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INTRODUÇÃO

A investigação histórica tem demonstrado que, nas duas últimas décadas do século XIX,
o choque dos imperialismos britânico e português constituiu um episódio fundamental
na história portuguesa. De facto, à medida que os governantes esboçaram novas
estratégias de exploração e ocupação colonial, buscando alianças no quadro das relações
internacionais, a coincidência parcial de objectivos no âmbito dos respectivos projectos
imperialistas para a África conduziu ao confronto declarado entre as duas potências
aliadas. A contestação, em Portugal, da supremacia colonial inglesa, proveio de fortes
resistências emanadas dos sectores das burguesias comercial e industrial, para quem a
reserva dos mercados coloniais e a protecção pautal tinham se tornado indispensáveis.

Entre os séculos XIX e XX, as potências coloniais europeias colonizaram as populações


africanas, tendo como suporte ideológico a ideia de superioridade da «raça branca». Por
conseguinte, classificavam os africanos como povos atrasados, “bárbaros” e
“primitivos”, destituídos de história e cultura. Por isso, consideravam os colonizadores
europeus, eles deveriam ser retirados do seu «estado primitivo» e levados à condição de
«seres civilizados».

Enquadrado nessa ideologia colonial, algumas potências coloniais adoptaram uma


política colonial de assimilação ou política assimilacionista para as suas colónias. Foi o
caso de Portugal que elaborou e implementou a sua política assimilacionista junto das
populações das suas possessões coloniais.

A partir deste pressuposto, importa inquirir sobre a realidade que se vivia em Angola,
onde a intervenção européia deixara algumas marcas pouco profundas ao longo da faixa
litoral atlântica. Assim sendo, e porque a colónia recebia o eco, tantas vezes amortecido,
dos conflitos europeus, tentaremos evidenciar o impacto da política assimilacionista
portuguesa na realidade local, nos anos 1950-1960, e em um contexto que, embora
condicionado pela estratégia européia, não deixou de refletir o choque das forças
económicas e sociais que ali coexistiam.

Identificação do problema
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A instalação de um regime ditatorial, o aparelhamento repressivo do Estado, o controle
econômico monopolista exercido por um restrito grupo de capitalistas, nacionais ou
estrangeiros, a subordinação dos meios de comunicação existentes, jornais, televisão e
outras mídias ao poder político-econômico que se implantou em Portugal, contribuíram
para a alienação, a ignorância, o desconhecimento do mundo exterior e o atraso da
maior parte da população portuguesa. Para continuarmos a discussão em função do tema
vertente foi elaborada a seguinte questão de partida:

Qual foi o impacto da política portuguesa de assimilação na colónia de Angola nos anos
1950-1960?

Formulação das hipóteses

De modo a dar explicações aos factos, torna-se necessária a elaboração das hipóteses,
que para Goode e Hatt (1969, p.75) “são preposições que podem ser colocadas a prova
para determinar sua validade”. Tratam-se de respostas provisórias cujo objectivo é
inspeccionar os resultados da pesquisa. Assim, foram levantadas as seguintes hipóteses:

H1: A política portuguesa de assimilação se constituiu como estratégia de exploração das


colónias nos anos de 1950-1960;

H2: A política portuguesa de assimilação contribuiu para a perda de identidade da


maioria dos africanos que viram-se obrigados a lutar para recuperá-la;

Objectivo de estudo

Segundo Lakatos e Marconi (2001), toda pesquisa deve ter um objectivo determinado
para saber o que se vai procurar e o que se pretende alcançar.

Objectivo geral

Analisar através da historiografia o impacto da política portuguesa de assimilação na


Colónia de Angola nos anos 1950-1960.

Objectivos específicos

Para atingir os objectivos específicos, delinearam-se os seguintes objectivos específicos:


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 Caracterizar a política colonial portuguesa na colónia de Angola entre 1950 e
1960;

 Reconhecer o impacto da política portuguesa de assimilação na colónia de


Angola;

 Descrever o desencandear da política indígena e suas influências na formação do


Estado Novo;

Justificação do tema

A escolha do tema emerge da nossa motivação pessoal e académica e deve-se a três (3)
razões: primeiro, por ser um assunto que aborda a estratégia aplicada pelos portugueses
na exploração de novos territórios; segundo, por se trata de um tema que descreve a
despersonificação das sociedades africanas, pois era incutida nos indígenas uma nova
identidade e uma realidade alheia e, terceiro, por ser um tema que nos faz entender as
motivações e revoltas dos angolanos contra a ditadura salazarista para a formação do
Estado Novo que veio a despertar nos indígenas o verdadeiro sentimento nacionalista.

Metodologia

Tendo em conta os diversos métodos das Ciências Sociais, para o nosso estudo
utilizamos o método de análise histórica das fontes. As técnicas a serem utilizadas no
nosso trabalho foram: a pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e a análise crítica
dessas fontes, sua interpretação e síntese.

Estrutura do trabalho

No tocante ao conteúdo, o nosso trabaho está estruturado em três (3) capítulos. Após os
conceitos introdutórios, segue-se o primeiro capítulo referente a Angola como colónia
portuguesa, onde descrevemos a ocupação portuguesa depois de denominados alguns
reinos, o povoamento das colónias, a situação socio-económica da colónia de Angola, a
ideologia dos colonos e quiça, a primeira tentaiva de revolta dos povos indígenas.

No segundo capítulo referente a Política portuguesa de assimilação na colónia de


Angola nos anos 1950-1960, apresentamos um conceito genérico sobre assimilação e o
que foi na realidade a política assimilacionista portuguesa, bem como os três sentidos
que nortearam esta política; apresentamos também o discurso ideológico, ou seja, a
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pedagogia colonial que teve como intenção primeira apagar a identidade dos indígena,
torna-nos assimilados de uma nova realidade , bem como a política indígena, que mais
tarde despertou nos angolanos o espírito nacionalista que influenciou na formação do
Estado Novo.

No terceiro capítulo referente ao impacto da política portuguesa na colónia de Angola,


apontamos os diversos sectos que esta incidiu provocando alterações dráticas, como
demográficas, económicas e educacionais, que veio mais tarde originando uma revolta
dos povos para se libertarem da dita ditadura salazarista, através da alteração da
legislação colonial. Por fim, apresentamos algumas considerações em torno daquilo que
foi um ideológia maquiavélica.

CAPÍTULO I – ANGOLA COMO COLÓNIA PORTUGUESA

1.1. O período colonial: a ocupação portuguesa de Angola

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Para Jan Varsina (1965, p.33) apud Kunzika (2015, p.23), “ antes da chegada dos
Portugueses, já havia reinos bem estruturados, tais como o reino do Kongo, gozando de
uma hegemonia incontestada dentro dos Estados costeiros de África Central, tendo os
Portugueses copiado a estrutura territorial do reino do Kongo no seu empreendimento
colonial”.

Segundo Kunzika (2015), até ao século XVI, Portugal reconhecia a soberania do


Kongo, que não considerava como sendo colónia nem como um protectorado. Apesar do
respeito pela soberania do Kongo, os Portugueses mediam esforços para conquistar o
reino de Ngola por via da força. Encontraram uma forte resistência dos reinos de Dondo
e de Matamba. Nesta senda, Ngola, do reino do Ndongo e a sua irmã, a rainha Nzinga
da Matamba, travaram entre 1608 e 1620, uma longa guerra contra a ocupação
portuguesa.

Em 1620, Ngola foi banido numa zona do rio Kwanza, facto que obrigou a sua irmã a
tomar uma iniciativa de pedido de paz. Esta veio em 1621 a Luanda à testa de uma
importante delegação. Segundo Cornevin (apud Kunzika, 2015, p.23),tratando da
questão do pagamento de um tributo anual, ela replicou: “ fala-se de tributo aos que são
vencidos, eu venho propor a paz e não a submissão”. A rainha permaneceu em Luanda
um ano inteiro e foi baptizada com o nome de Dona Ana de Sousa.

Segundo Kunzika (2015, p.23), “em 1623, a rainha mandou assinar o seu irmão Ngola
e engajou guerreiros Jaga para levar a cabo uma guerrilha que iria durar treze anos”. O
autor argumenta que em 1636, a rainha consentiu fazer a paz, uma paz precária que a
obrigou a aliar-se aos Holandese em 1642, que tinham ocupado Luanda em Agosto de
1961, para ajudá-los a desalojar e expulsar os Portugueses instalados em Massangano,
donde organizavam a resistência aos Holandeses e ataques contra a rainha Nzinga. O
apoio da rainha aos Holandeses se reviam do discurso mobilizador da mesma:

Nós não podemos fiar-nos nos Europeus. Não devemos aceitar que um
mestre substitua um outro. Ajudaremos os Holandeses a vencer os
Portugueses, pois que os inimigos dos nossos inimigos são nossos
amigos. É o momento de recuperarmos os territórios perdidos pelos
nossos antepassados.

Perante este entrave, os Portugueses buscaram ajuda aos Brasileiros para vencer os
Holandeses, que acabariam por deixar Angola em 1648. Kunzika (2015, p.24), relata

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que neste ano, “o reino do Kongo reiniciou as hostilidades ao recusar a entrada no seu
território dos Portugueses, motivados pela busca do ouro, mas foi vencido na chamada
Batalha de Ambuíla pelo exército português sob o comando de Luís Lopes de Serqueira
e seus auxiliares Jaka, na Ambuíla em 29 de Outubro de 1665”. Com esta derrota, os
Portugueses apossaram-se de Pungo-A-Ndongo em 1671.

