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OS IMPACTOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL 95/16 PARA A

DEMOCRACIA SOB A PERSPECTIVA DE LUHMANN

Amanda Fernandes Leal 1

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo principal analisar as implicações da emenda


Constitucional 95/16 para a democracia, sob a perspectiva de Niklas Luhmann. A
metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, através da análise de artigos
científicos, revistas e periódicos relacionado se ao tema, em face à constituição e à
emenda constitucional 95/16. Para tanto, a pesquisa se desenvolve a partir do que
representa a democracia para Luhmann, especialmente em contraposição aos
conceitos clássicos de democracia e as questões mais relevantes ao tema que se
desenvolvem a partir desses princípios. Posteriormente, busca-se analisar os tipos
de democracia caracterizados na literatura do autor e as principais implicâncias para
o tema. Por fim, a pesquisa analisa a emenda constitucional 95/16 e as possíveis
consequências para o funcionamento dos mecanismos de nossa democracia atual,
sob a ótica teórica do pensamento de Niklas Luhmann.

PALAVRAS-CHAVE: Democracia. Constituição. Niklas Luhmann. Complexidade.

ABSTRACT

This article aims to analyze the implications of the Constitutional Amendment 95/16
for democracy, from the perspective of Niklas Luhmann. The methodology used is
bibliographic research, through the analysis of scientific articles, journals and journals
related to the theme, in view of the constitution and constitutional amendment
95/2016. To this end, the research develops from what democracy represents for
Luhmann, especially in contrast to the classic concepts of democracy and the most
relevant issues that develop from these principles. Subsequently, we seek to analyze
the types of democracy characterized in the author's literature and the main
implications for the theme. Finally, the research analyzes the constitutional
amendment 95/16 and the possible consequences for the functioning of the
mechanisms of our current democracy, under the theoretical optics of Niklas
Luhmann's thought.

KEYWORDS: Democracy. Constitution. Niklas Luhmann. Complexity.

1
Pós-graduanda em Direito Eleitoral pela Universidade Federal do Piauí, convênio com a Escola Judiciária
Eleitoral, do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí. O trabalho foi orientado pelo Professor Xxxxxx, do
Departamento de Filosofia, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: amandafleal@hotmail.com
2

1 INTRODUÇÃO

2 A DEMOCRACIA PARA NIKLAS LUHMANN

Ao analisarmos o percurso da democracia ao longo de sua história, verificamos a


complexidade em conceituar este sistema de organização política, especialmente em face
ao panorama político e social pós-moderno.
Complexidade esta que, segundo (Santos, 2005, p. 15) é para Luhmann o problema
central, revelado e deixado como legado pela modernidade iluminista.
O autor ressalta ainda que esta extrema complexidade é um problema tão profundo e
estrutural que nunca poderá ser resolvido.
Então, apreender a democracia de acordo com as teorias clássicas é para Luhmann,
uma forma ultrapassada e ineficiente de analisar adequadamente a realidade política que a
envolve.(Pinzanni, 2013, p. 136)
É neste sentido que Guedes (2014, p. 01) esclarece que o conceito de democracia
como “o governo do povo pra o povo” é, para Luhmann, teoricamente imprestável e ,
portanto, qualquer análise limitada a este prisma, pouco diz sobre si mesma.
Além disto, Luhmann alerta que se poderia deduzir por esse princípio, que
todas as decisões devem ser tomadas, levando a um processo infinito de decisões
sobre decisões e inviabilizando as possibilidades de controle que institucionaliza o
governo. O autor acrescenta ainda:

Além de impedir a afirmação de outros princípios como premissas


materiais de justiça, tornando impossível saber “o que” e “a quem”
se deva demandar. Num ambiente assim revolto, adverte Luhmann,
os resultados muito provavelmente se revelariam a favor de quem
conseguisse “enxergar e nadar nessa água turva”. (Guedes, 2014, p.
01).

