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madeira

Helena Cruz, Lina Nunes


12
12.1 Introdução
12.2 O que é a madeira
12.3 Higroscopicidade e teor de água
12.4 Resistência mecânica da madeira
12.5 Degradação da madeira por agentes físicos e químicos
12.6 Degradação da madeira por agentes biológicos
12.7 Conservação e protecção de madeira
12.8 Produtos derivados de madeira e suas aplicações
introdução 631

12.1 Introdução

A crescente diversidade de produtos de madeira e respectivas utilizações contraria cada


vez mais a ideia de se tratar de um material tradicional, desde sempre usado pelo homem
com um mínimo de modificação, amplamente conhecido e trabalhado ainda com base
num conhecimento sobretudo empírico. Se esta ideia já não correspondia à realidade
no final da Segunda Guerra Mundial, com o surgimento de novos materiais derivados
de madeira, com a disseminação de novos sistemas construtivos e o desenvolvimento de
regras de dimensionamento mais objectivas, ela está completamente ultrapassada no iní-
cio do século XXI.

Assiste-se, hoje em dia, a uma multiplicidade de novos produtos de madeira processa-


dos (engineered wood products), com características muito interessantes sob os pontos de
vista da forma, dimensões, aspecto e, sobretudo, características físicas e mecânicas. As
técnicas de ligação sofreram igualmente uma evolução muito importante, traduzida no
desenvolvimento de colas de grande resistência e durabilidade e no desenvolvimento de
ligadores e ligações mais eficientes.

No que respeita à durabilidade da madeira, porventura um dos aspectos que suscita


maior preocupação, a grande maioria das espécies com interesse comercial está caracte-
rizada sob esse ponto de vista e dispomos de conhecimento e meios para saber em que
condições deve ser aplicada e/ou de que modo podemos protegê-la de forma a prolongar
a sua vida útil. Nos últimos anos tem-se verificado uma significativa evolução quanto à
filosofia de protecção da madeira e aos métodos correntes de preservação e tratamento,
no sentido de uma abordagem menos agressiva para o ambiente e menos tóxica para
o homem.

Também no que diz respeito ao dimensionamento de estruturas, dispomos hoje de


modernas regras de cálculo e de um extenso conjunto normativo, que nos permitem tra-
tar a madeira a par de outros materiais de construção, bem como especificar o material,
caracterizar e verificar o seu desempenho de um modo objectivo.

Sendo a madeira um material natural, muito haveria a dizer acerca da sua produção, do
interesse da floresta em termos ambientais e do valor da madeira no âmbito da sustenta-
bilidade da construção. Também em termos históricos, a utilização da madeira, particu-
larmente em estruturas, é rica e diversificada e mereceria ampla reflexão. Não obstante,
dados os objectivos da presente publicação, entendeu-se cobrir neste capítulo sobretudo
os aspectos que mais directamente poderão ajudar engenheiros e arquitectos relativa-
632 O que é a madeira

mente à aplicação de madeira na construção. Mais do que dar uma perspectiva histórica
da utilização da madeira, a par de um conhecimento básico do material, que se considera
imprescindível, procurou-se aqui fornecer linhas orientadoras para a selecção da madeira
e sua aplicação na construção civil, enquadradas sempre que possível pelos documentos
normativos actualmente aplicáveis.

1 2 . 2 O q u e é a m a d e i r a

A madeira é um material compósito natural de origem biológica, formado por uma maté-
ria heterogénea e anisotrópica elaborada por um organismo vivo, que é a árvore.

Embora se possa aproveitar a madeira resultante das desramas, a maioria do material


lenhoso utilizado provém do tronco da árvore. Além de constituir o suporte do organismo
durante a vida da árvore, suportando o seu peso próprio e as acções que lhe são aplica-
das, como o vento ou a neve, o tronco assegura a condução das matérias necessárias ao
processo de fotossíntese (seiva bruta) e o armazenamento de substâncias elaboradas e de
água, durante os períodos de menor actividade fisiológica ou mesmo de repouso.

A madeira (ou lenho) é consequentemente constituída por pequenos elementos celula-


res, com direcção predominantemente longitudinal, diferenciados segundo as funções
que desempenham. O seu conjunto e arranjo (estrutura anatómica) são característicos
de cada espécie florestal, embora variem também, em certa medida, com a idade e as
borne
condições de crescimento (solo, clima, altitude, exploração florestal, queimadas, etc.).

Do ponto de vista químico, as paredes celulares são constituídas essencialmente por celu-
lose e hemiceluloses (cerca de 40 a 50 por cento da composição) embebidas numa matriz
amorfa de lenhina. Além destes, a madeira possui um conjunto de compostos orgânicos
cerne designados por extractivos, cuja remoção não afecta significativamente as propriedades
físicas e mecânicas do material [1, 2].
medula
O crescimento da árvore em diâmetro é devido à adição de novas células produzidas pelo
Figura 12.1: Secção transversal câmbio, o qual produz lenho para o interior, bem como casca e entrecasco para o exte-
de um tronco de Folhosa. rior, enquanto se afasta progressivamente da medula, Figura 12.1.

12.2.1 Resinosas e Folhosas


As células do lenho diferenciam-se entretanto em elementos celulares com funções fisio-
lógicas diferentes (condução de seiva, suporte estrutural, armazenamento, etc.), sendo
O que é a madeira 633

Figura 12.2: Estrutura microscópica de Resinosa (esquerda) e de Folhosa (direita) [1].

essa especialização muito maior no caso das Folhosas, dando origem a arranjos anató-
micos mais complexos e diversificados, do que no caso das Resinosas, mais ancestrais.

A observação microscópica do arranjo anatómico de uma madeira, designadamente


do tipo, dimensões e disposição relativa dos elementos celulares, permitirá distinguir
madeiras provenientes de diferentes espécies florestais, sendo assim o método geralmente
empregue quando se pretende a verificação ou a identificação da espécie de origem de
uma dada amostra de madeira, tarefa que a apreciação macroscópica da sua textura se
revelará em muitos casos incapaz de realizar.

Refira-se como exemplos de espécies de Resinosas: o pinheiro, o abeto e o cedro; e como


espécie de Folhosas: o carvalho, o castanheiro, a faia, o eucalipto, bem como a generali-
dade das espécies que estão na origem das madeiras tropicais que utilizamos.

Enquanto as Resinosas apresentam uma estrutura simples constituída por traqueídos


(células alongadas que desempenham simultaneamente funções de suporte da árvore e
de transporte da seiva bruta à copa) e células de parênquima (onde são armazenadas
substâncias nutritivas de reserva como amidos e óleos), nas Folhosas as células com fun-
ções de suporte são designadas por fibras, designando-se por vasos lenhosos as células
com funções de transporte (Figura 12.2). Na terminologia da madeira enquanto material
de construção, o termo fibras da madeira aplica-se tanto aos traqueídos das Resinosas
como às fibras das Folhosas.
634 O que é a madeira

1 2 . 2 . 2 L e n h o d e P r i m av e r a e l e n h o d e O u t o n o
Na maioria das árvores das zonas temperadas, verifica-se um abrandamento ou mesmo
uma paragem da formação do lenho durante o Inverno e uma retoma no início da
Primavera. Esta variação implica, a nível microscópico, diferenças de calibre das células
e de espessura das respectivas paredes, que se reflectem, a nível macroscópico, em dife-
renças de tonalidade, originando uma alternância de anéis de crescimento escuros (anéis
de Outono) e claros (anéis de Primavera). Nestes casos, é possível estimar a idade de
uma árvore pelo número de anéis de crescimento anual, cada um dos quais corresponde
ao conjunto de um anel de Primavera e um anel de Outono.