Segundo o autor, em 1683 a grande rainha Nzinga morre com a idade avançada de uma
morte natural e foi possível considerar o reino do Ndongo como definitivamente
conquistado e veio a tornar-se “ Reino Português de Angola”. Este reino foi, portanto,
uma conquista conseguida pela força, astúcia e felonia, e neste aspecto difere
absolutamente do reino independente do Kongo, onde os Portugueses não exerceram
nenhum direito de governação antes de 1883.

Cornevin apud Kunzika (2015, p.24), afirma que “ em 1510, a máquina infernal do
tráfico de negros, que devia esmagar a África negra durante mais de três séculos, tinha
sido posta em marcha com o pedido de mão-de-obra para as plantações americanas.
Com efeito, imitou-se no Brasil o exemplo da economia açucareira e esclavagista de
São Tomé, principal produtor de açúcar e consumidor e distribuidor de escravos, que
acabou por perder o seu predomínio no tráfico atlântico como consequência do
desenvolvimento do tráfico de negros em Luanda.

A partir desta, pode-se afirmar que a política indígena portuesa caracterizava-se


essencialmente pelos diferentes modos de aquisição dos escravos, com uma acção
missionária, limitada a actuar nas imediações dos postos militares. Angola não era
essencialmente uma base da economia americana, mas possibilitava atingir
gradualmente as regiões onde os escravos eram numerosos e baratos.

Para Kunzika (2015, p.25), “ é possível afirmar que até ao fim do século XVIII não
existia uma colónia de Angola”. Existia pois o reino português de Angola, mas com as
dimensões muito restritas, limitado a norte pelo Dande, a sul pelo Kwanza, a leste pelos
arredores de Malange. Distante de Luanda a 400 km existia também o reino português
de Benguela. Benguela tinha sido fundada em 1617 por Manuel Cerveira Pereira. A
parte interior Ovimbundu não era absolutamente submetida, mas, a partir de 1630,
certos Portugueses de Benguela instalaram-se nela.

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Para Kunzika, começou-se a falar da colonização portuguesa propriamente dita apenas
no século XIX com a anexação do reino do Kongo à Colónia Portuguesa de Angola e a
fixação das fronteiras actuais pela conferência de Berlim. Foi nesse século que teve
efectivamente lugar a colonização portuesa de Angola. Por volta de 1855, os
Portugueses ocuparam Ambriz, indo até Bembe onde existiam as minas de cobre, que
nunca conseguiam explorar por fazer parte do território congolês. Já em 1883, os
Portugueses ocuparam a região compreendida entre Loge e Congo, ocupando também a
Landana (Cabinda), onde definiram a configuração actual de Angola, cujos contornos a
Conferência de Berlim e as convenções precisavam.

1.2. O povoamento colonial

Segundo Pereira (1981, p.11) apud Cruz (2005, p.77), “a emigração europeia
oitocentista distinguiu-se pelas duas grandes zonas de proviniência da emigração
transatlântica, a Europa do Norte e a Europa mediterrânica”. A autora relata que a base
motivadora desta, foi a busca de melhores condições de vida perante à crise dominada
pela pobreza e pelo desemprego, reflexos da Revolução Industrial. Enquanto a primeira
constituiu um factor equilibrador de um crescimento industrial, a mediterrânica
carcterizava-se pela dependência externa derivada da sua recente história – a
desagregação da sociedade do antigo regime, rumo ao novo modelo capitalista.

Neste contexto, esta inflexão do movimento migratório do qual Portugal participou


integrando a grande corrente cuja esmagadora maioria seguia para o Brasil em busca do
seu quinhão, possibilitou uma desfavorável política à industrialização. Mesmo com a
política de cerceamento relativamente à emigração que dominou Portugal dos séculos
XV-XVI até a segunda metade do séc. XIX, política essa apoiada nos latifundiários que
precisavam de braços para agricultura, é no entanto possível afirmar-se que o seu
incremento se deu no século XX, onde o continente africano passa a ser destino
preferencial da emigração portuguesa por imperativos óbvios. Segundo Cruz (2005,
p.79), “ Angola e Moçambique surgem assim como novo destino, a que não faltaram
medidas regulamentadoras para a ida e radicação das gentes além-mar”, conforme a lei
de 28 de Março de 1877, conjugada com a de 23 de Abril de 1896 a gratuidade dos
passaportes para a África, seguindo-se a sua supressão a 25 de Abril de 1907 – no qual
só os emigrantes para outros destinos necessitariam de passaporte para viajar.

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Cruz (2005, p.80), relata que “a concessão de terrenos para fundações de colónias
agrícolas foi parte integrante do movimento de colonização branca de Angola, tendo
atencedido a lei de 1877”. A autora na sua intervenção, dita que em 1881 foi criada na
capital de cada colónia uma “ Junta de Emigração”, destinada a promover o emprego
dos emigrados facilitando a organização de associações de socorros mútuos e a
repartriação dos que fossem atingidos por doença grave. Pelo decreto de 27 de Janeiro
de 1894, foi criada uma colónia penal militar no Moxico e em 1896, uma colónia militar
agrícola no sul de Moçamedes cuja função seria a defesa e a colonização.

Amaral (1960) afirma que a aplicação de medidas de colonização no litoral e a


ocupação do interior, a valorização das terras angolanas com obras de fomento
permitiram o povoamento portugués que começou a esboçar-se por volta de 1840, ano
que se instalou o primeiro núcleo de colonos na região de Moçãmedes. Antes desta
data, o barão de Moçãmedes já pretendera fundar uma colónia na região de Moçãmedes,
com o intuito de afastar o perigo de estabelecimentos estrangeiros.

Segundo relatos, as colónias penal e militar em Moçamedes e Huíla, feitas por meio de
empresas em que o estado colonial patrocinou através de agricultores, pescadores e
operários redundaram em fracasso, tendo como base deste declínio a fraca qualidade
dos colonos (colonização por degregados), aliada ao clima e às terras de baixa
qualidade. Por esta razão, foi proposta uma lei visando criar o Instituto de Colonização
(IC), que se destinava a preparar elementos de colonização e povoamento para os
domínios ultramarinos (CRUZ, 2005, p.81).

Em 1886, foi inaugurado o trabalho de construção do caminho de ferro de Luanda a


Ambaca. Até a proclamação da República em 1910, esforços foram feitos visando
urbanizar e com isto desenvolver e facilitar a vida da colónia, como exemplo disso,
temos o estabelecimento das comunicações telegráficas e postais. Segundo Cruz (2005,
p.82), “pela portaria provincial de 13 de Outubro de 1919, foi nomeada uma comissão
para proceder ao reconhecimento da região de Benguela para a escolha dos melhores
terrenos para a fixação dos colonos metropolitanos”. Nesta altura, o então governador
geral de Angola (1921-1924) Norton de Matos salientava a sua preocupação com a
necessidade de povoamento do território por europeus como única via visível para o
desenvolvimento do mesmo e das gentes. Para este colonialistas, era ao estado que cabia

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promover e sustentar a emigração dos colonos, bastando para isso assegurar-lhes as
condições de ida e permanência.

Assim é que, do seu empenho, se passou de 20.700 europeus em 1921, para 41.000 em
1925. Era igualmente importante precaver-se “o afastamento da possibilidade de
cruzamento com a raça preta”. O decreto de 3 de Fevereiro de 1922 procurava atrair a
Angola operários acompanhados de suas famílias, acrescido de outras tantas medidas
posteriores como a concessão de passagens gratuítas às famílias dos colonos e a criação,
em Angola, do Conselho Superior de Colonização (CSC).

Norton de Matos, pela portaria provincial nº 183 de 27 de Outubro deste mesmo ano,
organiza e regula a criação dos bairros indígenas a construir junto dos principais centros
urbanos no que, em Dezembro de 1937, tornou-se como forma de aldeamento indígena,
um meio de fixar os indígenas à terra. Com Vicente Ferreira então Alto Comissário de
Angola, é criado o Estatuto Orgânico dos Serviços de Colonização em 1928, o Fundo de
Colonização, as Missões Rurais de Colonização e a portaria nº247 de 19 de Dezembro,
com 2.000 contos, o Fundo Permanente da Repartição dos Serviços de Colonização.

Perante estas condições de povoamento colonial, Cruz (2005) argumenta que:

Até 1930 e apesar das mudanças de altos-comissários, o incentivo ao


povoamento da colónia não esmoreceu, sendo que entre 1925 e 1930
houve um aumento de cerca de 20.000 europeus, atingindo-se a
fasquia dos 60.000. Com a crise de 1930, a cotação dos géneros
coloniais e das matériais primas sofreu quebras de valor acentuadas. A
gravidade da crise fica bem patenteada com a involução do número de
europeus que, em lugar de povoar, despovoavam o território, pois
mais foram o que saíram dos que entraram. (CRUZ, 2005, p.85).

Só em meados de 1930 se dá a inversão deste movimento. Houve aumento constante da


população branca em Angola e os dados apontam 44.083 pessoas em 1940, atingindo os
78.826 3m 1950 e os 172.529 em 1960. Segundo René Pélissier (1978, p.28) apud Cruz
(2005, p.86), “o crescimento da populaçã de Angola, por tipos somáticos nesse mesmo
período, era em termos percentuais de 118,87% para os brancos, 80,09% para os
mestiços e 14,06 para os negros”. Esse aumento brusco e considerável da população
branca, provocou grandes rupturas no tecido social em Angola.

O aumento da população branca foi sinal do alargamento e do domínio do espaço


territorial e da eficácia da política colonial nas áreas adminitrativa e económica. Angola

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passou a constituir um espaço seguro e rentável, facilitando uma colonização dirigida e
passando a gozar de uma relativa autonomia.

