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12.1 Introdução
Sendo a madeira um material natural, muito haveria a dizer acerca da sua produção, do
interesse da floresta em termos ambientais e do valor da madeira no âmbito da sustenta-
bilidade da construção. Também em termos históricos, a utilização da madeira, particu-
larmente em estruturas, é rica e diversificada e mereceria ampla reflexão. Não obstante,
dados os objectivos da presente publicação, entendeu-se cobrir neste capítulo sobretudo
os aspectos que mais directamente poderão ajudar engenheiros e arquitectos relativa-
632 O que é a madeira
mente à aplicação de madeira na construção. Mais do que dar uma perspectiva histórica
da utilização da madeira, a par de um conhecimento básico do material, que se considera
imprescindível, procurou-se aqui fornecer linhas orientadoras para a selecção da madeira
e sua aplicação na construção civil, enquadradas sempre que possível pelos documentos
normativos actualmente aplicáveis.
1 2 . 2 O q u e é a m a d e i r a
A madeira é um material compósito natural de origem biológica, formado por uma maté-
ria heterogénea e anisotrópica elaborada por um organismo vivo, que é a árvore.
Do ponto de vista químico, as paredes celulares são constituídas essencialmente por celu-
lose e hemiceluloses (cerca de 40 a 50 por cento da composição) embebidas numa matriz
amorfa de lenhina. Além destes, a madeira possui um conjunto de compostos orgânicos
cerne designados por extractivos, cuja remoção não afecta significativamente as propriedades
físicas e mecânicas do material [1, 2].
medula
O crescimento da árvore em diâmetro é devido à adição de novas células produzidas pelo
Figura 12.1: Secção transversal câmbio, o qual produz lenho para o interior, bem como casca e entrecasco para o exte-
de um tronco de Folhosa. rior, enquanto se afasta progressivamente da medula, Figura 12.1.
essa especialização muito maior no caso das Folhosas, dando origem a arranjos anató-
micos mais complexos e diversificados, do que no caso das Resinosas, mais ancestrais.
1 2 . 2 . 2 L e n h o d e P r i m av e r a e l e n h o d e O u t o n o
Na maioria das árvores das zonas temperadas, verifica-se um abrandamento ou mesmo
uma paragem da formação do lenho durante o Inverno e uma retoma no início da
Primavera. Esta variação implica, a nível microscópico, diferenças de calibre das células
e de espessura das respectivas paredes, que se reflectem, a nível macroscópico, em dife-
renças de tonalidade, originando uma alternância de anéis de crescimento escuros (anéis
de Outono) e claros (anéis de Primavera). Nestes casos, é possível estimar a idade de
uma árvore pelo número de anéis de crescimento anual, cada um dos quais corresponde
ao conjunto de um anel de Primavera e um anel de Outono.
12.2.4 Anisotropia
O processo de crescimento da árvore determina uma simetria axial e uma direcção pre-
dominante das células que constituem o lenho. Este arranjo resulta numa anisotropia
marcada, tanto nas propriedades mecânicas como nas propriedades físicas (retracção) da
madeira, pelo que estas são normalmente referidas aos diferentes planos da madeira ou
direcções indicadas na Figura 12.3.
1 2 . 2 . 5 Va r i a b i l i d a d e d a m a d e i r a
A grande diversidade de espécies florestais exploradas comercialmente implica o pri-
meiro factor de variabilidade da madeira. Esta variação entre espécies é particularmente
notória na família das Folhosas, que engloba desde madeiras claras, leves, pouco resis-
tentes e pouco duráveis como a balsa até madeiras escuras, densas, muito resistentes e
duráveis como o pau-santo.
Por esta razão, a especificação de uma dada madeira, além do nome comercial e da ori-
gem geográfica, deve sempre ser feita incluindo a designação botânica (nome em latim)
636 O que é a madeira
A influência dos nós na resistência mecânica da madeira deriva do facto deles correspon-
derem a material inserido numa peça, cujas fibras são aproximadamente perpendiculares
à direcção geral das fibras da peça. Dada a forte anisotropia da madeira, traduzida por
uma resistência à tracção na direcção perpendicular às fibras cerca de 30 vezes menor
O que é a madeira 637
E
h
4
Figura 12.4: Idealização dos nós no interior de uma peça e avaliação do KAR total
e do KAR marginal [7].