Assim, o autor chega ao conceito de democracia para Luhmann, que se


caracteriza por um sistema, em separado na cúpula de sua sociedade, há uma
diferenciação entre governo e oposição. Neste sistema, destaca-se ainda clara
distinção de funções, aberto à possibilidade de troca de posições. Então, a oposição
mesmo não tendo o poder de governar, e por isto mesmo, pode fazer valer o poder
de quem não os tem.
Essa estratificação, portanto, é para ele, o que distingue a democracia das
demais formas de governo. (Guedes, 2014, p. 01)
3

3 USURPAÇÃO DA SOBERANIA POPULAR

O Brasil atravessa um momento singular da sua história política e sócio


econômica. Em doze meses anos de governos de centro-esquerda o país
experimentou incremento considerável nos índices de desenvolvimento. Aumento do
PIB; inclusão de amplos segmentos da população no mercado de consumo,
inclusive retirando consideráveis contingentes da “linha de pobreza”; ampliação das
vagas no setor educacional, nos níveis médio e superior; construção de uma política
externa de fortalecimento de laços com países da América Latina, com China, com
Índia e com Rússia.

Sobre o aumento do PIB, Fagundes (2018) enfatiza que:

Depois de um 2017 marcado pelo início da recuperação da


economia, 2018 pode ser ainda melhor, do ponto de vista econômico,
já que a tendência é que o PIB (a soma de todos os bens e serviços
produzidos no país) cresça de maneira mais significativa. Para 2018,
muito provavelmente teremos a aceleração da retomada econômica
e um bom indicativo que reforça essa tendência é o crescimento de
0,1% do PIB no 4º trimestre de 2017 em relação ao trimestre
anterior, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).

Acerca do aumento de número de vagas nas escolas de nível superior,


Carmo et. al, 2015, p. 18, afirmam que:

Com isso, investigamos a criação e ampliação das políticas públicas


de garantia de acesso e permanência no ensino superior, em
atendimento à demanda acumulada, adicionada à demanda regular,
que representa, aproximadamente, 73,5% dos concluintes do ensino
médio a cada ano. Assim, compreendemos aqui a relevância das
medidas adotadas para a melhoria do ensino, para o fortalecimento
dos exames nacionais de avaliação dos estudantes e para a
ampliação das vagas nas universidades com a maior possibilidade
de frequência de estudantes carentes mesmo em cursos de
instituições privadas.

Já no nível médio Carmo et al, 2015, p. 27 ainda enfatizam que:


4

O Plano Nacional de Educação – PNE para o decênio 2011-2020


estabeleceu como metas, dentre outras, universalizar, até 2016, o
atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar,
até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%,
nessa faixa etária; igualar a escolaridade média entre negros e não
negros, com vistas à redução da desigualdade educacional; reduzir
em 50% a taxa de analfabetismo funcional; garantir que todos os
professores da educação básica possuam formação específica de
nível superior; formar 50% dos professores da educação básica em
nível de pós-graduação; valorizar o magistério público e assegurar a
existência de planos de carreira para esses profissionais em todos os
sistemas de ensino; elevar a taxa bruta de matrícula na educação
superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a
24 anos; elevar a qualidade da educação pela ampliação da atuação
de mestres e doutores nas instituições de educação superior para
75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do
total, 35% doutores; e elevar gradualmente o número de matrículas
na pós-graduação de modo a atingir a titulação anual de 60 mil
mestres e 25 mil doutores.

Com relação à construção de uma política externa de fortalecimento de laços


com países da América Latina, com China, com Índia e com Rússia, observa-se que:

O conjunto de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia,


China (BRIC) e África do Sul poderá se tornar, nos próximos
cinquenta anos, a principal força na economia global, superando o
grupo de países desenvolvidos que formam o G-6 (Estados Unidos,
Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália) em termos de
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), renda per capita e
movimentos comerciais e financeiros. Nesse sentido, tais
economias, em função do tamanho geográfico, população e nível
de produto, têm se tornado alvo de crescente interesse,
principalmente em termos das lições que podem ser apreendidas
por meio do estudo dos determinantes básicos do atual
desempenho econômico e do potencial de tais países de se
tornarem os principais impulsores do crescimento econômico
mundial ( VIEIRA; VERÍSSIMO, 2009, p. 514).