1.3. Os colonos

Em primeiro lugar consideremos um significativo grupo de pressão constituído


por colonos agricultores, comerciantes e pequenos empresários industriais de Luanda,
Benguela e Moçâmedes, e o modo como exprimiam a sua opinião sobre as questões
económicas e políticas que mais os afectavam, em uma fase muito crítica do seu
crescimento económico.

Destinada a suprir as limitações da navegação a vapor no Kuanza, bem como a carência


de carregadores frequentemente denunciada por agricultores e comerciantes no percurso
entre Luanda e Malange, os comerciantes reclamavam, há muito, a construção de uma
via férrea entre Luanda e Ambaca. Segundo Freudenthal (2011, p.14), “procedia-se, em
meados da década de 1880, à construção do primeiro trecho, esperando-se, deste modo,
o aumento do volume de mercadorias permutadas na região, entre o litoral e o interior”.
É que, simultaneamente, uma leva de colonos vinha se instalando nas áreas produtivas
de cana e de café, associando a exploração agro-industrial ao comércio.

No Sul os problemas económicos eram mais graves e tinham, aparentemente, solução


mais difícil. Nesta perspectiva, Freudenthal, argumenta:

Utilizando a imprensa, especialmente no distrito de


Moçâmedes, os colonos mobilizaram fortes campanhas no
sentido de influenciar decisões governamentais favoráveis ao
desenvolvimento econômico, em particular a instalação da
ferrovia, o apoio à agricultura, aos colonos e ao escoamento
da sua produção. Protestando contra a morosidade das
decisões, os colonos de Moçâmedes reclamavam que "sem
estradas e sem bois de carro para conduzir os produtos ao
litoral, não há agricultura que vingue, nem indústria que
prospere (2011, p.15).

Em uma argumentação mais global, era ainda requerida a urgente construção da


ferrovia, em nome do próprio sucesso da colonização: transportar os colonos do litoral
para o planalto; promover as explorações mineira e pecuária; escoar os produtos
agrícolas e do comércio sertanejo; e efetuar a ocupação militar, constituíam ações das
quais o transporte ferroviário parecia indissociável.

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Após o Ultimato, ao longo do ano de 1890, António (1961) relata que alguns destes
argumentos foram reforçados, principalmente por razões de estratégia político-militar,
invocando Luanda, por essa razão, a necessidade de proteger a fronteira meridional;
defendiam, então, os colonos, a aceleração dos transportes para pacificar "eficaz, segura
e menos dispendiosamente e assegurar a ordem e a tranqüilidade nesta região" (Almeida
d'Eça apud Jornal de Moçâmedes, nº 164, 4/8/1891).

Marcados pela dura experiência de uma colonização carente de apoios governamentais


efetivos, e às voltas com os freqüentes levantes da população africana, que pretendiam
sujeitar, espoliar e explorar abusivamente, como mão-de-obra, os colonos de
Moçâmedes, interrogavam-se acerca da capacidade que os governos não revelavam no
sentido de promover uma "boa colonização”.

Os seus protestos, dirigidos anteriormente contra as disposições emancipadoras da mão-


de-obra escrava, voltaram-se, nos anos 1880, contra os processos de recrutamento
instituídos, marcados, aliás, por acentuada ambigüidade, a fim de permitir a perpetuação
de práticas escravagistas. Além disso, eram enormes as resistências contra a alteração
nas formas de tratamento dessa mesma mão-de-obra, ecoando na imprensa a
controvérsia sobre os castigos corporais (varadas) e o serviço forçado, assim como os
protestos contra o agravamento dos custos da mão-de-obra.

Preocupava a eles, além do mais, a precariedade do poder colonial, incapaz de conter as


frequentes revoltas, responsáveis pela perturbação do quotidiano das empresas locais.
No seu entender, Freudenthal (2011, p.16) argumenta que “a incúria e a ignorância
colonizadora dos governos só interessaria aos estrangeiros que, no momento oportuno,
se apoderariam de Angola, dando "mandado de despejo" a Portugal na sua qualidade de
potência colonizadora”.

No quadro concorrencial que a actividade dos estrangeiros representava junto às


fronteiras, os colonos alertavam as autoridades para as pretensões dos alemães e
ingleses, no sentido de responder a eles com o desenvolvimento interno da colónia, uma
vez que os "direitos históricos" não bastavam, de modo algum, para assegurar o
domínio português.

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Com efeito, alguns colonos entendiam que a Alemanha constituía, a médio prazo, um
concorrente temível, na medida em que podia criar "sérios embaraços à autonomia
colonial". Aliás, a aproximação que Portugal promoveu em relação à Alemanha para
contrabalançar o predomínio da Inglaterra era vista, na colônia, com reservas e forte
apreensão. "Parece à primeira vista que a Alemanha, com a sua expansão em África,
indiretamente nos desafrontará do brutal proceder da Inglaterra [...]", observava um
articulista, acrescentando com lucidez que "à Alemanha será fácil provar a incapacidade
de Portugal como colonizador em face do estiolamento das suas possessões", podendo
vir a aproveitar-se da vizinhança para se imiscuir na economia de Angola.

Na perspectiva de alguns colonos mais críticos, importava corrigir a má administração,


a letargia do governo, o esbanjamento de fundos, a ingerência abusiva do Estado em
todos os setores da vida da colônia, ao mesmo tempo em que devia ser assegurada a
exploração dos recursos naturais pelos elementos mais dinâmicos da população. Parar
agora seria morrer [...], pelo que preconizavam a maximização das potencialidades
econômicas, em especial no Sul, intensificando a pesquisa de recursos, garantindo a
manutenção da ordem, praticando uma administração descentralizada a par de uma
colonização agrícola em bases sólidas, apoiada na afluência de capitais.

Como se vê, não eram, efectivamente, os fundamentos da colonização que eram


questionados por este grupo, nem sequer a legitimidade dos processos utilizados. Afinal,
estava em questão apenas a eficácia do sistema, do qual os colonos esperavam obter
maior retribuição.

1.4. A "resistência primária"

Segundo Freudenthal (2011), nos finais da década de 1880, a maioria da população


africana, integrada em entidades políticas de dimensões muito variáveis, manifestou
outro tipo de resposta ao domínio português em Angola. As relações que mantinham
com os núcleos coloniais estavam compreendidas entre dois extremos: a independência

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ou a sujeição totais, sendo, contudo, as situações intermédias não só freqüentes, como
susceptíveis de acentuada instabilidade.

Na verdade, as pressões exercidas pelas autoridades de Luanda refletiam-se no interior


das formações sociais periféricas, atuando no sentido inverso da distância que as
separava do núcleo colonial. Deve, por isso, considerar-se que, em função dos interesses
prioritários da política colonial, regiões houve que foram profundamente perturbadas
pela intervenção européia, nomeadamente pela procura de mão-de-obra, de mercados e
de matérias-primas.

Desse facto, foram consequência direta as diversas manifestações de "resistência


primária" que no entender de Chilcote (1972, p.2), “eram provenientes dos sobados ou
de reinos independentes, que ocorriam logo que se atingia um ponto crítico em que as
relações de compromisso com o núcleo colonial ou seus representantes se rompiam”.
Eram formas de resistência passiva e/ou ativa que funcionavam como a resposta
possível perante situações constrangedoras para aquelas formações sociais.

Ao contrariar global ou pontualmente a interferência política externa, buscavam as


autoridades africanas preservar não só a sua soberania sobre os homens e o território
legado pelos antepassados, como o controlo do produto da terra, a preservação das suas
estruturas sociais e o acesso a rotas comerciais e aos mercados abastecedores (cf.
Chilcote, 1972, p.281-282). Se é certo que a agressividade comercial tanto de africanos
(no planalto do Bié e na Bacia do Zaire, por exemplo), como de europeus (sertanejos e
outros), produziu alguns episódios de resistência armada, como sucedeu em 1886, não
foi esse o domínio mais propício à violência explícita.

Foi, pelo contrário, a ocupação de terras férteis ou próprias ao pastoreio, feita pelos
colonos europeus em um ritmo acelerado a partir dos anos 70, que desencadeou os
protestos dos seus primeiros possuidores. Essa expropriação, estendida sucessivamente
por novas áreas, originou conflitos profundos que em muitos casos persistiriam até ao
fim do período colonial.

Por outro lado, a persistência da escravidão na fase terminal do processo abolicionista


perpetuou práticas violentas que geravam respostas idênticas às que a condição de
escravo ditara durante séculos. As fontes atestam, de modo irrefutável, que perdurou o

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tráfico interno de escravos, utilizados como moeda de troca, mesmo depois de 1875,
ano-limite segundo a legislação abolicionista. Correspondendo a interesses há muito
instalados, nem sobas, nem comerciantes, abdicaram de imediato do tráfico. De facto, a
rejeição da escravidão provinha quase que exclusivamente daqueles que continuavam a
ela submetidos, em atitudes de revolta individual que deixaram sinais nos documentos.

Paralelamente, foi instituído, após 1875, o recrutamento dito voluntário de "serviçais",


expressamente para substituir o anterior processo de angariação de escravos
(Freudenthal, 2011, p.18). Pela identidade de processos utilizados, desencadeou
resistências renovadas entre as populações sujeitas a prestações coercivas de trabalho
em Angola, ao mesmo tempo em que aumentou a exportação de "serviçais contratados"
nos anos 80, tanto para São Tomé como para o Estado Livre do Congo, depauperando
demograficamente as regiões fornecedoras. Nesta situação encontravam-se os
Conselhos de Novo Redondo, Catumbela, Benguela, Cambambe e Dondo, que
contribuíram com o maior contingente de "colonos devidamente resgatados, vacinados e
contratados" pela Curadoria, em 1890 e 1891.