Fio inclinado — É uma anomalia traduzida pela existência de um ângulo entre a direc-
ção geral das fibras da madeira e o eixo longitudinal da peça. Pode resultar de anoma-
lias de crescimento, como o fio torcido ou a curvatura do tronco, ou da serragem oblí-
qua das peças. As suas consequências prendem-se uma vez mais com a anisotropia do
material, por nos afastarmos da situação ideal da aplicação dos esforços paralelamente
ao fio da madeira.
cos, com elevados gradientes de teor de água na secção transversal das peças, sendo um
defeito de laboração.
Taxa de crescimento — A taxa de crescimento é avaliada pela largura média dos anéis
de crescimento anuais. Não sendo um defeito, trata-se de um importante parâmetro de
avaliação das madeiras de Resinosas. O seu interesse deriva de reflectir, indirectamente,
a densidade da madeira, que por sua vez influencia directamente a resistência e o módulo
de elasticidade da madeira, mas que é mais difícil de estimar de modo expedito.
1 2 . 3 . 1 H u m i d a d e d a m a d e i r a e r e t r a c ç ã o
Imediatamente após o abate, qualquer madeira apresenta uma grande quantidade de
água. Essa água encontra-se sob várias formas: água de constituição, água de impregna-
ção (ou embebição) e água livre.
A água de constituição está intimamente ligada à substância lenhosa por poderosas for-
ças de sorção química, e não pode ser removida sem que ocorra a decomposição química
da madeira.
Longitudinal
Radial
Tangencial
Long. PSF
Tang.
Rad.
10
Após o abate, a madeira perde mais ou menos rapidamente a sua água livre. Este pro-
cesso verifica-se até que toda a água livre tenha saído, mantendo ainda as paredes celu-
lares toda a sua água de impregnação — situação correspondente ao ponto de saturação
das fibras (PSF), o qual se verifica para cerca de 28 a 30% de teor de água da madeira,
na maioria das espécies. Desde o estado verde até este valor crítico, a madeira não sofre
alterações apreciáveis de retracção ou de resistência mecânica.
Mais lentamente depois, abaixo do PSF, a madeira vai perdendo a sua água de impreg-
nação, o que é acompanhado por retracções mais ou menos importantes, sobretudo nas
direcções tangencial e radial, conforme se representa esquematicamente na Figura 12.5.
1 2 . 3 . 2 E s ta b i l i d a d e d i m e n s i o n a l e f o r m a ç ã o d e e m p e n o s
Abaixo do PSF, a retracção é aproximadamente linear com a redução do teor de água
da madeira, tratando-se de um fenómeno reversível já que o aumento do teor de água
640 Higroscopicidade e teor de água
Meia cana
Arco
Hélice
Figura 12.6: Vários tipos de empeno (desenho de Tomás Mateus, cc. 1960).
Podem ser determinados, para cada madeira, os coeficientes unitários de retracção nas
direcções tangencial, radial e axial, correspondentes à variação de dimensão (retracção
ou inchamento) nessa direcção, em percentagem, que ocorre para cada variação de teor
de água da madeira de 1% no intervalo entre 0% e o PSF, sendo habitual apresentá-los
em % / %.
Esta classificação deriva do facto de madeiras com factor de anisotropia mais elevado
terem geralmente maior propensão para empenar. O desenvolvimento de empenos
Higroscopicidade e teor de água 641
resulta de uma retracção diferenciada em faces opostas, designadamente por uma delas
apresentar predominância de orientação tangencial relativamente à outra, Figura 12.6.
O desenvolvimento de empenos numa peça não representa assim qualquer perda de resis-
tência, embora seja igualmente um defeito a ter em conta na classificação da madeira,
por dificultar a sua utilização.
1 2 . 3 . 3 T e o r d e á g u a d e e q u i l í br i o
O teor de água da madeira, H, num dado momento, é definido pela seguinte expressão [8]:
sendo o massa seca obtido por secagem a 103 ± 2 °C, até atingir massa constante [10].