Após a quarta derrota consecutiva nas eleições gerais, as elites econômicas


do país decidiram dar um basta no processo de ascensão das classes sociais
populares. Tais elites elaboraram e colocaram em prática, em sintonia com governos
e elites econômicas externas, um projeto de desarticulação da coalizão partidária
que conduzia o país a esse novo patamar social.

Integram esse projeto, em primeiro momento, o impeachment de Dilma


Rousseff e a criminalização dos partidos e dos líderes populares, como é o caso do
5

ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, preso há cerca de três meses. Em seguida,
o projeto continuou com a colocação no poder de um grupo liderado por Michel
Temer, com a complacência do Poder Judiciário e o apoio maciço da mídia
tradicional.

Começou, então, a ser posto em prática o desmantelamento das conquistas


políticas e sociais, através do projeto denominado “ponte para o futuro” 2. Destacam-
se como as principais medidas implantadas com esse propósito as seguintes:

1) Congelamento dos gastos públicos pelo período de 20 anos;


No qual o projeto propõe acabar com as vinculações constitucionais
estabelecidas (como os gastos com saúde e educação), pois segundo o
projeto é necessário esse novo regime fiscal que possua impasse e
estagnação representados por gastos e ao implementar um regime
orçamentário que serja extinta as vinculações e a implantação do
orçamento inteiramente impositivo.
2) Realização de reforma trabalhista, acabando com direitos há décadas
conquistados pela população;
Souza Junior (2017) entende que a reforma trabalhista é marcada por
uma ideologia neoliberalista na qual possui interesses da classe
dominante distorcendo a realidade do povo brasileiro e apesar do excesso
de direitos trabalhistas possibilitarem o desemprego é dever do Estado
encontrar o equilíbrio entre os interesses da empresa e do empregador e
não violar direitos.
Maior (2017) adverte que a reforma possui um objetivo não assumido
de impor o rebaixamento salarial, reduzir os direitos, tornar precária e
fragilizar a classe trabalhadora, no geral implementando limites aos
interesses econômicos dos trabalhadores.

3) Perdão das dívidas de credores da União (PESQUISAR)

4) ..........(PESQUISAR OUTRAS MEDIDAS)


2
Fundação Ulysses Guimarães. Uma ponte para o futuro. https://www.fundacaoulysses.org.br/wp
content/uploads/2016/11/UMA-PONTE-PARA-O-FUTURO.pdf. Disponível em : 29 Out 2015 Acesso em: 10
de jul. de 2018.
6

As medidas adotadas podem ser caracterizadas como usurpadoras da


soberania popular em duas dimensões essenciais. Por um lado, foram
implementadas com o intuito de acabar com direitos e conquistas sociais
fundamentais, bem como de conceder a exploração das riquezas e do patrimonial
nacionais por grupos de interesses estrangeiros. Por outro lado, tais medidas foram
implementadas à revelia de qualquer processo de consulta ao povo brasileiro.

4 COMO EXERCER A SOBERANIA POPULAR

A democracia moderna, de acordo com Bobbio (1986, p. 22) é:

A democracia moderna nascida como democracia representativa em


contraposição à democracia dos antigos, deveria ser caracterizada
pela representação política, isto é, por uma forma de representação
na qual o representante, sendo chamado a perseguir os interesses
da nação, não pode estar sujeito a um mandato vinculado. O
princípio sobre o qual se funda a representação política é a antítese
exata do princípio sobre o qual se funda a representação dos
interesses, no qual o representante, devendo perseguir os interesses
particulares do representado, está sujeito a um mandato vinculado
(típico do contrato de direito privado que prevê a revogação por
excesso de mandato).

Segundo Medeiros (2013) nós estamos vivendo em um modelo


de democracia representativa, onde a sociedade concede ao mandatário o direito
de representá-lo, e de tomar as decisões mais favoráveis aos interesses de toda a
população.

A democracia representativa é alvo de críticas quanto à questão


da corrupção, do descaso político, e o descaso da própria população, permitindo que
aqueles que se elegem façam o que bem entenderem, não vendo em primeiro plano
os interesses do povo e se auto beneficiando com seu cargo (MEDEIROS, 2013). 
“O ponto de partida para o pensamento democrático moderno é dado pela
ideia de governo do povo ou soberania popular.” (FERREIRA, 2015, p. 186).
7

O Povo é o conjunto de pessoas nacionais ou nacionalizadas com direitos


políticos, e que estejam vinculados ao Estado por laços jurídicos duradouros e têm
direitos perante o Estado. Na realização plena das tarefas do Estado Democrático
de Direito, o princípio democrático deve ser estabelecido a partir de uma ótica
representativa, participativa e pluralista (FABRIZ; FERREIRA, 2001, p. 119).