Em algumas espécies de Resinosas, existe uma correlação significativa (variação inversa)


entre a largura média das camadas de crescimento e a massa volúmica da madeira, sendo
este um dos parâmetros usados na classificação visual da madeira tendo em vista a sua
resistência mecânica.

12.2.3 Borne e cerne


A partir de determinada idade da árvore, normalmente entre os 5 e os 30 anos de vida,
consoante a espécie, começa a dar-se a transformação do borne em cerne. Esta trans-
formação, irradiando a partir da zona central do tronco, resulta da morte das células
e corresponde a alterações químicas e físicas traduzidas, nomeadamente pela cessação
de transporte de seiva e pela formação e deposição de produtos residuais (extractivos).
Verifica-se geralmente a alteração da cor do lenho (embora em algumas espécies não
exista distinção cromática entre cerne e borne), a redução da sua permeabilidade e, na
maioria dos casos, também o aumento da durabilidade natural, já que os produtos depo-
sitados no cerne podem ser repelentes ou tóxicos para os fungos e os insectos que degra-
dam a madeira.

12.2.4 Anisotropia
O processo de crescimento da árvore determina uma simetria axial e uma direcção pre-
dominante das células que constituem o lenho. Este arranjo resulta numa anisotropia
marcada, tanto nas propriedades mecânicas como nas propriedades físicas (retracção) da
madeira, pelo que estas são normalmente referidas aos diferentes planos da madeira ou
direcções indicadas na Figura 12.3.

A direcção longitudinal é frequentemente designada por direcção paralela às fibras. As


direcções radial e tangencial, ambas perpendiculares às fibras, correspondem respectiva-
mente: a um qualquer raio definido na secção transversal e a uma qualquer tangente às
camadas de crescimento.
O que é a madeira 635

Figura 12.3: Planos da madeira [1].

1 2 . 2 . 5 Va r i a b i l i d a d e d a m a d e i r a
A grande diversidade de espécies florestais exploradas comercialmente implica o pri-
meiro factor de variabilidade da madeira. Esta variação entre espécies é particularmente
notória na família das Folhosas, que engloba desde madeiras claras, leves, pouco resis-
tentes e pouco duráveis como a balsa até madeiras escuras, densas, muito resistentes e
duráveis como o pau-santo.

Refira-se que a variação dos circuitos de comercialização de madeiras, a nível mun-


dial, coloca frequentemente o comprador ou utilizador de madeiras em posição de total
desconhecimento das madeiras oferecidas pelo mercado. A par disto, são muitas vezes
empregues designações comerciais novas, mais ou menos sugestivas, que criam confusão
no mercado por dificultarem a procura de informação ou por motivarem a associação a
espécies de reconhecido potencial, ainda que estas tenham menor durabilidade ou resis-
tência mecânica.

Por esta razão, a especificação de uma dada madeira, além do nome comercial e da ori-
gem geográfica, deve sempre ser feita incluindo a designação botânica (nome em latim)
636 O que é a madeira

da espécie florestal. As nomenclaturas comerciais de espécies florestais podem ser um


precioso auxiliar nesta matéria e constam de diversas publicações e bases de dados, como
por exemplo a referência [3].

Factores como as condições climáticas, natureza do solo, disponibilidade de água ou tipo


de condução florestal também influenciam as características da madeira produzida por
uma determinada espécie. Observa-se ainda alguma variação do material dentro de uma
mesma árvore, geralmente mais denso junto à periferia do tronco e próximo da base.
No entanto, todos estes aspectos são dificilmente comprováveis na altura da recepção
do material, pelo que se torna inconsequente a especificação da madeira com base nes-
tes parâmetros.

Em contrapartida, a presença de particularidades (defeitos, sob o ponto de vista do utili-


zador) na madeira, inerentes à sua origem natural, sobretudo os nós, dilui a variabilidade
intra-espécie, passando a ser o factor determinante da qualidade do material.

12.2.6. Defeitos da madeira


A qualidade de uma peça de madeira é medida pelas características médias do lenho
e pelo tipo, quantidade e distribuição de defeitos que apresenta. Uma descrição exaus-
tiva dos defeitos da madeira pode ser encontrada na NP 180 [4]. Salientam-se seguida-
mente as características e os defeitos mais significativos, tendo em vista a utilização
em construção.

Nós — Um nó corresponde à porção da base de um ramo inserida no tronco da árvore.


Esta massa tem um desenvolvimento sensivelmente cónico, irradiando da medula ou pró-
ximo dela. A forma do nó numa peça de madeira é, assim, função da orientação do plano
de corte da madeira relativamente ao ramo.

O carácter depreciativo dos nós depende do tipo de utilização — estrutural ou outro.


Para utilizações não estruturais, em que o aspecto é determinante, procura-se geral-
mente que os nós estejam distribuídos de modo uniforme, tenham pouca expressão nas
faces da peça (pequeno diâmetro) e sejam sãos ou aderentes. Veja-se a norma euro-
peia EN 942 [5].

A influência dos nós na resistência mecânica da madeira deriva do facto deles correspon-
derem a material inserido numa peça, cujas fibras são aproximadamente perpendiculares
à direcção geral das fibras da peça. Dada a forte anisotropia da madeira, traduzida por
uma resistência à tracção na direcção perpendicular às fibras cerca de 30 vezes menor
O que é a madeira 637

E
h
4

Figura 12.4: Idealização dos nós no interior de uma peça e avaliação do KAR total
e do KAR marginal [7].

que na direcção paralela, facilmente se compreende que, independentemente de se tratar


de nós ou grupos de nós aderentes, soltadiços ou buracos de nós, é desprezável a contri-
buição da parte da secção transversal correspondente. Por esta razão, para utilizações
estruturais [6], os limites impostos aos nós, ou grupos de nós, são estabelecidos em ter-
mos da percentagem de secção transversal da peça que eles ocupam, designada vulgar-
mente por KAR (Knot Area Ratio), Figura 12.4.

Fio inclinado — É uma anomalia traduzida pela existência de um ângulo entre a direc-
ção geral das fibras da madeira e o eixo longitudinal da peça. Pode resultar de anoma-
lias de crescimento, como o fio torcido ou a curvatura do tronco, ou da serragem oblí-
qua das peças. As suas consequências prendem-se uma vez mais com a anisotropia do
material, por nos afastarmos da situação ideal da aplicação dos esforços paralelamente
ao fio da madeira.

Fendas — As fendas introduzem descontinuidade no material lenhoso e os seus efeitos


na resistência da madeira dependem do tipo de esforço considerado, da sua localização,
comprimento e profundidade, bem como da eventual associação com outros defeitos,
como nós ou fio inclinado.

As fendas de secagem desenvolvem-se no sentido das fibras da madeira, partindo da peri-


feria do tronco para a medula. Embora haja madeiras com maior propensão para fender
que outras, o desenvolvimento de fendas é potenciado por processos de secagem brus-
638 Higroscopicidade e teor de água

cos, com elevados gradientes de teor de água na secção transversal das peças, sendo um
defeito de laboração.

