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Literário
03| EDITORIAL
04 | VISITAÇÃO PÚBLICA
05 | ARTIGO
Achados Imperdíveis
06 | SAÍDA À FRANCESA
08 | ARTGO
Rodeios – Tortura contra
animais, truculência contra
humanos de bem
09 | ARTIGO
Pistas práticas para cuidar da terra (II)
10 | ANÁLISE CRÍTICA
O Mundo de Sofia
12 | ARTIGO
Mais sobre abismos
14 | ARTIGO
Livros e guarda-chuvas perdidos
15 | ARTIGO
Fundar um verso é palavrar
17 | ARTIGO
O bom povo da Armação do Sul
19 | A QUINTA JANELA
20 | CONTO
Café sem leite e sem nada
21 | PÁGINA DE VARIEDADES
41 | UNIVERSO DA LEITURA
46| CONTO
Menina sem sorriso
3 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
EDITORIAL
Lendo
O Labirinto Literário
eu descubro novas palavras.
No sentido artístico, a Natureza é tudo o que se apresenta aos nossos sentidos como
exterior a nós. As artes plásticas são as que mais procuram reproduzir a Natureza. A
música é mais independente. Depois da grande vassalagem à Natureza, a arte
libertou-se a cria livre de toda a submissão. É a suprema vitória do espírito humano. A
imitação no princípio, a libertação no fim. Não há uma máquina, um aparelho, que não
seja no seu início uma cópia de um fato natural. O primeiro vapor idealizado tinha
patas de palmípede; o avião asas de pássaro. E, quando as máquinas sucediam a
outros aparelhos, guardavam a estrutura destes. O automóvel foi a princípio um coche
sem cavalos. Depois estas máquinas se emancipam da imitação e tomam formas
próprias, constituem organismos originais, distintos e característicos, fixando o tipo, a
espécie. Hoje, o vapor, o avião, o automóvel tem a sua forma própria e modelar. Assim
será a obra de arte, que a cultura liberta de imitação da natureza, para dar-lhe forma
artística, forma espiritual, peculiar, como um organismo novo, vindo da força criadora
do homem
(Extraído da conferência dada por Graça Aranha na Academia Brasileira em junho de 1924)
O dom criador é naturalmente concreto e não difuso. O homem nasce poeta, músico,
pintor. A cultura apenas desenvolve, aperfeiçoa, melhora ou mesmo deforma o dom.
Não consegue transferi-lo de tendência, senão por exceção.
A vocação literária é, pois, o dom da palavra, como a vocação musical é dom sonoro,
a vocação escultural é dom das formas plásticas etc. Não devemos confundir o dom
da palavra, no sentido de gênio literário, com o termo participar de tendência natural à
oratória. Isto já é um círculo a mais. Não nos antecipemos. O espírito criador em
literatura é o dom geral da expressão pela palavra. Devemos dar a esses termos o
sentido mais amplo possível, de modo a poder incluir os vários caminhos dessa
expressão – o lírico, o épico, o dramático, o crítico, o satírico etc.
(Alceu Amoroso Lima)
5 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Artigo
Achados Imperdíveis | Emily Martin
Manuel Bandeira
Sessão
Saída à Francesa | Luisa Beltoise
Jacques Roubaud | Tradução: Caio Meira
No espaço mínimo
Afasto-me muito pouco desse lugar como se a reclusão num espaço
mínimo fosse lhe restituir a realidade, porque era onde você vivia
comigo.
Fico muito ali, seguindo-o com os olhos, interpondo minha mão, não
fazendo nada, pensando, complemento de imobilidade.
Você não habita esses cômodos, eu quase não poderia dizer isso, quase
não sou assombrado por você, são raras, agora, as alucinações noturnas
de sua voz, não a surpreendo mais ao abrir a porta, ou os olhos.
Ao partir, você não foi colocada em outro lugar, você se diluiu nesse
espaço mínimo, evadindo-se nesse mínimo espaço, ele a absorveu.
Tu n’habites pas ces pièces, je ne pourrais dire cela, je ne suis pas hanté
de toi, je n’ai plus, maintenant, que rarement l’hallucination nocturne de
ta voix, je ne te surprend pas en ouvrant la porte, ni les yeux.
