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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

ÍNDICE

Introdução.......................................................................................Página 2
O Patriciado e a Plebe ....................................................................Página 3
Fontes de Direito Romano e seus períodos.....................................Página 4
Revolta da plebe – Lei das XII Tábuas...........................................Página 5
Conteudo da lei das XII Tábuas......................................................Página 7
Conclusão........................................................................................Página 18
Bibliografia.....................................................................................Página 19
Direito Romano * Lei das XII Tábuas

INTRODUÇÃO

Após a retirada dos reis Etruscos, a República Romana conheceu


uma longa crise interna, a luta entre o patriciado e a plebe através da qual
se esboçam as suas instituições. É difícil dizer com segurança o que opõe
estes dois grupos humanos que coexistiam em Roma no século V.
Os plebeus, descendentes dos pré-indo-europeus e dos patrícios
originários dos conquistadores latinos, reforçados por elementos sabinos ou
etruscos. Apesar de não existir uma clivagem propriamente étnica há, no
entanto, de um lado gentes dotadas de uma sólida estrutura patriarcal e
ligadas por todo um culto de cultos comuns, e de outro lado uma massa
indistinta. Há oposições económicas tendo as gentes atribuído a si próprias
a maior parte do ager Romanus, tanto para cultivo como para criação dos
seus rebanhos. Assim as dezasseis tribos rústicas que existiam desde a
expulsão dos reis, possuem todas elas o nome de gens patrícia. Recordemos
que os reis haviam unido todos os habitantes da Urbs (cidade) nos novos
quadros das centúrias (classes censitárias) e das tribos territoriais,
constituindo assim um populus único, iniciativa pouco apreciada pelas
gentes, assim depois da retirada dos reis iniciou-se uma política de reacção
e separação.

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“O patriciado e a plebe”

A gentes passaram a deter o monopólio das magistraturas e dos


sacerdócios, recusando qualquer casamento misto, rompendo a unidade do
populus, excluindo da cidadania romana todos os que não estão integrados
numa gens. Assim se formam duas ordens prontas a enfrentarem-se, de um
lado os patrícios, de outro os plebeus que conservam o comercium, isto é o
direito oficial à propriedade, e muito embora a curiada lhes seja interdita,
alguns deles (os mais ricos) desempenham um papel na assembleia
centuriada, ou seja no exército romano, do qual se sente uma constante
necessidade.
Quanto ao poder político, isto é ao imperium, começou-se por dividi-
lo, entre dois titulares, os pretores, depois concentrou-se num único chefe,
o ditador, mantendo-se esta indecisão até ao momento em que teriam dado
lugar aos cônsules, sendo que as magistraturas estavam somente reservadas
aos patrícios.
Em 494, teve lugar a primeira secessão da plebe para o Monte
sagrado ou o Aventino. Este era uma espécie de bastião plebeu, com os
seus artesãos e comerciantes, ainda com o seu templo consagrado à tríade
ctónica Ceres, Líber e Líbera, que fazia frente à tríade patrícia do Capitólio
(os dois guardiões deste templo, aedes, foram os primeiros edis). Desta
crise, saíram os dois tribunos da plebe, em número de quatro, a partir de
471. O tribuno não é um magistrado romano, não detém o imperium, mas
dispõe de um terrível poder religioso a que pode recorrer para protecção de
qualquer plebeu contra um magistrado ou contra o senado, representava
para a plebe uma arma eficaz, mas acentuava a cisão com os patrícios, o
mesmo acontecia relativamente a uma assembleia especificamente plebeia,
o concilium plebis, que se reunia no quadro das tribos e elegia os tribunos.
Dela estavam excluídos os patrícios e as suas decisões, ou plebiscita,
apenas se aplicavam aos plebeus.
De entre os privilégios que se arrogavam os patrícios, figurava o
conhecimento do direito: este de natureza religiosa, era do conhecimento
dos pontífices, únicos depositários das formulae, indispensáveis para
manter a justiça.

