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Estamos a diversificar a economia nacional” esta é a expressão que,

desde o primeiro trimestre de 2014, os angolanos passaram a ouvir


diariamente, sobretudo na comunicação social pública.

Certamente, será o principal objectivo de todas as propostas


eleitoras dos partidos políticos, nas eleições de 2017.

Esta preocupação generalizada surge com as reduções nas receitas


petrolíferas (nas divisas), necessárias para importação de bens e
serviços e para financiar as despesas públicas.

O autor receia que o fanatismo e a necessidade desesperada de


diversificar a economia nacional, esteja a criar uma visão deturpada
sobre o papel do sector dos petróleo neste processo e, uma
alocação ineficiente dos recursos financeiros.

Antes de mais nada, o autor a presenta as razões da sua


inquietação identificando o problema, de seguida, expõe as
consequências, as formas de identificação, manifestação e, por fim,
apresenta proposta de resolução concreta.

Abordagem adoptada consiste em expor os fundamentos teóricos,


seguido da quantificação prática.

Dar-se-á uma especial atenção a importância da energia no


processo de diversificação.

 PETRÓLEO BRUTO COMO PRODUTO FINANCEIRO E ARMA


DIPLOMÁTICA

A forma como vemos o Petróleio Bruto “Produto Financeiro


e Arma Diplomática”, está na origem das crises económicas
em Angola.

Como resultado da Guerra de Yom Kippor e do embargo de 1973, o


petróleo bruto assume duas novas dimensões, nomeadamente,
Produto Financeiro e Arma Diplomática. A função originária desta
principal matéria-prima para geração de energia, foi relegada para
segundo plano, sobretudo, nos países produtores e exportadores de
petróleo, baseado em (José Rodigues, 2013)

Em Novembro de 1975, logo após a independência nacional, os


Jovens governantes conheceram o petróleo bruto como moeda
(dinheiro). As condições para esta visão limitada foram criadas pela
combinação de dois factores, por um lado, a necessidade de
consolidar a independência e administrar todo território nacional,
por outro lado, a entrada massiva de dólares na economia,
provenientes da subida do preço do barril de petróleo bruto e da
apropriação deste recurso natural pelo estado de Angola, conforme
(Rocha Dilolwa, 1978; José Rodrigues, 2013).

A necessidade de diversificar a economia é anterior a


independência. Carlos Rocha Dilolwa, (1978), alertava pela
concentração patológica das exportações em poucos produtos
(Petróleo, Diamante, Mineiro de Ferro), que em uma década cresceu
157%, de 18,17 em 1960 para 46,7% em 1973. Acrescentou que a
economia estava a mercê das mínimas flutuações dos mercados
bolsistas.

Em meados de 2008, o Centro de Estudos e Investigação Cientifica


da Universidade Católica de Angola no seu Relatório Económico de
Angola do ano 2007 (REA 2007, 2008), alertava a necessidade
imperativa de diversificar a economia nacional, de modo a mitigar
os efeitos da Doença Holandesa, que na linguagem anglo-saxónica
significa "Dutch disease".

Surpreendentemente, depois de 9 anos do posicionamento do CEIC -


outrora visto como um insulto ao pensamento económico nacional -
passou a ser uma devoção do governo angolano, assumindo que o
sistema económico sofre de Doença Holandesa, conforme o
Mecanismo de Transmissão do Preço do Petróleo (OGE 2015, Out-
2016).

Os petrodólares subverteram a importância do petróleo bruto como


matéria-prima, esta visão foi agravada pelo conflito armado, que
inviabilizou a produção agrícola e industrial.

 DOENÇA HOLANDESA = ARMADILHA DA POBREZA =


MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

A expressão diversificar a economia nacional, passou a ser tão


venerada e vulgarizada, deturpando o seu verdadeiro significado,
confundindo a opinião pública. Desta forma, percebe-se que a
política económica necessita de estratégia única, sistémica e
harmónica de diversificação da economia.