As fendas anelares resultam do descolamento entre camadas de crescimento consecuti-


vas, tendo um desenvolvimento circular. Podem ocorrer em árvores sujeitas, durante o
crescimento, a flexões frequentes e excessivas, designadamente por acção de ventos inten-
sos, ou ainda por efeito da congelação.

Descaio — O descaio reflecte o remanescente da superfície do toro na peça de madeira,


sendo um defeito de laboração. Implica sobretudo dificuldades de fixação, apoio ou cola-
gem, já que a perda de resistência devida à redução de secção transversal é geralmente
desprezável.

Taxa de crescimento — A taxa de crescimento é avaliada pela largura média dos anéis
de crescimento anuais. Não sendo um defeito, trata-se de um importante parâmetro de
avaliação das madeiras de Resinosas. O seu interesse deriva de reflectir, indirectamente,
a densidade da madeira, que por sua vez influencia directamente a resistência e o módulo
de elasticidade da madeira, mas que é mais difícil de estimar de modo expedito.

12.3 Higroscopicidade e teor de água

1 2 . 3 . 1 H u m i d a d e d a m a d e i r a e r e t r a c ç ã o
Imediatamente após o abate, qualquer madeira apresenta uma grande quantidade de
água. Essa água encontra-se sob várias formas: água de constituição, água de impregna-
ção (ou embebição) e água livre.

A água de constituição está intimamente ligada à substância lenhosa por poderosas for-
ças de sorção química, e não pode ser removida sem que ocorra a decomposição química
da madeira.

A água de impregnação ou de embebição preenche os espaços entre os constituintes da


parede celular, mediante forças de atracção intermolecular ou infiltrada por capilaridade.
A sua saída provoca a aproximação das fibras e das micelas, provocando a retracção da
madeira, e faz aumentar a sua resistência e rigidez.

No outro extremo, a água livre preenche os espaços vazios da estrutura alveolar da


madeira, não possuindo qualquer ligação com a substância lenhosa. O seu movimento
Higroscopicidade e teor de água 639

Variação aproximada de dimensões (%)


0,7 4,9 8,6
30

Longitudinal

Radial

Tangencial
Long. PSF
Tang.

Teor de água (%)


20

Rad.

10

Figura 12.5: Direcções tangencial, radial e longitudinal e respectivos coeficientes de


retracção em termos relativos (valores médios para o pinho bravo) [8].

no interior da madeira não ocasiona variação do volume da madeira nem alterações da


resistência mecânica.

Após o abate, a madeira perde mais ou menos rapidamente a sua água livre. Este pro-
cesso verifica-se até que toda a água livre tenha saído, mantendo ainda as paredes celu-
lares toda a sua água de impregnação — situação correspondente ao ponto de saturação
das fibras (PSF), o qual se verifica para cerca de 28 a 30% de teor de água da madeira,
na maioria das espécies. Desde o estado verde até este valor crítico, a madeira não sofre
alterações apreciáveis de retracção ou de resistência mecânica.

Mais lentamente depois, abaixo do PSF, a madeira vai perdendo a sua água de impreg-
nação, o que é acompanhado por retracções mais ou menos importantes, sobretudo nas
direcções tangencial e radial, conforme se representa esquematicamente na Figura 12.5.

1 2 . 3 . 2 E s ta b i l i d a d e d i m e n s i o n a l e f o r m a ç ã o d e e m p e n o s
Abaixo do PSF, a retracção é aproximadamente linear com a redução do teor de água
da madeira, tratando-se de um fenómeno reversível já que o aumento do teor de água
640 Higroscopicidade e teor de água

Meia cana

Arco

Hélice

Figura 12.6: Vários tipos de empeno (desenho de Tomás Mateus, cc. 1960).

provocará o inchamento da madeira, aproximadamente na mesma medida. Na realidade


o processo é ligeiramente histerético, existindo em média um diferencial de 2% entre as
curvas de secagem e de reumidificação, que é por simplicidade ignorado.

Podem ser determinados, para cada madeira, os coeficientes unitários de retracção nas
direcções tangencial, radial e axial, correspondentes à variação de dimensão (retracção
ou inchamento) nessa direcção, em percentagem, que ocorre para cada variação de teor
de água da madeira de 1% no intervalo entre 0% e o PSF, sendo habitual apresentá-los
em % / %.

A variação dimensional na direcção axial ou longitudinal Rl (paralela às fibras) é, em


termos práticos, desprezável, sendo máxima na direcção tangencial, Rt.

Os coeficientes unitários de retracção para as diversas madeiras constam de numerosas


publicações e são um dado importante a ter em conta, no sentido de prever o seu com-
portamento após aplicação, traduzido por eventuais retracções, empenos e fendas [9].

Um dos modos de classificar uma madeira quanto à estabilidade dimensional baseia-se


no factor de anisotropia, definido pela relação entre os coeficientes tangencial e radial
(Rt/Rr), que pode variar entre 1,5 e 2,5.

Esta classificação deriva do facto de madeiras com factor de anisotropia mais elevado
terem geralmente maior propensão para empenar. O desenvolvimento de empenos
Higroscopicidade e teor de água 641

resulta de uma retracção diferenciada em faces opostas, designadamente por uma delas
apresentar predominância de orientação tangencial relativamente à outra, Figura 12.6.

O desenvolvimento de empenos numa peça não representa assim qualquer perda de resis-
tência, embora seja igualmente um defeito a ter em conta na classificação da madeira,
por dificultar a sua utilização.

1 2 . 3 . 3 T e o r d e á g u a d e e q u i l í br i o
O teor de água da madeira, H, num dado momento, é definido pela seguinte expressão [8]:

massa húmida − massa seca


H(%) = · 100 (14.1)
massa seca

sendo o massa seca obtido por secagem a 103 ± 2 °C, até atingir massa constante [10].

A madeira é um material higroscópico, variando o seu teor de água consoante a humi-


dade relativa e a temperatura do ar ambiente. Os fenómenos de absorção e dessorção
de água verificam-se continuamente, atingindo-se o equilíbrio higroscópico quando estes
fenómenos registarem a mesma taxa. Neste ponto, a madeira possui um teor de água
dito de equilíbrio com as condições ambientes.

A Figura 12.7 apresenta curvas de equilíbrio higrométrico da madeira, obtidas experi-


mentalmente para o processo de secagem de pinho, mas genericamente aplicáveis a outras
espécies. Permitem prever o teor de água de equilíbrio médio e o correspondente às con-
dições extremas de aplicação (Verão/Inverno, ou na construção/em funcionamento).

Pela análise desta figura se depreenderá também que a secagem da madeira ao ar difi-
cilmente poderá conduzir a um teor de água da madeira inferior a 14–16%. Além destes
valores poderem ser excessivos para determinados fins ou processos de transformação, a
secagem natural, em pilhas de secagem, exige tempo e espaço de armazenamento.

Em contrapartida, a secagem industrial da madeira, em estufas de secagem, permite


atingir valores tão baixos quanto desejável, de um modo muito mais rápido. Os pro-
gramas de secagem a utilizar (temperatura/humidade/tempo) em cada caso, devem ser
ajustados, não só ao resultado final pretendido, mas também à espécie em causa, à quan-
tidade, dimensões e características da madeira a secar. Este aspecto é fundamental, já
que uma secagem inadequada poderá resultar na completa depreciação da madeira, em
virtude do desenvolvimento de fendas e outros defeitos graves.
642 Higroscopicidade e teor de água

Curvas de equilíbrio hidrotérmico da madeira


100
30%

Humidade relativa do ar (%)


28%
26% 24%
90 22%
20%
19% 18%
80 17% 16%
15% 14%
70 13%
12%
11%
60
10%

50 9%
8%
40
7%
6%
30
5%
20 4%
3%
10
2%

0 10 20 30 40 50 60 70 80
Temperatura (°C)

Figura 12.7: Curvas de equilíbrio higrométrico.

