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Ana Beatriz Factum Simon


Jóia Escrava: design de resistência
Revista Design em Foco, vol. I, núm. 1, julho-dezembro, 2004, pp. 31-39,
Universidade do Estado da Bahia
Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=66110104

Revista Design em Foco,


ISSN (Versão impressa): 1807-3778
designemfoco@uneb.br
Universidade do Estado da Bahia
Brasil

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www.redalyc.org
Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
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Jóia Escrava: design de resistência
Revista Design em Foco • v. I nº1 • Jul./Dez. 2004

Slave Jewel: resistance’s design

Resumo
O objetivo deste trabalho é estudar a joalheria escrava na Bahia ao longo
do século XIX, retrocedendo e avançado no tempo quando necessário à
melhor compreensão do fenômeno. Ampliando conhecimento sobre objetos
afro-brasileiros, fruto da complexa relação senhor-escravo materializada
em na forma, na função e no significado do seu design. Adicionalmente,
Sobre a autora: pretende-se contribuir para os estudos da historiografia da escravidão em
geral, com foco na participação negra na formação da cultura material
Ana Beatriz Simon Factum
Professora da Universidade do brasileira.
Estado da Bahia e Coordenadora
do Curso de Design das
Faculdades Jorge Amado; aluna Abstract
da Pós-Graduação da Faculdade
This article aims to study/discuss the slave jewelry in Bahia during the
de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade São Paulo na área nineteenth century, receding and transcending over the time in order to
de concentração Design e have a better understanding of this phenomena. Therefore, increase the
Arquitetura; diretora de ensino e knowledge about Afro-Brazilian objects that were a result of a complex
relacionamento comunitário da
master/slave relationship, materialized in shape, function and meaning
Associação Bahia Design.
of their design. In addition, this article also aims to contribute for the
studies of slavery historiography in general, focusing on the Afro-Bra-
zilian participation of Brazilian material culture.

Palavras-chave
Design, resistência, jóia, escravidão

Keywords
Design, resistance, jewelry, slavery

Este artigo pretende contribuir com os recentes estudos que examinam a


influência do colonialismo, suas ideologias e relações de poder, sobre a
forma em que os objetos são entendidos na era pós-colonial, questões de
igual importância e urgência que cruzam diversos campos acadêmicos,
que neste caso se concentra no campo da cultura material e mais
precisamente, na área da historia do design. Contemplando a indagação:
“Qual o impacto que as relações de poder do colonialismo têm sobre a
interpretação dos objetos?” (BARRINGER & FLYNN, 1998, p. 1, passim,
tradução da autora).
As jóias das ‘crioulas baianas’ confeccionadas nos séculos XVIII
e XIX, consistem em uma coleção de peças de joalheria, e.g. colares,
1
pulseiras, argolas, pencas de balangandãs1 , especificamente para serem
Balangandãs - ornamento de metal em
usadas por mulheres negras ou mestiças, na condição de escravas,
forma de figa, fruto, animal etc., que, preso
a outros, forma uma penca us. pelas alforriadas ou libertas. Estes adornos são hoje, objetos de museu,
baianas em dias de festa; serve tb. como apresentados como exemplares de um tipo muito particular de joalheria,
objeto decorativo, lembrança ou, se sempre associados às crenças religiosas de suas usuárias, principalmente
miniaturizada, jóia ou bijuteria;
as penca de balangandãs ou vinculados aos senhores de escravos, como
berenguendém [No passado era us. esp. na
festa do Senhor do Bonfim, em Salvador, exemplo paradigmático de comportamento destes indivíduos, que
pendente da cintura ou do pescoço das afro- adornavam suas escravas com uma quantidade exacerbada de jóias de
brasileiras, e constituía amuleto contra o ouro para exibir poder e riqueza. Ou seja, os estudos a respeito destes
mau-olhado e outras forças adversas.]
objetos ainda não dão conta de inúmeras indagações, especialmente
http://houaiss.uol.com.br/
busca.jhtm?verbete=Balangand%E3, àquelas que desejam contemplar a voz e a visão da usufrutuária destas
acessado em 29 de agosto de 2004. jóias.
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As razões disso se encontram em um longo período de lamentável
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desinteresse pelos assuntos não-brancos que existiu no discurso histórico