Pela análise desta figura se depreenderá também que a secagem da madeira ao ar difi-
cilmente poderá conduzir a um teor de água da madeira inferior a 14–16%. Além destes
valores poderem ser excessivos para determinados fins ou processos de transformação, a
secagem natural, em pilhas de secagem, exige tempo e espaço de armazenamento.
50 9%
8%
40
7%
6%
30
5%
20 4%
3%
10
2%
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Temperatura (°C)
1 2 . 3 . 4 C u i d a d o s a t e r n a a p l i c a ç ã o d a m a d e i r a
De forma a minimizar as variações dimensionais da madeira após a elaboração de com-
ponentes ou a sua aplicação em obra, é essencial que a madeira se apresente o mais pró-
ximo possível do teor de água de equilíbrio com as condições do local.
A aplicação de madeira excessivamente líquida poderá ser tão inconveniente como a apli-
cação de madeira excessivamente seca, constituindo ambos deficiências de aplicação cor-
Resistência mecânica da madeira 643
Pela mesma razão, devem ser evitadas situações de aplicação prematura da madeira
em obra, enquanto as betonilhas, argamassas e rebocos se encontram insuficientemente
secos, o que poderá contribuir para a humidificação da madeira, ainda que apenas tem-
porária, mas com as consequências atrás descritas.
Devido ao efeito que o teor de água tem na resistência da madeira, importa ainda garan-
tir que a entrada em funcionamento de uma estrutura não se faz com um teor de água
muito superior ao que foi considerado no dimensionamento. Também a durabilidade da
madeira pode ser comprometida se o seu teor de água à data de aplicação em obra for
excessivo (acima de 20–22%) sem que isso tenha sido tomado em consideração. A resis-
tência e a durabilidade serão adiante desenvolvidas.
1 2 . 3 . 5 E s p e c i f i c a ç ã o e v e r i f i c a ç ã o d o t e o r d e á g u a
A especificação do teor de água da madeira em cadernos de encargos deve ser feita de
forma objectiva, indicando um intervalo razoável de variação ou um valor médio e a res-
pectiva tolerância (por exemplo: 14 a 16%, ou ainda 12 ± 2%).
Face à importância deste factor, há que prever medidas de verificação do teor de água da
madeira em obra. Naturalmente que a recolha de amostras para secagem laboratorial de
acordo com a NP 614 [10] serve este propósito, e é com efeito o único método rigoroso,
mas existem igualmente diversos equipamentos portáteis para avaliação expedita do teor
de água (humidímetros para madeira, de contacto ou «de agulhas») que permitem o con-
trolo imediato do material, com o mínimo de perturbação [8].
Além disso, a resistência de uma estrutura de madeira é também afectada pelo seu teor
de água e pelo tempo de actuação das acções (ou história de carga). A resistência mecâ-
nica de uma madeira é inversamente proporcional ao seu teor de água em cada momento,
para valores abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF), Figura 12.8(a), tratando-
‑se de um fenómeno reversível. Este aspecto deve ser tido em conta, quer na estimativa
1100 1100
Tensão de rotura de madeira limpa (kg/cm–2)
800
800 resistência mínima da madeira corrente.
seleccionada.
600
600
A
500
500
100 Peças
400
C
1 minuto
400
27 anos
1 hora
1 ano
1 dia
300
110
300
Percentagem de Resistência
200 Peças
100 200
100 Peças
100 Peças
B
100 Peças
100 Peças
90
200
80 100
70
100 60
0 20 40 60 80 100 120 140 160
50
Teor de água (%)
0 40
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100 1 000 10 000
Teor de água (%) Duração (dias)
Figura 12.8: (a) Relação entre o teor de água e a resistência; (b) Relação entre o tempo de actuação das cargas e a resistência.
Resistência mecânica da madeira 645
A classificação visual da madeira para fins estruturais é uma prática corrente na maio-
ria dos países desenvolvidos, em particular na Europa e na América do Norte, em alguns
casos com mais de meio século de existência. As normas de classificação visual apli-
cadas para o efeito variam de país para país, muitas vezes baseadas na prática tradi-
cional e adaptadas às particularidades das espécies nacionais. O Comité Europeu de
Normalização — CEN, responsável pela elaboração de normas europeias, não conseguiu
obter consenso na elaboração de uma norma única para classificação de madeira para
estruturas, pelo que cada país poderá continuar a utilizar as suas próprias normas sobre
esta matéria.