No entanto, certas madeiras poderão requerer programas de secagem especialmente len-


tos e cuidados, o que naturalmente encarecerá o processo. Pode ser preferível nestes
casos optar por uma secagem parcial ao ar, seguida de um período mais curto de seca-
gem em estufa.

1 2 . 3 . 4 C u i d a d o s a t e r n a a p l i c a ç ã o d a m a d e i r a
De forma a minimizar as variações dimensionais da madeira após a elaboração de com-
ponentes ou a sua aplicação em obra, é essencial que a madeira se apresente o mais pró-
ximo possível do teor de água de equilíbrio com as condições do local.

A aplicação de madeira excessivamente líquida poderá ser tão inconveniente como a apli-
cação de madeira excessivamente seca, constituindo ambos deficiências de aplicação cor-
Resistência mecânica da madeira 643

rentes em pavimentos. Se no primeiro caso se assistirá à abertura de juntas, formação


de fendas e empenos, com eventual arrancamento, no segundo sobrevirá o inchamento
da madeira, eventualmente superior à capacidade de acomodação das folgas e juntas de
montagem existentes, introduzindo tensões inaceitáveis, por exemplo em rebocos e roda-
pés, e provocando normalmente o descolamento generalizado do pavimento.

Pela mesma razão, devem ser evitadas situações de aplicação prematura da madeira
em obra, enquanto as betonilhas, argamassas e rebocos se encontram insuficientemente
secos, o que poderá contribuir para a humidificação da madeira, ainda que apenas tem-
porária, mas com as consequências atrás descritas.

Devido ao efeito que o teor de água tem na resistência da madeira, importa ainda garan-
tir que a entrada em funcionamento de uma estrutura não se faz com um teor de água
muito superior ao que foi considerado no dimensionamento. Também a durabilidade da
madeira pode ser comprometida se o seu teor de água à data de aplicação em obra for
excessivo (acima de 20–22%) sem que isso tenha sido tomado em consideração. A resis-
tência e a durabilidade serão adiante desenvolvidas.

1 2 . 3 . 5 E s p e c i f i c a ç ã o e v e r i f i c a ç ã o d o t e o r d e á g u a
A especificação do teor de água da madeira em cadernos de encargos deve ser feita de
forma objectiva, indicando um intervalo razoável de variação ou um valor médio e a res-
pectiva tolerância (por exemplo: 14 a 16%, ou ainda 12 ± 2%).

Face à importância deste factor, há que prever medidas de verificação do teor de água da
madeira em obra. Naturalmente que a recolha de amostras para secagem laboratorial de
acordo com a NP 614 [10] serve este propósito, e é com efeito o único método rigoroso,
mas existem igualmente diversos equipamentos portáteis para avaliação expedita do teor
de água (humidímetros para madeira, de contacto ou «de agulhas») que permitem o con-
trolo imediato do material, com o mínimo de perturbação [8].

12.4 Resistência mecânica da madeira

12.4.1 Factores que influenciam a resistência da madeira


A resistência da madeira é, em primeiro lugar, função da espécie florestal e da qualidade
das peças, avaliada de forma objectiva pelo tipo e dimensão máxima dos defeitos presen-
tes. Estes dois factores determinam os valores característicos de resistência da madeira
relativamente aos diversos esforços.
644 Resistência mecânica da madeira

Além disso, a resistência de uma estrutura de madeira é também afectada pelo seu teor
de água e pelo tempo de actuação das acções (ou história de carga). A resistência mecâ-
nica de uma madeira é inversamente proporcional ao seu teor de água em cada momento,
para valores abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF), Figura 12.8(a), tratando-
‑se de um fenómeno reversível. Este aspecto deve ser tido em conta, quer na estimativa

1100 1100
Tensão de rotura de madeira limpa (kg/cm–2)

Tensões de rotura (kg cm–2)


1000 1000
Pinho Bravo
Influência do teor de àgua
700 900 nas tensões de rotura
A — Curva média.
em compressão axial
(1000 Peças)
B — Curva correspondente às peças com
100 Peças

800
800 resistência mínima da madeira corrente.

C — Curva que se admite corresponder às 700


700 peças com resistência mínima da madeira
200 Peças

seleccionada.
600
600
A
500
500
100 Peças

400
C
1 minuto

400

27 anos
1 hora

1 ano
1 dia
300
110
300
Percentagem de Resistência
200 Peças

100 200
100 Peças
100 Peças

B
100 Peças

100 Peças

90
200
80 100
70
100 60
0 20 40 60 80 100 120 140 160
50
Teor de água (%)
0 40
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100 1 000 10 000
Teor de água (%) Duração (dias)

Figura 12.8: (a) Relação entre o teor de água e a resistência; (b) Relação entre o tempo de actuação das cargas e a resistência.
Resistência mecânica da madeira 645

da resistência para as condições de serviço da estrutura, quer na avaliação da segurança


durante situações transitórias como sejam a fase de montagem em que a madeira poderá
eventualmente ficar exposta à chuva [11].

O tempo de actuação das cargas reduz a resistência da madeira, de acordo com a


Figura 12.8(b), o que significa que a aplicação de tensões relativamente elevadas, embora
abaixo da tensão de rotura, poderá conduzir à ruína da estrutura ao fim de um perí-
odo mais ou menos longo. Por esta razão, estruturas temporárias poderão ser dimen-
sionadas assumindo resistências de cálculo mais elevadas do que no caso de estruturas
permanentes.

De acordo com o Eurocódigo 5 [12], o teor de água da madeira e o tempo de actuação


das cargas na estrutura são tidos em conta através de um factor de correcção único, kmod,
permitindo obter os valores de cálculo das tensões resistentes a partir dos corresponden-
tes valores característicos.

12.4.2 Classificação mecânica e classificação visual


A classificação da madeira permite obter lotes de material com menor variabilidade,
podendo as classes de qualidade ser estabelecidas com base em critérios de resistência
mecânica ou estéticos. Em qualquer dos casos, cada classe de qualidade é definida por
um conjunto de valores máximos admitidos para os vários tipos de defeitos, avaliados
visualmente.

A classificação visual da madeira para fins estruturais é uma prática corrente na maio-
ria dos países desenvolvidos, em particular na Europa e na América do Norte, em alguns
casos com mais de meio século de existência. As normas de classificação visual apli-
cadas para o efeito variam de país para país, muitas vezes baseadas na prática tradi-
cional e adaptadas às particularidades das espécies nacionais. O Comité Europeu de
Normalização — CEN, responsável pela elaboração de normas europeias, não conseguiu
obter consenso na elaboração de uma norma única para classificação de madeira para
estruturas, pelo que cada país poderá continuar a utilizar as suas próprias normas sobre
esta matéria.