anterior. Mas, com o relativamente recente advento do criticismo pós-
colonial e as reavaliações que isto tem produzido (GUYATT, 2000, p. 95,
tradução da autora), pretende-se desvelar como estas jóias se constituíram
em mais um, dos inúmeros tipos de resistência ao sistema escravocrata,
que se manteve vigente no Brasil por mais de 300 anos.
Para tanto, é necessário apontar o que possibilita a realização
desta investigação, sem duvida, se deve ao direcionamento mais recente
tomado pela historiografia da escravidão. Posicionamento que difere dos
dois momentos anteriores da historiografia brasileira da escravidão, sendo
o primeiro, as investigações de Gilberto Freyre e o segundo, os estudos
da “Escola Paulista”, ou seja, aquela antiga visão do senhor paternalista/
escravo conformado e a não tão antiga abordagem do brutal proprietário/
escravo vitima respectivamente, que evidentemente, são diferentes, porém
ambas não consideram os escravos como agentes da historia, (REIS, 1999,
p. 437-438, passim, tradução da autora).
Esta visão do escravo destituído de autonomia está também
presente na historiografia mundial, principalmente a européia. Na
Inglaterra do século XVIII, se tem exemplos de objetos que, literalmente,
materializam a imagem do negro escravizado como seres humanos sem
qualquer vestígio de vontade, como é o caso do medalhão escravo de
Wedgwood2 .
A visão do escravo como incapaz de ser agente da sua própria
Figura 1 - Medalhão Escravo de Wedgwood
historia na Inglaterra setecentista, existia dentro do próprio movimento
de 1787. 3
abolicionista da época, que adotou como símbolo a sua adesão o medalhão
escravo de Wedgwood, cuja figura sobre o medalhão é de um homem com
características negras, com as mãos amarradas e elevadas para o céu,
ajoelhado, em um gesto de suplica, demonstrando que a hierarquia de
poder estava estabelecida e o escravo é claramente a parte submissa,
como tão bem analisa GUYATT (2000, p. 99, passim, tradução da autora),
vide a Figura 1.
O medalhão escravo de Wedgwood é um exemplo de como a
humanidade vem utilizando os objetos para representar suas convicções,
esta mesma condição de representação possuía a joalheria escrava baiana,
símbolo de impermeabilidade ao sistema imposto aos escravos, um tipo
de resistência que ainda não foi exaustivamente investigada, devido à sua
amplitude, como afirma Isabel Reis,
“Sabemos hoje que, apesar de sua longa vida no Brasil, a
escravidão não existiu sem uma intensa resistência por parte dos negros
escravizados, sendo muitas as formas de enfrentamento, desde a
denominada resistência do dia-a-dia – sarcasmos, roubos, sabotagens,
assassinatos, suicídios, abortos – até aspectos menos visíveis, porém
profundos, de uma ampla resistência cultural” (REIS, 2001, p. 91).
2
Para se descobrir de que maneira as relações de poder se
Josiah Wedgwood (1730-95), um dos
manifestam no mundo material, para se compreender o fenômeno
mais famosos ceramistas britânicos e
empresário, produziu o medalhão joalheria ‘escrava’, um projeto de produto com endereço pré-
escravo em 1787, como contribuição determinado, direcionado para as mulheres negras ou mestiças, se impõe
pessoal para a campanha da abolição o estudo do contexto social em todos os seus aspectos, principalmente
do trafico escravo. quando se constata que o uso destes adornos significa uma maneira muito
3 particular de resistência ao sistema de poder vigente naquele momento.
Dados da imagem: altura de 3cm, Gift
of Sir A. W. Franks, museum number Como coloca Raul Lody, em seu livro: “Jóias de Axé: fios-de-
P&E MLA 1887, 3-7.I.683 (Pottery contas e outros adornos do corpo: a joalheria afro-brasileira”, “A cultura
Catalogue I. 683), museum location material africana, projetada nas condições de dominação durante o
room 1/7, Enlightenment: Trade and período escravista do Brasil-Colônia, embora aparentemente submissa,
Discovery, case 1 (The Americas).
Capturada em 21/08/2004, disponível manteve um fogo de defesa e de memória que a tradição oral e os
em http://www.thebritishmuseum.ac.uk/ conhecimentos tecnológicos conseguiram trazer até os dias de hoje”
compass/ixbin/print?OBJ9926 (LODY, 2001, p. 17).
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Esta joalheria é um modelo do que se pode classificar de
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design de resistência, não na sua forma que é híbrida, mas no