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Fontes de Direito Romano e


seus períodos
Para melhor entendermos este trabalho, faço um breve resumo das
fontes do Direito Romano.
Podemos dividir a história das Fontes de Direito em quatro períodos:
Origens
Antigo Direito
Período Clássico
Período de Baixo Império
O período das origens, coincide com a realeza, a principal fonte do
Direito era, então, o costume, o povo era governado pelos reis sine lege
certa, sine iure certo, (sem lei certa, sem jurisprudência certa). Predoninava
o ius non scriptum, o mos maiorum (o direito não escrito, o costume dos
antepassados). Diante da necessidade de uma legislação escrita que fixasse
o costume oral, incerto e arbitrário, teriam sido votadas pelos comícios
curiatos as chamadas leges regiae, (leis régias). Sextus Papirius teria
coordenado e unificado esses dispositivos legais cujo conjunto passou a
chamar-se Ius Civile Papirianum.
O período do Antigo Direito estende-se desde o inicio da República
até à época dos Gracos (130 a.c.). As fontes do Direito nessa época são a
lei das XII Tábuas e a legislação posterior às mesmas.
Tratando este trabalho da Primeira Lei escrita – A lei das XII Tábuas
– dada a sua importância para juristas e filósofos, por ser não só um
monumento fundamental do Direito Romano, mas também o monumento
fundamental da prosa latina. Desta feita é a este período que nos vamos
reportar.

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Revolta da plebe
Lei das XII Tábuas
Durante a República (451-449 a.c.) sentiram-se os plebeus
desfavorecidos no seu tratamento, face aos privilégios dos patrícios que
gozavam de mais direitos e facilidades. Sendo que os sacerdotes
inicialmente eram somente os patrícios, a interpretação dos mores maiorum
era na maioria das vezes favorável aquela classe, pelo que, os plebeus
reivindicaram mais igualdade.
Após uma longa luta, na qual desempenhou importante papel o
tribuno da plebe Terentilius Arsa, os plebeus obtiveram a tão
desejada codificação.
Segundo a tradição, em 451 foi eleita uma comissão de
magistrados extraordinários chamados decénviros (decemvirí legibus
scribun-dis), (dez-varões), todos patrícios, eleitos pelo povo.
Antes da eleição desses decénviros, teria sido enviada à Grécia,
(colónias Gregas da Itália Meridional) uma missão com a finalidade
de estudar as leis de Sólon, para que as apreendesse e adaptasse à
realidade de Roma. A Grécia era nesta altura de uma cultura
exemplar, onde a democracia era vigente na forma de cidades-
estado.
Os primeiros decénviros apresentaram, a seguir, uma codificação
em dez tábuas, aprovadas pelos comícios das centúrias.
Uma nova comissão, formada por patrícios e plebeus, foi escolhida
no ano seguinte (450 A.C.), achando não serem suficientes as dez
tábuas, completou a codificação com duas novas tábuas, tábuas estas
que não foram aprovadas, pois a sua governação não teve a aprovação
do povo, pelo que, acabaram por ser expulsos. Foram eleitos pelo
povo dois Cônsules “Valério e Horácio” que publicaram no fórum não
só as dez tábuas iniciais mas também as duas que não haviam sido
aprovadas. Para que todos conhecessem a lei, eram estas tábuas
afixadas à entrada do Fórum.

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As opiniões divergem relativamente aos pormenores históricos,


que poderão apresentar anacronismos e contradições, como por
exemplo o facto da impopularidade do segundo decenvirato, dado
tratar-se de uma magistratura composta por patrícios e plebeus seria
decerto do agrado do povo.
Marginalizando os pequenos pormenores o certo é que a Lex
Duodectm Tabularam (também chamada lex decemviralis) passou a ser
uma importante fonte de direito, tendo sido chamada, não sem
exagero,"fons omnis pablici privatique ius (fonte de todo o direito
público e privado} e corpus omnis romani iuris (conjunto de todo o
direito romano).
Quanto à forma como se apresentaram as primitivas XII Tábuas também
as opiniões divergem, segundo Pomponius estas seriam de marfim, já na
opinião de Tito Lívio as mesmas seriam de bronze e há quem diga que
seriam mesmo de madeira.
Quando os gauleses conquistaram e incendiaram Roma, em 390
a.c. a preciosa documentação foi destruída.
Reconstituída mais tarde, através de obras extrajurídicas
posteriores, foi a sua reconstituição na maioria das vezes feita
quanto ao seu sentido e não textualmente. Posteriormente foi a
famosa codificação exposta em praça pública. «O texto, ao que
parece, ainda estava exposto na praça pública no século III e os
eruditos procuraram recompô-lo, quer quanto à matéria, quer quanto à
distribuição dela em cada tábua, com elementos esparsos colhidos nos
escritos dos jurisconsultos e historiadores romanos. Assim se
conseguiu uma reconstituição artificial, aproximada e incompleta,
tanto por causa das lacunas, como por causa da existência de
fragmentos cuja sede ainda não pôde ser determinada»,".
Sabemos por Cícero" (De leg. II, 3, 9; 23, 59) que no seu tempo
a Lei das XII Tábuas era decorada nas escolas.

