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PROGRAMAS DE LETRAMENTO INFORMACIONAL NA ESCOLA

Andréa Pereira dos Santos1


Janaina Fialho2

A implementação de programas de letramento informacional está


diretamente ligada à existência da biblioteca escolar. Não basta apenas uma sala
grande com muitos livros e acesso à Internet e sim um espaço multicultural,
interdisciplinar, multimídia com pessoal capacitado e motivado no seu fazer. Deve,
acima de tudo, contar com bibliotecário que tenha a vocação e o compromisso com
a formação da criança e do adolescente no espaço escolar. Este profissional por sua
vez, precisa estar atento ao projeto político pedagógico da escola bem como a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação.
Cabe ao professor, independente da disciplina que leciona, buscar a
parceria com o profissional bibliotecário para a efetivação do letramento
informacional na escola. Eles devem, juntos, elaborar estratégias, conhecer as
potencialidades da biblioteca escolar e planejar atividades as quais venham a
consolidar o processo de aprendizagem dos estudantes.
Diante desses pontos, esse capítulo pretende abordar a biblioteca escolar
e sua função pedagógica. Para isso, partiremos do contexto histórico em que estas
foram criadas e sua evolução até os dias atuais. Posteriormente, abordaremos a
biblioteca escolar no processo de ensino-aprendizagem, destacando sua função e
missão, bem como indicar os principais parâmetros para implementação da
biblioteca na escola.
Discutiremos sobre a missão do trabalho pedagógico do bibliotecário e
seu papel na formação dos estudantes. Em seguida, apresentaremos modelos de
programa de letramento informacional na escola e sua aplicação. Nesse programa,
destacaremos a função do bibliotecário e do professor para sua efetivação.
Posteriormente, é preciso falar das práticas de leitura e sua relação com o
letramento Informacional na busca pela competência leitora e escrita em diferentes

                                                                                                                       
1
 Mestre em Comunicação, Doutoranda em Geografia e professora do Curso de Biblioteconomia da
UFG. Email: andreabiblio@gmail.com
2
Doutora em Ciência da Informação. Professora efetiva do curso de Biblioteconomia da UFG. E-mail:
jajafialho@gmail.com.
 

instâncias e por fim apresentaremos programas de letramento informacional e as


competências e resultados esperados dos estudantes.

LEITURA E BIBLIOTECA: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A história da escrita, da leitura e da biblioteca estão vinculadas. É preciso


analisá-las no todo para compreender cada um desses seguimentos.
A escrita nasce de uma necessidade do homem pré-histórico para se
comunicar com os seus, indicando, a princípio, lugares de caça, tipos de caça e
outras informações sobre lugares perigosos e seguros. Trata-se dos desenhos
deixados nas cavernas, chamada de escrita pictográfica (figura1).

Figura 1. Escrita pictórica. Foto de Raveesh Vyas, 29 de Fevereiro de 2009.

Conforme o desenvolvimento do intelecto da humanidade foi se


ampliando, assim como suas ferramentas de trabalho, ele passou a desenvolver
formas mais complexas de armazenamento de informações. Surgem assim a escrita
mnemônica (figura 2 e 3) a partir de objetos como conchas e nós. Esse tipo de
escritura era necessária por conta da necessidade de controle comercial de
produtos.
 

Figura 2. Escrita Minemônica. Um Quipu Inca, do Museu Larco em Lima, Peru. Foto de Claus
Ableiter, 29 de Outubro de 2007.

Figura 3. Escrita Minemônica.

A partir daí houve a criação da cuneiforme (figura 4), ideográfica (figura 5)


e escrita fonética. A escrita cuneiforme, surgiu por volta de 4 mil anos antes de
Cristo e era um tipo de escritura em forma de cunha feita em peças de argila. A
ideográfica, por sua vez, era baseada em desenhos que transmitiam a informação
por meio do significado dado a essas figuras, símbolos ou gráficos. Já a escrita
fonética eram sons dados às escritas antigas. Depois disso, nascem os hieróglifos
(figura 6). Um tipo de escrita que misturava a escrita ideográfica com sinais
fonéticos.
 

Figura 4. Escrita Cuneiforme. Foto de Marie-Lan Nguyen, 18 de Dezembro de 2005. Museu do


Louvre, departamento de Antiguidades Orientais.

Figura 5. Escrita Ideográfica.

Figura 6. Hieróglifos do Papiro de Ani

Por fim, foi criado pela civilização Egéia o Alfabeto (figura 7). Com o
alfabeto, foi possível dar som, ideias e estabelecer regras e melodias para a escrita
 

e para o texto. No início as palavras, frases e parágrafos não existiam como


conhecemos hoje. Eles foram aprimorando durante o tempo até chegar na
complexidade atual.

Figura 7. Alfabeto Egeu. Ostrakon chamado Temístocles, cerca de 460 a 490-480 a.C. Museu da
Ágora de Atenas. Foto de Marsyas, 24 de Dezembro de 2005.

A escrita foi criada com o objetivo de facilitar a comunicação e,


principalmente, como meio de registro de contas nos processos de compra e troca
de mercadorias no período da história antiga.
Assim como a escrita, os suportes onde ela é empregada passa por
diversos níveis de evolução. Um dos primeiros suportes lembrados são argila onde
era empregada a escrita cuneiforme. Entretanto, há outros suportes também
lembrados: ouro, pedra, mármore, bronze, chumbo (MARTINS, 2001).
Os suportes mais lembrados e utilizados na história antiga dos registros
do conhecimento são o papiro (figura 8 e 9) e o pergaminho (figura 10). O papiro era
composto de fibras de uma planta e o pergaminho era feito de pele de animais. O
pergaminho substituiu o papiro pela sua resistência e flexibilidade. Era possível até
raspar e reescrever novamente num processo chamado de palimpsesto.
 

Figura 8. Planta do Papiro. Foto de Marchal, 13 de Agosto de 2012.

Figura 9. Papiro. Foto de Paul James Cowie, 4 de Junho de 2009.

Figura 10. Pergaminho relatado em 1308. “Chinon, dezessete a vinte de agosto de 1308”
 

A princípio, os manuscritos eram em formato de rolo (figura 11): de papiro


ou pergaminho. Esse tipo de formato era de difícil manuseio e guarda, e dificultava a
marcação do texto como fazemos no formato de livro atual. Seguindo a evolução
dos suportes, criou-se durante a antiguidade perdurando por toda Idade Média o
Códice ou Codex (figura 12). Eram livros próximos do formato do nosso livro atual.
Seu manuseio era mais fácil, pois permitia o “folhear” das páginas. Entretanto, seu
tamanho e peso dificultava sua guarda e seu transporte.