Consideremos os níveis de rejeição manifestados pela mão-de-obra africana recrutada


em regime forçado, através dos compromissos assumidos pelos sobas perante as
autoridades coloniais, e efectivamente compelida a trabalhar nas obras públicas, nas
fazendas privadas ou do Estado, nas pescarias etc. As atitudes mais freqüentemente
registradas nas fontes indicam o seu posicionamento perante o sistema que
gradualmente absorvia essa mão-de-obra: a lentidão no trabalho, o roubo e a destruição
de bens, ferramentas e gado, a fuga dos locais de trabalho, o assassinato de colonos e
feitores, são provas eloqüentes da difícil integração dessa mão-de-obra no sistema de
exploração por meios coercivos.

Em uma avaliação global, assinale-se que: a instalação de residentes portugueses (civis


ou militares) encarregados de fazer imposições às autoridades africanas, quer via
negociação, quer militar, o traçado de fronteiras ao abrigo de tratados assinados entre as
potências européias; a cobrança de impostos em nome da Coroa portuguesa, praticada
por processos venais; a imposição de prestações de trabalho em jornadas mais ou menos
longas e duras; e a ingerência nos processos eletivos das autoridades tradicionais, foram
entre outros, fatores decisivos que precipitaram algumas revoltas ocorridas de norte a

14
sul da colônia nesse final de século. Afinal, a instabilidade que se vivia era produto da
contestação evidente da legitimidade da presença portuguesa em Angola, por uma parte
significativa dos africanos.

CAPÍTULO II – A POLÍTICA PORTUGUESA DE ASSIMILAÇÃO NA


COLÓNIA DE ANGOLA

2.1. A política colonial portuguesa

Segundo Kunzika (2015), a Conferência de Berlim (CB) atribuía às potências


colonizadoras a ordem de marcha ou de conquista, uma missão qualificada justificada
na possessão colonial. Nkrumah (1962) apud Kunzika (2015) relata que esta missão foi

15
proferida pelo Princípe Otto von Bismarck, em 15 de Novembro de 1886, nos seguintes
termos:

Ao convidar à Conferência o Chanceler, o Governo imperial foi


guiado pela convicção de que todos os governos convidados
partilhassem o desejo de associar os índigenas de África à civilização,
fornecendo aos seus habitantes os meios de se instruírem, encorajando
as missões e empreendimentos de modo a propagarem ps
conhecimentos úteis, e preparar a supressão da escravatura, em
particular o tráfico de negros (KUNZIKA, 2015, p.28).

O autor acrescenta que, Portugal, uma das potências dessa Conferência abraço a causa,
motivado pela exploração de ouro e prata, na qual se desencandeou os horrores da
escravatura, que constituíram um pesado tributo pago pelos angolanos em consequência
do encontro maquiavélico com os portugueses, cuja missão foi mais avassaladora do
que civilizadora.

Contra esta lógica colonial, destaca-se Jules Perry, ao discursar em 1885 à Câmara dos
Deputados, para defender a política colonial do Governo Francês, do qual era o
Presidente do Conselho, e no qual expunha as razões primordiais da conquista colonial,
propriamente da penetração em Áfriva das potências capitalistas, afirmando:

As nações europeias procuram colónias pelas três razões: (i) para


procurarem as matérias-primas das colónias; (ii) terem mercado para
os produtos manufacturados da metrópole, e (iii) encontrarem terrenos
e espaços favoráveis para o investimento das mais-valias de capitais.

Kunzika (2015) faz menção ao discurso de Alber Sarraut, Secretário de Estado para as
colónias do Governo Francês (1923), do qual retira o véu do espírito colonizador que
encobria a «responsabilidade do homem branco» e sua «missão civilizadora», os quais
identificavam a colonização. Eis o terminar do discurso de Sarrut: “ A colonização é um
empreendimento de interesse pessoal, unilateral e egoísta realizado pelo mais forte
sobre o mais fraco”.

Contudo, Portugal, se apegando no pionerismo sentia uma grande vulnerabilidade nas


suas posições, o que levou a construção de uma ideologia que consistiu na criação de
uma unidade políotica e espiritual, tendo as dimensões de toda a nação portuguesa, a
partir dos diferentes grupos étnicos existentes num vasto espaço geográfico. Nesta
perspectiva, Portugal recusando basear essa unidade geográfica em motivos
económicos, proclama a sua missão civilizadora e ao mesmo tempo, inseri uma missão

16
sagrada de cristianizar o mundo (KUNZIKA, 2015, p.29). O autor argumenta que esta
política era norteada por cinco facetas:

a) Vocação civilizadora;

b) Vocação evangelizadora;

c) Política de Integração;

d) Política multirracial

e) Polítca de assimilação.

Dentre as facetas mencionadas, a nossa visão concentrar-se-á na última faceta pois se


constitui como o fulcro da nossa investigação.

2.2. A política de assimilação

Quando alguém se encontra num meio estranho, há duas atitudes possíveis que pode
adoptar para assegurar a sua sobrevivência no referido meio: a primeira opção consiste
em abraçar o processo de assimilação, se pretender que o meio se adapte à pessoa; a
outra opção consiste em recorrer ao processo de acomodação, se pretender adaptar-se ao
meio (KUNZIKA, 20015, p.40).

Assimilação é o processo pelo qual os indivíduos ou grupos sociais adquirem elementos


culturais de outros grupos sociais ou países. Isso ocorre, por exemplo, com as
comunidades de imigrantes que se estabelecem nos países de acolhimento e absorvem a
cultura dominante. No entender de Rego (1958, p.192) apud Cruz (2005, p.167), “a
assimilação é o processo pelo qual o povo colonizador procura elevar até si, por todos
os meios ao seu alcance, os indivíduos ou indígenas colonizados”. Não há exemplo, na
história colonizadora portuguesa, de o esforço colonizador se ter dirigido a qualquer
povo ou nação, pelo contrário, o objecto directo deste esforço foi sempre o particular, o
indivíduo.

Falar de assimilação e do assimilado, supõe algumas palavras introdutórias que remetem


necessariamente para um tempo anterior em que a origem destes termos e a ideologia
subjacente já se encontram presentes. No final do século XIX e início do século XX,
registou-se na literatura da época, propriamente na impresa escrita angolana, o uso das
expressões nativo e gentio (CRUZ, 2005).
17
A autora afirma que embora a terminologia nativo, possa num primeiro momento ter
sido usada para significar (todos) os naturais de Angola – entre negros, brancos e
mestiços – denunciando um movimento se não independentista, no mínimo de
autonomia e/ou descentralização relativamente ao reino ( e mais tarde à metrópole),
certo que o nativo depressa passou a ser “ o negro instruído”. Foi com o Estado Novo
que assimilado versus indígena ganharam o estatuto de cidadania, inaugurando assim
um novo período da colonização e do colonialismo português.

No que tange à expressão política assimilacionista, afirma-se que a mesma refere-se ao


conjunto de leis, medidas político-administrativas e práticas sociais, levado a cabo pelo
governo colonial português para levar os africanos a abandonar seus traços culturais e
assimilar a cultura portuguesa e, assim, tornarem cidadãos portugueses.

Para os colonialistas, segundo Cruz (2005, p.172), “a assimilação dos indígenas era
desejável somente em função e na proporção da sua utilidade – quanto maior o número
de civilizados, maior o de suas necessidades; quanto menor, melhor a manutenção do
regime”. Era para isso que trabalhavam, conforme regia o Diploma nº 237 de 26 de
Maio de 1931, no seu artigo 1º :

Por se distinguir do comum da raça negra é considerado assimilado aos europeus o


indivíduo daquela raça ou dela descendente que reunir as seguintes condições:
a)Ter abandonado inteiramente os usos e costumes da raça negra; b) Falar, ler e
escrever correctamente a língua portuguesa; c) Adoptar a monogamia; d) Exercer
profissão, arte ou ofício compatível com a civilização europeia, ou ter rendimentos
por meios lícitos que sejam suficientes para prover os seus alimentos,
compreendendo sustendo, habitação e vestuário, para si e sua família.

Ser assimilado aos europeus, render-se aos ditames da civilização, era o que a legislação
consagrava à minoria dos tidos como assimilados. Segundo Cruz (2015,p.174), “ dois
pesos e duas medidas caracterizavam a política colonial portuguesa: a de que o outro
deve ser respeitado e preservado e a de que o outro não é, não existe” e, deste modo se
explica a política de assimilação como ´´única alternativa para o reconhecimento do
outro.

A autora acrescenta que foi o não reconhecimento que caracterizou o discurso e a


prática colonial, indo assim de encontro aos objectivos da colonização. Nesta
perspectiva, Cunha (apud CRUZ, 2005) faz-nos compreender:

Ora, uma coisa é assimilar uma colónia à metrópole sob o ponto de


vista político, aduarneiro ou financeiro, e outra coisa é querer
assimilar os indígenas. A assimilação política é legítima como
18
correspondendo aos interesses que se coordenam na colonização, a
assimilação dos indígenas é inadmissível por contrariar
fundamentalmente esses interesses (CRUZ, 2005, p.175).

Incentivada por uns, desencorajada pela maioria, a política de assimilação conheceu ao


longo do tempo solicitações maiores ou menores em função das necessidades da
colonização. Nesta senda, Portugal introduziu uma alteração na denominação das
colónias, através do retorno à designação de províncias ultramarinas ( a partir dos anos
50) para atender a política de maior assimilação e descentralização política. Assim,
Portugal prosseguiu uma política de maior abertura que se denominou como “ política
de integração”, que de acordo com Belchior (1966) apud Cruz (2005) deveria:

(…) sem dúvida, facilitar ao Africano a aquisição dos elementos da


nossa cultura, mas dando-lhe o direito de os tornar ou não, porque só
ele sabe quais deles pode integrar, sem perigo, na sua própria cultura e
quando é oportuno (CRUZ, 2005, p.177).