A Doença Holandesa pode ser entendida como a perda crónica da


competitividade externa, essencialmente, a diminuição da
participação da indústria transformadora no nível de actividade
económica, a diminuição relativa das exportações de bens
manufacturados, o aumento da componente importado no nível de
actividade económica, a diminuição da exportação de bens com alto
valor acrescentado, causada pela valorização da taxa de câmbio
média de um país, devido a exportação de um único recurso
natural, no caso de Angola o petróleo bruto, (Luiz Bresser-Pereira,
2007).
Todavia, a diversificação económica é uma estratégica que consiste
em expandir o nível de actividade económica, através do fomento
de outras fontes de geração de riqueza, isto é, reduzir a
participação relativa do sector petrolífero no Produto interno bruto,
através do incremento da produção de outros sectores de
actividade.

Segundo o CEIC, o peso relativo das exportações no PIB é um facto


que suporta o argumento que o sector externo da economia
nacional, particularmente as exportações, tem sido um dos
principais factores que mais tem contribuído para o crescimento
económico do país. Como é de resto sabido, o produto que domina
as exportações angolanas é o petróleo, que em 2014 representou
98,2% do valor total dos produtos exportado. O índice de
concentração das exportações de Angola “Herfindahl “ está acima
de 0,9, isto é, muito próximo de um (1), o limite máximo de
concentração. Contudo, com o fim da guerra civil, em Abril de 2002,
o índice de concentração começou a aumentar, atingindo o valor de
0,968 em 2013 (REA 2014, 2015).

A partir de 1973, a economia angolana tem apresentado os


sintomas da doença holandesa. No entanto, os economistas e
políticos associaram-nos ao factor guerra civil, que inviabilizou a
agricultura e a indústria transformadora, através da destruição das
infra-estruturas básicas necessárias para sua criação/ surgimento e,
funcionamento.

Ilustrações 1 : Grau de Abertura da Economia e Exportações

Outrossim, se a guerra civil assassinou o sector produtivo e, a


valorização do kwanza veio sepultá-lo. Logo, a economia angolana
enfrenta dois desafios complexos, em primeiro lugar, a criação de
infra-estruturas para o funcionamento do sector produtivo e, em
segundo lugar, a neutralização dos efeitos da Doença Holandesa.
O objectivo de neutralizar a Doença Holandesa consiste em
viabilizar a indústria transformadora e outros sectores produtivos,
através do aumento da competitividade, quer pela via da
administração da taxa de câmbio, quer pela via da redução dos
custos de produção. 

1ª SOLUÇÃO “ Neutralização da Doença


Holandesa Depreciar a taxa câmbio”
Para mitigar os efeitos da doença holandesa, pela via do controlo da
taxa de câmbio, os estados têm tomado algumas medidas, dentre
as quais, a criação de um fundo internacional, manipulação da taxa
de juro, criação de reservas, criação de imposto sobre o bem em
causa e o controlo da entrada de capitais. (Luiz Bresser-Pereira,
2007).

O Estado de Angola tem vindo adoptado algumas medidas previstas


pela teoria económica, nomeadamente: A constituição legal do
fundo Soberano em 2011 , (http://www.fundosoberano.ao/ );
A existência de vários impostos - sobre o sector petrolífero - Imposto
sobre a Transacção do Petróleo IRT, Imposto sobre a Produção de
Petróleo IPT, Impostos sobre o Rendimento do Petróleo e, os Direitos
da Concessionária Nacional, (Lei 13/04 de 24 de Dezembro); A
Esterilização dos influxos de moeda estrangeira do sector petrolífero
pelo BNA (MINFIN, 2001).

Estas medidas permitiram administrar a taxa de câmbio, no entanto


a taxa de câmbio comercial se manteve acima da taxa de câmbio
industrial, em suma, o kwanza manteve-se valorizado.