Figura 11. Rolo de Pergaminho de Torá e Yad - exposto no Museu da Grande Sinagoga de Wlodawa,
Polônia.

Figura 12 - Códice Petropolitano, manuscrito do Novo Testamento.

O papel é uma invenção antiga. Tarda do século II na China e se


aprimorou no decorrer dos séculos seguintes. Como se vê, o papel é tão antigo
quanto o pergaminho e o papiro. Entretanto, ele só se popularizou com o
fortalecimento da imprensa surgida no século XV.
A evolução da escrita e dos suportes onde ela era empregada aprimorou
as formas de ler e contribuiu para que um maior número de pessoas tivessem
 

acesso ao livro e, consequentemente, a prática de leitura. A história da leitura revela,


também, a história do sujeito que lê. E quem é o leitor? O leitor é aquele que dá
sentido ao texto. Para Manguel (1997), (...) “é o leitor que lê o sentido; é o leitor que
confere a um objeto, lugar ou acontecimento uma certa legibilidade possível, ou que
a reconhece neles” (p. 19).
Os modos e práticas de leitura sofreram alterações no decorrer da
história. “A prática de leitura, nos seus primórdios, era feita em voz alta. Se ler em
voz alta era norma desde os primórdios da palavra escrita, como era ler nas grandes
bibliotecas antigas (....) todos deviam trabalhar em meio a um alarido retumbante”
(MANGUEL, 1997, p. 59). As bibliotecas eram barulhentas tanto pela leitura em voz
alta dos frequentadores quanto pelo manuseio das grandes obras em formato de
rolo.
A leitura em voz alta perdurou por vários séculos até o início da prática da
leitura silenciosa. “Ainda que se possam encontrar exemplos anteriores de leitura
silenciosa, foi somente no século X que esse modo de ler se tornou usual no
Ocidente (MAGUEL, 1997, p. 59). Este modo de ler causou estranheza e certa
desconfiança. Era um tipo de leitura que fugia ao controle já que não se podia mais
controlar o que era ou não lido. Para Manguel (1997, p. 68), “Alguns dogmatistas
ficaram desconfiados da nova moda; em suas mentes, a leitura silenciosa abria
espaço para sonhar acordado, para o perigo da preguiça - o pecado da ociosidade,
‘a epidemia que grassa ao meio-dia’".
Além disso, a leitura em voz alta exigia habilidade dos leitores, pois os
textos antigos não apresentavam a pontuação como conhecemos hoje. Eram
escritos de forma contínua e cabia ao leitor impor sua melodia ao texto. Manguel
(1997, p. 64) diz que, “se os livros eram principalmente lidos em voz alta, as letras
que os compunham não precisavam ser separadas em unidades fonéticas; bastava
amarrá-las juntas em frases contínuas”.
A criação dos sistemas de pontuação existentes hoje em dia melhorou a
leitura e o entendimento do texto escrito. Forma que facilitou o aprendizado, já que,
com o passar dos tempos o acesso à alfabetização se tornou realidade a um número
maior de pessoas.
Mas o livro e a leitura na antiguidade não eram bem vistos pelos grandes
filósofos de então. “Para Sócrates, os livros eram auxílios à memória e ao
conhecimento, mas os verdadeiros eruditos não deveriam precisar deles. Poucos
 

anos depois, seus discípulos Platão e Xenofonte lembraram em um livro essa


opinião depreciativa sobre os livros” (MANGUEL, 1997, p. 78). Para esses filósofos,
os grandes estudiosos deveriam guardar o conhecimento na memória sem depender
do livro.
Aprender a ler e a escrever durante a Antiguidade e Idade Média, era
privilégio de poucos. Era restrita aos grandes reis e à igreja. Em termos de Europa, o
livro e a leitura se expandiu mais após a invenção da imprensa de Gutenberg e,
principalmente, com a popularização da literatura de massa, dos jornais e dos
periódicos já no século XIX.
No Brasil, a leitura se populariza com o aumento da taxa de alfabetizados.
Mas isso só começa a ocorrer já no século XX, por volta da década de 1930. Uma
instituição que influenciou essa nova visão da leitura foi o Instituto Nacional do Livro
– INL, criado na década de 1930, o qual sobreviveu até idos da década de 1990.
Apesar dos seus altos e baixos, o instituto é até hoje lembrado pelo avanço ao
acesso à leitura e à criação dos cursos de biblioteconomia do Brasil.

A BIBLIOTECA ESCOLAR

A biblioteca escolar nasce junto com a escola. Apesar de ainda não ser
realidade em todas as escolas, sejam públicas ou privadas, sua história no Brasil
não é recente. Surge, praticamente, junto com o descobrimento do país. Silva (2011)
afirma “que a história das bibliotecas escolares no Brasil tem seus primórdios nas
escolas religiosas (jesuítas) (figura 13) por volta de 1549”. Segundo ele, elas foram
instaladas na Bahia e serviam como ponto de apoio pedagógico ao ensinamento
feito nas escolas de então.
 

Figura 13. Escola Jesuíta.

Silva (2011) afirma ainda que no “início entre os séculos XVI e XIX a
biblioteca escolar mais parecia uma instituição especializada pois, servia para
estudos religiosos e científicos visando aprimorar a educação religiosa dos próprios
catequizadores” (p. 494 ).
As bibliotecas escolares, nos seus primórdios, eram restritas aos colégios
Jesuítas. Com o passar dos tempos “a Biblioteca escolar ganha uma nova
configuração no final do século XIX e início do século XX. Todavia, são as
bibliotecas de escolas particulares que se destacam (SILVA, 2011, p. 494). Como
naquela época os livros eram ainda caros e o sistema de ensino público precário,
somente as escolas tradicionais e particulares possuíam bibliotecas. “A partir da
década de 70 do século XIX que a biblioteca escolar, principalmente nas
grandes escolas privadas com ênfase religiosa nas doutrinas católica e
protestante, começa a adquirir a noção que tem hoje”. (CASTRO apud SILVA,
2011, p.494 ).
Não há muitos registros sobre a história das bibliotecas escolares no
Brasil. O sabemos é da sua existência nas grandes escolas, principalmente as
religiosas, ou em grandes colégios particulares ou alguns poucos colégios públicos
tradicionais.
Nem sempre houve tanto interesse em valorizar a biblioteca na escola no
decorrer da história. Ela sempre esteve relegada a um espaço que sobrou e a ser
lotação de pessoas com problemas físicos, psicológicos ou que estavam à beira da
aposentadoria. Há uma necessidade de mudança dessa visão. É o que veremos a
seguir.
 

