
vergonhoso, e que estabelecer uma igreja seja glorioso. Se assim for, você só
poderá culpar-se por não ter nascido antes dos apóstolos. Muitas pessoas gostam
de estabelecer igrejas. Isto não as revela espirituais, mas carnais.
Por outro lado, estes irmãos jovens, que recentemente saíram das
denominações, talvez sejam capazes de liderar outros. Pode ser que um irmão
recebido no sábado passado tenha sido disciplinado nas mãos do Senhor. Uma
vez que você o recebeu, talvez você precise escutá-lo no próximo fim de semana,
compartilhando sobre muitos assuntos, porque a sua maturidade pessoal não
estava relacionada com a denominação em que ele estava. Qualquer um que tenha
verdadeira experiência espiritual deve ser posto no lugar correto. Espero que o
Senhor abra o Seu caminho mais e mais claramente diante dos irmãos, para que
todos os que verdadeiramente amam ao Senhor possam andar nele.
CAPITULO QUATRO

O PROBLEMA DA UNIDADE DA IGREJA

(Palestra proferida aos irmãos e irmãs em Xangai, a 6 de março de 1951, publicada em


"A Porta Aberta", a 15 de abril de 1951).

O problema mais importante, mais visível de nossos dias é a unidade da igreja.


Hoje, precisamos ver o caminho da unidade e perceber como andar nela.
De acordo com o meu conhecimento, existem quatro tipos de unidade em todos
os lugares. Dentre estes quatro diferentes caminhos de unidade, nós, filhos de
Deus, precisamos buscar aquele no qual andar. Precisamos estar claros sobre qual
destes quatro caminhos está de acordo com a vontade de Deus, qual deles é bíblico,
qual deles é o adequado para a igreja, e qual deles devemos tomar. Aos outros,
temos de aprender a rejeitar. Quando vemos o que é de Deus, precisamos rejeitar
os outros, que não o são.
Quais são estes quatro caminhos? Primeiramente, existe a unidade do Catolicismo
Romano; depois, a unidade "espiritual"; a seguir, a unidade da igreja na localidade;
e finalmente, a unidade das congregações independentes.

A UNIDADE DO CATOLICISMO ROMANO

As Igrejas à Época dos Apóstolos

À época dos apóstolos, as igrejas estavam divididas de acordo com as


localidades. Penso que esta questão esteja bastante clara. A igreja em Jerusalém,
a igreja em Antioquia, a igreja em Corinto, a igreja em Éfeso, a igreja em Filadélfia e
a igreja em Laodicéia estavam todas separadas de acordo com a localidade. A
igreja em cada localidade tinha a sua própria administração independente. Sendo
assim, na Bíblia, Atos 14:23 nos diz: "...promovendo-lhes em cada igreja a eleição de
presbíteros...", e Tito 1:5 diz: "...bem como, em cada cidade, constituísses
presbíteros...". Os presbíteros destinam-se à igreja, e a igreja está numa cidade.
Assim, os presbíteros destinam-se à igreja numa cidade. A igreja toma a cidade
como unidade; caso contrário, os presbíteros de uma cidade cuidariam de várias
igrejas, ou os presbíteros de uma igreja cuidariam de várias cidades. O limite da
cidade, portanto, se iguala ao limite da igreja; e o limite da igreja se iguala ao
limite da administração dos presbíteros. Isto é bem evidente.
As igrejas, nos dias primitivos, não tinham nenhuma outra unidade de igreja em
maior escala. À época dos apóstolos, as Escrituras reconheceram a existência de
"igrejas" nesta terra, mas não as uniu para que se tomassem "uma igreja". Havia
as "igrejas", mas não sua união, para serem uma igreja, no singular. É por isso que
Paulo escreveu aos Coríntios: "nem as igrejas de Deus". Hoje, quando os filhos de
Deus falam sobre a igreja, sempre falam da "igreja de Deus", não das "igrejas de
Deus". Em seu conceito, sempre fazem com que as igrejas sejam uma igreja;
dizem, portanto, "a igreja", ao invés de "as igrejas". Mas, na mente dos apóstolos,
havia as igrejas separadas; diziam, portanto, "as igrejas de Deus". Os apóstolos
não uniam as igrejas na terra, para que fossem uma igreja; caso contrário, esta
expressão "as igrejas de Deus" não existiria. Lembre-se de que l Coríntios capítulos
onze e catorze sempre dizem "as igrejas" isto é o mesmo que dizer: as igrejas de
Deus na terra são locais. Não reuniam todas as igrejas de Deus na terra em uma
única igreja. Esta era a situação à época dos apóstolos.

A História da Mudança

Mais tarde, depois dos apóstolos, a igreja começou a mudar. As igrejas nas
grandes cidades começaram espontaneamente a ter poder. Uma grande cidade
naturalmente tinha uma população maior; desta forma, a igreja numa grande
cidade tornou-se mais poderosa do que a igreja numa pequena cidade, num
lugarejo. A igreja na cidade grande tinha a tendência de absorver as igrejas nas
cidades menores e lugarejos, de modo que estas se tomaram seus satélites. Uma se
tornou o centro, enquanto as outras se tornaram os acessórios ao seu redor.
Como resultado, houve mudanças, não apenas na organização, mas também na
administração da igreja. Originalmente, havia vários presbíteros numa igreja. As
igrejas nos lugarejos ou pequenas cidades também tinham seus próprios presbíteros.
Mas, depois que os apóstolos morreram, um grupo de pessoas na igreja primitiva
defendeu um certo tipo de doutrina: isto é, uma vez que os apóstolos morreram,
sua autoridade foi comissionada aos presbíteros (ou bispos), e estes representavam
os apóstolos. Isto foi um tipo de cortesia. Porque honravam o primeiro grupo de
apóstolos, era-lhes deselegante designar qualquer outro como um apóstolo. Não
ousavam usar o título "apóstolo".
Mais tarde, designaram um dentre muitos presbíteros de uma cidade grande,
para ser o bispo. Originalmente, todos os presbíteros eram bispos (supervisores);
cada um era um bispo. O termo "presbítero" refere-se à própria pessoa, e "bispo",
ao seu ofício. Mas, dentre os muitos presbíteros, e colheram um para ser o bispo.
Este bispo, tornou-se o cabeça dos presbíteros de sua localidade, bem como o
cabeça de todos os presbíteros das igrejas-satélites.
Esta mudança originou-se na igreja de uma grande cidade, a qual fez de todas
as igrejas nas cidades pequenas e lugarejos seus satélites. Posteriormente, o
presbítero-chefe saiu da grande igreja e, naturalmente, tornou-se o presbítero-
chefe das igrejas-satélites. Foi, então, chamado de "bispo", que é o mesmo título
dado na Bíblia, mas que não corresponde essencialmente àquele da Bíblia. Nesta, os
presbíteros eram bispos. Paulo reuniu os presbíteros de Éfeso e lhes disse: "...
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos" (At 20:28). Os bispos, na Bíblia,
eram muitos em número; os presbíteros também o eram. Mas, hoje, um é
escolhido dentre muitos presbíteros, para tornar-se o bispo. Somente um é o bispo,
enquanto os restantes são presbíteros, não bispos. Os presbíteros não têm mais a
autoridade de bispos. Os lugares menores foram também unidos e entregues ao
governo deste único bispo. Assim, uma mudança ocorreu, de modo que uma pessoa
governava sobre muitas igrejas. E então a questão de distritos surgiu. Este
desenvolvimento não parou aqui. Naquele tempo, o Império Romano conquistou o
mundo todo, e, naturalmente, entre as muitas igrejas, a igreja na cidade de Roma
tornou-se muito grande. A cidade não era apenas grande, mas também a capital.
Pessoas de todo o mundo vinham a ela, quando desejavam ver César. A princípio,
um bispo governava sobre muitos lugares, o que resultou numa igreja de distrito.
Como a cidade de Roma se tornara muito proeminente, disseram: "Somos a capital,
e César vive em nosso meio". Conseqüentemente, o bispo da igreja de Roma não
só governava sobre os presbíteros da igreja em Roma, mas também sobre os
presbíteros do distrito de Roma. E ele não somente se tornou o cabeça dos
presbíteros do distrito de Roma, mas também o cabeça dos bispos dos vários
distritos. Este era o papa. Tudo resultou de dar a um homem graduações contínuas,
até que ele atingisse o topo de uma hierarquia. Hoje, o significado de "bispo", nas
denominações, é supervisor. O cabeça de todos os bispos é o papa. Por isso é que
todos ambicionam ir a Roma, tornando-se o bispo de lá, pois, uma vez que alguém
se torne o bispo de Roma, torna-se automaticamente o bispo de todo o mundo, o
cabeça de todos os presbíteros do mundo. Uma vez que alguém se torna o bispo
de Roma, imediatamente se torna o papa, representante de Cristo. Esta tendência
continuou a desenvolver-se até o quarto século, quando seu desenvolvimento
tornou-se completo. Naquela ocasião, "as igrejas", conforme se registra na Bíblia,
já não mais existiam; todas se tornaram "uma igreja". As igrejas de todo o
mundo tornaram-se uma igreja. A partir daquele dia, "as igrejas de Deus", como se
menciona na Bíblia (l Co 11:16), não mais existiam e não mais foram mencionadas;
"as igrejas dos santos" mencionadas na Bíblia (l Co 14:33) também não mais
existiam, não mais eram mencionadas, e delas não se ouvia dizer. Todas se
tornaram a única Igreja de Roma, e todas as igrejas por todo o mundo se tornaram
filiais de Roma. Não havia mais igrejas das localidades.
Tinham ou não uma base bíblica? Sua base nas Escrituras era que os filhos de
Deus deveriam ser um. Pensavam que o Senhor tinha somente uma igreja nesta
terra; portanto uniram-se como "uma igreja", mas se esqueceram de que na Bíblia
havia "as igrejas".

Ninguém se Atrevia a Discutir a Unidade

Precisamos observar uma condição que prevaleceu depois que a Igreja Católica
Romana veio a existir. Já sabemos como a Igreja Romana estava cheia de heresia,
ídolos, imundícies e pecados. Então, por que razão, durante mil e cem anos, não
houve nenhum irmão ou irmã; na igreja, levantando-se para tratar com esta
situação? Será possível que nenhum irmão ou irmã tivesse visto tais heresias? Será
possível que não tivessem visto os ídolos? Ou que não tivessem visto os pecados
imundos? A partir do quarto século, por mil e cem anos, certamente existiram
alguns que viram as heresias, ídolos e pecados imundos; contudo ninguém ousava
tratar com eles! Temiam que, uma vez lidando com estas coisas, imediatamente
destruíssem a "unidade". "A igreja é uma", diziam; "se começarmos a tratar com os
ídolos, a igreja será dividida". Sentiam que o pecado de adorar ídolos era grande, mas
o pecado de destruir a unidade era ainda maior. Portanto preferiam rejeitar a
adoração de ídolos por si mesmos, mas sem nada propagar. Temiam que a
divulgação pudesse arruinar a unidade. Conheciam as heresias e conheciam os
ídolos; além disso, eles os detestavam. Detestavam, porém, muito mais destruir a
unidade. Sendo assim, simplesmente fugiam destas heresias e ídolos, mas não
ousavam proferir qualquer palavra, mensagem ou ação para destruir a unidade. Por
um período de mil e cem anos, ninguém tomou nenhuma medida. Continuaram a
guardara, unidade da igreja.
Antes da Reforma, Martinho Lutero não tinha nenhuma idéia de formar outra
igreja. Fazer tal coisa, pensava ele, seria um pecado sério. Portanto, a princípio, o
que esperava fazer era aperfeiçoar a Igreja Católica Romana; a idéia de formar
outra igreja não estava em sua mente. Foi mais tarde, na História, que a formação
de uma outra igreja foi forçada. Sem sombra de dúvida, Lutero somente esperava
aperfeiçoar a Igreja Católica Romana; não tinha intenção alguma de formar uma
nova igreja.
Aqui vemos uma coisa: A Igreja Católica Romana crê na unidade da igreja por
todo o mundo. Crê que apenas uma igreja deve existir em todo o mundo. Por isso é
que, durante a longa História de Roma, os filhos de Deus basicamente se
esqueceram de que, na Bíblia, existiam "igrejas", no plural. Apenas queriam a igreja
no singular. Portanto, quando Lutero surgiu, o que ele também viu foi a igreja na
terra. Não viu que na Bíblia, Deus tem "as igrejas". Assim, a unidade que se exigia
era que as igrejas na terra se tornassem a única igreja, a igreja internacional,
mundial e universal. A despeito do lugar onde esta igreja se fixasse, ela seria
sempre a Igreja de Roma. Em Xangai, ela é a Igreja de Roma; em Moscou, é a Igreja
de Roma; em Londres, é a Igreja de Roma; em Berlim, ela é também a Igreja de
Roma. Onde quer que esteja, ela é sempre a Igreja de Roma. Não se chama Igreja de
Roma; seu título correto é Igreja Católica, Igreja Pública. Nós a chamamos de Igreja
de Roma, porque sabemos que saiu de Roma. Por que se chama Igreja Católica?
Porque significa que é unificada, universalmente comum, incluindo todos em si. Na
China é chamada a Igreja Pública ("Kung-Chiao"). Mas a palavra "católico", no latim,
significa universal, geral, referindo-se a nenhuma diferença de raça ou distrito. Não
importa onde esteja, ela é sempre uma — uma na Inglaterra, uma no Japão e uma na
Rússia. Contanto que saia de Roma, é chamada de Igreja Católica. Como resultado,
há apenas "uma igreja" na terra.
Precisamos ser muito cuidadosos hoje, para estudar as Escrituras corretamente
diante de Deus, a fim de averiguar se a igreja na terra é ou não uma igreja. Se for
apenas uma igreja, deveremos dizer que a igreja local está errada, e até mesmo as
muitas denominações do Protestantismo deverão também confessar que estão
erradas. Se houver apenas uma igreja, todos teremos de voltar para Roma. Se não o
fizermos, estaremos errados. Portanto precisamos estudar as Escrituras, para ver
se estamos errados ou não.
Sei que há alguns amigos protestantes a dizerem que a igreja na terra é uma, e
que nossas igrejas nas diferentes localidades estão erradas. A igreja é sempre
uma, dizem eles. Por favor, note que a palavra deles os condena. Se a igreja é
apenas uma, não há nenhuma razão para existir qualquer de suas denominações.
Se a igreja é apenas uma, então, a despeito de onde exista, ela deve ser a Igreja
de Roma. De acordo com o número, eles são os maiores; de acordo com a História,
são os mais velhos; de acordo com a organização, são um. Se devesse existir
somente uma igreja, se a igreja de Deus ou a igreja de Cristo devesse ser a igreja,
no singular, então é correto e está de acordo com o ensinamento da Bíblia que
retomemos a Roma. Todavia a Bíblia não ensina assim.
No século passado, John H. Newman, um contemporâneo de J. N. Darby, foi um
famoso pastor inglês. Não era apenas piedoso, mas, intelectualmente falando, tinha
uma mente excelente e escreveu muitos livros. Foi considerado uma das mais
famosas pessoas da Igreja Anglicana. O hino "Dirija-me, Bondosa Luz" foi composto
por ele. Porque acreditava haver somente uma igreja no mundo, começou um
movimento na Igreja Anglicana para retornar a Roma. Não obteve êxito, é claro,
porque Apocalipse, capítulos segundo e terceiro, nos mostra claramente que Sardes
não pode retornar a Tiatira. Ele pensou que já que existe apenas uma igreja, é uma
atitude muito lógica deixar a Igreja Anglicana e unir-se à Igreja Romana. Por ter sido
recebido como um membro da Igreja Romana, acabou sendo promovido a cardeal
da Inglaterra. Você sabe que um cardeal, em graduação, está próximo a papa. Não
somente era um bispo, mas também um cardeal, o único na Inglaterra, o arcebispo
de um grande distrito. Quando um papa morre, um dentre inúmeros cardeais é
escolhido para ser o sucessor. Muitas pessoas lamentaram por Newman, mas eu
senti, ao ler seus livros, que seu princípio e seu fim eram consistentes. Não digo que
estivesse certo, mas que seu comportamento combinava com sua doutrina. Ele cria
em apenas uma igreja; voltou-se, portanto, para Roma. Você não deve crer em uma
igreja, e ainda assim permanecer nas denominações. Você não pode confessar que
a igreja é uma, e ser um pastor na Igreja Anglicana, ou um presbítero numa Igreja
Presbiteriana. Newman foi, antes, completamente consistente e incontraditório. Seu
fim esteve em harmonia com seu princípio. Neste aspecto, muitas pessoas nas
denominações não podem comparar-se a ele.

A Bíblia Diz: "As Igrejas de Deus"

A Bíblia alguma vez disse que existe apenas uma igreja na terra? Não; a Bíblia nos
mostra que o que Deus estabelece na terra são as igrejas, conforme mencionamos,
isto é, uma igreja em cada localidade. Aqui está uma questão importante, que devemos
considerar diante de Deus: na Bíblia, as igrejas existiam em muitas localidades; Deus
jamais as reuniu para serem uma igreja.

Temos alguma prova disto? Sim. Observemos este assunto em três direções.
Primeiro, depois que os romanos conquistaram a Judéia, esta foi mudada de uma
nação para uma província de Roma. Muitas igrejas, uma em cada localidade, existiam
no distrito, na província da Judéia. Quando a Bíblia mencionou as igrejas da Judéia,
não disse "a igreja" na Judéia, mas as igrejas' na Judéia (l Ts 2:14). Você já viu a
importância da palavra igrejas"? Embora tantas igrejas existissem numa província,
não havia uma igreja provincial. Se houvesse, seriam registradas como "a igreja na
Judéia", não como "as igrejas na Judéia". Uma vez que a Bíblia as registrou como as
igrejas na Judéia, significa que existiam muitas igrejas individuais, não a união de
muitas, para se tornarem a única igreja da Judéia. Não havia coisa tal como uma
igreja unida.
A seguir, poderemos considerar um outro lugar, a Galácia. Galácia não era o
nome de uma cidade, mas, como Judéia, era o nome de uma província. Quando a
Bíblia mencionou Galácia, não disse "a igreja" na Galácia, mas as "igrejas da Galácia"
(l Co 16:1); não a igreja no singular, mas as igrejas no plural. Isto é para nos
mostrar que várias igrejas não estavam unidas na Galácia para formarem uma
igreja. Elas eram ainda as igrejas.
Em terceiro lugar, naquele tempo, a maior província era a Ásia. Podemos ver que
as igrejas importantes estavam na Ásia: Éfeso, Colossos, bem como Laodicéia. Não
deveríamos considerar Laodicéia menos importante, com base no fato de a Bíblia
não lhe dar um bom relato. Na verdade, Laodicéia, a princípio, era muito boa e era
um lugar bem grande. Muitas igrejas existiam na Ásia (l Co 16:19), mas não eram
unidas para se tornarem a igreja na Ásia; pelo contrário, Apocalipse l diz: "às sete
igrejas... na Ásia". Não há, portanto, nenhuma igreja unida na Bíblia. As igrejas
numa província não se uniram, e as igrejas em todo o mundo também não se
uniram. A Bíblia jamais indicou que as igrejas de uma província deveriam unir-se
como uma igreja, que as igrejas em cada país deveriam unir-se como uma igreja,
ou que as igrejas em cada continente deveriam unir-se como uma igreja. Não existe
tal tipo de igreja na Bíblia. Não há, na Bíblia, esta indicação de que todas as igrejas,
em todo o mundo, deveriam unir-se como uma igreja. O livro de Atos jamais
menciona tal coisa.
Além disso, o que disse Paulo, quando mencionou a igreja nas epístolas? Por
exemplo, em l Coríntios, mencionou "as igrejas de Deus" (11:16) e "todas as igrejas
dos santos" (14:33); não uma igreja, porém muitas igrejas. A igreja composta por
todos os santos não é a igreja, mas as igrejas dos santos. Aqui, três ou quatro
irmãos e irmãs se tornam uma igreja, e lá três ou quatro irmãos e irmãs se tornam
uma igreja; portanto são as igrejas dos santos. A Bíblia menciona claramente as
igrejas de Deus e as igrejas dos santos. Está, portanto, muito evidente que Deus
não tem nenhuma intenção de unir todas as igrejas em uma só.
Para tudo o que deseja realizar, Deus precisa primeiro fazer duas coisas: a
doutrina deve ser pregada, e os apóstolos devem pô-la em prática. Mas nós jamais
ouvimos a doutrina de unir as igrejas. Perdoem-me por dizer que estudei a Bíblia
muitas vezes e jamais vi uma doutrina a mostrar somente uma igreja na terra. Nem
jamais vi os apóstolos realizando tal coisa. O Senhor fez com que os apóstolos
fossem completamente obedientes; não os deixaria ter suas próprias opiniões, nem
agir por si mesmos. Todas as coisas feitas por eles foram realizadas em obediência
ao Senhor; estavam, portanto, qualificados a serem apóstolos. Se tivessem suas
próprias opiniões e agissem por si mesmos, Deus não reconheceria o trabalho deles
como sendo Seu trabalho, porque existiria uma distância entre eles. Deus exigiu
que obedecessem completamente e fossem totalmente consagrados; assim
reconheceria o que fizeram como sendo Seu próprio trabalho. Uma vez que os
apóstolos não uniram todas as igrejas na terra em uma igreja, nós não os temos
como exemplo para tal união; tampouco temos o ensinamento bíblico para tanto.
Se Deus quisesse unir todas as igrejas na terra dentro de uma grande e imensa
igreja, por que Ele não o faria através das mãos de homens tais como Pedro, Tiago,
João e Paulo? Por que esperaria por trezentos ou quatrocentos anos, para realizá-lo
através do papa? Eu creio no exemplo de Pedro e Paulo, mas não no exemplo do
papa; creio nas realizações de Pedro e Paulo, porém não nas coisas feitas pelo papa;
creio nestes apóstolos que foram absolutos para com o Senhor, mas não nos
papas. De modo algum podemos segui-los. E por isso que não acredito na Igreja de
Cristo na China. A igreja é local. Existem somente as "igrejas" de Cristo na China,
não "a Igreja" de Cristo na China. Irmãos, vocês enxergam a diferença? Somente as
igrejas na China, não a igreja na China, devem existir. Deve haver uma igreja em
Xangai, uma igreja em Tientsin. Poderia bem haver oito ou nove mil igrejas por
toda a China. Mas é absolutamente impossível fazer com que elas se tornem a única
Igreja na China. Portanto aqui vemos uma coisa: a Bíblia não contém
absolutamente nenhum mandamento nem exemplo para a união de todas as
igrejas na terra dentro de uma igreja organizada, formal. Pelo contrário, todos os
exemplos e todos os ensinamentos da Bíblia mostram que as igrejas são locais, e
no plural.
Portanto, quando busco a Deus, não posso associar-me à Igreja Católica
Romana. Vejo que ela é uma organização mundana, em que todas as igrejas em
todo o mundo são unidas em uma única igreja, e nesta igreja o papa age como o
imperador, e os cardeais como príncipes em cada nação. Uma vez que são como a
organização do mundo, não há como unir-nos a ela. Quando falamos com os
irmãos e irmãs nas diferentes localidades a respeito da unidade da igreja,
precisamos dizer-lhes que nossa unidade não é aquela da Igreja Católica Romana.
Hoje, nesta terra, existe uma unidade que é a da Igreja Católica Romana.Isto não
dará em nada, porque não é de Deus. Na História, vemos que isto é algo
produzido pelo homem; não é o que Deus quer realizar.

2. A UNIDADE "ESPIRITUAL"

Há um segundo tipo de unidade que pode ser encontrado em todo o mundo, e é


chamado de unidade "espiritual". Vejamos qual o seu conceito e onde teve sua
origem.

A Religião Estatal

Originalmente, o Catolicismo Romano era a religião estatal do império Romano. O


termo "religião estatal" tem uma definição bastante interessante: significa a religião
ordenada pelo Estado, pelo rei, ou imperador, para o povo do país. Em outras
palavras, uma vez que alguém nasça cidadão de um país, torna-se membro da
religião desse país. Se uma pessoa é um cidadão romano, automaticamente entra
para a religião romana. Ou alguém não possui nacionalidade alguma e, portanto, não
tem vínculo algum com qualquer religião estatal; ou nasce cidadão de um país e,
conseqüentemente, é membro da religião desse país. Desejando ou não, ele tem
que crer nessa religião. Não lhe é deixada a decisão; foi decidido pelo imperador. Se
ele depende do Estado para sua subsistência, precisa então crer na religião do
Estado. Depois que o império romano aceitou o Catolicismo Romano como religião
estatal, o número de membros da Igreja Católica Romana se igualou à população do
império romano. Anteriormente, os membros da igreja somente se igualavam ao
número daqueles que se arrependeram, foram regenerados e batizados. Agora,
entretanto, já ninguém precisava nascer de novo, a fim de entrar para a igreja. Uma
vez que nascesse no país e seu pai fosse romano, estava qualificado para tornar-se
um membro da religião romana. Por exemplo, meu pai é chinês, e eu nasci de meu
pai. É-me desnecessário ser naturalizado a fim de me tornar um chinês, pois já sou
chinês por nascimento. Isto foi igualmente verdadeiro na Igreja Católica Romana:
uma vez nascido romano, você seria um membro da Igreja Católica Romana. Aquele
que era nascido da carne tornava-se um filho de Deus. Isto inverteu inteiramente a
palavra de João, capítulo primeiro, tornando desnecessário ser nascido de Deus para
receber o Senhor Jesus; mas, ao invés disso, bastava ser nascido do sangue, da
vontade da carne e da vontade do homem. Contanto que fosse um romano, você
seria um membro da Igreja Católica Romana. Esta era a Igreja Católica Romana.