seu significado de uso, resultado da impermeabilidade cultural,
da resistência negra ao sistema escravocrata. Ao portar estas
jóias a mulher negra ou mestiça, escrava, alforriada ou liberta,
simbolizava a manutenção de sua cultura, a preservação de sua
auto-estima e, principalmente, sua resistência à condição de
mercadoria (vide a foto de uma destas mulheres portando as
jóias na Figura 2).
“Nas fotografias tiradas por solicitação das retratadas,
as roupas usadas eram suntuosas com grande número de jóias.
Colares, pulseiras, anéis e ainda a penca de balangandãs na
cintura” (OLSZEWSKI, 1989, p. 72).
A análise desta imagem remete a uma série de questões,
tais como: Quem eram estas mulheres? Porque estas jóias
simbolizavam a manutenção de sua cultura, a preservação da
sua auto-estima e a sua resistência a condição de mercadoria?
Para responder a pergunta em relação ao perfil das
usuárias destas jóias é necessário saber, em primeira instância,
as suas origens africanas, para não se incorrer no velho erro de
considerar este continente como possuidor de uma única cultura,
único povo. Deixemos claro, que existiu e ainda existe Áfricas,
Figura 2 - Mulher negra baiana, 1912. 4
atualmente este continente é composto por 54 países. Portanto,
segundo João Reis, no Brasil, predominou dois tipos de povos
africanos, bantos e nagôs:
“As culturas africanas, predominantemente, banto no centro-sul
e nagô na Bahia, sem duvida alguma, informaram as lutas de escravos e
libertos na escravidão, pela e na liberdade5 ” (REIS, 1995, p. 52).
Também Pierre Verger afirma o mesmo, só que denomina os nagôs
como iorubas, ou como nagôs-iorubas, vários autores também utilizam
uma ou outra denominação, ou então as duas associadas:
“O segundo sistema de tráfico negreiro fora organizando por e
em proveito dos negociantes fixados na Bahia e em Recife que tinham
estabelecido relações diretas (tabaco por escravos) entre os seus portos e
os da Costa dos Escravos, os quais lhes forneciam cativos iorubas em
grande numero” (VERGER, 1992, p. 98).
Com isso se pode afirmar que as usuárias destas jóias eram, em
sua maioria, de origem nagô-ioruba, as outras eram suas descendentes,
ou então, eram por elas influenciadas, como se verá mais adiante. Trazem
consigo heranças da sociedade ioruba em que viviam na África, tais como:
integravam uma organização familiar polígama, que lhe proporcionava
maior liberdade do que em uniões monógamas; na família do esposo são
sobretudo progenitoras de filhos para perpetuar a linhagem familiar do
marido, não sendo totalmente integradas ao núcleo familiar do esposo,
situação que lhes confere uma relativa independência; ao casarem não
tinham obrigação de praticar o culto da família dos esposos, continuavam
vinculadas a religião de suas famílias; não podiam manter relações sexuais
com o marido durante a gravidez e mais o período de desmame da criança,
4
Cartão Postal: de titulo: Uma o que justifica a admissão de co-esposas; o grupo de esposas vinculadas a
creoula da Bahia; do editor J. Melo um marido, geralmente quatro, constituem um grupo solidário, que não
editor – Bahia; data do envio do hesita em explorar a generosidade do esposo, na obtenção de presentes
cartão 06/08/1912; dimensões 14 x 9
cm; pertence a coleção do Museu caros como, jóias, tecidos e enfeites, que se ver obrigado a presentear
Tempostal. A foto do cartão postal todas para evitar ciúmes; também circulam livremente e fazem os
foi realizada pelo designer e mercados das cidades vizinhas e outras mais afastadas; sendo boas
fotografo Julio Acevedo e tratada comerciantes se tornam mais ricas que seus maridos e as vezes amealham
pelo estudante de Design da Uneb
Daniel Quadros. fortunas consideráveis (VERGER, 1992).
A influência das mulheres africanas se fazia particularmente
5
O itálico é do autor. marcante pela via religiosa, conforme episódio narrado abaixo sobre a
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invasão da policia ao candomblé do Accú em meados de 1829 nas
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imediações de Salvador, “Ao promover a união entre africanos e crioulos,