Em Portugal, a NP 4305 [6] define duas classes de qualidade para o pinho bravo (Pinus
pinaster, Ait), designadas por E (estruturas) e EE (especial para estruturas), mediante
a imposição de limites para os seguintes defeitos ou características: nós (KAR), taxa
de crescimento, inclinação do fio, fendas, bolsas de resina ou casca inclusa, presença de
medula, descaio e empenos.
646 Resistência mecânica da madeira

Os valores característicos de resistência mecânica para estas classes de qualidade foram


entretanto obtidos mediante um grande conjunto de ensaios sobre peças em dimensão
estrutural [7].

É também possível seleccionar lotes de madeira para estruturas mediante a utilização de


equipamento de classificação mecânica, no qual cada tábua é sujeita a ensaios não des-
trutivos de flexão sobre troços relativamente curtos, de forma quase contínua. A resis-
tência da peça é automaticamente estimada a partir de correlações bem estabelecidas,
para cada espécie florestal e dimensão, entre a tensão de rotura em flexão e o módulo
de elasticidade. A classificação mecânica de madeira é corrente em vários países, muitas
vezes intercalada em linhas de produção industrial de elementos estruturais.

1 2 . 4 . 3 C l a s s e s d e q u a l i d a d e e c l a s s e s d e r e s i s t ê n c i a
O dimensionamento de estruturas pode ser feito tendo em vista a utilização de madeira
de determinada espécie, origem e classe de qualidade, para a qual são conhecidos os valo-
res característicos de resistência. Este procedimento implica no entanto a escolha prévia
da madeira a empregar, podendo ser restritivo no caso de a oferta real do mercado con-
duzir mais tarde à preferência por outras madeiras.

Para obviar a esta limitação, a norma europeia EN 338 [13] estabelece dois conjuntos de
classes de resistência para madeira (um para resinosas e choupo, outro para Folhosas),
sendo cada classe de resistência definida por um conjunto de valores característicos de
resistência, módulo de elasticidade e massa volúmica. O dimensionamento pode conse-
quentemente ser feito para uma determinada classe de resistência de madeira, sem ser
necessário à partida identificar a espécie a utilizar.

A correspondência entre as classes de resistência estabelecidas na EN 338 e as diversas


combinações de espécie/origem/classe de qualidade de madeira é estabelecida na EN 1912
[14], que indica as diversas opções que satisfazem cada uma das classes de resistência.

1 2 . 4 . 4 Va l o r e s c a r a c t e r í s t i c o s d e r e s i s t ê n c i a
e va l o r e s d e c á l c u l o
De acordo com o Eurocódigo 5, os valores de cálculo das tensões resistentes da madeira
(fd ) a considerar para efeitos de verificação da segurança estrutural são obtidos, a partir
dos valores característicos (fk), pela seguinte expressão:

fk
fd = · kmod (14.2)
γm
degradação da madeira por agentes físicos e químicos 647

sendo:
γm — coeficiente parcial de segurança para a madeira, que é 1,3 para a verificação da
segurança aos estados-limite últimos, nas combinações fundamentais.
kmod — factor de correcção que tem em conta a classe de serviço de utilização (teor de
água da madeira) e a classe de actuação das acções (duração da acção de mais curta
duração da combinação para a qual se está a verificar a segurança da estrutura).

1 2 . 5 D e g r a d a ç ã o d a m a d e i r a p o r a g e n t e s
físicos e químicos

A madeira é susceptível de deterioração, sobretudo devido a agentes biológicos, designa-


damente fungos e insectos, devido à acção do fogo ou a acções mecânicas, como o des-
gaste, mas também, em menor escala, pelos agentes atmosféricos ou determinadas acções
químicas. A madeira é tida como um material bastante resistente a uma ampla gama
de ambientes químicos. Este comportamento torna-a recomendável para situações ou
ambientes agressivos, tais como piscinas ou estruturas junto ao mar, sem requerer cui-
dados de manutenção especiais.

1 2 . 5 . 1 A g e n t e s at m o s f é r i c o s
Relativamente aos agentes atmosféricos, a luz solar, em particular a radiação na gama
ultra-violeta, provoca a decomposição química da lenhina. Daí resulta inicialmente o
escurecimento da madeira (intensificando a sua cor característica) e subsequentemente
a progressiva mudança para uma tonalidade cinzenta que é associada frequentemente à
madeira «velha» (Figura 12.9).

Este processo pode naturalmente ser acelerado se, a uma exposição intensa ao sol, se
associar a incidência directa da chuva, que remove o material deteriorado expondo pro-
gressivamente a madeira. Em todo o caso, o tipo de degradação causado pelos agentes
atmosféricos é muito lento, pelo que afecta a madeira sobretudo do ponto de vista esté-
tico. A remoção dessa camada exterior, com 1 a 2 milímetros de profundidade, é normal-
mente suficiente para descobrir a cor característica da madeira subjacente, com todas as
suas propriedades originais.

A aplicação de produtos de revestimento, como tintas, vernizes ou velaturas, ao reflec-


tir ou absorver a radiação ultravioleta, bem como ter uma acção hidrofugante, poderá
retardar este efeito [15].
648 Degradação da madeira por agentes físicos e químicos

Figura 12.9: Madeira de pinho bravo mostrando a coloração característica de madeira


exposta aos agentes atmosféricos.

A exposição a grandes variações ambientais, com alternâncias drásticas entre secagem


e humidificação, pode provocar também o desenvolvimento de fendas e empenos, o que
constitui uma certa forma de deterioração, embora na maioria dos casos sem grandes
consequências a nível da resistência mecânica.

12.5.2 Fogo
Sob o ponto de vista da reacção ao fogo, a madeira apresenta um mau desempenho. É
um material combustível, alimentando a combustão e sendo consumido pelo fogo. Isso
não impede que algumas estruturas de madeira apresentem boa resistência ao fogo.

Numa situação de incêndio, a madeira começa por secar por acção da temperatura. A
carbonização da madeira inicia-se por volta dos 280–300 °C, a partir das faces expos-
tas ao fogo. O carvão que se forma permanece aderente ao elemento, e pelo facto de ser
um bom isolante térmico (superior à madeira, já de si um bom isolante), contribui para
retardar a subida de temperatura do material subjacente. Por esta razão, pode aconte-
cer que a temperatura na superfície exterior da madeira seja insuficiente para promover
a progressão da carbonização, deste modo levando à auto-extinção da combustão.

A parte do Eurocódigo 5 relativa ao dimensionamento face à acção do fogo [16] admite


uma taxa de carbonização constante ao longo do tempo, entre 0,5 mm e 0,8 mm por
Degradação da madeira por agentes biológicos 649

minuto (função do tipo e densidade da madeira), o que dá em média cerca de 1 cm de


avanço da frente carbonizada, a partir das faces expostas, em cada 15 minutos.

Isto justifica que a resistência ao fogo de uma estrutura de madeira dependa fortemente
da sua superfície específica. Estruturas com grandes secções transversais de madeira
maciça ou lamelada-colada apresentam elevada resistência ao fogo, enquanto elementos
com secção transversal diminuta apresentarão mau desempenho.

Pouco abaixo da superfície de avanço da carbonização, as propriedades da madeira não


carbonizada não sofreram alteração sensível, pelo que esta poderá continuar a desempe-
nhar as suas funções. Esta particularidade permite contabilizar de forma muito aproxi-
mada a resistência de uma estrutura de madeira durante e após uma situação de incên-
dio. Permite igualmente garantir uma dada resistência ao fogo para as estruturas de
madeira, mediante o sobredimensionamento das secções transversais dos elementos de
madeira, complementado com a protecção adequada dos ligadores.

