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A fase decisiva para a biologia surge com a invensão das lentes ampliadoras
que, combinadas na lupa e no microscópio, forneceram, a partir do Século XVII, um
meio de observação de consequências tão revolucionárias que podemos
considerar este facto como o acontecimento histórico talvez mais importante para a
biologia.
A invenção do microscópio pelo holandês Zacharias Jansen em 1590
permite ao homem conhecer um novo mundo de seres e de processos,
extraordinariamente rico, que lhe estava até aí completamente vedado. Com lentes
simples e a construção de lupas e do microscópio composto, aperfeiçoado
sucessivamente, desde Robert Hook (1635-1703) até aos nossos dias, tornou-se
possível reconhecer a existência não só de um mundo imenso de microrganismos,
como também veio permitir estudar a organização e estrutura íntima do corpo dos
seres microscópicos. Antes da invenção do microscópio, o mundo dos fenómenos
da vida era só aquele que a vista desarmada permitia ver. A esse mundo do visível
veio, pouco a pouco, associar-se o mundo do invisível que suscitou a criação de
conceitos e de teorias sobre esse universo. Surge assim a Microbiologia.
No século XVII surgem diversos biólogos microscopistas. Além de Hook,
merecem menção van Leewenhoek, Malpighi, Swammerdan, além de outros.
Entre os pioneiros dos conhecimentos dos seres microscópicos destaca-se
van Leewenhoek, mercador holandês, que viveu em Delf de 1632 a 1723.
Utilizando microscópios, na realidade lupas, por ele construídos, observou e
desenhou bactérias, protozoários, leveduras, células vegetais, etc. A ampliação era
já significativa, pois ia desde 50 a 300 vezes. O primeiro desenho de bactérias é
daquele microbiologista. Estes microrganismos eram designados por
"animálculos".
Refira-se, no entanto, que mesmo antes da existência do microscópio já se
suspeitava da existência destes seres vivos. Destacam-se, entre outros, o filósofo
romano Lucrécius (98 – 55 a.c.) e o físico G. Fracastoro (1478-1553) que
sugeriam, na altura, que havia doenças provocadas por seres vivos invisíveis.
1 - Balão de colo longo com líquido nutritivo; 2 - O colo do balão é, por aquecimento, alongado e curvado
(colo de cisne); 3 - O líquido é submetido à ebulição durante algum tempo. 4 - As poeiras contendo
microrganismos são retidas pelas gotas de água na extremidade do tubo e o líquido mantem-se esteril
durante muito tempo; 5 - Se o colo de cisne for partido, o líquido nutritivo é rapidamente invadido por
microrganismos.
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
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Com os progressos dos conhecimentos em biologia particularmente no que
se refere à ultra-estrutura celular, os microrganismos foram divididos em duas
categorias: procariotas e eucariotas.
Os microrganismos procariotas eram constituidos pelas bactérias e algas
azul-verde e os microrganismos eucariotas pelos protozoários, fungos e outras
algas. Com a admissão dos 3 grandes domínios, os procariotas dividem-se em dois
grupos: Archaeobacteria e Bacteria ou Eubacteria.
Não esquecer que as células animais e vegetais são também eucariotas.
Os virus, isolados entre os microrganismos são deixados de lado deste esquema
de organização celular. Os termos protistas inferiores e protista superiores são, por
vezes, usados para designar os microrganismos procariotas e eucariotas
respectivamente.
As células procariotas (vem do grego pro, antes e Karyon, núcleo) são
organismos muito simples com um núcleo não delimitado por uma membrana que
se encontra no seio do citoplasma. O citoplasma contém um grande número de
ribossomas que, nestas células, são muito mais pequenos do que nas células
eucariotas (Figura 4).
Muitos microrganismos procariotas possuem estruturas que lhe permitem
moverem-se e podem apresentar formas muito variadas. São microrganismos muito
mais pequenos do que os eucariotas mas mesmo que o seu comprimento seja
igual ou superior aos eucariotas, o seu volume é sempre menor.
Embora a maior parte dos procariotas sejam heterotróficos, existe um
pequeno número que podem realizar a fotossíntese graças a uma espécie
particular de clorofila bacteriana (Figura 5).
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FIGURA 3 - Desenhos esquemáticos de diferentes microrganismos
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FIGURA 5 - Bactérias fotoautotróficas (Rhodospirillum rubrum)
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ou fotossíntese. Todas as formas apresentam reprodução assexual, muitos
apresentam verdadeira reprodução sexual com meiose e cariogamia. As células
podem ter mobilidade por meio de cílios, flagelos e outros meios. Incluem
protozoários, microalgas e alguns dos fungos mais simples.
- O reino Fungi inclui os fungos superiores com células eucariotas e nutrição
por absorção. Inclui bolores e leveduras.
- O reino Animalia é multicelular com células eucariotas e nutrição por
ingestão
- O reino Plantae é também multicelular com células eucariotas e nutrição do
tipo fotoautotrófico.
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FIGURA 7 - Sistema de classificação dos 5 reinos de Whittaker (1969)
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FIGURA 8 - Sistema de classificação de Whittaker modificado
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Esta classificação diverge da anterior no reino dos Protistas. Inclui neste
reino os microrganismos eucariotas unicelulares ou formando colónias mas só de
células iguais. As leveduras estão incluidas aqui como se pode ver na Figura 8.