O Protestantismo Foi também Originalmente uma Religião


Estatal

Posteriormente, quando o Protestantismo apareceu, Martinho Lutero somente


esperava fazer alguma reforma na Igreja Católica Romana; não esperava formar
uma nova Igreja. A formação de uma nova Igreja não se deveu a razões religiosas,
mas políticas. Porque o papa romano governava sobre todo o mundo, até mesmo os
imperadores o temiam. A idéia do papa era que os imperadores deveriam
governar sobre o corpo humano, enquanto que ele governaria sobre a alma
humana. O corpo deveria ser governado pelo imperador, enquanto a alma deveria
ser governada pelo papa. Embora César fosse o maior imperador, nada poderia fazer
com o papa; este reinava sobre ele. O papa deveria fechar a porta para o reino
celestial; então ninguém poderia entrar, nem mesmo o rei. O papa governava sobre
todo o mundo. Assim os reis de todas as nações o temiam muito. Eles eram os reis,
porém havia alguém que governava sobre eles. Eram os reis; contudo, acima deles,
estava alguém que era o seu rei. O papa era o imperador supremo de todo o
mundo. Portanto, quando Lutero saiu para reformar a igreja, estes reis sentiram
que havia um modo para separarem sua igreja de Roma. Não queriam que ele
governasse sobre suas almas; queriam governá-las por si mesmos. Queriam uma
igreja diferente, que não fosse governada pelo papa. Caso contrário, em determina-
das situações, as ordens que davam poderiam ser alteradas pelo papa. Este apenas
emitiria uma outra ordem, e o povo não ousaria desobedecer, porque a
desobediência ao papa significaria a ida de suas almas para o inferno. Portanto,
quando Lutero surgiu, os reis sentiram que aí estava uma ótima oportunidade. A
doutrina pregada por Lutero foi para as pessoas serem salvas, justificadas pela fé
para se aproximarem de Deus. Mas, ao lado disso, estavam muitos reis e príncipes,
apenas esperando que Lutero fosse adiante, ficando prontos a apoiá-lo com a força.
Vendo a situação, o papa usou da força para prender os reformistas. Então os reis
aproveitaram a oportunidade, a fim de enviar exércitos para a batalha, e a luta foi
rude. Depois, não apenas a doutrina, mas também a igreja se separou da Igreja
Católica Romana. Qual foi então o resultado? Tudo que Lutero defendeu tornou-se a
igreja da Alemanha na Alemanha, a igreja da Holanda na Holanda, e a igreja da
Inglaterra na Inglaterra. Originalmente, Roma era o maior império do mundo, com
a Alemanha, Holanda e Inglaterra como unidades menores dentro dele. Mas,
finalmente, a Alemanha tinha uma Igreja Luterana, a Holanda tinha a Igreja
Holandesa reformada, e a Inglaterra tinha a Igreja Anglicana. Estas eram também
igrejas estatais, porém menores.
Atualmente, alguém que nasça de pais britânicos é membro da Igreja Anglicana.
No momento em que alguém nasce, automaticamente se torna um membro da
Igreja Anglicana. É por isso que há o batismo infantil. É necessário ter a criança
registrada na Igreja. Por ser britânico, é automaticamente um membro da Igreja
Anglicana. É desnecessário crer. A única questão é se foi ou não registrado. Se foi,
então é um membro. Um indivíduo tanto pode nascer inglês, como também pode
nascer cristão.
Posteriormente, quando as igrejas particulares foram levantadas, seus membros,
primeiro, tiveram de deixar a Igreja Anglicana. Estas igrejas privadas foram
chamadas "dissidentes", o que significa que elas discordavam da igreja estatal.
Originalmente, estavam na igreja estatal; mas, agora que queriam sair, tinham
primeiro de deixa-las, a fim de unir-se a outra. Se uma pessoa quisesse associar-
se à Igreja Wesleyana, primeiro precisava deixar a Igreja Anglicana. Eram
dissidentes; caso contrário, não teriam saído.

A Doutrina do Visível e do Invisível é Gerada

Nesse ponto, um problema surgiu. Uma vez que tanto a Igreja Católica Romana
quanto a Igreja Protestante eram igrejas estatais, naturalmente produziam muitas
pessoas não-salvas. Uma pessoa não pode ser salva por nascimento. Se alguém
pode ser salvo por nascimento, tudo o que precisamos fazer é tornar o cristianismo
a religião estatal da China, e todos os chineses serão cristãos. Assim, tornar-se um
cristão pela regeneração seria desnecessário. Todavia isto é impossível. Nascer é
uma coisa, mas nascer de novo é bem diferente. Portanto o resultado foi que todas
as igrejas estatais foram preenchidas por pessoas não salvas. Graças a Deus, havia
também muitos salvos. Mas essas pessoas não-salvas, não importando que tipo de
educação e ambiente você possa atribuir-lhes, ainda eram não-salvas.
A questão aqui é se a Igreja Anglicana é a igreja ou não. Se o é, como poderia
haver nela tantas pessoas não-salvas? Certamente, isto é muito estranho! Nesta
igreja há incrédulos, e ainda em bom número — como pode ocorrer isso?
Conseqüentemente, um certo tipo de doutrina emergiu: isto é, a igreja é de dois
tipos, um visível e outro invisível uma, igreja com forma, e outra, igreja sem forma.
A igreja mencionada nas Escrituras é invisível e espiritual, mas a igreja que temos agora é
visível e com forma. Na igreja visível existem falsos cristãos; na igreja espiritual, todos
são verdadeiros. Irmãos, precisamos saber que todas as doutrinas têm uma origem.
A doutrina da igreja espiritual, da visível e da invisível, foi introduzida assim como
mencionamos. Uma vez que o homem introduziu tantos falsos cristãos, a igreja
visível, naturalmente, não é digna de confiança. Desde que o homem capturou
todo o povo britânico numa rede, havia, obviamente, "peixes bons" e "peixes
maus". Isto está errado. As Escrituras ensinam que a igreja é o Corpo de Cristo, e
Cristo é o Cabeça da Igreja; sendo assim, somente os que crêem podem ser a
igreja. Como pode haver incrédulos na igreja? Uma vez que tantos incrédulos
encheram a igreja, o que eles poderiam fazer, senão ajudar a produzir tal doutrina,
dizendo ser a igreja de dois tipos, visível e invisível? A visível é indigna de
confiança, enquanto a invisível é verdadeira. Este tipo de doutrina só poderia ser
produzido. Era-lhes essencial; senão lhes seria impossível prosseguir. Irmãos, vocês
vêem que esta doutrina precisava surgir? A igreja visível se tornou tão desleixada,
que qualquer coisa poderia ser encontrada nela. Assim, viram-se forçados a
produzir essa doutrina.
E basearam-se numa passagem das Escrituras: depois que o Senhor semeou a
semente, Satanás também semeou o joio. Hoje não devemos remover o joio, mas
deixá-los crescer juntos (Ver Mt 13:24, 30). Diziam que os invisíveis, os espirituais,
são aqueles que nasceram de novo, dentre os quais nenhum é falso. Entre os visíveis
está o joio, que não deve ser removido. Muitos irmãos e irmãs, ao lerem esta
passagem, pensaram estar certos, vendo tal distinção entre a igreja visível e a
invisível. Não viram que este erro não pode ser coberto pela doutrina das igrejas
visível e invisível, só porque os que produziram esta doutrina fizeram a igreja incluir
pessoas a mais. O que o Senhor Jesus disse com respeito ao trigo e ao joio
crescerem juntos, é que eles crescem juntos no mundo (Mt 13:38), não na igreja!
Uma vez que expandiram a Igreja, para ser tão grande quanto o mundo,
naturalmente o joio está na igreja. Conseqüentemente, sua única saída era explicar
que a igreja nas Escrituras é tanto visível quanto invisível, tanto com forma quanto
sem forma. A Igreja Anglicana é excessivamente grande; a igreja na Bíblia constitui-
se somente das pessoas espirituais, regeneradas.
Qual era a condição das igrejas na terra em Apocalipse 2 e 3? Eram os sete
candelabros de ouro. O que é um candelabro de ouro? É um lugar onde a luz
brilha. Quando estava na terra, o Senhor Jesus disse: "Brilhe.., a vossa luz diante
dos homens". Se a luz brilha, mas os homens não podem vê-la, para que serve?
Hoje à noite, por ser visível a luz, podemos estar aqui; mas, se fosse invisível, como
poderíamos estar aqui? Uma luz invisível é uma anedota, uma grande zombaria.
Como poderia existir uma luz invisível? Além disso, se uma luz é visível, precisa ter
forma: não pode ser disforme. Uma luz sem forma é uma mentira. A igreja na terra
deve ser vista pelos homens. A Bíblia não tem intenção alguma de fazer da igreja
uma luz invisível. Mas, hoje, a igreja da qual falaram não é apenas aquela candeia
colocada debaixo do alqueire, mas colocada sobre o candelabro para brilhar com luz
invisível! A palavra que o Senhor Jesus falou-nos é suficientemente clara. Ele
disse:"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um
monte" (Mt 5:14). Isto é visível, não invisível. O Senhor quer que sejamos
manifestados na terra e vistos pelos homens.
Vocês precisam ver, portanto, que o que chamam de igreja exterior é na
realidade, o mundo. Uma vez que insistem em pendurar uma placa, chamando-a
de uma igreja, precisam explicar que dentro desta igreja exterior está uma outra
igreja. Porém a igreja mencionada na Palavra de Deus é aquela que sai do mundo,
e é separada dele. Se é assim, somente reconhecemos a existência da igreja
espiritual, jamais da igreja exterior.
Qual então é a dificuldade hoje? Existem muitos irmãos e irmãs a pensarem que
a unidade, hoje, entre nós que somos cristãos, é uma unidade "espiritual". O que é
esta unidade espiritual? É que, na igreja, algumas pessoas são espirituais, e algumas
não o são. Assim, em toda igreja, há a igreja exterior e há também a igreja
espiritual. A unidade espiritual é que um grupo de irmãos espirituais tem comunhão
com um outro grupo de irmãos espirituais e todos eles se tornam um, uns com os
outros. A razão de a unidade espiritual ser necessária hoje é que alguns são do
mundo. Se todos fossem gerados pela Palavra de Deus, espontaneamente todos
teriam comunhão juntos, e a questão da unidade espiritual jamais apareceria.
Este assunto é muito importante porque toca num problema básico. Por
exemplo, se você perguntasse a alguém quantos em sua denominação não são
salvos, ele provavelmente lhe diria que são cerca da metade deles. Várias
denominações lhe diriam que seria muito bom se apenas um dentre dez fosse
salvo. Eles não são muito diferentes da igreja estatal. São como uma cebola que
possui muitas camadas, que podem ser descascadas. O que querem dizer é que as
nove camadas de fora nada significam; o que importa é o centro. Sem dúvida, o
princípio das denominações é ainda o princípio da igreja estatal, porque muitos, em
seu meio, não pertencem ao Senhor. Portanto sua comunhão é limitada aos
espirituais, não a toda a igreja. Se toda a igreja fosse ter comunhão juntamente,
muitos incrédulos estariam envolvidos. Sendo assim, não podem tomar toda a igreja
como o limite para a sua comunhão espiritual. Mas a Bíblia inclui toda a igreja
como o limite de sua comunhão. Já que o limite da igreja não está claramente
definido, a condição da igreja não está clara. Como resultado, precisamos ter uma
comunhão "espiritual".
Hoje, muitos tipos de igrejas peculiares existem no mundo, porque muitos não-
cristãos foram introduzidos nelas. Estando na "igreja" muitos incrédulos e falsos
cristãos, eles têm que manter uma comunhão invisível; toda a sua comunhão é
invisível. Portanto dizem que têm comunhão somente no coração. Foi um erro
produzir tal necessidade. Você precisa entender e ver através dela. Uma vez que sua
posição está errada, existe a necessidade de unidade "espiritual". Se você se colocar
na posição correta, você já é um. Se a igreja está correta, o invisível se tornará visível,
e não haverá necessidade alguma de comunhão invisível. O Senhor disse que a
igreja é o candelabro; mas, se você disser que esta é uma luz invisível, de fato
isto será estranho. Este tipo de comunhão espiritual e unidade espiritual foi
produzido por permitirem que incrédulos se misturassem à igreja.
A Formação de Muitas Denominações

Este problema envolve dois lados: o primeiro, do ponto de vista da igreja estatal,
conforme acabamos de ver; o segundo, do ponto de vista dos dissidentes, que
precisamos ver agora. Muitos não aprovaram a igreja estatal. Não somente a
desaprovaram, como também se opuseram ao seu erro. Tais foram os Batistas, os
Presbiterianos e os Wesleyanos. Os últimos criam que a pregação poderia ser feita
em qualquer lugar. Dissidentes outros, tais como estes, se levantaram e, baseados
em sua discórdia, formaram igrejas para manter a verdade. Assim surgiram as
igrejas Batista, Presbiteriana, Wesleyana, dos Quacres, e, posteriormente, vários
milhares de grupos também surgiram. Na Inglaterra, (oram chamados dissidentes.
No império russo, a igreja estatal foi chamada de Igreja Ortodoxa Grega, e as
restantes foram chamadas de denominações. Todos estes irmãos se levantaram em
favor da verdade. Isto é um ponto positivo! Nós agradecemos a Deus. Mas, por outro
lado, lamentamos o fato de eles fazerem com que a igreja de Deus fosse dividida em
vários milhares de partes, ao formarem igrejas para preservar a verdade de Deus.
Mais tarde, a situação gradativamente mudou. Na primeira geração, ambos os
lados debatiam consideravelmente. Por exemplo, Wesley debatia violentamente com
a Igreja Anglicana. Mas, na terceira e quarta geração, o debate se acalmou e elas
não diferiam muito uma da outra. Anteriormente, não se saudariam nem se
comunicariam; porém, hoje, até oram juntos. Por exemplo, a Igreja Cristã Unida
estava originalmente na Igreja Wesleyana, exigindo que os wesleyanos aceitassem a
doutrina da cura divina. Debateram tão terrivelmente sobre este assunto, que mais
tarde se separaram. Hoje, na terceira geração, não mais discutem. No princípio, a
diferença entre eles era grande; porém, agora, já não é tão grande. Algumas das
pessoas na Igreja Cristã Unida acreditavam no derramamento do Espírito Santo e
no falar em línguas; portanto saíram para estabelecer a Igreja Pentecostal. A
princípio, a discussão entre elas foi também terrível; porém, posteriormente, a
discussão não mais importava.
Hoje, todas essas igrejas já foram formadas. Pessoas, por causa do batismo,
formaram a Igreja Batista; pessoas, por causa de Lutero, formaram a Igreja
Luterana; outras, por causa de Calvino, formaram a Igreja Presbiteriana; outras,
por causa de Wesley, formaram a Igreja Metodista; e outras, por causa de Simpson,
formaram a Aliança Cristã e Missionária. Porém, na Bíblia, jamais houve um caso de
uma igreja ser formada por uma certa doutrina. E as doutrinas baseadas nas quais
os homens debatiam com todo o esforço possível, não eram, segundo o apóstolo
Paulo, os maiores problemas. Em Romanos 14, Paulo disse que está tudo bem no que
diz respeito a um homem guardar este dia enquanto um outro guarda outro dia.
Todas estas pessoas são fracas na fé. Contudo não deveriam estar divididas por
doutrinas. Alguns não comeriam carne, porque são fracos na fé; portanto não há
problema em que comam legumes. Paulo não formou uma igreja vegetariana, nem
uma igreja carnívora. Alguns comem legumes, e outros comem carne. Paulo disse que
não há problema algum; nós recebemos todos os que o Senhor recebe (Rm 14:3). Se
alguém come legumes, é um irmão; se come carne, é também um irmão. Se guarda
este dia, é um irmão; se guarda um outro dia, é também um irmão. Não há nenhum
exemplo na Bíblia de se formar uma igreja por doutrina.
Segundo a Bíblia, de que é formada então, a igreja? A única exigência é aquela
de Romanos 14:1,3: "acolhei... porque Deus o acolheu". Precisamos acolher todo
aquele a quem Deus acolhe. Nós o recebemos, porque Deus o recebeu. Ele já
possui a vida de Deus. Antigamente, era um pecador; mas, agora, veio ao Senhor. A
única pergunta que precisamos fazer é se ele recebeu o Senhor ou não. Se já O
recebeu, qualquer palavra adicional é desnecessária. Quanto ao modo como ele deve
comportar-se, na condição de cristão, precisamos ajudá-lo com os ensinamentos da
Bíblia, porém não podemos recusá-lo, ou colocá-lo fora da igreja. Alguns crêem em
batismo por aspersão; são melhores do que aqueles que de modo algum batizam.
Alguns batizam aspergindo pingos d'água; outros batizam por imersão. A Bíblia
retrata Felipe e o eunuco descendo à água, e o Senhor Jesus saindo da água. Descer
e sair devem significar batismo por imersão. Todavia algumas pessoas apenas têm
suas mãos imersas na água, não seus corpos. De acordo com as Escrituras,
precisamos ser imersos. Hoje alguns batizam, aspergindo água. Não podemos dizer-
lhes que pertencem à "igreja da aspersão de água". Não podemos estabelecer uma
igreja por doutrina. Deixando de lado a imersão e a aspersão, podemos apenas
fazer uma pergunta: Este irmão foi acolhido por Deus? Se todos foram aceitos
diante de Deus, quer sejam imersos, quer aspergi-dos com água, ou ainda nem
sejam batizados, como podemos não recebê-los hoje? Se vamos passar a eternida-
de juntos, por que não podemos acolhê-los hoje? Como podemos permitir que cada
um siga o seu próprio caminho, só porque não podemos aceitar os defeitos dos
outros? Não deve ser assim! A Bíblia mostra que a igreja inclui todos aqueles a
quem o Senhor recebeu.
Além do mais, Paulo, em Romanos 14, disse: "Acolhei ao que é débil na fé", e não:
"rejeitai". Nós reconhecemos que este irmão é fraco; contudo não devemos rejeitá-
lo, mas recebê-lo. Freqüentemente erramos, por considerar se sua fé é tão forte
quanto a nossa. Se o é, então ele pode seguir-nos. Portanto precisamos ver que
devemos receber aqueles que são fracos na fé. Se os rejeitarmos, o máximo que
podemos fazer é trancá-los fora da igreja por poucos anos. Depois disto, não
poderemos mais impedir a sua entrada. Você não tem nenhuma maneira de
excomungá-los; são nossos irmãos para sempre. Precisamos perceber que é errado
dividir a igreja por doutrinas. Suponha que haja um irmão que coma legumes na
igreja em Hsi-an. Que você diria? Você pode somente fazer uma pergunta: Esta
pessoa foi salva? Se já o foi, e continua sua dieta de legumes, precisamos
permitir-lhe fazê-lo. Em outras palavras, ele recebeu a mesma vida, exatamente
como nós; portanto, a despeito de sua maneira particular, temos de recebê-lo. O
que precisamos fazer com aqueles que são fracos na fé é ajudá-los com os
ensinamentos da Bíblia, não separá-los, formando uma outra igreja.
Hoje, as assim chamadas denominações foram geradas como o resultado da
divisão por causa de doutrinas. As pessoas tomam uma doutrina da Bíblia,
pregam-na e formam uma denominação à sua volta. Conseqüentemente, existe a
Igreja Pentecostal, a Igreja Luterana, os Quacres, etc. Os quacres enfatizam um
tipo de gesto (estremecimento); os luteranos, um tipo de doutrina; os
presbiterianos, um tipo de organização; e os congregacionais, um tipo de
congregação independente. Isto não é o trabalho do Senhor, mas o resultado das
idéias dos homens, que dividiram os filhos de Deus em tantas denominações.
Muitos pensam que é bom haver denominações. Sabem por quê? Porque é
conveniente. Irmãos! Se me perguntassem, segundo a carne, se gosto ou não de
denominações, eu diria: "Sim, gosto delas, porque tudo é bem delineado. Os que
gostam de falar em línguas, podem ir para a Igreja das Línguas; os que gostam de
congregações independentes, podem ir para a Igreja Congregacional; e os que
gostam de batismo por aspersão podem ir para uma igreja que o pratica". Mas a
Bíblia ensina que, em cada localidade, deve haver somente uma igreja. Em Corinto
há somente uma igreja; em Éfeso há somente uma igreja; e, em Xangai, deve existir
apenas uma igreja. Este caminho não é tão cômodo, porque cada um deve amar
todos os tipos de irmãos! Amar muitos irmãos que são diferentes de mim provoca
muito atrito e muitas lições. Você tem suas proposições, eu tenho as minhas; você
tem suas idéias, e eu tenho as minhas. É muito conveniente que você tenha a sua
igreja, e eu, a minha. Não nos é conveniente estarmos juntos em uma igreja, para
nos amarmos mutuamente. Com as muitas dificuldades, existem muitas lições;
quanto mais dificuldades, mais amor mútuo existe. Mesmo que estejamos
descontentes um com o outro, ainda não podemos escapar. Se gostamos ou não,
ainda temos de ser irmãos juntos. Você precisa vencer os carnais com espirituais,
conquistar todas as diferenças com amor, e cobrir todas as dificuldades com a graça.
Caso contrário, a igreja jamais poderá ser estabelecida.

Dar as Mãos por Cima dos Muros não é Unidade

Uma vez que as pessoas já têm hoje as denominações, o que faremos? Já


testificamos que não é bom terem os filhos de Deus denominações e divisões. Não é
bom que você tenha uma divisão, e eu uma outra. Os filhos de Deus não devem
formar divisões: pelo contrário, devem amar-se mutuamente e estar juntos. Temos
dito isto por trinta anos, desde 1921. E esta palavra eficaz? Sim. Embora tenhamos
encontrado muitas oposições desde o princípio, e ainda estejamos encontrando
algumas hoje, elas têm-se enfraquecido. A princípio, tentaram proteger as
denominações; porém, hoje, sua insistência está se tornando cada vez mais fraca.
Agora dizem: "Queremos ter comunhão espiritual". Mas vimos que esta comunhão
espiritual é o resultado de dois fatores: primeiro, as igrejas estatais, nas quais uma
igreja pequena se acha dentro de uma igreja grande, uma igreja verdadeira dentro
de uma falsa igreja, uma igreja invisível dentro de uma igreja visível, uma igreja de
realidade dentro de uma igreja de exterioridades; segundo, as divisões causadas
pelas diferenças de doutrinas. Agora, um caminho intermediário foi invocado, isto é,
ter comunhão "espiritual" uns com os outros. Vamos ver se esta comunhão
"espiritual" está certa ou errada.