o candomblé do Accú revelou-se intolerável ameaça a um importante
aspecto da dominação escravocrata na Bahia. Desunidos na rebelião,
escravos nacionais e africanos se uniam na religião. É possível que nisso
a sabedoria feminina tenha sido decisiva. As africanas acolhiam crioulas
que provavelmente buscavam no Accú respostas a problemas cotidianos,
do corpo e do espírito, impossíveis de serem resolvidos nos marcos
paternalistas. Construíam assim uma identidade própria, ao mesmo tempo
que imprimiam uma nova identidade ao candomblé que as recebia. Pela
supresa do juiz, a significativa presença crioula representava uma
novidade dos tempos, um fenômeno que seguramente vinha fortalecer a
religião escrava, que aos poucos deixava de ser africana para tornar-se
afro-baiana. Nesse movimento de absorção de gente nova, que implicava
em recriação de signos culturais, o candomblé ensinava a seus adeptos
que às tradições da África podia e devia conviver com o espírito de
mudança do Novo Mundo. Era o que poderíamos chamar de reinvenção
da tradição. Alias, como vimos, a religião africana desde antes, desde
muito cedo, procurou furar o bloqueio do isolamento, conseguido seduzir
não so crioulos, mas também mulatos e brancos que procuravam os
serviços de seus sacerdotes ou o encanto de seus rituais” (REIS e SILVA,
1989, p.47).
Estas mulheres, descendentes dos nagôs, trazidas de forma brutal
para as terras do além-mar, passam por um processo de reconstrução
identitária, devido à perda de elementos da sua identidade e da imposição
de novos. Apesar de no século de XIX a cidade do Salvador contar com
uma quantidade semelhante entre homens e mulheres escravas,
anteriormente o gênero masculino era majoritário, proporcionando as
mulheres experiênciar a poliginia inversa: elas possuíam, ou lhes era
imposto, vários homens. Esta situação terminava por determinar uma
responsabilidade exclusiva sobre os filhos, preservando nesta nova forma
a independência que possuíam nas sociedades nagôs-iorubas da África.
Também, lançaram mão dos seus conhecimentos de exímias comerciantes
e se tornaram participes do sistema “de ganho” característico da
escravidão urbana, segundo Nishida,
“Os escravos ‘de ganho’ saíam para trabalhar, em tempo parcial
ou integral e deviam entregar ao senhor uma parte previamente acertada
entre ambos do dinheiro que recebiam por dia ou por semana. Alguns
desses cativos não moravam na casa do seu proprietário. Os exemplos
mais marcantes desses escravos “ganhadores” são os mascates de ambos
os sexos, os carregadores que trabalhavam em grupo, os artesãos e as
quitandeiras” (NISHIDA, 1993, p. 235 e 236).
Tinham então, como “ganhadeiras” e de outras formas que será
esclarecida a seguir, total condição de comprar suas jóias, que apesar de não
terem o mesmo design das usadas na África, possuíam significados
praticamente idênticos, tanto no que se refere às distinções: de hierarquia,
de riqueza, de crenças, etc., como a de considerar a jóia como uma das mais
importantes maneiras em que a riqueza poderia ser acumulada e passada
para as futuras gerações (CLARKE, 1998, p. 16). Nas novas condições, a
melhor estratégia era acumular em jóia, os valores, que um dia, seriam
suficientes para a compra de sua alforria, de seus filhos, de parentes e amigos,
ou seja, a compra da sua liberdade e também, a dos seus entes queridos. Ou
ainda, participando da rede de solidariedade estabelecida pelos escravos,
doando suas jóias para caixa de alforrias (fundos comuns para a libertação
de escravos). Esta é a principal razão de se classificar estas peças como um
design de resistência, por estes adornos de corpo significarem a sobrevivência
ao sistema escravocrata. Assim, a joalheria escrava simboliza a resistência
destas mulheres a condição de mercadoria.
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A acumulação de jóias para resistir não foi exclusiva das mulheres
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negras baianas, em uma tentativa de levante em Recife, em 1814, o