Assim, povo deve ser entendido como um conjunto de indivíduos que se


unem em uma comunidade e democraticamente instituem uma ordem jurídica
própria, estabelecendo um poder político e compartilham direitos e deveres de
cidadania em condições iguais. Ou seja, um conjunto de pessoas que participam do
processo político decisório de um Estado Democrático, legitimando tal Estado, com
a garantia de uma vida digna (FABRIZ; FERREIRA, 2001, p. 120-121).

Democracia direta é quando o indivíduo participa das deliberações que lhe


dizem respeito, ou seja, que entre os indivíduos deliberantes e a deliberação não
exista nenhum intermediário (BOBBIO, 2011, p, 63 apud ARAÚJO, 2015, p. 32).

A respeito da participação popular em um governo democrata, Ferreira (2015,


p. 199) esclarece que:

O conceito moderno de democracia, independente da linha teórica


utilizada tem por base o postulado da soberania popular enquanto o
poder emanado do povo, sendo o pilar central do Estado
Democrático de Direito. Nesse sentido a constituição de 1988 acabou
por contemplar no parágrafo único do seu artigo primeiro (Todo o
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição) tanto a
democracia representativa ou indireta quanto a democracia
participativa, a partir da expressão diretamente.

O povo pode decidir, através do referendo ou do plebiscito, sobre


determinada matéria. Diante disso, vimos que:

O plebiscito é uma forma de consulta popular em que os cidadãos


são consultados antes de uma lei ser constituída. O referendo
também é uma consulta popular, prevista no artigo 14
da Constituição, regulamentada pela lei 9.709/98. A distinção
fundamental é que o referendo é realizado após o projeto de lei em
questão ter sido elaborado e aprovado no Congresso. Assim, o teor
exato da matéria já foi definido pelos parlamentares. Tudo que a
8

população pode fazer é aprovar ou rejeitar tal projeto. Mais uma


vez, os referendos também são relacionados a questões de grande
relevância para o país (BLUME, 2016).

Vejamos o artigo 14 da Constituição Brasileira de 1988, incisos I, II e III, ipsis


litteris: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:  I -
plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular”.

Na Lei nº 9 709 de 18 de novembro de 1998, que regulamenta a execução do


disposto nos incisos I, II e III do art. 14 da Constituição Federal Brasileira de 1988,
no artigo 2º, §§ 1º e 2º, sobre referendo e plebiscito, lê-se:

Art. 2o Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para


que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
constitucional, legislativa ou administrativa.
§ 1o O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou
administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o
que lhe tenha sido submetido.
§ 2o O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou
administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou
rejeição.

De acordo com Ferreira (2015) a democracia tem como base o poder que
vem do povo. O povo brasileiro é o titular do poder no Estado brasileiro, com direito
a participação na condução dos assuntos relativos ao Estado, essa participação
popular é um direito e não uma concessão dada pelo poder público.

Se considerarmos que a participação, enquanto direito fundamental, teria


como base a soberania popular já se sublinha um aspecto visivelmente político da
participação administrativa. Assim, essa participação deveria dar possibilidades reais
de intervenção nas decisões do poder público e nos rumos da sociedade em que o
cidadão vive (FERREIRA, 2015, p. 202).

