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A Biblioteca escolar.

Desafios e oportunidades no contexto da mudança

Reflexão

Após a leitura repetida dos textos indicados como de leitura obrigatória, colocou-se-me a primeira
questão: por qual dos fóruns eu iria optar na realização da primeira tarefa proposta? Confesso que não
tive muitas dúvidas quando optei pelo Fórum 1. O conhecimento que possuo da minha biblioteca,
enquanto professor bibliotecário, é muito recente, isto é, desde o início do ano lectivo, pelo que ainda
não estou totalmente familiarizado com as problemáticas associadas ao trabalho da minha biblioteca
quer estejam, ou não, implicadas nas mudanças referidas nos textos.

Optando pelo fórum 1, interroguei-me como haveria de organizar a tabela. Pareceu-me mais lógico
organizá-la de acordo com os temas (áreas de intervenção) abordados nos textos ainda que alguns deles
fossem específicos a determinados domínios (especialmente o do apoio ao desenvolvimento curricular)
e outros fossem transversais em relação a todos os domínios.

A leitura do primeiro texto, APRENDIZAGEM NA ESCOLA DA ERA DA INFORMAÇÃO:


OPORTUNIDADES,RESULTADOS E CAMINHOS POSSÍVEIS. Todd, Ross (2003), foi aquela que maior
interesse me despertou ainda que se revelasse menos cristalina a sua interpretação em relação ao outro
texto, A Biblioteca Escolar 2.0: novas funções para o professor bibliotecário Cardoso, Ana Amélia
(2009). Posteriormente li o texto El profesional de la información en los contextos educativos de la
sociedad del aprendizaje: espacios y competencias, Tarragó, Nancy Sánchez (2005). Estes textos foram a
base da construção da minha tabela se bem que, também tenha lido “na diagonal” os outros textos em
inglês já que não domino aquele idioma como seria desejável. Com base nas leituras que fiz, a reflexão
que faço é a seguinte:

No nosso país a Escola ainda assenta as suas práticas mais no ensino do que na aprendizagem e esse
modelo de leccionação, vivendo-se hoje numa sociedade dominada pela informação e pela facilidade,
cada vez maior, de se aceder a ela, precisa de ser alterado sob pena de não se estar a preparar gerações
de jovens para se movimentarem com facilidade e autonomamente no mundo da informação e de
continuarem a sua aprendizagem durante a sua vida. A biblioteca terá, assim, um papel importante
neste processo de transformação do ensino ao potenciar o acesso a recursos de informação em
diferentes ambientes e suportes, seleccionando a informação válida, ensinando a usá-los de forma
correcta para tornar possível a introdução de novos métodos de aprendizagem que visem transformar a
informação em conhecimento com relevância pessoal. A biblioteca (e a Escola) tem de especializar-se no
desenvolvimento de competências. Para isso, o papel do professor bibliotecário é fundamental como
líder neste processo de mudança. E é aqui, na minha perspectiva, que começam as dificuldades. Muitos
professores bibliotecários (e não só) formaram-se através dum sistema de ensino baseado na
transmissão do conhecimento, modelo que ainda vigora em muitas escolas, não conseguem
acompanhar a evolução da informação e da tecnologia como seria desejável e, assumindo muitas vezes
as suas funções por nomeação e não por vontade própria, não estão conscientes das funções a
desempenhar nos novos contextos educativos como, por exemplo, o desenvolvimento da literacia da
informação. Será pois necessário, para além de uma mudança de mentalidades, que o professor
bibliotecário esteja em constante formação na sua área para responder eficazmente aos desafios que se
lhe colocam.

Hoje os alunos têm acesso a uma enorme quantidade de informação sobre variados assuntos e há que
ensiná-los a lidar com a informação de uma forma que lhes permita tirar dela o máximo proveito de
acordo com as suas necessidades. Para isso torna-se fundamental e decisiva a colaboração entre o
professor bibliotecário e os restantes professores para desenvolver de forma sistemática a literacia da
informação através de situações em que os alunos compreendam a importância do valor da informação
e assim criarem conhecimento. A partir dessa colaboração desenvolvem-se várias actividades que visam
interagir os alunos com a informação tendo sempre em vista o modo como os alunos aprendem.