A autora relata que este gesto de maior abertura e de conciliação (dando-lhe o direito de
os tomar ou não), é denunciador do sistema e da privação de direitos do colonizado. Se
por parte dos colonialistas, a política de assimilação era um fim em si, da parte dos
colonizados ela representava a única forma possível de ser tratado com alguma
dignidade, de ter algo porque esperar no futuro, enfim, de ter horizontes. Cruz (2005),
valendo-se das palavras do escritor Raul David, revela que as vantagens de ser
assimilado eram jurídicas, uma vez que os litígios eram resolvidos em tribunal, o que
não acontecia com os indígenas porquanto, apesar da existência do Estatuto que era
suposto protegê-lo, na prática os indígenas encontravam-se à mercê do colonizador que,
em situação considerada de desacato ou de desrespeito à lei, eram mandados para São
Tomé. Em relação as desvantagens, Cruz relata que ser assimilado constituía um logro
social, pois que o assimilado nunca deixava de ser na prática de ser indígena, os seus
horizontes de ascensão social eram nulos.

Segundo Cruz (2005, p.179), “ uma imposição, uma condição, uma necessidade, uma
aspiração, constituíam alguns dos paradoxos e ambiguidades da política de assimilação,
e de quem se via confrontado com ela”. A autora acrescenta que para ser um assimilado,
o indígena deveria reunir todas as condições do artigo 56 do estatuto dos indígenas
( dec. – lei nº 39666 de 20 de Maio de 1954) – na qual o Bilhete de Identidade (B.I) era
o alvará a obter como prémio à consignação. Esta lei estabelecia que:

19
Pode perder a condição de indígena e adquirir a cidadania o indivíduo
que prove satisfazer cumulativamente o requisitos seguintes: (i) ter
mais de 18 anos; (ii) falar correctamente a língua portuguesa; (iii)
exercer profissão, arte ou ofício de que aufira rendimento necessário
para o sustento prõprio e das pessoas de famílias a seu cargo, ou
possuir bens suficientes para o mesmo fim; (iv) ter bom
comportamento e ter adquirido a ilustração e os hábitos pressupostos
para a integral aplicação do direito público e privado dos cidadãos
portugueses; (v) não ter sido notado como refractário ao serviço
militar nem dado como desertor.

Este artigo definia a qualidade de não indígena ou assimilado, o que permitia a obtenção
da cidadania e, com ela, o bilhete de identidade, como nos atesta o art. 62º do mesmo
decreto-lei: “ O bilhete de identidade faz prova plena da cidadania…”. Em
contrapartida, o Estatuto Político Civil e Criminal dos Indígenas (EPCCI) de 6 de
Fevereiro de 1929, dec. nº 16473, não fazia qualquer menção explícita â possibilidade
de se deixar de ser indígena.

Relata-se que nos termos do art.56º, toda mulher indígena casada com o indivíduo que
adequira a cidadania nos termos do artigo supra citado e os filhos lrgítimos ou
ilegítimos perfilhados, menores de 18 anos, que viviam sob custódia do pai durante a
data daquela aquisição podem também adquiri-la, no caso de satisfazerem os requisitos
definidos nas alíneas b) e d) do mesmo artigo.

2.2.1. Os três sentidos da assimilação

Para compreendermos a razão pela qual os Portugueses escolheram a política de


assimilação, Guy de Bosschere (apud Kunzika, 2015, p.41) aponta três sentidos
diferentes deste processo:

1. Para o governo colonial, assimilar significa, fundamentalmente, “ alienar” o


colonizado e impor-lhe as leis, a língua e os costumes do colonizador, sem lhe
conceder os direitos e privilégios inerentes. Essa forma de assimilação te a
vantagem de “ despersonalizar” o colonizado, e consequentemente, torná-lo
mais submisso.
20
2. Para os colonos europeus, a assimilação representava a monopolização para o
seu proveito exclusivo, de todos os direitos e privilégios de cidadão, embora sem
implicar necessariamente a obediência às directrizes da política metropolitana
quando esta parecia desconhecer os seus interesses legítimos.

3. Por fim, no espírito metropolitano, a assimilação é a via pela qual os autóctones


iriam, não somente usufruir dos benefícios da cultura e da civilização europeia,
mas, igualmente, ter acesso à igualdade de direitos e privilégios detidos pelos
cidadãos.

Nestes moldes, afirma-se que a política de assimilação portuguesa constitui uma


estratégia pela qual Portugal queria assegurar-se da dominação permanente de suas
colónias, um subterfúgio através do qual aparentava boas intenções, embora na verdade
enganadoras, tendo em conta o resultado quase nulo dessa política de assimilação.
Tratou-se, na verdade de um círculo vicioso, não deixando qualquer saída a maioria
negra, prisioneira do sistema.

2.3. O discurso ideológico do colonialismo português: a pedagogia


colonial (ista)

Para conquistar novos territórios, Portugal fez-se valer medidas e estratégias de modo a
convencer os outros povos a assimilarem a cultura europeia, para assim serem
dominados a mercê da autoridade portuguesa. Com a táctica evangelizadora e
civilizadora, observamos aqui uma forma de pedagogia colonial portuguesa, com uma
ideologia bem estruturada.

Na concepção de Neto (1997, p.339), “ a ideologia colonial designa o corpo de ideias


filosóficas e políticas que deram coerência global e forneceram justificação ao
expansionismo da Europa em África”. Tratou-se verdadeiramente de uma « ideologia »,
já que não se limitou a formulações e reflexões teóricas em círculos restritos, mas
produziu um conjunto de convicções básicas que impregnaram a maneira de ver o
mundo e as atitudes individuais e colectivas de diferentes grupos sociais. Essa ideologia,
centrada na superioridade do « homem branco », legitimou as guerras de conquista, a
exploração a favor da metrópole, a sujeição das maiorias colonizadas, e tornou « natural

21
» ao olhos dos colonizadores (e, muitas vezes, dos colonizados) a desigualdade de
direitos e a discriminação racial.

Segundo Cruz (2005. P.108-109), “ O Acto Colonial de 1930, deu continuidade do


discurso ideológico do colonialismo português através da tríade de princípios políticos:
centralização administrativa, integração económica e nacionalização das colónias”. Foi
com base nesses princípios que Portugal de declarou colonizador e os seus territórios de
África, colónias. Assim, o Império Colonial Português já não era mais uma utopia, pois
a partir do discurso colonial começou a gravitar a sua supremacia.

No entender de Moreira ()1956, p.56) apud Cruz (2005, p.109), “ do ponto de vista
jurídico, a colonização implica portanto um fenómeno de dependência, Os indígenas,
seja qual for o esquema jurídico que venha a ser adoptado perdem a sua independência;
o território, seja qual for o esquema jurídico consagrado, é objecto do poder do Estado
Colonizador”. Neste contexto, estava definido a tónica da ideologia, do discurso e da
prática colonial, instalando-se as bases da colonização.

Evidentemente, não basta que o colonizador se apresente como tal, é imperioso que se
manifeste, se ergue uma imagem representativa de si. Para isso. É preciso anular o
outro, o colonizado, mantendo a sua superioridade. O ecolidir dos sentimentos
nacionalistas teve o seu primeiro manifesto por volta de 1822, sentimento este
alimentado pelo colonialismo. Foi assim que no início do século XX, a necessidade de
capitalizar os sentimentos e a economia levou a construção ideológica do Estado Novo,
onde foi possível manter o discurso nacionalista e imperialista por mais de quarenta
anos.

A autonomia que caracterizou a era do Estado Novo, correspondeu exactamente à nova


era era da política colonial baseada na exploração sistemática dos territórios, para uma
melhor rentabilidade das colónias. O conjugado Nacionalismo/Colonialismo
transformaram a empresa colonial num princípio e um fim de si mesma. Assim, para
conciliar a sua missão que era, a civilização, Portugal tinha que se afirmar como um
povo nobre em que a ausência de preconceitos fosse intrínseca ou uma carcterística
inata.

22
2.4. Política indígena

A palavra indígena - que provém do latim, que significa «o que é natural do lugar ou
país que habita; aborígene; autóctone (seja homem animal ou planta). Para os
colonialistas portugueses da época, o termo serve para designar, «o preto boçal»,
atribuindo a ele categorias de inferior’’ ‘’atrasado’’ ou ‘’primitivo’’, são o exemplo da
forma como era caracterizado o nativo indígena africano de Angola, Guiné e
Moçambique.

Segundo Moreira (1955,p.29) apud Cruz (2005), “o estado de indígena se define em


face de três coordenadas: o território, a raça e a cultura”. A autora continua o
pensamento de Moreira, argumenta que a justificação da política indígena reside
precisamente na natureza envolvente que caracteriza o indígena.

Não se pode falar de política indígena sem o termo “ pacificação”, apegando-nos apenas
em enunciado sistematizado de normas e condutas daqueles e na designação destes
com os colonizadores. O século XIX ainda foi amorteceado pelo tráfico e escravatura,
apesar dos esforços da sua abolição; a relação entre os portugueses e os Africanos eram
inicialmente apenas comerciais.

Em meados do século XIX, cerca de meio milhão de Africanos viviam em vilarejos sob
o jugo do colono português, um período que a presença europeia era débil e as relações
coloniais com Angola predominantemente mercantis (CRUZ, 2005). Segundo Dias
(apud Cruz, 2005, p.145), “ a posse e o controlo dos recursos básicos da terra e da mão
–de-obra, e a cada vez mais procura internacional de matrérias-primas e produtos
agrícolas tropicais proporcionou um aumento das oportunidades de comércio
independente”. Esta elevada procura gerou um enfraquecimento nas comunidades locais
e impossibilitou a penetração do poder económico e metropolitano na década de 1870.