Disparaissant, tu n’a pas été mise ailleurs, tu t’es diluée dans ce minime
espace, tu t’es enfuie dans ce minime espace, il t’a absorbée.
Tenho pena dos filhos dos peões, que assistem a esse show de
horrores pensando que seu pai é "um valente cowboy dominando a
arte de montar bois 'furiosos'", sem saber a verdade. Mais pena
ainda por ver alguns deles querendo ter a "profissão" do pai, que na
verdade não passa de cúmplice da tortura de bois e cavalos!
Artigo
Pistas práticas para cuidar da Terra (II) | Leonardo Boff
No artigo anterior referimos pistas práticas que tinham a ver com a mudança da mente ou do
olhar. Agora importa considerar as mudanças das práticas da vida cotidiana:
Procure em tudo o caminho do diálogo e da flexibilidade porque é ele que garante o ganha-
ganha e é uma forma de diminuir os conflitos e até poder resolvê-los.
Valorize tudo o que vem da experiência, dando especial atenção aos que não são ouvidos
pela sociedade.
Tenha sempre em mente que o ser humano é um ser contraditório, sapiente e ao mesmo
tempo demente; por isso seja critico e simultaneamente compreensivo.
Tome a sério o fato de que as virtualidades cerebrais e espirituais do ser humano
constituem um campo quase inexplorado. Por isso sempre esteja aberto à irrupção do
improvável, do inconcebível e do surgimento de emergências.
Por mais problemas que surjam, a democracia sem fim é sempre a melhor forma de
convivência e de superação de conflitos, democracia a ser vivida na família, a comunidade,
nas relações sociais e na organização do estado.
Não queime lixo e outros rejeitos, pois eles fazem aumentar o aquecimento global. Eles
podem ser reciclados.
Avise às pessoas adultas ou às autoridades quando souber de desmatamentos, incêndios
florestais, comércio de bromélias, plantas exóticas e de animais silvestres.
Ajude a manter um belo visual de sua casa, da escola ou do local de trabalho, pois a beleza
é parte da ecologia integral.
Anime a grupos para que no bairro se crie um veículo de comunicação, uma folha ou um
pequeno jornal, para debater questões ambientais e sociais e acolher sugestões criativas.
Fale com frequência em casa, com os amigos, com os moradores de seu prédio e na rua
sobre temas ambientais e de nossa responsabilidade pelo bem viver humano e terrestre.
Reduzir, reutilizar, reciclar, rearborizar, rejeitar (a propaganda espalhafatosa), respeitar e se
responsabilizar. Estes 7 erres (r) nos ajudam a sermos responsáveis face à escassez de
bens naturais e são formas de sequestar dióxido de carbono e outros gases poluentes da
atmosfera.
O Pe. Cícero Romão Batista, um dos ícones religiosos do povo do Nordeste do Brasil,
elaborou, no início do século XX, dez preceitos de conteúdo ecológico: “Não derrube o mato
nem mesmo um só pé de pau.
- Não toque fogo no roçado nem na caatinga.
- Não cace mais e deixe os bichos viverem.
- Não crie o boi nem o bode soltos: faça cercados e deixe o pasto descansar para que possa
se refazer.
- Não plante serra acima, nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato
protegendo a terra para que a água não a arraste e para que não se perca a sua riqueza.
- Faça uma cisterna no canto de sua casa para guardar a água da chuva.
- Represe os riachos de cem em cem metros ainda que seja com pedra solta.
- Plante cada dia pelo menos pé de árvore até que o sertão seja uma mata só.
- Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga.
Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai se acabando, o gado melhorando e o
povo terá o que comer.
Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo, o sertão todo vai virar um deserto só”.
Estas práticas nos dão a esperança de que as atuais dores não são de morte mas de um
novo nascimento. A vida triunfará
Análise crítica
O Mundo de Sofia|
Sofia Gildo Leobino de Souza Júnior
Com base na razão, infere-se que ela opera seguindo certos princípios
estabelecidos, que estão em convergência com a própria realidade, mesmo
quando os empregamos sem conhecê-los explicitamente. Destarte, a
consciência humana não deixa de ser razão, porém a razão não é apenas
capacidade moral e intelectual dos seres humanos, mas também uma
propriedade ou qualidade precípua das próprias coisas, havendo na própria
realidade.