A BIBLIOTECA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A educação, a nosso ver, é o principal pilar de sustentação de uma


sociedade. É por meio da educação emancipadora (ADORNO, 2001), que uma
sociedade aprende a lidar com o cotidiano de suas vidas. Até mesmo a saúde
pública depende da educação do sujeito, a fim de prevenir certos males que
dependem muito mais de informação e ação do que qualquer outra coisa.
Sendo assim, pessoas informadas e estruturadas dentro de um contexto
educacional tem mais capacidade de escolha, principalmente ao que se refere à
escolha política de um candidato. A busca pelos direitos e deveres sociais também
perpassam da capacidade ou não de cada um e que também depende do seu berço
educacional.
A escola é esse berço. Mas não só a escola e os professores. Há de se
ressaltar que a educação significa liberdade. Liberdade pela busca de outros pontos
de vista, outras leituras. Essas outras buscas devem ou pelo menos deveriam
perpassar pela biblioteca escolar. Espaço onde o estudante e cidadão pode ir em
busca de outras fontes e contrastá-las com as adquiridas na sala de aula e fora dela.
A escola tem como missão contribuir para a educação social e cultural do
cidadão. Para isso, a escola precisa de um conjunto de elementos que possibilite a
aprendizagem do estudante em todos os sentidos. Um desses elementos, foco
desse tópico, é a biblioteca escolar, uma vez que esta tem a função, a grosso modo,
de contribuir para o aprendizado extraclasse dos estudantes, por meio dos seus
recursos informacionais.
A biblioteca deve ganhar na atualidade uma nova concepção: ela deve
ser um espaço dinâmico, com pessoas capacitadas e com materiais de diversas
mídias que possam satisfazer as necessidades informacionais dos estudantes,
professores e equipe pedagógica da escola.
A partir desse entendimento, foi criada a lei 12.244 de maio de 2010 que
obriga todas as escolas públicas e privadas a terem bibliotecas em até 10 anos a
partir da data em que a lei foi sancionada. Isso porque, a biblioteca não é realidade
em grande parte das escolas goianas e nem é citada como recurso pedagógico
dentro dos livros de didática (SILVA, 2003).
 

Nos noticiários de televisão, vemos a sociedade cobrar por vários


benefícios tais como saúde, transporte e educação. No que se refere à educação, a
principal preocupação da sociedade é com o estado físico da escola, se tem
professor ou greve. Raramente ou nunca se vê pais ou alunos cobrando por
bibliotecas. Cobra-se o livro didático, mas a biblioteca não.
Esse desinteresse em relação à biblioteca escolar está ligada,
principalmente e claramente, pela ausência desse espaço na maioria das escolas.
Essa ausência é histórica. Como os pais não tinham acesso, não conheciam a
função, não cobram pela biblioteca nas escolas dos seus filhos. Tanto desinteresse
preocupa os educadores de uma maneira geral, que temem o não cumprimento da
lei por falta de cobrança da sociedade.
A biblioteca escolar é uma necessidade, pois “habilita os estudantes para
a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-os para
viver como cidadãos responsáveis” (MANIFESTO, 2000). Uma biblioteca escolar
bem estruturada, com pessoal capacitado, será responsável pelo processo de
letramento informacional do estudante. Com essa competência, os estudantes serão
mais ágeis na busca, uso e transformação das informações, seja para o seu dia-a-
dia ou para resolução de questões de pesquisa escolar e acadêmica.
Saber lidar com a informação é uma necessidade latente da sociedade na
atualidade. Mesmo porque, há um excesso de informações as quais necessitam ser
filtradas para melhor assimilação. “A biblioteca escolar promove serviços de apoio à
aprendizagem e livros aos membros da comunidade escolar, oferecendo-lhes a
possibilidade de se tornarem pensadores críticos e efetivos usuários da informação,
em todos os formatos e meios” (MANIFESTO, 2000).
Para isso, a biblioteca escolar deve fornecer um acervo variado composto
das diversas mídias existentes: livros, filmes, mapas, músicas, Internet e revistas.
Ela deve ser promotora cultural e integradora do ensino adquirido em sala de aula
com as atividades extra-classe. Deve incentivar a pesquisa científica e as práticas
de leitura nas diversas mídias existentes.
Nesse sentido, é preciso bibliotecários e auxiliares educadores que
possam dinamizar o uso competente de todas as fontes de informação disponíveis,
ou seja, o pessoal da biblioteca deve estar totalmente integrado ao projeto político
pedagógico da escola e devem ser motivadores e entendedores do processo de
 

aquisição do letramento informacional. Além disso, é preciso incentivar a leitura e a


prática de escrita.
Para que a biblioteca escolar cumpra com sua missão é preciso trabalho
conjunto: bibliotecário e professor. Nesse trabalho conjunto, o bibliotecário deve
participar do planejamento pedagógico da escola e informando onde a biblioteca
deve estar inserida em cada atividade de cada disciplina. E o professor deve
conhecer as potencialidades da biblioteca compreendendo seu acervo, serviços e
deve participar do processo de aquisição e seleção de materiais para esse espaço.
O professor deve estabelecer um contato direto com o bibliotecário a fim de planejar
as atividades de pesquisa de forma conjunta.
Para atender às necessidades informacionais de toda comunidade
escolar e contribuir para o processo de letramento informacional, a biblioteca deve
atender os seguintes requisitos:
1. Possuir em seu quadro de funcionários a figura do bibliotecário – este
profissional deve ser um especialista em educação ou ter interesse pelo tema;
ser leitor; promotor cultural; bom conhecedor de obras literárias nos diversos
níveis de educação; conhecer as políticas públicas do livro e da leitura;
conhecer o projeto pedagógico da escola, conhecer a lei de diretrizes e bases
da educação; ter boa oratória; conhecer as melhores fontes de informação
necessárias aos estudantes; estar atualizado com as novas fontes de
informação e utilizar redes sociais.
2. Auxiliares de biblioteca – devem ser pessoas as quais atuem efetivamente na
biblioteca escolar; devem conhecer os produtos e serviços da biblioteca
escolar; devem estar antenados com as necessidades informacionais dos
estudantes, professores e demais membros da comunidade escolar; ser
proativos; conhecer o conceito de letramento informacional e ter habilidade
para lidar com crianças, adolescentes e jovens.
3. Produtos – a biblioteca deve ir além do livro. Deve possuir no seu acervo
livros, revistas, jornais, mapas, croquis, música e acesso à internet. Além
disso, é necessário que as obras estejam em variados formatos tanto na
forma digital quanto impressa. Deve ser auto-instrutiva; ser acessível e
integrada à sala de aula.
4. Serviços – é importante os serviços de referência; treinamento constante dos
usuários tanto no uso da biblioteca em si quanto da utilização de produtos,
 