Em Portugal, a NP 4305 [6] define duas classes de qualidade para o pinho bravo (Pinus
pinaster, Ait), designadas por E (estruturas) e EE (especial para estruturas), mediante
a imposição de limites para os seguintes defeitos ou características: nós (KAR), taxa
de crescimento, inclinação do fio, fendas, bolsas de resina ou casca inclusa, presença de
medula, descaio e empenos.
646 Resistência mecânica da madeira
1 2 . 4 . 3 C l a s s e s d e q u a l i d a d e e c l a s s e s d e r e s i s t ê n c i a
O dimensionamento de estruturas pode ser feito tendo em vista a utilização de madeira
de determinada espécie, origem e classe de qualidade, para a qual são conhecidos os valo-
res característicos de resistência. Este procedimento implica no entanto a escolha prévia
da madeira a empregar, podendo ser restritivo no caso de a oferta real do mercado con-
duzir mais tarde à preferência por outras madeiras.
Para obviar a esta limitação, a norma europeia EN 338 [13] estabelece dois conjuntos de
classes de resistência para madeira (um para resinosas e choupo, outro para Folhosas),
sendo cada classe de resistência definida por um conjunto de valores característicos de
resistência, módulo de elasticidade e massa volúmica. O dimensionamento pode conse-
quentemente ser feito para uma determinada classe de resistência de madeira, sem ser
necessário à partida identificar a espécie a utilizar.
1 2 . 4 . 4 Va l o r e s c a r a c t e r í s t i c o s d e r e s i s t ê n c i a
e va l o r e s d e c á l c u l o
De acordo com o Eurocódigo 5, os valores de cálculo das tensões resistentes da madeira
(fd ) a considerar para efeitos de verificação da segurança estrutural são obtidos, a partir
dos valores característicos (fk), pela seguinte expressão:
fk
fd = · kmod (14.2)
γm
degradação da madeira por agentes físicos e químicos 647
sendo:
γm — coeficiente parcial de segurança para a madeira, que é 1,3 para a verificação da
segurança aos estados-limite últimos, nas combinações fundamentais.
kmod — factor de correcção que tem em conta a classe de serviço de utilização (teor de
água da madeira) e a classe de actuação das acções (duração da acção de mais curta
duração da combinação para a qual se está a verificar a segurança da estrutura).
1 2 . 5 D e g r a d a ç ã o d a m a d e i r a p o r a g e n t e s
físicos e químicos
1 2 . 5 . 1 A g e n t e s at m o s f é r i c o s
Relativamente aos agentes atmosféricos, a luz solar, em particular a radiação na gama
ultra-violeta, provoca a decomposição química da lenhina. Daí resulta inicialmente o
escurecimento da madeira (intensificando a sua cor característica) e subsequentemente
a progressiva mudança para uma tonalidade cinzenta que é associada frequentemente à
madeira «velha» (Figura 12.9).
Este processo pode naturalmente ser acelerado se, a uma exposição intensa ao sol, se
associar a incidência directa da chuva, que remove o material deteriorado expondo pro-
gressivamente a madeira. Em todo o caso, o tipo de degradação causado pelos agentes
atmosféricos é muito lento, pelo que afecta a madeira sobretudo do ponto de vista esté-
tico. A remoção dessa camada exterior, com 1 a 2 milímetros de profundidade, é normal-
mente suficiente para descobrir a cor característica da madeira subjacente, com todas as
suas propriedades originais.
12.5.2 Fogo
Sob o ponto de vista da reacção ao fogo, a madeira apresenta um mau desempenho. É
um material combustível, alimentando a combustão e sendo consumido pelo fogo. Isso
não impede que algumas estruturas de madeira apresentem boa resistência ao fogo.
Numa situação de incêndio, a madeira começa por secar por acção da temperatura. A
carbonização da madeira inicia-se por volta dos 280–300 °C, a partir das faces expos-
tas ao fogo. O carvão que se forma permanece aderente ao elemento, e pelo facto de ser
um bom isolante térmico (superior à madeira, já de si um bom isolante), contribui para
retardar a subida de temperatura do material subjacente. Por esta razão, pode aconte-
cer que a temperatura na superfície exterior da madeira seja insuficiente para promover
a progressão da carbonização, deste modo levando à auto-extinção da combustão.