Estudos posteriores sobre o RNA ribossomal (rRNA) e outras propriedades
moleculares dos procariotas indicam que há dois grupos diferentes destes
microrganismos: o das eubacteria e o das archaeobacteria. Este facto levou ao
aparecimento de outro sistema de classificação alternativo com 6 reinos. Neste
sistema o reino Monera ou Procaryotae está dividido em dois reinos, Eubacteria e
Archaeobacteria (Fig.9).
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eucariotas mais primitivos e unicelulares e o reino dos Chromistas constituido,
principalmente, por organismos fotossintéticos, tais como diatomáceas, algas
castanhas, criptogâmicas e oomycetes (Fig.10). Neste sistema de classificação os
protistas não constituem um reino separado mas representam um nível de
organização muito diversificado.
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As algas são organismos relativamente simples. Os tipos mais primitivos
são unicelulares, outros são constituídos por agregados de células similares, com
pouca ou nenhuma diferenciação de estrutura ou função. Outras algas, como as
grandes algas marinhas castanhas, têm uma estrutura complexa, com tipos de
células especializados para funções particulares. Sem considerar as dimensões ou
a complexidade, todas as células das algas contêm clorofila e são capazes de
efectuar a fotossíntese. Esses organismos são encontrados, mais frequentemente,
em meio marinho ou em solos húmidos (Figuras 11 e 12).
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Os protozoários são protistas eucarióticos de uma única célula, que se
diferenciam de acordo com as suas características morfológicas, nutritivas e
fisiológicas. O seu papel na natureza é variado, mas os protozoários mais bem
conhecidos são aqueles que causam doenças no homem e nos animais. (Figuras
13, 14 e 15).
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FIGURA 14 - Exemplos de protozoários flagelados
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FIGURA 15 - Exemplos de protozoários ciliados
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De acordo com a classificação de Whittaker todos os fungos pertencem ao
reino Fungi.
Os fungos são microrganismos eucarióticos com reprodução assexuada,
podendo também apresentar reprodução sexuada, e nutrição por absorção.Não
apresentam clorofila.
Os fungos podem, de grosso modo, ser divididos em fungos filamentosos ou
bolores e fungos não filamentosos ou leveduras.
Os bolores são estruturas micelianas, isto é, formadas por hifas, uni ou
multinucleadas, que vão constituir o micélio. Apresentam dimensões e morfologia
muito variadas (Figura 16).
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As leveduras são fungos unicelulares cujas células presentam forma e
dimensões muito variadas mas sempre maiores do que as bactérias. Normalmente
não formam micélio verdadeiro mas podem formar pseudomicélio. O processo de
reprodução mais frequente é assexuado, por gemulação ou fissão, podendo também
apresentar reprodução sexuada (Figura 17).
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FIGURA 18 - Exemplos de células de bactérias (coccus e bastonetes)
A APLICAÇÃO DA MICROBIOLOGIA
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conhecimento de taxonomia, genética, imunologia e fisiologia para, assim, poder
responder melhor no âmbito dos patogénicos.
Refira-se que a clínica médica é dos campos mais importantes devido ao seu
relacionamento com a saúde publica. Como se sabe, muitos microrganismos são
patogénicos e, entre as doenças de que são responsáveis, há algumas que podem
ser transmitidas pelos alimentos (o butilismo, a salmonelose, ).
Outro aspecto é o seu interesse biotecnológico integrado na microbiologia
industrial que contribuiu para tomar consciência do papel dos microrganismos na
nossa economia devido à sua importante contribuição nos sectores da agronomia,
das industrias alimentares e biológicas, da saúde, da química fina, da energia e da
protecção ambiental.
A aplicação biotecnológica dos microrganismos apoia-se fundamentalmente
em algumas das suas propriedades. Qualitativamente, estas propriedades são
devidas às estruturas genética e enzimática específicas dos microrganismos que lhe
conferem propriedades de acidificação, aromatização, textura, produção de
metabolitos naturais, entre outros. Também a sua morfologia e estrutura conferem-lhe
um poder de síntese excepcional como consequência das suas pequenas dimensões
e rapidez de crescimento. Este facto permite obter concentrações celulares elevadas
em muito pouco tempo. Estas características são reforçadas pela capacidade de se
poderem obter rapidamente estirpes seleccionadas e mutantes mais adequados aos
processos tecnológicos. Também a engenharia genética aplicada aos
microrganismos aumenta quase sem limites as prespectivas de transformação para
uma maior rentabilização.
As potencialidades dos microrganismos tem levado as indústrias alimentares e
biológicas a utilizá-los como agentes de produção de metabolitos e como agentes de
transformação para a obtenção de variadíssimos produtos.
Refira-se, no entanto, que a técnica de manipulação dos microrganismos é
antiquíssima, mas foi só neste século que ela atingiu uma tal dimensão e poder que
são perfeitamente legítimas as preocupações que resultam do seu domínio e
aplicações.
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Citação de René Dubos
A microbiologia é uma ciência tâo vasta e extraordinária que permite
aos microbiologistas estarem envolvidos em actividades tâo diferentes como,
o estudo da estrutura do gene, o control de doenças e em processos
industrais baseados na grande capacidade, destes seres vivos, decomporem
e sintetizarem moléculas orgânicas complexas. A microbiologia é uma das
profissôes mais compensadoras devido a dar, aos seus profissionais, a
oportunidade de estar em contacto com todas as outras ciências naturais,
facto que contribui de diferentes maneiras para o melhoramento da
humanidade.
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