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PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA APLICADA À EDUCAÇÃO

Prof. Me. EDUARDO BEZERRA

AVALIAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA
A Avaliação Neuropsicopedagógica é um dos componentes críticos da intervenção neuropsicopedagógica, pois
nela se fundamenta as decisões voltadas à prevenção e solução das possíveis dificuldades dos alunos,
promovendo melhores condições para o seu desenvolvimento. Ela é:

Um processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes


acerca dos vários elementos que intervêm no processo de ensino e
aprendizagem, visando identificar as necessidades educativas de
determinados alunos ou alunas que apresentem dificuldades em seu
desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao currículo escolar por
causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da proposta
curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no desenvolvimento
das várias capacidades e para o desenvolvimento da instituição (COLL;
MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279).
A avaliação envolve:

a) Identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da criança. Precisamos determinar
se, trata-se de um distúrbio de aprendizagem ou de uma dificuldade provocada por outros fatores
(emocionais, cognitivos, sociais...). Isto requerer que sejam coletados dados referentes à natureza da
dificuldade apresentada pela criança, bem como que se investigue a existência de quadros
neuropsiquiátricos, condições familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas
pelo meio a que a criança pertence;

b) Levantamento do repertório infantil relativo às habilidades acadêmicas e cognitivas relevantes para a


dificuldade de aprendizagem apresentada, o que inclui: conhecimento, pelo profissional, do conteúdo
acadêmico e da proposta pedagógica, à qual a criança está submetida; investigação de repertórios
relevantes para a aprendizagem, como a atenção, hábitos de estudos, solução de problemas,
desenvolvimento psicomotor, linguístico, etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou condições que
facilitem a aprendizagem dos conteúdos; identificação de padrões de raciocínio utilizados pela criança
ao abordar situações e tarefas acadêmicas;

c) Identificação de características emocionais da criança, estímulos e esquemas de reforço aos quais


responde e sua interação com as exigências escolares propriamente ditas.

Durante a avaliação podem ser realizadas atividades matemáticas, provas de avaliação do nível de
pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos. Inicialmente, deve-se
perceber, que a queixa apontada pelos pais como motivo do encaminhamento para avaliação, muitas
vezes pode não só descrever o “sintoma”, mas também traz consigo indícios que indicam o caminho
para início da investigação. “A versão que os pais transmitem sobre a problemática e principalmente a
forma de descrever o sintoma, dão-nos importantes chaves para nos aproximarmos do significado que a
dificuldade de aprender tem na família” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 144).

Segundo Coll e Martín (2006), avaliar as aprendizagens de um aluno equivale a especificar até que
ponto ele desenvolveu determinadas capacidades contempladas nos objetivos gerais da etapa.
Para que o aluno possa atribuir sentido às novas aprendizagens propostas, é necessária a identificação
de seus conhecimentos prévios, finalidade a que se orienta a avaliação das competências curriculares.
Dentre os instrumentos de avaliação também podemos destacar: escrita livre e dirigida, visando avaliar a
grafia, ortografia e produção textual (forma e conteúdo); leitura (decodificação e compreensão); provas
de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas; cálculos; jogos simbólicos e jogos
com regras; desenho e análise do grafismo.
O neuropsicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando
solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua
meta fundamentalmente é investigar todo o processo de aprendizagem
levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para
valendo-se desta investigação, entender a constituição da dificuldade de
aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, p. 51).

O diagnóstico neuropsicopedagógico abre possibilidades de intervenção e dá início a um processo de


superação das dificuldades. O foco do diagnóstico é o obstáculo no processo de aprendizagem. É um
processo no qual se analisa a situação do aluno com dificuldade dentro do contexto da escola, da sala
de aula, da família; ou seja, é uma exploração problemática do aluno frente à produção acadêmica. O
diagnóstico não deverá somente fundamentar uma deficiência, mas apontar as potencialidades do
indivíduo. Não é simplesmente o que este tem, mas o que pode ser e como poderá se desenvolver.

É de extrema relevância detectar, através do diagnóstico, o momento


da vida da criança em que se iniciam os problemas de aprendizagem.
Do ponto de vista da intervenção, faz muita diferença constatarmos que
as dificuldades de aprendizagem se iniciam com o ingresso na escola,
pois pode ser um forte indício de que a problemática tenha como causa
fatores intraescolares (BOSSA, 2000, p. 101).