Sem dúvida, algo que não é falaz, todavia se faz muito difícil se desvencilhar
das armadilhas sensoriais e morais, intrínsecos à sociedade, da qual todo
homem é refém.
O dia já meio ido, talvez o mundo já esteja acontecendo, ela queria mais
força e ele abraçado nela até parece esquecer do tempo. Ela queria pedir pra ele
ficar, queria pedir para ficar, mas não pode abrir os olhos por inteiro, o corpo
dói demais, a garganta esta amarga, aranhada, o dia ainda não havia chegado
para ela, ensaia um pedido, mas antes, porque sabe que o mundo o espera e que
o mundo dele esta ainda por vir, pergunta, sabendo do atrasado e que não há
mais tempo para se esquecer “que horas são?”... quanto tempo eles durarão até
que o mundo o leve ou o devore ?
Onde foi que encontrou um abismo tão grande dentro de si, por que há
tanto espaço e tanta falta de lugar, quem criou esse mar de sede que pede tanto
sal dentro da alma. Porque sente esse desejo de ser tanto além do corpo, de
sentir cada segundo, de aproveitar cada sensação, o que faz qualquer pequena
coisa tão intensa pra ela? Por que sentir tanto?
Ela poderia pedir, não pediu, queria dizer ...“não agüento sozinha”,
disse de outro jeito porque não poderia invadir um mundo já agendado e com
hora para acontecer, ela poderia ter escrito no bilhete que sempre deixa
escondido, “me ajuda, vem comigo”... mas ela só respirou fundo e pediu
13 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
enquanto ele se levantava, “posso ficar enquanto você vai?” Ela ainda
precisava respirar um pouco mais, do ar rarefeito que existia dentro de si...
Ele consentiu, talvez sentindo que nem tudo estava certo, saiu sem
culpa, porque não tinha culpa nenhuma das imensidões que existiam dentro
dela. Quando se foi, ela fechou a porta e escondendo a cabeça no escuro dos
travesseiros, recusou a luz que entrava pela janela e que feria as sombras que
dormiam nos seus pesadelos, era preciso cultivar os pesadelos e as sombras,
mas quanto mais ela se escondia do mundo, mais o mar que havia dentro dela
fugia pelos olhos e a hora avançava lhe obrigando a sair de seu esconderijo.
A desproporção entre quem perdeu e quem achou é muito grande, assim só pode
existir mesmo a terras dos guarda-chuvas perdidos, que deve ficar ao lado da terra
dos livros perdidos. Quem tem uma quantidade razoável de livros, e não prima pela
organização, sabe que eles também somem com facilidade.
Em relação aos livros, existem dois tipos de sumiço: o primeiro é aquele em que o livro
“desaparece” dentro da biblioteca mesmo. O segundo, é aquele em que o livro
desaparece para sempre, pois ou esquecemos para quem ele foi emprestado, o que
nos impede de pedi-lo de volta, ou o perdemos em algum lugar. Sou vítima constante
do primeiro tipo de sumiço: procuro e reprocuro, e se não acho, dou um passeio, deixo
passar uma noite e, quando volto o livro está lá, parece que também estava me
procurando, parece que tinha ido apenas dar uma volta para descansar e me
encontrar mais tarde e por causa disso nos desencontramos.
Mas o meu problema não está só em emprestar o livro, mas em esquecer para quem
emprestei. Acontece comigo também, tal é o esquecimento que já cheguei ao ponto de
não saber se emprestei ou se perdi o livro, assim como os milhares de guarda-chuvas
que já “esqueci” por aí.
Há anos vivo com o incômodo de não saber o que aconteceu com um livro. Era
“Ascese – os Salvadores de Deus”, de Nikos Kazantzakis. Traduzido por José Paulo
Paes, o livro tinha passagens muito poéticas, falava sobre a elevação do homem até o
sagrado, e eu o emprestei não sei para quem, ou talvez tenha perdido não sei onde. É
algo estranho este não saber, este deletar completamente da memória um possível
destino do livro.
