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Psicologia e Saúde Publica

O lugar do psicólogo na Saúde Pública é um tema contemporâneo, que carrega


história, questionamentos e ideias diversas de mudanças. A atuação do psicólogo dentro
da saúde publica iniciou-se através do acompanhamento da saúde mental, onde o
trabalho do profissional nesta área era basicamente um trabalho clinico só então por
volta dos anos 80, devido a vários acontecimentos dentro da sociedade brasileira, como
por exemplo, a reestruturação do atendimento a portadores de sofrimento mental que
Psicologia pode ter um novo olhar sobre o sujeito que considera o processo de
adoecimento como uma construção social, baseado no contexto em que o indivíduo está
inserido.
No Brasil, a história da psicologia acaba se confundindo com a própria história do
país, uma vez que as novas atuações da psicologia têm levado muitos profissionais a
participar de questões que antes fugiam de seus olhares.
A constituição Brasileira de 1988 reconhece a saúde como um direito social de
todas as pessoas e um dever do Estado, posicionando a saúde como algo intrínseco à
cidadania e estimulando a descentralização do poder de decisão, sendo assim cada
município responsável pela promoção de saúde de seu território, ficando sob-
responsabilidade a elaboração de politicas publicas viáveis para cada município, dentro
do Sistema Único de Saúde (SUS), é preconizado a todos o direito de: universalidade,
gratuidade, integridade e organização descentralizada, dando prioridade às atividades
preventivas, sem, contudo, implicar em prejuízo para a assistência.
O Brasil é um país de extensão continental onde a diversidade de saberes e de
práticas é encontrada tanto entre regiões como intra-regiões. Além dessa diversidade,
compreendida, a princípio, como diferenças de práticas e de saberes, a população
brasileira convive com desigualdades de acesso aos cuidados com a saúde, e mesmo
com muitas estratégias, como o NASF e PSF desenvolvida pelo SUS ainda encontramos
muitas falhas para serem tratadas e surgir maiores efeitos com a população.
O modelo do sistema de saúde adotado pelo Brasil (SUS) tem como ideal a
presença de um psicólogo em cada Centro de Saúde, mas isso ainda não ocorre na
prática e a atuação do psicólogo em saúde pública exige uma atuação ampla e
diversificada, para além do trabalho prescrito. Nos Centros de Saúde que tem a presença
de psicólogos, boa parte deles pauta seus trabalhos em pressupostos clínicos,
conservadores e tradicionais, e acabe então aos novos profissionais a mudança de foco e
a visão diferenciada para o atendimento do publico.
Atualmente vemos na teoria que a compreensão de saúde e doença constitui-se de
aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Sendo assim sabemos também que
para o bom funcionamento da promoção de saúde é preciso de uma multiplicidade de
saber, e a partir dai é dado à formação da equipe multidisciplinar, onde o esforço de
diferentes competências e especificidades atuam juntos para a promoção de saúde, os
sistemas interdisciplinares, que consideram não apenas as equipes, mas também as
pessoas e o seu contexto, estão se multiplicando na área da saúde. Em primeiro lugar, as
mudanças substanciais nos sistemas de saúde, onde existe agora a preocupação com os
programas de prevenção, havendo a mudança de uma estrutura exclusivamente curativa
em direção a uma estrutura também preocupada com a prevenção. Em segundo lugar,
novas áreas do conhecimento foram incluídas no complexo sistema de atendimento à
saúde, como por exemplo, a Psicologia, a Nutrição, a Fisioterapia, a Terapia
Ocupacional, entre outras. Por último, uma compreensão ampliada sobre as diversas
esferas da vida da pessoa (familiar, profissional, social) que procura os serviços de
saúde.
A cada dia fica mais evidente, que apenas a abordagem física do problema não
está surtindo os resultados esperados. Um bom exemplo disso é o aumento de pessoas
portadoras de problemas crônicos de saúde. O desenvolvimento de programas e
propostas de estágio pautadas pela perspectiva da Psicologia Social da Saúde parece ser
a alternativa que possibilitaria a compreensão dos diversos fatores que contribuiriam ou
não para a manutenção da saúde. Nessa proposta a pessoa é vista como uma participante
inserida em uma rede complexa de interações e a doença como sendo causada por
múltiplos fatores; a pessoa não é vista como uma vítima passiva. Ao contrário, ela é
considerada atuante e participante ativa em seu tratamento. Em síntese, a pessoa é vista
como um todo, e não apenas como as mudanças físicas ocorridas em seu organismo.
Sob essa perspectiva, a saúde e a doença existem, no qual o indivíduo oscila conforme
sua condição de vida. A adoção dessa proposta exige uma comunicação clara entre
todas as pessoas que fazem parte da equipe de saúde, bem como requer uma apreciação
mútua do potencial que cada um dispõe para a compreensão do processo saúde-doença.

Psicologia na Estratégia de Saúde da Família

 A estratégia Saúde da Família é o modelo de Atenção Primária à Saúde, O


trabalho é realizado por equipes multiprofissionais que atuam nos Centros Municipais
de Saúde ou em Clínicas da Família. Um dos pontos mais fortes da estratégia Saúde da
Família é a busca ativa: a equipe vai às casas das pessoas, vê de perto a realidade
de cada família, toma providências para evitar as doenças, atua para curar os
casos em que a doença já existe, dá orientação para garantir uma vida melhor, com
saúde. Estas equipes são responsáveis e tem como foco o acompanhamento de um
número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. Atuam
com ações fundamentais de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de
doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta região.

