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PROJETOS de REDD+
na américa latina
O conteúdo da seção de projetos foi construído a partir de questionários respondidos pelos próprios
responsáveis dos projetos, tanto de forma escrita quanto por conversas telefônicas. Dúvidas específicas sobre
cada projeto devem ser encaminhadas diretamente às instituições responsáveis pelos mesmos. O Idesam e a
TNC Brasil comunicam que não têm responsabilidade pelos dados e informações dos projetos aqui publicados.
2a. edição
manaus, AM, braSil
JULHO de 2010
PARTe 1
introdução . . . . . . . . . . . . . . . 7
apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
o papel dos projetos de redd+. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
incentivos positivos para REDD+. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Status do REDD+ pós-cop15. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
o papel das populações indígenas e tradicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
o mercado voluntário de carbono. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
padrões de certificação para redd+. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
PARTe 2
resumo dos projetos de
redd+ na américa latina. . . . 25
como interpretar o guia de projetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
descrição dos aspectos técnicos e metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
os projetos de redd+
noel kempff (bolívia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
psa carbono - acre (brasil). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
ecomapuá (brasil) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
gênesis (brasil). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
transamazônica (Brasil). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Juma (Brasil) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Antonina e guaraqueçaba (Brasil). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Suruí (Brasil) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Sociobosque (equador). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
biosfera maya (Guatemala). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
sierra de las minas (guatemala). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Sierra del Lacandón (guatemala) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
MBaracayú (paraguai). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
alto mayo (peru). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
cordilheira azul (peru). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
madre de diós (peru) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
tambopata (peru). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
PARTe 3
análises e
considerações finais. . . . . . . 81
análise geral dos projetos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
acrônimos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
glossário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
PARTe 1
introdução
Figura 01 Redução total de emissões por país e número de projetos
Guatemala
23,1 milhões tCO2e
3 projetos
Brasil
Equador 267 milhões tCO2e
190 milhões tCO2e
7 projetos
1 projeto
Peru
35,5 milhões tCO2e
4 projetos
Paraguai
13 milhões tCO2e
1 projeto
apresentação
Este guia foi desenvolvido a partir de uma parceria entre o Instituto de Conservação e Desen-
volvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) e a The Nature Conservancy – Brasil (TNC).
Trata-se de uma publicação prática e simplificada para apresentação de projetos e iniciativas
relacionadas a REDD+ atualmente em desenvolvimento em diversos países da América Latina.
Existe uma grande expectativa por parte de governos e atores subnacionais (prefeituras, proprie-
tários de terras privadas, associações indígenas, ONGs, etc.) quanto ao potencial de um meca-
nismo de REDD+ que possa promover e viabilizar a conservação de florestas e o desenvolvimen-
to de comunidades. Governos estaduais e municipais vêm buscando um maior envolvimento
nas discussões internacionais e o papel desses atores na construção de estratégias de REDD+
tem se mostrado de grande relevância. No caso brasileiro, o estado do Amazonas já possui uma
legislação específica sobre REDD+ em Unidades de Conservação (UC’s), e outros estados, como
Acre, Pará e Mato Grosso, estão construindo seus programas e estratégias. Há também no Brasil
um projeto de lei federal (PL 5586/2009) que prevê a criação de um sistema nacional de REDD+,
atualmente em tramitação no Congresso Nacional. É crescente a necessidade de informações
claras e concretas sobre resultados de negociações, e suas implicações sobre as iniciativas e pro-
jetos já em andamento e as diferentes abordagens metodológicas para construção de projetos,
que devem integrar tais processos.
Neste guia, foram mapeados 17 projetos em diversas fases de implementação (ver pag 25) nos
seguintes países: Bolivia, Brasil, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru, além de iniciativas sub-
nacionais e outros programas internacionais relacionados a REDD+ como o Fundo Amazônia
no Brasil e o FCPF do Banco Mundial.
10
Os projetos e iniciativas piloto subnacionais têm um papel muito relevante pois têm maior agi-
lidade de implementação e permitem gerar lições importantes, que muitas vezes podem ser
replicáveis a outras situações. Também têm um papel fundamental no processo de preparação
(readiness) tanto em termos técnicos/metodológicos, mas sobretudo na construção de capacida-
des institucionais em países que ainda não têm um nível de governança suficiente para imple-
mentar esquemas de REDD+ em escala nacional. Desta maneira, entendemos que os projetos
subnacionais podem ser uma valiosa ferramenta de implementação para REDD+, inclusive para
países que almejam estabelecer sistemas nacionais. Lições decorrentes desses projetos podem
ainda informar o desenho de políticas internacionais, nacionais e subnacionais, aproximando
processos de situações e soluções já experimentadas na prática.
PARTe 1 introdução
11
1 REDD+ (Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal mais Conservação Florestal, Manejo
Florestal Sustentável e Manutenção de Estoques Florestais | 2 Sétima Conferência das Partes das Nações Unidas em Mudança
Global do Clima (7th Conference of Parties on Global Climate Change) – COP 7, realizada em Marrakesh, na Índia, em 2001.
| 3 O documento conhecido como os “Acordos de Marrakesh” (Decisão 17/CP.7), foi um pacote de políticas e medidas para a
regulamentação das atividades válidas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
12
Nos anos seguintes, diversos estudos e propostas foram conduzidos paralelamente às discussões
oficiais, buscando formas voluntárias de compensar esforços empreendidos para a redução de
emissões do desmatamento. Dentre estas, teve especial importância a proposta para criação de um
“Mecanismo de Redução Compensada do Desmatamento” (Santilli et al, 2005)4, apresentado pela
primeira vez em 2003, durante a COP-9 em Milão.
Estas iniciativas foram fundamentais para que, em 2005, durante a décima primeira Conferência
das Partes (COP 11/MOP 1), o assunto voltasse a entrar em pauta nas negociações da UNFCCC. A
proposta veio através de uma submissão conjunta de Papua Nova Guiné e Costa Rica5, apoiada por
Bolívia, República Centro-Africana, Chile, Congo, República Democrática do Congo, República
Dominicana e Nicarágua (conhecidos como “Coalizão dos Países de Florestas Tropicais”)6.
Em 2006, durante a COP-12 / MOP 2, em Nairóbi, todos os países foram convidados a submeter
suas visões sobre abordagens políticas e incentivos positivos que pudessem ser adotados para a
“Redução de Emissões do Desmatamento nos Países em Desenvolvimento (REDD)” no âmbito da
Convenção7. Em fevereiro de 2007 o Brasil apresentou sua proposta sobre “abordagens políticas e
incentivos positivos para redução das emissões por desmatamento nos países em desenvolvimen-
to8”. O Brasil propunha um arranjo voluntário, baseado em performance, para remuneração aos
países em desenvolvimento que realmente demonstrassem redução de suas taxas de desmatamen-
to em relação à média histórica dos últimos dez anos. Posteriormente essa proposta foi implemen-
tada nacionalmente com o lançamento do Fundo Amazônia (ver página 77).
Em março de 2007, foi organizado pela UNFCCC o II Workshop Técnico sobre Redução de Emis-
sões do Desmatamento nos Países em Desenvolvimento9. O Workshop teve como objetivo prin-
cipal discutir as diferentes visões dos países membros e entidades observadoras sobre a evolução
do REDD e foi encerrado com o consenso de que é urgente a adoção de medidas efetivas para a
redução das emissões do desmatamento. Foi consenso também que existem metodologias, técni-
cas e ferramentas suficientes para estimar e monitorar essas emissões, não existindo assim impe-
dimentos técnicos para o avanço na implantação imediata de um mecanismo para REDD, o que
falta é vontade política.
Ao final de 2007, durante a COP-13 realizada em Bali, ocorreram avanços significativos para a
inclusão de florestas no regime internacional do clima. Foi adotado o Plano de Ação de Bali, tam-
bém conhecido como “Mapa do Caminho de Bali”, que estabeleceu um processo de discussão para
4 A proposta pode ser encontrada no livro “Tropical Deforestation and Climate Change”, disponível no website do IPAM: www.
ipam.org.br | 5 Disponível em http://unfccc.int/resource/docs/2005/cop11/eng/misc01.pdf. | 6 Para mais detalhes sobre o contexto
histórico de REDD, veja Humphreys, 2008. | 7 Submissões disponíveis em: http://unfccc.int/methods_and_science/lulucf/
items/3896.php | 8 Disponível em http://unfccc.int/resource/docs/2007/sbsta/eng/misc02.pdf | 9 O I Workshop sobre Redução de
Emissões por Desmatamento nos Países em Desenvolvimento foi realizado em Outubro de 2006 na cidade de Milão, Itália. Maiores
informações em: http://unfccc.int/methods_and_science/lulucf/items/3896.php
PARTe 1 introdução
13
Sob o marco do Mapa de Bali, foram criados dois grupos de trabalho: o AWG-LCA11 e o AWG-
KP12. O primeiro grupo discute a cooperação de longo prazo, no âmbito da Convenção, e é onde
ocorrem as discussões sobre REDD. O segundo grupo discute questões específicas do Protocolo
de Quioto e seu provável novo período de compromisso.
Durante o ano de 2009, aconteceram diversas reuniões intermediárias que tinham como objetivo
avançar nos textos de negociação, que começaram a ser construídos no início do ano e que seriam
adotados em Copenhagen. Assim, houve alguns avanços e o texto, que foi bastante trabalhado,
chegou à COP15 com um tamanho menor e mais “amigável”, porém com diversos temas polêmi-
cos a serem negociados.
No entanto, não houve uma definição tão completa quanto se esperava. Com a morosidade e polê-
mica dentro das negociações de outros temas fundamentais para o futuro regime climático – como
a definição das metas dos países desenvolvidos (Anexo I) para o período pós-2012 – e com o tempo
10 A Decisão COP/13 fornece um guia de boas práticas para incentivar projetos e iniciativas piloto, serão utilizadas como
“atividades demonstrativas de REDD” para fornecer subsídios ao processo de negociação da UNFCCC. O documento está
disponível em: http://www.idesam.org.br/documentos/01_ResumoCOP13.pdf | 11 Ad-hoc Working Group on Long-Term
Cooperative Action | 12 Ad-hoc Working Group on the Kyoto Protocol
14
Por outro lado, aconteceram, avanços importantes que contribuíram para esboçar o desenho final
do mecanismo de REDD+. Dentre eles, podemos citar a aprovação de uma “minuta de decisão13”
no SBSTA14, que destaca dispositivos que incluem a inserção de uma salvaguarda específica à ga-
rantia de direitos e inclusão de populações indígenas e tradicionais nos mecanismos de REDD+.
Outro ponto definido foi a possibilidade de países terem sistemas de monitoramento subnacionais,
desde que conectados à um sistema nacional. Isto não se aplicaria à escala de implementação por
projetos, mas permitiria que um país estratifique suas regiões de monitoramento como parte de
seu sistema nacional.
Já no AWG-LCA, grupo que negocia os aspectos políticos do REDD+, pouco foi efetivamente
definido. No entanto, houve consenso em alguns pontos importantes que já começam a desa-
13 FCCC/CP/2009/11/Add.1, Decision 4/CP.15 - Methodological guidance for activities relating to reducing emissions from
deforestation and forest degradation and the role of conservation, sustainable management of forests and enhancement of forest
carbon stocks in developing countries. | 14 SBSTA – Subsidiary Body for Scientific and Technological Advice (Corpo Auxiliar para
Conselho Científico e Tecnológico)- Este grupo serve como um link entre informações e avaliações providas por experts (como
IPCC) e a COP, que está focada na formulação de políticas.
PARTe 1 introdução
15
tar alguns nós que vinham se ar- O phased approach, citado no texto de REDD+, é o proces-
rastando das negociações prévias, so de implementação do mecanismo em três fases diferentes,
consolidados numa minuta de encorajando os países a progredirem da construção e imple-
decisão da COP que, como a do mentação inicial de capacidades até alcançarem resultados de
SBSTA, não chegou a ser aprova- longo prazo em REDD+ que possam ser medidos, reportados
da em Copenhagen. Um deles é a e verificados. As fases previstas são:
definição do escopo de REDD, que
agora torna-se definitivamente Fase 1: Desenvolvimento de uma estratégia nacional de
REDD+, ou “redução de emissões REDD+, atividades de desenvolvimento de capacitação e
do desmatamento e degradação construção de capacidades, fortalecimento institucional e
florestal e o papel da conservação, melhoria da capacidade de monitoramento
manejo sustentável de florestas e
aumento dos estoques de carbono Fase 2: Implementação de políticas e medidas nacionais
florestal em países em desenvol- de REDD+ desenhadas na fase anterior, abordando ade-
vimento”. O outro é a previsão de quadamente as causas do desmatamento, permitindo uma
implementação em fases, proposta possível compensação de atividades demonstrativas basea-
conhecida como phased approach, das em indicadores de redução de desmatamento.
onde as atividades e fluxos de re-
cursos se iniciariam por ações de Fase 3: Implementação em escala total. Nesta fase, poderiam
fortalecimento institucional e de acontecer compensações financeiras, baseadas em resultados,
governança, definição de marcos devidamente medidos, relatados e verificados.
legais e implementação de ativida-
des demonstrativas, evoluindo aos
poucos até a efetiva implementação em escala nacional.