Quem é leitor sabe que damos muito valor a esses objetos, que não estamos tratando
de guarda-chuvas, por isso, esquecer de um livro, esquecer o que aconteceu com ele
é traí-lo. É isso, sinto-me um traidor do livro. Ele era meu, estava todo marcado com
meus sublinhados e rabiscos, e eu o abandonei em algum lugar.
Talvez uma sessão de hipnose, um transe mediúnico me informe que o meu livro
perdido está bem, está na terra de todos os livros perdidos, que fica ali, vizinha à terra
dos guarda-chuvas perdidos e que, nos finais de semana, eles se encontram e
lamentam a ingratidão humana disfarçada de esquecimento.
15 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Artigo
Fundar um verso é palavrar | Fábio Pessanha
Artigo
O bom povo
povo da Armação do Sul | Urda Alice
Klueger
Primeiro vamos entender o que significa a palavra “Armação”, já que o
litoral brasileiro está cheio de praias que se chamam “Armação”. Armação era
um empreendimento industrial português onde se caçava (ou pescava) baleia, lá
pelos séculos XVIII e XIX , e onde se aproveitava o óleo e outros sub-produtos
desses grandes mamíferos.
O tempo passou, e temos algumas Armações aqui no litoral de Santa
Catarina. Quis o destino que eu me aproximasse muito de uma delas, a Armação
do Sul, também conhecida como Armação do Pântano do Sul, no sul da Ilha de
Santa Catarina. Acabei batendo lá, quase por acaso, devido a pesquisas
arqueológicas lá acontecidas anteriormente, na década de 1970, e não larguei
mais pé de lá. E queria falar, hoje, justamente sobre a boa gente que habita
aquela Armação onde parece que vieram encalhar todos os bichos-grilos do sul
do continente americano, além dos eventuais visitantes de outras plagas, como
um suíço, um sueco e um casal de espanhóis que estão faz semanas, no camping
que freqüento por lá. Pois é, fazendo banana para o estresse, ando dormindo
todas as semanas uma noite num paradisíaco camping que tem lá. Durmo sob
árvores, a 5 cm da grama do chão, separada das ondas que quebram na praia
apenas por uma duna cheia de pés de pitanga, onde, preferencialmente, os
europeus montam suas barracas enfiadas sob as pitangueiras, coisa assim que
eles nem julgavam mais que existisse no mundo antes de atravessarem o oceano.
E, de uma forma geral, a língua que se fala lá naquela Armação encantada é um
portunhol que se mistura um pouco com francês e outras coisas, que levam a
gente até a conseguir entender algo quando um sueco fala.
Nesta semana, porém, encontrei uma turma que falava o mais legítimo
português. Já escurecera, e eu vinha andando descalça pela rua, depois de ter
andado dentro do mar para lavar o cansaço do dia, quando me deparo com a
turminha, todos de bicicleta: quatro de pé, observando, e dois no chão, quase se
matando. Mas era coisa feia mesmo, um dos meninos (teriam 8, 9 anos) estava
totalmente rendido, e o outro lhe enfiava pontapé na cabeça, pontapé na coluna,
coisa assim que podia acabar até em morte. No meu variado curriculum consta
até um breve período como professora, onde aprendi que meninos brigam
mesmo, e que nestas brigas costuma dar dente quebrado, etc. Interferi.
- Ei, separem eles, vão acabar se matando!
Os sádicos amigos que acompanhavam a briga na maior imobilidade
tiveram que reagir – separaram os dois, seguraram um para cada lado. Ficou
aquela conversa assim, totalmente brasileira:
- Tu só bates em quem é menor que tu!
- Quero ver quando meu irmão te pegar!
- Nunca mais que tu vais ver vídeo-game lá em casa!
- Frouxo! Frouxo! Nem pentelho tu tens ainda! – vocês conhecem como
meninos se xingam. Tentei chamá-los à razão:
- Aonde é que já se viu, meninos de família, como vocês, rapazes
estudiosos, brigando deste jeito! O que aconteceu?
- Estudioso, ele? Ah! Ah! Ah!