provável tesoureiro do levante, o “preto forro” Estanilau Dias, teve sua
casa invadida e foi encontrada uma caixa de madeira com dois contos,
em dinheiro de ouro, de prata e de cobre e mais duas peças e meia de
paninho, um pedaço de cordão de ouro, um par de brincos, um par de
botões e um anel, todos em ouro, bem como, três colheres em prata (SILVA,
2001, p. 332).
Em Minas Gerais, no século XVIII, os quilombos e mocambos
floriram com viço especial, dada a natureza da atividade mineradora,
que obrigava os escravos a circularem por áreas desabitadas na busca e
prospecção do ouro, facilitando a fuga por isso e por outros fatores. Por
outro lado, a mineração prosseguiria como atividade dos próprios escravos
em fuga, que em Minas e outras áreas do Brasil trocavam metais e pedras
preciosas pelo que necessitavam para sobreviver em liberdade (REIS &
GOMES, 1996, p. 16). Numa situação onde a plena mobilidade é
fundamental para manter-se distante da servidão, é sagaz portar pequenos
objetos de grande valor monetário como os metais e as pedras preciosas,
costume largamente utilizado pelo povo judeu em sua diáspora, tanto
que hoje é amplamente reconhecida a expertise dos mesmos no trato com
estes materiais. Donde se conclui que os escravos articulavam uma gama
extremamente variada de ações-reações em relação à dominação.
Voltando a mais uma das indagações formuladas, se tem a
questionar, de que maneira a joalheria escrava efetivamente colaborou
com a preservação da auto-estima da mulher negra ou mestiça, escrava,
alforriada ou liberta? A jóia, objeto de adorno por excelência, além da
sua nobre função simbólica, serve para embelezar ou dar aspecto mais
atraente a pessoas. Usar jóias como acessório era imprescindível à
elegância da mulher negra, sendo um fato tão pujante que vários viajantes
de passagem pela Bahia foram uníssonos em apontar esta peculiar
característica, impactante ao ponto de determinar uma portaria real no
ano de 1636:
“El-Rei, tendo tomado conhecimento do luxo exagerado que as
escravas do Estado do Brasil mostram no seu modo de vestir, e a fim de
evitar este abuso e o mau exemplo que poderia seguir-se-lhe, Sua Majestade
dignou-se decidir que elas não poderiam usar vestidos de seda nem de
tecido de cambraia ou de holanda, com ou sem rendas, com ou sem rendas,
nem enfeites de ouro e de prata sobre seus vestuários. Com este luxo, as
escravas causam uma baixa de moral nas capitanias, pervertem os homens
brancos, do que resulta o cruzamento das raças e o aumento sempre
crescente do numero de pessoas de cor, o que de modo algum é
conveniente”6 (VERGER, 1992, p. 103)
Ao lermos a portaria real, nos perguntamos de imediato, quem
era o dominador e quem era o dominado. Estas mulheres já não usavam
os seus trajes de origens, elaboraram uma nova vestimenta hibridizada,
com a incorporação das modas européias, também nas jóias. Uma
demonstração da mais elevada auto-estima destas mulheres é relatada
por Verger ao analisar a declaração de um médico alemão, Robert Avé-
Lallement, em 1859 de passagem pela Bahia,
“... e o que mais o admira é ‘que elas têm todas um porte soberbo,
com as costas muito inclinadas para trás de maneira a fazer sobressair os
seus seios’. Ele acha ‘que a neste andar um pouco forçado uma espécie de
provocação’ ele menciona “a maneira especial de balançar as ancas” 7
(VERGER, 1992, p. 105).
A altivez destas mulheres pode ser constatada nas Figuras 3 e 4,
6
As aspas são do autor. a primeira mostrando a imponência de Florinda Anna do Nascimento e a
permanência desta altivez na segunda foto de Mãe Senhora, uma das mais
7
Todas as aspas são do autor. importantes mães de santo que na hierarquia do candomblé da Bahia.
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Manter a auto-estima, em se estando escravizado, constitui algo
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que requer um enorme esforço, que passa em primeira estância pela