No entanto, os pontos importantes e cruciais brevemente mencionados acima acabaram tendo sua
definição adiada para as próximas negociações, em virtude da falta de consenso entre os países.
Dentre estes, três podem ser considerados os maiores gargalos da implementação de um mecanis-
mo de REDD+. São eles:
1 Financiamento
Sem dúvida, o tema mais importante para a construção do mecanismo de REDD+ é a estratégia de
financiamento que será criada para viabilizar suas ações. As opções que estão na mesa são:
2 Escala
Outro tema de extrema importância se refere às escalas de implementação que serão consideradas
para o funcionamento do mecanismo dentro da Convenção. De um lado, existe a proposta de
sistemas nacionais onde a captação, distribuição de recursos e implementação de atividades seria
feita diretamente por governos nacionais. Esta proposta utiliza como principal argumento a jus-
tificativa de que sistemas nacionais evitam vazamentos15 de um projeto para outro, e facilitam as
atividades de monitoramento.
De outro lado está a proposta da implementação de REDD+ por meio de iniciativas e projetos sub-
nacionais, algo similar ao atual mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). Essa abordagem só
se justifica sob a argumentação de que problemas metodológicos são plenamente solucionáveis e
que somente através de projetos vinculados ao mercado de carbono seria possível atingir o volume
de recursos necessário para efetivamente atacar o problema do desmatamento em escala global.
Atualmente, é possível afirmar que apesar do risco de existir vazamentos em escala subnacional,
é possível identificar e monitorar o problema, excluindo estas emissões da contabilidade de redu-
ções de cada projeto. Além disso, atividades em escala subnacional podem ser mais ágeis em captar
recursos e implementar suas atividades, o que gera conhecimentos e capacidades que podem ser
replicáveis não apenas em outros projetos, mas também podem servir como etapa inicial de evo-
lução para um sistema nacional de REDD+ . A minuta do texto do LCA sobre REDD+ inclui uma
opção relativa ao reconhecimento de atividades subnacionais por um período temporário até sua
integração a uma abordagem nacional.
15 “Vazamentos são definidos pela mudança líquida nas emissões antropogênicas por fontes de gases de efeito estufa, que ocorrem
fora dos limites do projeto e são mensuráveis e atribuíveis à atividade de projeto” | 16 Para mais detalhes ver Pedroni et al 2009
PARTe 1 introdução
17
3 Linha de base
Por último, tem sido praticamente impossível se atingir um consenso sob qual seria a melhor forma
para o estabelecimento de cenários de referência em nível nacional, ou linhas de base, sobre os quais
seriam calculadas as reduções de emissões que se espera atingir com o REDD+.
Atualmente, vem sendo discutida cada vez mais uma abordagem denominada “estoque-fluxo”
(stock-flow), que é baseada na remuneração da conservação florestal e de seus estoques de carbono.
O conceito de estoque-fluxo se baseia na necessidade de gerar incentivos para a conservação, tanto
em “florestas ameaçadas” (onde se pode quantificar uma tendência eminente de desmatamento,
18
ou linha de base); como em florestas que não apresentem uma ameaça imediata de desmatamento.
Esta abordagem, que propõe a manutenção e alocação de recursos para preservação dos estoques
aliados à redução do desmatamento a partir de uma linha de base é também citada em publicações
como Strassburg et al (2009), Fearnside (1997) e Cattaneo (2009).
Dentre outros pontos positivos desta abordagem, vale destacar que os projetos não necessitariam
demonstrar sua adicionalidade, pois são compensados diretamente pela conservação de estoques
florestais e, em conseqüência também não requer determinação de cenários de linha de base e
vetores locais do desmatamento. Além disso, previne a ocorrência de vazamentos e elimina po-
tenciais incentivos perversos associados com a criação de ameaças de desmatamento para “inflar”
cenários de linha de base.
PARTe 1 introdução
19
A abordagem permite também alinhar escalas nacional e subnacional, uma vez que os obstáculos
técnicos (linha de base, adicionalidade, permanência, etc) não estarão presentes. Em resumo, o
pagamento pelos estoques de carbono cria um custo de oportunidade para as florestas, ao invés de
analisar apenas o custo de oportunidade de cenários alternativos de uso da terra. Especialmente
no caso da América Latina, o pagamento por estoques beneficiará povos indígenas e comunidades
locais e tradicionais, que vêm ao longo dos séculos conservando as florestas em seus territórios.
Os povos da floresta têm direito ao consentimento informado, prévio e livre (Griffths e Martone,
2009). Assim, é fundamental para o sucesso de initiativas de REDD+ que povos indígenas e popu-
lações tradicionais estejam envolvidas tanto na elaboração quanto na implementação e monitora-
mento destas atividades. Um entendimento dos papéis, responsabilidades e potenciais riscos por
parte destes atores numa iniciativa de REDD+ deve estar claro.
Outra questão também importante diz respeito à repartição justa e equitativa de benefícios. As ini-
ciativas de REDD+ devem criar mecanismos que garantam que os benefícios oriundos do carbono
cheguem de fato às mãos das comunidades comprometidas com o projeto. Desta forma, deve fazer
parte destas iniciativas a criação de mecanismos de controle e transparência sobre a repartição de
benefícios entre os diversos atores envolvidos.
que a minuta de texto sobre REDD+ do LCA faz menção à UNDRIP – Delaração das Nações
Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que inclui todos os direitos mencionados acima. A
inclusão da UNDRIP no texto atende a uma demanda desses povos no processo de negociação.
Este novo mercado, chamado de “mercado voluntário” por não estar ligado a metas obrigatórias
dos países, vem crescendo de maneira bastante rápida nos últimos 3 anos. O volume de créditos
transacionados aumentou mais de 64% entre os anos 2006 e 2007, e mais de 89% entre os anos
2007 e 2008. Assim, o volume financeiro movimentado teve um aumento extremamente significa-
tivo, movimentando em 2008 praticamente sete vezes o montante negociado em 2006.
Tabela 01 Valores globais transacionados anualmente, por tipo de mercado (em milhões de dólares)
2006 2007 2008
17 Hamilton, K et al. State of the Voluntary Carbon Markets 2009. Ecosystem Marketplace & New Carbon Finance. Disponivel em:
http://ecosystemmarketplace.com/documents/cms_documents/StateOfTheVoluntaryCarbonMarkets_2009.pdf
PARTe 1 introdução
21
Destes valores totais, a grande maioria refere-se à créditos de A/R21, visto que estes são créditos
incluídos dentro das regulações da Convenção do Clima e também podem ser negociados no
mercado voluntário. Já os créditos de projetos de REDD+22 representam o segundo maior volume
transacionado no mercado voluntário OTC, e correspondem por 24% (3,1 MtCO2) do volume
total transacionado neste mercado – o que indica a grande significância de atividades de REDD+
neste cenário.
Estes projetos têm sido concebidos principalmente por meio de acordos bilaterais e metodologias
com processos de validação independente, que permitem uma aplicação imediata e começam a di-
tar a formação de um mercado voluntário de carbono para atividades de REDD+. Este guia busca
enquadrar o “estado da arte” para projetos que se incluem neste perfil dentro da América Latina.
18 OTC significa “over the counter”, ou seja, o mercado voluntário que não se realiza sob nenhuma plataforma ou bolsa e
geralmente é caracterizado por negociações diretas ou bilaterais. Pode ter uma tradução como “fora do balcão” | 19 15.3 MtCO2
de créditos florestais foram transacionados no Mercado Voluntário OTC. Desenvolvedores de Projeto, representando 209
projetos diferentes executaram vendas primárias, o que representa 13.2 MtCO2 em créditos. Os outros 2MtCO2 foram rastreados
como vendidos por intermediários. | 20 Disponível em http://moderncms.ecosystemmarketplace.com/repository/moderncms_
documents/SFCM_2009_smaller.pdf | 21 Ver glossário | 22 Corresponde aos projetos que tem REDD como sua atividade principal
e não inclui projetos com atividades combinadas (ex: REDD + A/R)
22
Mi US$ MtCO2e
800 -140
700 - 120
600
- 100
500
- 80
400
- 60
300
Mi US$
- 40
200
100 - 20
MtCO2e
0 -0
2006 2007 2008
Padrões de Certificação
Seguindo a lógica do MDL e das iniciativas piloto de REDD+, o desenvolvimento de projetos deve
adotar metodologias conceituadas para quantificação e monitoramento dos créditos de carbono,
apresentando-as em Documentos de Concepção de Projetos (DCP)23. Como estas transações são
feitas geralmente de maneira bilateral e não seguem regras pré-definidas, é fundamental a adoção
de salvaguardas que garantam que o projeto em questão seja transparente e robusto. Como forma
de dar credibilidade a este processo, muitos projetos têm optado por se submeterem à análise e
certificação por uma validação independente.
Dentre estes padrões, destacam-se o Voluntary Carbon Standards (VCS)24, que tem foco maior
na parte específica relacionada aos cálculos de carbono e questões metodológicas. Outro padrão
bastante utilizado por vários projetos é o Climate, Community and Biodiversity Standards (CCB
Standards)25, que verifica os impactos positivos do projeto em termos de co-benefícios. Além
dos relacionados ao clima, esses são referentes a impactos positivos nas comunidades e sobre a
biodiversidade.
23 Um exemplo de DCP é o apresentado pelo Projeto de RED da RDS do Juma, disponível em:
http://www.idesam.org.br/projetos/rdsjuma.php | 24 Maiores informações em: www.v-c-s.org | 25 Os padrões de Clima,
Comunidade e Biodiversidade (CCB) para Concepção de Projetos, foram criados para fomentar o desenvolvimento e
comercialização de projetos que forneçam benefícios significativos e confiáveis para o clima, para as comunidades e para a
biodiversidade de maneira integrada e sustentável. Os projetos que cumprem com os Padrões CCB adotam boas práticas a fim
de gerar reduções confiáveis e robustas de emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que geram também benefícios
líquidos para as comunidades locais e para a biodiversidade: Disponível em: www.climatestandards.org
PARTe 2
resumo dos
projetos
de redd+ na
américa latina
26
STATUS DO PROJETO
Demonstra o status atual do projeto e/ou se está em validação, já foi validado sob um padrão
específico, ou se os créditos gerados já foram vendidos.
FONTES DE FINANCIAMENTO
Indica qual será a estratégia financeira que será adotada para acessar fundos para implementar as
atividades dos projetos26. São divididas em duas categorias:
26 Note que este item é referente apenas ao destino dos créditos, o financiamento para atividades de preparação (readiness) não são
considerados
PARTE 2 resumo dos projetos de redd+ na américa latina
27
LINHA DE BASE
Indica qual a abordagem de linha de base, ou o cenário na ausência do projeto (business-as-usual
–BAU) podendo ser:
Linha de base histórica, que considera taxas médias Linha de base modelada ou projetada,
de desmatamento em um determinado período de desenvolvida baseada em modelos de mudança
referência, projetando-as para o futuro de forma linear. de uso e cobertura do solo que projetam o
desmatamento futuro baseados na análise dos
agentes e causas socioeconômicas específicas.
CO-BENEFíCIOS
Além dos benefícios climáticos gerados por reduções de emissões, outros benefícios ambientais e
sociais são também gerados em projetos de REDD+.
Linha de base
A linha de base é o cenário que representa a quantidade de emissões de GEE oriundas do desma-
tamento que ocorreria na ausência do projeto. Os métodos usados na determinação de linhas de
base influenciam diretamento a magnitude e precisão das estimativas de reduções de emissões de
carbono. É importante que a linha de base seja monitorada ao longo do tempo e eventuais corre-
ções sejam feitas em situações onde ocorram alterações em cenários políticos, taxas de desmata-
mento e condições socioeconômicas relacionadas ao projeto.