Em situações em que esta abordagem não é possível, designadamente quando se pre-


tende melhorar o comportamento ao fogo de estruturas existentes, podem ser pondera-
das outras soluções, tais como a protecção passiva da madeira pelo revestimento com
materiais ou pela aposição de elementos com baixa reacção ao fogo, à base de gesso ou
de fibrocimento, ou a pintura da madeira com produtos adequados. As tintas ou verni-
zes para a protecção passiva contra o fogo são normalmente produtos intumescentes que
reagem sob a acção da temperatura, actuando como isolamento térmico da madeira, que
deste modo vê retardado o início da carbonização.

12.6 D e g r a daç ão da m a d e i r a p o r ag e n t e s b i o l ó g i c o s

A madeira é utilizada em situações muito diversas de exposição, principalmente no que


se refere a condições higrotérmicas ambientais, que influenciam o tipo e a velocidade de
degradação do material por agentes biológicos.

O teor de água da madeira está por isso na base das classes de risco de aplicação estabe-
lecidas na EN 335-2 [17]. O risco de ataque depende, não só dos agentes biológicos pre-
sentes, como da localização da peça de madeira na construção. Para além destes facto-
res, a conservação do material está também ligada à sua durabilidade natural, entendida
como a resistência natural da madeira ao ataque por organismos vivos (fungos, insectos
e xilófagos marinhos) e à sua impregnabilidade, na medida em que esta determina a via-
bilidade de lhe conferir protecção.
650 Degradação da madeira por agentes biológicos

Tabela 12.1: Classes de risco de aplicação de madeira maciça (adaptado de EN 335-2 [17]).

Exposição à
Agentes
Classe de Situações gerais Exemplos de humidade
biológicos
Risco de serviço aplicação Teor de água da
relevantes
madeira

Seca
1 Interior seco Pavimentos, lambris Carunchos
Máximo de 20%

Carunchos
Estruturas de Térmitas
Interior com risco de Ocasionalmente
2 cobertura, estruturas Fungos cromogéneos
humidificação > 20%
de paredes e bolores
Podridão castanha

3.1
Exterior, sem Caixilharia e portas Ocasionalmente
contacto com o solo exteriores > 20%
Carunchos
e protegido*
Térmitas
3 Fungos cromogéneos
Decks sem contacto
3.2 Podridão castanha
com o solo, pérgolas,
Exterior, sem Frequentemente Podridão branca
painéis de vedação,
contacto com o solo > 20%
soletos de madeira
e não protegido*
(shingles)

4.1
Exterior, junto Decks em contacto Predominantemente
de / em contacto com o solo ou junto ou permanentemente Carunchos
com o solo e / ou de piscinas > 20% Térmitas
água doce Fungos cromogéneos
4
Podridão castanha
4.2 Fundações em água Podridão branca
Exterior, enterrado doce, postes de Permanentemente Podridão mole
no solo (severo) vedação, postes de > 20%
e/ou água doce transmissão aérea

Xilófagos marinhos
Pontões, fundações Permanentemente (=CR4, na parte
5 Em água salgada
em água salgada > 20% dos elementos fora
de água)
* protegido: cuja concepção ou medidas construtivas previnem a sua exposição excessiva aos efeitos directos
das intempéries
Degradação da madeira por agentes biológicos 651

Figura 12.10: a) e b) Aspecto de degradação por fungos de podridão de um rodapé. Notar a presença de corpos frutíferos
(cogumelos).

Se a classe de risco for correctamente estimada (Tabela 12.1) e se a madeira for devi-
damente preparada e utilizada, sendo submetida a um tratamento preservador quando
necessário, a probabilidade de surgirem casos graves de degradação biológica, quer cau-
sada por fungos e térmitas subterrâneas, quer por carunchos, é muito reduzida.

12.6.1 Fungos
A madeira ainda em árvore, serrada ou depois de aplicada, e não obstante o grau de
resistência natural que possui à infecção por agentes lenhívoros, pode, em determinadas
circunstâncias, ser depreciada ou destruída pela acção de fungos (Figura 12.10).

É corrente distinguir os fungos que provocam manchas, geralmente azuladas, no borne


de madeira, daqueles que originam os diversos tipos de podridão. Entre estes últimos,
devem ainda considerar-se os chamados microfungos, que provocam a podridão mole
(fungos imperfeitos e alguns ascomicetas), enquanto os restantes provocam as podridões
mais frequentes, do tipo branca ou castanha (fungos basidiomicetas).

As infecções dos fungos da madeira, em geral, podem ocorrer facilmente, e o ataque ini-
cia-se logo que se estabeleçam as condições ecológicas requeridas para o seu desenvol-
vimento. Podem resultar da contaminação por peças já atacadas ou da germinação de
652 Degradação da madeira por agentes biológicos

esporos na madeira húmida, transportados pelo vento, nas ferramentas de corte, através
da picada de insectos, etc.

As condições de humidade e temperatura do ambiente em que a madeira é aplicada


desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de fungos. Uma humidade
baixa não permitirá a sua progressão, até mesmo nos casos em que uma situação aci-
dental de humidificação tornou possível a infecção. O ataque de fungos, com efeito, só se
processa quando o teor de água da madeira atinge valores superiores a 20%, isto é, valo-
res muito mais elevados do que os correspondentes à condição de «seca ao ar» atingida
pela madeira colocada em ambiente normal, e que são da ordem dos 15%.

Assim, os madeiramentos das construções não expostos aos agentes atmosféricos (viga-
mentos, soalhos, estruturas de cobertura, etc) não se encontram, normalmente, em situ-
ação de poderem vir a ser atacados por fungos, devido ao estado de secagem que atin-
giram, a menos que se verifique o contacto com outros elementos da construção que
recebam água por capilaridade. Já o mesmo se não verifica com os elementos situados ao
ar livre (varandas, janelas e portas exteriores), em que as condições são sempre favorá-
veis ao desenvolvimento dos fungos responsáveis pela podridão.

Para além da humidade, os fungos necessitam ainda, para realização dos seus proces-
sos fisiológicos, e durante a decomposição ou degradação do lenho, de valores convenien-
tes de temperatura e de oxigénio, bem como das substâncias alimentares existentes na
madeira. A influência destes factores no estabelecimento, progressão e intensidade do
ataque depende da espécie infectante, mas, de uma maneira geral, pode dizer-se que o
crescimento dos fungos só se realiza na madeira com teor de água acima de 22% e à tem-
peratura normal do ambiente, isto é, entre 10 e 30 °C, embora suportem valores extre-
mos abaixo e acima deste intervalo. A ausência de oxigénio por saturação completa da
madeira é factor limitante do desenvolvimento destes fungos, como também o é, a apli-
cação de temperaturas acima de 40–50 °C ou a secagem da madeira para valores inferio-
res a 20%.