No sul de Angola, de acordo com Clarence-Smith (1979) apud Cruz (2005), a


importação de armas de fogo e de cavalos a partir de 1860, provocou a transformação
dos chefes numa classe explorada, apesar do controlo e monopólio. Tudo isso, foi
motivado pelo enriquecimento de alguns chefes que viram uma mundança nas estruturas
socias, económicas e políticas. O interesse pela região sul de Angola predia-se pelas
razões de natureza diversa: a continuação do tráfico, a conquista e consequente taxação
das gentes no interior e o ambicionado plano de ligação entre Angola e Moçambique.~

23
Valendo-se das palavras de Cruz (2005), o século XX foi um século de uma
colonização política e administrativa, onde se falava de apropriação do espaço, da
colonização administrativa, económico-financeira, militar e da alienação das gentes, ou
seja, assistia-se um novo espírito colonial. Nesta visão nova colonialista, destaca-se a
iniciativa de Norton de Matos, que consideram a situação candente, começa a organizar
as populações indígenas com base ao seu aproveitamento e isso traduziu-se na criação
dos Serviços de Negócios Indígenas (SNI) em 1913 e na criação de escolas-oficinas
para ensino a indígenas em 1921.

Neto (2013) a par desta iniciativa de Norton de Matos, relata que humanitarismo e
utilitarismo davam, pois, as mãos. Ou, como discorreu para o caso português, em
1895,o general Joaquim José Machado, um dos mentores de Norton de Matos:

Não é só por considerações humanitárias que vale a pena trabalhar


para melhorar a condição dos indígenas. Eles podem transformar-se
em produtores e consumidores, e por consequência contribuem de
modo eficacíssimo, não só para o desenvolvimento do comércio, mas
para o da agricultura e demais indústrias. De facto o preto é
indispensável para a civilização da África e tanto, que se ele não
existisse, seria necessário inventá-lo(NETO, 2013, p.35-36).

Em toda legislação decorrente da política indígena, o elemento comum era a mão-de-


obra e o trabalho, para além do código que lhe estava consignado, os vários estatutos
como o do Indigenato. Na ausência desta codificação, Ferreira Diniz propõe no seu
relatório de 1913 que as bases de organização da justiça indígena em Angola passava
por uma clara definição de indígena:

Indígena é o indivíduo de cor preto ou mulato que satisfaz


cumulativamente às seguintes condições: (i) ter nascido na
província; (ii) não falar português correctamente e ; (iii) ter
hábitos e costumes indígenas.

Cruz (2005) relata que havia necessidade de se impôr uma ordem , de disciplinar e
educar os indígenas, e isto só era possível através de uma delimitação que permitisse
assegurar o domínio. A autora acrescenta que foi adoptada a chamada administração
(asimilação espiritual) assimiladora e nacionalizadora. Assim forma definidos em 1936
cursos de enfermeiros europeus e indígenas, de três níveis:

a) Curso elementar de enfermeiro auxiliar indígena;

b) Curso geral de enfermagem;

24
c) Curso complementar de aperfeiçoamento.

No final dos cursos, a qualificação era totalmente diferente entre os europeus e


indígenas, por exemplo, se um indivíduo branco terminasse o curso de enfermagem,
este seria B, sem que tivesse que passar por qualquer outro. Quanto ao nativo tinha de
passar necessariamente pelo A e por três níveis do mesmo que, depois de concluído, lhe
davam o grau de enfermeiro auxiliar indígena de 1ª classe. A disparidade atingia
também a remuneração dos trabalhos. O branco mesmo com a qualificação mais baixa,
auferia maior salário que um indígena.

Com a Reforma Administrativa Ultramarina (RAU) de 1933, passa haver um


governador geral, um inspector geral da administração colonial, governador da
província, intendente de distrito, administrador de circunscrição, secretário de
circunscrição, chefe de posto e aspirante de administração. O gradualismo dessas
posições correspondia uma maior ou menor aproximação do indígena. Do outro lado,
encontrava-se as regedorias, sob o comando de um soba, cujo poder de investidura e
destituição dependia da homologação do governador da província ou do distrito
(estatuto de 1954).

Nesta época, os sobas eram quase despojados de poder e estavam sujeitos aos chefes de
posto e sob o controlo dos cipaios. O aniquilamento da autoridade tradicional despertou
nos anos 40, o discurso da manutenção das sociedades indígenas, ganga espaço com a
ideia de manter o indígena na sua terra de origem e fortalecer os laços de rejeição, no
caso de pagamento de imposto.

Assim, percebe-se que a política indígena foi caracterizada pelo estabelecimento de


normas para os indígenas, representava a posição e o lugar dos negros perante o estado
português e definia um conjunto um conjunto de direitos e deveres do indígena face ao
europeu.

25
CAPÍTULO III – O IMPACTO DA POLÍTICA PORTUGUESA DE
ASSIMILAÇÃO NA COLÓNIA DE ANGOLA NOS ANOS 1950-1960

3.1. Angola na década de 1950-1960

O interesse político e económico de Portugal pelos territórios africanos, por si


colonizados, concretizou-se sobretudo a partir do século XIX, mais concretamente
depois da independência política do Brasil, em 1825. Perdido que estava o segundo
Império e habituados, sob o ponto de vista económico e institucional, à existência de um
império sul-atlântico, Portugal começa a elaborar os primeiros projectos para a
instalação de seu império no continente africano, idealizando, assim, o seu terceiro
Império (ALEXANDRE, 1979, 2000; TELO, 1994 apud LIIBERATO,2014).

3.1.1. A demografia

26
Segundo Medina (2003, p.17), “ em 1950 o censo populacional indicou 4.145.266
habitantes, dos 4.036.687 eram negros, 78.826 brancos e 29.648 mestiços”. Dos negros,
30.089 eram classificados como civilizados (ou assimilados), e nos mestiços esse
número era de 26.335, o que perfazia 56.424. Os restantes eram indígenas. De acordo
com este Censo, Amaral (1960, p.43) afirma que “cerca de 60% da população branca
eram do sexo masculino, mantendo assim o desiquilíbrio de sexos como aspecto
característico do povoamento branco, desde a sua origem”. Trata-se de uma população
cuja distribuição por origens pode ser apresentada da seguinte maneira:

Quadro nº 1: Distribuição por origens da população branca

Origens Varões Fémeas Percentagem (%)

Da Metrópole 26727 14522 52,32

Da Província 16863 16698 42,57

De outras províncias 477 352 1,05


ultramarinas

Do estrangeiro 231 302 0,67

De origem ignorada 781 491 1,61

Estangeiros 756 626 1,78

Total 45835 32991 100,00

Fonte: Amaral (1960)

Medina (2003), relata que o Censo de 1960 registou 4.830.449 habitantes, sendo
4.604.362 negros, 172.529 brancos e 53. 392 mestiços. O crescente número de brancos
correspondia a crescente imigração portuguesa nesta década, mas o aumento de
mestiços teria origem na diferença de critérios de classificação racial. Em 1960, a
mistura de raças que antes era vista como um mal inevitável e pouco honroso, aparecia
valorizada como argumento contra os detractores do colonialismo português. Quanto ao
estatuto legal, os ditos civilizados somavam nesta época cerca de 100.000 negros e
mestiços.

Quanto a situação etnolinguística, verifica-se que os de língua Umbundu (38,1%), e os


de língua Kimbundu (32,1%) representavam em conjunto cerca de 61% da população
angolana indígena; somados aos Bakongos (13,6%), eram perto de 75%. Todos esses
27
grupos foram maioritariamente cristianizados nos finais do século XIX. Começa assim,
a emergência de elites letradas ligadas aos Seminários católicos e às Missões
protestantes, o que teve forte influência na história política angolana.

Segundo Medina (2003, p.18), “ a distribuição do povoamento europeu era


elucidativa:segundo o Censo de 1960, 30% dos brancos estavam na região de Luanda,
um pouco mais de 40% espalhavam por Benguela, Huambo, Huíla e Namibe e os outros
30% cobriam irregularmente o resto”. Medina relata que como ao povoamento branco
estavam associados, nessa altura, os maiores índices de urbanização, o desenvolvimento
comercial, as poucas indústrias transformadoras existentes, o melhor acesso a serviços
de saúde, a escolaridade acima do nível primário, etc compreende-se a relação entre
esses dados e os notórios desequilíbrios regionais no que dizia respeito a infraestruturas
económicas e oportunidades de acesso a serviços.

Para Amaral (1960), as médias de 1937 a 1958 referente ao movimento de passageiros


embarcados e desembarcados na Metrópole são apontados no quadro abaixo:

Quadro nº 2- Movimento de passageiros embarcados e desembarcados na Metrópole entre

1937-1958

Médias anuais Embarcados Desembarcados

Total Para Angola Total De Angola

1937 - 1940 5781 2723 4084 2164

1940 - 1945 5892 2873 4194 2024

1945 -1950 13418 6875 8050 3989

1950 -1955 22763 14700 9276 6303

1958…. 31673 18896 18673 12414

Fonte: Amaral (1960)

Os valores do quadro acima mostram como, entre a Metrópoles e as províncias


Ultramarinas, mais de 50% das trocas eram feitas em Angola, num movimento de
amplitude cada vez maior. Este incremento de trocas entre a Metrópole e Angola
começou por volta de 1940, devendo-se ao facto a uma melhoria geral da situação
económica da província, ultrapassando a grave crise dos anos 30.