Adicionalidade
A adicionalidade é a demonstração de resultados reais, mensuráveis e de longo prazo esperados
pelo projeto quanto à redução ou prevenção de emissões de carbono que não ocorreriam em sua
ausência. As reduções de emissões só devem ser contabilizadas para REDD+ quando comprovam
claramente que são atribuíveis às atividades do projeto e representam uma alteração no cenário
de linha de base.
Permanência
A longevidade de estoques de carbono considerando o manejo e eventuais distúrbios naturais que
possam afetá-los . Uma característica de projetos de carbono baseados no uso da terra é a possibili-
dade de reverter os benefícios de carbono, seja pela ocorrência de distúrbios naturais (ex: . incêndios,
doenças, pestes e outros eventos climáticos incomuns), ou da falta de garantias concretas de que as
atividades do uso da terra originais não serão retomadas após o término das atividades do projeto.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
29
os projetos
de redd+
Projeto de Ação Climática Noel Kempff Mercado (PAC-NK)
O projeto foi validado pela Societe Generale de Surveillance, com base em dire-
trizes do MDL para projetos A/R, melhor conhecimento disponível à época de
30 anos elaboração do projeto.
5.837.341 tCO2e
194.578 tCO2e/a
Aspectos Metodológicos
Linha de base27
Através de imagens de satélite de 1986, 1992 e 1996, foi possível calcular a taxa
de desmatamento na área do projeto. A simulação do desmatamento futuro foi
feita através do modelo GEOMOD28, que utiliza dados históricos para projetar a
quantidade e localização do desmatamento. Os resultados, baseados nos vetores
de desmatamento, estimaram as áreas ameaçadas de corte raso nos próximos 30
anos. Para o cálculo da redução de emissões, cada uma das áreas recebeu uma de
27 Como as reduções de emissões se deram pela redução de desmatamento e de degradação, houve duas
abordagens distintas de contabilidade. Como não havia metodologias disponíveis à época, o projeto criou sua
própria, que foi revista e aprimorada várias vezes à medida em que se tornaram disponíveis novas informações,
refinamentos metodológicos e tecnologias. | 28 O Geomod é um modelo de simulação de mudança de uso do
solo, implementado no Idrisi, um software de SIG desenvolvido pela Clark University (Pontius et al., 2001; Brown
et al., 2007). É um modelo baseado em grids que prevê a transição de uma classe de uso do solo para outra, por
exemplo, a locação de células grid que passam, através do tempo, da classe 1 para a classe 2. Assim, o Geomod
pode ser utilizado para prever áreas que possivelmente passarão da classe florestal 1 para a classe não florestal 2
(desmatamento) em um dado período de tempo.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
31
Adicionalidade
O projeto não é obrigatório por lei. Apesar de já haver um parque adjacente à área de expansão,
expandir o parque não era obrigatório e nem planejado. Um estudo de viabilidade conduzido
anteriormente ao projeto demonstrou que o Governo da Bolívia não tinha recursos nem vontade
política suficientes para cancelar as concessões florestais e expandir o parque. O financiamento do
projeto permitiu mudar o status-quo através da compra das concessões, expansão do parque e ati-
vidades de desenvolvimento comunitário visando reduzir a conversão de florestas. Sem o projeto,
o corte raso continuaria a se expandir nas áreas de concessão, novos núcleos populacionais e co-
munidades sem direitos à terra, como era prática comum. Por fim, o cenário com projeto resultou
em menos emissões do que o cenário da linha de base.
Vazamentos
O maior risco de vazamentos a curto prazo seria a expansão das atividades de agricultura de sub-
sistência das comunidades vivendo na borda da área extendida do parque. Para tanto, foram im-
plementadas ações de desenvolvimento comunitário, campanhas educacionais, assistência para
garantir o status legal e título da terra, e um plano de manejo para terras ancestrais. Talvez a prin-
cipal estratégia tenha sido designar uma área de 360.565 hectares para as comunidades vizinhas
como “território ancestral indígena”, garantindo assim seus direitos de propriedade. Foi também
estabelecido um buffer ao redor da área para monitorar possíveis vazamentos. Como a ameaça de
desmatamento vinha da expansão da agricultura de subsistência e não da agricultura comercial,
não houve vazamento de mercado.
Permanência
A área do projeto foi incorporada a um parque nacional, conforme Decreto Supremo do Governo
Boliviano, e tem proteção efetiva do Serviço Nacional de Áreas Protegidas (SENARP). A admi-
nistração do projeto é feita pela FAN. O Governo Boliviano tem direito a 49% das reduções do
projeto, havendo portanto convergência de interesses. Foi estabelecido um fundo para a proteção e
manejo do parque aumentado. Com novas oportunidades de geração de renda, direito à terra e um
plano de uso sustentável da terra, espera-se que as comunidades não usem a área do parque para
32
agricultura de subsistência. O risco de fogo foi calculado com base em dados sobre a ocorrência de
incêndios de 1997 a 2005. Como resultado, houve a dedução de 5% dos créditos a serem gerados
como garantia contra o risco de fogo.
Monitoramento
O projeto tem uma área de controle de 15km no entorno do parque, baseado na teoria de que
os fazendeiros de subsistência que estariam desmatando a área do projeto não viajariam longas
distâncias para desmatar outros locais. São monitorados a dinâmica de biomassa (625 parcelas
permanentes) e o desmatamento, impactos sócio-econômicos, desenvolvimento de mercados
para madeira, além de riscos como vazamentos e incêndios. Estas atividades são feitas pela FAN-
Bolívia. A FAN monitorou os gastos dos ex-concessionários a fim de indentificar se houve rein-
vestimentos em outras concessões. Apesar da maioria ter abandonado a indústria madeireira, o
sócio minoritário reinvestiu 7,3% da indenização numa concessão próxima, explorada em 1997 e
1998. Isso não foi contado como vazamento privado porque uma parte das colheitas já havia sido
considerada no modelo econométrico da Bolívia.
Principais desafios
Como não havia precedentes de projetos de carbono florestal na Bolívia antes do projeto, a infra-
estrutura para a venda de créditos não existia quando o projeto começou e o tratamento tributário
dos créditos não era claro. Seguem pendentes portanto a comercialização de créditos e a repartição
de benefícios. Há um processo em curso pelo Governo da Bolívia a fim de definir tais questões.
Projeto Pagamento por Serviços Ambientais - Carbono do
Estado do Acre (Projeto PSA CARBONO)
Brasil O projeto visa valorizar o ativo florestal do Acre de forma a viabilizá-lo como fonte
de serviços ambientais para as atuais e futuras gerações da população do Estado,
da Amazônia e do planeta. Em sua fase inicial irá abranger 8 municípios locali-
zados no Estado do Acre, Brasil, somando 5.800.000 ha em diversas áreas com
diferentes tipos de vegetação da floresta amazônica.
Em uma primeira etapa do projeto, foram definidas áreas prioritárias, sob maior
pressão de desmatamento e que englobam diversas categorias fundiárias (terra in-
Taxa de desmatamento
do país: 0,6% – GFMD dígena, unidades de conservação, assentamentos, etc.). Estas áreas foram selecio-
nadas a fim de orientar o investimento inicial dos recursos financeiros.
Taxa de desmatamento
do projeto: 0,42%
O projeto, que é proposto e coordenado pelo Governo Estadual do Acre, em par-
ceria com WWF Brasil, IUCN, GTZ e IPAM prevê um programa de Pagamento
por Serviços Ambientais, incluindo a compensação por redução das emissões do
desmatamento, degradação florestal, manejo sustentável e conservação de flores-
tas (REDD+) – configurando a fração Carbono.
Aspectos metodológicos
15 anos Linha de base
62,5 milhões tCO2e Considera as taxas médias históricas estaduais de desmatamento nos últimos dez
4.166.667 tCO2e/a
anos, projetando-as para um período de cinco anos (mesma abordagem do Fun-
do Amazônia), com revisão a cada cinco anos. Para a quantificação das emissões
reduzidas para cada área, o projeto utilizou uma quantidade média de carbono
por hectare (com base em estudos locais) e calculou o desmatamento evitado
em cada área prioritária, supondo que 50% do desmatamento futuro do Estado
ocorrerá dentro destas áreas, visto que estas se localizam nas regiões mais críticas
de pressão de desmatamento no Acre.
Adicionalidade
Os critérios para a demonstração da adicionalidade do projeto ainda estão em
processo de elaboração pelos proponentes do projeto.
Vazamentos
Serão monitoradas as taxas de desmatamento em todo o Estado, e parte dos crédi-
tos será assinalada como seguro para o caso de possíveis vazamentos.
Permanência
A estratégia se baseia em custear e reestruturar o sistema de produção das pro-
priedades privadas, intensificar e aumentar a produtividade de áreas desmatadas e
utilizar as florestas de maneira sustentável, garantindo sua existência e a provisão
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
35
contínua dos SA. O projeto considera que a geração de renda sustentável aliada a melhorias no
sistema de comando e controle aumenta as chances de garantia de permanência, uma vez que con-
solida a conservação e o manejo florestal como principal atividade econômica da propriedade.
Monitoramento
Para o monitoramento do desmatamento serão utilizados sistemas remotos, baseados no método
do Prodes e imagens Landsat, feitos pelo INPE e pela Unidade Central de Geoprocessamento do
Estado do Acre.
Principais desafios
Certificação em larga escala e captação de recursos para custeio do projeto.
Implementação de um sistema de governança transparente e eficaz.
Adicionalidade
A análise de adicionalidade do projeto foi elaborada através do estabelecimento de
cenários de prováveis usos do solo na ausência do projeto. A primeira etapa foi a
identificação de cenários alternativos de uso do solo, aliado a uma análise de inves-
timentos para determinar se o cenário do projeto seria menos atrativo economica-
mente frente aos outros cenários. Na ausência do projeto, espera-se a continuação
de atividades de desmatamento praticadas pelos agentes e vetores identificados.
Vazamentos
O projeto trabalha com a hipótese de que a principal fonte de vazamentos será
o deslocamento de agentes externos para outras áreas. Assim, será utilizada a
“REDD methodology Framework” Versão 1.0 – Abril de 2009 atualmente em va-
30 http://www.netinform.net/KE/files/pdf/1_REDD-MF%20REDD%20methodology%20framework%20v1.1.pdf
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
37
Permanência
Será assegurada através do plano de monitoramento do projeto, que prevê ações de controle e
fiscalização, bem como desenvolvimento de atividades econômicas junto às comunidades do en-
torno. Além disso, será criado um buffer que irá reter a comercialização de 20 a 40% dos VERs
(verified emissions reductions) gerados, para suprir casos de não-permanência dos créditos.
Monitoramento
Será feito com base na metodologia “REDD Methodology Framework” versão 1.031, atualmente em
processo de validação junto ao Voluntary Carbon Standards – VCS, e será realizado pelo IAS – Ins-
tituto Amazônia Sustentável.
Principais desafios
Envolvimento efetivo da comunidade nas atividades e benefícios do projeto, além da concientização
e sensibilização da população com relação à conservação e o uso sustentável da biodiversidade.
31 Disponível em www.netinform.net/.../1_REDD-MF%20REDD%20methodology%20framework%20v1.1.pdf
Projeto de REDD Genesis
Brasil O objetivo do projeto é garantir a proteção de uma área natural de cerrado, loca-
lizado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Serra do Lajeado, no distrito
de Taquareussu, próximo à da cidade de Palmas, no Estado do Tocantins, região
Norte do Brasil. O projeto tem a intenção de transformar a área, de 121.415 hec-
tares, em uma RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural. De acordo com
a legislação brasileira, esta última categoria (RPPN) tem regras de uso mais restri-
tras do que a primeira (APA).
Taxa de desmatamento
do país: 0,6 % – GFMD O projeto é desenvolvido em parceria entre o Instituto Ecológica, responsável pela
coordenação do projeto e suas atividades; a CantorCO2e Brasil, responsável pelo
Taxa de desmatamento
do projeto: 0,67 % desenvolvimento do PDD; e a CarbonFund.org, responsável pela articulação do
projeto entre a Hyundai, financiadora do projeto, e as outras instituições.
Aspectos metodológicos
Linha de base
A construção do cenário de linha de base foi feita utilizando um modelo
desenvolvido através de ferramentas de SIG, devido a dificuldade de se utilizar
projeções lineares (médias históricas de desmatamento) para explicitar os vetores
20 anos
e dinâmicas de desmatamento no estado do Tocantins, principalmente perto do
57.389 tCO2e
município de Palmas.