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Conteúdo da Lei das XII Tábuas

O texto tradicional embora não se possa saber com certeza o


conteúdo do código primitivo) inclui algumas medidas de direito
público, como por exemplo, a interdição dos privilégios (privilegia),
leis votadas para prejudicar uma determinada pessoa, e numerosas
regras de direito privado, de direito penal e de processual.
Entre as disposições de direito privado, mencionemos, por
exemplo, as concernentes ao poder do paterfatnilias, às tutelas, às
curatelas, às sucessões, e à liberdade de testar.
Entretanto, os assuntos relativos à agricultura mereceram dos
decênviros especial atenção. A demarcação das propriedades agrícolas,
a conservação dos caminhos rurais, o escoamento de águas pluviais,
a poda dos ramos das árvores que deitassem sobre o terreno
vizinho a menos de quinze pés de altura, a apanha dos frutos que
neles caíssem, a punição do sortilégio, o empregado para transportar
searas de um campo para outro, o furto nocturno das messes, corte
de árvore alheia (Tábua XII, 2 e 5-10 e VIII, 8, 9, e 11), tudo isso
está regulado, de modo esparso, reflectindo a civilização
fundamentalmente agrícola e campesina da época, pelo realce que
mereceram os assuntos agrícolas, a Lei das XII Tábuas pode ser
considerada um Código rural»."
Além dos já citados delitos rurais, a Lei das XII Tábuas
prevê também crimes públicos, tais como incêndio, homicídio
(paricidium) e traição (perduellio).
Em matéria de direito processual, encontramos diversos
dispositivos concernentes aos processos arcaicos do Direito Romano
chamados, por estarem sancionados pela Lei das XII Tábuas, acções
da lei (legis actiones).
A matéria jurídica na Lei Decenviral distribui-se da seguinte forma:
As Tábuas I a III - tratam do Direito Processual;
As Tábuas IV a V - abordam o Direito de Família e Sucessões;
A Tábua VI - estuda os negócios jurídicos mais importantes;

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As Tábuas VII a XII - contemplam o Direito Penal.


Mais especificamente:
A Tábua I: - chamamento a juízo;
A Tábua II: - julgamentos e furtos;
A Tábua III: - direitos de crédito e devedores relapsos;
A Tábua IV: - casamento e pátrio poder;
A Tábua V: - herança e tutela;
A Tábua VI: - propriedade e posse;
A Tábua VII: - delitos;
A Tábua VIII: - direitos prediais;
A Tábua IX: - dispositivos de Direito Público;
A Tábua X: - direito sacro;
As Tábuas XI e XII: - complementam as matérias das Tábuas
precedentes.

TÁBUA I

Do chamamento a Juízo

1-. Se alguém é chamado a Juízo, compareça.

2-. Se não comparece, aquele que o citou tome testemunhas e o


prenda, se procurar enganar ou fugir, o que o citou pode lançar mão sobre
(segurar) o citado.

3-. Se uma doença ou a velhice o impede de andar, o que o citou, lhe


forneça um cavalo, se não o aceitar, que forneça um carro, sem a obrigação
de o dar coberto, se se apresentar alguém para defender o citado, que este
seja solto.

4-. O rico será fiador do rico; para o pobre qualquer um poderá servir
de fiador.