Acabei descobrindo, porém. Um dos meninos tinha uma caneta a laser,
dessas proibidas, e andara colocando o laser em algum cachorro por ali.
- Foi só na perna! Não tinha perigo de cegar!
Sessão
A Quinta Janela | Carol de Oliveira
Sessão
Página de Variedades | Sofia Lisboa
23 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Carlos Duque
Caracas | Venezuela
SANTO OFICIO
A CAIXA
Pedro Du Bois
Rio Grande do Sul | Brasil
ESCREVER
reviro mentiras
ao lado desproporcionado
em cantos: calo o verbo.
Levanto bandeiras
em punhais enviesados.
Verdades: a indiferença
anotada no canto da folha
jogada ao chão de outonos.
Elizabeth Bishop
Massachusetts | EUA
Tradução de Horácio Costa
UMA ARTE
John Ashbery
Nova York | EUA
Tradução: João Barrento
ECO TARDIO
PARIS
Mark Strand
Prince Edward Island | Canada
Tradução: Rodrigo Amaral
Alguém dizia
algo sobre sombras escondendo um campo, sobre
como tudo passa, como se dorme até de manhã
e a manhã segue.
Alguém mencionou
uma cidade em que esteve,
um quarto com duas
velas contra uma parede, alguém dançando, alguém reparando.
Começamos a crer
Diego Petrarca
Rio Grande do Sul | Brasil
LAMA SECA
Tomei um tempo em mim.
O vazio do olhar tombou-me nas águas.
No varal,
A toalha baila, solitária,
À procura da alvidez de outrora.
Espectro da carne crua,
Muda, esquálida de outras formas.
Madrugada de fugas:
Das moradas, ruas albergadas,
Dos sonhos das esperas infinitas,
Pelos helicópteros cansados
Em pousos incógnitas,
Trilhas enterradas.
Um único olhar
Busca o sacio do estômago vazio.
A fome deitou-se na lama seca
Dos quadrantes da calçada.
Vazios varais.
O bocejo do verbo
Abraça um novo amanhecer.
Varais vazios.
Toalhas no lixo do dia seguinte,
Seguinte, seguinte.
Fábio Pessanha
Rio de Janeiro | Brasil
ELOQUÊNCIA DO SILÊNCIO
Na grandeza da realidade
a pequeneza do homem
se enraiva.
Pedro Martins
Johan Lind
37 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Paulo Penicheiro
Chagrin
39 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Felipe Isidro
António Alfarroba
41 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Little Girl Reads in Bookshop - 1949
43 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Ela é silenciosa, tem medo de ser livre, ela é uma figura possível, notável, um
signo. Ela certamente existiria na memória falha de uma poesia parnasiana.
Ela falharia na descida do precipício, mergulharia no abismo dos seus dias
como quem procura o resto de si mesma. Ela. Ela. Eu. Eu. Cosemos versos
sobre a pele, usamos o sorriso dos outros, porque nunca havíamos percebido
como se sorria. Diz aí, como é que se dá o primeiro passo de um sorriso?
Movem-se os lábios lentamente: eis um sorriso pronto.
Nome? Pra existir tem que ter um nome. Darei um nome a ela: Menina Sem
Sorriso. Ela é do tamanho do Mundo, o cabelo é preso por rosas que ela
mesma colheu, suas roubas são delírios, esboços sem nome.
Ela tem sono, dorme e acorda sem se preocupar com o
tempo. Olha pra você e desvia o olhar. Ela é da cor do inesperado.
Do inoportuno. Do curioso.
Ela é sombra, barulho das ondas,
altura sem medida, alegria sem sorriso.
Ela sempre foi silenciosa.
Um ícone de si mesma. Ela é um
labirinto torto, sem lógica, sem fim.
Eu. Ela. Ela. Eu. Nossas existências
ainda estão em construção.
47 | Labirinto Literário – nº 16 – Ano 4
Editora/Diagramação
Mozileide Neri
Comissão Editorial
Joana Brito
Juliana Amaral
Luana Colaneri
Setor Internacional
Bárbara Shenader
Rodrigo Amaral
Capa
Tiago Morais Silva
Ilustração
Sandro Ramos
Revisão
Jocélio de Cabral Filho