Comunhão "espiritual" é, certamente, uma melhora, em relação a não haver


nenhuma comunhão entre as denominações. Graças a Deus! A situação na China,
durante todos estes anos, certamente mudou, e está diferente agora. Mas pode a
comunhão "espiritual" substituir a comunhão da igreja conforme o que a Bíblia
estabelece? O que chamam de comunhão "espiritual" não é a verdadeira comunhão
espiritual; apenas tomam o termo emprestado. Que é a comunhão "espiritual" de
que eles falam? Por exemplo, aqui temos várias xícaras. Originalmente, o propósito
de Deus é que todos fossem unidos para serem uma xícara. Mas cometeram o erro
de se dividirem em muitas xícaras. A comunhão "espiritual" é a comunhão que
conserva as denominações. Que é denominacionalismo? Eu tenho minha xícara,
você tem a sua, e ele tem a dele. Que é comunhão "espiritual"? Você estende sua
mão sobre sua xícara, e eu estendo minha mão sobre a minha, para dar as mãos
por cima das bordas. Separar por divisões é denominacionalismo. Dar as mãos é
comunhão "espiritual". Enquanto permanecemos nas denominações, queremos ter
comunhão "espiritual" uns com os outros. Se não dermos as mãos por cima dos
muros, somos sectários e denominacionais. Mas o ensinamento da Bíblia é que não
deve haver nenhuma seita, nenhuma denominação. Contudo, hoje, existem irmãos
que ainda querem conservar as divisões; porém sua consciência os incomoda caso
não haja comunhão alguma. Conseqüentemente, estendem suas mãos por sobre o
muro, para dá-las ao outro lado. Esta é a doutrina da assim chamada comunhão
"espiritual" de hoje.
Com relação a este assunto, sinto-me muito pesado interiormente. Irmãos,
deixem-me dizer uma palavra: se as denominações são bíblicas, vocês e eu
devemos pagar qualquer preço para preservá-las. Oh! se é mandamento de Deus,
como podemos anulá-las? Precisamos aprender a seguir a Deus, não ao homem.
Mas, se as denominações estão erradas, precisamos cortá-las pela raiz. Não pode-
mos, por um lado, confessar que elas estão erradas; e, contudo, por outro lado,
encorajá-las. Não podemos, por um lado, dizer que as denominações não são
importantes; e, contudo, por outro lado, preservá-las. Uma vez que são sem
importância, temos de destruí-las e aboli-las. Não podemos, por um lado, querer
ter comunhão e, contudo, por outro lado, ter comunhão por cima dos muros. Se
realmente desejamos comunhão, precisamos destruir os muros e ter comunhão. Se
quisermos servir a Deus, e se sentimos que todos os filhos de Deus devem ter
comunhão, precisamos derrubar todos os muros, para ter comunhão. Se é correto
haver muros, então precisamos construí-los, não somente com três metros de
altura, mas com três mil metros. Precisamos ser radicais e absolutos diante de Deus.
Se as denominações são corretas, temos que empregar mil vezes o esforço — isto
está correto. Se as denominações são erradas, então o correto é que as derrubemos.
Se você sente que as denominações são erradas e, contudo, quer conservar os
muros e dar as mãos por cima deles, este não é o princípio para as pessoas
servirem a Deus. O princípio básico para servirmos a Deus é que, se você sente
que as denominações são certas, deve fortalecê-las; se sente que são erradas,
deve arrasá-las. Se, por um lado, você quer apoiar as denominações e, por outro,
tenta destruí-las, o que pretende realizar com isso? Precisamos chegar ao ponto de
mostrar aos outros que suas ações não estão de acordo com a vontade de Deus.
Fale por si mesmo. Se sente que as denominações são corretas, você deve ajudá-las.
Se sente que são erradas, por favor, derrube-as — não meramente diminua um
pouco a altura dos muros, mas derrube-os completamente. Se as denominações
estão certas, precisamos edificar muros mais altos, a fim de que você não possa vir
para cá, nem eu possa ir para lá, de modo que todos estejamos claramente
divididos. Esta questão deve ser radical e absoluta. Por um lado conservar as
denominações, e, por outro lado — sentindo que são erradas — tentar repará-las, não
é absolutamente o caminho de Deus. Vocês são os que conhecem a Deus; vocês são
aqueles que lêem a Bíblia — vocês já viram, por acaso, Deus querendo que os
homens consertem alguma coisa? Isto é o que é feito por aqueles que carecem de
coragem para responder à exigência de Deus e ouvir Sua Palavra. Estão pagando
somente metade, ou menos da metade do preço; estão buscando um ajuste.
Oferecem suas mãos de comunhão em cima, enquanto mantêm os muros de divisão
embaixo. Gostaria de que vocês, irmãos, vissem este ponto claramente. O princípio
básico do comportamento cristão é que devemos ir ao encalço de toda questão, de
maneira completa e absoluta, até o fim. Então poderemos solucionar o problema.
Para uma compreensão mais clara, dar-lhes-ei uma ilustração. O registro da
Bíblia mostra que Deus aceitou a oferta de Abel, mas não a de Caim. Penso
sabermos todos que Caim era um agricultor e cultivava o solo. Isso era o que seu pai
fazia, quando estava no jardim do Éden. Quando seu pai lavrava o solo, trazia o
produto da terra e o oferecia a Deus. Mas, agora, Caim estava fora do jardim do
Éden, por causa do pecado. Apesar disso, Caim cultivava o solo como antes, recebia
o produto da terra e o oferecia a Deus como anteriormente. Vocês sabem que Deus
não somente recusou aceitar-lhe a oferta, mas também ficou descontente com ele.
Algumas pessoas perguntam: "Por quê?". Isto é muito simples, e tem somente um
significado: O que o homem fazia antes de pecar era aceitável a Deus, porém nada
pode ser pior diante de Deus do que o homem fazer a mesma coisa após ter pecado.
Suponha que toda noite, às oito horas, uma criança queira que sua mãe lhe prepare
um lanche antes de ir para a cama. Mas, um dia, ela causou algum problema lá
fora: alguma coisa desagradável aconteceu, e sua mãe teve que pedir desculpas e
pagar estragos. Naquela noite, ela se volta à sua mãe e lhe pede que lhe prepare
um lanche, como de costume, como se nada houvesse acontecido. Que você diria?
Se ela viesse à sua mãe chorando ou zangada, esta não se sentiria tão mal. Mas,
se viesse toda sorridente, como se nada houvesse acontecido, a mãe se sentiria
muito mal. A criança causou-lhe problemas, mas agiu como se nada houvesse
ocorrido! No futuro, esta criança poderia assassinar alguém e agir como se nada
tivesse acontecido! Caim foi exatamente assim. Aquilo que fez antes, faz agora, da
mesma maneira, após ter pecado. A maneira como as coisas eram oferecidas a Deus
anteriormente, ele ainda a repete, como se nada houvesse acontecido. Cometer
pecado é uma questão pequena, mas não ter consciência dele é questão mais séria.
Por que Abel foi aceito? Porque admitiu que estava fora do jardim do Éden. Sua
oferta admitia que ele tinha pecado, que a situação presente era diferente da
passada.
Nós tememos pessoas frívolas como Caim; tais pessoas não podem servir a Deus.
Este é um princípio básico. Elas dizem: "Estamos nas denominações. Tais
denominações não foram formadas por nós; foram formadas pelos nossos
antepassados. Mas, agora, temos alguma responsabilidade nelas. Não podemos
dizer: Bom! Vamos estar unidos amanhã! Isto é impossível. E as denominações em
que estamos?". Deus quer que a igreja seja unida, mas nós a dividimos! Quando
começo a estar consciente de que é errado que eu me divida desta maneira, preciso
confessar que isto é errado diante de Deus; preciso derrubá-lo. Tenho que dizer: "Ó
Deus, embora esta denominação não tenha sido formada por mim, mas por meus
antepassados, a despeito disso, sou pecaminoso ao fazer parte dela. Isto não é
simplesmente uma questão pessoal; envolve toda a igreja de Deus. Isto é pecado.
Hoje eu pediria ao Senhor que a derrubasse; hoje eu declaro que há alguma coisa
errada nela". Deixem-me dizer-lhes; esta é a maneira correta de agir. Suponham
que a denominação tenha sido formada por mim e, agora, quando vejo a falha,
digo: "Venhamos e tenhamos comunhão". Deixem-me dizer-lhes: tenho medo
deste comportamento frívolo e volúvel. Este é o comportamento de Caim, não
condenando o pecado após haver pecado, porém tentando consertar a situação. Isto
é muito anticristão. Irmãos, vocês estão claros? Não pensem que está tudo bem se,
após haverem pecado, vocês não o condenarem, porém somente tentarem
consertá-lo. Isto jamais será a manifestação da vida de Deus!
Por exemplo, suponha que eu ofenda a um irmão falando dele muitas coisas em
sua ausência. Que deveria fazer ao ser reprovado na luz de Deus? Primeiro, devo ir a
ele e confessar meu pecado: "Irmão, pequei contra você, falando muitas coisas
pelas costas para arruiná-lo. Por favor, aceite muitas desculpas". Então não haverá
problema se, no dia seguinte, eu lhe mostrar amor. Que dizer de um homem que
peca contra você, que rouba muitas coisas suas, que fala de você e, depois,
comporta-se como se nada houvesse acontecido? Ele não confessa de modo algum seu
pecado, porém se volta para tratá-lo bem e envia-lhe presentes. Como você se
sentiria a seu respeito? Nós, cristãos, realmente temos uma maneira de fazer as
coisas. Se fazemos algo errado, não podemos simplesmente mudar um pouco, sem
confessar nosso erro. Não é correto agir desta forma. Não existe tal caminho diante
de Deus para solucionar nossos problemas. Essa pessoa precisa vir a você e
confessar: "Irmão, estou errado. Eu lhe devo dinheiro e outras coisas". Precisa
primeiro confessar seu pecado, antes de mostrar amor por você. Este é o princípio
pelo qual um cristão pode ser restaurado.
O princípio aqui é o mesmo. Hoje, não é apenas uma questão de as
denominações estarem certas ou não. O que importa é que, se você sente que elas
estão corretas, deve apoiá-las; se sente que estão erradas, precisa derrubá-las.
Você não deve dar as mãos por cima do muro. Se você diz que é certo haver o muro,
então precisa construí-lo mais alto. Se sente que o muro está errado, derrube-o.
Você não deve ter comunhão "espiritual". O que chamam de comunhão "espiritual"
significa um tipo de comunhão que não é de todo suficiente. Embora as
denominações sejam erradas, e você tenha o desejo de abandoná-las, ainda prefere
preservá-las. Portanto o que você faz é apenas esticar a mão para um pouco de
comunhão com os outros. Se você se encaixa nesta categoria, definitivamente ela
não é de Deus. Não sei se você enxerga isso claramente. Precisa vê-lo
pormenorizadamente, antes que possa sair para tratar com as situações em cada
localidade. Não é correto aos que anteriormente se fechavam para os outros,
abrir agora a janela e dar as mãos por cima do muro. Se este muro deve existir,
edifique-o mais forte e mais elevado; se não deve existir, precisa derrubá-lo.
Conservar as diferentes denominações e, contudo, ter comunhão, deixem-me
dizer-lhes: isto é uma auto-frustração.
Hoje, na China, existem provavelmente três tipos de unidade. A primeira é a
unidade da Igreja Católica Romana; a segunda é a unidade "espiritual", significan-
do que, embora existam exteriormente, as denomina ções não existem em
nossos corações. Parece-me estranho! Se as denominações não são importantes,
por que deveriam as pessoas permitir sua existência? Se não são importantes, por
que as pessoas se zangam quando se toca nelas? É bastante confuso. Devemos
ter em mente que, se as denominações são importantes, precisamos apoiá-las;
caso contrário, derrubemo-las. Se a comunhão é necessária, vamos comungar, e
não ter a assim chá mada comunhão "espiritual". Este é realmente um bom
termo, porém seu uso foi estragado. Não é mais comunhão espiritual, mas
comunhão "parcial"! Se esta questão ficar clara, penso que o problema de unidade
poderá facilmente ser resolvido.
Com este tipo de unidade "espiritual", há uma grande dificuldade, isto é,
aqueles que a defendem dão sua atenção aos filhos de Deus, e negligenciam a Sua
exigência. Em outras palavras, prestam atenção ao sentimento dos filhos de Deus,
porém esquecem o sentimento do próprio Deus. Um homem que apoia as
denominações é alguém que conhece a Deus muito pouco. Muitas pessoas, porém,
não ousariam apoiar as denominações se lhes pedissem. Sentem que as
denominações são pecado. Todavia, por considerarem que existem muitos filhos
de Deus nas denominações, não são suficientemente fiéis, para inteiramente
desvendar-lhes a verdade de Deus, a fim de mostrar-lhes como as divisões entre
os filhos de Deus não estão de acordo com a Sua vontade. Deixam de agir assim,
porque temem que, se o fizerem, venha a existir algum tipo de separação entre eles
e muitos dos filhos de Deus que estão nas denominações. Por outro lado, se vocês
lhes pedissem que expressassem a defesa e o apoio às denominações, eles
sentiriam, de certa forma, que não deveriam fazê-lo, pois estudaram a Palavra e
obtiveram alguma luz. As denominações são condenadas perante Deus, e
rejeitadas por Ele. Assim sendo, eles querem ter uma unidade "espiritual". Mas, por
favor, lembrem-se de que este tipo de unidade "espiritual", ou esta atitude de dar as
mãos por sobre os muros, não é nada mais que um método para acomodar, para
reconciliar, para aliviar. Não ousam apoiar totalmente as denominações; contudo
relutam em abandoná-las por completo. Conseqüentemente, permitem-lhes existir,
e defendem uma unidade "espiritual", uma comunhão "espiritual". O que chama de
unidade "espiritual" significa, nada mais, nada menos, que eles não ousam obedecer
a Deus completamente; não ousam seguir inteiramente a Palavra do Senhor. Por
causa de homens, não se atrevem a ser absolutos para com Deus. O temor de ser
absoluto para com Deus é a dificuldade de hoje. Na verdade, é por não serem
corretos nem absolutos para com o Senhor, que muitos defendem a comunhão
"espiritual", a unidade "espiritual". Este método não é proveniente dos ensinamentos
das Escrituras, mas da sabedoria e do temor do homem.
Sendo assim, creio que, se, diante de Deus, não nos colocarmos do lado dos
filhos de Deus a fim de olharmos para suas fraquezas e falhas, mas do lado do
Senhor a fim de olharmos para Sua glória e santidade, automaticamente
veremos que este tipo de unidade acomodante não é a vontade do Senhor e não é
bíblico. Precisamos estar bem claros quanto a isto, de modo a podermos resolver
os problemas.

3. A UNIDADE NAS ESCRITURAS

Veremos agora o terceiro tipo de unidade, isto é, a unidade nas Escrituras.

A Unidade Inerente do Corpo

As Escrituras nos mostram que a igreja é o Corpo de Cristo, e que há somente


um corpo. As Escrituras também nos mostram que Deus, através do Espírito
Santo, habita na igreja, e que o Espírito Santo é um Espírito. Assim as Escrituras
dão especial atenção a "um Espírito" e a "um corpo". A isto precisamos também
dar nossa especial atenção.
A igreja de Cristo é o Corpo de Cristo. Se você a considerar apenas igreja,
poderá sentir que não importa se está de certo modo dividida aqui e ali. Se você a
considera o povo de Deus, novamente não importará se ela está dividida um pouco
aqui e um pouco ali. Se você ainda a considerar o exército de Deus, poderá estar
correto dividi-la um pouco aqui e um pouco ali. Novamente, se você a considerar
casa de Deus, o dividi-la em algumas casas aqui e algumas ali poderá também estar
correto. Mas o que a Palavra de Deus também nos diz sobre a igreja de Cristo? Diz
que ela é o Corpo de Cristo. Como Corpo, esse tipo de divisão é absolutamente
impossível. Você não pode separar três membros aqui, cinco membros ali e outros
dois acolá. É impossível. Tudo o mais pode ser dividido, qualquer coisa no mundo
pode ser dividida, mas não o corpo. Uma vez dividido, o corpo torna-se um cadáver.
Uma vez dividida a igreja, o mundo apenas tem o cadáver de Cristo, não o Seu
corpo. Portanto Deus nos mostrou com muita seriedade que a igreja não pode ser
dividida. Os filhos de Deus não podem estar divididos, assim como o corpo não o
pode. Contudo, hoje, os filhos de Deus tornaram-se insensíveis às divisões, e não
as consideram uma questão séria. Por favor, lembrem-se: um corpo não pode
ser dividido! A igreja é o Corpo de Cristo; em natureza, ela é o Corpo, e um Espírito
habita nela. Portanto a unidade da igreja nas Escrituras é a unidade da natureza do
Corpo, que é indivisível.
Hoje queremos fazer uma pergunta. Já que a Bíblia nos mostra que a unidade da
igreja é a unidade do único Espírito Santo habitando no único corpo, como então,
pode ser ela expressa?

Não uma Igreja, mas Sete Candelabros de Ouro

A Igreja Católica Romana nos diz que, uma vez que o Corpo de Cristo é um,
devemos somente organizar uma igreja na terra. Já vimos que este não é o
ensinamento das Escrituras. Estas dizem que o Corpo de Cristo é um, porém nunca
exigem que a igreja na terra se torne uma igreja, como a Igreja Católica Romana.
Caso contrário, a palavra "igrejas" é um grande erro, e as Escrituras não deveriam
conter este termo. Você não pode dizer, ao mesmo tempo, "igrejas", e também dizer
"uma igreja". Uma vez que as Escrituras dizem "igrejas", sabemos então que Deus
não tem nenhuma intenção de unir todas as igrejas da terra em uma só. Além disso,
os apóstolos, na Bíblia, jamais organizaram "uma igreja". O que estabeleceram em
muitos lugares foram as "igrejas", e estabeleceram uma igreja em cada localidade.
O Espírito Santo não os dirigiu a estabelecer apenas uma igreja. Esta é somente a
opinião da Igreja Católica Romana, e a unidade do Catolicismo Romano é elaborada
pelo homem, e não é bíblica.
Não só isso: vamos atentar mais uma vez às Escrituras. A igreja que vemos nesta
terra é a aparência externa da igreja, que pode estar errada. Pode não ser fácil
compreender pela aparência externa se a igreja na terra deve ser muitas igrejas ou
uma só; portanto a melhor solução é colocar-se diante do Senhor e ver como Ele
enxerga as igrejas na terra. Isso não pode estar errado. Graças a Deus! Vemos nas
Escrituras que a igreja em cada localidade tem um representante diante do Senhor.
Esta é a preciosidade de Apocalipse, capítulos primeiro, segundo e terceiro, que nos
mostram as "sete igrejas... na Ásia". Isto não significa que apenas um total de sete
igrejas havia nesta terra, mas que estas sete igrejas foram colocadas lá como
exemplos representativos. Apocalipse l, 2 e 3 nos mostram como as sete igrejas na
Ásia estavam diante do Senhor no céu. Havia sete candelabros de ouro postos
perante Ele. Você vê? As igrejas na terra podem estar erradas, completamente
erradas, mas as igrejas no céu, as igrejas diante do trono, as igrejas perante o
Senhor não podem estar erradas. Dizer que também estas estão erradas é blasfemo e
terrível! Como eram as sete igrejas na Ásia diante do Senhor? Eram os sete
candelabros de ouro. Em outras palavras, para cada igreja na terra, há um
candelabro de ouro no céu. Estas sete igrejas estavam em sete diferentes
localidades: Éfeso era uma localidade, Esmirna era uma localidade, Pérgamo era
uma localidade, etc, — um total de sete localidades. Pelo fato de existirem sete
igrejas na terra, existiam sete candelabros no céu. Portanto não é a vontade de
Deus unificar as igrejas numa só igreja. Se fosse assim, então Deus no céu poderia ter
apenas um candelabro, não sete. Irmãos! Isto está muito claro. Vocês precisam
pensar. Que o Senhor os leve a pensar! Se pensassem somente um pouco, saberiam
que, se o Senhor possuísse apenas uma igreja na terra, Ele poderia ter somente um
candelabro no céu. Porém há sete candelabros, eles são sete igrejas em sete
localidades. Em cada localidade, há um candelabro. Está óbvio para nós que o
propósito de Deus não é unificar as igrejas em uma igreja. O termo "candelabro" nos
é bastante familiar; é também encontrado no Velho Testamento. No Velho Testa-
mento, havia um candelabro com sete hastes colocado diante de Deus, significando
que todos os israelitas eram unidos como uma nação. Deus não queria que a nação
de Israel fosse dividida em duas nações. A divisão entre as nações de Judá e Israel
não Lhe era agradável, porque perante Deus elas eram uma. Dividi-las em duas é
pecado.
Porém, no Novo Testamento, não existe um candelabro com sete hastes, mas
sete diferentes candelabros. Em outras palavras, no princípio, o pensamento original
de Deus com relação à igreja é ter as respectivas igrejas posicionadas diante Dele
independentemente.
Você vê? Não é um candelabro com sete hastes, mas sete candelabros. Eles foram
postos lá um a um, e o Senhor andava no meio deles. Se fosse um candelabro com
sete hastes, o Senhor não poderia andar no meio deles. Portanto, na realidade
espiritual, são sete diferentes candelabros diante de Deus, não sete candelabros
unidos para serem um candelabro. Isto significa que Deus não tem intenção alguma
de unir as igrejas na terra para serem uma igreja. Deus jamais teve tal intenção.
Em outras palavras, a vontade fixa de Deus com relação à nação de Israel é
diferente da Sua vontade concernente à igreja. A vontade fixa de Deus com relação
a Israel é que esta deveria ser uma nação na terra, não duas. Ao mesmo tempo,
Deus determinou somente um lugar para toda a nação de Israel adorar, que era
Jerusalém. O povo de Israel deveria ir a Jerusalém todo ano, e não a qualquer outro
lugar. Eles estabeleceram Betei, porém isso desagradou a Deus. Era um lugar
elevado, mas não o centro de Deus. Hoje, Deus não quer que as igrejas na terra
sejam unificadas e, da mesma forma como Jerusalém no passado, tomem Roma
como um centro. Hoje, são sete diferentes igrejas. Portanto a unidade do Corpo de
Cristo não significa que as igrejas na terra devam ser tornadas uma igreja. A Bíblia
não pode contradizer-se. E o que ela nos mostra é que há somente um Corpo de
Cristo. Também nos mostra que Deus não quer que as igrejas sejam reunidas numa
única igreja na terra. A unidade que Deus deseja não é que as igrejas sejam
combinadas em uma grande igreja, formando uma grande unidade.
Estamos estudando esta questão passo a passo. Acabamos de ver como a Bíblia
fala com relação ao Corpo, como fala com relação à igreja. A unidade mencionada na
Bíblia não se refere à unidade de uma igreja de dimensões extensas. Então a que
se refere a unidade do Corpo, que o Senhor hoje deseja? Deve referir-se a alguma
outra coisa. Sendo assim, a unidade do Catolicismo não pode ser aplicada; não é
de Deus. Este é o primeiro ponto.

Havendo uma Denominação, Há uma Divisão

Agora, atentaremos ao segundo ponto. Nossos irmãos dizem que precisamos ter
uma comunhão "espiritual", uma unidade "espiritual". Então a unidade do Corpo
de Cristo se refere à unidade "espiritual", como hoje é defendido pelos irmãos nas
denominações? É metade "sim", e metade "não". A Bíblia evidentemente nos mostra
que os filhos de Deus não devem estar divididos, porém as denominações são
obviamente divisões. Uma vez que você observa uma denominação,
imediatamente vê uma divisão. Desde que a divisão existe, não fale sobre a
unidade "espiritual"! Este é o tipo de comportamento que carece de integridade,
conforme já mencionamos. Você não pode, de um lado, defender a unidade, e,
todavia, por outro lado, defender as denominações. Você não pode, por um lado,
conservar as divisões, e, por outro lado, falar sobre unidade. Assim como na
ilustração que usamos com relação às xícaras, a metade inferior está errada,
enquanto a metade superior está correta. A base na metade inferior está errada,
enquanto a comunhão sobre a metade superior está certa. Penso que está
suficientemente claro que a Bíblia diz que as denominações são erradas. Gaiatas
5:19-21 até mesmo registra denominações (seitas) como obra da carne ou, como
traduzido para o chinês, obra da concupiscência. "Ora as obras da carne são
conhecidas, e são: "Rivalidades, divisões, seitas..." (Texto Grego de Nestle do Novo
Testamento Interlinear Greco-Inglês).
Como, então, Deus deseja que manifestemos a unidade do Corpo? Essa unidade
do Corpo não é a unidade de toda a terra, como a união de muitas igrejas para
formarem uma grande igreja; tampouco é permanecer na denominação e falar da
unidade "espiritual". Então o que é a unidade do Corpo, conforme o que se
estabelece na Bíblia? Gostaria de despender algum tempo para estudar este
assunto com vocês.

A Igreja Mencionada em Efésios e Colossenses é Universal tanto em


Espaço como em Tempo

Na Bíblia, duas epístolas falam especificamente da igreja: Efésios e Colossenses.


Creio que todo aquele que estuda a Bíblia, sabe que a igreja mencionada nesses dois
livros refere-se principalmente àquela "igreja" que é a única igreja de Deus. Esta
igreja não só se refere à igreja na terra, porque, embora, em termos de espaço, a
igreja na terra seja suficientemente ampla para incluir a todos, em termos de
tempo ela só inclui uma parte. Suponhamos que hoje haja cinqüenta milhões de
salvos no mundo inteiro. Mas a igreja nos livros de Efésios e Colossenses não inclui
apenas cinqüenta milhões de pessoas, pois cinqüenta milhões é só o número de
cristãos no ano de 1951. No ano passado, em 1950, alguns morreram, e no ano de
1551 alguns outros morreram, e no ano de 1051 ocorreu o mesmo. Os irmãos e
irmãs da época do apóstolo Paulo já não vivem mais na terra. Em outras palavras, a
igreja de Cristo, em Efésios e Colossenses, inclui a todos os salvos por todo o mundo,
em todas as nações e em todas as épocas, tanto no passado como no presente,
não só em termos de espaço, mas também de tempo. Este é o chamado Corpo de
Cristo. Hoje, ainda que todos os cristãos por todo o mundo fossem reunidos, mesmo
assim não seriam o Corpo de Cristo. Embora estejamos vivos, muitos já morreram
e muitos outros ainda irão nascer. Há ainda muitos irmãos e irmãs que serão
salvos amanhã. Eles também estão no Corpo de Cristo; não podemos dizer que
eles não estão incluídos. Portanto, seja qual for o tempo, a igreja na terra não é o
Corpo de Cristo. Mesmo que todos os filhos de Deus sobre a terra fossem reunidos,
não seriam ainda o suficiente para se tornarem o Corpo de Cristo. Em termos de
espaço, está correto; mas, em termos de tempo, está errado, porque gerações após
gerações já se passaram. Necessitamos de todos os cristãos das gerações passadas,
todos os cristãos da época atual e todos os cristãos das gerações futuras unidos
para sermos o Corpo de Cristo.
O que se menciona em Efésios e Colossenses refere-se a isso. Essa unidade é
espiritual. Hoje, é impossível manter uma igreja colocando nela Paulo como
presbítero e Pedro como um pastor, porque eles já morreram. Todavia essa unidade
é espiritual, e essa unidade maior é correta. Desde que uma pessoa seja um irmão
no Senhor, todos temos comunhão com ele. Alguns irmãos já morreram, mas
também temos unidade com eles. Todos somos um com qualquer irmão ou irmã.
Esta certamente é a unidade espiritual, universal tanto no tempo como no espaço.