Alguns países, indubitavelmente caracterizados como regidos por sistemas de


democracia representativa (liberal), tem se destacado por garantir mais efetividade a
esses mecanismos de participação política direta.
9

QUADRO: 1 - Decisões políticas adotadas por processos de participação direta


(2000/2015)
País Plebiscito Referendo Observação

Suíça A Suíça é o país do Em nível nacional, o De acordo com a Constituição


referendo, pois art. 140 da Federal, o povo suíço é o
desde 1802 quando Constituição da soberano do país - ou seja, a
estabelece a Confederação Suíça instância política máxima - e
República Helvética prevê a elege o parlamento. Além disso,
com base em um obrigatoriedade da todo cidadão eleitor tem o direito
realização de de participar da formulação da
plebiscito, a história
referendos para Constituição e das leis por meio
eleitoral Suíça
emendas de referendos ou iniciativas
registra 217 constitucionais, populares A SUÍÇA (2018, p. 26).
plebiscitos de 1866 a transferência de [...] Os cidadãos podem exigir um
1978 cobrindo competências para plebiscito para uma emenda ou
praticamente todos órgãos adendo constitucional (iniciativa
os assuntos! internacionais, popular) que desejarem ou
FIGUEIREDO questões deliberar posteriormente sobre
(2018). envolvendo a decisões parlamentares
soberania nacional, (referendo) (A SUÍÇA, 2018, p.
conflitos de 27).
competências entre
órgãos
constitucionais e
aprovação de atos
federais de
emergência
(BICHARA, 2017, p.
14).
Irlanda 7 O Tratado de Lisboa,
de 2009, foi rejeitado
na Irlanda, como já
dito, mas, como
ocorreu na
Dinamarca, foi aceito
quando o tratado foi
submetido à votação
popular por uma
segunda vez
(GARCIA, 2013, p.
152).
Uruguai 8 No Uruguai, qualquer proposta
de emenda à Constituição deve
ser submetida a referendo
popular (art. 331 da Constituição
uruguaia) (BICHARA, 2017, p. 8).

Argentina Assim como no Chile, não há


previsão legal estabelecendo
referendos obrigatórios
(BICHARA, 2017, p. 9).

EUA Os Estados Unidos não possuem


previsão legal de mecanismos
tradicionais de democracia direta
em nível nacional. Contudo, tanto
pela tradição histórica quanto
pela utilização sistemática
10

desses mecanismos, alguns


estados americanos são
considerados “leading cases”
acerca da utilização de
mecanismos de democracia
direta no mundo. Entre eles,
estão o Oregon e a Califórnia.
Neste estudo, optou-se por
apresentar o modelo da
Califórnia como exemplo,
tratando ainda de ressaltar
alguns problemas relatados pela
literatura nessa experiência
(BICHARA, 2017, p. 12).
Austrália 39 Segundo o art. 128 da
Constituição australiana, as
emendas à Constituição devem
ser submetidas a referendo dos
eleitores dos Estados. Da mesma
forma, o Parlamento pode
convocar referendos consultivos
à população, o que já foi feito
duas vezes, até o presente
momento (BICHARA, 2017, p.
13).
França 20 Segundo o art. 88-5 da
Constituição francesa, a
ratificação de tratados
internacionais relativos à União
Europeia deve ser submetida a
referendo popular, a não ser que
seja referendada por 3/5 de
ambas as Casas do Congresso.
Da mesma forma, o art. 89
estabelece que emendas à
Constituição de autoria do
Executivo devem ser submetidas
a referendo popular, a não ser
que o presidente da República
decida enviar a proposta ao
Parlamento e esta seja aprovada
por 3/5 dos votos (BICHARA,
2017, p. 15).
Dinamarca 14
Egito 11
Filipinas 8
Alemanha 7
Itália 6
Noruega 5
Chile No Chile, não há previsão para a
utilização obrigatória de
Referendos (BICHARA, 2017, p.
8)..
Colômbia Não há previsão de referendos
obrigatórios na Colômbia
Referendos (BICHARA, 2017, p.
10).
Bolívia A Constituição boliviana
estabelece certos temas diante
11

dos quais é mandatória a


convocação de plebiscitos.
Segundo o art. 441 da
Constituição
do país, esses temas dizem
respeito à mudança total ou
parcial da Constituição. Nesses
casos, por iniciativa de 25% do
eleitorado, por maioria absoluta
da Assembleia Legislativa
Nacional ou da Presidência da
República, é convocada uma
Assembleia Constituinte, que
pode modificar os dispositivos,
total ou parcialmente, sempre por
2/3 (dois terços) dos seus
membros (BICHARA, 2017, p.
11).
Reino Unido Segundo o “European Union Act”,
aprovado em 2011, qualquer
emenda ou modificação de tratado
relativo à União Europeia deve ser
submetido a referendo.
Recentemente, um referendo
popular, cuja eficácia ainda é
juridicamente alvo de debate no
país, votou pela saída do bloco. O
“Political Party, Elections and
Referendums Act”, de 2010,
também regula a realização de
referendos em nível nacional.
Segundo esse ato, cabe à maioria
legislativa convocar um referendo
em nível nacional (BICHARA,
2017, p. 15).