5-. O direito do nexo e do mancípio seja o mesmo para o rico e para


o pobre. (nexo era o compromisso verbal de restituir a quantia emprestada ,
contraído pelo devedor, perante testemunhas dentro do prazo legal - Se o

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devedor não pagava a divida era obrigado a pagá-la em trabalho, não era
escravo mas o credor poderia mandar-lhe fazer trabalhos servis, prende-lo
no ergástulo, ou até matá-lo e os seus filhos não emancipados seguiam a
sorte do pai). Mancipio - Contrato em virtude da pátria postestas, podia
vender o filho, chamava-se mancipação, o direito com que ficava o
comprador chamava-se mancipio, era um direito de propriedade.)

6-. Quando fizeram um pacto ou convencionarem uma coisa orem,


ou seja digam a formula (Entre os Romanos convenção e pacto exprimiam
a mesma ideia, consentimento de duas ou mais pessoas em dar fazer ou
prestar alguma coisa – Dividiam-se os factos em nuda e non nuda. Nuda –
não produziam efeitos jurídicos, não eram vinculativos, era somente um
ajuste, enquanto que a non nuda – produziam efeitos jurídicos e era
necessário uma estipulação solene ou forma verbal em que se
pronunciavam determinadas palavras, no casamento o sogro deveria
pronunciar que dava o dote e o noivo deveria dizer que aceitava e ficavam
vinculados.

7- Se as partes entram em acordo em caminho, a causa está


encerrada, se não entram em acordo, que o pretor as ouça no comitium ou
no fórum e conheça da causa antes do meio-dia, ambas as partes presentes.

8- Depois do meio-dia, se apenas uma parte comparece, o Pretor


decida a favor da que está presente. ( O pretor era o magistrado que
proferia a sentença e no julgamento empregava três palavras- do, quando
dava ou nomeava juízes para julgarem a causa, dico, quando proferia a
sentença e addico, quando adjudicava ou mandava entregar alguma coisa
ao vencedor que a tinha perdido)

9- O pôr do sol será o termo final da audiência. ( Esta legislação


ainda vigora entre nós, porque os actos judiciais cíveis devem ser
celebrados desde o nascer até ao pôr do sol (cod. Proc. Civil Artº 5º).

De todos o julgamentos se podia apelar para o pretor, não tinham todavia


estes juízes o direito de condenar à morte, como se vê com o próprio
exemplo de Jesus Cristo, sendo condenado pelos judeus a morrer
crucificado, foi necessário que Poncio Pilatos mandasse executar a

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sentença, porque os governadores não podiam delegar em quem quer que


fosse o ius gladii, como assevera Ulpiano.

LEI LICÍNIA (367AC): A Lei Licínia pôs fim à escravidão por dívidas,
proibindo, a partir do ano de 367 a.c., que os plebeus endividados fossem
escravizados pelos proprietários rurais. Neste mesmo documento estava
previsto também o acesso dos plebeus ao Consulado. Com a Lei Licínia
passaram a ser eleitos dois cônsules: um patrício e outro plebeu.

TÁBUA II

Dos julgamentos e dos furtos

1-. ... cauções... subcauções ... a não ser que uma doença grave ... um
voto ..., uma ausência a serviço da república, ou uma citação por parte de
estrangeiro, dêem margem ao impedimento; pois se o citado, o juiz ou o
árbitro, sofre qualquer desses impedimentos, que seja adiado o julgamento.

2-. Aquele que não tiver testemunhas irá, por três dias de feira, para a
porta da casa da parte contrária, anunciar a sua causa em altas vozes
injuriosas, para que ela se defenda.

3-. Se alguém comete furto à noite e é morto em flagrante, o que


matou não será punido.

4-. Se o furto ocorre durante o dia e o ladrão é apanhado em


flagrante, que seja fustigado e entregue como escravo à vítima. Se é
escravo, que seja fustigado e precipitado do alto da rocha Tarpéia.

5-. Se ainda não atingiu a puberdade, que seja fustigado com varas a
critério do pretor, e que indemnize o dano.

6-. Se o ladrão durante o dia se defende com arma, que a vítima peça
socorro em altas vozes e se, depois disso, mata o ladrão, que fique impune.

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7-. Se, pela procura com lance et licio que, a coisa furtada é
encontrada na casa de alguém, que seja punido como se fora um furto
manifesto.