RECURSOS DE DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA

Rubinstein (1996) destaca que o profissional da neuropsicopedagogia pode


usar como recursos a entrevista com a família; investigar o motivo da consulta;
conhecer a história de vida da criança, realizando a anamnese; entrevistar o aluno; fazer contato com a
escola e outros profissionais que atendam a criança; manter os pais informados do
estado da criança e da intervenção que está sendo realizada; realizar
encaminhamentos para outros profissionais, quando necessário. Bossa (2000)
destaca outros recursos, referindo-se as Provas de Inteligência (WISC);
Testes Projetivos; Avaliação perceptomotora (Teste de Bender); Teste de Apercepção Infantil (CAT.);
Teste de Apercepção Temática (TAT.); Provas de nível de pensamento (Piaget);
Avaliação do nível pedagógico (nível de escolaridade); Desenho da família;
Desenho da figura humana; Teste HTP ( casa, árvore e pessoa); Testes
psicomotores; Lateralidade; Estruturas rítmicas... A autora não apresenta restrição quanto ao uso dos
testes, no entanto, alguns destes testes (Wisc, Teste de Bênder, CAT, TAT, Testes Projetivos), aqui no
Brasil, são considerados de uso exclusivo de psicólogos. Para evitar atritos, psicopedagogo pode ser
criativo e desenvolver atividades que possibilitem fazer as mesmas observações que tais testes.
OBS: HÁ TESTES, INSTRUMENTOS E FERRAMENTAS QUE SOMENTE PODERÃO SER UTILIZADOS POR PROFISSIONAIS CAPACITADOS DAS
ÁREAS DA SÁUDE COMO NEUROPISCOPEDAGOGIA E/OU NEUROPISCOLOGIA CLÍNICA, NÃO SENDO VIÁVEL SEU USO POR PROFESSORES.

O diagnóstico é composto de várias etapas que se distinguem pelo objetivo da investigação.


1) Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.);
2) Entrevista de anamnese;
3) Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças);
4) Provas e Testes (quando necessário);
5) Síntese diagnóstica – Prognóstico;
6) Entrevista de Devolução e Encaminhamento.

Para que seja realizada uma avaliação Neuropsicopedagógica adequada, é necessário


compreender o sujeito avaliado em todas as dimensões que o constitui. Desta forma, adota-se o
Modelo de Sujeito BIOPSICOSSOCIAL – TEORIA DA ECOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO.
TEORIA DA ECOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Para a abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner é necessário compreender que diferentes


contextos e fatores interferem nesta avaliação.

NEUROPSICOPATOLOGIAS: TRANSTORNOS MENTAIS DA INFÂNCIA


Para DALGALARRONDO (2008), A psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser definida como o
conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que
se esforça por ser sistemático elucidativo e desmistificante. A neuropsicologia investiga as relações
entre as funções psicológicas e a atividade cerebral. É de seu particular interesse o estudo das
funções cognitivas, como a memória, a linguagem, o raciocínio, as habilidades visuoespaciais, o
reconhecimento, a capacidade de resolução de problemas, etc. As alterações classicamente estudadas
pela neuropsicologia são as afasias (perda de linguagem), as agnosias (perda da capacidade de
reconhecimento), as amnésias (déficits de memória) e as apraxias (perda da capacidade de realizar
gestos complexos). Além dessas alterações, tem-se dado ênfase a outras dimensões da cognição, como
as atividades construtivas (execução de tarefas complexas, realização de atos construtivos em
seqüência, tarefas psicomotoras, etc.), habilidades visuoespaciais (análise e julgamento de relações
espaciais, reconhecimento e memorização de figuras . complexas, etc.), habilidades musicais
(discriminação de tons e melodias, etc.), atenção sustentada e seletiva, percepção do tempo e
organização temporal, funções executivas (identificação e resolução de problemas novos, elaboração de
estratégias de ação, execução de tarefas seqüenciais, etc.) e funções conceituais (formação de
conceitos, desenvolvimento de raciocínios, pensamento lógico, habilidades aritméticas, etc.).