A Unidade Mencionada em Coríntios e Filipenses Refere-se à Unidade


na Igreja em uma Localidade

Ainda que reconheçamos perante o Senhor a comunhão e a unidade de Efésios e


Colossenses, precisamos lembrar que esse tipo de comunhão e unidade pode facil-
mente tornar-se algo idealístico. É bem possível que, por um lado, defendamos a
unidade do Corpo, e, por outro, sejamos pelo segundo tipo de unidade, por meio do
qual tanto as denominações quanto a unidade são defendidas simultaneamente.
Assim, diante do Senhor, precisamos ver que, com relação à unidade dos cristãos,
na Bíblia, há, por um lado, as duas epístolas aos Efésios e Colossenses, e, por outro
lado, as duas epístolas aos Coríntios e Filipenses. A unidade dos cristãos tratada
nessas duas últimas epístolas também se refere à unidade do Corpo.
Podemos ver claramente que a unidade mencionada em l Coríntios não se refere
à unidade universal, tanto em espaço quanto em tempo, mas à unidade da igreja
que está em Corinto. Creio que esta palavra é suficientemente clara. Havia contendas
entre os irmãos em Corinto; não com todo o Corpo de Cristo, mas somente com
alguns irmãos que havia entre eles. Por isso, quando Paulo os exortou a serem um,
estava simplesmente os exortando a serem um com os irmãos de sua localidade.
"Todos vocês, irmãos que vivem em Corinto, são a igreja em Corinto: vocês devem
expressar a unidade do Corpo na cidade de Corinto. Vocês não devem estar
divididos na localidade de Corinto".

"Vós" Refere-se aos Cristãos em Corinto

Primeira Coríntios 1:10 diz "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, que (vós) faleis todos a mesma coisa...".
A quem se refere a palavra "vós"? Refere-se aos cristãos em Corinto, aos irmãos
em Corinto. "E que não haja entre vos divisões". Novamente, "vós" se refere aos
Coríntios. "Antes (vós) sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no
mesmo parecer". Desta vez também se refere aos cristãos em Corinto. Aqui vemos
uma coisa: a unidade do Corpo mencionada na Bíblia torna-se imaginária, caso você
não a expresse na localidade. É fácil dizer: "Oh, nós amamos todos os filhos de
Deus, exceto nosso vizinho!". "Oh, todos os filhos de Deus são um, desde Paulo até
aqueles que ainda não nasceram. Todos são um, exceto alguns irmãos aqui em
Xangai!". Isto é utópico e ilusório. Você não pode falar da unidade do Corpo e dizer
que todos são um, exceto os poucos irmãos que vivem juntos no mesmo lugar!
Portanto Paulo nos mostra que, quando falamos de unidade, há um requisito
mínimo de unidade, isto é, a igreja na localidade.
Se os cristãos em Corinto desejam falar da unidade do Corpo, não devem fazê-lo
em Roma ou em Jerusalém, mas em Corinto. Se vocês não falarem sobre ela em
Corinto. tornar-se-á inútil, e vocês estarão enganando a si mesmos. Suponhamos
que eu more em Xangai e que não consiga dar-me bem com os irmãos em Xangai,
mas com os irmãos de Nanking me dê otimamente bem. Isto é inútil, e estou
enganando a mim mesmo. Devemos ver que a unidade do Corpo é exigida pelas
Escrituras, mas tem um limite, um requisito mínimo de limite, que é a localidade. Os
irmãos em Corinto devem ser um com os irmãos em Corinto. Se vocês não são um em
Corinto, todas as suas palavras estão enganando os outros.
"Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu de Apoio, e eu de
Cefas, e eu de Cristo"(l Co 1:12). Observe a frase "cada um de vós". Quem são estes?
É claro, os coríntios. Não seria certo Paulo falar tais palavras aos irmãos em Jerusalém,
porque eles não as havia proferido. Tampouco seria certo Paulo aplicá-las aos irmãos
em Antioquia, porque eles não haviam dito tal coisa. Quem as proferiu? Somente os
irmãos em Corinto! Aqui o Senhor nos dá a luz para a unidade básica, isto é, os cristãos
em Corinto devem ser um pelo menos em Corinto. Se a unidade neste único lugar,
"Corinto", não se pode verificar, eles não devem falar sobre unidade com outras pesso-
as. Devem ser um pelo menos em um lugar. Talvez um irmão em Corinto possa recitar
todo o livro de Efésios, dizendo que devemos amar-nos uns aos outros. Naturalmente,
todos nós nos amaremos um ao outro na Nova Jerusalém, mas o problema é se nós
amamos uns aos outros hoje. Todos teremos comunhão na Nova Jerusalém, mas o
problema é se temos comunhão hoje. O que temos hoje é prático. Hoje, na Sua Palavra,
a exigência mínima de Deus para a unidade de Seus filhos é a localidade. Se a exigência
mínima não pode ser cumprida, então tudo o mais é falso. Os irmãos facciosos em
Corinto diziam: "Você é de Paulo, eu sou de Cefas, e ele é de Apoio", e alguém se
levantou para dizer: "Eu sou de Cristo". Enquanto contendiam entre si, Paulo lhes
disse que deveriam ser um.
Vejamos como Paulo os repreendeu: "Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber,
não vos dei alimento sólido; porque ainda (isto é, quando eles eram recém-salvos)
não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis (isto é, depois de salvos por um longo
tempo), porque ainda sois carnais. Porquanto, havendo entre vós ciúmes, contendas
e divisões, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?" (l Co 3:1-13
gr.). Isto se refere ao capítulo primeiro, onde vemos como os coríntios estavam
envolvidos em ciúmes, contendas e divisões, e eram carnais, tendo a respeito
dessas coisas o mesmo ponto de vista que tinham no princípio, quando foram
salvos. Não progrediram absolutamente. No começo, ao serem salvos, tomavam
leite; e, agora, ainda estão tomando leite. Se continuarem em ciúmes, contendas e
divisões, serão carnais durante toda a vida. Talvez possam ainda continuar bebendo
leite até aos sessenta, setenta ou oitenta anos de idade.
Então onde está a expressão da espiritualidade? Está na unidade da igreja. E
onde está a manifestação da carnalidade? Está nas divisões da igreja. Não
podemos chamar-nos espirituais e, no entanto, ainda permanecer nas divisões. Se
assim for, enganar-nos-emos a nós mesmos. Como é clara esta palavra: "porque
ainda sois carnais. Porquanto, havendo entre vós ciúmes, contendas e divisões, não é
assim que sois carnais e andais segundo o homem?"
Paulo também repetiu as palavras do capítulo primeiro no versículo seguinte:
"Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apoio; não é evidente
que andais segundo os homens?" (não sois carnais? -1 Co 3:4). Paulo estava
mostrando-lhes que as divisões, não importa a sua boa aparência diante dos
homens, são carnais diante de Deus. O sinal da espiritualidade é a unidade: o sinal
da carnalidade são as divisões, ciúmes e contendas.
Outro ponto que devemos observar é que Paulo não deu atenção alguma a
qualquer dificuldade entre os irmãos em Corinto e os irmãos em Éfeso, ou entre os
irmãos em Corinto e os irmãos em Colossos. Não apontou dificuldade alguma entre
os irmãos em Corinto e os irmãos em Laodicéia, ou entre os irmãos em Corinto e os
irmãos em Filipos. Ele deu atenção às divisões entre os próprios irmãos em Corinto. No
mínimo, eles devem ter dito: "Eu sou de Paulo, eu sou de Cefas, eu sou de Apoio, e
eu sou de Cristo". Mas Paulo, com efeito, disse: "Irmãos Vocês são irmãos em
Corinto. Não deve haver ciúmes, contendas ou divisões em Corinto". Você percebe,
existe na verdade um limite. Pelo menos, não deveria haver ciúmes, contendas e
divisões na igreja em Corinto. A quem se refere o "vós"? À igreja em Corinto.
Portanto a questão da unidade nas Escrituras é a seguinte: Esta unidade é a
unidade do Espírito Santo e a unidade do Corpo; mas a unidade do Espírito Santo
e a unidade do Corpo têm um requisito mínimo de unidade, um requisito mínimo de
limite, isto é: a unidade da igreja deve ocorrer em uma localidade.

O "Corpo" Refere-se aos Filhos de Deus num Certo Tempo e Lugar

Acabamos de ver o ponto de vista negativo da divisão. Agora vamos ver o ponto
de vista positivo da unidade, conforme se exige na Bíblia. "Porque nós, embora
muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do
único pão" (l Co 10:17). Isto inclui os filhos de Deus em Corinto. Este "único pão" é
o pão sobre a mesa em Corinto. Durante o partir do pão nessa localidade, um pão
era posto diante dos filhos de Deus, indicando que, embora fossem muitos, ainda
eram um só pão. Em outras palavras, o Corpo de Cristo que os irmãos em Corinto
deveriam expressar tinha que ser expresso pelo menos em Corinto. Aqui devemos
lembrar a situação daquele tempo. Quando os irmãos e irmãs se reuniam, um pão
era exposto diante de muitos deles. Talvez cinqüenta irmãos estivessem partindo o
pão juntos; assim Paulo disse que os cinqüenta, sendo muitos, eram um só pão.
Em outras palavras, o Corpo de Cristo tem uma expressão universal, isto é, a
igreja, o Corpo de Cristo. Mas os irmãos em cada localidade também expressam o
Corpo de Cristo. Isto não significa que os irmãos em Corinto sejam o Corpo de Cristo,
enquanto que os irmãos em Éfeso não o são. Isso significa que os filhos de Deus
"em Corinto" são Corpo de Cristo; assim, tanto no princípio espiritual como no
fato espiritual, eles devem expressar-se como sendo o Corpo de Cristo. O Corpo
de Cristo é a igreja universal tanto em espaço quanto em tempo, a igreja que está
em todos os lugares e em todas as gerações; todavia os irmãos na localidade devem
pelo menos estar na mesma posição, aplicando o mesmo princípio para expressar
o mesmo fato. Em outras palavras, o limite mínimo da unidade é o limite da
localidade. Na localidade de Corinto, a unidade do Corpo, a unidade da vida deve ser
expressa.
Isto é maravilhoso! O Corpo mencionado em Efésios refere- se a todos os filhos de
Deus, mas o Corpo mencionado em Coríntios refere-se aos filhos de Deus num
determinado tempo e lugar. Os filhos de Deus naquele lugar e naquela época
também são o Corpo de Cristo.
Ao continuar lendo l Coríntios 12, novamente percebemos o assunto do Corpo; o
único Corpo com o único Espírito Santo é discutido: "Porque, assim como o corpo é
um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só
corpo, assim também com respeito a Cristo" (l Co 12:12). "Se disser o pé: Porque
não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido
disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Não podem
os olhos dizer à mão: não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não
preciso de vós" (l Co 12:15-16, 21). Como se vê, l Coríntios 12 fala do Corpo de Cristo
com muitos pormenores. O Corpo de Cristo mencionado em l Coríntios é diferente
daquele mencionado em Efésios. Como já disse, o Corpo de Cristo mencionado em
Efésios se refere à igreja universal. Este não é um problema para a maioria dos
estudiosos da Bíblia. Mas o Corpo de Cristo mencionado em l Coríntios 12 refere-se à
igreja em Corinto. Por que isto? Porque é diferente do que se menciona em Efésios. O
Cabeça mencionado em Efésios é diferente da cabeça mencionada em l Coríntios 12.
Em Efésios, "Cristo é o cabeça da igreja" (5:23), mas em l Coríntios 12:21 se diz
"Não podem os olhos dizer à mão..." Aqui o olho é um membro, e a mão também é
um membro. Segue-se a isto uma afirmação muito especial: "nem ainda a cabeça,
aos pés: Não preciso de vós" (12:21). A cabeça mencionada em l Coríntios 12 é,
portanto, apenas um membro. Esta afirmação não pode ser usada e aplicada como
uma ilustração em Efésios. Isso seria terrível. De modo algum pode ser usada ali. Se
fosse, o Cabeça estaria colocado em posição muito baixa. Portanto a cabeça de l
Coríntios 12 é só um membro, cuja posição é diferente da de Efésios. O Cabeça de
Efésios é, sem dúvida, Cristo, enquanto a cabeça de l Coríntios 12 é alguém entre os
irmãos, que age como uma cabeça. É apenas um dos membros, mas não o único
Cabeça. E muito baixo; não é elevado. Assim, para a expressão da unidade do
Corpo, a Bíblia nos mostra que a localidade é o limite mínimo. Espero que os irmãos
enxerguem que, na Bíblia, o requisito mínimo da unidade é a unidade na localidade.
Os filhos de Deus devem ter sua unidade espiritual em cada localidade. Esta é a
exigência básica da Bíblia.
Qual é, então, o propósito de Deus? É "que não haja divisão no Corpo" (l Co
12:25). Você lembra por que Paulo disse isso? É por causa das ocorrências dos
capítulos primeiro e terceiro, onde se vêem divisões entre eles. Paulo mostrou-lhes
que ter divisões na localidade de Corinto significa ter shism no Corpo de Cristo. A
unidade tem de ter ao menos a localidade como seu limite. Se moro em Corinto, preciso
ao menos ser um com os filhos de Deus na localidade de Corinto; devo pelo menos
demonstrar uma vida de unidade em Corinto. Não posso ter divisões.

Devemos Amar os Irmãos em Corinto

Paulo, no capítulo treze, fala do amor. Por que neste capítulo fala tão seriamente
do amor? Porque só o amor é contrário às divisões. O amor une, o amor não divide.
Em Corinto, havia ciúmes e contendas. Por isso, Paulo disse que o amor não arde
em ciúmes, não procura os próprios interesses, não se ressente do mal, não se
divide, nem se separa. Observamos, aqui, Paulo a exortar os irmãos em Corinto, a
se amarem mutuamente, ao menos na localidade de Corinto.
Hoje, um certo tipo de condição prevalece na igreja: as pessoas pregam a
doutrina de se amarem uns aos outros, mas se esquecem da localidade. Sentem
que a localidade não é importante. Mas, irmãos, por favor, lembrem-se de que,
quando vocês pregam o amar uns aos outros, mas se esquecem da questão da
localidade, é muito fácil tornarem-se idealistas. "Todos os irmãos e irmãs são
amáveis, exceto alguns em Xangai!". Que faremos? Os irmãos de Xangai sentem
desta maneira, e os irmãos de Nanking sentem do mesmo modo: "todos os irmãos
são bons, com exceção daqueles de Nanking..." Os irmãos de Ti-Hua também
sentem o mesmo: "Todos os irmãos são muito bons, mas não alguns em Ti-Hua".
Mas permitam-me dizer-lhes o que Deus diz aos irmãos de Xangai: "Amem,
primeiramente os irmãos de Xangai, e depois os irmãos de Nanking". Deus também
diz aos irmãos de Nanking: "Amem primeiramente os irmãos de Nanking, e, depois,
os de Xangai". Assim, os irmãos em Corinto precisavam amar primeiramente os
irmãos em Corinto, e depois ascender aos céus para ver o Corpo de Cristo. Em
primeiro lugar, deviam descer para ver Corinto, e, depois, ir até Éfeso, para ver o
Corpo de Cristp. Antes de tudo, precisavam descer até Corinto e observar o Corpo
de Cristo, porque isto é muito mais prático.
Se não podemos amar os irmãos a quem vemos, como podemos amar os irmãos a
quem não vemos? O apóstolo João disse "...pois aquele que não ama a seu irmão, a
quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê". Hoje, precisamos acrescentar
mais uma palavra: "Se não podemos amar aos irmãos que vemos, como podemos
amar os irmãos que não vemos?". Muitos, simplesmente, não amam aos irmãos que
vêem; só amam aqueles a quem não vêem. Isto é o que se chama de "comunhão
espiritual". Pois tudo o que não se pode ver é "espiritual". Se você permanecer nesta
posição, grandes dificuldades surgirão na igreja. A comunhão, o amor mútuo, o
cuidado mútuo e a unidade entre os filhos de Deus precisam ter início ao menos na
localidade. A localidade é o requisito mínimo.

Devemos Pensar a Mesma Coisa em Filipos

No livro de Filipenses, Paulo também exortou os irmãos a serem um: "Pela vossa
cooperação (unidade) no evangelho, desde o primeiro dia até agora" (Fp 1:5). Mais
tarde, Paulo mencionou outro aspecto, nos versículos quinze e dezessete: "Alguns
efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia... aqueles, contudo pregam a
Cristo por discórdia". Aqui, pode-se ver, não temos uma condição universal da igreja,
mas uma questão local em Filipos. A dificuldade lá era que alguns irmãos pregavam
Cristo em comunhão, enquanto outros pregavam Cristo por inveja, dizendo: "Se você
pode pregar, eu também posso. Se você pode fazê-lo, por que eu não posso?".
Assim, também pregavam.
No capítulo segundo, versículo segundo, Paulo exortou-os: "de modo que penseis a
mesma cousa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo senti-
mento". Gostaria de salientar aqui esta palavra: "de modo que penseis a mesma
cousa". Isso não se refere à igreja universal. Embora a igreja universal possa aprender
deste exemplo, esta palavra se refere principalmente aos Filipenses, pois a eles
Paulo escreveu a carta. Vocês, cristãos em Filipos, irmãos filipenses, devem pensar a
mesma coisa. É-lhes inútil pensar a mesma coisa que os irmãos em Xangai; é-lhes
também inútil pensar o mesmo que os irmãos da igreja em Lan-Chou. Vocês devem ter
o mesmo pensamento que os irmãos de Filipos. Este é o mandamento da Bíblia.
Pensar a mesma coisa exige a localidade como requisito mínimo. Se este falhar,
todas as doutrinas serão idealísticas e imaginárias. Muitos irmãos são bastante
espirituais nos céus, mas carnais na terra. Seu pensamento é muito espiritual, mas
sua prática é carnal.
Paulo falou-lhes que, se tivessem o mesmo pensamento, o mesmo amor, o mesmo
sentimento, e fossem unidos de alma, então completariam a alegria dele.
"Nada façais por partidarismo..." (Fp 2:3). Esta palavra foi proferida aos
filipenses. Vocês, filipenses, nada devem fazer por partidarismo. Então Paulo expôs
a razão que leva as pessoas a fazerem as coisas por partidarismo: Alguns cobiçam
a "vangloria". Estes, que buscam a vangloria, separam-se facilmente dos irmãos.
Os que desejam ter glória diante dos homens naturalmente criam problemas com
outros. Alguns são orgulhosos, considerando-se muito elevados. Assim são
incapazes de ser um com os outros. "...Mas, por humildade, considerando cada
um os outros superiores a si mesmo"; então vocês poderão ser um com os outros.
Alguns cuidam somente de suas próprias coisas, e são muito egoístas. Por isso
também lhes é fácil criar problemas com outros. Paulo falou: "Não tenha cada um
em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros"
(Fp 2:4). Essa é a razão pela qual muitos não podem pensar da mesma maneira,
não podem ter o mesmo amor, não podem ser unidos de alma, não podem ter o
mesmo sentimento e não podem ser um com os outros. Alguns cuidam apenas de
si, outros são orgulhosos, outros buscam a glória e desejam que terceiros os
aplaudam. Obviamente, tais tipos de pessoas jamais poderão ser um com os outros.
Temos que aprender a ser humildes, não buscando a glória dos homens, e
precisamos aprender a cuidar dos outros. Então poderemos ser um com outros
filhos de Deus. Este é o princípio bíblico. Precisamos segui-lo adequadamente.
Paulo louvou os filipenses por sua cooperação (unidade) na pregação do
evangelho. Mas, na realidade, tinham discórdia. Daí a necessidade da exortação no
capítulo segundo. As discórdias em Filipos não ocorriam somente entre os irmãos,
mas também entre as irmãs. Por isso, Paulo, no capítulo quarto, especialmente citou
duas irmãs: "Rogo a Evódia, e rogo a Síntique pensem concordemente, no
Senhor" (Fp 4:2). Temos aqui duas irmãs; seus nomes são femininos. Não sabemos
a extensão da história por detrás dessas palavras. Paulo não no-la revelou. Ele
apenas disse: "Rogo a Evódia, e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor".
Essa exortação mostra-nos que havia contendas na localidade de Filipos. Também
nos mostra que essa contenda estava limitada àquela localidade, face aos nomes
mencionados. Creio que, agora, você deveria ver pelo menos uma coisa: A unidade
do Corpo, ou a unidade do Espírito Santo, na Bíblia, refere-se especialmente à
unidade na localidade. A unidade que não ocorrer na localidade será totalmente vã.
Você não pode dizer que é capaz de guardar a unidade em qualquer outro lugar,
exceto em sua própria localidade.

A Igreja, na Bíblia, é Local

Agora iremos em frente, a fim de ver por que enfatizamos tanto a expressão da
unidade na localidade. É que a igreja na Bíblia é a igreja local. Falamos isto por
muitos anos, e mesmo agora continuamos a repeti-lo inúmeras vezes. A igreja, na
Bíblia, é local. Nenhuma exceção, sequer, pode ser vista em todo o Novo
Testamento. Todas as igrejas são locais: ou seja, a igreja em Jerusalém, a igreja em
Antioquia, a igreja em Corinto, etc...Todos os exemplos encontrados na Bíblia são
igrejas locais. Por exemplo, no livro de Apocalipse, a igreja em Éfeso, a igreja em
Esmirna, a igreja em Pérgamo, a igreja em Tiatira, a igreja em Sardes, a igreja em
Filadélfia e a igreja em Laodicéia são todas locais. Deus determinou ter uma igreja em
cada localidade. As localidades e as igrejas são equivalentes. As cidades na terra
estão divididas de acordo com a localidade. Hoje, as igrejas de Deus na terra estão
também separadas de acordo com a localidade. No mundo, existe a localidade de
Xan-gai; portanto há uma igreja em Xangai diante de Deus. No mundo, há a
localidade de Nanking; portanto existe a igreja em Nanking diante de Deus. No
mundo, existem as localidades de Hsi-An e Lan-Chou; portanto há a igreja em Hsi-An
e a igreja em Lan-Chou perante Deus. Em outras palavras, desde que haja um lugar
suficientemente grande para ser uma localidade, então uma igreja deve haver
naquela localidade. Se o seu lugar não é suficientemente grande para ser uma
localidade, então vocês não podem ser uma igreja. Por exemplo, Lan-Chou é um
lugar suficientemente grande para ser uma localidade. Aos olhos de Deus, é uma
localidade. Assim, uma igreja pode estar lá em Lan-Chou. Diante de Deus, este
assunto está muito claro. A Bíblia determina a localidade de acordo com o limite
de uma cidade ou um lugarejo. Por exemplo, no livro de l Coríntios, que acabamos
de ler, há uma palavra muito boa: "Por esta causa vos mandei Timóteo, que é meu
filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo
Jesus, como por toda parte ensino em cada igreja" (l Co 4:17). "Por toda parte" é a
localidade; "cada igreja" é o seu conteúdo espiritual. Em cada localidade, havia uma
igreja. Como está "por toda parte" dividida na Bíblia? Está dividida conforme uma
cidade ou um lugarejo. O Senhor Jesus pregou o evangelho em cada cidade e em
cada povoado (Mt 9:35); portanto, a unidade de jurisdição da localidade é a cidade
ou lugarejo. Paulo disse a Tito: "...em cada cidade, constituísses presbíteros,
conforme te prescrevi" (Tt 1:5). Naquela época, Paulo pregava o evangelho nas
cidades e não entrava nos lugarejos; por isso, não os mencionou. Todas as igrejas na
Bíblia eram locais. Portanto, este é o problema de hoje: a unidade dos filhos de Deus
precisa ter pelo menos uma igreja local como sua unidade. Em outras palavras, a
unidade mínima para a unidade espiritual dos filhos de Deus deve ser a localidade.
Todos os filhos de Deus na mesma localidade devem ser um. Esse é o requisito
mínimo.