8-.Se alguém intenta acção por furto não manifesto, que o ladrão seja
condenado no dobro.

9- Se alguém, sem razão, cortou árvore de outrem, que seja


condenado a indemnizar à razão de 25 asses por árvore cortada.

10-. Se transigiu com um furto, que a acção seja considerada, extinta.

11-. A coisa furtada nunca poderá ser adquirida por usucapião.

TÁBUA III

Dos direitos de crédito

1-. Se o depositário, de má fé, pratica alguma falta com relação ao


depósito, que seja condenado em dobro.

2-. Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento


ao ano, que seja condenado a devolver o quádruplo.

3-. O estrangeiro jamais poderá adquirir bem algum por usucapião.

4-. Aquele que confessa dívida perante o magistrado ou é condenado,


terá trinta dias para pagar.

5-. Esgotados os trinta dias e não tendo pago, que seja agarrado e
levado à presença do magistrado.

6-. Se não paga e ninguém se apresenta como fiador, que o devedor


seja levado pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com cadeias
com peso até o máximo de 15 libras, ou menos, se assim o quiser o credor.

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7-. O devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser o


credor que o mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a
seu critério.

8-. Se não há conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias,


durante os quais será conduzido em 3 dias, de feira ao comitium, onde só
proclamará em altas vozes, o valor da divida.

9-. Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de


feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os
credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem,
poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre.

TÁBUA IV

Do pátrio poder e do casamento

1-. É permitido ao pai matar o filho que nasce disforme, mediante o


julgamento de cinco vizinhos.

2-. O pai terá sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o


direito de vida e de morte e o poder de vendê-los.

3-. Se o pai vendeu o filho três vezes, que esse filho não recaia mais
sob o poder paterno.

4-. Se um filho póstumo nasceu até o décimo mês após a dissolução


do matrimónio, que esse filho seja reputado legitimo. ( O direito romano
julgava legitimo o parto de sete meses principiados e o retardado até dez
meses – o nosso código prevê para que o filho seja legitimo tenha nascido
passados 180 dias depois da celebração do matrimónio ou dentro dos
trezentos subsequentes à sua dissolução ou à separação dos cônjuges
judicialmente decretada).

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TÁBUA V

Das heranças e tutelas

1-. As disposições testamentárias de um pai de família sobre os seus


bens ou a tutela dos filhos terão a força de lei.

2-. Se o pai de família morre intestado, não deixando herdeiro seu


(necessário), que o agnado mais próximo seja o herdeiro.

3-. Se não há agnados, que a herança seja entregue aos gentis.

4-. Se um liberto morre intestado, sem deixar herdeiros seus, mas o


patrono ou os filhos do patrono a ele sobrevivem, que a sucessão desse
liberto transfira ao parente mais próximo na família do patrono.

5-. Que as dividas activas e passivas sejam divididas entre os


herdeiros, segundo o quinhão de cada um.

6-. Quanto aos demais bens da sucessão indivisa, os herdeiros,


poderão partilha-los, se assim o desejarem; para esse fim o pretor poderá
indicar três árbitros.

7-.Se o pai de família morre sem deixar testamento, ficando um


herdeiro seu impúbere, que o agnado mais próximo seja o seu tutor.

8-. Se alguém torna-se louco ou pródigo e nato tem tutor, que a sua
pessoa e seus bens, sejam confiados à curatela dos agnados e, se não há
agnados, à dos gentis.

TÁBUA VI

Do direito de propriedade e da posse

1-. Se alguém empenha a sua coisa ou vende em presença de


testemunhas, o que prometeu tem força de lei.

2-. Se não cumpre o que prometeu, que seja condenado em dobro.

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3-. O escravo a quem foi concedida a liberdade por testamento, sob a


condição de pagar uma certa quantia, e que é vendido em seguida, tornar-
se-á livre se pagar a mesma quantia ao comprador.

4-. A coisa vendida, embora entregue, só será adquirida pelo


comprador depois de pago o preço.

5-. As terras serão adquiridas por usucapião depois de dois anos de


posse, as coisas móveis depois de um ano.

6-. A mulher que residiu durante um ano em casa de um homem,


como se fora sua esposa, é adquirida por esse homem e cai sob o seu poder,
salvo se se ausentar da casa por três noites.