O que sucede com frequência é que essa colaboração fica-se por acções esporádicas de ensino de
competências para o uso da biblioteca ou de procura comum de recursos para a aprendizagem. Isso
resulta da resistência/inércia de os professores em colaborarem com o professor bibliotecário, em
muitos casos devido ao isolamento profissional que caracteriza o trabalho do professor, noutros devido
ao horário, à sobrecarga de trabalho, à especificidade dos currículos e por outro lado o professor
bibliotecário não actua como líder ou catalisador neste processo, já que a iniciativa da colaboração deve
partir de si já que é frequente o desconhecimento ou “esquecimento”, por parte da comunidade
educativa, do papel importante que a BE tem no processo ensino/aprendizagem. Há também a
tendência para a descontextualização da literacia da informação, actuando os professores bibliotecários
como especialistas nesta área, enquanto que os professores curriculares se ocupam dos conteúdos das
disciplinas, o que eu próprio já verifico na minha prática devido à falta de um conhecimento mais
aprofundado sobre o tema do currículo que se aborda, e que se deve ultrapassar através da adaptação e
da flexibilidade dos intervenientes para uma colaboração mais profícua e que assim se ultrapassem
alguns dos obstáculos atrás descritos. Em jeito de conclusão direi que colaboração assente numa visão
pedagógica comum e baseada nas necessidades do currículo, ainda não é a base do trabalho dos
professores e dos professores bibliotecários.

Outro tipo de trabalho de colaboração sobre a qual também reflectir é aquele que existe entre o
professor bibliotecário e a sua equipa. As equipas (quando as há…) formam-se não por escolha do
professor do bibliotecário, mas sim pela necessidade de completar horários e há sempre a tendência de
destacar professores da área das línguas para o serviço das bibliotecas. Apesar dos condicionalismos
inerentes ao serviço lectivo, devia dar-se a oportunidade de o professor bibliotecário escolher a sua
equipa, cujos elementos deverão ser provenientes de áreas disciplinares diversificadas ou com
formações diferenciadas. Ao não dar essa possibilidade ao professor bibliotecário, este poderá ficar com
uma equipa desequilibrada, o que poderá dificultar a interacção com professores de outras áreas que
não sejam a de Línguas ou de ter elementos que não revelam vocação para trabalhar na biblioteca,
dificultando assim a sua acção.