tais como base de dados e normas técnicas; promover eventos culturais;


incentivar a leitura e escrita; promover debates, participar do planejamento de
feiras científicas e divulgar as pesquisas realizadas pela comunidade escolar.
5. Professores – os professores devem conhecer todos os produtos e serviços
oferecidos pela biblioteca; participar do processo de aquisição de produtos;
planejar junto com o bibliotecário as atividades de pesquisa escolar; conhecer
as fontes de informação necessárias aos estudantes, incentivar os estudantes
à busca extra-classe de informações e participar das atividades culturais e
científicas promovidas pela biblioteca.
6. Espaço físico – deve atender às normas de acessibilidade; deve ter boa
iluminação, limpeza e móveis condizentes ao público a ser atendido; sua
organização deve ser auto-intuitiva; deve ser ventilada e de fácil acesso aos
estudantes e comunidade escolar.
Como se vê, a biblioteca deve ser um espaço dinâmico onde a
participação de toda comunidade é que fará a diferença na oferta de produtos e
serviços. Ela deve funcionar como um espaço impulsionador do questionamento e
do debate. Para isso, é importante a promoção de diversas atividades culturais e
científicas.
O papel do bibliotecário e de outros profissionais é o de capacitar os
usuários no uso competente da informação disponibilizada nos acervos físicos e
virtuais das bibliotecas. A capacitação vai desde a busca do documento até a
finalização do trabalho já incluso, aí o manejo com as normas técnicas de
apresentação. Além disso, todos os profissionais da biblioteca devem conhecer os
conceitos ligados ao letramento informacional. Na biblioteca, além do profissional
bibliotecário é preciso auxiliares treinamentos e, de preferência, profissionais da
educação que estejam motivados e tenham habilidade em lidar com os estudantes e
sejam curiosos com as fontes de informações existentes.
Os bibliotecários, na visão de Kuhlthau, Maniotes, Caspari (2007, p. 49),
fornecem recursos que são indispensáveis para o aprender a aprender na era da
informação. Fornecem o laboratório para o desenvolvimento do letramento, ou seja,
desempenham um papel vital em equipes de instrução para o planejamento e a
abordagem orientada. Essa abordagem orientada é estimulada aos estudantes para
que eles possam a aprender a realizar buscas com maior efetividade e eficiência
 

para suas pesquisas escolares. Com o passar do tempo, a ideia é que eles possam
ser cada vez mais independentes.
O bibliotecário escolar é essencial na equipe da abordagem orientada. Os
bibliotecários fornecem acesso a uma variedade de recursos necessários para a
aprendizagem através da investigação. Como especialistas de recursos
informacionais, eles fornecem uma coleção organizada de materiais no interior da
biblioteca da escola e coordenam outros recursos fora da escola, incluindo materiais
on-line e os disponíveis na comunidade, tais como em bibliotecas públicas e
museus. Um ambiente rico de informações é estabelecido por bibliotecários e é a
sua contribuição para a aprendizagem do aluno na escola (KUHLTHAU, MANIOTES,
CASPARI, 2007).
O bibliotecário escolar, segundo as autoras citadas, ganham novas
denominações visto as novas tecnologias existentes no âmbito informacional.
Tornam-se assim, especialistas em mídias, professor bibliotecário. No entanto, o
termo bibliotecário escolar é o que mais se adequa ao fazer desse profissional
(KUHLTHAU, MANIOTES, CASPARI, 2007).
É preciso que a universidade prepare melhor os professores, informando
a eles sobre a função pedagógica da biblioteca escolar. Tanto o professor quanto o
bibliotecário devem estar atentos a Lei 12.244 de maio de 2010 que universaliza a
biblioteca escolar e conhecer os programas, normas e critérios para criação e
manutenção desses espaços.
Tanto o bibliotecário deve fazer parte da equipe pedagógica quanto o
professor deve planejar junto com o bibliotecário das atividades e da aquisição de
fontes para a biblioteca. O bibliotecário é responsável em informar à escola e ao
professor o papel dele e da biblioteca.
E bibliotecários e professores devem desenvolver atividades para os
estudantes dentro das bibliotecas para que eles conheçam as potencialidades de
produtos e serviços ofertados por ela. “Eles precisam aprender que uma busca
completa vai além da coleção geral e inclui obras de referência, base de dados,
periódicos, material de arquivo, fontes biográficas, material audiovisual, software e,
ocasionalmente, livros de ficção” (KUHLTHAU, 2010, p. 159).
A pesquisadora norte americana Carol Kuhlthau desenvolveu um modelo
de busca de informação intitulado Modelo ISP – Processo de Busca de Informação,
muito interessante para se avaliar o processo de busca por diversos usuários da
 

informação. Esse modelo foi desenvolvido especialmente para pesquisa escolar.


Entretanto, podemos adaptá-lo para outros tipos de bibliotecas como a universitária
e a pública.