7-. Se uma coisa é litigiosa, que o pretor a entregue provisoriamente


àquele que detém a posse; mas se se tratar da liberdade de um homem que
está em escravidão, que o pretor lhe conceda a liberdade provisória.

8-. Que a madeira utilizada para a construção de uma casa, ou para


amparar videira, não seja retirada só porque o proprietário a reivindica; mas
aquele que utilizou a madeira que não lhe pertencia, seja condenado a pagar
o dobro do valor; e se a madeira é destacada da construção ou do vinhedo,
que seja permitido ao proprietário reivindicá-la.

9-. Se alguém quer repudiar a sua mulher, que apresente as razões


desse repúdio.

TÁBUA VII

Dos delitos

1-. Se um quadrúpede causa qualquer dano, que o seu proprietário


indemnize o valor desse dano ou abandone o animal ao prejudicado.

2-. Se alguém causa um dano premeditadamente, que o repare.

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3-. Aquele que fez encantamentos contra a colheita de outrem ou a


colheu furtivamente à noite antes de amadurecer ou a cortou depois de
madura, será sacrificado a Ceres.

4-. Se o autor do dano é impúbere, que seja fustigado a critério do


pretor e indemnize o prejuízo em dobro.

5-. Aquele que fez pastar o seu rebanho em terreno alheio;

6-. E o que intencionalmente incendiou uma casa ou um monte de


trigo perto de uma casa, seja fustigado com varas e em seguida lançado ao
fogo.

7-. Mas se assim agiu por imprudência, que repare o dano; se não
tem recursos para isso, que seja punido menos severamente do que se
tivesse agido intencionalmente.

8-. Aquele que causar dano leve indemnizará 25 asses.

9-. Se alguém difama outrem com palavras ou cânticos, que seja


fustigado.

10-. Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Tailão, salvo se


houver acordo.

11-. Aquele que arrancar ou quebrar um osso a outrem deve ser


condenado a uma multa de300 asses, se o ofendido é um homem livre; e de
150 asses, se o ofendido é um escravo.

12-. Se o tutor administra com dolo, que seja destituído como


suspeito e com infâmia; se causou algum prejuízo ao tutelado; que seja
condenado a pagar o dobro ao fim da gestão.

13-. Se um patrono causa dano a seu cliente, que seja declarado sacer
(podendo ser morto como vítima devotada aos deuses).

14-. Se alguém participou de um acto como testemunha ou


desempenhou nesse acto as funções de libripende, e recusa dar o seu
testemunho, que recaia sobre ele a infâmia e ninguém lhe sirva de
testemunha.

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15-. Se alguém profere um falso testemunho, que seja precipitado da


rocha Tarpéia.

16-. Se alguém matou um homem livre e empregou feitiçaria e


veneno, que seja sacrificado como o último suplício.

17-. Se alguém matou o pai ou a mãe, que se lhe envolva a cabeça e


seja colocado em um saco costurado e lançado ao rio.

TÁBUA VIII

Dos direitos prediais

1-.A distância entre as construções vizinhas deve ser de dois pés e


meio.

2-.Que os sodales (sócios) façam para si os regulamentos que


entenderem, contando que não prejudiquem o público.

3-. A área de cinco pés deixada livre entre os campos limítrofes não
pode ser adquirida por usucapião.

4-.Se surgem divergências entre possuidores de campos vizinhos,


que o pretor nomeie três árbitros para estabelecerem os limites respectivos.

5-.Lei incerta sobre limites

6-.... jardim ..........

7-.... herdade ..........

8-.... choupana ..........

9-.Se uma árvore se inclina sobre o terreno alheio, que os seus galhos
sejam podados à altura de mais de 15 pés.

10-.Se caem frutos sobre o terreno vizinho, o proprietário da árvore


tem o direito de colher esses frutos.

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

11-.Se a água da chuva retida ou dirigida por trabalho humano, causa


prejuízo ao vizinho, que o pretor nomeie três árbitros, e que estes exijam,
do dono da obra, garantias contra o dano iminente.

12-.Que o caminho em recta tenha oito pés de largura e o em curva


tenha dezasseis.