Como é referido por diversos estudiosos, o professor bibliotecário tem de ser um especialista em
aprendizagem que deve ter um papel de relevo na definição dos grandes objectivos de aprendizagem do
Projecto Educativo da Escola, uma vez que, se a biblioteca escolar integrar as equipas educativas, o
impacto se fará sentir nos resultados dos alunos e, por consequência, da própria escola. A sua
intervenção deve ser decisiva, e até de liderança, na planificação, implementação e avaliação da
aprendizagem para se ter um ensino orientado para os resultados e para o impacto na aprendizagem
que é a razão de ser da biblioteca escolar. Infelizmente quer parecer-me que ainda temos um longo
caminho a percorrer para chegar a esse ponto. A própria organização da escola não facilita essa missão
do professor bibliotecário. Uma escola que assenta em torno de um currículo compartimentado e rígido
administrado por professores que trabalham isoladamente com os alunos e em que no final se faz um
balanço dos conteúdos (extensos) leccionados (transmitidos) e do número de alunos que transitam, tem
por detrás uma filosofia de organização que não demonstra grande preocupação com a forma como os
alunos aprendem, mas sim, com o que é ensinado. O facto de o professor bibliotecário poder não ter
assento no Conselho Pedagógico (como acontece comigo) ou não ter a exclusividade de funções é
revelador da importância que a escola pode dar ao papel do professor bibliotecário. As recentes
medidas contempladas no Orçamento de Estado para 2011, no que se refere à organização da escola,
também não favorecem a acção do professor bibliotecário. Direi que só com grande empenho, e até
mesmo com sacrifício, numa acção longa e constante é que o professor bibliotecário poderá mudar
mentalidades e formas de estar na Escola quanto às aprendizagens dos alunos.
Para que a acção da biblioteca gere os melhores resultados possíveis, será de estruturar os serviços da
biblioteca escolar tendo em conta os princípios fundamentais, de que fala Ross Todd: impacto,
intervenção e transformação. Nesse sentido, creio que a implementação do modelo de autoavaliação
das bibliotecas veio a ser um grande contributo para a monitorização e melhoria do trabalho das
bibliotecas. Todavia, isso não invalida que se criem novos instrumentos para a avaliação interna das
práticas da biblioteca escolar ou que se reformulem instrumentos já existentes e que visem
proporcionar uma avaliação mais precisa daquilo que é feito tendo em conta os princípios acima
enunciados. De facto, não é possível avaliar todas as actividades, ainda que semelhantes, da mesma
forma e há sempre aspectos de que só nos apercebemos durante ou após o desenrolar da actividade e
que não contemplámos, por exemplo, nos questionários que entregamos aos envolvidos na actividade.
O preenchimento dos questionários é outro aspecto que merece alguma reflexão. Há sempre alguma
inércia ou “fuga” quanto ao preenchimento dos mesmos, quer por parte dos alunos ou dos professores.
Os alunos tendem a não reflectir muito sobre o que escrevem e dão respostas ou fazem observações, ao
longo do questionário, que de certa forma contradizem-se, o que acaba por dificultar a análise da
actividade. Quanto aos professores, talvez porque o questionário é mais elaborado, tendem a
“esquecer-se” do seu preenchimento, apesar de sensibilizados para a importância que aquele tem para
nós e de muitas vezes terem colaborado na organização da actividade! Não há uma cultura de avaliação
rigorosa.

A sociedade em que vivemos tem assistido nos últimos anos a uma evolução tecnológica sem
precedentes, o que tem levado ao surgimento de novos e variados recursos o que implicou novos
desafios para os professores bibliotecários: ajudar professores e alunos a aprenderem através daqueles
recursos, designadamente: saber pesquisar, avaliar a qualidade da informação encontrada e sintetizar
ideias. A crescente popularidade da Internet entre os jovens torna-a, precisamente, num cenário
apropriado para adquirir aquelas competências consideradas cruciais. Por outro lado, ao surgirem as
chamadas ferramentas da Web2.0, todos nós passamos também a ser produtores de informação, com
as responsabilidades daí inerentes, É preciso, portanto, ensinar os alunos a trabalhar com a informação
de forma a tirar o melhor partido dela, isto é, transformar a informação em conhecimento com
relevância pessoal. Acontece, porém, que para isso o professor bibliotecário tem de ter formação para
utilizar a Web 2.0 como ambiente de aprendizagem e para utilizar as diferentes ferramentas da Web 2.0
nas diferentes áreas de intervenção da Biblioteca Escolar. Aqui residem algumas dificuldades, já que fora
dos grandes centros urbanos, não se ministra formação neste âmbito e por outro lado quando a há (por
exemplo sobre quadros interactivos) muitos professores não as frequentam para se actualizarem
invocando várias razões para tal, sendo a mais pertinente (embora não totalmente justificável) que
depois não terão oportunidade de utilizar, por falta de equipamento, e não utilizando esquecerão o que
aprenderiam. Não significa isso que o professor bibliotecário deva ter essa postura, antes pelo contrário,
já que é uma excelente oportunidade para exercer uma liderança visível na escola quando recorrer à
Web 2.0, mas irá encontrar escassa receptividade, por parte de muitos professores, em explorar as
potencialidades da internet ou da Web 2.0. Quanto aos alunos, creio que a predisposição para utilizar as
novas tecnologias como um processo de construção do conhecimento é maior, mas isso implica a
elaboração de diversos guiões, cujo objectivo é guiar os alunos nas suas actividades de pesquisa,
selecção, tratamento e comunicação da informação disponibilizada.

Em suma, posso dizer que após a leitura dos textos e elaboração da tabela, bem como desta reflexão, o
meu conhecimento sobre a missão da biblioteca no contexto actual ficou mais enriquecido.

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