2.869 tCO2e/a
Adicionalidade
Na ausência do projeto, o cenário seria a continuação das práticas comuns – agri-
cultura de subsistência, uso insustentável dos recursos naturais e desenvolvimento
de pecuária utilizando práticas rudimentares, como o fogo. O projeto irá propor-
cionar uma alteração na tendência atual de manutenção de práticas insustentáveis
relacionadas ao manejo dos recursos naturais e utilização de práticas rudes como
utilização de fogo para o desmatamento da vegetação.
Vazamentos
Não é esperado que os agentes do desmatamento migrem para as áreas definidas
como “cinturão de vazamento”, estabelecidas pelo projeto. Espera-se que, com a
adoção das atividades propostas pelo projeto junto às comunidades locais, seja
gerado um “vazamento positivo”, ou seja, o “cinturão de vazamento” pode vir a
obstruir tendências de desmatamento e degradação além dos limites do projeto.
Permanência
A permanência dos créditos será assegurada através da criação de RPPNs em lei,
o que proíbe mudanças na cobertura vegetal da área. Além da garantia dos me-
canismos legais, 20% do total das VERs geradas pelo projeto serão retidas como
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
39
Benefícios adicionais
Diminuição de uso do fogo, o que irá resultar em menores índices de doenças respiratórias, que ame-
açam a qualidade de vida das populações. Preservação de áreas consideradas como hotspots.
Monitoramento
Todas as atividades propostas pelo projeto utilizarão a ferramenta “Metodologia Carbono Social”32.
Através dessa ferramenta será possível criar uma série de indicadores aplicáveis para o monitora-
mento das ações do projeto, que envolvem também monitoramento do desmatamento.
Principais desafios
O Governo Brasileiro ainda não adotou um sistema nacional de REDD+ que inclua o cerrado,
embora tenha recentemente adotado um compromisso voluntário de redução de 40% do des-
matamento desse bioma no Acordo de Copenhagen. Assim, o projeto Genesis teve que estimar
o desmatamento futuro e quantificar os estoques de carbono e consequentes emissões por meios
próprios e independentes.
Outro desafio foi estabelecer uma projeção linear que explique os vetores e dinâmicas do desma-
tamento no estado do Tocantins.
32 http://www.socialcarbon.org/Guidelines/Files/Base_Indicators_Communities_v1_Portuguese.pdf
Projeto de Desmatamento Evitado em Pequenas Propriedades
Rurais na Região da Rodovia Transamazônica
Brasil O projeto envolve um grupo de 350 famílias de produtores rurais, que vivem em
15 projetos de assentamento nas margens da Rodovia Transamazônica (BR-230)
entre os municípios de Senador José Porfírio, Pacajá e Anapú, na região oeste do
Estado do Pará. A área total do projeto é de 31.745 hectares.
Aspectos metodológicos
10 anos
3.136.953 tCO2e Linha de base
313.695 tCO2e/a
O cenário de linha de base foi estabelecido levando em consideração as taxas históricas de
desmatamento na região do projeto, demarcada dentro dos limites do “Pólo do Proam-
biente da Transamazônica33”. Para o cálculo da taxa de desmatamento na linha de base,
foram utilizadas as médias de desmatamento na região entre os anos de 1998 a 2009.34
Adicionalidade
Na ausência do projeto, o cenário provável seria de perpetuação das práticas comuns
realizadas pelas famílias que vivem na área, como agricultura de baixo rendimento
e sistema de “corte-e-queima”, o que exige a abertura constante de novas áreas flo-
restais. Como estas famílias não tem condições financeiras de alterar seu modo de
produção, os recursos oriundos do projeto são a única maneira de garantir que estas
famílias tenham acesso à capacitação, assistência técnica e infraestrutura que as per-
mitam realizar a conservação florestal e o uso sustentável de suas áreas.
Vazamentos
Por ser um projeto piloto, que envolve somente 350 famílias, os proponentes do projeto optaram por
assumir que eventuais vazamentos seriam insignificantes devido à pequena escala do projeto.
Permanência
A mudança de sistemas de produção e adoção de práticas mais sustentáveis é a principal estratégia
para garantir que estas florestas irão permanecer conservadas. Além disso, será criado um fundo
local para o projeto, que realizará a gestão dos recursos comuns (investimentos de transição) e estará
voltado para a distribuição de recursos para cada família, relativo ao tamanho da área de floresta em
pé de cada propriedade (com base em seus custos de oportunidade). O Fundo também tem o po-
tencial de alavancar recursos adicionais para que o projeto se perpetue por mais tempo do que os 10
anos iniciais, inclusive com a potencialidade de expansão para além destas 350 famílias.
Monitoramento
O monitoramento da manutenção das áreas de floresta será realizado via satélite e por meio de visitas a
campo, pelos próprios participantes. Já o monitoramento sócio-econômico se dará por meio do “Índice
de Sustentabilidade do Polo do ProAmbiente da Transamazônica35”, atualizado anualmente.
Principais desafios
Não disponível.
35 Para monitorar o impacto do projeto sobre as comunidades, foi criada uma lista de indicadores de sustentabilidade, traduzidos
como um Índice de Sustentabilidade do Pólo do ProAmbiente da Transamazônica Estes indicadores devem ser aplicados anualmente
em todas as famílias pertencentes ao projeto e, assim, reavaliado ano a ano. Incluem melhoria de renda, saúde, acesso a transportes,
escolaridade e educação, segurança alimentar, entre outros aspectos relevantes. | 36 Considerando uma cotação onde US$ 1 = R$ 2,2.
Projeto de REDD da RDS do Juma
Aspectos metodológicos
44 anos Linha de base
189 milhões tCO2e Foi utilizado o modelo SimAmazonia I37 para projetar o cenário de linha de base do
4.295.455 tCO2e/a
projeto para os próximos 44 anos. Esse modelo considera pressupostos como cresci-
mento populacional, construção de infraestruturas e outros parâmetros para estimar
as taxas futuras de desmatamento para a Amazônia. Vale lembrar que o principal vetor
de desmatamento na região é a pavimentação de estradas já existentes para melhoria
dos acessos, visto que o projeto está localizado entre a BR-319 e a BR-230, e é cruzado
pela rodovia AM-174. A pavimentação destas rodovias está prevista em planos gover-
namentais federais e estaduais e espera-se grande aumento na pressão de desmata-
mento na área do projeto após a conclusão de tais obras.
Adicionalidade
Os benefícios financeiros do carbono foram considerados na decisão de criar a re-
serva do Juma, sendo estes indispensáveis para a manutenção do projeto. Sem esses
benefícios, não seria possível a criação e efetiva implementação da Reserva.
Vazamentos
Não são esperados impactos negativos sobre os estoques de carbono nas áreas ex-
ternas, uma vez que serão adotadas estratégias para evitar a migração populacio-
nal e mudanças no uso solo. Pelo contrário, se espera que sua implementação gere
“vazamentos positivos”, uma vez que conduzirá ações para a redução do desmatamento também
fora dos limites do projeto.
Permanência
Será estabelecido um buffer de créditos (10%), conforme a metodologia estabelecida pelo VCS. Além
disso, será estabelecido um fundo permanente, com o objetivo de garantir o fluxo de recursos neces-
sários para garantir a implementação do projeto mesmo após o término da venda dos créditos.
Monitoramento
O plano de monitoramento contempla os estoques e dinâmica do carbono, desmatamento, cenário de
linha de base, biodiversidade e situação socioambiental e socioeconômica das comunidades. Para tanto,
serão feitos acompanhamentos por satélite e medições/investigações em campo.
Principais desafios
Por ser o primeiro projeto do tipo no Brasil, os maiores desafios foram o estabelecimento da linha
de base, a definição dos limites do projeto, a estimativa dos estoques de carbono e a definição da
estratégia de monitoramento. Na fase de implementação, os maiores desafios estão relacionados à
alocação eficiente dos recursos, considerando as dificuldades logísticas e adequação do projeto às
realidades locais.
Conservação da Floresta Atlântica, Projeto Piloto de Reflorestamento e
Projeto Ação contra o Aquecimento Global em Antonina e guaraqueçaba
Brasil Este é um conjunto de três projetos realizados em áreas diferentes de floresta atlân-
tica localizadas nos municípios de Antonina e Guaraqueçaba, no Estado do Paraná.
São áreas muito próximas umas das outras e que seguem a mesma lógica de projeto.
Porém, como cada projeto tem investidores diferentes e contabilidade independente
das reduções de emissões, os conceitos gerais de implementação do projeto serão
apresentados agrupados e os aspectos específicos de cada projeto separadamente.
Aspectos metodológicos
Linha de base
Gerada a partir do modelo de projeção do desmatamento GeoMod. Foi feito também um
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
45
estudo multi-temporal, para verificar a evolução histórica do desmatamento em cada tipo de vegetação.
Adicionalidade
As florestas, que antes do início do projeto eram fazendas privadas de criação de búfalo, estavam sob pres-
são de desmatamento pelos proprietários e em constante degradação pelo avanço dos búfalos na floresta.
Além disso, existiam diversos casos de extração ilegal de palmito e madeira, feito por agentes externos ao
projeto. A aquisição e transformação da área em RPPN gera um compromisso perpétuo de conservação
por parte dos novos proprietários. O recurso investido pelas empresas em troca dos créditos de carbono era
a única maneira de garantir a compra e efetiva implementação das atividades de conservação previstas.
Vazamentos
O principal risco de vazamentos era que os ex-proprietários comprassem novas áreas para instalação de um
novo rebanho de búfalos. A estratégia para lidar com este problema foi comprar as fazendas com todo o
rebanho, para evitar que este fosse instalado em outras áreas, e monitorar os ex-proprietários durante um
certo período para garantir que eles não comprariam novas áreas para instalação de atividades que causassem
desmatamento. Além disso, as áreas no entorno do projeto foram mapeadas e monitoradas, e qualquer ocor-
rência de desmatamento foi averiguada para garantir que não existia nenhuma relação direta com o projeto.
Permanência
A partir da transformação da área em RPPN, o proprietário é obrigado a garantir perpetuamente sua conser-
vação. Além disso, a implementação de programas de fiscalização e proteção ajuda a garantir que estas flores-
tas ficarão de pé. Não existe o risco de incêndios, visto que a área tem índices de precipitação altíssimos e não
existem registros de incêndios na região. Outra atividade que garante a implementação dos projetos previstos
foi a criação de um fundo permanente, para assegurar a implementação do projeto durante 40 anos.
Monitoramento
Feito através de fiscalização da área e trabalho com as comunidades.
Principais desafios
A manutenção das áreas destinadas à conservação e trabalho em conjunto com as comunidades.
Projeto carbono Suruí
Brasil O projeto consiste na proteção de uma terra indígena, atualmente ameaçada por
invasões, extração ilegal de madeira e conversão de terra para agricultura e pecu-
ária. O projeto está localizado na terra indígena Sete de Setembro, entre os muni-
cípios de Cacoal e Espigão d’Oeste no Estado de Rondônia; e Rondolândia, no es-
tado do Mato Grosso. Sua área total é de 248.000 hectares, divididos entre Floresta
Ombrófila Submontana Aberta e Floresta Ombrófila Submontana Densa.
Adicionalidade
Sob as atuais condições, a conservação florestal é economicamente menos atrativa do que
outros usos da terra. Sem os recursos do carbono, seria cada vez mais difícil para o povo
Suruí proteger suas florestas e evitar a conversão para outros usos do solo. Assim, os recur-
sos financeiros gerados pelos créditos serão investidos no estabelecimento de alternativas
econômicas viáveis baseadas em sistemas agroflorestais sustentáveis, combinados com
outras opções complementares de geração de renda que ainda estão sendo discutidas.
Vazamentos
A abordagem para lidar com vazamentos ainda está sendo definida. Vazamentos
causados por mudanças de atividades das comunidades serão monitoradas dentro
de um “cinturão de vazamentos”, e serão também desenvolvidas atividades que
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
47
possam mitigar este risco, tais como atividades alternativas de produção florestal e agricultura.
Permanência
O projeto espera lidar com o risco de não-permanência através do desenho de projeto sólido e parti-
cipativo, a criação de um mecanismo financeiro de longo prazo, baseado em um fundo permanente
e investimentos em alternativas de geração de renda sustentável. Estas atividades são parte de um
plano de 50 anos que os Suruí criaram para guiar seu desenvolvimento. Uma porção dos créditos será
reservada à comercialização, de acordo com a análise de parâmetros de risco do VCS.
