Você está na página 1de 18
Capitulo 4 A HISTORIA EM QUESTAO: OS GRANDES DEBATES DO SECULO 20 A obsessio dos historiadores do século 19 pela dupla preo- cupagio de definir um método e fundar a historia nacional, cor- responde um alargamento de horizontes no século 20. historia, renovida pelos problemas langados pela Sociologia e pela geo- sgrafia, entre outros, se reorga ‘Annales. A fama da escola h ras do pais, ¢ chega principalmente aos Estados Unidos, onde os, historiadores concentram-se nos estudos sobre a historia francesa, A RENOVACAO Dos ANOs 1900 A explosio das ciéncias sociais testo contra a sando-a de se dial para o Comércio ¢ Indiistia A. do Trabalho da SDN, nece colaboradores ocasionais. Esta abertura a autores nao-b toriadores & totalmente nova e contéibui para lo - tiva dos Annales dentro dessas “estratégias da tercei dos anos 30: nem liberal fala até mesmo em “geo-l aso devido & guerra, Lucien Febvre pu 122 y Avia om ge: rnd ded es 0 6a tese de Fernand Braudel: La Mediterranée a ippe Il, que trans forma, por sugestao de Febvre, 0 que no comego era dda historia clissica ~a politica mediter- ‘suas relagdes com o homem, em um prolongado periodo de i po da tempo individual” (F Brau programa dos Annales, em suma, € uma continuaga0 do de Voltaite tal como ele se expressa em Nowvellesconsidéra- istoire (1744) e as proposigSes de Chateaubriand em. tudes historiques (1831): "Agora a histéria € noma até a quimica, desde a arte das finangas até a da manufa- do arqui chelet com sua “historia tot ‘Annales inovam pelo seu tom. Sem representar uma escola prop! . 08 Anmales estio na origem das redes de amizade que depois se transformam em estruturas diversas; ‘em especial na VI seco da Ecole pratique des Hautes Etudes dos Annales, £0 momento em que gozam de imenso prestigio © 05 jovens pesquisadores vém para a Franca complementar ‘temunha o sucesso da escola dos Annales, quando ele consta- ta em 1961 que ela “estd assumindo o lugar antes ocupado na Europa pela escola historica alema como viveiro de historia- 123 br ria Os fundadores dos Annales: Lucien Febvre e Marc Bloch Existe uma certa ta intlectal pesos como Hen Preme Demangeon Mauie Falbwacs Eta dei, cont, Jasin pla nla que aquls dois homens exectam ss bre divers grades de historiadores Lucien Febvre (1878-1956) Sendo natural do Franche-Comté~ ele se compra em re= Jembrar ¢ em citar Proudhon: os nascidos no Fr npe IIe ). Professor em Estrasburgo em 1919, e depois no Col época e suas preocupasses no di Lutero (Un destin: Martin Luh neroyance au XVE siécle; la reli de UHeptaméron, a sant anu profi 148). Sense mpotnca da ogra (La Terreet Evolution hur fafa histérica com o livro Ze Probleme historique du Rhin (1931) pelo qual procure compreender eex 0 comercial e de circulagao, fionteira le reflete sobre a nogio de fronteira: fontsra quando dois dnastas, aca ‘enos de explorago plantam de comum acordo algumas cercas 20 longo de um campo, ou tagam no meio do rio ia imagindra, A fontera passa a exstir quando, em os canhoes por ders das baricada. Sentimen= paixoesexaltada ¢ dios, Vemos nessa definigao uma mistura das reminiscéncias dla historia “batalha”e da preocupagao com 0 espago econdmico e 0 dos sentimentos que se abre sobre a hist Lucien Febvre € também um polemista infatigével, autor as iéias sobre a his- ymente reunidas nos Combats pour ine (1953) ¢ Pour une histoire a part entire (1962). Duran te uma conferéncia ministrada aos alunos da Ecole normale si péricure da rua Ulm, ele propoe sua definicdo de historia: [Nao existe historia economicae social Exist hist ‘mente, em sua Unidad A histria que €inteiramente 80. histria que eu consdero obj icumente, de diversas atvidadese de diversas ciagdes dos ho- ns do pasado, consierados, no context de sa epoca ede so- eas extreshamente variad ¢,contudo,compaiveis entre si Istria ~ de uma histéria ques insreve no grupo ds disciplines humana de todss as ordens egraus, ldo a lado com a antropolo- i, psicologis, a ingistia, etc, de uma histria que mo sete essa por algum homem abstrato, eterno, de essénca imutivel € ‘sempre idéntico asi mesmo ~mas aos homens sempre no contesto 25 ots Hara sociedad em uma poca bem determinada de seu deseo {0-305 homens dotados de fungoesmiltpas,dedicados tivid