LEITURA E LETRAMENTO INFORMACIONAL: EM BUSCA DA COMPETÊNCIA

A leitura é parte fundamental do processo de letramento informacional. E


por meio, principalmente da leitura que é possível a interpretação de dados
necessários à transformação de informação em novos conhecimentos. É por meio
das práticas de leitura que os indivíduos aumentam sua capacidade de reflexão e de
entendimento daquilo que está a sua volta.
Muito se questiona sobre as práticas de leitura atuais devido à quantidade
de informações e mídias existentes hoje em dia. No entanto, devemos nos
conformar que a realidade atual é essa e as informações, mídias e suportes
existentes são diversos. Desde a popularização da literatura de massa, dos jornais e
revistas, temos realizado mais uma leitura extensiva do que intensiva (DARTON,
1992). A leitura dita extensiva se dá por conta do aumento de materiais de leitura
disponíveis, pois era da imprensa. Já a leitura intensiva era aquela possível pela
menor oferta de textos antes da popularização da leitura e literatura de massa.
A todo momento e em todos os lugares a leitura está presente: nas placas
indicativas, nos supermercados, bancos, outdoors e assim por diante. A leitura
movimenta a cidade e contribui para a mobilidade dos sujeitos. Seja em uma estrada
por meio de placas indicativas ou até mesmo em um supermercado onde há
indicação para se encontrar produtos.
O indivíduo que não sabe ler passa por grandes dificuldades, uma vez
que quase tudo que se pensa ou vá fazer depende do saber ler. Com a automação e
automatização do trabalho é preciso que todos os seguimentos de trabalhadores
necessitem saber ler. Com o advento de tantas tecnologias modernas, o indivíduo
necessita de um mínimo de leitura para saber operar as máquinas.
O conceito de leitura ganha uma dimensão maior diante de tantas mídias
e de tantos símbolos. “O ato de ler vai além da escrita” (MARTINS, 2004, p.7). Ler é
conseguir uma conexão entre saberes já adquiridos com outros novos. A leitura do
texto deve contribuir para a compreensão do mundo: leitura de mundo (FREIRE,
1997).
 

É preciso criar uma relação entre os conhecimentos, formando assim um


entendimento universal, onde o saber de uma determinada área possa completar e
fazer sentido em outra. A prática de leitura deve ser transversal e transdisciplinar.
Ela deve contribuir para o conhecimento e para o fortalecimento do pensamento
complexo (MORIN, 1990, 2002).
Não existe leitura ruim. A leitura deve fazer sentido para o leitor e
contribuir para a aquisição de sua necessidade de informação.

É leitor apenas aquele que os livros certos, os livros positivamente


avaliados pela escola, pela universidade, pelos grandes jornais, por
certa tradição de crítica literária, ainda que os critérios de avaliação,
poucas vezes explicitados, estejam vinculados a noções particulares
de valor estéticos, de cidadania, de conhecimento. Todos os demais
escritos – mesmo que materialmente idênticos aos livros certos – são
não-livros. Da mesma forma, aqueles que os lêem – embora leiam –
são não-leitores, pois lêem Sabrina, lêem Paulo Coelho, lêem
literatura popular. Por se realizar em torno de objetos desvalorizados,
essas leituras são apagadas em favor da preservação da leitura
mítica de que falávamos (ABREU, 2001, p. 254)

Os preconceitos de leitura devem ser combatidos, pois entendemos que a


prática de leitura por mais simplória que seja contribui para a melhoria e busca de
novas leituras. Não se pode criar uma hierarquia do que é ou não é leitura relegando
o status de leitura somente àqueles textos literários ou autenticados pela escola e
grandes críticos. Acredita-se (...) “que qualquer leitura possui um potencial a
acrescentar, a informar, e nunca a apaziguar o sujeito, a embrutecê-lo, a regredi-lo.
Quanto mais ler, mais informações o sujeito possuirá para discernir que lhe
apresentem no futuro” (DUMONT, 2000, p. 167).
A leitura “deve preencher uma lacuna em nossa vida, precisa vir ao
encontro de uma necessidade, de um desejo de expansão sensorial, emocional ou
racional, de uma vontade de conhecer mais” (MARTINS, 2004, p. 82). E nem
sempre essa lacuna a qual se deseja preencher será satisfeita com as leituras que
os outros acreditam ser as melhores. Há de se considerar os níveis de linguagem, a
acessibilidade das informações e a familiaridade com os temas tratados em
determinada leitura. Não parece razoável [...] que se continue a pensar apenas nas
obras consagradas, nos grandes escritores e pensadores. É preciso conhecer as
leituras correntes, aquelas que pessoas comuns realizam em seu cotidiano. E sobre
isso pouco sabemos. (ABREU, 2001, p. 7)
 

O processo de letramento informacional começa com o estabelecimento


das práticas de leitura. Nesse sentido, há de se considerar a aproximação entre o
conceito de letramento informacional e a educação. Para Soares (2002, p. 144),
“letramento são as práticas sociais de leitura e escrita e os eventos em que essas
práticas são postas em ação, bem como as consequências delas sobre a sociedade.
O termo letramento informacional nasce de uma concepção dada
inicialmente pela educação. E na educação o letramento está ligado às práticas de
leitura realizadas pelos sujeitos. Por isso, não se pode pensar em letramento
informacional sem considerar a necessidade das práticas de leitura. Desse modo, a
ciência da informação se liga ao conceito de letramento da educação por entender
que não há separação. A leitura é o principal meio de sucesso para o processo de
letramento informacional. Nesse sentido, a leitura é o primeiro passo, pois sem ela
não será possível calcar os passos para que o indivíduo possa ter consciência da
informação que necessita.

A LEITURA EM DIFERENTES INSTÂNCIAS

As práticas de leitura devem começar pela família antes mesmo do


nascimento de uma criança. Sempre ouvimos dizer que a voz materna e paterna
durante uma gestação faz bem ao desenvolvimento da criança.
Depois que a criança nasce, o livro e a leitura contribuem para estimular o
sistema sensorial do indivíduo. As cores, as palavras aumentam o vocabulário e a
percepção dos bebês. Quando maiores, as histórias dos livros mexem com a
imaginação das crianças e as instigam a ser mais curiosas e criativas.
A casa da criança deve ter sempre a presença da leitura. Os pais são os
maiores exemplos e incentivadores. Ao ler para o filho ou simplesmente ler para si
mesmo, a criança acaba por seguir o exemplo também.
Ao começar a vida escolar, com o estímulo já adquirido em casa, há uma
maior facilidade de se formar os leitores infanto-juvenis. Mas é preciso que a escola
dê oportunidades e ofereça materiais e ensine a criança a utilizar os diferentes
suportes de leitura.
Na escola, além da continuação das práticas leitoras, a criança deve
praticar a leitura pensando na resolução de questões. Sejam elas pessoais,
culturais, científicas ou sociais. Desse modo, a leitura não será simplesmente
 

passiva ou uma forma de cumprir tarefas e sim entendida como um processo de


formação cultural e cidadã das crianças e jovens.
A oferta da leitura em bibliotecas públicas também é um fator importante
para a integração da criança, do jovem e do adolescente à comunidade. É na
biblioteca pública que há encontro com os membros da comunidade, com as
informações de utilidade pública.
Há um conjunto de políticas públicas voltadas ao livro e a leitura, porém,
para que sejam efetivamente cumpridas a sociedade precisa cobrar por mais ações.
Pensar no “direito a leitura como um direito de cidadania” (SANTOS, MARQUES,
ROSING, 2009, p. 38).
Na escola, é preciso trabalhar a leitura de diversas formas. Existem
muitas ações e atividades as quais contribuem para o incentivo à leitura. Vejamos
alguns exemplos:

- Roda de leitura: trata-se de uma atividade que pode ser integrada a


qualquer disciplina. Nessa roda de leitura, cada estudante fica encarregado de fazer
uma leitura prévia de um tema, o qual pode ser pesquisado na própria biblioteca.
Despois de escolha e da leitura do texto do tema proposto os estudantes podem se
reunir em um espaço como professor e o bibliotecário e cada um faz a exposição do
seu texto. Pode-se fazer um relato de todos os textos e ser disponibilizada uma
síntese na biblioteca ou no blogue/site da mesma;
- Contação de história: indicado para todas as séries desde a educação
infantil ao ensino médio. É uma boa forma de apresentar novos autores, incentivar a
leitura de outros;
- Ranking de leitura: a biblioteca pode premiar aqueles estudantes que
mais leituras fizeram no decorrer do mês por meio de uma exposição do nome no
mural e/ou premiando-o com um livro;
- Mural de indicações: professores, estudantes e os bibliotecários podem
redigir resenhas de obras lidas e expô-las em mural;
- Oficina literária: ideal se a parceria for entre biblioteca e professores de
literatura e/ou português. Pode ser uma atividade semestral que integre toda escola,
onde se possa ler poesias, pequenos contos, produzir textos para serem lidos no
evento. Se for possível, trazer um escritor de alguma obra para uma palestra;
 

- Produção escrita – textos, trabalhos, poesias produzidas podem formar


um livro o qual possa ser publicado pela escola em parceria com a biblioteca.

Como se vê, há diversas atividades as quais são importantes para o


processo de incentivo à leitura. Basta usar a criatividade, pesquisar em sites
especializados que se encontrarão outros tantos exemplos de atividades que
possam ser efetivadas na biblioteca.

IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE LETRAMENTO INFORMACIONAL NA


ESCOLA

Os Estados Unidos, como um país de forte tradição biblioteconômica, têm se


consolidado como uma nação de grandes pesquisadores e consequentemente
produção de pesquisas que dizem respeito à função pedagógica da biblioteca
escolar e do bibliotecário. A pesquisadora americana Carol Kuhlthau tem
desenvolvido a abordagem “Pesquisa Escolar Orientada” (2007), que considera a
pesquisa como uma atividade de processo, na qual o bibliotecário e o professor
fazem o acompanhamento durante todas as suas etapas. Essa premissa é oposta
àquela pragmática que concebe a pesquisa escolar como produto final a ser
entregue ao professor.
Kuhlthau (2010) desenvolveu o Modelo ISP, ou Processo de Busca de
Informação, o qual teve uma forte influência de sua prática profissional enquanto
bibliotecária, ao orientar os estudantes que chegavam à biblioteca para fazer a
pesquisa escolar. Nesse modelo, é importante ressaltar a centralidade da biblioteca
no modelo escolar norte-americano. Dessa forma, a principal tese do modelo é que
bibliotecários e professores podem trabalhar juntos para o desenvolvimento das
habilidades de pesquisa dos estudantes.
O modelo ISP é baseado na visão construtivista do aprendizado. O
construtivismo apresenta o aprendizado como um processo dinâmico, em que todos
os aspectos da experiência interagem. O processo de construção é dinâmico e
orientado por sentimentos, que interagem com pensamentos e ações. Nessa
abordagem, o indivíduo é agente ativo do próprio conhecimento. Um ambiente
construtivista da aprendizagem deve permitir que o sujeito crie sentido com
informação contextualizada, o que Alves e Mendes (2000) denominam informação
 

significativa. Uma informação só é significativa se “estiver vinculada às experiências


do sujeito e se estes possuem alguns conhecimentos prévios a priori em relação à
essa (ALVES;MENDES, 2000, p. 5) e incentiva as habilidades de avaliar e utilizar as
informações, identificar problemas e apresentar soluções.
O modelo ISP é composto por fases ou etapas: Iniciação, Seleção,
Exploração, Formulação, Coleção, Apresentação e Avaliação (KUHLTHAU, 2004).
Cada etapa é marcada por ações, estratégias, sentimentos e pensamentos.
Constata-se, nessa perspectiva, que alguns estágios “são mais difíceis para os
estudantes do que outros” (KUHLTHAU; MANIOTES; CASPARI, 2007, p. 17).
A seguir apresentamos o Modelo ISP para que possamos refleti-lo não só
na biblioteca escolar, mas na biblioteca pública e na biblioteca universitária.
Perceberemos que alguns pontos são aplicáveis em ambas as bibliotecas e outros
somente na biblioteca escolar, uma vez que esse modelo foi elaborado para esse
tipo de público.

INÍCIO DA PESQUISA
ATIVIDADE Preparar para a decisão de selecionar o assunto.
PENSAMENTOS Enfrentar o trabalho; compreender a atividade; relacionar
experiências e aprendizagens prévias; considerar
possíveis assuntos.
SENTIMENTOS Apreensão em relação ao trabalho que vai enfrentar,
incerteza.
AÇÕES Conversar com outros; passar os olhos nas fontes de
informação, escrever e anotar questões sobre possíveis
assuntos.
ESTRATÉGIAS Discussões; ponderar sobre possíveis assuntos; tolerar
incertezas.
Fonte: Kuhlthau (2010)