Monitoramento
Será feito com a colaboração das comunidades locais, através de uma combinação entre análises
de imagens de satélite e coleta de dados sobre os estoques de carbono, além do sistema público do
PRODES38. Prevê também monitoramento social e da biodiversidade, baseado em monitoramento
comunitário com contribuições de instituições parceiras.
Principais desafios
Um dos principais desafios encontrados pelo projeto são as incertezas que existem sobre o direito de po-
pulações indígenas desenvolverem projetos de carbono, vendê-los e receber benefícios de REDD+ direta-
mente, que tem significado certa barreira e desincentivo para a captação de recursos, articulação política e
envolvimento de parceiros internacionais no projeto. Também é um desafio desenhar uma linha de base
que reflita adequadamente as futuras pressões sobre o povo Suruí, visto que as taxas históricas de des-
matamento são baixas, mas tem a tendência de aumento no futuro. Outros pontos estratégicos tem sido
fortalecer a capacidade institucional do povo Paiter-Suruí para a administração e repartição dos recursos
financeiros, e desenvolver uma abordagem para lidar com vazamentos.
38 Para mais informações, acesse www.obt.inpe.br/prodes | 39 É importante destacar que estes valores são preliminares e podem sofrer
alterações no futuro. Estes custos só serão considerados a partir do terceiro ano, quando iniciar a implementação do projeto no campo.
programa Sociobosque
Aspectos metodológicos
Linha de base
O cenário de linha de base foi definido considerando as taxas médias de desma-
tamento dos últimos dez anos no país e projetando-as linearmente para os próxi-
mos sete anos, o que corresponde a uma perda de 198.000 hectares/ano. Cálculos
7 anos preliminares estimam uma redução de emissões potencial de 190 milhões tCO2
190 milhões tCO2e em 7 anos a partir do início do projeto.
27.142.857 tCO2e/a
Adicionalidade
Informação não disponível.
Vazamentos
Informação não disponível.
Permanência
Não existem descontos previstos no caso de perda de área florestal, apenas um
mecanismo de sanção previsto para os casos de não cumprimento ao acordo. No
entanto, caso exista perda de cobertura florestal, esta é quantificada e diminui-se
o valor do incentivo.
Monitoramento
As reduções serão monitoradas pela Secretaria de Meio Ambiente, através da im-
plementação de um sistema de monitoramento de emissões de GEE, seguindo
guias de LULUCF aplicadas ao setor florestal. Ainda, o status da cobertura florestal
será monitorado através de sensores remotos e visitas de campo.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
49
Principais desafios
Garantir a sustentabilidade financeira no logo prazo, e o constante monitoramento das propieda-
des incluídas no programa.
Adicionalidade
A adicionalidade foi estudada com base na ferramenta de análise de adicionali-
dade40, que identificou diversas barreiras de investimentos, institucionais e so-
cioculturais que impedem a contenção do desmatamento na área, na ausência
do projeto.
Vazamentos
A principal ameaça de vazamentos relaciona-se com ameaças externas que podem
causar desmatamentos em outros locais a partir da implementação do projeto.
40 Disponível em http://cdm.unfccc.int/methodologies/ARmethodologies/tools/ar-am-tool-01-v2.pdf
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
51
Para lidar com este problema, atualmente, está sendo construído o cenário linha de base para uma
região de aproximadamente 4.000.000 ha (incluindo a área do projeto), que permitirá identificar
as zonas de vazamento e desenvolver alternativas para combatê-lo.
Permanência
O projeto é proposto por grupos que tem uma base social com alto nível de organização, com ex-
periência em implementação de atividades produtivas que dão valor às florestas, como por exemplo
manejo florestal e estratégias de redução do desmatamento a fim de garantir a permanência dos cré-
ditos. Além disso, pretende-se criar um buffer de créditos para lidar com outros possíveis riscos.
Benefícios adicionais
Proteção de sítios arqueológicos mayas.
Monitoramento
Estratégia em desenvolvimento.
Principais desafios
Estabelecer consenso com os principais atores, os governos e os gestores da floresta. O entendimento
geral do conceito REDD, já que existem muitas divergências e incertezas, também foi um desafio.
Programa de Serviços Ambientais por Sequestro
de Carbono na Reserva da Biosfera Sierra de las Minas
Guatemala O projeto da Reserva da Biosfera Sierra de Las Minas está localizado nos muni-
cípios de La Tinta e Purulhá, nos departamentos de Baja Verapaz e Alta Verapaz,
região central/norte da Guatemala. Sua área total é de 102.939 ha, contendo Flo-
restas Tropicais Úmidas e Floresta Montana.
Aspectos metodológicos
Linha de base
As estimativas de REDD do projeto serão feitas utilizando uma linha de base
projetada, a ser desenvolvida através de um modelo LCM. Os dados sobre os
estoques de carbono da vegetação e suas respectivas emissões no cenário de
desmatamento serão obtidos através de inventários florestais locais.
Adicionalidade
O governo da Guatemala não tem condições de prover o adequado e necessário
fluxo de recursos para garantir a fiscalização do parque, que se encontra sob ameaça
de invasões e desmatamentos ilegais. Além disso, as comunidades do entorno não
recebem assistência técnica do governo para garantir os meios necessários para sua
sobrevivência. Assim, os recursos do carbono são a única garantia de que a área terá
controle e fiscalização e as comunidades do entorno receberão não apenas assistên-
cia técnica, mas também terão acesso a outras fontes de renda sustentáveis.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
53
Vazamentos
O risco de vazamento consiste nas comunidades que desmatariam a área do parque na linha de
base e que, por estarem impossibilitadas de desmatar a partir da implementação do projeto, pode-
riam migrar para desmatar outras áreas fora dos limites do projeto. Para lidar com isso, o projeto
pretende implementar medidas para estabilizar as comunidades que já vivem dentro de sua área,
melhorando sua qualidade de vida e gerando outras fontes de renda. Um plano de monitoramento
de vazamentos será implementado na área do projeto e limites do Parque. Será criado também um
buffer de créditos, com porcentagem ainda não definida.
Permanência
Propõe-se a criação de um fundo permanente com os recursos gerados pelo carbono, a fim de
garantir o fluxo de recursos necessários para as atividades previstas inicialmente durante o tempo
de vida do projeto e possivelmente após o término também. Além disso, serão feitos acordos de
fiscalização com o governo e serão implementadas atividades de desenvolvimento sustentável jun-
to às comunidades de entorno.
Monitoramento
O monitoramento dos estoques e dinâmica do carbono será feito através de inventários florestais,
baseados em uma metodologia proposta pela Winrock International.
Principais desafios
Lidar com as indefinições legais existentes no país e garantir os recursos necessários para o
desenho completo do projeto.
Projeto “Desmatamento Evitado no Parque Nacional
Sierra del Lacandón”
Guatemala O projeto consiste na efetiva implementação do Parque Nacional Sierra del Lacandón,
localizado no município de La Libertad, departamento de Petén, região Norte da Gua-
temala. O Parque está incluído dentro da Reserva da Biosfera Maya, em uma área de
171.300 ha, contendo Florestas Úmidas de Usumacinta e Florestas de montanhas.
Aspectos metodológicos
Linha de base
O estabelecimento do cenário de linha de base do projeto será feito através de
projeções baseadas na “Methodology for Estimating Reductions of Greenhouse
Gases Emissions from Frontier Deforestation”. Os dados sobre estoque de carbono
da vegetação e suas respectivas emissões serão obtidos através de inventários
florestais e análises de imagens de satélite.
Adicionalidade
O governo da Guatemala não pode prover o adequado e necessário fluxo de recursos
para garantir a fiscalização do parque, que se encontra sob o risco de invasões e des-
matamentos ilegais. As comunidades da área e seu entorno não recebem assistência do
governo para garantir os meios necessários para sua sobrevivência. Assim, os recursos do
carbono são a única garantia de que haverá controle e fiscalização, e as comunidades rece-
berão não apenas assistência, mas também acesso a outras fontes de renda sustentáveis.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
55
Vazamentos
O risco de vazamentos consiste em um possível deslocamento das comunidades que desmatariam
dentro do parque na linha de base e que, com a implementação do projeto, poderiam passar a des-
matar em outras áreas externas. Para lidar com isso, o projeto pretende implementar medidas para
estabilizar as comunidades que já vivem dentro da área, melhorando sua qualidade de vida e gerando
outras fontes de renda, e monitorar e fiscalizar as áreas do projeto e do entorno do Parque. Será
criado também um buffer de créditos, com porcentagem ainda não definida.
Permanência
Popõe-se a criação de um fundo permanente com os recursos gerados pelo carbono, a fim de
garantir o fluxo de recursos necessários para as atividades previstas inicialmente durante o tempo
de vida do projeto e possivelmente após o término também. Além disso, serão feitos acordos de
fiscalização com o governo e a implementação de atividades de desenvolvimento sustentável junto
às comunidades de entorno.
Monitoramento
O monitoramento dos estoques e dinâmica do carbono será realizado por inventários florestais, baseados
na “Methodology for Estimating Reductions of Greenhouse Gases Emissions from Frontier Deforestation”.
Principais desafios
Lidar com as indefinições legais existentes no país e garantir os recursos necessários para o de-
senho completo do projeto, assim como establecer condições favoráveis que permitam o desen-
volvimento dos mercados de carbono na Guatemala. Também, a busca de fontes de recursos para
concluir o DCP.
Projeto Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade em Mbaracayú
Paraguai O projeto consiste na criação e proteção de uma área protegida privada na região
leste do Paraguai, que é uma zona conflituosa e sob grande pressão de uso da terra.
O Projeto está localizado na Reserva Natural del Bosque MBaracayu em Ygatimí,
no Departamento de Canindeyú – Paraguai, cuja área é 64.400 hectares.
Estimativas da taxa
de desmatamento do O projeto é administrado e implementado pela Fundación Moises Bertoni, que
projeto não se aplicam tem a função de executar as ações previstas pelo projeto; e a The Nature Con-
neste caso.
servancy (TNC) como parceira responsável pela administração dos recursos da
venda do carbono seqüestrado.
Aspectos metodológicos
Linha de base
Em 1990, a metodologia existente implicava na medição do carbono sequestrado
35 anos pela floresta com base em inventários de medição de carbono no solo, raízes, e
13 milhões tCO2e
cobertura vegetal. Desta maneira, a partir da garantia de conservação do parque
371.429 tCO2e/a
firmada entre a Fundação Moises Bertoni e a empresa AES, foi feita uma estima-
tiva de quanto carbono seria sequestrado pela floresta em 35 anos, chegando a
um cálculo de 27 milhões, dos quais 13 seriam utilizados pela empresa para sua
compensação. A metodologia utilizada foi validada por “experts” internacionais
em medição de carbono florestal.
Adicionalidade
Com base nas estatísticas e imagens de satélites de desmatamento das áreas vizin-
has, verificou-se que o cenário business-as-usual sem a criação da reserva seria o
desaparecimento daquelas florestas. Isto se confirma também pelo fato de que, no
momento da criação do projeto, existia a oferta de compra da área por um grupo
brasileiro para implementar um projeto agrícola na região.
Baseada em
estoques de C Vazamentos
O projeto conta com diversas iniciativas socioeconomicas e ambientais que estão
em andamento na área de entorno no projeto, onde existem comunidades tradi-
cionais e indígenas. A estratégia do projeto é criar alternativas de geração de renda
e desenvolvimento rural, bem como a educação e capacitação técnica, para manter
estas famílias em suas áreas e garantir que não haja deslocamento de atividades de
desmatamento que seriam realizadas na área do parque para outras áreas.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
57
Permanência
Está baseada em marcos legais de proteção e cooperação com as comunidades vizinhas em prol da
conservação, que incorporaram boas práticas ambientais em seus sistemas de produção. Também, foi
criado um fundo fiduciário, alimentado por recursos da venda inicial dos créditos de carbono, que
garante a sustentabilidade dos recursos mesmo após o final do contrato de venda (35 anos).
Benefícios adicionais
A criação de um selo socioambiental para produtos das comunidades do entorno, criação de um centro
educacional para comunidades rurais e indígenas, com um curso técnico em ecologia. Em 2000, a Unesco
criou a primeira Reserva da Biosfera do país, tendo a reserva Mbaracayú como núcleo. O plano de tra-
balho prevê cinco temas: (i) Consolidar a gestão da reserva e a criação de um comitê local, (ii) Pesquisas
Científicas, (iii) Desenvolvimento Rural, (iv) Educação Ambiental, (v) Iniciativas de Conservação priva-
das, para criar novas reservas.