preservação do corpo em si, mas para as mulheres escravas carecia ir
além, devia agregar a cobiça explicita dos colonizadores, o ouro e os
objetos elaborados em ouro como as jóias escravas cumpriam com
excelência este papel, conforme segue,
“O fim da Idade Média e o começo dos Tempos Modernos é o grande
tempo da obsessão do ouro. Rebuscavam-se as minas exauridas da própria
Europa e sonhavam-se e perseguiam-se minas no mundo conhecido. A Índia
das especiarias e o Brasil do pau de tinta são sub-produtos ditados pela
realidade. O que se buscava mesmo era uma Índia e um Brasil cheios de
ouro” (TEIXEIRA; SILVA Fº; VASCONCELLOS , 1998, p.18).
Porém ainda não bastava, devia incluir diferenças, significar algo
próprio, impermeável ao outro e também possuir um design peculiar,
único, como é o caso do balangandã e dos correntões cachoeiranos
Figura 3 - Florinda Anna do respectivamente, apresentados nas Figuras 5 e 6.
Nascimento. 8 Para se compreender a jóia balangandã se deve ter em conta que
a arte na África não foi criada em si mesma, só sendo compreensível a
partir de seu fundo religioso ou social, enquanto a arte pura, em si mesma,
é um fenômeno europeu.
A peça em questão é um exemplo paradigmático do design de
resistência à escravidão, pelo projeto do objeto em si e pelo implícito projeto
de preservação cultural das suas usuárias, detalhando, “Trazer os
balangandãs à cintura, como era de costume, servia como proteção contra
vários males. Os pingentes, em geral, significavam a fertilidade e a
sexualidade femininas, além do poder delas na formação de famílias,
influenciando a organização do cotidiano e do trabalho – com uma
Figura 4 - Dona Maria Bibiana do perspectiva materna, ou matrifocal, e feminina, na qual os balangandãs
Espírito Santo, Mãe Senhora do passaram a integrar a indumentária das forras, o que pode ser identificado
Axé Opô Afonjá. 9 na iconografia da época. Que parecia ser um adorno sem especial
importância para uns, era indicador de autoridade, poder, devoção e
proteção para outros” (PAIVA, 2004, p. 60).
8
A foto da Figura 3 é uma reprodução de Quanto aos correntões de ouro ou correntões cachoeiranos, reza a
uma foto integrante do acervo do Museu do tradição, que cada elo que constitui o correntão é originário de uma aliança
Traje e do Têxtil da Cidade do Salvador. A portuguesa conquistada após uma noite de amor (LODY, 2001, p.51). Este
reprodução da foto da vitrine foi realizada
pelo designer e fotografo Julio Acevedo e o fato indica que a concepção projetual desta jóia era, em parte, da autoria
tratamento da imagem foi um trabalho do da usuária, que, provavelmente, encomendava ao ourives o entrelaçamento
estudante do curso de Design da Uneb Daniel destas alianças (vide a foto de um destes colares na Figura 6).
Quadros. Também existe um texto O favor sexual envolvido na posse das jóias pela escrava remete
acompanhando a foto, tudo exposto na
vitrine do museu que expõe as indumentárias ao fato de existirem atividades de “ganho” que não se relacionavam com a
originais desta mulher. O texto é: “Florinda venda de alimentos ou de objetos, era efetivamente a milenar prostituição.
Anna do Nascimento, conhecida como Folô Na cidade também se permitia que escravos domésticos saíssem à noite ou
era cria da Fazenda Bom Sucesso em Cruz nos domingos e feriados para trabalhar neste sistema, como mascates ou
das Almas, de propriedade do Coronel
Joaquim Inácio Ribeiro dos Santos e D. Ana prostitutas (NISHIDA, 1993, p. 236).
Maria do Nascimento, Folô era crioula. “Le Gentil de la Barbinais escrevia em 1718, com pena afiada
Usava indumentária típica das mulheres de que as “mulheres portuguesas mais virtuosas, isto é aquelas cuja
sua condição, mas não era escrava. Não é lincensiosidade é menos notória, fazem de suas casas um serralho de
conhecido o ano de seu nascimento, sabe-se,
entretanto, que carregou Dr. Ribeiro dos mulheres escravas. Ornamentam-nas de correntes de ouro, de pulseiras,
Santos, nascido em 1851. Faleceu em 11 de de anéis e de rendas caras. Todas estas escravas têm seus amantes, e as
maio de 1931. Residia, então, em companhia respectivas patroas partilham com elas os lucros do seu infame comercio.
do casal Isaura Ribeiro dos Santos Diniz Os portugueses naturais do Brasil preferem possuir uma mulher negra
Borges e Dr. Otaviano Diniz Borges”.
ou mulata à mais bela mulher branca. Perguntei-lhes muitas vezes a que
9
Imagem capturada em 19/09/2004, se devia um gosto tão esquisito, mas eles próprios o ignoram. Quanto a
disponível em http://www.pierreverger.org/ mim, creio que , tendo sido criado e alimentados por escravas, acabam
br/photos/photos themetree.php? por, ao mesmo tempo que bebem o seu leite, adquirir suas tendências”
op=open&no=1200, o copyright desta
fotografia pertence ao acervo da Fundação (VERGER, 1992, p. 102 e 103).
Pierre Verger, sob o número 27593, período Amamentar os filhos dos proprietários era um dos mais comuns
1948-1967. dos favores prestados pelas escravas, como também cuidar de um ente
37
querido por doença ou velhice. Este trabalho realizado
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por anos a fio, provocava nos favorecidos profunda