Apesar dos esforços do Estado de Angola, não foi possível


neutralizar a doença holandesa. Em primeiro lugar, devido a erros
de concepção e implementação das políticas adoptadas –
repatriamento das divisas obtidas pela tributação petrolífera e,
expansão da despesas públicas correntes financiadas por estas
divisas. Em segundo lugar, a ausência de condições estruturais para
o funcionamento do sector produtivo. 

2º SOLUÇÕES – “ Infraestruturas para o


funcionamento do sector produtivo ”
Após o fim da guerra civil, o estado angolano lançou um programa
de reconstrução nacional, que visava a reabilitação das estradas,
caminhos-de-ferro, aeroportos e portos, escolas, hospitais,
barragens e, habitações, dentre outras. Esta medida permitiu ligar
Angola, via terrestre, areia, ferroviária e, melhorar a qualidade de
vida dos cidadãos, etc.
A principal matéria-prima para o incremento da produção em
qualquer sector é a energia. Em sentido amplo a energia é sinónimo
de trabalho, de produção, de movimento, de força. Precisa-se de
energia para fazer funcionar as fábricas, electrodomésticos,
celulares, computadores, aquecedores, aparelhos de ar
condicionado, para o transporte, iluminação, dentre outras
utilidades.

No entanto, precisou-se de energia para reconstrução das infra-


estruturas, para seu funcionamento e, para a manutenção. Logo a
reconstrução e diversificação, deveria primar pelos sectores que
geram inputs necessários para os demais sectores funcionarem “a
energia”.

A energia flui em sentido oposto ao do dinheiro, isto é, as pessoas,


empresas e países trocam a energia por dinheiro, a título de
exemplo, Angola exporta petróleo e recebe dólares, Angola importa
gasolina e entrega Dólares, adquisição de um telemóvel, na qual o
seu preço reflecte a energia de uma pequena ação humana e muita
energia empregada em todas as tecnologias para sua fabricação.

A diversificação da economia nacional passa por transformar em


dinheiro, cada Joule (unidade de energia) contido nas fontes de
energia disponível, (energia hídrica, Solar, eólica, Biomassa,
Gravitacional, energia dos combustíveis fósseis). Quer pela sua
incorporação na produção de outros produtos, quer pela venda
directa.

A indústria de energia encontra-se muito concentrada, pelo lado da


oferta, espera-se que em 2035 75% produção de energia seja
proveniente de três principais fontes – Petróleo bruto 28%; Carvão
25% e, Gás natural 22%. Do lado da procura, para o mesmo período
espera-se que 92% do consumo de energia encontrar-se-á
concentrada em três setores - Geração de Energia elétrica 45%,
Industria 29% e, Transporte 18%.
Ilustrações 2: Evolução da Oferta e Procura de Energia

O petróleo continuará a ser a maior fonte de energia nos próximos


20 anos. Certamente as pessoas e as empresas estarão
interessadas em comprar petróleo bruto em troca de dinheiro. É do
conhecimento de todos que o petróleo não é consumido no seu
estado natural, o que se depreende que as pessoas e as empresas
procuram energia contida nos seus derivados.

Coincidentemente, na fase de maior crescimento económico e de


industrialização de países como os E.U.A (57% em 2003 para 2% em
2015), China (12% em 2003 para 48% em 2015) e, recentemente a
Índia (1% em 2003 para 13% em 2015) são os nossos maiores
importadores de Petróleo de Angola. (Relatório anual da OPEP 2015)

   “Angola
vende energia bruta e
compra energia com maior valor
acrescentado”.
A política e Estratégia de Segurança Energética, estabelecida pelo
Decreto Presidencial nº256/11 de 29 de Setembro, está muito
voltada para geração de energia elétrica, não obstante conter
orientações estratégicas para o subsector de petróleo que consiste,
por um lado, a maximização da captura de riqueza para Angola. Por
outra, a racionalização dos investimentos previstos para o
subsector.