Monitoramento
O monitoramento do desmatamento e estoques de carbono das florestas será através de imagens
de satélites e levantamentos in situ.
Principais desafios
Manter a área conservada frente a pressões externas, visto que a área está em uma das zonas mais
conflituosas do país. Também, arcar com os significativos custos anuais que necessitam de outras
fontes, complementares ao fundo fiduciário.
Projeto de Reflorestamento e Desmatamento Evitado
na Floresta Protegida Alto MayO e área de entorno
Aspectos metodológicos
Linha de base
30 anos O projeto utiliza um modelo de projeção futura do desmatamento (Idrisi), que incor-
4.243.582 tCO2e
pora dados de análise histórica de mudança de uso do solo, obtidos através de ima-
141.453 tCO2e/a
gens de satélite e faz projeções futuras das tendências de desmatamento na região.
Adicionalidade
A área está localizada em uma região sob grande pressão de migração, por conta de
populações rurais que vêm dos Andes para se instalar na região e conduzir processos
de desmatamento e instalação de cultivos agrícolas. Como o Estado não é capaz de
fornecer fundos constantes e suficientes para garantir a efetiva proteção e implemen-
tação da área, é através dos benefícios financeiros gerados pelo carbono que estas
despesas serão custeadas.
Vazamentos
Um dos riscos do projeto é que as populações que vivem dentro da reserva se mudem
para a área de entorno e causem aumento das emissões fora da reserva. Neste caso,
serão feitos acordos de conservação com estas populações, que poderão continuar
vivendo em suas comunidades já estabelecidas, mas que concordem em não desma-
tar novas áreas. Na zona de amortecimento (entorno) serão também desenvolvidas
atividades de assistência técnica e melhoria dos sistemas agroflorestais. Atividades
de controle e fiscalização serão feitas em coordenação com as autoridades locais.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
59
Permanência
Serão promovidas atividades sustentáveis que forneçam outras fontes de renda às comunidades, tais
como sistemas agroflorestais, e atividades de ecoturismo, especialmente nas áreas de amortecimento
do Parque (entorno). Existe a previsão de um buffer de créditos, mas isto ainda está em definição.
Monitoramento
O monitoramento das reduções de emissões será feito utilizando metodologias propostas pelo Bio-
Carbon Fund (BioCF) e em validação no Voluntary Carbon Standards (VCS). Para os co-benefícios,
se utilizará as metodologias de Acordos de Conservação, que consiste em estabelecer acordos com
as comunidades locais para gerar atividades de conservação e evitar o avanço do desmatamento.
Principais desafios
O principal desafios do projeto é a busca de fundos para desenvolver o projeto, especialmente fren-
te às dificuldades econômicas mundiais. Outra questão foi quanto à necessidade de capacitação
dos envolvidos sobre o tema (bem como governo e população beneficiária).
Peru O objetivo do projeto é garantir a manutenção de uma área protegida, o Parque Nacional
Cordillera Azul-PNCAZ, criado no ano de 2002, que depende atualmente de recursos ex-
ternos sem estabilidade para sua implementação. A proposta é que os recursos do projeto
possam garantir os fluxos financeiros necessários para sua manutenção a longo prazo. O
Parque abrange 6 municípios localizados nas regiões de San Martin, Ucayali, Huanuco e
Loreto, no Peru, somando uma área total de 1.353.191 hectares, com vegetação de Floresta
Tropical Montana de Neblina e Florestas em Colinas, nas Yungas Peruanas.
Taxa de desmatamento
do país: 0,1 % – GFBD O projeto está sendo proposto em parceria entre o Centro de Conservación, In-
vestigación y Manejo de Áreas Naturales (CIMA – Cordillera Azul), The Field
Taxa de desmatamento
do projeto: N/D Museum of Natural History de Chicago, TerraCarbon LLC e o Serviço Natural de
Áreas Naturais Protegidas, ente do Governo Peruano.
Aspectos metodológicos
Linha de base
O cenário de linha de base foi elaborado através de um modelo de simulação
(Land Use Change Modelling – LCM) para projetar o desmatamento que acon-
teceria no Parque e sua zona tampão, utilizando uma região de referencia de 2,8
20 anos milhões de hectares (pouco maior que a área do parque e sua zona tampão). Irá
tCO2e N/D considerar todo o período de duração do projeto, de 2007 a 2027. Como a meto-
dologia utilizada ainda está em processo de validação junto ao VCS, estes dados
são preliminares e poderão sofrer ajustes no futuro.
Adicionalidade
O fato da área ter sido declarada Parque Nacional em 2002 não garante automatica-
mente sua conservação. Foram necessários numerosos e intensos esforços para con-
seguir os fundos que garantam sua implementação, visto que o Estado Peruano tem
orçamento limitado para implementar áreas protegidas. Neste sentido, o projeto de
carbono seria uma das possibilidades para apoiar ações de manejo da área do parque
e sua zona de entorno, garantindo assim sua efetiva proteção e consolidação.
Vazamentos
O principal risco de vazamentos é o deslocamento de atividades que aconteceriam
dentro da região do parque e que, após o início do projeto, se desloquem para ou-
tras áreas, visto que existe um processo de migração em curso naquela região. Para
lidar com este prolema, foi criado um buffer ao redor da reserva para monitorar
possíveis vazamentos, com mais de 2,3 milhões de hectares, limitada por diversos
rios a seu redor, para monitorar possíveis vazamentos. Além disso, o projeto prevê
a criação de um buffer de créditos, onde 15 a 20% dos créditos gerados serão pos-
tos à parte para lidar com o caso de vazamentos e não permanência.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
61
Permanência
Até os dias atuais, todas as ações executadas no Parque - incluindo aquelas desenvolvidas na zona
tampão, para reduzir as ameaças ao parque - dependiam de recursos exclusivos de doação de
fontes internacionais. Ao conseguir benefícios financeiros de carbono é possível assegurar a sus-
tentabilidade econômica do projeto e o estabelecimento de um fundo fiduciário permanente, que
permita implementar ações que garantam sua conservação a longo prazo. Não existem muitos pro-
blemas com incêndios florestais na área, mas ainda assim, será estabelecido um buffer de créditos
de 15 a 20% (ver item acima) para lidar com estes riscos.
Monitoramento
Será feito através de análises de imagens de satélites e verificações de campo. Complemetariamen-
te, haverá uma metodologia de monitoramento de gestão integral através do Índice de Compatibi-
lidade com a Conservação (ICC), que vem sendo implementado desde 2004.
Principais desafios
A aplicação de uma metodologia que permita projetar o desmatamento de maneira realista, consi-
derando as variáveis que influem na dinâmica do desmatamento é um grande desafio. A questão dos
“vazios legais” sobre a regulação do tema, que está em constante desenvolvimento, foi outro desafio.
Madre de Dios Amazon REDD Project
Peru O Projeto consiste na conservação de uma área de 100.000 ha sob concessão florestal,
localizada em Iñapari, em Tahuamanu, Madre de Dios – Peru, com vegetação ama-
zônica, na região que pertence ao Corredor de Conservação Vilcabamba-Amboró,
um dos centros de biodiversidade mais importantes a nível mundial.
Adicionalidade
A análise de adicionalidade se baseou na ferramenta de adicionalidade do MDL42,
comparando o cenário com e sem projeto. O cenário na ausência do projeto é de
grande pressão sobre as áreas que não estão sob o sistema de manejo, aumentando
as chances de desmatamentos ilegais. Além disso, está prevista a pavimentação
da rodovia Interoceanica Sur, que irá também aumentar muito a pressão sobre as
florestas e gerar uma maior necessidade de controle e vigilância.
Vazamentos
A análise de vazamentos se baseou em duas metodologias sob validação no VCS: “Es-
timation of emissions from activity shifting for avoided unplanned deforestation43” para
42 http://cdm.unfccc.int/methodologies/ARmethodologies/tools/ar-am-tool-01-v2.pdf | 43 http://www.netinform.
net/KE/files/pdf/13_LK-ASP%20Leakage%20activity%20shifting%20planned%20deforestation%20v1.0.pdf
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
63
estimar os vazamentos, e “Methodology for Estimating Reductions of Greenhouse Gases Emissions from
Frontier Deforestation44” para determinar o cinturão de vazamentos (área buffer). O projeto prevê ainda
o monitoramento dos vazamentos através de uma série de indicadores definidos para este fim.
Permanência
Pretende-se criar um buffer de não-permanência para reter 20% dos créditos gerados pelo projeto. Além
disso, atividades previstas de monitoramento e vigilância ajudam a garantir a permanência dos créditos.
Monitoramento
Será feito o monitoramento da linha de base para verificar a precisão das projeções utilizadas;
do desmatamento, feito in situ e através de imagens de satélite; e o do uso do solo e mudança de
cobertura do solo, estoques de carbono, emissões de gases não-CO2 e vazamentos. Além disso, se
monitoram também os benefícios sócioambientais gerados pelo projeto.
Principais desafios
Coordenar o trabalho em equipe com especialistas de diversas áreas distintas e conseguir o en-
volvimento de todos os que, de alguma maneira, serão impactados pelo projeto, de maneira a
asegurar o cumprimento dos objetivos do mesmo.
44 http://www.v-c-s.org/methodology_mferofffd.html
Projeto “Desmatamento Evitado na Reserva Nacional
Tambopata e Parque Nacional Bahuaja Sonene - Madre de Dios”
Aspectos metodológicos
Linha de base
O cenário de linha de base será desenhado a partir de um modelo de simulação
do desmatamento baseado no software DINAMICA. O desmatamento ali ocorre,
basicamente, de maneira não planejada tanto por expansão da fronteira agrícola
20 anos quanto a partir da abertura de novas áreas não diretamente ligadas à áreas previa-
tCO2e N/D mente desmatadas. Este padrão depende de vários fatores, como distância de rios
navegáveis, centros populacionais, mineração, rodovias e áreas já desmatadas, etc.
Adicionalidade
A construção da Rodovia de Integração Interoceanica Sul, que unirá o Brasil ao
Oceano Pacífico é o principal vetor de desmatamento previsto, pois irá diminuir
os custos de acesso à floresta e aumentar a rentabilidade das atividades agrope-
cuárias. Sem os recursos do carbono, não seria possível à SFMBAM financiar as
atividades executadas pela AIDER, e o Estado não teria recursos suficientes para
fazê-lo, neste novo cenário de construção da estrada.
Vazamentos
O projeto criará um “cinturão de vazamentos”, baseado na zona de buffer estabelecida
para a Reserva como área para pequisa e análise. Serão monitorados os deslocamentos
de atividades agropecuárias e extração de minério como principais fatores de vazamen-
tos. Contudo, espera-se que estes vazamentos sejam minimizados pela implementação
de um programa de fomento a iniciativas produtivas alternativas, que modifiquem o
padrão de desenvolvimento econômico da região, associado ao desmatamento.
Permanência
A AIDER tem um contrato de 7 anos para administração da área, com possibilida-
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
65
de de extensão para 20. Independentemente, o contrato firmado entre a SFMBAM e o Estado Pe-
ruano garante que o Estado se comprometa a realizar as ações necessárias para garantir a perma-
nência dos certificados que forem gerados, como ações de controle e fiscalização. Está ainda sendo
acordado o mecanismo financeiro que garantirá os pressupostos anuais a partir do oitavo ano.
Monitoramento
Será utilizada a metodologia modular, atualmente em processo de validação no Voluntary Carbon
Standards45.
Principais desafios
Estabelecer o cenário de desmatamento futuro na zona do projeto, visto que o desmatamento
histórico não representa a tendência atual e futura, devido à construção de diversas obras de in-
fraestrutura. Também, a determinação dos vazamentos associados ao projeto representam outro
desafio importante, bem como demonstrar a adicionalidade em uma área natural protegida.
melhorar a governança das florestas, (ii) promover a conservação florestal em terras privadas e
unidades de conservação e, (iii) compensar os povos indígenas e comunidades tradicionais por
seus esforços em prol da conservação florestal. Estima-se uma redução de emissões de cerca de 500
milhões de tCO2, para toda a região, entre os anos 2009 e 2018.