28
Em 1960 Angola continuava ser um país eminentemente rural. O Censo retrata a
pequena dimensão das cidades e vilas de Angola, considerados aglomerados urbanos, os
quais tinham mais de 1.000 habitantes. Somente 16 dos centros urbanos eram cidades,
onde se concentrava 84% da população urbana de Angola. Com excepção de Luanda
(perto de 225.000 habitantes) apenas Lobito e Huambo (Nova Lisboa) ultrapassavam os
30.000 habitantes, sendo o Lobito a segunda cidade de Angola, com mais de 50.000
habitantes, sendo o Lobito a segunda cidade de Angola ( com mais de 50.000
habitantes). A industrialização do planalto central nos últimos anos coloniais, levou a
cidade do Huambo a ultrapassar o Lobito no Censo de 1970.

3.1.2. A economia

Segundo Dilolwa (2000), os finais dde 1949 testemunharam uma crise económica que
apertou o mundo ocidental, devido a baixa produção e o elevado índice de desemprego
que comprometeram o ritmo das trocas mundiais. Após a guerra da Correira, data de 25
de Junho de 1950, instalou-se um novo período de euforia económica, onde se registo a
subida da produção industrial sobretudo de material de guerra e decresceu o
desemprego; no mercado americano os preços mantiveram-se em altos atingindo perto
de 50%, dando espaço a especulação e a inflação.

Ao par desta estabilidade económica, Dilolwa (2000, p.72), relata que “ as classes
dirigentes de Angola também beneficiaram do clima de euforia, onde em relação ao ano
anterior as exportações aumentaram de 29,38% em tonelagem e 20,97% em valor, e as
importações acumularam um acréscimo de 45% em tonelagem e de 24,65% em valor”.
Neste contexo, conta-se que os principais produtos importados em 1950 foram em
contos: tecidos (303 867), vinhos (173 543), cimento e pozolana (66 544), automóveis
de carga (62 688), ferro e aço em obra (59 142), máquinas e aparelhos industriais (47
895, sacaria (45 969), gasolina (42 049), azeite (32 821), medicamentos (28 490),
cerveja (24 314), automóveis ligeiros (19 442), máquinas e aparelhos agrícolas (17 423)
entre outros.

29
Medina (2003,p.21) relata que “nos anos 50 houve um certo investimento nas
infraestruturas de comunicações e transportes e alguma expansão na construção civil,
acompanhando as actividades económicas, muitas vezes em desfavor de negros e
mestiços que viam as suas chances de trabalho fragmentas em detrimento dos recém-
chegados”. A situação da paralisação económica teve como base a exploração colonial,
agravada pela fraqueza económica da metrópole. Houve um fraco investimento devido a
falta de capital, a pobreza das populações desestabilizava o mercado, faltavam
equipamentos, técnicos e pessoal qualificado.

A principal actividade dos Portugueses radicados na colónia era o comércio, do impot-


export, do pequeno comércio urbano e rural, onde a sua presença na permitia a
existencia de estabelecimentos comerciais de Angolanos. Apesar do baixo nível
tecnológico, o trabalho quase grauito era o motor principal da economia, deslocando
uma quantidade considerável de trabalhadores para as plantações, minas e pescarias, ou
mesmo para serviços municipais. Nas palavras de Capela (1977), percebe-se que:

O trabalho era , por norma, forçado, as mais das vezes não


remunerado. Tabelas salariais que existissem não eram cumpridas, ou
eram-no irregularmente. A própria prestação de trabalho não era nem
regular, nem contínua. Qualquer cálculo que se fizesse seria,
necessariamente aleatório(CAPELA, 1977, p.62).

Amaral (1960, p.15) na sua intervenção argumenta que “ de Angola apenas se extraía o
potencial humano, comércio que permitia a acumulação rápida e fácil de riqueza”. A
escassez e falta de mão-de-obra qualificada era compensada pela sobre-exploração das
comunidades rurais. Segundo Medina (2003, p.22), “ a legislação laboral permitia
amplo recurso ao trabalho forçado dos colonizados, fosse compelido e correccional,
fosse em obras de interesse público, fosse pelo contrato ou recrutamento dos homens
através dos chefes das aldeias, muitas vezes com a intervenção da autoridade
administrativa”.

Medina acrescenta que em meados da década de 50, as indústrias que absorviam mais
força de trabalho eram a de exploração mineira e a produção açucareira, seguido pela
pesca e derivados, começando o destaque da exploração de madeira em Cabinda e no
Moxico. O café angolano está em alta e era o produto mais comercializado, gerando um
activo na balança comercial. Vejamos:

Quadro nº 3: Balança comercial de Angola (1950)

30
Tonelada Contos Preço médio da
tonelada

Importação 293 942 1 665 501 5 666$00

Exportação 519 639 2 169 018 4 174$00

Saldo +225 697 +503 517

Fonte: Dilolwa (2000)

O comércio de Angola registou uma subida de saldo, devido a melhoria nas trocas em
relação aos anos anteriores, como se observa no quadro acima relativo aos preços das
toneladas importadas e exportadas.

Em 1946, foi fundada a primeira fábrica de cerveja – a Cuca, contrariando a proibição


de fábrico de bebidas alcoólicas para proteger os vinhos portugueses. As exportações de
Angola assentavam-se tradicionalmente no sector agrícola e nos diamantes que manteve
imbatível até 1973 quando o petróleo (explorado inicialmente pela companhia belga
Petrofina) passou a ser o centro da economia angolana.

Em 1960 desencandeou a crise nos Estados Unidos, o que dificultou a expansão na


Europa Ocidental. Dilolwa (2000), afirma que “ neste ano, o ritmo do desenvolvimento
de Portugal foi fraco, não tendo o país bafejado pelos «bons ventos europeus» e em
Angola, a balança comercial era deficitária pela quarta vez consecutiva”. Assim,
registou-se um declínio dos principais produtos exportados e importados, conforme o
quadro abaixo:

Quadro nº 4: Balança comercial de Angola (1960)

Tonelada Contos Preço médio da


tonelada

Importação 1 285 604 3 565 492 2 773$00

Exportação 520 532 3 670 040 7 05$00

Saldo +765 072 - 104 542

Fonte: Dilolwa (2000)

31
Apartir do quadro acima, Dilolwa conta que as exportações ultrapassaram pela primeira
vez o limiar do milhão de toneladas devido o incremento da exploração de ferro. O
baixo nível de produção deve a quebra nas cotações de alguns produtos, principalmente
do café e a farinha de peixe.

3.1.3. A educação

Segundo Medina (2003, p.20), “ um aspecto para compreender a sociedade angolana na


década de 1950-1960 era o baixo nível de instrução que, naturalmente, reduzia o
alcance da literatura, da informação e da propaganda escritas”. Neste contexto, a
carência de oportunidades escolares, básicas e tecnico-profissionais, era um dos grandes
factores de ressentimento contra o domínio português, recorrente no enunciamento de
queixas dos nativos, que não se coibiam de apontar o contraste com a colónia belga.

Na concepção de Amaral (1960), a Província (de Angola) estava repartida em dois


grandes grupos culturais: os civilizados, onde além dos brancos, se incluiam os mestiços
e pretos que pelos costumes, moralização, instrução, profissão, nível de vida, se
aproximavam por todos estes atributos comuns dos europeus; e os não civilizados,
pretos e mestiços sem os atributos ora mencionados, que professavam, na sua maior
parte, formas de vida e, alguma religião que lhes era própria.

Do total de civilizados, na maioria católicos, cerca de trés quartos tinham instrução.


Para toda população em idade escolar no perído 1952-1952, havia 247 estabelecimentos
de ensino (207 do primário, 8 do profissional, 2 do normal e 30 do secundário; destes
apenas e eram liceus oficiais, o de Luanda, fundado em 1919 e o de Sá da Bandeira), e
um corpo docente de 669 pessoas para um total de 40 290 alunos, dos quais apenas 4
259 frequentavam os cursos secundários.

Nos relatos de Medina (2003), fica claro que em 1958 Angola tinha 96,97% de
analfabetos ( de acordo com o Anuário Estatístico Ultramar), uma percentagem
escandalosa mesmo na África colonizada. No que tange ao ensino básico, em 1959
havia ao todo 17.167 alunos no ensino primário oficial, 10.324 no ensino primário das
Missões católicas e 65.652 alunos no “ ensino de adaptação “ dessas Missões. A
instrução dos indígenas competia às Missões Católicas, regida pelo Estatuto Missionário
(1941) decorrente duma parceria entre Portugal e o Vaticano (1940). Outros que os

32
ministrassem , como no caso das Missões protestantes, com alguns milhares de alunos,
faziam-no como ensino particular.

Sobre o grau de instrução da população branca, Amaral (1960) aponta os elementos


retirados do Censo de 1950, com a determinação das percentagens dos diferentes
grupos:

Quadro nº 5: Instrução da população branca (1950)

Habilitações literárias Número de indivíduos Percentagens (%)

Analfabetos ( com mais de 8272 12


6anos)

Sabendo ler e escrever 22 184 32

Com curso primário 27 042 39

Com curso secundário 10 058 15

Com curso superior 1 389 2

Total 68 945 100

Fonte: Amaral (1960)

Fazendo uma leitura dos números acima, percebe-se que havia uma elevada taxa de
iletrados, seguida de uma percentagem de indivíduos com apenas a instrução primária e
uma fraca taxa de pessoas com o ensino superior. A oportunidades oferecidas aos jovens
que terminavam o ensino secundário, com o intuito de ampliar os estudos eram
comprometidas devido aos encargos financeiros.