Deve Haver Comunhão Espiritual entre as Igrejas

Desejo agora considerar com vocês a dificuldade dos filhos de Deus com
referência a esta questão. Já mencionei o segundo tipo de unidade, parte da qual é
correta e parte é errada. Que significa isto? Deve haver a "comunhão espiritual" da
qual se fala? Parte dela deve existir, e parte não. Como, então, a parte que tem
que existir deve ser cumprida? A resposta é que deve haver comunhão espiritual
entre uma igreja local e outra igreja local. A Bíblia nos mostra que a igreja é local; a
unidade da igreja, portanto, deve ocorrer pelo menos na localidade. Por isso eu disse:
se não há nenhuma unidade na localidade, todas as outras palavras são vãs e
ilusórias. Não se trata de uma localidade negligenciar seus próprios assuntos para
cuidar dos assuntos de outra localidade. Não é que os irmãos de Tien-Hsui não
resolvem os próprios assuntos, e vão cuidar dos assuntos de Ping-Lian. Mas é que
Tien-Hsui e Ping-Lian devem ter comunhão em questões espirituais.
A unidade da igreja, a unidade do Corpo, tem a localidade como sua unidade.
Mas também devemos ter unidade espiritual com os irmãos de outras localidades.
Esta unidade espiritual não é a unidade entre uma denominação e outra, mas é a
unidade entre uma igreja e outra. Esta unidade espiritual não é unidade entre as
divisões, mas é a unidade do Corpo, entre os membros. Uma igreja local está
aqui, e outra igreja está acolá; e, entre essas igrejas locais, buscamos a unidade
do Espírito Santo, a unidade do Corpo, a unidade no caminho do Senhor, e
buscamos a unidade em cada aspecto, a fim de expressar a unidade espiritual
entre as igrejas. Hoje, se não temos a unidade espiritual entre as igrejas, mas, em
vez disto, nós a temos entre as denominações, tal está errado. É errado ter
unidade espiritual entre as seitas e não tela entrs as localidades. A teoria está certa,
mas a aplicação está errada.
4. A UNIDADE DO CONGREGACIONALISMO

Vejamos, agora, a importância do limite da localidade. Talvez devêssemos observar


primeiramente a História. Bem no início, as igrejas na Bíblia eram locais. Mais tarde,
uniram-se para formar igrejas distritais ou provinciais. Ainda mais tarde, uniram-se
numa igreja internacional, uma igreja única, na qual surgiu o papa. No princípio,
quando estavam em harmonia com o propósito de Deus, as igrejas eram locais. Mas,
pouco a pouco, degradaram, até haver só uma igreja em todo o mundo, a Igreja
Católica Romana. Durante a Reforma, ela foi esmagada, mas não o suficiente para
voltar a ser as igrejas locais, como no princípio. Subseqüentemente àquele golpe es-
magador, a igreja internacional passou a ser a igreja nacional, a igreja estatal, em
cada nação. Neste ponto, as igrejas melhoraram um pouco e, de certo modo, aproxi-
maram-se da semelhança daquelas existentes no princípio. Estas igrejas estatais,
mais tarde, tornaram-se as igrejas independentes. Dentro de uma nação havia
dezenas, centenas, e até milhares de pequenas igrejas. Tais igrejas independentes
deram mais um passo de retorno ao princípio.
Você precisa perceber como foi difícil, naquela época, estabelecer tais igrejas
independentes. Por exemplo, em toda parte, a igreja insistia em que os sermões só
poderiam ser pregados em lugares sagrados. O que eram seus lugares sagrados?
Eram as igrejas (prédios materiais) consagradas. John Wesley saiu a pregar sermões
por qualquer lugar. Oh! como foi grande sua perseguição. A igreja estatal declarava
profanos os sermões pregados em lugares não consagrados. Além disso, não apenas o
lugar deveria ser consagrado, mas a pessoa tinha de ser ordenada, antes que uma
mensagem pudesse ser pregada. É por isso que Darby disse que, se assim fosse, nem
Paulo, Pedro ou João poderiam ter pregado, porque não tinham sido ordenados.
Considerava-se a pregação algo muito importante, considerava-se também o lugar
muito importante, e considerava-se o estabelecimento de novas igrejas ainda mais
importante. Nem mesmo durante a Reforma, Lutero se atreveu a estabelecer uma
igreja. Foi o poder político que o obrigou a fazê-lo. Entretanto, depois que Wesley foi
levantado, tal tipo de influência, gradualmente, começou a mudar. Assim, a igreja
internacional passou a ser as igrejas nacionais, e as igrejas nacionais transformaram-
se nas igrejas independentes.
Entre tais igrejas independentes, uma doutrina que se tornou bastante dominante
foi o assim chamado Con-gregacionalismo, a significar que cada congregação inde-
pendente é uma igreja. Quem creu no Congregacionalis-mo? Os Congregacionais e os
Batistas. Que significava o Congregacionalismo? Muitos filhos de Deus entre eles, lendo
a Bíblia, viram que as igrejas, na Bíblia, eram todas independentes umas das outras. A
igreja em Jerusalém tinha sua própria administração; a igreja em Antioquia cuidava
dos seus próprios assuntos; a igreja em Corinto, assim como a igreja em Éfeso,
também tinha sua própria administração. Portanto criam que, embora a igreja fosse
universal, cada congregação era a unidade de administração da igreja. Daí o chamar-
se "Congregacionalismo". Estabeleceram igrejas baseadas no Congregacio
nalismo. Cada congregação era uma igreja sem arcebispo sobre eles. Comparando com
outras igrejas independentes, isto representou melhoria. Vemos, agora, o progresso
nos diversos melhoramentos: a igreja internacional progrediu para as igrejas
nacionais; as igrejas nacionais progrediram para as igrejas independentes; e,
entre as independentes, algumas progrediram para as igrejas congregacionais.
O Erro do Congregacionalismo

O Congregacionalismo está, na realidade, bastante próximo da Bíblia, mas foi


um pouco além da Bíblia. Os irmãos Congregacionais estudaram a Bíblia, mas
fracassaram na descoberta da palavra "localidade". Falharam por não verem que
Jerusalém é uma cidade, e não uma congreação; Antioquia é uma cidade, e não uma
congregação; Éfeso é um porto, não uma congregação; Colossos é uma cidade
sobre um monte, e não uma congregação. Pensaram que Jerusalém, Antioquia,
Éfeso e Colossos fossem congregações, e, por isso, concluíram que as congregações
eram independentes umas das outras. A História da Igreja mostra-nos que a igreja
deteriorou-se até à época de Lutero. Com Lutero começou a restauração, o
aperfeiçoamento, até que o estágio das igrejas independentes foi alcançado.
Todavia, das igrejas independentes, as igrejas caminharam para um outro extremo,
isto é, para tomar a congregação como unidade. Tal tipo de igreja não apenas incluía
os Congregacionais e os Batistas, mas também, mais tarde, até mesmo os Irmãos
Abertos. Estes também consideravam a congregação como uma unidade, indo
para o mesmo extremo.
Gostaria agora de comentar um pouco com vocês por que o Congregacionalismo
está errado. É o que mais se aproxima da Bíblia, mas ainda está errado. O Senhor
deseja que, na mesma igreja local, nós nos amemos uns aos outros, recebamos uns
aos outros, e evitemos ciúmes, contendas e divisões. Mas a unidade do
Congregacionalismo toma a congregação como sua unidade de jurisdição. A
dificuldade aqui é que este assunto de congregação é incontrolável. Realmente, é
um problema difícil. Pode haver uma congregação na Rua Nanyang, 145, e outra na
mesma rua, número 143. Se amo os irmãos da Rua Nanyang, 145, vou reunir-me
com eles. Quando deles discordo, estabeleço outra congregação na Rua Nanyang,
143. Se você viu que a unidade é uma questão de localidade, só poderá estabelecer
uma igreja em outra cidade, mas não uma outra igreja aqui, em Xangai. A unidade da
localidade proíbe a qualquer pessoa estabelecer uma outra igreja numa localidade, se
uma igreja local já houver sido aí estabelecida. Temos de estar juntos em uma única
igreja local. Naturalmente, isto não é fácil; mas ainda precisamos amar uns aos
outros. Oh! como é grande a sabedoria do Senhor, ao colocar-nos em localidades, ao
dar-nos a localidade como limite. Somente aqui, podemos realmente encontrar a
cruz para carregar e a lição para aprender.
Qual é o significado da Igreja Congregacional? Significa que, dentro de cada
localidade, pode haver várias congregações, cada uma delas tendo uma unidade
dentro de si, e sendo elas independentes umas das outras. Esta é uma questão
muito séria. A unidade do Congregacionalismo é um outro erro. O erro da igreja
internacional vai para um extremo, fazendo com que muitas localidades tenham uma
só igreja; mas o erro das igrejas congregacionais vai para o extremo oposto, fazendo
com que uma localidade tenha muitas igrejas. A Igreja Católica Romana está em um
extremo, com muitas localidades e uma só igreja; e as igrejas congregacionais
estão no outro extremo, com uma localidade e muitas igrejas. É como um pêndulo.
Oscila para um lado, com muitas localidades possuindo uma igreja; e oscila para o
outro lado, com uma localidade tendo de cinco a dez igrejas. No século passado, os
Irmãos foram levantados, mas alguns deles também caíram no
Congregacionalismo. Houve duas divisões principais: Os Irmãos Fechados e os
Irmãos Abertos. Os Irmãos Fechados ainda estão ao lado da igreja unida; os Irmãos
Abertos caminharam para o outro lado, tornando-se congregações, as assembléias
de "capela". Pode haver uma assembléia numa rua e outra assembléia em outra rua,
nada tendo a ver uma com a outra. Isto significa que eles podem ter muitas igrejas
em uma localidade.

Uma Localidade com Uma Igreja

Precisamos, portanto, ver muito claramente, diante de Deus, que, na Bíblia,


existe "uma localidade com uma igreja"; ou, em suma, "uma localidade, uma
igreja". Este é um princípio básico da Bíblia. Se estudarmos a questão da igreja,
deveremos ser capazes de compreender este princípio: "uma localidade, uma
igreja". Todos os erros vêm da sua violação. "Uma localidade, uma igreja" é o
pêndulo. Quando oscila para um lado, está errado, porque faz com que três ou
quatro localidades tenham uma só igreja, ou que o mundo todo tenha uma só igreja.
Quando oscila para o lado oposto, também está errado, porque faz com que uma
localidade tenha várias igrejas. Ou há algo anormal ligado à localidade, ou há algo
anormal ligado à igreja. Na Bíblia, temos "uma localidade, uma igreja".
Quando o Novo Testamento foi escrito, a população da cidade de Jerusalém era
aproximadamente um milhão de pessoas. Era uma das cidades mais populosas do
mundo de então. Muitas localidades na China ainda hoje não têm esta população.
Naquela ocasião, três mil pessoas foram salvas, e depois cinco mil. O número dos
salvos, por fim, atingiu um total de várias dezenas de milhares. Aquilo foi realmente
extraordinário. Como não havia lugar suficientemente grande para se reunirem, eles
precisavam reunir-se de casa em casa. Todavia a Bíblia não diz "as igrejas em
Jerusalém", no plural. Duvido que eles pudessem facilmente encontrar um local de
reuniões suficientemente grande para acomodar três ou cinco mil pessoas. É possível
que se reunissem no deserto; nós não sabemos. Embora a cidade fosse tão grande,
e os cristãos tão numerosos, mesmo assim eles ainda eram uma igreja. A Bíblia,
portanto, nos mostra: uma localidade, uma igreja.
Vemos claramente que a Igreja Católica Romana oscilou para um extremo, com
o princípio de ter muitas localidades com uma só igreja. E, hoje, um outro grupo de
pessoas no mundo está no outro extremo, com o princípio de uma localidade com
muitas igrejas. Na mesma localidade, vocês são uma igreja, e nós somos outra igreja:
isto é Congregacionalismo! Para eles, é suficiente uns aos outros se amarem dentro da
mesma congregação, e não se preocuparem com outras congregações. Os Irmãos
Abertos foram para este lado, na direção da Igreja Congregacional. Os Irmãos
Fechados caminharam para o lado oposto, na direção da Igreja Católica Romana.
Assim, enfrentamos um enorme problema na China. O testemunho que mantemos
aqui precisa resistir à obra da Igreja Católica Romana, por um lado, e à obra das
Igrejas Congregacionais, por outro lado. Hoje, na China, se nos descuidarmos um
pouco, aparecerá entre nós o Congregacionalismo. Se estivermos claros sobre "uma
localidade, uma igreja", então enxergaremos claramente o que é o Catolicismo Romano
e o que é o Congregacionalismo. Por exemplo, Hsi-An é uma localidade; portanto deve
haver lá uma igreja. Não importa se a igreja em Hsi-An é boa ou má; ela é lá a única
igreja. Se está tudo certo entre mim e os irmãos em Hsi-An, estou na igreja em Hsi-
An; mas, se está tudo errado entre mim e esses irmãos, ainda estou na igreja em Hsi-
An.
Vejamos, agora, as conseqüências do Congregacionalismo. Se tudo vai bem entre
mim e os irmãos, então parto o pão com eles; caso contrário, você ama o seu grupo,
e eu amo o meu; e, de agora em diante, vamos partir o pão separadamente. Tal
modo de partir o pão nada custa, e é desnecessário convidar um pastor. Pode-
mos/simplesmente, preparar uma mesa como preferirmos, e partir o pão. Podemos
formar outra igreja, amar uns aos outros, lavar os pés uns dos outros desde a manhã
até à noite, fazer de cada refeição uma festa de amor, e ter uma ótima comunhão. Mas
a Bíblia diz: "uma localidade, uma igreja!". A Bíblia diz que "nós (os cristãos da mesma
localidade), embora muitos, somos unicamente um pão" (l Co 10:17). Mas, que são
vocês? Vocês, embora poucos, são dois pães. Vocês dizem: "Nós somos um pão, e
vocês também são um pão". Isto é o Congregacionalismo. E uma situação terrível
para a igreja, o aparecimento do Congregacionalismo. O Catolicismo Romano,
durante o período de onze séculos, teve apenas uma igreja. Se o
Congregacionalismo pudesse existir também por um período de onze séculos,
poderia haver centenas e milhares de igrejas. Os que gostam de contendas sempre
buscam motivo para contenda. Suponhamos que sendo eu um contendor, tenha
encontrado um irmão com que contender. Mais tarde, a contenda terminará em
divisão. Então eu sofrerei, porque não terei ninguém com quem contender. Precisarei
procurar um outro irmão. Isto é pavoroso. A igreja não somente será dividida em
muitos pedaços, como também defenderá mais divisões. Se o princípio é errado, as
dificuldades continuarão: sempre que surgir algo que não for do seu agrado, você
estabelecerá uma mesa, e o outro estabelecerá uma outra.
O Senhor nos mostrou que uma localidade deve ter somente uma igreja, que uma
localidade deve somente ter uma administração. Por isso, devemos estar limitados pela
localidade. Se qualquer irmão não é um comigo, devo lavar-lhe os pés e rogar-lhe
que seja um comigo. Aqui, há lições para eu aprender; o meu gênio tem de ser
tratado. Preciso descobrir a razão pela qual um irmão não deseja ser um comigo, e
fazer o máximo possível para ajustar essa situação; caso contrário, não haverá jeito
de prosseguirmos. Se agirmos de acordo com o Congregacionalismo, ficará tudo
muito conveniente. Cada vez que surgir algo desagradável, ir-me-ei e estabelecerei
outra igreja. Então, em Xangai, poderá não só haver vinte e quatro reuniões em
casas, mas também vinte e quatro igrejas. Conseqüentemente, aparecerá uma
localidade com muitas igrejas; e isto é algo muito sério. A unidade da igreja Católica
Romana é contrária às Escrituras, e a unidade "espiritual" ficou aquém do objetivo
do Senhor. A unidade das Escrituras é aquela de uma localidade com uma igreja.
Isso torna impossível o não sermos um em cada localidade.
Há um bom número de irmãos, por exemplo, com os quais a igreja realmente
busca a unidade. Sabe qual é a atitude deles? Nestes últimos dias, ouvi alguém
dizer assim: "Podemos conversar e ter comunhão uns com os outros, muito embora
vocês tenham sua igreja, eu tenha a minha, e ele, a dele. Todos somos um. Todos
estamos em nossas próprias posições para sermos um com os outros. Todos temos
nossos próprios anciãos e diáconos; porém nós nos respeitamos uns aos outros".
Devo dizer seriamente a esses irmãos que deve haver apenas uma igreja em uma
localidade. Eu disse ao irmão que me falou deste modo: "Esse seu pensamento junta,
de um modo todo-inclusivo, todos os irmãos que estão em uma localidade com
muitas igrejas. Isto pode agradar só a algumas igrejas. Hoje, com sua esperteza,
você pode tratar do passado e tratar dele muito bem; mas que fará no futuro? Todos
nós por fim morreremos. Então que você deseja que os irmãos jovens venham a fazer
no futuro? Hoje, se os nossos irmãos, em cada lugar, praticam o Congre-
gacionalismo, sem nada dizerem sobre a nossa obediência ao Senhor, mas apenas
permitindo tal tipo de unidade, que faremos com relação ao futuro? Suponhamos que,
hoje, você possa estar bem com as cinco congregações antigas. Haverá, no entanto,
algumas dificuldades no futuro, e, com elas, a sexta congregação aparecerá. Mais
tarde, havendo mais dificuldades, surgirão a sétima e a oitava. Que você fará? Todos
vocês devem ver que este é um princípio básico. O mandamento do Senhor é muito
claro: por um lado, Ele não permitirá que tenhamos uma igreja unida, para que não
nos tornemos um poder na terra e entre os homens. Por outro lado, não permitirá que
uma igreja se torne várias igrejas em uma só localidade. Caso contrário, ocorrerão
contendas intermináveis no futuro.
Hoje, gostaria de que vocês vissem que o Con-gregacionalismo é o resultado de
alguns irmãos terem visto a verdade na Bíblia, mas não a terem visto acuradamente.
Não há congregações na Bíblia. Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Tiatira e Laodicéia são
todas localidades. Através de tantos anos de História da igreja, a luz do Senhor
tornou-se cada vez mais clara: da igreja internacional à igreja nacional; da igreja
nacional à igreja independente; e da igreja independente, uni tanto além do padrão
normal, ao Congregacionalismo. Agora, nestes últimos vinte ou trinta anos, o
Senhor nos conduziu a ver a igreja local. Está suficientemente claro. A igreja, hoje,
está tomando o caminho dos apóstolos. A igreja é local! Nunca se orgulhe, dizendo
que isto é pregado por nós. Isto é a graça de Deus. Ele permitiu que Seus filhos
tateassem por mais de mil anos. Graças a Deus! Herdamos o que eles ganharam, e
encontramos o caminho. Graças a Deus! Eles viram o caminho do
Congregacionalismo. Embora errado, não deixa de ser uma melhoria. Viram que a
"única igreja" do Catolicismo Romano é errada. Mas melhoraram, indo além do
padrão.
Por que é que irmãos tão bons como os "Irmãos" também tiveram contendas?
Porque um grupo deles tomou o caminho da igreja unida, e o outro grupo tomou o
caminho das congregações. A Missão Para o Interior da China também praticou o
Congregacionalismo. Hoje, a prática mais dominante é o Congregacionalismo. O
livrete escrito por Goodman, intitulado "Um Clamor Urgente", é também algo de
Congregacionalismo. Quando ocorre o Congregacionalismo? Quando há uma
assembléia numa certa rua, e outra na porta vizinha; e uma não toma
conhecimento da outra. A única unidade que buscam é a unidade dentro de sua
própria assembléia. Enquanto todos podem ser um, reúnem-se como uma
assembléia. Caso contrário, separam-se novamente. O tipo de amor de uns para
com os outros, conforme o Congregacionalismo defende, é este tipo de amor não
limitado pela localidade, sem as lições da mesma. Por isso, eu já disse repetidas
vezes, as lições da localidade são um assunto extremamente sério. Você mora nesta
cidade, e não lhe é fácil mudar-se daqui. O Senhor o colocou em certa localidade
para moê-lo passado, era Éfeso; hoje, mude para Tien-Hsui. Isso também é bem
razoável! No passado, era uma igreja; hoje ela não deve transformar-se em várias
igrejas. Sei que muitos irmãos, hoje, ainda estão voltando ao Congregacionalismo
das igrejas congregacionais. Não faz muito tempo, os irmãos em Xangai
defenderam as igrejas em casas. É simples, isto ainda está de acordo com o
princípio do Congregacionalismo. Por isso, vocês todos devem estar claros, a fim de
manterem "uma localidade, uma igreja". O pêndulo não deve oscilar para um
extremo, nem para o outro. Qual é a definição das igrejas em casas? Significa que
cada reunião numa casa é uma igreja. Assim, as reuniões nas casas se tornam as
igrejas" em Xangai. Se pudesse ser assim, então não somente haveria sete igrejas
na Ásia, mas também seria possível haver quatro igrejas em Corinto. Poderia haver
sete igrejas na Ásia, porque a Ásia era uma província; mas não poderia haver
quatro igrejas em Corinto porque Corinto era uma cidade. Os coríntios diziam: "Eu
sou de Paulo, e eu de Apoio, e eu de Cefas, e eu de Cristo". Foi por esse motivo que
Paulo disse que eles eram carnais. A igreja é uma só; é impossível haver quatro
igrejas em uma localidade. Uma vez resolvido este problema, todos os outros
também o serão.

Devemos mais Temer Fundar uma Igreja do que Fazer

Qualquer Outra Coisa

Finalmente, devemos dar atenção a um outro problema. Já vimos que a unidade


do Corpo se expressa na localidade. Se não damos atenção à unidade na localidade,
então todos os tipos de unidade são palavras vãs e não encontradas na Bíblia. A
unidade tem de ser expressa na localidade; doutro modo, é inútil falar-se dela. A
unidade, a fim de ser percebida, não deve esperar até quando formos para o céu,
porque lá todos seremos um. A unidade é ser um com os irmãos ao seu redor, hoje.
Caso contrário, o que resulta é o erro do Congregacionalismo. Os que estão na
Igreja Católica Romana aprenderam alguma coisa com relação à igreja, mas
aplicaram-na erroneamente. Cada um, na Igreja Católica Romana, viu que a igreja é
uma, mas estão errados com relação ao limite. Pensam que, hoje, há só uma igreja
na terra. E nós? Em certo ponto, somos como eles, pois já vimos que a igreja é uma.
Mas eles têm uma igreja para toda a terra, e nós temos uma igreja para cada
localidade. Porque o Catolicismo Romano crê que há somente uma igreja em toda
a terra, seus irmãos aprenderam a lição de não se atreverem a estabelecer
qualquer outro tipo de igreja. Este é um bom aspecto. Não importa quão grandes
sejam as dificuldades; eles ainda continuam juntos e não se atrevem a dividir-se.
Já que viram que a igreja é uma, eles pecariam contra o Senhor se gerassem
divisões. Hoje, como estamos aprendendo a mesma lição sobre este aspecto,
espero que tenhamos o mesmo resultado: de também não nos atrevermos a
estabelecer outras igrejas, mas permanecermos com os irmãos, a fim de aprender
a mesma lição.
Não sei como falar hoje aos irmãos. Sinto que deveríamos aprender
integralmente, perante o Senhor, que podemos fazer qualquer coisa, exceto
estabelecer outra igreja. Quando nos mudamos para uma localidade, temos a
liberdade de fundar uma escola, um hospital, uma companhia ou uma fábrica. Temos
a liberdade de fazer o que bem entendemos. Mesmo que isso não seja do Senhor, o
pecado não é o mais grave. Não estou dizendo que você deve ser desobediente à
vontade do Senhor, mas estou dizendo que o erro que você cometeria não seria o
maior. Mas é certo que você jamais pode sair para estabelecer uma outra igreja. Estabe-
lecer igrejas de acordo com os nossos próprios desejos é o maior pecado. Devemos
mais temer fundar um igreja do que fazer qualquer outra coisa.
Irmãos, vocês percebem a seriedade deste assunto? Nada é pior do que
estabelecer igrejas de acordo com os nossos desejos. Você pode fundar qualquer
coisa, mas nunca deve fundar uma igreja, porque isto envolve o problema do
Corpo de Cristo. Todos devemos estar bem claros diante de Deus, com relação a
este assunto.
Por essa razão, aonde quer que formos, precisaremos procurar ver se existe ou
não uma igreja nessa localidade. Não é uma questão de a igreja lá ser forte ou não. Este
é um outro assunto. Não importa se a igreja lá é ou não espiritual. Isso é algo
secundário. Se há uma denominação neste extremo, ou uma Igreja Católica Romana
no outro extremo, se há muitas igrejas numa localidade, ou uma igreja em muitas
localidades, então veremos que não há igreja alguma naquela localidade, e
poderemos estabelecer lá uma igreja. Pelo fato de a igreja ser local, ela não é nem
Congregacionalismo nem unionismo.
Se já existe uma igreja local em uma localidade, jamais deveremos estabelecer
uma segunda igreja. Devemos temer estabelecer uma outra mesa para o partir do
pão. Isso é algo terrível.
Hoje, meu coração dói, por causa dos que leram alguns dos nossos livros e viram
um pouco da verdade da igreja, e dizem: "Vamos reunir-nos". Irmãos, não é tão
simples assim! Não podemos estabelecer uma igreja desleixadamente, a nosso
bel-prazer. Antes de tudo precisamos ver se já existe uma igreja em nossa localidade.
Se ela já existir, devemos comunicar-nos com esses irmãos, mesmo que isso seja
contra a nossa vontade. Se há uma denominação ou uma seita, não temos jeito de
nos unir a ela, pois não podemos posicionar-nos nas denominações. Mas, se é uma
igreja local, não posso estabelecer uma outra igreja, mesmo que vejamos nela alguns
erros. Só posso ajudá-la por meio de ensinamentos, mas não estabelecendo outra
igreja. Meu coração se angustia, porque há muita gente que não tem temor de
estabelecer uma outra igreja. Supõem que esta seja uma questão muito simples, e
que só discutindo-a com três ou quatro dentre eles, podem imediatamente
estabelecer uma igreja. Os irmãos que são de certo modo dotados, ou que têm
algum conhecimento bíblico, ou que são pregadores capazes, pensam que pódem
estabelecer uma igreja. Suponhamos que eu tenha problemas com meus irmãos. Já
não me seria mais difícil sair para pregar, estabelecer a Mesa do Senhor, construir
um local de reuniões. Mas eu jamais poderia fazê-lo, porque deve haver apenas
uma igreja em cada localidade.
Portanto, irmãos, temos de ser hoje conduzidos ao ponto de jamais cometer o
pecado de dividir o Corpo de Cristo. Há somente um Corpo de Cristo. Eu não desejo
ser tal pessoa carnal, uma pessoa da carne, que causa divisões. Quando todos os
irmãos estiverem firmes nesta posição, nosso aprendizado e nossa espiritualidade
aumentarão, estaremos realmente capacitados a andar na vereda da igreja, e
todos os irmãos e irmãs terão a verdadeira unidade, não a unidade grande e
externa, que internamente é obscura, nem a unidade "espiritual", que lhe permite
ser uma divisão, e a mim, uma outra.
O livrete "Um Clamor Urgente" menciona que, na conferência de Keswick,
Inglaterra, tem-se a unidade em Cristo durante uma semana por ano. Gostaria de
perguntar: e as outras cinqüenta e uma semanas do ano? Se somos um em Cristo,
devemos ser um durante as cinqüenta e duas semanas do ano. Se é para estarmos
divididos, então deveremos estar divididos todas as cinqüenta e duas semanas.
Mas, o estranho é que, em Keswick, há unidade durante uma semana por ano, e,
depois, todos voltam às suas divisões outra vez. Ainda assim, alguns consideram
isso como um fenômeno de unidade. Mas, se é para guardarmos a unidade,
vamos guardá-la todo o tempo. Se é para guardar a unidade só uma semana
anualmente, e voltarmos a estar divididos o resto do ano, então preferimos ficar
em Keswick todos os dias, e jamais partir. Temos de ver a unidade completa e
absoluta, não a assim chamada unidade "espiritual". O termo é bom, mas está
sendo usado em sentido diferente. A unidade que vemos é a unidade do Corpo de
Cristo expressa na localidade. E esta expressão na localidade que faz com que
muitas pessoas sejam incapazes de ir até o fim. Este é um grande teste.
Obviamente, se Deus tirar a palavra "localidade", então tudo é conveniente. Então
poderemos ter algumas reuniões onde todos se reúnam e conversem, e, depois,
voltem para as suas divisões novamente.
Eu desejo que os irmãos na China, hoje, vejam que a igreja é local. Mais tarde,
pela misericórdia de Deus, poderemos ter várias centenas ou vários milhares de igre-
jas locais levantadas. Elas também poderão espalhar-se até países estrangeiros, ao
mundo ocidental, de onde veio o evangelho. Espero que os nossos irmãos na China
não sejam influenciados pelo Congrcgacionalismo. Não há nada no
Congregacionalismo, exceto uma coisa: divisão. Ele divide uma localidade em muitas
facções. Espero que os irmãos e irmãs tenham um coração que tema estabelecer novas
igrejas, podendo atrever-se a fazer qualquer coisa, exceto estabelecer uma igreja.
Precisamos ver seriamente que o Corpo de Cristo é expresso na localidade. Natural-
mente, não podemos forçar outros a tomarem este caminho. Se há uma denominação
numa localidade, isso é outra coisa. Se há uma divisão numa localidade, isso
também é outra coisa. Mas, se já existe uma igreja nessa localidade, não deveremos
estabelecer outra igreja. Andando assim, creio que, na China, o caminho da igreja será
percorrido de maneira melhor.