Com relação à pesquisa escolar, essa primeira etapa visa, em primeiro


momento, definir claramente o que é exigido pelo professor. Para os estudantes, é
uma etapa bem complexa, pois parte do entendimento do tipo de trabalho solicitado
pelo professor. Na biblioteca universitária, se pensarmos nos trabalhos de conclusão
de curso, é uma etapa desafiadora, pois, nesse caso, o estudante proporá uma
temática, um problema. De maneira diferente, na biblioteca pública, esse primeiro
momento marca uma pesquisa que pode ser ou não acadêmica ou escolar. Ou seja,
o desejo de descoberta de algo, de uma resposta para o dia-a-dia.
Assim, torna-se necessário definir os requisitos mínimos para auxiliar os
estudantes, pesquisadores e comunidade em geral, como por exemplo, indicação de
 

fontes de informação. É importante levar os estudantes, pesquisadores e


comunidade a reconhecerem suas necessidades de informação e entenderem a
pesquisa como uma oportunidade de preencher lacunas de conhecimento.
No caso da biblioteca escolar e universitária, é muito importante a
comunicação entre professor e bibliotecário. Essa comunicação pode ser dada por
meio da participação do bibliotecário com a equipe pedagógica da escola e da
universidade. Na biblioteca escolar, o bibliotecário deve fazer parte do planejamento
da pesquisa (bibliotecário + professor). Seleção do assunto a ser pesquisado é a
próxima etapa, na qual as atividades principais são identificar e selecionar um tópico
geral de pesquisa.

SELEÇÃO DE ASSUNTO
ATIVIDADE Decidir sobre o assunto de pesquisa.
PENSAMENTOS Avaliar assuntos de acordo com critérios de interesse
pessoal, exigências do trabalho, informações disponíveis e
prazo estipulado pelo professor; antecipar resultados de
possíveis escolhas; escolher assuntos com potencial para
êxito.
SENTIMENTOS Confusão; algumas vezes ansiedade; breve contentamento
após a seleção; antecipação da tarefa à frente.
AÇÕES Discutir com outras pessoas; fazer busca preliminar nas
fontes de informação; usar enciclopédias para obter uma
visão geral do assunto.
ESTRATÉGIAS Discutir possíveis assuntos; antecipar o resultado das
escolhas; usar fontes gerais para obter visão ampla de
possíveis assuntos.
Fonte: Kuhlthau (2010)

O estudante do ensino básico e superior tomar decisão é o principal


objetivo no estágio de seleção do assunto. Os constructos ou esquemas retidos na
memória são a base para a tomada de decisão. Da mesma forma, quando se trata
da comunidade, esse conhecimento prévio, essa memória é o que o orientará para
tomar a decisão ou de sentir a necessidade de busca de outros conhecimentos.
Nessa fase, é muito importante a participação da biblioteca. De acordo com
Kuhlthau (2004), sentimentos de incerteza, muitas vezes, cedem ao otimismo,
depois da escolha do tópico, e há uma prontidão para iniciar a busca por informação.
É aí que entra o terceiro estágio, Exploração, considerado por muitos estudantes um
dos mais difíceis do processo, pois exige paciência e reflexão.
 

EXPLORAÇÃO DAS INFORMAÇÕES


ATIVIDADE Explorar informações com o objetivo de encontrar o foco.
PENSAMENTOS Inabilidade para expressar com precisão a necessidade de
informação; informar-se sobre o assunto geral; procurar o
foco nas informações sobre o assunto geral; identificar
vários focos possíveis.
SENTIMENTOS Confusão, incerteza, dúvida.
AÇÕES Localizar informação relevante; ler para informar-se; listar
fatos e ideias interessantes; compilar referências
bibliográficas.
ESTRATÉGIAS Tolerar inconsistência e incompatibilidade nas informações
encontradas; procurar intencionalmente possíveis focos;
listar palavras ou termos que representam o assunto; ler
para aprender sobre o assunto.
Fonte: Kuhlthau (2010)

Nessa etapa, à medida que leem sobre os assuntos, podem começar a


ter ideias para focalizar a pesquisa e a ligar os temas lidos com outros textos
presentes na memória. No caso da comunidade, trata-se de um desafio maior, pois é
uma pesquisa que depende mais de uma iniciativa individual de busca por novos
conhecimentos do que um simples cumprimento de tarefa. Assim, três atitudes são
importantes: relaxar, ler, refletir. Depois dessas atitudes, é importante anotar ideias e
fazer fichamento das leituras. A atividade principal é buscar informações sobre o
tópico geral escolhido para ampliar a compreensão pessoal e estabelecer um foco
sobre o mesmo, o que caracterizará a próxima etapa: Formulação.

FORMULAÇÃO DO FOCO
ATIVIDADE Definir o foco, usando as informações encontradas.
PENSAMENTOS Conjeturar sobre o resultado de possíveis focos; usar
critérios de interesse pessoal, exigências do trabalho,
disponibilidade de material e tempo estabelecido;
identificar ideias das quais seja possível extrair um foco;
algumas vezes ocorre um momento repentino de insight.
SENTIMENTOS Otimismo, confiança na capacidade de completar a
atividade.
AÇÕES Ler lista para identificar possíveis focos.
ESTRATÉGIAS Fazer levantamento nas listas; anotar possíveis focos e
descartar outros.
Fonte: Kuhlthau (2010)

O foco é um caminho a percorrer, uma meta a ser alcançada, uma direção


(FIALHO, 2009); ou a identificação de algum aspecto que gostaria de
explorar/aprofundar. Às vezes, acontece num momento de insight que pode ocorrer
tanto com estudantes quando com a comunidade. No caso de estudantes, é preciso
 

critérios para definir o foco: O foco é interessante? O foco está de acordo com as
exigências estabelecidas pelo professor? As informações podem ser reunidas e
organizadas para apresentação no tempo disponível? Existem informações
suficientes sobre o foco?
É o momento decisivo do processo, em que o sentimento de incerteza
diminui e há um aumento de confiança (KUHLTHAU, 2004). A atividade principal é
formar um foco a partir da informação encontrada. Obviamente, KUHLTHAU (2004)
sugere o estabelecimento do foco após algumas ações preliminares como
identificação e seleção do tópico a ser pesquisado e busca preliminar de
informações. Uma clareza do foco para o tópico de pesquisa capacita o estudante a
se mover para o próximo estágio de busca, direcionando-o para a coleta de
informação (KUHLTHAU, 2004).