Em 1952, dos 37 alunos de todas as raças que completaram o 3º ciclo dos liceus,
apenas 20 embarcaram para a Metrópole, para continuarem os estudos. O conjunto do
ensino secundário na colónia, em 1959, não ultrapassava 3.523 alunos. Quanto ao
ensino superior, foi inexistente até 1963. No ano lectivo de 1960-1961 foram inscritos
cerca de 119.234 (2,4% da população) alunos em todo o ensino de Angola, incluindo o

33
de “ adaptação”, o primário, o secundário e médio, o da formação de professores,
enfermeiros, etc.

A criação em Angola de estudos além do ensino secundário (1960, p.60), “constituiria o


instrumento mais poderoso da expansão rápida da cultura portuguesa, contribuindo em
larga escala para a asimilação da massa informe de não-cibilizados que, no fundo, cerca
de cinco séculos depois do descobrimento, constitui ainda a enorme maioria da
população”; só a criação de quadros e de uma elite local tornaria possível transformá-los
em cidadãos da vasta pátria portuguesa.

3.2. O colonialismo português em Angola durante o Estado Novo

Para o Estado Novo, a manutenção do império colonial foi da maior relevância e o


principal objectivo da política externa portuguesa desde a Segunda Guerra Mundial.
Ideologicamente, o Ultramar representava o mito do império, a vocação histórica, a
missão colonizadora da Nação. Não era apenas propaganda, mas um sentimento
incrustrado no imaginário do seu próprio povo, dos mais humildes aos intelectuais.
Segundo o discurso oficial do governo propalado à sociedade, Portugal tinha uma
missão a cumprir, partilhar valores, levar a fé do cristianismo e a civilização àqueles
povos bárbaros e primitivos.

Em claro contraste com a política de descentralização da 1ª República Portuguesa


(1910-1926), segundo Pimenta (2014), o Estado Novo promoveu um centralismo
excessivo que, na prática, se traduziu por um autoritarismo político, administrativo e
económico. No caso de Angola, o governo da ditadura impôs a subordinação política e
económica tanto do Estado colonial como das elites brancas, que durante o período
republicano tinham tido alguma intervenção na governação da colónia.

Wheeler e Pélissier (2009) apud Fonseca (2015,p.259), relatam que “a manutenção dos
territórios ultramarinos atendiam os interesses econômicos e a ordem social das elites
portuguesas metropolitanas”. No caso angolano, Portugal exportava a preços superiores
os seus produtos industriais que não tinham colocação no mercado internacional, e
intermediava com o estrangeiro, nomeadamente os Estados Unidos e a Europa, as
matérias primas produzidas por Angola, transacionadas em moeda forte. Estas relações
comerciais entre Portugal, as províncias ultramarinas e o mercado internacional, traziam
no final, um saldo superavitário e favorável para Portugal.

34
Em 1930, o Acto Colonial eliminou os vestígios da descentralização republicana e
impôs definitivamente o período do centralismo salazarista. No entender de Pimenta
(2014), o Acto Colonial afirmou a unidade da "Nação Portuguesa", consagrou as
designações de "Império Colonial Português" e de "Colónias" e confirmou o
colonialismo como sendo da "essência orgânica da Nação Portuguesa". O cargo de Alto
Comissário foi substituído pelo de Governador Geral, cujas prerrogativas eram
extremamente limitadas, quase não se podendo tomar qualquer iniciativa sem prévia
autorização do Ministério das Colónias. O Conselho Legislativo de Angola foi
eliminado, tal como todos os órgãos electivos de representação política, o que retirou
aos colonos qualquer possibilidade de exprimir suas aspirações e defender seus
interesses por via institucional. Enfim, subordinaram-se categoricamente os interesses
materiais da colónia aos da metrópole, dependendo o orçamento geral de Angola da
aprovação do Ministro das Colónias.

Foi, portanto, a partir da década de 1930, que o Estado Novo estabeleceu as regras a
serem adoptadas nas colónias. Essencialmente representou um modelo híbrido de
colónia comercial e de colónia de povoamento. Segundo Fonseca (2015), o primeiro
baseou-se na exploração do trabalho nativo, o segundo por incentivos à fixação de
colonos portugueses nos territórios ultramarinos. Esse modelo representou a mudança
de uma economia comunitária local e de subsistência para uma economia de mercado.
Apesar de o Código Constitucional abolir o trabalho forçado, substituindo-o pelo
contrato, na verdade, o trabalho compulsório continuou a funcionar na prática. Com a
introdução de novos colonos portugueses, a situação se agravou gerando tensões entre
as populações.

3.2.1. Alteração da legislação colonial


Após 1945, Salazar, antecipando a pressão anticolonial das instâncias internacionais, em
especial da ONU, realizou algumas modificações no quadro jurídico do colonialismo
português. A Revisão de 1951 incorporou o Acto Colonial na Constituição Portuguesa,
com o título "Do Ultramar Português", enquanto a Carta Orgânica do Império Colonial
Português foi substituída pela Lei Orgânica do Ultramar. Foi uma transformação
sobretudo estética, ou seja, de terminologia: as expressões "Império Colonial Português"
e "Colónias" foram substituídas por "Ultramar Português" e "Províncias Ultramarinas

35
Portuguesas". Foram também criados Conselhos Legislativos em Angola e
Moçambique, o quais entraram em função em 1955.

Em 1951 Marcello Caetano define os princípios fundamentais da moderna colonização


portuguesa , insistindo na necessidade da diferenciação administrativa enquanto a
assimilação cultural não transformar todos os habitantes das colónias em portugueses
civilizados (NETO, 1997). Em 1957 a PIDE (Policia internacional de defesa do Estado)
instala-se em Angola, em 1959 vagas sucessivas de prisões desarticulam as redes
(clandestinas) de diferentes grupos políticos. A imigração europeia, sobretudo
estimulada pela alta dos preços do café, atinge ritmos muito maiores que anteriormente,
agudizando os conflitos em torno da terra e da mão-de-obra, particularmente no
noroeste de Angola.

A legislação centralista da ditadura foi responsável pelo desenvolvimento de fortes


tensões políticas entre as elites coloniais e o Estado Português, contribuindo para a
emergência de formas de nacionalismo entre os brancos de Angola. A partir de 1940,
foram aparecendo nos principais centros urbanos (Luanda, Benguela, Huambo,
Lubango) pequenos grupos nacionalistas conduzidos por brancos (Organização
Socialista de Angola, Movimento de Libertação Nacional de Angola, etc.). As
actividades de oposição e de doutrinação nacionalista foram também desenvolvidas por
brancos no seio dalgumas associações de carácter cultural, mas de fundo claramente
político: a Sociedade Cultural de Angola, a Associação dos Naturais de Angola
(ANANGOLA) e a Casa dos Estudantes do Império, esta última com sede na metrópole.

Assim, essas associações foram desde cedo centros de oposição à ditadura, mas só
alguns dos seus dirigentes assumiram posições nacionalistas. Para Pimenta (2008) apud
Pimenta (2014), o descontentamento dos colonos tornou-se evidente nas eleições
presidenciais de 1958. Muitos colonos apoiaram o então candidato da oposição,
Humberto Delgado, que ganhou no distrito de Benguela e na cidade de Sá da Bandeira.

A série de eventos que ocorreram em 1961 marcou definitivamente a história de


Portugal em meados do século XX. Esse ano foi um desafio de enormes proporções
para a política do Estado Novo português que, diante dos acontecimentos aterrorizantes
ocorridos em Angola, colocaram em xeque a sobrevida do regime ditatorial de António
Salazar. Uma página da história foi virada, um marco que transformou para sempre a

36
vida de muitos. De acordo com a interpretação de Wheeler e Pélissier (2009) apud
Fonseca (2015): O ano de 1961 foi de ajuste de contas em Angola, o ponto central da
história da luta anticolonial angolana.

CONCLUSÕES

A política de assimilação mostrava que Portugal não havia conseguido aniquilar a


resistência dos povos dominados e assim sequer enfraquecido essencialmente a cultura
dos africanos. Transmitindo oralmente a sua literatura, e também através de canções
populares, os africanos conseguiram preservar as suas línguas e continuar a falá-las. A
sua cultura não se manteve totalmente intacta, mas sobreviveu, sem dúvida, a muitas das
atrocidades cometidas pela colonização portuguesa. Contudo, a cultura dos povos
africanos foi profundamente afetada pelo impacto do colonialismo português. O
colonialismo português provocou um desmantelamento profundo dos modos de vida e
de subsistência tradicionais.

Através da historiografia colonial e por razões de estratégia imperial afigurou-se


imprescindível investigar a eventual projecção da política assimilacionista em Angola,
como parte integrante império português. Foi, com efeito, esse breve lapso de tempo
crucial para as populações angolanas sobre as quais se implantou gradualmente um
domínio formal, adquirindo, então, especial relevo as questões de delimitação de zonas
de influência européia, onde as pressões estrangeiras mais se evidenciaram.

Foi esse também o momento em que se manifestaram, no território considerado,


obstáculos sérios à concretização das pretensões portuguesas: de um lado, a
concorrência económica e política das potências imperialistas, transposta para a vasta
região por agentes das mais diversas procedências; de outro lado, os movimentos de
resistência africana contra a integração a qualquer preço, nos novos espaços
determinados por considerações a que os próprios africanos eram totalmente alheios.

Finalmente, foi também essa década crucial para a construção da identidade da


população urbanizada de Angola, constituindo um processo que não foi indiferente à
37
luta que mundialmente se desenhava em torno do Continente africano. É importante
recordar que a repercussão da partilha em Angola fez avolumar o descontentamento dos
"filhos do país", como foi já assinalado por outros historiadores, o qual implicou, na
época, um posicionamento muito crítico em relação à colonização portuguesa.

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