Um Problema

Um irmão pergunta: "Já que a palavra referente à unidade da igreja sai de nós, as
pessoas podem nesta época, com muita facilidade, entender erroneamente o fato de
estarmos pedindo-lhes que se unam a nós. Por que não nos unimos a eles?"
Para responder esta questão, temos de mostrar-lhes que o problema básico é
este: perante o Senhor, podemos ceder em certas coisas; mas há outras em que
jamais poderemos comprometer-nos. Quais são estas coisas em que nunca
poderemos comprometer-nos? São os ensinamentos da Bíblia, porque são a
Palavra de Deus. Ainda que quiséssemos, não poderíamos comprometer-nos. Posso
falar de um jeito ou de outro, mas será inútil. Não poderemos alterar a Palavra de
Deus. Em quais coisas poderemos ceder? Poderemos ceder em nossa própria
posição. Em relação aos nossos irmãos que estão nas denominações, quer nas
igrejas congregacionais, quer na igreja unida, no que tange às coisas em que não
podemos comprometer-nos, não devemos ceder nem um pouco, mas permanecer
firmes. No entanto, nas coisas em que podemos ceder, deveremos fazê-lo, pois
devemos buscar a unidade. Há dois pontos em que não podemos comprometer-nos:
1- Denominações são pecado; portanto nisto não podemos comprometer-nos.
Deus disse que as divisões (seitas, denominações) são da carne. Não podemos
dizer que as divisões são espirituais. Se não somos fiéis ao Senhor, não somos
Seus servos, e não podemos pregar Suas palavras. As denominações devem ser
condenadas. Este é o aspecto negativo.
2- Temos de solicitar-lhes reconhecer que a igreja é local. Este é o aspecto
positivo, no qual jamais podemos comprometer-nos, ainda que pouco. Deve haver
somente uma igreja em cada localidade, e não várias igrejas. Esta é a Palavra do
Senhor, e não temos autoridade para alterá-la. Não podemos mudar nenhum dos
dois pontos. Uma vez que o problema referente à Palavra do Senhor ficar
esclarecido, já não se perguntará se você deve unir-se a mim ou se eu devo unir-
me a você, pois isto já não envolverá mais a Palavra do Senhor, mas apenas
nossas posições. Se ainda tivermos de considerar" o assunto, estaremos errados e
não seremos servos do Senhor.
Uma vez unidos hoje, o que acontecerá com as divisões que talvez surjam no
futuro? Já que eles, há pouco, começaram a andar neste caminho, os problemas
facilmente podem surgir outra vez. Aos que já fizeram certa coisa antes, é-lhes
muito fácil fazê-la novamente. Aos que andaram antes no caminho das
denominações, é-lhes muito fácil voltar a este mesmo caminho. Não é que não
confiamos em nossos irmãos, mas o fato é que eles devem condenar as
denominações como pecado. Então Deus os libertará delas. Se não condenarem as
denominações como pecado, ainda que tenham saído delas, certamente surgirão
problemas no futuro. Hoje, se usarmos manobras para atingir a unidade, problemas
ainda surgirão. Não deveremos relaxar quanto a esses dois pontos, isto é:
denominações são pecado, e a igreja é local. Devemos dizer-lhes que temos trilhado
esse caminho por mais de trinta anos, e que esperamos que eles também andem
juntamente conosco.
Por outro lado, está correto até mesmo pensarmos que nunca andamos neste
caminho e começarmos tudo novamente. Por ser esta a nossa história, não há
problema em nos considerarmos unidos a eles. A Palavra do Senhor é do Senhor, e
não podemos abandoná-la; mas a historia, que é nossa, sim, a esta podemos
abandonar. A igreja é local, e as denominações são pecado. Nestes dois pontos, não
podemos relaxar. Quanto à questão da posição, podemos ter um novo começo
amanhã. Nós rejeitamos as denominações; eles também rejeitam as denominações:
e assim nos unimos todos, tornando-nos a igreja local. Que vocês acham? A história
é nossa, mas a isso podemos abandonar, e começar tudo de novo. Eles não existem,
e nós também não existimos; mas, amanhã, todos existiremos. Que vocês acham?
Tudo o que pode ser abandonado, nós abandonaremos; mas a Palavra do Senhor,
a esta, de maneira alguma, abandonaremos; dela não podemos abrir mão. Este
problema é facilmente resolvido. Isto não é uma dificuldade.
Com relação à administração, também só pode haver uma em cada localidade.
O Congregacionalismo tem várias administrações em cada localidade. Atos 14:23
diz que Paulo e Barnabé estabeleceram presbíteros em cada igreja. Se este fosse o
único registro da Bíblia alusivo à ação de Paulo, pqder-se-ia dizer que é possível
haver várias igrejas numa localidade, e presbíteros em cada uma dessas igrejas.
Todavia, se vocês lerem Tito 1:5, verão que a situação é diferente. Paulo diz:
"em cada cidade, constituísses presbíteros". Quando juntamos estes dois textos,
sentimos que o assunto é muito específico. Por um lado, diz "em cada igreja", e, por
outro lado, diz "em cada cidade". Presbíteros, portanto, são constituídos para
cada igreja, e a cidade é o limite da administração dos presbíteros na igreja. Muitos
irmãos e irmãs crêem que a questão de terem unidade conosco é meramente
espiritual, e que a sua administração ainda continuará independente. Esse não é o
ensinamento das Escrituras. Cada localidade deve ter somente uma igreja e uma
administração. É impossível haver várias igrejas e várias administrações em uma
só localidade. Já que esta é uma questão muito importante, precisamos ficar bem
claros a seu respeito. Só pode haver uma administração em uma cidade, jamais
várias administrações. Se estivermos claros sobre esse assunto, haverá poucos
problemas. Doutro modo, quando você tiver problemas numa reunião, irá para
uma outra reunião. Se numa reunião você não é recebido, poderá ir a outra
reunião e ser recebido. Se os filhos de Deus enxergarem a unidade da igreja, não
só a comunhão entre os irmãos e as irmãs será uma, mas também a
administração será uma.
CAPÍTULO CINCO

O SERVIÇO DA IGREJA

(Partes de duas palestras proferidas pelo irmão Watchman Nee a seus cooperadores,
quando os treinava no Monte Kuling, no ano de 1948. A primeira parte foi publicada
no capítulo cinqüenta e um de "Lições para os Novos Cristãos", em abril de 1949. A
segunda parte foi publicada no terceiro capítulo de "As Questões da Igreja", em março
de 1950).

Ainda que a igreja tenha a base adequada exteriormente e o conteúdo correto


interiormente, isso ainda não é o bastante. Ela também deve ter o serviço, o serviço da
igreja.
Este tem sido negligenciado por todas essas gerações. Ainda hoje, não temos
uma compreensão adequada a esse respeito.
O serviço da igreja é uma coordenação espiritual, uma coordenação dos santos
na vida e no Espírito Santo. O serviço da igreja é a atividade espiritual dos santos,
membros uns dos outros no Espírito Santo, como um corpo, cada membro
trabalhando, de acordo com sua função. Não é o movimento independente de um
indivíduo, mas é o movimento coordenado de todos os santos. Não é o serviço de
uma pessoa individualmente, mas de todos os santos, servindo juntos. Não é o
serviço de um pastor, mais um pregador e vários presbíteros e diáconos; mas é o
serviço em que todos os santos participam juntos.
Se urna igreja é normal, o número de pessoas salvas deve ser também o
número das pessoas que servem. No Novo Testamento, todos os salvos são
sacerdotes; todos, portanto, devem servir. Se, numa igreja, apenas uma minoria
ou uma parte está servindo, algo está errado nela. Ela ainda é fraca. A igreja só é
forte, quando todos servem.

1. O SERVIÇO DO CORPO

A "igreja... é o Seu Corpo" (Ef 1:22-23). O serviço da igreja, portanto, deve ser o
serviço do Corpo.
"Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé:
Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o
ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser.
Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o
olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe
aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?... A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas,
em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? ou
todos profetas? são todos mestres? ou operadores de milagres? têm todos dons de
curar? falam todos em outras línguas? interpretam-nas todos?" (l Co 12:14-19,
28-30).

Há Diferentes Membros no Corpo.


O Espírito Santo dá aos membros do Corpo de Cristo vários tipos de dons e
ministérios, de acordo com as necessidades do Corpo. O Senhor dá diferentes tipos
de ministérios a esses membros, para que as necessidades de todo o Corpo possam
ser supridas. Hoje, Ele dispôs os vários ministérios no Corpo. O próprio Senhor sabe,
e jamais fará o Corpo inteiro ser um olho, ou um pé, ou uma orelha. Ele dá ao Corpo
diferentes tipos de ministérios, para suprirem toda a igreja. Assim como um corpo
precisa de muitos membros, também a igreja necessita de vários ministérios,
principalmente para o serviço espiritual. Observem aqui que alguns têm o ministério da
Palavra, e outros têm a operação de milagres. Tanto o ministério da Palavra quanto o
serviço sobrenatural, o serviço de milagres, são aqui mostrados.

Deve Haver Espaço para Todos os Membros Servirem

Você sabe o que é igreja? Uma igreja precisa ter espaço para que todos os
ministérios sirvam o Corpo. Isto é a igreja. Está bastante evidente que a igreja são
todos os irmãos e irmãs, incluindo aqueles que são considerados não decoro-sos,
executando as funções de seus ministérios espirituais, cada um servindo ao Senhor.
É impossível ao Corpo ter muitos membros inúteis. Vocês devem ver que todos são
membros do Corpo, que cada membro tem sua função, e que cada membro deve
cumprir seu serviço perante Deus. Isso então pode ser chamado de igreja.

Cada Membro Tem o Serviço de Seu Ministério

Lendo l Coríntios 12, Efésios 4 e Romanos 12, vemos que há três categorias de
ministérios. Observamos aqui o ministério da Palavra e também o ministério dos
milagres, ambos para o crescimento do Corpo. Cada membro do Corpo tem o serviço
de seu ministério. Se você é cristão, é membro do Corpo, e como um membro do
Corpo, deve cumprir seu serviço perante Deus. Enfatizamos o serviço universal. Cada
um deve ter seu serviço específico, e servir adequadamente perante Deus. Cada um
deve servir. Espero que todos os filhos de Deus, um por um, sejam conduzidos ao
ponto de todos servirem. Uma vez que cada membro tem sua função, esperamos que
não haja nenhum que deixe de servir.

Não se Deve Permitir a Existência do Sistema em que um Cuida de


Todos

Se, num determinado lugar, os membros não servem, mas, ao invés disso, existe
um sistema em que todas as questões de todo o Corpo são confiadas aos olhos, isso
certamente não é o Corpo. As mãos não trabalham, mas pedem aos olhos que
trabalhem; os pés não andam, mas pedem aos olhos que andem; a boca não
come, mas pede aos olhos que comam o nariz não cheira, mas pede aos olhos que
cheirem.
Que é isso? Isso não é o Corpo; é um monstro! Se encontrarem uma
organização ou um sistema onde uma ou duas pessoas cuidam das questões de
todo o Corpo e onde todo o restante dos membros não precisam servir, e, contudo,
o Corpo prossegue em frente, digo-lhes que isso certamente não é a igreja, nem é
possível que isso seja a igreja. Onde já se viu uma pessoa cujo corpo nada faz, mas
todas as funções são confiadas a um ou dois membros? Os ouvidos não ouvem, mas
pedem aos olhos que ouçam; o nariz não cheira, mas pede aos olhos que cheirem;
as mãos não trabalham, mas pedem aos olhos que trabalhem; os pés não andam,
mas pedem aos olhos que andem por eles. Os olhos são solicitados para fazer tudo;
um membro faz tudo. Permitam-me dizer-lhes, pois está bastante patente, que isso
não é o Corpo de Cristo. Isso é uma doença, uma doença grave.
Portanto, irmãos, vocês devem observar que, na igreja, cada um tem um
ministério diante de Deus; cada membro precisa servir. Na igreja, todos devem
servir, sem a existência de qualquer sistema de "um por todos". Não deve haver um
membro, nem tampouco alguns membros representando todos os demais a
cuidarem dos problemas. Se existe uma situação assim, devemos saber que isso não
é o Corpo de Cristo. O sistema que não concede lugar para que todos os membros
sirvam, certamente não é o sistema do Corpo. No Corpo, os olhos podem estar muito
ocupados, a boca também, assim como os pés, e as mãos; contudo, não há conflito
algum entre eles. Se a boca, os pés, as mãos e o nariz estão inativos, então deve
haver alguma doença no Corpo. Quando os olhos, os pés, a boca e as mãos se
movem, você pode ver a coordenação do corpo. Isto é o Corpo. Se alguns servem e
outros não, se uns são sacerdotes e outros não, se somente um ou poucos têm a
permissão de ser sacerdotes, você pode ver claramente que isto não é o Corpo.
Vocês precisam fazer com que todos os irmãos e as irmãs vejam este princípio, este
caminho.

2. TODOS OS MEMBROS DEVEM FUNCIONAR

Veja Romanos 12:4-8: "Porque, assim como num só corpo temos muitos
membros, mas nem todos os membros têm a mesma função; assim, também nós,
conquanto muitos, somos um só Corpo em Cristo e membros uns dos outros,
tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja
segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que
ensina, esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta, faça-o com dedicação; o que
contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia,
com alegria".

Os Dons Variam de Acordo com a Graça Recebida

Outra coisa que necessita de atenção especial no Corpo é que cada um não recebe
a mesma medida de graça. Desde que a graça que cada um recebe varia, os dons
recebidos por cada um diante de Deus também variam. Acabamos de ler l Coríntios
12. Sua ênfase está no ministério da Palavra e no ministério dos milagres; esta é a
esfera de l Coríntios 12. E quanto a esta passagem de Romanos 12? Aqui também
há o ministério da Palavra; mas, além disso, há também o ministério de servir os
outros na igreja, assim como a obra dos levitas. Alguns contribuem, outros presi-
dem, e alguns exercem misericórdia. Aqui se pode ver o ministério da Palavra e a
obra dos levitas.

Aqueles que Servem Devem Concentrar a Atenção no Seu


Serviço

Deve haver lugar no Corpo para que todos os membros sirvam. Já o vimos em l
Coríntios 12. Romanos 12 no-lo mostra novamente: para todo aquele que é dotado,
seja no ministério da Palavra ou no ministério de servir os outros, o mandamento é que
ele deve servir nessa conformidade. Em outras palavras, você não deve interferir nos
assuntos dos outros, e pisar nos seus pés. Enquanto estiver caminhando, não pise no
calcanhar dos outros. Siga o seu caminho, e aja de acordo com o dom que Deus lhe
deu. Aquele que profetiza, que profetize de acordo, e não cuide de outros assuntos.
Aquele que exorta, que o faça sem tentar cuidar de outras coisas. Aquele que
preside, que presida corretamente na igreja e não interfira no trabalho dos outros. A
disposição natural do homem gosta de se intrometer nos negócios dos outros.
Irmãos, vocês precisam ver que cada um deve servir de acordo com seu próprio
ministério, cada um cumprindo o que deve fazer e concentrando nisso sua atenção.
Essa passagem de Romanos 12 nos mostra que cada um deve servir de acordo com
aquilo que lhe foi designado. Cada um precisa saber perante Deus o que pode fazer,
que dom o Senhor lhe deu. Assim que souber, deverá exercê-lo de acordo, não se
intrometendo um no serviço do outro.

O Corpo não Deve Permitir que Membro Algum Negligencie Seu Dever

Quando cada um presta atenção ao seu próprio ministério e a ele se aplica


diligentemente, então temos o Corpo. O Corpo não deve permitir que membro algum
negligencie seu dever. Não devemos permitir que os membros se retraiam. Se os
olhos não enxergarem, todo o Corpo estará em trevas; se os pés não andarem, todo o
Corpo não poderá andar. Os olhos devem ver, e os pés devem andar. Mesmo que o dom
recebido de Deus seja bem pequeno, ainda assim esperamos que você não o
esconda .Quando falamos de Romanos 12, podemos introduzir o princípio de um talen-
to (Leia Mateus 25:14-30). Muito embora tenha recebido apenas um talento, ainda
assim você deve usá-lo. Vocês precisam ver que a igreja é o Corpo de Cristo. Por isso,
todo membro, quer tenha recebido um dom grande ou pequeno, seja este de cinco,
de dois ou de um talento, deve entregar tudo o que tem para servir. Se há alguém
que não serve assim, mas enterra o seu talento, não pode haver igreja alguma. Se
há alguns membros no Corpo que não funcionam, isso fará com que o Corpo sofra
grandemente.

Todos os que Receberam um Talento Devem Manifestar Esse Único


Talento

O crescimento vitorioso de uma igreja ou sua apatia não depende do fato de


aqueles que receberam cinco talentos se manifestarem e servirem ou não. (Por
conveniência, nos parágrafos seguintes, nós os chamaremos de "os de cinco
talentos", "os de dois talentos" e "os de um talento"). A responsabilidade total
está sobre os de um talento. De geração em geração, todas as dificuldades se
encontram não com os de cinco talentos, mas com os de um talento. Se os de um
talento estão bem, tudo está bem; se os de um talento enterram seu talento, tudo
está acabado. A dificuldade com os de um talento é que eles enterram seu talento
no solo, e, como resultado, você sente o peso da morte na igreja. Você nem
imagina como é grande este peso! Os de cinco talentos estão carregando, então, os
de um talento. Como é grande este peso de morte! Em qualquer época, em
qualquer lugar onde haja uma igreja, todos os de um talento devem manifestar os
seus talentos e negociá-los. Quando todos os de um talento manifestarem seus
talentos, haverá uma igreja nessa localidade.
Vocês mesmos devem observar, a fim de perceber que a direção correta de uma
igreja não é algo que depende apenas de seu trabalho, porém é mais uma
questão de vocês terem a capacidade de fazer com que todos os de um talento
manifestem seus talentos. Hoje, todos os problemas da igreja vêm dos de um
talento. O Senhor nos mostrou que não há ninguém cujo dom exceda cinco
talentos. Por um período de vinte anos, a igreja pode ter apenas um membro com
cinco talentos; mas, a cada dia, ela pode ter cinco pessoas, cada uma delas
possuindo um talento. Qualquer filho de Deus, mesmo aquele em pior condição,
ainda tem um talento. E cinco pessoas de um talento colocadas juntas, eqüivalem a
uma que tem cinco talentos. Se, hoje, na igreja, todos os de um talento
manifestassem seus talentos, não haveria necessidade de tantos grandes dons
entre nós. Apenas pelo despertar dos de um talento — deixem-me dizer-lhes — é
que o mundo inteiro será conquistado.

Cada Membro do Corpo Deve Agir

Vocês devem estar claros, portanto, de que o que importa não é o quanto
vocês mesmos podem trabalhar, ou quanto peso conseguem carregar, mas sim o
quanto vocês são capazes de levar todos os irmãos e irmãs, todos os de um
talento, a se levantarem para trabalhar e servir. Este é o caminho que vimos
principalmente nestes últimos anos: todos os de um talento devem levantar-se
para servir o Senhor. Se você é o único que está ocupado desde o nascer até o pôr-
do-sol, isso não será a igreja. Mas se você estiver ocupado desde a manhã até a
noite, e fizer com que todos os de um talento trabalhem e fiquem ocupados, tal
será a igreja servindo, tal será a igreja pregando o evangelho. É a igreja que está
trabalhando, é o Corpo que está agindo, e não alguns membros substituindo a
atividade do Corpo. Deste modo, a China começará a ter a igreja.

A Igreja é Todos os de um Talento Servindo

Você jamais deveria pensar que, por haver pessoas que se reúnem numa certa
localidade, temos então a igreja. Unicamente o Corpo de Cristo é a igreja, e o
Corpo de Cristo depende do funcionamento de todos os membros. O problema está
com os de um talento. Por essa razão, temos somente uma esperança, somente um
encargo, isto é: o serviço em cada localidade não deve depositar a ênfase sobre os
especialmente dotados, e sim sobre os menos dotados, sobre aqueles que, para os
homens, não têm valor algum, os que têm apenas um talento, esperando que todos
os que tenham um talento se levantem da terra. Você deve dizer-lhes que o lenço
destina-se a limpar o suor, não a embrulhar o talento (Leia Lc 19:20). O lenço de
cada um deve ser usado para limpar o suor; nenhum lenço deverá ser usado para
embrulhar talento.
Digo-lhes que, um dia, quando todos os de um talento se levantarem para servir o
Senhor, vocês verão que o Corpo estará entre nós, e também a igreja. Todo o
problema, hoje, é que os de cinco e os de dois talentos cuidam de todas as questões,
enquanto todos os de um talento são deixados inativos. Vocês devem fazer com que
os de um talento vejam que, embora, de fato, tenham apenas um talento, se traba-
lharem de acordo com o que têm, esta será a igreja, a vida do Corpo. Só podem
começar por aqui, e não de algum estágio mais avançado. Deixem que aprendam, dia
a dia, a fazer de acordo com sua capacidade, cada um servindo a Deus, ninguém
transferindo responsabilidade aos outros. Assim, você verá o Corpo de Cristo, a vida
do Corpo sendo plenamente expressa através dos de um talento.

3. TODO O CORPO DEVE APRENDER A SERVIR

Com relação aos afazeres da igreja, os irmãos e as irmãs devem preocupar-se


com eles e estar bastante claros a seu respeito. Não importa o tipo de obrigação;
todos devem arregaçar as mangas. Temos, por exemplo, a limpeza do local de
reuniões, o cuidado e a arrumação dos cobertores e lençóis pertencentes à igreja.
Tudo isso é característico do serviço dos levitas. O cuidado dos irmãos necessitados
entre nós, o hospedar e o despedir de irmãos e irmãs visitantes estão todos na
natureza do trabalho dos levitas. Vocês podem ver, perante Deus, que há muito
trabalho de natureza levítica. Há muito a ser feito no escritório de serviço da igreja,
o que está também na natureza do trabalho dos levitas.
Quando uma pessoa serve a Deus, por um lado, deve realizar o trabalho dos
sacerdotes e, por outro lado, o trabalho dos levitas: ambos são necessários. Por um
lado, você deve participar do serviço espiritual; por outro lado, você também deve
participar dos afazeres práticos. Estêvão e alguns irmãos estavam no trabalho de
servir as mesas: este é o serviço dos diáconos, o trabalho dos levitas. Quando os
discípulos distribuíam os pães, recolhendo depois doze cestos, e, noutra ocasião,
sete cestos, dos pedaços que sobejaram, estavam realizando a tarefa dos diáconos. A
responsabilidade de Judas pela bolsa era principalmente o dever dos diáconos. O
Senhor Jesus, no poço de Sicar, enviou seus discípulos a comprar alimentos: isso
também era trabalho dos diáconos. Todas essas coisas ocupam uma grande parte do
serviço cristão, e este tipo de serviço é o que todos, na igreja, devem aprender
adequadamente diante de Deus.

Ajudando nos Serviços Domésticos

Creio que posso dar aqui uma sugestão. Peço a atenção especial dos irmãos e irmãs.
Há muitos irmãos e irmãs que têm tempo livre. Também há irmãs que não têm tempo
para nada em seus lares: têm de cozinhar, cuidar das crianças, etc... Por que não
deixar que alguns irmãos, no serviço dos levitas, se levantem para assumir alguma
responsabilidade nesta questão, arranjando alguém que vá à casa do irmão ou da
irmã para ajudá-los? Os irmãos responsáveis podem dizer-lhes: "Há entre nós duas
irmãs que ajudarão vocês a lavar roupa duas horas por semana". Este também é um
trabalho dos levitas. No tempo de Atos, as viúvas gregas foram esquecidas na
distribuição diária, e houve murmúrios. Isto era a igreja. Ainda que não fosse algo
espiritual, mas um assunto prático, mesmo assim precisava ser feito.