A estratégia Saúde da Família deve ser a porta de entrada prioritária do cidadão no


sistema de saúde do município. Está inserida em uma rede de atenção à saúde e tem por
finalidade oferecer o primeiro contato às pessoas quando procuram o serviço de saúde. 
Como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, tem provocado
um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS.
Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido
resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas às
equipes saúde da família.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) as condições crônicas de


saúde têm aumentado em ritmo acelerado em todo o mundo. No Brasil, o problema se
agrava por haver uma situação social ainda marcada pela exclusão de grande parcela da
população do acesso às condições mínimas de vida, tais como, alimentação, moradia,
educação e trabalho dignos a partir daí pode-se observar a precarização das condições
de vida e saúde e, consequentemente, gerou grande demanda de ações voltadas para a
sua melhoria. Com isso ainda tem dois fatores importantes que são o declínio das taxas
de natalidade e o envelhecimento da população, contribuindo para o crescimento das
condições crônicas de saúde na população.
No Brasil essa realidade tem provocado, nos últimos anos, a mobilização de
setores organizados da sociedade que defendem a reforma sanitária brasileira para uma
mudança no modelo de atenção à saúde, saindo da lógica de investimentos prioritários
em ações e serviços hospitalares e de pronto atendimento. Os esforços passam a ser
dirigidos para a Promoção da Saúde, que tem a atenção primária como porta de entrada
para os serviços de saúde pública, com foco em medidas de promoção, proteção e
recuperação da saúde. Ao mesmo tempo, vê-se o Estado brasileiro buscando
implementar políticas públicas que reduzam a miséria e a fome por meio de projetos
como, por exemplo, o Bolsa-Família, um dos dispositivos do Sistema Único da
Assistência Social (SUAS).

O Sistema Único de Saúde (SUS) definiu pela ampliação de investimentos na


cobertura da atenção primária por via da Estratégia de Saúde da Família (ESF). O
modelo da ESF prevê a contratação, pelos municípios, de equipes de saúde compostas
minimamente por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes
comunitários de saúde para cuidar de um determinado número de famílias por território.
Por sua grande complexidade, as ações dessas equipes acabaram por exigir a
contribuição de outros profissionais da saúde, organizando uma estrutura de apoio
matricial, hoje referendada e ampliada pela portaria nº 154/08 do Ministério 12 13 da
Saúde, que cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) em todo o território
brasileiro. Os psicólogos têm participado desde as primeiras experiências de
matriciamento, especialmente no apoio às equipes de saúde da família sobre os cuidados
aos portadores de sofrimento mental e seus familiares. Hoje, seu papel amplia-se,
passando a incluir a atenção a idosos, usuários de álcool e outras drogas, crianças,
adolescentes, mulheres vítimas de violência e outros grupos vulneráveis. Compartilha-
se o saber da Psicologia com outros profissionais e com as comunidades.

Atualmente então passa a psicologia a ter grandes desafios para serem enfrentados
nos cenários de atuação abertos com a implementação do Nasf. Para apreender a
importância do contexto atual, deve-se situar historicamente as interfaces da Psicologia
com a Saúde Pública. Quebra-se então nesse contexto a herança da tradicional e
passamos a lidar com os problemas sociais das famílias reais brasileiras. Os psicólogos
tendem a reproduzir uma visão reducionista das questões psicológicas envolvidas nos
processos de saúde-doença-cuidado. Existe um fosso cultural que separa os psicólogos
da população e que precisa ser superado. E é preciso desenvolver referenciais teórico-
metodológicos, atualizando conceitos, potencializando linguagem técnica, capacidade
de comunicação com o povo e de atuação nos cenários colocados pela ESF. Todos os
elementos citados evidenciam a necessidade de reorientação da formação e do fazer da
Psicologia na e para a ESF. O trabalho na ESF aparece como campo de
experimentações e criações de relevância histórica para o desenvolvimento da
Psicologia, como disciplina científica e como uma profissão necessária ao campo da
Saúde Pública.

A Psicologia caminha na construção e fortalecimento do SUS e da própria ESF,


principalmente, pelos trabalhos desenvolvidos nas Residências Multiprofissionais em
Saúde. Algo que inquieta no modo como o Nasf está preconizada, na portaria que o
institui, é a Psicologia colocada somente dentro do marco da Saúde Mental.
REFERÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - A Pratica da psicologia e o núcleo


de apoio a saúde da família. SRTVN Q. 702, Ed. Brasília Rádio Center, conjunto 4024-
A. Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2009/12/Seminxrio_O_Nxcleo_de_Apoio-beta.pdf

O DESAFIO DA CLÍNICA NA SAÚDE DA FAMÍLIA, Revista APS, v.7, n.2,


p.104-109, jul./dez. 2004

PAULIM. T. A Psicologia na Saúde Publica. Disponível em:


http://www2.assis.unesp.br/revpsico/index.php/revista/article/viewFile/138/170

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