13-.Se aqueles que possuem terrenos vizinhos a estrada não os


cercam, que seja permitido deixar pastar o rebanho à vontade (nesses
terrenos).

TÁBUA IX

Do direito público

1-. Que não se estabeleçam privilégios em leis (ou que não se façam
leis contra indivíduos).

2-. Aqueles que foram presos por dívidas e as pagaram, gozam dos
mesmos direitos como se não tivessem sido presos; os povos que foram
sempre fiéis e aqueles cuja defecção foi apenas momentânea gozarão de
igual direito.

3-.Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado recebeu


dinheiro para julgar a favor de uma das partes em prejuízo de outrem, que
seja morto.

4-. Que os comícios por centúrias sejam os únicos a decidir sobre o


estado de um cidadão (vida, liberdade, cidadania, família).

5-.Os questores de homicídio ...

6-.Se alguém promove em Roma assembleias nocturnas, que seja


morto.

7-.Se alguém instigou o inimigo contra a sua Pátria ou entregou um


concidadão ao inimigo, que seja morto.

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TÁBUA X

Do direito sacro

1-........ do juramento.

2-.Não é permitido sepultar nem incinerar um homem morto na


cidade.

3-.Moderai as despesas com os funerais.

4-. Fazei apenas o que é permitido.

5-.Não deveis polir a madeira que vai servir à incineração.

6-.Que o cadáver seja vestido com três roupas e o enterro se faça


acompanhar de dez tocadores de instrumentos.

7-.Que as mulheres não arranhem as faces nem soltem gritos


imoderados.

8-.Não retireis da pira os restos dos ossos e um morto, para lhe dar
segundos funerais, a menos que tenha morrido na guerra ou em país
estrangeiro.

9-.Que os corpos dos escravos não sejam embalsamados e que seja


abolido dos seus funerais o uso de bebida em tomo do cadáver.

10-.Que não se lancem licores sobre a pia de incineração nem sobre


as cinzas do morto.

11-.Que não se usem longas coroas nem turíbulos nos funerais.

12-.Que aquele que mereceu uma coroa pelo próprio esforço ou a


quem seus escravos ou seus cavalos fizeram sobressair nos jogos, traga a
coroa como prova do seu valor, assim com os seus parentes, enquanto o
cadáver está em casa e durante o cortejo.

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13-.Não é permitido fazer muitas exéquias nem muitos leitos


fúnebres para o mesmo morto.

14-.Não é permitido enterrar ouro com o cadáver; mas se seus dentes


são presos com ouro, pode-se enterrar ou incinerar com esse ouro.

15.Não é permitido, sem o consentimento do proprietário, levantar


uma pira ou cavar novo sepulcro, a menos de sessenta pés de distância da
casa.

16.Que o vestíbulo de um túmulo jamais possa ser adquirido por


usucapião, assim como o próprio túmulo.

TÁBUA XI

1- .Que a última vontade do povo tenha força de lei.

2-.Não é permitido o casamento entre patrícios e plebeus.

3-...... Da declaração pública de novas consecrações.

LEI CANULEIA (445 AC):"Lex Canuleia" é a lei, entre os romanos,


que passou a permitir o casamento entre plebeus e patrícios. O seu principal
objectivo era o de fortalecer a classe patrícia, uma vez que só se aplicava se
um patrício em decadência se casasse com uma plebeia em ascensão
económica. Esta lei vem derrogar parte do texto da Lei das XII tábuas.

TÁBUA XII

1...... do penhor ......

2.Se alguém fez consagrar uma coisa litigiosa, que pague o dobro do
valor da coisa consagrada.

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

3.Se alguém obtém de má fé a posse provisória de uma coisa, que o


pretor, para pôr fim ao litígio, nomeie três árbitros, e que estes condenem o
possuidor de má fé a restituir o dobro dos frutos.

4.Se um escravo comete um furto, ou causa algum dano, sabendo-o o


patrono, que seja obrigado esse patrono a entregar o escravo, como
indemnização, ao prejudicado.

Fragmentos não classificados extraídos de Hotomano

1.Que os sacrifícios religiosos domésticos sejam perpétuos. (Cic. de


leg., lib. 2)

2.Que o mês de Fevereiro, que era o último do ano segundo o


calendário de numa, passe a ser o segundo. Que se intercale neste mês,
depois das festas ao deus Término, os dias que faltarão a cada ano, para
completar o ciclo solar.