SISTEMA FUNCIONAL COMPLEXO (SFC) – LURIA 1981

1- Os processos mentais complexos, como linguagem, pensamento, memória, abstração,


praxias, gnosias, etc., não estão “prontos” no adulto, não são fenômenos fixos, derivados mecânicos
de uma área cerebral que entra em ação, independentes do desenvolvimento do indivíduo. Eles são,
de fato, construídos durante a ontogênese, por meio da experiência social, ou seja, pela interação
intensa e contínua da criança com seus pais e seu meio social. Essa interação é que permite ao
indivíduo adquirir todas as suas funções cognitivas, como memória, linguagem, pensamento,
reconhecimento, etc.
2- Do ponto de vista cerebral, as funções e os processos mentais complexos são organizados
em sistemas que envolvem zonas cerebrais distintas, cada uma delas desempenhando um papel
específico no sistema funcional, agindo e interagindo em concerto. Tais zonas, na maior parte das
vezes, estão em áreas diferentes e, em geral, distantes umas das outras no cérebro. Embora
distantes, agem de forma coordenada para produzir uma função mental complexa.
3- A lesão de uma das áreas cerebrais implicada em determinada função mental superior pode
acarretar a desintegração de todo o sistema funcional. Portanto, a perda de uma função particular
pode informar pouco sobre a sua localização. Muito mais relevante que uma área cerebral circunscrita
são os sistemas funcionais complexos, constituídos por redes neuronais amplas e muito dinâmicas.
Para um transtorno mental ser diagnosticado é necessário que haja um histórico de anormalidades
sustentadas ou recorrentes e que tenha como consequência uma certa deteriorização ou perturbação
do funcionamento pessoal em uma ou mais esferas da vida. É preciso observar e avaliar os
comportamentos internos e externos ao sujeito avaliado.

DSM-IV
EIXOS MULTIAXIAIS
EIXO I desordens clínicas incluindo, principalmente, desordens mentais, bem como
desordens do desenvolvimento e aprendizado;
EIXO II distúrbios de personalidade ou invasivos, bem como retardo mental,
EIXO III condições médicas agudas ou desordens físicas;
EIXO IV fatores ambientais ou psicossociais contribuindo para desordens;
EIXO V Avaliação Global das Funções (Global Assessment of Functioning) ou Escala de Avaliação Global
para Crianças (Children’s Global Assessment Scale) para jovens abaixo de 18 anos (numa escala de
0 a 100).

MARCOS DESENVOLVIMENTAIS
Linguagem: é preciso questionar quando a criança começou a apresentar interesses por sons, quando
começou a compreender as primeiras palavras, a balbuciar, quando foram as suas primeiras
palavras, qualidade da fala e da comunicação.

Capacidades motoras: idade em que a criança teve aquisições como sentar-se sozinha, engatinhar,
ficar em pé, caminhar, correr, escalar obstáculos, manipular objetos. A idade em que o controle
esfincteriano diurno e noturno, o processo de desfralde e reações da criança nessa etapa.

Habilidades cognitivas: capacidade de aprender coisas novas, qualidade das brincadeiras,


capacidade simbólica, dificuldades no dia a dia, desempenho escolar. Como se relaciona com outras
crianças e adolescentes, como se relaciona com irmãos, quais brincadeiras escolhe, se costuma brigar,
se prefere brincar com crianças mais novas ou crianças mais velhas, se tem dificuldade para fazer
amigos, se prefere brincar sozinha, quem são os amigos da criança. Atividades de lazer, esportes,
grupos que a criança frequenta ou frequentou, além de mudanças na motivação ou interesse em
realizar atividades da rotina.

Capacidades adaptativas: podem ser investigadas através do nível de autonomia e dependência que
a criança apresenta em realizar atividades diárias (como vestir-se sozinho, escovar os dentes, comer,
pedir ajuda). Quando a criança não apresenta capacidades esperadas para a sua faixa etária, é preciso
que o clínico investigue se isso ocorre por dificuldades desenvolvimentais da própria criança ou se está
mais relacionado a questões ambientais, como superproteção dos pais, por exemplo. É importante
ainda ficar atento a sinais como chupar dedos, tiques, roer unhas, enurese, encoprese, explosões
de raiva, medos excessivos, masturbação, pesadelos, terror noturno, crueldade com animais, entre
outros (Silva & Bandeira, 2016).

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