COLETA DE INFORMAÇÕES
ATIVIDADE Reunir informações que definam, ampliem e apoiem o
foco.
PENSAMENTOS Procurar informações para apoiar o foco; definir e ampliar o
foco; reunir informações pertinentes; organizar as
anotações.
SENTIMENTOS Percepção da extensão do trabalho a ser feito; confiança
na habilidade de realizar a tarefa; aumento de interesse.
AÇÕES Usar a biblioteca para coletar informações pertinentes;
solicitar fontes específicas ao bibliotecário; tomar notas
detalhadas, incluindo referências e citações bibliográficas.
ESTRATÉGIAS Usar termos de busca adequados para encontrar
informações pertinentes; fazer busca em vários tipos de
material, por exemplo: livros de referência, revistas,
biografias, índices; procurar ajuda do bibliotecário.
Fonte: Kuhlthau (2010)

O foco pode ser redefinido e refinado nessa fase, a biblioteca e o


bibliotecário devem ter participação intensa nesse momento. É necessário instrução
acerca das fontes de informação, instruções sobre as fontes eletrônicas, qualidade
da informação na Internet, diretórios, bases de dados, periódicos científicos,
repositórios, pesquisa simples e avançada e uso dos catálogos (virtuais e locais). As
ações de pesquisa envolvem selecionar informação pertinente e fazer anotações
detalhadas do que esteja relacionado especificamente ao foco, já que, depois do
estágio de Formulação, informações mais generalizadas já não têm mais relevância.
O modelo original de Kuhlthau (2004), realizado com estudantes do ensino
médio, propunha os estágios de Exploração, Formulação e Coleção como distintos e
 

separados (KUHLTHAU, 2004). No entanto, a confirmação longitudinal do modelo


com os mesmos estudantes, na conclusão do ensino superior, identificou que esses
três estágios são sobrepostos e se fundem. Os participantes descreveram um
processo mais espiral, em que os pensamentos emergentes iam mudando e se
desenvolvendo, ao invés de um ponto distinto de formulação. Essa constatação
indicou mudanças significativas relativas às percepções dos estudantes sobre o
processo de busca de informação, principalmente em três quesitos: nas atividades
da pesquisa, no estabelecimento de um foco/direção para a mesma, e, também, na
coleta de informações (KUHLTHAU, 2004).
Indicou, também, que, à medida que eles se tornam mais experientes e
maduros intelectualmente, o que inclui mais experiência no uso da biblioteca e das
fontes de informação, suas percepções sobre o processo de busca de informação
sofrem alterações importantes, embora os estágios do processo continuem os
mesmos (KUHLTHAU, 2004). Há um aspecto crítico nessa questão, porque,
normalmente, os estudantes são inclinados a irem diretamente para a fase de coleta
de informações (Coleção) assim que selecionam o tópico de pesquisa (Seleção).
Todavia, o mais importante a se fazer nesse momento, segundo Kuhlthau (2004), é
ler e refletir sobre o tópico, listar fatos importantes e ideias interessantes, com o
objetivo de estabelecer um foco para a pesquisa. Nos estágios iniciais da pesquisa,
os estudantes não compreendem claramente a tarefa de estabelecer um foco a
partir da informação encontrada. Eles precisam de orientação para que avancem
para as fases posteriores (KUHLTHAU, 2004).
No estágio de Apresentação, sentimentos de alívio são comuns. Há um
sentimento de satisfação se a atividade de pesquisa foi bem sucedida, ou de
desapontamento, caso contrário. A principal atividade é completar a busca e se
preparar para apresentar os resultados. Estratégias de organização da informação,
como resumos, constituem técnicas importantes nessa fase. À medida que os
estudantes estão mais maduros intelectualmente, seus sensos de propriedade sobre
os produtos de pesquisa aumentam, buscando construir uma expertise sobre o
assunto (KUHLTHAU, 2004).
 

PREPARAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS


ATIVIDADE Terminar a busca de informações.
PENSAMENTOS Identificar necessidade de informações adicionais; levar
em consideração o limite de tempo; observar redundância
crescente; observar redundância decrescente; esgotar os
recursos.
SENTIMENTOS Sentimento de alívio; às vezes satisfação; às vezes
desapontamento.
AÇÕES Checar novamente o material anteriormente negligenciado;
conferir as informações e as referências; elaborar
esquema; redigir rascunho; redigir a versão final com
bibliografia.
ESTRATÉGIAS Voltar às fontes de informação para fazer uma última
busca.
Fonte: Kuhlthau (2010)

Nessa fase, chega-se ao encerramento da busca de informação. No caso


da pesquisa acadêmica e escolar, encerra-se o tempo da pesquisa. Aqui, considera-
se que todo o material útil foi consultado; que foi feito esforço suficiente na busca
reflexão e seleção do material; foram feitos citações, resumos, esquemas; definidos
ordem e a conexão entre as ideias. Chega-se também na parte da redação do
trabalho; respeito às normas da ABNT e por fim pensar na forma de comunicação
dos resultados da pesquisa (normalmente já pré-definidos).

AVALIAÇÃO DO PROCESSO
ATIVIDADE Avaliar o processo de pesquisa.
PENSAMENTOS Aumentar o autoconhecimento; identificar problemas e
êxitos; planejar estratégias de pesquisa para trabalhos
futuros.
SENTIMENTOS Sentimento de realização ou de desapontamento.
AÇÕES Procurar evidência do foco: avaliar o uso do tempo; avaliar
o uso das fontes de informação; refletir sobre a ajuda do
bibliotecário.
ESTRATÉGIAS Esboçar linha do tempo; fazer fluxograma; discutir com o
professor e com o bibliotecário; redigir síntese.
Fonte: Kuhlthau (2010)

Avaliar com os estudantes e, no caso da comunidade, o processo de


pesquisa e não apenas o produto final. As técnicas que podem ser utilizadas são:
linha do tempo, fluxograma, reuniões e redação da síntese. Devem-se levar em
consideração os seguintes elementos da avaliação: evidência do foco; uso do
tempo; uso das fontes de informação e auxílio do bibliotecário. É um momento de
reflexão sobre toda a atividade e o conteúdo da aprendizagem, incluindo os pontos
fortes e fracos do processo de pesquisa, fundamental para que os estudantes
 

possam refletir sobre suas dificuldades, procurando se aperfeiçoar para trabalhos


futuros.
A biblioteca, como podemos ver, não se faz apenas a partir de uma
coleção completa de materiais de diversos suportes e de um espaço físico bem
equipado. Ela precisa, acima de tudo, de pessoal proativo e interessado no processo
de ensino aprendizado de crianças, adolescentes e jovens. Deve, portanto, ser um
espaço vivo, funcional e explorado.
 

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