Nesta seção são apresentados três programas internacionais: O Forest Carbon Partnership Facility
(FCPF), o UN-REDD Programme, a Iniciativa Internacional da Noruega para Florestas e Clima.
Estes programas têm como objetivo principal capacitar os países a implementar sistemas nacionais
que gerem reduções robustas e confiáveis, e que tenham no REDD+ um importante instrumento
não apenas de contribuição à mitigação das mudanças climáticas, mas também de desenvolvi-
mento econômico e social. Também é mencionada a recente Parceria Global de REDD+, iniciativa
voluntária que visa servir como plataforma interina para que os países possam aumentar a escala
de ações e financiamento em REDD+.
Outra iniciativa importante aqui descrita é a Força Tarefa dos Governadores para Floresta e Clima,
iniciativa de estados subnacionais dos EUA, Brasil, Mexico, Nigeria e Indonesia. Além destas, é
descrito o Fundo Amazônia, uma iniciativa do Governo Brasileiro criada para arrecadar doações
voluntárias de países/indivíduos/companhias que queiram contribuir financeiramente para a re-
dução do desmatamento no Brasil.
PARTe 2 resumo dos projetos de REDD+ na américa latina
FOREST CARBON PARTNERSHIP FACILITY (FCPF) 71
Mecanismo de Preparação. As atividades incluídas dentro deste mecanismos atualmente apóiam a prepa-
ração de 37 países para participar um um sistema futuro, de larga escala, de incentivos positivos para REDD+.
Este mecanismo oferece assistência técnica e financeira para estes países desenvolverem uma estratégia e
REDD+, ou seja, um amplo plano nacional para redução de emissões do desmatamento e degradação florestal,
conservação de estoques de carbono florestal, manejo sustentável de florestas e aumento dos estoques de car-
bono florestal, o estabelecimento de um cenário nacional de referência e o desenho e implementação de um
sistema nacional de MRV (monitoramento, relatoria e verificação) conectados à REDD+. Os países participan-
tes elaboram um Readiness Preparation Proposal (R-PP), que, uma vez endorsada pelo Comitê de Participantes
do FCPF, é financiada pelo mecanismo de preparação.
Fundo de Carbono. Esse fundo visa apoiar “Programas de Redução de Emissões” por meio de compen-
sações baseadas em resultados. Os países receberão pagamentos por reduzir suas emissões abaixo dos níveis
do cenário de referência se: (a) demonstrarem titularidade dos créditos de REDD+ e capacidade adequada de
monitoramento, e (b) estabelecerem um cenário de referência realista e opções para redução de emissões.
Juntos, estes mecanismos visam gerar informações e lições a partir do desenvolvimento de um me-
canismo inovador e realista, efetivo em termos de custo e que consiga reduzir emissões do desmata-
mento, mitigar as mudanças climáticas e gerar outros benefícios adicionais.
Atualmente, 37 países estão selecionados para participar do Mecanismo de Preparação do FCPF.
Destes, seis têm seus R-PP – Readiness Preparation Proposal revisados pelo Comitê de Participantes
e tiveram fundos alocados para conduzir suas propostas (República Democrática do Congo, Gana,
Guiana, Indonesia, México e Panama). Diversos outros países já estão seguindo os passos destes seis
primeiros e irão apresentar seus R-PPs nas próximas reuniões do Comitê.
A meta do Fundo de Preparação é de US$185 milhões, com contribuições esperadas de pelo menos
US$5 mi por doador, de governos e de outras entidades públicas e privadas. Em relação ao fundo de
carbono, seu volume operacional mínimo é de US$200 milhões.
Para lidar com o risco de vazamentos dentro do país, a abordagem do programa será a nível nacional.
Esta abordagem não impede que programas e projetos nacionais seja implementados, porém, eles
deverão estar vinculados ao sistema de contabilidade e ao cenário de referência nacionais.
Os objetivos do Programa UN-REDD são: empoderar os países para gerirem seus processos nacionais
de REDD+, auxiliá-los a identificar estratégias para abordar as causas do desmatamento e da degrada-
ção florestal, desenvolver métodos e ferramentas para medir, relatar e verificar (MRV) as emissões de
GEE, facilitar a participação de todos os atores nacionais e fornecer assistência técnica e financeira.
A meta de um mecanismo de REDD+ é gerar o fluxo de recursos necessários para incentivar uma
redução significativa de emissões do desmatamento e degradação florestal em países em desenvol-
vimento. Para preparar este mecanismo, primeiramente é necessário avaliar quais as estruturas de
pagamento e apoio a projetos de REDD+ poderiam criar incentivos para reduções de emissões que
sejam reais, duradouras, alcançáveis, confiáveis e mensuráveis, e que mantenham e melhorem os
serviços ecossistêmicos e modos de vida das populações dependentes das florestas.
Para alcançar tais objetivos, as instituições parceiras do Programa UN-REDD contribuem com suas
áreas de expertise específicas e complementares. A FAO apóia questões técnicas relacionadas a flo-
restas e ao desenvolvimento de processos robustos de MRV para estoques e fluxos de carbono, assim
como outros elementos não-carbono. A UNDP aborda questões de governança e as implicações
socioeconômicas de REDD+, incluindo a participação da sociedade civil e comunidades indígenas e
locais. A UNEP reúne e engaja tomadores de decisão envolvidos na agenda REDD+, e promove um
entendimento dos benefícios ambientais adicionais promovidos pelo REDD+.
Atualmente, vinte e dois (22) países participam do UN-REDD Programme com status diferentes:
enquanto todos participam da disseminação de conhecimento e rede de contatos, nove deles atu-
almente se qualificam para os financiamentos do UN-REDD Programme, conforme marcado no
mapa abaixo, enquanto os outros recebem status de “observadores”. A seleção foi feita baseada em
diálogos entre as três agências e os países envolvidos – baseados em uma série de critérios que incluiu
a vontade expressa do país em participar, relevância para a agenda global de REDD+ (incluindo po-
tencial de redução de emissões) e desejo de alcançar um balanço regional.
México
Costa Rica Filipinas
Nepal
Sudão Camboja
Argentina
Países observadores
74 Iniciativa Internacional da Noruega para Florestas e Clima
A Iniciativa Internacional da Noruega para Florestas e Clima coopera com os seguintes parceiros e
respectivas contribuições46:
As Nações Unidas: que estabeleceram o Programa UN-REDD, para coordenar ações das Nações
Unidas nesta área, e recebeu um aporte de US$ 50 milhões.
O Banco Mundial: estabeleceu dois programas para auxiliar países em desenvolvimento em seus
esforços para reduzir emissões do desmatamento e degradação floresta. Um deles é o Forest Carbon
Partnership Facility, que recebeu US$ 40 milhões, e o Forest Investment Program, que recebeu US$
50 milhões.
O Fundo Florestal da Bacia do Congo: este fundo, que é sediado pelo Banco de Desenvolvimento
Africano, apóia esforços de conservação e uso sustentável das florestas na bacia do Congo. Irá receber
US$ 100 milhões entre 2008 e 2010.
Fundo Amazônia: irá fornecer fundos para projetos que apoiem os esforços das autoridades bra-
sileiras para reduzir o desmatamento. Todos os pagamentos ao fundo serão relacionados à sua per-
formance, ou seja, até onde o Brasil conseguir reduzir suas emissões do desmatamento e degradação
florestal. Irá receber até US$ 1 bilhão em 7 anos.
Tanzania: A Noruega, através de uma cooperação bilateral, está apoiando os esforços da Tanzania
em reduzir suas emissões do desmatamento e degradação florestal, e está também incluída nos pro-
gramas de REDD das Nações Unidas e do Banco Mundial. Irá receber US$100 milhões em 5 anos.
Norad: O propósito desta fonte de financiamentos é apoiar atividades pilotos de REDD+ e o de-
senvolvimento de metodologias por organizações da sociedade civil, a fim de gerar informação
para as negociações de mudanças climáticas e experiências no campo. O fundo disponível em 2008
foi de aproximadamente US$ 2 milhões, em 2009 US$ 25 milhões e em 2010 espera-se aproxima-
damente a mesma quantia de 2009.
A Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTO): estabeleceu um novo programa para
reduzir o desmatamento e a degradação flroestal e aumentar a provisão de serviços ambientais em
florestas tropicais (REDDES). A quantidade de fundos alocados não está disponível.
A Força Tarefa dos Governadores sobre Clima e Florestas (GCF) é uma iniciativa conjunta de Esta-
dos e Províncias dos EUA (Califórnia, Wisconsin e Illinois), Brasil (Acre, Amapá, Amazonas, Pará
e MatoGrosso), Indonésia (Aceh, Papua, Kalimantan do Leste e Kalimantan do Oeste), Nigéria
(Cross RiverState) e México (Campeche), que foi criada com o objetivo de implementar mecanis-
mos de incentivo para a redução de emissões do desmatamento e degradação florestal (REDD+)
entre seus estados participantes. Em grande parte a iniciativa é motivada pelos estados norte-ame-
ricanos, liderados pela Califórnia, que estão estabelecendo sistemas internos de cap & trade onde
as empresas submetidas ao cap poderiam compensar parte de suas reduções adquirindo créditos
de carbono gerados por atividades de REDD dos estados ricos em florestas tropicais.
A iniciativa foi criada em novembro de 2008 com o objetivo de compartilhas experiências e cons-
truir capacidades e desenvolver recomendações para autoridades e tomadores de decisão, conside-
rando maneiras para integrar atividades de REDD+ e carbono florestal nos mercados emergentes
de gases de efeito estufa. Com apoio da Fundação Gordon & Betty Moore e a Fundação David and
Lucile Packard, o GCF tem suas atividades divididas entre três grupos de trabalho:
1) Padrões e Critérios para REDD+ – Visa garantir que as atividades de REDD serão desenvolvi-
das seguindo padrões e critérios de REDD definidos, fazendo assim com que tais atividades sejam
confiáveis e sigam a mesma lógica.
A última reunião realizada pelo GCF foi em maio de 2010 na província de Aceh, Indonesia, com o
objetivo de reportar o progresso dentro dos grupos de trabalho, a próxima reunião será em setem-
bro, com o objetivo de finalizar as diretrizes de trabalho compostas por estas três linhas de ação, e
planejar os próximos passos da parceria. As tarefas definidas para 2010 são quatro:
1) Elaborar um relatório sobre estruturas sub-nacionais para implementação de REDD+
2) Desenvolver um trabalho contínuo sobre oportunidades de financiamento público para REDD+
no âmbito GCF
3) Construir uma plataforma de dados sobre o GCF
4) Definir estratégias de comunicação e envolvimento formal de “stakeholders”
Está prevista ainda uma reunião em Santarém, em setembro de 2010, onde espera-se ter um pro-
cesso mais estruturado para a participação dos stakeholders.
76 Parceria Global de REDD+
A parceria47, assinada em maio de 2010 por 58 países, é um arcabouço voluntário e não vinculante
sob o qual os parceiros desenvolverão esforços colaborativos de REDD+. Prevê a coordenação de
iniciativas bilaterais e multilaterais de REDD+ já existentes (como o FCPF e o UN-REDD, entre
outros), com o objetivo de coordenar os esforços entre estas iniciativas a fim de criar uma base
de dados que possa identificar lacunas e evitar sobreposições de investimentos. O trabalho não
pretende se contrapor, e sim apoiar e contribuir com o processo de negociação em curso na UN-
FCCC. No futuro, a parceria será substituída ou incorporada no mecanismo de REDD+ que for
definido no âmbito da Convenção do Clima.
A parceria servirá como plataforma temporária para que os parceiros possam dar escala à ações
e financiamentos destinados à atividades de REDD+, implementando ações imediatas, inclusive
aprimorando a efetividade, transparência e coordenação de iniciativas e instrumentos financeiros
para aumentar a transferência de conhecimentos e fortalecer capacidades.
Para atingir seus objetivos, a parceria se encontrará regularmente em alto nível oficial ou politico de-
pendendo dos assuntos, e com encontros em nível técnico para tratar de temas específicos. Os encon-
tros serão coordenados por um país em desenvolvimento e um país desenvolvido, selecionados por
seis meses não renováveis. Atualmente os coordenadores são Japão e Papua Nova Guiné, que serão
sucedidos por França e Brasil. O montante de recursos prometidos até agora é de U$ 4 bilhões.