gratidão, ao ponto de muitos deles concederem a
escrava bondosa e prestativa, o prêmio
máximo, a sua alforria. Ora se havia
concessão de tamanha envergadura,
existiam outros agrados e não há que por
duvidas que muitos destes fossem as tais
jóias tão do gosto da “escrava sublime” 10 .
Não era sem propósito o comportamento
amistoso das escravas, “A própria acomodação
escrava tinha um teor ambíguo. “Correntezas
perigosas e fortes passavam por aquela docilidade e
ajustamento”, percebeu o historiador Eugene Genovese” (REIS
Figura 5 - Penca de Balangandã. 11 e SILVA, 1989, p.32).
Tal como nas alforrias concedidas, as jóias
também foram conquistadas por amor: sexual, filial e
de gratidão; por dinheiro: a escrava pagava por estas
ou as ganhava pelo lucro conferido; e por temor a
Deus: angústia de todo adepto do catolicismo,
minimizando as suas pagas em vida para aliviá-las
pos morte, parafraseando Ligia Bellini (1988, p. 86).
Outro exemplar da joalheria escrava baiana que
é uma excelente mostra materializada da complexa
relação senhor-escravo é a pulseira copo (Figura 7),
principalmente no que se refere à dualidade
impermeabilidade/resistência versus permeabilidade/
incorporação de valores dominantes.
Figura 6 - Correntões Neste exemplar de pulseira copo (Figura 7) o elemento
de ouro ou correntões
cachoeiranos. 12 em destaque é a esfinge de uma mulher, como um camafeu,
mesma proposta estético-formal do medalhão de Wegdwood,
porém exibem assuntos diferentes. Apesar das inúmeras semelhanças entre
a joalheria grega e a joalheria romana, o camafeu é sem duvida a grande
diferença entre elas. O desejo romano de representar um indivíduo em
particular é completamente oposto à tendência grega do ideal e universal.
Os referencias greco-romanos foram retomados por duas vezes ao longo
da história da arte européia, no renascimento e no final do século XVIII
com Napoleão Bonaparte, tendo o pintor francês Jacques David
desenvolvido um estilo artístico para o seu império derivado da
antiguidade, denominado neoclássico (vide Figura 8).
Portanto, pode-se afirmar que Napoleão restabelece na história
10
Escravo sublime é um termo de Paul da joalheria o culto a personalidades, e a jóia passa a ser suporte de
Gilroy encontrado no livro de sua autoria manifestações políticas e ideológicas como é o caso do medalhão escravo
“O Atlântico Negro: modernidade e dupla
consciência”, tradução de Cid Knipel de Wegdwood e da pulseira copo,
Moreira - São Paulo: Ed. 34, 2001. “Na Bahia predominavam as pulseiras de ouro compostas de
seções retangulares tendo ao centro efígies masculinas e femininas, retratos
11
Foto da imagem do livro Mostra do dos imperados e imperatrizes. Por ocasião da menoridade de D. Pedro,
redescobrimento: negro de corpo e alma –
Black in body and soul. Fundação Bienal de eram comuns as pulseiras com efígies do imperador menino’ (OLIVEIRA,
São Paulo. São Paulo: Associação Brasil 1948, p. 30).
500 Anos Artes Visuais, 2000. A foto da Na escravidão existem inúmeros exemplos de total adesão dos
imagem do livro foi realizada pelo designer escravos ao tipo de comportamento dos colonizadores, principalmente
e fotografo Julio Acevedo e tratada pelo
estudante de Design da Uneb Daniel aqueles que conquistavam um espaço nesta sociedade,
Quadros. “Era Ritta escrava de uma senhora branca, solteira, que criara com mimo,
casando-a com um homem de qualidade e, nesta ocasião, outorgando-lhe
12
Foto do designer e fotografo Júlio carta de alforria...
Acevedo da peça do acervo do Museu de
Arte da Bahia. O tratamento da imagem foi Innocencio Sebola, português rico, enamorando-se de Ritta, seduziu-a.
um trabalho do estudante do curso de O marido suspeitoso mostrou não aceitar a situação elaborou planos de
Design da Uneb Daniel Quadros. vingança. Dizia-se que, de acordo com Innocencio, ela envenenara o
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marido, indo logo depois viver com o amante. Este, cada vez mais
Revista Design em Foco • v. I nº1 • Jul./Dez. 2004