Isto justifica que a resistência ao fogo de uma estrutura de madeira dependa fortemente
da sua superfície específica. Estruturas com grandes secções transversais de madeira
maciça ou lamelada-colada apresentam elevada resistência ao fogo, enquanto elementos
com secção transversal diminuta apresentarão mau desempenho.
12.6 D e g r a daç ão da m a d e i r a p o r ag e n t e s b i o l ó g i c o s
O teor de água da madeira está por isso na base das classes de risco de aplicação estabe-
lecidas na EN 335-2 [17]. O risco de ataque depende, não só dos agentes biológicos pre-
sentes, como da localização da peça de madeira na construção. Para além destes facto-
res, a conservação do material está também ligada à sua durabilidade natural, entendida
como a resistência natural da madeira ao ataque por organismos vivos (fungos, insectos
e xilófagos marinhos) e à sua impregnabilidade, na medida em que esta determina a via-
bilidade de lhe conferir protecção.
650 Degradação da madeira por agentes biológicos
Tabela 12.1: Classes de risco de aplicação de madeira maciça (adaptado de EN 335-2 [17]).
Exposição à
Agentes
Classe de Situações gerais Exemplos de humidade
biológicos
Risco de serviço aplicação Teor de água da
relevantes
madeira
Seca
1 Interior seco Pavimentos, lambris Carunchos
Máximo de 20%
Carunchos
Estruturas de Térmitas
Interior com risco de Ocasionalmente
2 cobertura, estruturas Fungos cromogéneos
humidificação > 20%
de paredes e bolores
Podridão castanha
3.1
Exterior, sem Caixilharia e portas Ocasionalmente
contacto com o solo exteriores > 20%
Carunchos
e protegido*
Térmitas
3 Fungos cromogéneos
Decks sem contacto
3.2 Podridão castanha
com o solo, pérgolas,
Exterior, sem Frequentemente Podridão branca
painéis de vedação,
contacto com o solo > 20%
soletos de madeira
e não protegido*
(shingles)
4.1
Exterior, junto Decks em contacto Predominantemente
de / em contacto com o solo ou junto ou permanentemente Carunchos
com o solo e / ou de piscinas > 20% Térmitas
água doce Fungos cromogéneos
4
Podridão castanha
4.2 Fundações em água Podridão branca
Exterior, enterrado doce, postes de Permanentemente Podridão mole
no solo (severo) vedação, postes de > 20%
e/ou água doce transmissão aérea
Xilófagos marinhos
Pontões, fundações Permanentemente (=CR4, na parte
5 Em água salgada
em água salgada > 20% dos elementos fora
de água)
* protegido: cuja concepção ou medidas construtivas previnem a sua exposição excessiva aos efeitos directos
das intempéries
Degradação da madeira por agentes biológicos 651
Figura 12.10: a) e b) Aspecto de degradação por fungos de podridão de um rodapé. Notar a presença de corpos frutíferos
(cogumelos).
Se a classe de risco for correctamente estimada (Tabela 12.1) e se a madeira for devi-
damente preparada e utilizada, sendo submetida a um tratamento preservador quando
necessário, a probabilidade de surgirem casos graves de degradação biológica, quer cau-
sada por fungos e térmitas subterrâneas, quer por carunchos, é muito reduzida.
12.6.1 Fungos
A madeira ainda em árvore, serrada ou depois de aplicada, e não obstante o grau de
resistência natural que possui à infecção por agentes lenhívoros, pode, em determinadas
circunstâncias, ser depreciada ou destruída pela acção de fungos (Figura 12.10).
As infecções dos fungos da madeira, em geral, podem ocorrer facilmente, e o ataque ini-
cia-se logo que se estabeleçam as condições ecológicas requeridas para o seu desenvol-
vimento. Podem resultar da contaminação por peças já atacadas ou da germinação de
652 Degradação da madeira por agentes biológicos
esporos na madeira húmida, transportados pelo vento, nas ferramentas de corte, através
da picada de insectos, etc.
