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As Palavras Interditas

As Palavras Interditas
Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,


uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece. Antítese - contradição de ideias partir/ficar é usada para fazer
referencia aos soldados deslocados para a batalha («é preciso
É preciso partir, é preciso ficar.
partir») ou à angústia dos que permanecem ou caem mortos em
terra estranha («é preciso ficar»)
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela Antitese - Constraste luz/escuridão muita vezes referido ao
as primeiras luzes das colinas. longo do poema entre a felicidade do amor e a tristeza da
guerra
As palavras que te envio são interditas
Metáfora - aqui o sujeito poetico esta a comparar as
até, meu amor, pelo halo das searas; palavras que envia com o seu amor pelo halo das searas
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira, Anáfora - Repetição «dói-me» de modo a reforçar a
dói-me esta solidão de pedra escura, ideia de dor
estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.


Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Analise do Poema
O título deste poema, que é afinal o título do livro a que pertence, remete
imediatamente para um tempo - 1951, regime salazarista - em que a falta de liberdade
se estendia às palavras, censuradas, interditas.Destacam-se, no poema, algumas ideias:
• Neste poema composto por seis quadras,o eu poético limita-se a descrever a pessoa
que ama e a falar sobre o valor polissémico das palavras. Ao ler este
poema,normalmente,remota-nos a elementos relacionados com a natureza como: o
mar,as areias e a noite, associada a uma vertente luminosa. O poema transcende-nos a
ideia do triunfo do amor em tempos de decadência.
•Todos os sentidos do poema gravitam à volta de privação e plenitude. A relação
amorosa "eu-tu" move-se num espaço de destruição e de conflito. Tal facto acentua as
perspectivas de felicidade ("as primeiras luzes das colinas") que o amor abre, logo
ensombradas pelas "ondas de sombra" e pelo ambiente de guerra. Mas o amor é
subversivo, e por isso, mesmo assim, o amador envia palavras ao objecto do seu amor.
• A articulação e oposição amor/realidade;
• A criança, símbolo da origem, da transparência, não pode olhar para o mar = cidades
bombardeadas; também não pode olhar para terra = local de destruição. Ela é a
harmonia num espaço de desarmonia.
•A realidade noturna de «cinza», «sombra», «palavras interditas», «solidão» ,«dias
quebrados»,«horizontes de cidades bombardeadas»
• A inocência do «tempo que começa», a noite que «cresce apaixonadamente», as
«palavras interditas» secretamente enviadas;
• O amor; manifesto de luta contra a opressão, o medo e a guerra pela liberdade;
• Jogo de luz e sombra;

Imagem de contacto
Este quadro representa apenas um por de sol com alguns barcos e o sol ao fundo. No
entanto se analisar-mos a obra mais ao pormenor podemos reparar no contraste que ha
entre a imagem de beleza e harmonia que o cenário nos transmite através dos
elementos da natureza presentes e a intensidade das pinceladas que se revelam brutas e
intensas. Retiramos daqui uma ideia de dualidade de sentimentos. Fazemos então uma
ponte de contacto entre estas duas obras em que ambas apresentam um contraste de
emoções e a utilização de elementos da natureza.

Conclusão
Com este trabalho fiquei a saber mais sobre o trabalho de Eugénio de Andrade,poeta
que ja tinha conhecimento devido aos seus poemas juvenis que tinha o habito de ler em
criança. Este poema sublinha a importancia que o amor e a liberdade tem nas nossas
vidas bem como a sua dualidade. Reflete-nos tambem sobre a importancia dos valores
conquistados pelo povo português com o 25 de Abril que pos fim a ditadura salazarista

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