apaixonado, casou com ela, fazendo-a ostentar demarcado luxo...


Vinha Ritta vestida com uma magnificência que, dizia Pedro
Ribeiro, jamais vira nas princesas que depois estiveram na Bahia:
vestido de seda de primeira ordem bordados e toucado riquíssimo.
As lacaias brancas também traziam ricos vestidos de seda. As
escravas, mulatas e negras jejes, usavam o pitoresco traje das negras
baianas, hoje tão raro: saia, camisa bordada e becas, tudo de grande
luxo” (BITENCOURT, 1992, p. 49 e 50).
Em contra partida este tipo de jóia também era utilizado
como manifestação de posicionamento de resistência ao sistema de
poder estabelecido, um maravilhoso exemplo de como o feitiço vira-se
contra o feiticeiro, Napoleão Bonaparte e outros assemelhados recebe
o troco de sua estética personalista com a mesma moeda, ou melhor,
com o mesmo medalhão,
“Em 1805, apenas um ano após a proclamação da independência
haitiana por Jean Jacques Dessalines, seu retrato decorava medalhões
Figura 7 - Pulseira copo. 13 pendurados dos pescoços de milicianos negros no Rio de Janeiro, episodio
que ganha maior significado se lembrarmos que Dessalines era também
militar, o comandante-em-chefe das forças hatianas que
derrotaram os exércitos de Napoleão enviados para recuperar
a ilha e reintroduzir a escravidão. Já na Bahia escravocrata,
em 1814, os escravos falavam abertamente nas ruas sobre os
sucessos nas antilhas francesas” (REIS, 2000, p. 248).
O que se pretende com a esta abordagem da jóia escrava
baiana como um design de resistência, entre outros objetivos,
é lançar um olhar inovador sobre a pesquisa da cultura
Figura 8 - Diadema com camafeu central. 14 material, na tentativa de resgatar objetos de estudo que os
estudos em design, mundialmente, desconsideravam, por ser
oriundo da periferia, por ser negro e por ser de caráter transgressor.
Acredita-se que estes estudos possam se constituir em uma importante
estratégia para desatar as amarras que restringem e limitam a capacidade
propositiva da atividade projetual, ainda fortemente vinculada às
imposições de mercado. Como avançar na construção de uma história do
design ampla, geral e irrestrita, no sentido de ser inclusiva, que estabeleça
novas referencias que conduzirão a novas práticas, definitivamente
iniciando a ampliação de inserção do design a todos e a todas, design da
diversidade da humanidade, pois o fato de sermos diferentes não nos faz
desiguais.

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13
Foto do designer e fotografo Júlio
Acevedo da peça do acervo do Museu de Books, 1998.
Arte da Bahia. O tratamento da imagem foi
um trabalho do estudante do curso de GUYATT, Mary. The Wedgwood Slave Medallion: Values in Eighteenth-
Design da Uneb Daniel Quadros. century Design. In Journal of Design History. London: Oxford University
Press, v. 13, n. 2, p. 93-105, 2000.
14
Imagem digitalizada da pagina 70 do livro
“Jewelry Design Source Book” de Diana
Scarisbrick (org.), Londres: Quantum LODY, Raul. Jóias de Axé: fios-de-contas e outros adornos do corpo: a
Books, 1998. joalheria afro-brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
39
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