Doze Itens de Afazeres Práticos

Há muitos afazeres práticos no serviço da igreja, que podemos considerar diante


do Senhor:

1 - O trabalho da limpeza;

2- As arrumações e a indicação no local de reuniões;


3- A necessidade de um grupo de irmãos e irmãs que cuidam do partir do pão e do
batismo. Alguns precisam ser responsáveis pelo pão e pelo cálice para a Mesa do
Senhor. O batismo também requer que alguns se encarreguem de ajudar as pessoas
que vão ser batizadas, no descer e no subir, na troca de roupas, etc. Todos eles
precisam ser treinados;

4- Cuidar dos irmãos pobres entre nós;

5- Ajudar os pobres dentre os incrédulos. No caso de enchentes ou incêndios, a


igreja deve lembrar-se deles;

6- Hospedar os irmãos que vêm de fora e despedir-se dos que vão;

7- A contabilidade;

8- A responsabilidade pela hospedagem;

9- Tarefas do escritório da igreja;

10- Os responsáveis pelo transporte. Nos lugares onde existem automóveis ou


transportes coletivos, é necessário que alguns se encarreguem do assunto;

11-Deve haver alguns que cuidem da correspondência que entra e da que sai;

12- Até este ponto, ainda nada temos para a grande maioria dos irmãos e irmãs
fazerem. Portanto, creio que talvez possam ser usados no ajudar os irmãos e
irmãs pobres em seus afazeres domésticos, como lavar, costurar roupas, etc...

Espero sempre que cada irmão e irmã leve uma carga nos afazeres da igreja.
Jamais se deve permitir que alguns estejam ativos, e outros não. O serviço da igreja
é sempre para o todo. Se, em nosso meio, há alguns irmãos e irmãs que têm tempo
livre, seria bom que ajudassem os outros irmãos e irmãs nos afazeres domésticos.
Cada semana você vai à casa de um irmão ou irmã diferente e faz algumas coisas
variadas para eles. Principalmente as irmãs que são donas de casa, que têm
dinheiro e boa posição, seria bom se fossem à casa de algum irmão ou irmã para
lavar e costurar algumas roupas. Elas não devem ter pessoas trabalhando para si,
enquanto nada fazem por outrem. Se estiverem prontas a ir às casas dos irmãos e
irmãs pobres, e ajudá-los em algum trabalho, com suas próprias mãos, haverão de
parecer cristãs.
Todas essas coisas se relacionam ao lado prático do serviço da igreja. Quanto a
este princípio, precisamos estar claros diante de Deus: todos os irmãos e irmãs
devem participar do serviço espiritual e também do serviço prático. Quer seja muito
ou pouco, sempre espere que todos trabalhem, e que o façam com toda a sua
força. Se esta questão puder ser organizada adequadamente, ela levará a igreja a
progredir passo a passo nos serviços. Irmãos, permitam-me dizer novamente:
vocês precisam ver que a responsabilidade que lhes cabe é muito grande; devem
estar muito ocupados, têm de trabalhar, trabalhar a tal ponto, até que introduzam
todos os irmãos e irmãs nesse estágio. Quando todos os irmãos e irmãs vierem e
servirem juntos, a igreja local terá o seu fundamento. Quando outros virem tal
situação, haverão de perceber que há uma igreja em nosso meio. Cada um de nós
trabalha, cada um de nós tem parte na questão dos afazeres práticos, e cada um
de nós tem parte nas coisas espirituais.

Fazer com que Todos os de um Talento Negociem

Gostaria de falar aqui aos irmãos responsáveis. Vocês têm um costume natural
de usar somente os irmãos de dois talentos. A história da igreja é sempre assim. Os
de cinco talentos podem subir por si mesmos, não há necessidade de cuidar deles.
Mas os de um talento são realmente difíceis de lidar; antes de falarem duas frases, já
se enterraram novamente. Os de dois talentos são os mais fáceis de lidar: têm
alguma habilidade, podem fazer as coisas bem feitas, e não enterram seus talentos.
Mas, se em cada lugar, você puder somente usar os de dois talentos, e não for capaz
de usar os de um talento, já fracassou completamente.
Já disse isto em Foochow, e também em Xangai, e hoje o repetirei novamente:
Quando temos a igreja? Ela existe quando todos os de um talento se levantam para
participar do serviço da igreja, tanto do lado prático quanto do lado espiritual. Você
não pode menear a cabeça dizendo: "Este irmão é inútil". Se disser que este e
aquele são inúteis, acabou-se a igreja, você fracassou completamente. Se você crê
que ele é inútil, então ele realmente será inútil. Você pode dizer-lhe que, segundo
ele próprio, é de fato inútil; mas que o Senhor lhe deu um talento e quer que todos
os possuidores de um talento saiam e negociem. O Senhor pode usá-los. Se você
não pode usar os de um talento, isso prova que, perante o Senhor, você não pode
ser um líder. E preciso usar todos os irmãos e irmãs que são inúteis. Isso é trabalho
dos irmãos cooperadores. Os irmãos cooperadores não só devem usar os irmãos úteis,
como também devem fazer com que os irmãos inúteis se tornem úteis.
O princípio básico é que o Senhor jamais deu a alguém menos de um talento. Na
casa do Senhor, nenhum servo pode desculpar-se, dizendo que não lhe foi dado
talento algum. Gostaria de que todos vocês soubessem isto: diante de Deus, todos
os Seus filhos são servos. Se filhos, então servos. Ou, em outras palavras, se
membros, então dons; se membros, então ministros. Se pensamos que há alguém a
quem o Senhor não pode usar, realmente não conhecemos a graça de Deus.
Precisamos conhecê-la tão integralmente, de modo que, quando Deus chamar
alguém de servo, jamais nos levantemos para dizer que ele não o é. Hoje, se você
fizer a escolha, talvez possa apenas juntar três ou quatro pessoas em toda a
igreja. Mas Deus disse que todos são servos. Se Deus disse assim, devemos
permitir que eles sirvam.
Irmãos e irmãs, de agora em diante, se temos ou não um caminho em nosso
trabalho, e se este caminho será ou não bem sucedido, isso depende daquilo que
dizemos hoje diante do Senhor, daquilo que dizemos sobre o nosso trabalho. Há
somente alguns que trabalham? Há vários que são dotados de maneira especial
realizando o trabalho? Ou todos os servos do Senhor têm uma parte nele, e toda a
igreja serve? Nisto consiste todo o problema. Se este problema não puder ser
resolvido, não existe coisa alguma.

O Corpo de Cristo é Vivo

O Corpo de Cristo não é uma doutrina; é algo vivo. Todos devemos aprender
isso: somente quando cada membro funciona, é que temos o Corpo de Cristo.
Quando cada membro está funcionando, então temos a igreja.
Hoje, o problema está em nossas mãos: herdamos o sistema sacerdotal do
Catolicismo Romano, herdamos o sistema pastoral do Protestantismo, e, até no dia
de hoje, se formos descuidados, aparecerá um certo tipo de sistema intermediário:
diante de Deus, alguns de nós cuidarão de todos os problemas do Seu serviço.
Simplesmente pregar o Corpo de Cristo é inútil: precisamos permitir que Ele
trabalhe e demonstre Suas funções. Uma vez que seja o Corpo de Cristo, você não
precisa temer que Lhe faltem as funções; sendo o Corpo de Cristo, pode depositar
sua fé Nele. O Senhor quer que todo membro, em cada localidade, se levante e
sirva.

Deus Foi além de Nós

De acordo com a minha correspondência, creio que estou certo ao dizer que o
tempo chegou. As cartas que recebi de diferentes lugares e as notícias que ouvi de
todos os cantos mostram que hoje, em cada lugar, todos estão prontos a despertar
para o serviço. Deus foi além de nós; precisamos seguir em frente.
Não é meu desejo que um irmão sequer dentre nós saia e fracasse no conduzir
os irmãos e irmãs ao serviço, substituindo-os. Espero que, quando for a
determinado lugar, no princípio você leve oito ou dez a servirem, e, então, após
determinado tempo, eles mesmos levem sessenta, oitenta, ou cem a servirem
naquele lugar. Então, em uma segunda visita, você verá mil ou duas mil pessoas
servindo ali. Isso está correto. Se você precisa usar os de cinco talentos para
abafarem os de dois talentos, e os de dois talentos para abafarem os de um talento,
permita-me dizer-lhe que você não é o servo do Senhor. Se precisa usar os de cinco
talentos para substituírem os de dois talentos, e os de dois talentos para
substituírem os de um talento, você não é o servo do Senhor. Deve fazer com que
todos os de cinco talentos sirvam, com que todos os de dois talentos sirvam; não
apenas isso: você deve fazer também com que todos os de um talento sirvam. Aos
que você pensa ser inúteis, você também deve fazê-los servir. Assim a igreja
gloriosa aparecerá.
Preferiria ver em Foochow todos aqueles simples aldeões servindo, a ver três
ou quatro ilustres pregadores. Não aprecio os ilustres; prefiro os de um talento.
Se o Senhor for gracioso para conosco, poderá dar-nos mais pessoas como
Paulo e Pedro. Mas o Senhor não tem agido assim. Todo o mundo está cheio de
irmãos e irmãs que possuem um talento. Que faremos com tais pessoas? Onde
colocá-las? Neste treinamento, aqui, no monte, se Deus realmente tratar com o
nosso "ego" e com o nosso trabalho, a tal ponto que possamos sair e prover um
caminho em que todos os de um talento sirvam, então a igreja, pela primeira vez,
verá o que é o amor fraternal, e Filadélfia aparecerá (Ap 3:7-13).

4.0 SERVIÇO DE TODO O CORPO E A AUTORIDADE

Hoje, não precisamos apenas do governo do alto, mas também do amor, fraternal.
Creio na autoridade e creio também no amor fraternal. Sem a autoridade, a igreja não
pode prosseguir. "Guardaste a Minha Palavra" — isso é autoridade. "E não negaste o
Meu nome" — isso também é autoridade (Ap. 3:8). Filadélfia tinha esses dois tipos de
autoridade. Entretanto a própria Filadélfia é o amor fraternal; todos os irmãos se
levantaram e serviram em amor. Quando chegar tal dia, começaremos a conhecer o
que é a igreja. Caso contrário, se a condição atual continuar, estaremos ainda
agarrados à cauda do Catolicismo Romano e do Protestantismo; não saberemos o que
vem a ser a fraternidade de Filadélfia, e não saberemos o que é a autoridade da
igreja.

Dois Caminhos — Dom e Autoridade

Hoje, creio que esses dois caminhos estão claramente colocados diante de nós. Se,
em nosso meio, o Senhor puder realmente quebrar-nos, o caminho que tivemos há
dez, vinte ou trinta anos será completamente invertido. A sua concepção não pode ser
a mesma de antes; tem de ser quebrada e destruída.
Em primeiro lugar, você não deve usar um irmão por considerá-lo útil ou deixá-lo
de lado por julgá-lo inútil. Na igreja, não deve haver membro algum que seja
marginalizado.
Esse não é o caminho que o Senhor tomou. Hoje, para restaurar o Seu testemunho,
o Senhor deve fazer com que todos os de um talento se levantem. Todos os que
pertencem ao Senhor são membros do Corpo. Todos precisam levantar-se; todos
precisam funcionar. Se tal ocorrer, você verá uma igreja. Hoje, enquanto você está
aqui no monte e olha em derredor, quase precisa dizer: "Onde está a igreja? Onde
está Cristo? Parece que o Senhor não está aqui, nem tampouco a igreja". Eu repito:
quando você se for, nunca despreze os de um talento; jamais os substitua, nem os
abafe. Você precisa acreditar neles, fazendo-o de coração. Tem de fazê-los
trabalhar. Se Deus está em paz quando lhes pede que sejam servos, você também
deverá estar em paz quando fizer o mesmo.
Em segundo lugar, na igreja, não estamos com medo de suas atividades carnais.
Estes dois caminhos têm de ser estabelecidos na igreja: dom e autoridade. Todos os
de um talento devem levantar-se para servir, trabalhar e frutificar. Vocês podem
perguntar: "Se os de um talento se levantarem com sua carne, que devemos fazer?"
Deixem-me dizer-lhes que a carne precisa ser tratada, e a maneira de tratá-la é o
uso da autoridade; a autoridade representa Deus.
Estas duas coisas são inteiramente distintas: dom é dom, e autoridade é
autoridade. Os de um talento devem usar seus dons. Agora, com os que são
carnais, você deve usar autoridade. Se um irmão introduz a carne enquanto
trabalha, você precisa dizer-lhe: "Irmão, não adianta. Você não pode trazer isto
para dentro. Esta atitude está errada. Não permitimos que você a tenha". Falando-
lhe dessa maneira, em seguida ele irá para casa. Não fará coisa alguma novamente.
Então você deverá visitá-lo e dizer-lhe que isto também de nada adiantará, e que ele
ainda precisa realizar o serviço. Embora a carne se intrometa novamente, ainda
deve deixar-lhe realizar o serviço, mas precisa dizer-lhe novamente: "Isto você deve
fazer, mas aquilo não permitiremos que você faça". Use sempre a autoridade para
tratar com ele.
Esta é uma tentação muito grande. Assim que o Senhor usa os de um talento, sua
carne imediatamente se introduzirá; a carne e o único talento estão unidos.
Precisamos rejeitar a carne, mas temos de usar aquele único talento. A condição de
hoje, é: nós enterramos a carne, eles enterram o único talento, e a igreja nada tem.
Isso não pode continuar assim. Temos de usar a autoridade para tratar com a
carne, mas também precisamos pedir-lhes que manifestem o talento. Talvez digam:
"Se eu trabalhar, de nada adiantará, e se não trabalhar, de nada adiantará
também; portanto que devo fazer?". Você deverá dizer-lhes: "De fato, se você
trabalhar, isso estará errado, porque você introduz a carne; mas se não trabalhar,
isso também estará errado, porque você enterra o talento. O talento deve ser
introduzido; mas a carne não".
Se, na igreja, a autoridade puder ser preservada, e as funções de todos os
membros introduzidas, você verá uma igreja gloriosa na terra, e o caminho da
restauração será fácil. Não sei quantos dias mais o Senhor colocou diante de nós.
Creio que nosso caminho ficará cada vez mais claro. Precisamos dedicar todos os
nossos pensamentos e toda a nossa força, de modo que todos os irmãos e irmãs
possam levantar-se e servir. Quando este tempo chegar, a igreja começará, e o
Senhor voltará. Que o Senhor seja misericordioso e gracioso para conosco, de
modo a podermos ser bem-sucedidos.
CAPÍTULO SEIS
O CAMINHO PARA A OBRA DORAVANTE

(Palestra proferida aos cooperadores, quando os treinava no Monte Kuling, a 19 de


agosto de 1948, e publicada em "Os Ministros", a 1° de novembro de 1948).

Nosso antigo caminho na obra do Senhor nos fez encontrar algumas


dificuldades práticas. Neste ano, despendemos um esforço considerável com duas
reuniões em Foochow e Xangai, a fim de solucionar o nosso problema. Hoje
voltaremos novamente a ele.
Enquanto, no passado, vimos a luz referente à igreja com bastante clareza, não
chegamos a ver tão bem a luz relativa à obra. A edição de "Concernente à Nossa
Missão", [agora intitulado "A Vida Normal da Igreja Cristã" — editor] livro publicado
logo após uma conferência aos cooperadores em Hankow, mostra que a nossa visão
estava suficientemente clara sobre a questão da igreja. Vimos que as igrejas são
locais, um assunto que está muito mais claro hoje do que em toda a História da
igreja. Ao ler todos os livros, pode-se perceber que jamais houve um tempo em que o
caráter local da igreja se tenha tornado tão claro quanto hoje. Mas, com relação à
obra, sempre sentimos no passado que carecíamos de igual clareza. Isto ocorreu,
porque Jerusalém parecia ter algo supérfluo quando comparada com Antioquia. Em
Hankow, examinamos todo o livro de Atos, mas não fomos capazes de levar em
conta Jerusalém. Começando pelo capítulo treze, nem o livro de Atos coincidia com
nossa obra, nem nossa obra, com o livro de Atos. Não sabíamos, entretanto, como
aplicar os acontecimentos ocorridos antes do capítulo treze. Naquela época, não
tínhamos luz suficiente.
Por causa das provações e dificuldades que enfrentamos durante esses vários
anos, creio que chegamos a descortinar a utilidade dos dez primeiros ou mais
capítulos. Descobrimos sua utilidade. Por favor, perdoem-me por dize-lo dessa
maneira, pois, na verdade, foi assim que ocorreu. Creio que precisamos reconhecer
que, tanto através das reuniões de Foochow quanto das de Xangai, jamais houve um
tempo em que os primeiros doze capítulos de Atos ficaram tão claros quanto hoje.
Da mesma maneira como as igrejas locais posteriores ao capítulo treze jamais
foram vistas com tanta clareza como naquela época em Hankow, assim
também o caminho para a obra nunca foi visto com tanta clareza como hoje. As
dificuldades do passado pertencem ao passado; hoje, a situação é diferente.

1. A OBRA É REGIONAL

Uma das várias questões que descobrimos nesta ocasião é a da região. Enquanto
as igrejas são locais, a obra é regional. Isto, eu sinto, está bastante claro nas
Escrituras. Por que é que não o vimos há cinco ou dez anos? Simplesmente porque
não vimos. Não podíamos fazer nada. Hoje, porém, de uma vez por todas o vemos,
e apenas, se exigem duas frases para declará-lo: as igrejas são locais, e a obra é
regional. Em outras palavras, uma igreja está numa localidade, mas a obra está em
muitas localidades, que se agrupam para formar uma região.
No livro de Atos, pode-se ver claramente que os doze apóstolos tinham uma
região específica para a sua obra. Pedro, João e o seu grupo trabalhavam numa
região, enquanto Paulo, Silas, Timóteo e Barnabé trabalhavam numa outra. Ao
investigarmos o primeiro capítulo de Filipenses, muitas regiões diferentes podem
ser vistas. Quando lemos também 2 Coríntios, encontramos duas palavras: "Mas
respeitamos o limite da esfera de ação que Deus nos demarcou e que se estende até
vós" (10:13). Aqui é-nos mostrado claramente aquilo que se relaciona a uma região,
uma área que lhes era demarcada. Deus estava ali, traçando um círculo para eles,
e, dentro desse círculo, havia uma área de trabalho para tal grupo de pessoas. A
obra, portanto, se relaciona à região.
As igrejas, porém, não se relacionam a uma região. Nenhuma igreja deve
exercer controle sobre outras localidades, porque as igrejas são locais.
No passado, cometemos um grande erro, confundindo a esfera da obra com a
localidade da igreja. Agora vemos claramente que a obra inclui inúmeras localidades
dentro de uma determinada área, que é chamada de "região". Assim como Pedro e
João estavam na região de Jerusalém, Paulo e Timóteo, por sua vez, estavam
noutra região. Embora mantivessem contato e comunhão uns com os outros, suas
regiões respectivas não eram as mesmas.
Hoje, não podemos falar o suficiente, mas está mais do que claro que a obra é
regional, e as igrejas são locais.

2. A REGIÃO TEM UM CENTRO

O segundo aspecto é que, em cada região, vê-se um centro, ao passo que as


igrejas não possuem um centro. A igreja em Jerusalém não tem controle algum
sobre a igreja em Samaria. Aqui todos os estudiosos da Bíblia sabem que as igrejas
são locais, e que a igreja numa localidade não pode exercer controle sobre a igreja
em outra localidade. Além disso, a igreja numa localidade não pode controlar as
igrejas em muitas localidades. A esfera de ação mais ampla de uma igreja é limitada à
sua própria localidade. Não deve haver um conselho distrital, ou quartéis-generais
para a igreja. O mesmo, entretanto, não ocorre com a obra, pois esta tem um
centro. Essa é a razão por que, no livro de Atos, podemos ver que Jerusalém é o
centro de uma região, enquanto Antioquia é o centro de outra região.

A Característica Especial de Jerusalém

Não sei se você pode ver que, sem um centro para a obra, Jerusalém se nos
torna uma dificuldade, e não um auxílio. Toda a Bíblia revela que as igrejas são
locais; Jerusalém, contudo, parece, de certo modo, ser especial. Enquanto a Bíblia
inteira revela que as igrejas são locais, Antioquia também parece ser especial.
Conseqüentemente, você pode ver que Antioquia se nos torna também uma
dificuldade, e não um auxilio.
Hoje, vemos claramente que a igreja em Antioquia é uma coisa, enquanto que
Antioquia como centro para a obra é uma outra coisa. Quando falamos das igrejas,
Jerusalém se coloca numa posição igual à de Antioquia e Samaria. Mas, quando
falamos da obra, Jerusalém é o centro. A ordem de Deus era que eles fossem
testemunhas "tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos con-fins
da terra" (At 1:8). Jerusalém, portanto, era um centro da obra.
Assim, em Atos 13, quando houve uma outra pregação em Antioquia, esta se
tornou um outro centro da obra. Foi o Espírito Santo quem deu o início em Jerusalém.
Aqui, foi o Espírito Santo, novamente, quem deu um outro início em Antioquia. Em
ambos os lugares, foi o Espírito Santo quem iniciou a obra. Em Antioquia, vemos
alguns que se foram para outros lugares, a fim de executar uma obra. Quando as
igrejas vinham a existir, presbíteros eram constituídos, a fim de serem responsáveis
pela supervisão da igreja, mas parece que Antioquia os controlava, porque os
cooperadores estavam morando em Antioquia.

Pedro também Era um Presbítero

Vemos aqui o valor de Jerusalém. Ao lermos as Escrituras, podemos também ver


o valor do fato de Pedro ser um presbítero em Jerusalém. No passado, dávamos
atenção a Pedro somente como um apóstolo, não como um presbítero. Ele, porém,
sustentava uma dupla posição. Com relação à localidade de Jerusalém, Pedro,
Tiago e João eram presbíteros. Todavia, com relação à obra, eram todos
apóstolos. Portanto, ao escreverem cartas à igreja em Antioquia, assinavam-nas
como apóstolos e presbíteros. Caso contrário, seria impossível aos presbíteros de
Jerusalém escrever e dar ordens à igreja em Antioquia, visto que esta também tinha
seus presbíteros. Como presbíteros, tomavam certas decisões pela igreja em
Jerusalém; como apóstolos, também tomavam as mesmas decisões pela obra.
Hoje, entre nós, esta questão está bastante clara. Pelo menos conosco, este
problema está plenamente resolvido e pertence ao passado. Não apenas pertence
ao passado, mas esse mesmo ensinamento foi gloriosamente trazido à luz. Agora,
vemos que a obra de Deus se realiza em toda uma região. Para a Sua obra, Deus
deseja estabelecer uma localidade como centro. Todos os cooperadores devem ser
centralizados naquela localidade, algumas vezes saindo, algumas vezes voltando.
Em outras palavras, os presbíteros são responsáveis por uma igreja local; mas, se a
localidade é também um centro da obra, então não só os presbíteros arcam com a
responsabilidade, mas os cooperadores devem também ser presbíteros ali, a fim de
terem parte na responsabilidade dos assuntos da igreja.
As Escrituras não oferecem um exemplo para a prática comum de enviar
cooperadores a residir numa localidade. A não ser que um cooperador migre para
uma localidade, a fim de ser presbítero, estará errado. Por exemplo, um cooperador
deve morar em Jerusalém; caso contrário, deve mudar-se para uma outra cidade,
para tomar-se responsável por aquela localidade como um presbítero. Se desejar
somente ser um cooperador, deverá morar em Jerusalém.
Portanto, com respeito à acusação que a igreja fez a Pedro durante os últimos
dois mil anos, temos a dizer que Pedro não estava errado. De que tem a igreja
acusado Pedro durante os últimos dois mil anos? De que Pedro não deixou
Jerusalém. Mas era certo Pedro permanecer em Jerusalém. Não estava errado.
Disseram que ele deveria ter deixado Jerusalém, mas não creio nisso! Quem sabe se
o Senhor queria que Pedro e João deixassem Jerusalém? Alguns afirmam que os
dois fizeram com que se levantasse perseguição contra a igreja em Jerusalém, pelo
fato de não terem partido. Mas isso não tem qualquer base bíblica. Se o Senhor
desejasse que ambos deixassem Jerusalém, podia ter feito com que a perseguição
recaísse sobre Pedro e João, e não sobre a igreja. Não é certo que eu esteja errado, e
os outros sofram. Se o Senhor fizesse com que os outros sofressem, então,
certamente, eu não estaria errado. Se era errado que Pedro e João permanecessem
em Jerusalém, Deus deveria tê-los repreendido, e não a igreja em Jerusalém.
O Senhor, entretanto, disse que, se alguém não é do mundo, o mundo irá odiá-
lo; e, se o mundo perseguiu a Ele, também o perseguirá. Assim, quando seguimos ao
Senhor, vemos que o mundo nos odeia, porque não lhe pertencemos. A perseguição
não ocorre pelo fato de falharmos em deixar o nosso lar; caso contrário, todos os
cristãos que deixarem seus lares não serão perseguidos. Quero dizer-lhes que tanto
os cristãos em casa quanto os cristãos fora de casa, todos serão perseguidos.