O Fundo Amazônia foi criado pelo Governo Brasileiro com base em demandas e sugestões da
sociedade civil, com contribuição inicial do governo da Noruega. O fundo é gerido pelo Ban-
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), seguindo diretrizes e critérios
estabelecidos por um Comitê Orientador, composto por representantes dos governos federal e
estaduais, ONGs, movimentos sociais, povos indígenas, cientistas e empresas. Conta também com
um Comitê Técnico, nomeado pelo Ministério do Meio Ambiente, cujo papel é atestar as emissões
e reduções de emissões provenientes do desmatamento na Amazônia.
A partir das doações recebidas, serão emitidos diplomas, equivalentes às toneladas de “carbono
reduzido” correspondentes ao valor da contribuição, que serão precificadas em US$ 5/tCO2. Cada
doador terá direito a um diploma, atestando sua contribuição para a redução de emissões em um
dado período e sua quantidade expressa em toneladas de CO2. Estes diplomas serão nominais e
intransferíveis, não gerando direitos patrimoniais ou créditos de carbono para compensação de
emissões de qualquer natureza.
Os cálculos de redução de emissões anuais serão baseados na comparação entre as emissões histó-
ricas dos últimos 10 anos (revistas a cada cinco anos) e as emissões no ano em questão. Caso haja
redução efetiva do desmatamento o Fundo poderá captar recursos correspondentes às toneladas
reduzidas, para investimento; caso as emissões sejam maiores, esta diferença será descontada nos
recursos esperados para o período seguinte. Estas reduções de emissões serão validadas pelo Co-
mitê Técnico-Científico.
78 Fundo Amazônia
Em julho de 2010, constavam 70 operações ativas na base de dados do Fundo. Os seis projetos mais
avançados (4 contratados e 2 aprovados) somam aproximadamente 86,3 milhões de reais. Os pro-
jetos que compõem esta primeira etapa de aprovação incluem atividades de combate e prevenção
ao desmatamento, cadastro ambiental rural (CAR), regularização fundiária, gestão ambiental e
territorial, recuperação de áreas degradadas, geração de renda em comunidades, entre outros. Um
dos projetos tem como área de abrangência toda a Amazônia Brasileira e os outros tem foco nos
estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso.
4 8
Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) – FUNBIO
contratados em análise
TNC Brasil 2
Bolsa Floresta (FAS) aprovados SEMA - Pará
17
36 enquadrados
em perspectiva
3
carta-consulta
PARTE 3
análises e
considerações
finais
82
Juntas, estas iniciativas visam proteger cerca de 15 milhões de hectares de florestas tropicais – uma
área equivalente a 3,5 vezes o território da Dinamarca, evitando a emissão de cerca de 530 milhões
de toneladas de CO2e – o equivalente a mais da metade das emissões totais anuais do setor de
transporte da União Européia (figura 06).
(ha)
(tCO2e)
49 O projeto Mbaracayú, no Paraguai, apesar de ter dados suficientes que permitam fazer esta mesma análise de custos de
geração de REDD, não será incluído nestas análises de custos por seguir uma lógica diferente de estabelecimento de linha de
base e quantificação de geração de créditos.
84
Houve uma enorme variação nos custos de geração de REDD+ não apenas entre países mas tam-
bém entre projetos dentro de um mesmo país. Estes custos apresentaram um valor mínimo de
$0,22/tCO2 e um valor máximo de $ 4,92/tCO2, conforme apresentado na figura 06.
Total 1.077.525.467
MtCO2e US$/tCO2e
200 5
160 4
reduções de emissões
120 3 (MtCO2e)
80 2
É necessário destacar que estes custos foram calculados de forma preliminar e cobrem diferentes
estratégias adotadas por cada projeto para gerar suas reduções de emissões. A variação destes
custos pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles:
PARTe 3 análises e considerações finais
85
3) Escopo de atividades: podem representar uma enorme variação nos custos de implemen-
tação, dependendo principalmente dos benefícios socioambientais que o projeto espera
gerar (Ex: apoio às comunidades, melhoria na biodiversidade, sistemas hidrológicos, etc)
5) Instituições parceiras: projetos que tem parcerias governamentais podem ter uma redu-
ção nos custos devido à contrapartida financeira e infraestrutura existente não considera-
da nos custos do projeto
Assim, a combinação destes fatores será determinante para definir os custos de implementação de
cada projeto de REDD+. Por exemplo, pode esperar-se que em regiões com difícil acesso, pouca
presença do estado, grande pressão de desmatamento e presença de comunidades, os custos de
implementação de projetos de REDD+ sejam bastante altos. Isto se deve ao fato de que tais projetos
terão: (i) altos custos logísticos, (ii) grande investimento para estruturar atividades, monitorar e
controlar atividades ilegais, (iii) atividades de longo prazo relacionadas ao desenvolvimento social
e econômico das comunidades existentes, entre outros.
86
Sobre o perfil das instituições proponentes de projetos de REDD+ é válido salientar a participação
significativa de governos – presentes em 58% dos projetos analisados. Isto deve-se ao fato de que
grande parte dos projetos (figura 08) são conduzidos em terras públicas ou áreas protegidas, que
por lei são geridas por governos. Estes governos são geralmente locais (departamentos, municípios,
distritos, etc) – com a exceção do Programa SocioBosque – o que reflete a importância e inovação
da participação de governos locais na gestão de florestas.
24%
implementação
6%
venda de VERs/ sem validação
59%
desenho 6%
venda de VERs/ em validação
6%
venda de VERs/ projeto validado
6%
governo/ setor privado 12%
setor privado
18%
ONG/ setor privado 12%
governo
12%
ONG
41%
ONG/ governo
PARTe 3 análises e considerações finais
87
Considerações finais
Os desenvolvimentos recentes acerca de REDD+, tanto no que se refere aos projetos e iniciativas-
piloto que têm se multiplicado pela América Latina e pelo mundo, como nos avanços alcançados
para a construção de um arcabouço global no âmbito da UNFCCC e também em cooperações
bilaterais, indicam que o REDD+ veio para ficar.
Abaixo são apresentados e discutidos alguns resultados e ponderações, que reforçam essas
afirmações:
1. Reduções de Emissões de GEE e MRV: Os 17 projetos analisados prevêem evitar a emissão de cerca
de 530 milhões de toneladas de CO2 entre nos próximos 44 anos. O processo de desenho e implementação
destes projetos tem gerado enorme aprendizado, tanto em aspectos metodológicos relacionados a linhas de
base, monitoramento, relatoria e verificação (MRV), como para promover sistemas de governança florestal
e criar mecanismos de repartição de benefícios e engajamento de populações indígenas e tradicionais.
5. Linha de base: A maior parte dos projetos analisados (76%) optou por utilizar uma linha de base
projetada/modelada, ao invés de médias históricas. Esta situação é justificável pelo fato de que a maioria
desses projetos está localizada em regiões com taxas de desmatamento histórico inferiores à média
nacional, mas antevêem um desmatamento futuro superior – e assim necessitam ter sua linha de
base “ajustada”. Isto reflete a importância de considerar e avaliar condições específicas de cada projeto
(agentes e vetores do desmatamento), ao invés de simplesmente aplicar uma “média nacional”.
7. Custos de geração de REDD+: A análise dos projetos contidos neste estudo permite afirmar que os
recursos financeiros disponíveis atualmente para a implementação de REDD+ estão atualmente muito
aquém do necessário. O investimento necessário para a implementação de apenas 08 projetos (dos 17)
analisados é de cerca de US$1 bilhão. Esta quantia representa um quarto dos recursos comprometidos
pela Parceria Global de REDD+, assinada em maio de 2010. Por outro lado, a área florestal desses
projetos, representa apenas 0,99% da cobertura de florestas tropicais no mundo. O “custo médio de
geração de REDD+” dos projetos analisados foi estimado em US$ 3,22/tCO2 (± R$2,02).
Este estudo concluiu que, se bons projetos de REDD+ forem desenvolvidos, com a devida
qualidade e rigor técnico e metodológico, podem se tornar fortes instrumentos não apenas para
reduzir emissões de GEE e mitigar as mudanças climáticas, trazendo desenvolvimento sustentável
à suas populações tradicionais, mas também assumindo um papel essencialna construção e
aprimoramento das estruturas, políticas e arranjos institucionais necessários para a implementação
internacional do REDD+ no âmbito da UNFCCC.
PART 3 conclusion
89
anexos
Lista de Acrônimos
APP Área de Preservação Permanente
CCB Padrões Clima, Comunidade e Biodiversidade
CCX Bolsa do Clima de Chicago
DCP Documento de Concepção de Projeto
FCPF Mecanismo de Parceria de Carbono Florestal
FSC Brasil Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (Forest Stewardship Council)
GEE Gases de Efeito Estufa
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPCC Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
LULUCF Uso do Solo, Mudança do Uso do Solo e Florestas
MtCO2 Milhão de Toneladas Métricas de Dióxido de Carbono
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
ONG Organização Não Governamental
PRODES Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite
PSA Pagamentos por Serviços Ambientais
REDD+ Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação florestal, e conservação
florestal, manejo florestal sustentável e o aumento dos estoques de carbono
SIG Sistema de Informação Geográfica
TI Terra Indígena
UC Unidade de Conservação
UNFCCC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima
VCS Voluntary Carbon Standard
Glossário
Acordos de Marrakech Acordos alcança- longo prazo esperados pelo projeto quanto à
dos na COP-7 que estabelecem várias regras redução ou prevenção de emissões de carbono
de “operação” das provisões mais complexas que não ocorreriam em sua ausência. As redu-
do Protocolo de Quioto. Entre outras coisas, ções de emissões só devem ser contabilizadas
os acordos incluem detalhes para o estabeleci- para REDD+ quando comprovam claramente
mento de um sistema de comércio de emissões que são atribuíveis às atividades do projeto e
de gases de efeito estufa, a implementação e o representam uma alteração no cenário de linha
monitoramento do mecanismo de desenvolvi- de base.
mento limpo do Protocolo, e a criação e ope-
ração de três fundos para apoiar os esforços de Atividade subnacional Atividades imple-
adaptação à mudança climática. mentadas no plano subnacional como parte da
estratégia REDD+ do país. As atividades subna-
Adicionalidade A adicionalidade é a demons- cionais podem ser implementadas por governos,
tração de resultados reais, mensuráveis e de autoridades locais, ONGs ou entidades privadas.
Podem estar incluídas num mecanismo nacio- Fonte Um depósito (reservatório) que absorve
nal ou internacional de crédito. ou guarda carbono emitido por outros compo-
nentes do ciclo de carbono, com mais carbono
Comunidades locais Não há uma definição sendo emitido do que absorvido.
internacional universalmente aceita de comu-
nidades locais, embora o termo tenha sido defi- Linha de base A linha de base é o cenário que
nido em certos instrumentos legais internacio- representa a quantidade de emissões de GEE
nais, e com relação a uma atividade particular oriundas do desmatamento que ocorreria na
refere-se a comunidades dentro da área de in- ausência do projeto. Os métodos usados na de-
fluência da atividade. terminação de linhas de base influenciam direta-
mento a magnitude e precisão das estimativas de
CQNUMC Convenção Quadro das Nações Uni- reduções de emissões de carbono. É importante
das para Mudanças do Clima (UNFCCC em que a linha de base seja monitorada ao longo
inglês). do tempo e eventuais correções sejam feitas em
situações onde ocorram alterações em cenários
Degradação Mudanças dentro da floresta que políticos, taxas de desmatamento e condições
afetam negativamente a estrutura ou função do socioeconômicas relacionadas ao projeto.
sítio ou da situação da floresta, diminuindo as-
sim sua capacidade de proporcionar Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
produtos e/ou serviços. No que diz respeito a (MDL) Um mecanismo estabelecido no Artigo
REDD, degradação se refere especificamente à 12 do Protocolo de Quioto e que visa assistir
redução na densidade de carbono. às Partes não incluídas no Anexo 1 para que
atinjam o desenvolvimento sustentável e con-
Desmatamento Segundo a definição dos tribuam para o objetivo final da CQNUMC, e
Acordos de Marrakech, a conversão diretamen- assistir às Partes incluídas no Anexo 1 para que
te induzida pelo homem de terra florestada em cumpram seus compromissos quantificados de
terra não florestada. limitação e redução de emissões.
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Change. 19(2):265-278.
Autores: Mariano Colini Cenamo, Mariana Nogueira Pavan, (Idesam), Ana Cristina Barros
e Fernanda Carvalho (TNC Brasil)
Projeto gráfico: Gabi Juns
Produção de mapas: Gabriel Carrero
Imagens: Arquivo Idesam
Tiragem: 750 exemplares
Gráfica: Grafisa
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