1 2 . 6 . 2 T é r m i ta s s u b t e rr â n e a s
A degradação da madeira pela acção de insectos pode ser causada por diferentes espé-
cies, com modos de acção e indícios de actividade diferentes. De entre os insectos xiló-
fagos actuantes no nosso país, a acção das térmitas subterrâneas é aquela que apresenta
maiores dificuldades de diagnose, dada a escassez de sintomas externos de actividade. As
térmitas subterrâneas vivem em sociedade, organizada num sistema de castas (colónia),
desempenhando os elementos de cada casta um determinado papel no agregado (divisão
de funções): de reprodutor, de obreira ou de soldado.
Degradação da madeira por agentes biológicos 653

Figura 12.11: Aspecto laminado da madeira e presença de restos de canais de terra,


resultante da acção de térmitas subterrâneas

As térmitas subterrâneas da espécie Reticulitermes grassei (Clément) (ordem: Isoptera;


família: Rhinotermitidae) encontram-se largamente difundidas em Portugal [18] e, dado
que se alimentam fundamentalmente de celulose, ocorrem nas raízes e cepos de árvo-
res e arbustos ou em qualquer outro material lenhoso existente no solo, sempre que se
verifiquem condições favoráveis ao seu desenvolvimento, necessitando para tal de um
ambiente com elevada humidade.

Transita frequentemente do seu habitat natural para as construções [18], em cujas madei-
ras causa prejuízos importantes, desde que as condições em que este material é colocado
na obra conduzam a uma elevação anormal da sua humidade. Os estragos que o insecto
causa nas madeiras vulneráveis são da maior gravidade, não só pelo volume de mate-
rial lenhoso depredado mas também pelo facto de o ataque se processar no interior das
peças, progredindo as destruições sem que delas se tome conhecimento.

Todas as madeiras nacionais usadas na construção, em especial o pinho, são susceptíveis


ao ataque por R. grassei. Quanto às espécies florestais importadas, em particular as tro-
picais, o cerne apresenta, por vezes, resistência ao ataque por este insecto, pelo que não
são de recear infestações quando estas madeiras são colocadas em obra.

Perante uma peça destruída, a identificação deste agente xilófago faz-se pelo aspecto
laminado da madeira, resultante da destruição das camadas de Primavera sem que
tenham sido praticamente lesadas as camadas de Outono (Figura 12.11).
654 Degradação da madeira por agentes biológicos

Figura 12.12: Canais de terra sobre a madeira (a) e sobre uma parede de alvenaria (b).

Como sinais externos do ataque, que apenas se revelam num estado adiantado, são cons-
truídos canais de terra ao longo das paredes ou pendentes das vigas, através dos quais
as térmitas se deslocam ao abrigo da luz e cuja detecção é suficiente para a identificação
da infestação (Figura 12.12).

Podem ainda aparecer galerias e espaços abertos, sem serrim, mas com concreções ter-
rosas de aspecto característico, por vezes semelhantes a favos nas zonas de contacto da
madeira com as alvenarias ou no interior de tijolos. Podem também surgir, na época
adequada, asas ou mesmo reprodutores em dispersão, mas a observação de obreiras apre-
senta maiores dificuldades.

12.6.3 Insectos de madeira seca


No que respeita aos insectos de ciclo larvar completo, vulgarmente designados por carun-
chos, distinguem-se aqui o Hylotrupes bajulus L. (ordem: Coleoptera; família: Ceram-
bycidae), conhecido em Portugal pelo nome comum de caruncho-grande, com inúmeros
registos da presença deste insecto em construções, particularmente em madeiras estrutu-
rais, coberturas e pavimentos; o Anobium punctatum (De Geer) (ordem: Coleoptera; famí-
lia: Anobiidae) que se encontra associado a madeiras estruturais, coberturas, pavimen-
tos e, particularmente, a mobiliário; e o género Lyctus (Lyctus sp. — ordem: Coleoptera;
família: Lyctidae) exclusivamente em madeira de Folhosas ricas em amido.

Partilhando algumas características típicas de um ataque por caruncho mas de gravi-


dade muitas vezes superior, é possível encontrar em Portugal continental, e em par-
ticular nas ilhas da Madeira e em algumas ilhas dos Açores, espécies de térmitas de
madeiras secas (ordem: Isoptera; família: Kalotermitidae) com especial destaque para a
Cryptotermes brevis (Walker) [19].

Na Tabela 12.2 e na Figura 12.13 apresentam-se algumas características das infestações


em madeira seca por carunchos e por térmitas.
Degradação da madeira por agentes biológicos 655

Tabela 12.2: Insectos de madeira seca. Algumas características identificadoras do ataque.

Sintomas
Insecto Habitat
Orificios de saída Serrim Outros

Serrim granuloso que surge, quer Empolamento da superfície da


Ovais com junto dos orifícios de saída, quer madeira, particularmente quando
Cerambicidae Resinosas
6 a 10 mm a compactar as galerias formadas existe um revestimento contínuo
pelas larvas no interior da madeira como uma tinta

Muitas vezes associado a madeiras


Resinosas e Circulares com Montículos de serrim, formados
Anobidae mais velhas e já com ataques por
Folhosas 1 a 3 mm por pequenos grânulos elipsoidais
fungos de podridão

Serrim muito fino, semelhante


Folhosas ricas Circulares com
Lictidae a farinha, que forma pequenos
em amido 1 a 2 mm
montículos

Resinosas e Circulares com Partículas fecais de forma ovóide,


Kalotermitidae
Folhosas 1 a 3 mm normalmente de cor escura

Figura 12.13: Pormenor de viga de eucalipto infestada por térmitas de madeira seca, antes (a) e depois (b) da remoção da película
superficial não degradada.
656 C o n s e rva ç ã o e p r o t e c ç ã o d e m a d e i r a

1 2 . 7 C o n s e rva ç ã o e p r o t e c ç ã o d e m a d e i r a

A madeira é um material com uma longa tradição de aplicação na construção, mas pelas
suas características está sujeito ao risco de degradação por diversos agentes biológicos.

Ao colocar a madeira em serviço, o factor mais importante na sua conservação é a actu-


ação preventiva. Esta implica que se estimem correctamente os riscos a que vai estar
exposta, e a definição da espécie mais adequada, em termos de durabilidade natural,
para o fim em vista. Deve ainda ser adoptado um conjunto de medidas de protecção que
coloquem a madeira ao abrigo das infecções ou infestações previsíveis.

Essas medidas são essencialmente de dois tipos: (1) as que reduzem ou eliminam as pro-
babilidades de ataque, por colocarem a madeira em condições naturais que impedem a
instalação e o desenvolvimento dos agentes biológicos, particularmente importante no
caso de fungos de podridão ou térmitas, em que o teor de água da madeira é o factor
fundamental; (2) as que se opõem, pelo emprego de produtos químicos, a que se desen-
volva a infestação ou infecção prováveis, quer tratando a madeira e/ou as alvenarias e
solo circundante, quer actuando a um nível mais especifico para a espécie praga, como a
utilização de armadilhas para o controlo de térmitas subterrâneas.

A adopção de certas disposições construtivas e a manutenção adequada da construção


podem também ter um efeito decisivo na conservação das madeiras, pelo menos nas situ-
ações em que estas possam ficar sujeitas a humidificação, sobretudo em coberturas, pisos
térreos e junto de casas de banho e cozinhas. São aspectos críticos o adequado isola-
mento e a ventilação de caixas de ar, a recolha e drenagem das águas pluviais, a porme-
norização e realização de remates na fachada e cobertura, a execução cuidada e a manu-
tenção de redes de águas e esgotos.

Sendo tão importante a correcta aplicação do material, recomenda-se que a sua especi-
ficação seja feita com cuidado e sempre apoiada em documentos normativos existentes.