des diversas, com preocupagBese apis variadas, todas se mist ‘Mare Bloch (1886-1944) Oriundo dos meios ta burguesia judia de Pat dos. grandes especialistas em histéria antiga (Gustave recebido como Lucien Febvre na Ecole normale supérieure da rua ims entre 1908-1909, B admi ‘Thiers onde encontra dois normalistas: 0 sindlogo Maurice influencia profundamente 1s nos métodos e na proble- matica da antropologia historica, que marcaré tanto a obra de Louis Gernet (Le Génie gree dans la religion, 1932) como a de ‘Mare Bloch. Ele comega lecionando histéria no liceu e em se- guida € convocado como oficial em 1914. A experiéncia da guerra deixa marcas duradouras ¢, em 1919, le € nomeado inde de’ Estrasburgo, logo apés ter defendido ia medieval Rois ef serfs, e vai construir uma obra profundamente original cujas obras-chave sto Les Rois rmaturges, Mate Bloch entrega-sa um es tudo comparativo dos rtos de sigrasio na Frangae na Inglter- 1 ie idea que ele defenders sempre: uma historia compara- 126 res 20 tiva somente pode ser concebida para blocos culturais vizinhos. Ele procura compreender como as populagdes puderam acredi- tar no milagre da cura das eserofulas pelos res recém-sagrados: ‘Sem divi, ninguém cogitariaacreditar no milagre se no houvesse uma predisposicao a esperar dos ris 3s estayam jéincinados ~ sera preciso relem- Dri-lo?~a esta expectatva A iin de uma fealeza Sagrada, de ‘endencia muito remota, fortiicada pels ios de ungaoe todo 0 Aesabrochamento da lenda mondrquica, habilmente explorad, lem de alguns politicos mateiros, habeis em ppovoava a conseigncs pop lagre foi o sentimento de que deveria hater um milage sim € lil enxergar na é no milagre real outracoisa que no am ‘erro coletivo (Gallimard, 1987, p. 428-429). Les Rois thaumaturgesabre assim a via nlo apenas a0s es- tudos de antropologia historica por historiadores da Antigiidade ‘em torno de Marcel Détienne, Jean-Pierre Vernant e Pierre Vidal- ‘a uma renovasio da historia ‘franqueadas diante de sias portas do College de France. No rio de 1940, ele redige I’Etrange Défaite, reflexto sobre as razOes profundas da rutin; avera de 40. Ne (rio na universidade de Clen zona livre, é obrigado a refugiar-se na clandestinidade e unir-se- 4 resisténcia lionesa; preso pelos alemaes, éfuzilado em junho de 1944, Destes tiltimos anos restam apenas as anotagdes, Apo- logie pour Vhistoie ou meétier ehistorien, organizadas postuma- ‘mente por seu amigo Lucien Febvre. 7 | eda ria A “Nova Historia” Novos centros de interesse ‘Apa Segunda Guero fndadores dos Amals des parece cts pls sherds eases desire "en be pe fara de pom oa au abandons a alae para melhor amare pe A camento da is soc rc Sot Giaton)}"0 Anes endo mislando porque tudo ed me. dando aos redor ox homens sca em una paar, © mundo” (LR). Na Bcoe des Hates Eres wise cm 1948 a VI sept, especializada nas ciéncias econdmicas e sociais, ‘ja finalidade é possbilitar a integragao entre ensino e pesq ‘sa no quadro de uma realidade multidisciplinar; Lucien Febvre mantém a diregio até sua morte em 1956 e Fernand Braudel as~ sume seu posto. (© sucesso da sociologia Aino ont ta do se 20, Esse desenvolvimento ¢ ativamente sustentado por uma vonta- de politica que, em um contesto de crescimento econdmico, leva em consideracio a evolugto inevitivel da sociedade. O Estado, ‘as empresas, 0s sindicatos, todos esperam que a sociologia for- larmente 0s historiadores dos Anmales, aporte das ciéncias sociais, Contudo, no campo das ciént ‘manas, continua viva a pol gem criticas ainda mais, Strauss cujas obras: Thstes Tropiques structurale (1958) fundam o estruturi historiador continua no nivel da observagao empirica, “a ria organiza seus dados em relagdo as expressdes co! cetnologia em relagio as expresses inconscientes da (Anthropologie structurale, . 25, 1958). De acordo com esta ané- lise, a histéria tem apenas uma posigao secundaria, reduzida a simples material de base, Os historiadores se sublevarao contra ‘esse reducionismo e, entre os primeiros deles, Fernand Braudel {que reintrodu as “estruturas” no cere do discurso hist6rico. Os inicios da demografia histérica Em 1945 é fundado 0 INED e, em 1946, 0 INSEE, Demé- {grafose historiadores se associam para expor em 1956 os prin-

Você também pode gostar