A visão limitada sobre o petróleo bruto como Produto Financeiro e


Arma Diplomática é reforçada pela omissão, na política energética,
sobre o consumo de energia nos sectores de transporte e indústria
que representam 48% da matriz energética mundial. As previsões
do governo apontam para que 64% da energia seja de origem
hidroeléctrica, que é destinada exclusivamente a geração de
energia eléctrica, 20% corresponde a energia de origem no Gás
Natural e, 7% a energia de origem térmica. (Angola Energia 2025,
Atlas das Energias Renováveis e Visão para o Sector Eléctrico).

A não discricionariedade da energia para indústria, tem origem


históricas, uma vez que em 1973, cerca de 20% da capacidade de
produção de energia correspondia aos industriais “particulares”,
dentre eles, Diamang, Mineira do Lobito, C.F.B., Companhia de
Cimento de Angola, Chibera, J.P.E.A., Companhia Agrícola do
Cassequel e, Companhia de Açúcar de Angola. (Rocha Dilolwa,
1978).

No entanto, em termos económicos dever-se-á ter em conta o custo


de oportunidade e social das exportações do petróleo bruto, em
primeiro lugar, por se tratar de um recursos natural não renovável
e, em segundo lugar, porque o petróleo bruto possui múltiplas
aplicações na indústria petroquímica, transporte, alimentícia, saúde,
dentre outras.

CONCLUSÃO
A diversificação da actividade económica em Angola passa por
fomentar a indústria (incluindo o agro-negócio), através do
fornecimento de energia a baixo custo e, em simultâneo,
controlar a taxa de câmbio.

A política energética estabelecida em 2011, apresenta as linhas


orientadoras para este desiderato, faltou disciplina de capital e um
acompanhamento rigoroso dos objectivos estabelecidos para o
sector dos petróleos, essencialmente, para refinação e gás natural.

O incumprimento do sector dos petróleos “ MINPET e Sonangol”


colocou em causa toda a estratégia de diversificação. Devido a
indisponibilidade de recursos energéticos suficientes para atender
as necessidades da indústria a jusante, nomeadamente, produção
de Plásticos, Fibras, Borrachas, Fertilizantes, Insecticidas, Corantes,
Resinas, Anticongelantes, Material para Vestuário, Plastificante,
Detergentes, Antioxidantes, Fungicidas, Pesticidas, Produtos
Químicos, Solventes, Fluidos de Refrigeração, Medicamentos,
Antidetonantes Explosivos, Gás Combustível, Combustível para
Motores, Óleos Lubrificantes, Óleos Combustíveis, Asfaltos, Gases
de Síntese, LPG, Naftas, Aromáticos, dentre outros.

Do ponto de vista de eficiência de capital, não é aconselhável


diversificar a económica através da injecção de recursos financeiros
na agricultura empresarial e na indústria, uma vez que necessitará
de energia, contida nos derivados de petróleo bruto para o seu
funcionamento e manutenção.

No curto prazo a estratégia de diversificação passa por injecção de


recursos financeiros para agricultura familiar, uma vez que a
produtividade neste segmento é maior, aumenta o emprego, reduz
a pobreza, diminui as assimetrias regionais e, o esforço a nível de
importação de refinados e fertilizantes é menor.

Em simultâneo, dever-se-á avaliar a implementação da política


energética, essencialmente, os projectos de refinaria e definir uma
estratega para expansão urgente da capacidade de refinação.

Numa primeira fase, a dualidade da estratégia de diversificação da


economia angolana, surge do foco do esforço de investimento, que
seguirá a lei 20-80, isto é, 80% dos fundos deveram ser canalizado a
produção dos vários tipos de energia de acordo com a sua utilidade
e, 20% para outros sectores de actividade.

Para o sucesso da estratégia, a mesma deverá ser de iniciativa do


titular do poder executivo, de modo a mitigar o risco de conflito de
interesses dos vários grupos da sociedade.

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