A madeira pode ser correctamente seleccionada para o ambiente final previsto, de acordo
com a sequência que a seguir se apresenta:
• Considerar o desempenho requerido para o elemento de madeira.
• Determinar a classe de risco para a situação na qual o elemento de madeira será
usado e para os agentes biológicos que o ameaçam [17].
• Avaliar se a durabilidade natural da madeira a utilizar é suficiente ou se é requerido
um tratamento preservador [20, 21 e 22].
P r o d u t o s d e r i va d o s d e m a d e i r a e s u a s a p l i c a ç õ e s 657

• Seleccionar, para o elemento, espécies de madeira mais duráveis, ou escolher uma outra
solução (concepção ou disposições construtivas) ou uma protecção por preservação.
• Se for requerido um tratamento preservador, escolher um tratamento adequado tendo
em conta os agentes biológicos contra os quais é necessária protecção [23, 24 e 25].

Quando não é possível prever, com suficiente segurança, a classe de risco de um elemento
em serviço, ou quando se estima que as diferentes zonas de um mesmo elemento estão em
situações de risco diferentes, as decisões devem ser tomadas com base na classe de risco
mais severa entre as classes aplicáveis.

Também relativamente a questões de segurança, deve ser tido em conta que, quando um
elemento de madeira é inacessível ou quando as consequências da sua rotura são parti-
cularmente perigosas, pode ser mais apropriado utilizar uma madeira de maior durabili-
dade ou um tratamento de nível superior àquele que habitualmente é recomendado para
a classe de risco correspondente a essa situação de aplicação.

Quando as situações de degradação ocorrem, torna-se necessária a reabilitação das cons-


truções, tendo em vista por um lado suster a progressão da degradação dos materiais ou
estruturas, e por outro repor ou melhorar o seu desempenho, ou seja, as suas caracterís-
ticas de durabilidade, de resistência e funcionalidade.

Em relação ao primeiro aspecto, poderá ser suficiente uma abordagem passiva, consis-
tindo na reparação das deficiências da construção que potenciaram a deterioração da
madeira, ou pelo contrário, poderão ser essenciais medidas especificamente dirigidas con-
tra o agente de deterioração (tratamentos curativos).

1 2 . 8 P r o d u t o s d e r i va d o s d e m a d e i r a e s u a s
aplicações

A utilização de madeira na construção envolve, além de elementos e produtos de madeira


maciça, um número crescente de materiais derivados de madeira [26]. Nestes se incluem:
as placas de derivados de madeira, designadamente contraplacados, aglomerados de
fibras e aglomerados de partículas em toda a sua variedade, destinadas a utilizações que
requerem grandes áreas e pequena espessura, e os materiais que podem ser entendidos
como madeira maciça reconstituída, com o mesmo tipo de utilização, na essência, que a
madeira maciça, tais como a madeira lamelada-colada (glulam) e o LVL (structural lami-
nated veneer lumber).
658 P r o d u t o s d e r i va d o s d e m a d e i r a e s u a s a p l i c a ç õ e s

As placas de derivados de madeira abrangem, assim, diversas famílias de produtos, com


fabrico, propriedades e utilizações distintas, nas quais as propriedades da madeira se
esbatem, em certa medida, face aos outros parâmetros de fabrico. São portanto objecto
de normas específicas, sendo de salientar: EN 312 (aglomerado de partículas) [27],
EN 622-1 (aglomerado de fibras) [28] e EN 636 (contraplacado) [29], que estabelecem
exigências mínimas e apoiam a selecção dos tipos de placas adequados à utilização pre-
tendida (estrutural ou não estrutural, em ambiente seco, húmido ou exterior), e ainda a
EN 12369-1,2,3 (valores característicos de resistência) [30, 31 e 32].

No que se refere à madeira lamelada-colada e ao LVL, estes materiais são por excelência
adequados ao fabrico de elementos estruturais de grande secção transversal e compri-
mento, o que vem sendo cada vez mais difícil de obter com madeira maciça face à cres-
cente pressão sobre as florestas, sendo em alguns casos mesmo impossível por limitações
naturais de crescimento das árvores.

Destes dois, a madeira lamelada-colada é sem dúvida o material mais conhecido. É


obtido por colagem, face a face, e pela emenda de topo (realizada por ligações de enta-
lhes múltiplos (finger joints)), de tábuas de madeira com cerca de 3 a 4 cm de espessura,
e permite obter elementos rectos ou curvos com qualquer comprimento e secção trans-
versal. São utilizadas colas sintéticas de grande resistência mecânica, boa resistência à
humidade, elevada durabilidade e bom comportamento ao fogo, já que resistem a tempe-
raturas próximas da de carbonização da madeira. A sua produção é tecnicamente muito
exigente, devendo ser feita mediante um cuidadoso controlo de qualidade, conforme dis-
posto na EN 14080 [33].

Todos os aspectos referidos em relação à madeira maciça se aplicam igualmente à


madeira lamelada-colada, nomeadamente a higroscopicidade e a durabilidade (sobre-
tudo função da espécie florestal utilizada), o comportamento ao fogo, e ainda a acção
da humidade e do tempo de actuação das cargas (o Eurocódigo 5 estabelece os mesmos
valores de kmod para madeira maciça ou lamelada-colada). Além das características da
madeira, são também fundamentais as características da cola, para a resistência mecâ-
nica e para a durabilidade das estruturas [34], havendo colas que apenas são aconselhá-
veis para ambiente interior seco, sem esquecer que a qualidade da colagem depende tam-
bém do método e do controlo de fabrico.

Embora os defeitos da madeira tenham o mesmo tipo de influência que na madeira


maciça, no caso de vigas lameladas coladas, a constituição do material resulta numa
maior homogeneização (dispersão dos nós), pelo que existem regras de classificação espe-
Referências 659

cíficas para esta madeira e um sistema de classes de resistência distinto, estabelecido na


EN 1194 [35].

No que se refere ao LVL, o seu método de fabrico permite apenas obter elementos rec-
tos, sendo corrente o seu emprego na alma de vigas I usadas em estruturas provisórias
ou definitivas, havendo igualmente numerosos exemplos da sua utilização em estruturas
reticuladas de edifícios de vários pisos ou formando coberturas geodésicas. O material é
constituído por folhas de madeira da ordem dos 2 mm de espessura sobrepostas e cola-
das entre si até obter a espessura total do elemento; a orientação da maioria das folhas
é a do eixo dos elementos estruturais a obter, com algumas folhas intercaladas com a
orientação perpendicular, para estabilização do conjunto. O LVL reflecte em parte as
propriedades físicas e a durabilidade da madeira utilizada no seu fabrico, apresentando
no entanto maior estabilidade dimensional, menor anisotropia e menor variabilidade do
que a madeira maciça, sendo abrangido pela EN 14374 [36].

RE F ERÊNC I AS

[1] Machado JS et al. 2009. Madeira como Material Estrutural, in Avaliação, Conservação e
Reforço de Estruturas de Madeira. Verlag Dashöfer, Lisboa. pp. 5–22.

[2] Forest Products Laboratory. 1999. Wood Handbook: Wood as an engineered material. Gen.
Tech. Rep. FPL–GTR–113. United States Department of Agriculture, Madison, WI, p. 463.

[3] Machado JS. 1996. Madeiras de Folhosas e Resinosas. Nomenclatura Comercial. ITES 11.
LNEC, Lisboa. p. 64.

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