Assim, os madeiramentos das construções não expostos aos agentes atmosféricos (viga-
mentos, soalhos, estruturas de cobertura, etc) não se encontram, normalmente, em situ-
ação de poderem vir a ser atacados por fungos, devido ao estado de secagem que atin-
giram, a menos que se verifique o contacto com outros elementos da construção que
recebam água por capilaridade. Já o mesmo se não verifica com os elementos situados ao
ar livre (varandas, janelas e portas exteriores), em que as condições são sempre favorá-
veis ao desenvolvimento dos fungos responsáveis pela podridão.
Para além da humidade, os fungos necessitam ainda, para realização dos seus proces-
sos fisiológicos, e durante a decomposição ou degradação do lenho, de valores convenien-
tes de temperatura e de oxigénio, bem como das substâncias alimentares existentes na
madeira. A influência destes factores no estabelecimento, progressão e intensidade do
ataque depende da espécie infectante, mas, de uma maneira geral, pode dizer-se que o
crescimento dos fungos só se realiza na madeira com teor de água acima de 22% e à tem-
peratura normal do ambiente, isto é, entre 10 e 30 °C, embora suportem valores extre-
mos abaixo e acima deste intervalo. A ausência de oxigénio por saturação completa da
madeira é factor limitante do desenvolvimento destes fungos, como também o é, a apli-
cação de temperaturas acima de 40–50 °C ou a secagem da madeira para valores inferio-
res a 20%.
1 2 . 6 . 2 T é r m i ta s s u b t e rr â n e a s
A degradação da madeira pela acção de insectos pode ser causada por diferentes espé-
cies, com modos de acção e indícios de actividade diferentes. De entre os insectos xiló-
fagos actuantes no nosso país, a acção das térmitas subterrâneas é aquela que apresenta
maiores dificuldades de diagnose, dada a escassez de sintomas externos de actividade. As
térmitas subterrâneas vivem em sociedade, organizada num sistema de castas (colónia),
desempenhando os elementos de cada casta um determinado papel no agregado (divisão
de funções): de reprodutor, de obreira ou de soldado.
Degradação da madeira por agentes biológicos 653
Transita frequentemente do seu habitat natural para as construções [18], em cujas madei-
ras causa prejuízos importantes, desde que as condições em que este material é colocado
na obra conduzam a uma elevação anormal da sua humidade. Os estragos que o insecto
causa nas madeiras vulneráveis são da maior gravidade, não só pelo volume de mate-
rial lenhoso depredado mas também pelo facto de o ataque se processar no interior das
peças, progredindo as destruições sem que delas se tome conhecimento.
Perante uma peça destruída, a identificação deste agente xilófago faz-se pelo aspecto
laminado da madeira, resultante da destruição das camadas de Primavera sem que
tenham sido praticamente lesadas as camadas de Outono (Figura 12.11).
654 Degradação da madeira por agentes biológicos
Figura 12.12: Canais de terra sobre a madeira (a) e sobre uma parede de alvenaria (b).
Como sinais externos do ataque, que apenas se revelam num estado adiantado, são cons-
truídos canais de terra ao longo das paredes ou pendentes das vigas, através dos quais
as térmitas se deslocam ao abrigo da luz e cuja detecção é suficiente para a identificação
da infestação (Figura 12.12).
Podem ainda aparecer galerias e espaços abertos, sem serrim, mas com concreções ter-
rosas de aspecto característico, por vezes semelhantes a favos nas zonas de contacto da
madeira com as alvenarias ou no interior de tijolos. Podem também surgir, na época
adequada, asas ou mesmo reprodutores em dispersão, mas a observação de obreiras apre-
senta maiores dificuldades.
Sintomas
Insecto Habitat
Orificios de saída Serrim Outros
Figura 12.13: Pormenor de viga de eucalipto infestada por térmitas de madeira seca, antes (a) e depois (b) da remoção da película
superficial não degradada.
656 C o n s e rva ç ã o e p r o t e c ç ã o d e m a d e i r a
1 2 . 7 C o n s e rva ç ã o e p r o t e c ç ã o d e m a d e i r a
A madeira é um material com uma longa tradição de aplicação na construção, mas pelas
suas características está sujeito ao risco de degradação por diversos agentes biológicos.