Saindo e Voltando

Você se lembra de que Pedro saiu para Cesaréia, e retornou a Jerusalém. Uma
outra vez, Pedro foi a Samaria (uma vez que a obra de Deus estava em Samaria), e
depois retornou a Jerusalém. Jerusalém era o centro, enquanto Samaria era uma
cidade da obra naquela região. Os cooperadores concentraram-se em Jerusalém;
portanto saíam e voltavam, voltavam e saíam.
Ter um cooperador a governar sobre a igreja numa localidade é um
pensamento dos protestantes, e não das Escrituras.
Quanto à localidade que deve ser tomada como o centro para a obra, só Deus
pode tomar a decisão. Somente Deus sabe como e onde começar; somente o Espírito
Santo sabe como iniciar a obra. A decisão do homem não tem proveito algum. Não
podemos, através de discussão, decidir qual localidade é "Jerusalém", pois Deus
quer fazê-lo por Si mesmo; isto está nas mãos do Espírito Santo. Somente a
Jerusalém designada pelo Espírito Santo é Jerusalém.
Na primeira parte de Atos, vemos Pedro saindo de Jerusalém e retornando.
Mais tarde, vemos Paulo saindo de Antioquia e voltando. Jamais permaneciam em
outra localidade, mas sempre voltavam. Em outras palavras, o que devemos ver
neste instante é que a obra tanto tem uma área como um centro.
Quer digamos uma região, uma área ou um centro, todos vêm a ser apenas
termos. Qualquer termo que você escolha está correto. O que precisamos enfatizar é
a essência. Na obra em Jerusalém havia algo de essencial. O que importa não é se a
chamamos de área, centro ou região. O mesmo é verdadeiro com relação a
Antioquia. Uma vez que o Senhor diga: "Demarquei isso para você", estará correto
que você o chame de demarcação da obra. Isto sempre implica uma área, uma
região ou um centro, dentro do qual habita um grupo de cooperadores, e um outro
distrito, no qual habita um outro grupo de cooperadores.
Não foram presbíteros os enviados a outros lugares. Não foram somente os
apóstolos ou somente os presbíteros, mas foi Pedro e outros, que tanto eram
apóstolos como presbíteros. Portanto, irmão, quando você, um cooperador, residir
numa localidade, lá você será tanto apóstolo como presbítero. Tomar este caminho
desta forma está correto. É certo que alguns de nossos irmãos saiam para ajudar,
mas eles precisam retornar. Não é certo que deixem de voltar. Assim como Paulo,
saem e viajam por um amplo circuito, e depois voltam — isso está correto; ou, como
Pedro, saem e imediatamente voltam — isso também está correto. Voltar é um
dever. Os homens culpam a Pedro por não sair, mas deveriam também culpar a
Paulo por voltar. Pedro retornou a Jerusalém, e Paulo, a Antioquia. Esta é a Palavra
de Deus, que não poderia ser mais clara.

3. PREGANDO O EVANGELHO ATRAVÉS DOS APÓSTOLOS E ATRAVÉS DA


MIGRAÇÃO

Veremos, agora, o terceiro aspecto, isto é, como a obra de Deus é levada adiante,
e como o evangelho é pregado. Temos aqui duas maneiras. Já que a obra de
Jerusalém é diferente da de Antioquia, temos, portanto, duas maneiras diferentes de
pregar o evangelho e de estabelecer igrejas.

O Caminho de Antioquia — Os Apóstolos Saindo

Primeiramente, pode-se agir conforme Antioquia. Paulo e Barnabé, Paulo e


Timóteo, ou Paulo e Silas iam a um lugar após outro, a fim de pregar o evangelho,
e, depois, voltavam a Antioquia. Os apóstolos é que saíam para pregar o
evangelho, e os apóstolos é que saíam para estabelecer igrejas. Esta é uma das
duas maneiras.

O Caminho de Jerusalém — Saindo por Migração

A segunda maneira é a de Jerusalém, de onde os cristãos migraram. Pregavam


o evangelho por toda parte. Pode-se ver que a migração resulta na pregação do
evangelho por toda parte. Se uma migração é feita pacificamente, ou se ela se deve a
uma perseguição, nem por isso deixa de ser uma migração. O caminho de Jerusalém
é migrar; a única diferença é que eles saíram por causa da perseguição.
Creio, portanto, que o Senhor deixou pegadas bastante claras. Assim jamais
pense que a primeira metade de Atos não seja tão valiosa. Atos é exatamente
como Gênesis; demonstra o caminho de Deus. Ao vermos a maneira como Deus
operou no princípio, precisamos agir da mesma forma hoje.

A Medida do Crescimento Está em Proporção ao Número que Sai

Deus usou a perseguição para fazer os santos migrarem. Eles não podiam ficar;
foram forçados a partir. Naquela época, milhares de pessoas constantemente
estavam saindo. Mas Paulo, em sua volta a Jerusalém, ainda encontrou milhares de
cristãos naquela igreja. Ao voltar a Jerusalém e subir ao. templo para ser purificado,
ouviu dizer quantos milhares de judeus haviam crido (At 21:20). O trigo colhido
este ano crescerá novamente no ano próximo. Você precisa deixar o solo que
ocupou, a fim de permitir que outros se tornem cristãos. Você não deve permanecer
parado todo o tempo. O número de cristãos que saem é o que indica o crescimento
na mesma proporção. Permanecer todo o tempo num único lugar não fará com que
o número aumente. Os discípulos de Jerusalém continuaram a sair para pregar o
evangelho. Mais tarde, quando estava para ser julgado pelo sumo sacerdote, Paulo
salientou quantos milhares de judeus haviam crido. Assim o caminho de Deus é
enviar pessoas, grupo após grupo, como semente que se espalha.
Portanto, diante de Deus, precisamos ver claramente estes três princípios, antes
de podermos realizar a assim chamada obra missionária: 1) a obra é regional; 2) a
obra em cada região tem um centro; 3) há duas maneiras de pregar o evangelho
— pelo sair dos apóstolos e pela migração dos cristãos.

Não Devemos Ser Inertes

Sendo assim, irmãos, vocês jamais devem estar inertes com respeito a esses
três pontos. Durante os vários anos da guerra, enfrentamos dificuldades, por meio
das quais descobrimos estas três coisas. Para muitos de nós, metade de nosso
tempo já se foi. A metade restante precisa ser gasta em tomar um curso reto.
Jamais deveríamos andar como no passado. E creio (este é um sentimento pessoal)
que esta luz está suficientemente clara. Vocês vêem: a igreja, por dois mil anos,
tentou enquadrar-se no caminho de Jerusalém; porém jamais o fizeram correta-
mente. Hoje somos capazes de ajustá-lo correta e até mesmo claramente. A
clareza desta questão é exatamente a mesma da localidade da igreja, quando
estávamos em Hankow.
O fato de as igrejas serem locais já nos está claro: de que a obra é regional
também nos está claro. Por essa razão, nossa obra precisa estar voltada para o
curso correto. Se ainda estamos pensando que um cooperador deve controlar uma
localidade, chegaremos a um beco sem saída. A menos que essa questão seja
reparada, a obra jamais poderá continuar. O velho caminho jamais chegará ao
fim. Por exemplo, se o velho caminho fosse certo, então somente à região de
Pinyang poderíamos enviar todos os cooperadores, a fim de cuidarem de mais de
cem reuniões; mas isso, apenas para descobrir que mais cooperadores do que
agora temos se fariam necessários. Mesmo na região de Wenchow, nossos
cooperadores não atingem número suficiente, para serem distribuídos por todos os
lugares. Então precisaríamos de que as irmãs fossem pastoras. Seguir, portanto,
este caminho significa que jamais chegaremos ao fim, para atender as
necessidades.

O Testemunho no Centro Deve Ser Preservado

Precisamos ver que a obra tanto tem sua região, como tem seu centro. Todas as
questões atinentes às localidades podem ser confiadas às igrejas locais. Os
cooperadores sempre saem para a obra, a fim de trabalhar e, não muito depois,
voltam a Jerusalém. Então saem outra vez e voltam novamente a Jerusalém.
Sendo assim, é bom manter um forte testemunho em Jerusalém. É uma tarefa
fácil para os doze apóstolos manter o ministério da Palavra em Jerusalém, mas lhes
seria muito difícil manter este ministério por toda a Samaria e por toda a Judéia.
Desta forma, diante de Deus, precisamos ter muita oração e uma clara luz, de
modo a podermos ver qual localidade pode ser usada como centro para a obra numa
região, um lugar onde um grupo de cooperadores, tanto irmãos quanto irmãs,
possam habitar e fazer dele seu centro, bem como ser membros da igreja local, a fim
de preservar o testemunho na localidade. Pelo sair e pelo voltar, se poderá manter
o ministério da Palavra naquela localidade.

Xangai é um Centro

Por causa das localidades na região da fronteira de Kiangsu e Chekiang, e das


linhas de transporte de Nanking-Xangai e Xangai-Hangchow, o centro da obra está
localizado em Xangai. Xangai deve manter um testemunho forte, e Xangai precisa de
cooperadores que sustentem a obra. A responsabilidade do restante das localidades
nesta região deve ser deixada aos irmãos de sua própria localidade, e, ao mesmo
tempo, os irmãos de Xangai devem ter permissão de migrarem para outros lugares.
Após um determinado tempo, os irmãos de Xangai serão enviados grupo após
grupo. Esta é uma questão muito importante. Sair para pregar o evangelho está nas
mãos dos irmãos e irmãs; não estamos enviando pessoas para serem pastores, mas
simplesmente migrantes. Por favor, lembrem-se de que o princípio de Jerusalém é a
migração. Este é o método de pregar o evangelho nas igrejas primitivas. Naquela
época, saíam por causa da perseguição; mas, gostaria de perguntar, onde vocês en-
contrarão filhos de Deus que não sofram perseguição? Vocês, portanto, devem ter em
mente que o caminho está claramente colocado diante de nós.

Foochow também é um Centro

Assim é como eu vejo hoje. Posso ilustrar deste modo: se a província de Fukien e a
ilha de Formosa são uma região para a obra, cremos então que Foochow pode ser
tomada como um centro. Naturalmente, os irmãos devem apoiar e manter tal
centro, saindo e voltando. Quando levamos pessoas à salvação, devemos
admoestá-las de que, se o Senhor for gracioso para conosco, elas também poderão
sair, encorajando vinte pessoas a se mudarem para Nan-Ping, trinta para Putein,
trinta para Amoy, trinta para Taipé e trinta também para Tainan. Quando se
mudarem, o evangelho será gerado. O evangelho simplesmente os seguirá. Se
vocês estão esperando enviar um número considerável de evangelistas dentro de
um certo número de anos, não apenas os gastos serão elevados, mas o número
de pessoas a saírem será menor. E, por fim, vocês não terão muitos resultados.
Lembrem-se de que toda a igreja precisa sair para pregar o evangelho. É correto
que saia um grupo após outro.
Em Foochow, há apóstolos e presbíteros. Às vezes, dois ou três deles podem ir a
uma localidade para visitar e, depois, voltam. Dois ou três mais podem ir a uma
outra localidade, e também voltarem.
Não estou dizendo que, de agora em diante, todo o trabalho do evangelho deva
ser deixado em suas mãos. Talvez um ou dois irmãos e irmãs precisem fazer visitas
de lugarejo em lugarejo. Somente quando estas duas maneiras de levar o evangelho
forem tomadas simultaneamente, é que o evangelho será pregado.

O Ministério da Palavra e o Enviar

Vocês podem ver agora que a obra num centro torna-se muito importante. Lá
vocês não apenas precisam manter o ministério da Palavra, como também precisam
enviar pessoas para a obra. Não importa se são mascates, trabalhadores braçais ou
empregadas domésticas; todos devem ser enviados a pregarem o evangelho.
Por essa razão, precisamos dar a todos os irmãos e irmãs um treinamento
adequado, de modo a serem conduzidos ao estágio de serem enviados. Cinqüenta
serão enviados para um lugar, e trinta para um outro lugar, onde todos possam
ser capazes de auxiliar as igrejas locais, sem que se tornem um peso para elas. Se
os muitos que são enviados se tornam um problema, de modo que as igrejas não
possam encontrar uma saída, que fazer então? Portanto os irmãos e irmãs precisam
ser treinados, a fim de serem preparados para sair como missionários, grupo após
grupo.
Assim, os cooperadores precisam ver que a obra tem de ser centralizada, e não
espalhada. A localidade-centro deve primeiro ser estabelecida em boa ordem, antes
que os santos possam ser treinados e enviados. Durante esses poucos anos,
enfrentamos muitos sofrimentos e dificuldades, que nos capacitaram a aprender
algumas lições. Não tratemos tal lição erroneamente. Nós realmente precisamos ter
tal ensinamento.

4. A NECESSIDADE DE RECEBER TREINAMENTO BÁSICO

Veremos, agora, o quarto ponto, isto é, a necessidade de todos os irmãos e irmãs


receberem o mesmo treinamento.

A Reunião de Treinamento dos Novos Cristãos

Precisamos proporcionar aos principiantes um tipo especial de reunião. Tanto em


Xangai quanto em Foochow, já proporcionamos este treinamento aos novos irmãos
que creram. Este tipo de reunião é o mesmo a cada ano. Obviamente, não
esperamos que estas lições de treinamento sejam simplesmente recitadas, como as
pessoas costumam fazer com o "Pai-nosso". Se as pessoas são vivas, então
haverá vida. As palavras de instrução serão dadas em seqüência, do princípio ao fim
de cada ano. Depois de cinqüenta e duas semanas, o ciclo será repetido novamente.
Assim, quando cada irmão sair, terá, no mínimo, recebido a instrução básica. Deste
modo, as dificuldades diminuirão. Se alguns entrarem em nosso meio, não importa em
qual semana começarem, em um ano terminarão todo o treinamento. Depois de
cinqüenta e duas semanas, estarão prontos a repetir o treinamento. Se entrarem na
décima semana do ano, completarão o ciclo de treinamento e ensinamento, quando
se aproximarem da nona semana do ano seguinte. Então obterão a mesma instrução,
e estarão prontos a ser enviados.

Enviados para Pregar o Evangelho

Devem eles ser aconselhados de que, quando migrarem para um lugar, deverão
fazer o máximo para ali salvar almas. Assim pessoas sempre serão levadas à salvação
na localidade-centro. Estas pessoas devem então ser edifiçadas e migrar para algum
outro lugar, dando-lhes assim a oportunidade de sair para pregar o evangelho.
Deste modo, toda a igreja pregará o evangelho; não apenas os evangelistas. Se
somente os evangelistas fizerem a pregação, jamais poderão, em seu tempo de vida,
completar a pregação do evangelho por toda a China. Hoje, a população da China é de
quatrocentos e cinqüenta milhões de pessoas; mas não mais do que um milhão são
cristãos. Se este milhão de cristãos estiver em nossas mãos e todos forem enviados,
haverá uma maneira. Precisamos ajudá-los a receber o mesmo tipo de treinamento, e
depois enviá-los. Então você verá a igreja pregando o evangelho por toda a parte.
Eles saem para pregar o evangelho, porque são enviados. Não lhes é necessário
esperar pela perseguição antes de serem enviados. Talvez enfrentem perseguição;
mas, de qualquer forma, devem sair.
Alguma arrumação, portanto, é necessária, e os irmãos responsáveis devem fazer
tais arranjos. Algumas localidades são geograficamente estratégicas, e precisamos
lançar mão delas. Talvez pudéssemos primeiramente enviar alguns até lá, a fim de
adquirirem algum tipo de emprego, e depois pudéssemos enviar mais alguns outros
para executarem algum trabalho. Quando pessoas forem levadas à salvação através
delas, os cooperadores poderão ir até lá para levantar uma reunião. Assim, antes de
podermos chegar ao fim, precisamos de uma mudança em toda a situação atual, a
fim de prosseguirmos neste caminho da obra.
Quando a Igreja Prega o Evangelho, os Frutos Vêm

Hoje, todos os irmãos e irmãs reconheceriam que somente quando a igreja pregar
o evangelho, é que haverá mais frutos. Apenas o trabalho da igreja pode resultar mais
frutífero. Recentemente, um grupo de irmãos foi a Gou-Tien para pregar o evangelho,
e um total de mais de cinqüenta pessoas foram salvas e batizadas. Quando a igreja
pregou o evangelho, pessoas foram salvas. Sem propaganda, uma pessoa
simplesmente tomou uma ou duas outras pessoas, até que, por fim, mais de
cinqüenta foram salvas.
Antigamente, Nan-Ping tinha somente alguns que iam às reuniões. Finalmente,
depois que os irmãos foram lá, mais de vinte foram batizados. Estes ouviram o
evangelho durante um grande incêndio em Nan-Ping, onde somente um quarto da
cidade foi poupado. Cerca de dez casas de nossos irmãos foram também queimadas.
Mas, quando toda a igreja pregou o evangelho, um grande número de pessoas foram
salvas. Nessa época, nossos irmãos nos escreveram e disseram que, após descobrirem
esse caminho, entregariam suas vidas prontamente por isso, e não se voltariam para
qualquer outra direção.
Vemos hoje, que, enquanto a igreja prega o evangelho, o Senhor opera. Não
temos que usar propaganda ou aplicar qualquer tipo de métodos. Simplesmente
os irmãos saem, cada um trazendo uma alma. Então vocês vêem as pessoas
chegarem. Embora a mensagem até possa ser de certo modo fraca, não importa,
contanto que a igreja esteja pregando o evangelho. Você verá dezenas e dezenas
de pessoas batizadas. Esse trabalho, no futuro, será sempre transferido aos irmãos
locais, permitindo-lhes que façam o trabalho por si mesmos.

Kuling Fornecerá Auxilio

Que devemos fazer, nós que estamos em Kuling? As igrejas locais devem enviar
a este lugar os que prometem alguma coisa, os quais receberão um ou dois meses
de auxílio espiritual. Então serão enviados de volta às suas próprias localidades, a
fim de arcarem com alguma responsabilidade. Os cooperadores sempre arcam
com a responsabilidade da obra no centro, mas, ao mesmo tempo, sempre saem
e voltam. Se assim for, então a obra terá um caminho.

A Necessidade de Coordenação

Por essa razão, nos agrupamentos, tanto em Xangai quanto, agora, em


Foochow, demos muita atenção à coordenação. Tudo é inútil, se não há
coordenação. Anteriormente, você seguia o seu caminho, e ele, o dele; agora, sem
coordenação, nada pode ser feito. Ninguém deve agir independentemente; todos
precisam submeter-se à coordenação genuína.
Creio que, em breve, o evangelho poderá propagar-se bem rapidamente. Além
disso, acredito que nos será fácil tomar toda a China. Por exemplo, se os irmãos de
Foochow forem fiéis, ser-lhes-á muito fácil conquistar totalmente a província de
Fukien e a ilha inteira de Formosa. Se os irmãos de outras localidades também
forem fiéis e aprenderem a seguir este caminho, serão capazes de conquistar todos
os outros lugares.
Hoje, o caminho foi descoberto por nós. Agora, ele repousa inteiramente sobre
o fator humano. O caminho está tão claro, que não pode estar mais claro. Se você
não vir o princípio de Jerusalém, sentirá que na Palavra de Deus existe alguma
coisa que não pode ser corretamente ajustada, e que há alguma dificuldade. Hoje
reconhecemos que todo o livro de Atos se encaixa muito bem. Não há um problema
sequer. Além disso, agora, cada vez que leio o livro de Atos, vejo que a maneira
pela qual Pedro se conduziu na primeira parte era realmente boa. Creio que ele
sofreu uma falsa acusação por dois mil anos. O sair e o v o l t a r d e P e d r o a
J e r u s a l é m e s t ã o i n t e i r a mente justificados. Em qualquer caso, a obra de Deus
exige um centro.

O Ministério da Palavra não é um Problema Difícil

Portanto, passemos agora à análise da questão relativa ao ministério da


Palavra. Simplesmente mantê-lo numa localidade central é o suficiente. Quanto às
outras localidades, precisam ser conduzidas e treinadas, a fim de se manterem.
Se se mantiverem, não haverá quaisquer dificuldades. É por esta causa que nós,
em Kuling, estamos preparando um lugar para o treinamento. No futuro,
permitiremos que todos aqueles que são promissores nas igrejas de todas as
localidades venham aqui, para receberem algum treinamento. Então faremos com
que voltem. Assim, realizarei o meu trabalho, e você o seu, cada um cuidando de
seu próprio trabalho. Creio que, em breve, poderemos chegar ao fim deste modo, e,
em muitas localidades, fortes testemunhos poderão ser edifica dos
continuamente.

O Fundamento da Obra

O fundamento de toda a obra está hoje aqui. Se este se tornar confuso, tudo
estará confuso. Então retrocederemos à situação que havia antes da nossa
reunião em Hankow. Em Hankow, somente vimos o problema da igreja. Naquela
ocasião, não vimos o aspecto da obra. Todavia, agora, o caminho da obra está
diante de nós. Se tivermos os homens corretos e a misericórdia do Senhor, digo-lhes
que, sem muito esforço e dentro de poucos anos, toda a China será conquistada.
Creio que este é um grande acontecimento possível; conquistar toda a China com o
evangelho. Caso contrário, mesmo após cinqüenta anos, a situação permanecerá a
mesma de hoje.
Reconheço, realmente, que muito da bênção de Deus tem estado em nosso meio.
No passado, sempre disse que Deus salva as pessoas, e, sem sombra de dúvida,
Deus já salvou um grande número de pessoas em nosso meio. Sempre sinto,
porém, que estes não são suficientes; ainda não há pessoas suficientes.
Recentemente, enquanto todos líamos a Bíblia aqui, eu mesmo também li a Palavra de
Deus uma ou duas vezes. Vejo que Sua Palavra é muito clara. No passado, vimos
apenas o caminho da igreja, sem ver o caminho da obra. Quando o caminho da
obra é pobre, o caminho da igreja também o é. Agradecemos a Deus pela Sua
misericórdia sobre nós, pois hoje, após tantos anos, Ele nos fez ver este caminho. Os
irmãos numa localidade devem sempre tomar a responsabilidade em coordenação
e também migrar em grupo para pregar o evangelho.
Esta é uma questão bastante simples. Jerusalém teve grande êxito nesse
aspecto. Diante de Deus, Jerusalém representa a igreja. Jerusalém nos céus
representa a igreja, e a Jerusalém nesta terra também representa a igreja. Pedro
estava sempre lá trabalhando; como resultado, muitas pessoas saíam para pregar
o evangelho. Jamais se dá o caso de que, quando as pessoas partem, o evangelho
chega ao fim. O evangelho sempre será levado em frente, continuamente. Isto é
muitíssimo glorioso. O requisito de hoje: seja fiel em coordenação.

A Exigência de Hoje — Ser Fiel em Coordenação

Portanto nossa exigência hoje não é somente que os cooperadores devem ser
coordenados, mas que os irmãos responsáveis o devem ser igualmente. Entre nós,
ninguém pode escolher livremente. Desta maneira, é possível que a igreja pregue o
evangelho. Cada pessoa, não importa aonde vá, deverá ser pela pregação do
evangelho. Sua boca deverá ser pela pregação do evangelho. Nós precisamos, como
todo o Corpo, sair. Creio que o Senhor terá hoje o Seu caminho.
Se não formos fiéis e fidedignos, o Senhor escolherá outros para trilharem este
caminho. Acredito que Lhe seja possível fazê-lo. Mas levaria pelo menos outros vinte
anos. Não diga que o Senhor não nos poria de lado. Ele pode facilmente
marginalizar-nos; mas isto desperdiçaria outros vinte anos. Esperamos poupar
vinte anos para o Senhor. Que Ele possa ter misericórdia de nós, de modo a
podermos alcançá-lo. Vamos nos dedicar totalmente por isto. Nestes dias, após
passar por experiências muito pesadas e difíceis, Ele nos levou a ter este caminho.
Não o abandonemos.

FIM -
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livro impresso.

2 - Quanto a e-books modificados


Algumas pessoas disponibilizam e-books que são modificações (resumos, notas entre outros
tipos de modificação) do livro original, neste caso o digitalizador esta livre de escrever o
copyright, e apenas colocar o nome do autor do livro original e no caso de mudança do nome do livro nome do
livro original (porém sinta-se livre se quiser escrever ou colocar mais algo).

3 - Distribuição da LPG
Todos os e-books que estão sobre a LPG deve colocar uma versão do documento LPG para usuarios
finais (ver adiante) escrita no e-book. Mesmo no caso de modificações de livros e até modificações de outro e-
book.

A Licença Pública Geral é a licença de e-books feitos por livros impressos ou livros com versões
apenas e-book. Esta licença transforma o e-book que você está lendo em uma obra legitima e original, e
considerada "conhecimento puro e não comercializavel", ou seja gratuito e livre para modificações.

A LPG te dá os seguintes direitos:

a) O direito de amarzenar o e-book em CD-R;

b) O direito de ficar com ele por tempo indeterminado; O direito e a responsabilidade de copiar e distribuir o
e-book como forma de ajudar a comunidade e distribuir conhecimento para a nação brasileira gratuitamente; O
direito de fazer versões modificadas e fazer seus próprios e-books independentes a partir deste e-book fazendo
assim sua própria obra.

A LPG te dá as seguintes obrigações:

a) Você fará o possível para poder comprar as versões impressas, por serem mais versateis,
pois você pode ler o livro no ônibus, no carro, na escola, no trabalho... mas você não pode
levar seu computador para outros lugares;

b) Você não podera imprimir quaisquer parte deste e-book, senão você estará fazendo
pírataria;

c) Se você fizer qualquer versão modificada do e-book você devera colocar uma documento de
licença LPG igual a esse e devera colocar o citar o nome do livro original e o nome do autor do
livro original.

FIM DOS TERMOS E CONDIÇÕES

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