3. Que ninguém se arrogue o direito de matar um homem que não foi


condenado, nem de conduzir arma com esse intento. (Salvianus, lib. 8, de
jud. et provid. - Cic., pro Milone, n. 11).

4. Que a filha e outros descendentes saiam do poder paterno por uma


única emancipação.

5. Aquele que adoptou como filho um filho que o pai lhe vendeu
tenha sobre ele o poder de vida e de morte e que esse filho adoptivo seja
considerado como se fosse nascido do adoptante e sua mulher.6. Que os
filhos e filhas famílias herdem de seu pai como herdeiros seus
(necessários).

7.Se um dos herdeiros seus, do sexo masculino, renuncia os direitos


hereditários, que seus filhos e outros descendentes, na mesma qualidade, o
sucedam; mas por estirpes e não por cabeças.

8.Que a mulher sob o poder do marido seja a mãe de família


(materfamilias); que ela se associe às propriedades e aos sacrifícios

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

Base da coluna dos “Decenais”, relevo com procissão sacrifical

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

CONCLUSÃO

Temos então, um dos marcos mais importantes da história do Direito,


que é a Lei das XII Tábuas, devemos dizer que, apesar das suas
imperfeições e das desigualdades que não extinguiu, pode ser
considerada, na palavra de Eonfante, a magna charta Jibertatum dos
romanos. «A igualdade civil, a tutela da liberdade, o respeito à
autonomia individual são as suas grandes características. Salvo a
interdição de casamento entre patrícios e plebeus, ela não faz
distinção entre uns e outros, nem mesmo em matéria de direito
penal, como sucedia entre povos sujeitos a regime absoluto».

Após a Lei das XII Tábuas, numerosas outras foram votadas


pelos comícios, continuaram no entanto os jurisprudentes a
interpretar e a descobrir, muitas vezes criando direito novo,
sendo que a lei das XII tábuas não eram suficientes para ordenar
a vida jurídica. Assim a jurisprudência continua a aplicar-se
apesar da promulgação da lei.

A Lei das XII Tábuas é um momento de grande significado para a


consciência jurídica, porque considera o Direito como padrão de
comportamento independente da Moral, da Política e da Religião. A
segurança jurídica foi o elemento fundamental no surgimento da Lei das
XII Tábuas! A preocupação do romano em dar segurança jurídica, traz
como consequência, a criação de um Direito exemplar, o qual torna
possível a previsibilidade das consequências jurídicas da conduta que
implicam o direito subjectivo, o dever jurídico e a sanção.

A importância desse Direito foi o desenvolvimento de uma série de


institutos jurídicos que não estavam definidos na Lei das XII Tábuas. Para
o povo romano em todos os casos de aplicação da lei deve-se recorrer

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

sempre à equidade. A equidade é a justiça concreta no momento da


aplicação da lei

A Lei das XII Tábuas foi um importante documento não apenas da


História de Roma, mas para toda a posteridade. Foi o primeiro
documento legal escrito do Direito Romano, pedra angular onde se
basearam praticamente todos os corpos jurídicos do Ocidente.

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Direito Romano * Lei das XII Tábuas

BIBLIOGRAFIA
⇒ Bordet, Marcel; Síntese da História Romana – Edições Asa
⇒ Pagden, Anthony; Povos e Impérios – Circulo de Leitores
⇒ Nova Enciclopédia Larousse, s/l: Círculo de Leitores, 1998
⇒ Kaser,Max; Direito Privado Romano; Fundação Calouste Gulbekian
⇒ Giordani, Mário Curtis ; História de Roma – Antiguidade Clássica II -
12ª Edição Vozes
⇒ Homem, Pedro Barbas, Jus e Lex
⇒ S.Trincão e F.Sampaio, Lei das XII Tábuas, Coimbra
⇒ Internet:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_das_Doze_T%C3%A1buas
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm
http://www.internext.com.br/valois/pena/451ac.htm
http://www.dombosco.com.br/curso/estudemais/historia/12tabuas.php

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