Essas medidas são essencialmente de dois tipos: (1) as que reduzem ou eliminam as pro-
babilidades de ataque, por colocarem a madeira em condições naturais que impedem a
instalação e o desenvolvimento dos agentes biológicos, particularmente importante no
caso de fungos de podridão ou térmitas, em que o teor de água da madeira é o factor
fundamental; (2) as que se opõem, pelo emprego de produtos químicos, a que se desen-
volva a infestação ou infecção prováveis, quer tratando a madeira e/ou as alvenarias e
solo circundante, quer actuando a um nível mais especifico para a espécie praga, como a
utilização de armadilhas para o controlo de térmitas subterrâneas.
Sendo tão importante a correcta aplicação do material, recomenda-se que a sua especi-
ficação seja feita com cuidado e sempre apoiada em documentos normativos existentes.
A madeira pode ser correctamente seleccionada para o ambiente final previsto, de acordo
com a sequência que a seguir se apresenta:
• Considerar o desempenho requerido para o elemento de madeira.
• Determinar a classe de risco para a situação na qual o elemento de madeira será
usado e para os agentes biológicos que o ameaçam [17].
• Avaliar se a durabilidade natural da madeira a utilizar é suficiente ou se é requerido
um tratamento preservador [20, 21 e 22].
P r o d u t o s d e r i va d o s d e m a d e i r a e s u a s a p l i c a ç õ e s 657
• Seleccionar, para o elemento, espécies de madeira mais duráveis, ou escolher uma outra
solução (concepção ou disposições construtivas) ou uma protecção por preservação.
• Se for requerido um tratamento preservador, escolher um tratamento adequado tendo
em conta os agentes biológicos contra os quais é necessária protecção [23, 24 e 25].
Quando não é possível prever, com suficiente segurança, a classe de risco de um elemento
em serviço, ou quando se estima que as diferentes zonas de um mesmo elemento estão em
situações de risco diferentes, as decisões devem ser tomadas com base na classe de risco
mais severa entre as classes aplicáveis.
Também relativamente a questões de segurança, deve ser tido em conta que, quando um
elemento de madeira é inacessível ou quando as consequências da sua rotura são parti-
cularmente perigosas, pode ser mais apropriado utilizar uma madeira de maior durabili-
dade ou um tratamento de nível superior àquele que habitualmente é recomendado para
a classe de risco correspondente a essa situação de aplicação.
Em relação ao primeiro aspecto, poderá ser suficiente uma abordagem passiva, consis-
tindo na reparação das deficiências da construção que potenciaram a deterioração da
madeira, ou pelo contrário, poderão ser essenciais medidas especificamente dirigidas con-
tra o agente de deterioração (tratamentos curativos).
1 2 . 8 P r o d u t o s d e r i va d o s d e m a d e i r a e s u a s
aplicações
No que se refere à madeira lamelada-colada e ao LVL, estes materiais são por excelência
adequados ao fabrico de elementos estruturais de grande secção transversal e compri-
mento, o que vem sendo cada vez mais difícil de obter com madeira maciça face à cres-
cente pressão sobre as florestas, sendo em alguns casos mesmo impossível por limitações
naturais de crescimento das árvores.
No que se refere ao LVL, o seu método de fabrico permite apenas obter elementos rec-
tos, sendo corrente o seu emprego na alma de vigas I usadas em estruturas provisórias
ou definitivas, havendo igualmente numerosos exemplos da sua utilização em estruturas
reticuladas de edifícios de vários pisos ou formando coberturas geodésicas. O material é
constituído por folhas de madeira da ordem dos 2 mm de espessura sobrepostas e cola-
das entre si até obter a espessura total do elemento; a orientação da maioria das folhas
é a do eixo dos elementos estruturais a obter, com algumas folhas intercaladas com a
orientação perpendicular, para estabilização do conjunto. O LVL reflecte em parte as
propriedades físicas e a durabilidade da madeira utilizada no seu fabrico, apresentando
no entanto maior estabilidade dimensional, menor anisotropia e menor variabilidade do
que a madeira maciça, sendo abrangido pela EN 14374 [36].
RE F ERÊNC I AS
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