FONTE: FIGUEIREDO (2018); GARCIA, 2013; A SUÍÇA (2018); BICHARA, 2017.

Acerca dos dados dos últimos 150 anos de referendo e plebiscitos Figueiredo
(2018) afirma que os Estados Unidos e a Holanda são os únicos que nunca
realizaram um plebiscito de caráter nacional. e 66 outros países com pelo menos um
plebiscito nos últimos 150 anos.

Os temas constantes desses processos decisórios (plebiscitos, referendos):


casamento homoafetivo, descriminalização de drogas, legalização de aborto,
processo de separação política etc. PESQUISAR

Conforme Melo (2013):


12

Em outros países, como Portugal, existe uma lista enorme de


assuntos que não podem ser submetidos à consulta popular, a
exemplo de questões tributárias ou financeiras, fato que influenciou
muitos doutrinadores pátrios a propugnarem que o mesmo se desse
por aqui. Contudo, tal fenômeno não se repete no Brasil, onde não
existe nenhuma lista excludente de assuntos a serem submetidos à
manifestação direta da soberania popular, estabelecendo o legislador
(Lei nº 9.709/98, art. 2º, caput) que tanto questões administrativas
(diferentemente do que dispôs para a iniciativa popular), quanto
questões legislativas podem ser submetidas à consulta, e mais,
também o podem questões constitucionais.

Esses países apresentam altas taxas de IDH (índice de desenvolvimento


humano). O que mostra haver uma correlação entre nível de participação política e
qualidade de vida das populações desses países.

O Brasil vem perdendo posições no PIB mundial ano a ano, mas continua
entre as maiores economias do globo. Com relação a termos per capita tem uma
queda significativa, assemelhando-se a países andinos e africanos, d e ficando atrás
de países vizinhos, dentre eles, Uruguai, Argentina e de alguns latinos: Chile, Costa
Rica, Bahamas, México e outros (TONI JÚNIOR, 2010, p. 67).

No Brasil, segundo Fornazieri (2013) tivemos três consultas feitas através de


plebiscito ou referendo:

A primeira consulta popular em 1963 o plebiscito foi sobre o sistema


de governo (presidencialismo ou parlamentarismo), a segunda foi em
1993 sobre sistema de governo no qual se manteve o
presidencialismo e em 2005 a terceira consulta por meio de um
referendo no qual revogou a proibição da comercialização de armas
de fogo e munição. Tais mecanismos comprovam o exercício da
soberania popular e a falta deles ou a sua pouca utilização retrata a
usurpação dessa soberania.

Além disso, Lourenço (2013) corrobora o entendimento de usurpação da


democracia ao elucidar que a legislação estabelece que para a realização de
plebiscito ou de referendo é preciso ter proposta e esta deve ser aprovada por
decreto legislativo no Congresso Nacional para os eleitores serem chamados a
opinar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
13

Esse estudo objetivou a análise da soberania popular no Brasil na perspectiva


do liberalismo de John Locke e para tanto buscou as origens desde a criação do
estado moderno na proposta contratualista e a constituição do governo, da forma
como as sociedades políticas se fundam sob a ótica de John Locke.

John Locke foi um importante filósofo inglês, considerado um dos líderes do


empirismo e um dos ideólogos do liberalismo e do iluminismo. Faz parte dos
filósofos do jusnaturalismo e era um democrata que acreditava em uma forma de
democracia que existia para proteger seu povo e para que eles tenham liberdade e
propriedade, acreditava também, que um governo adulterava os direitos individuais
de uma pessoa. 

Para se atingir o objetivo da soberania popular é necessário que o povo


reconheça seus direitos de participação popular e do direito à cidade.

Percebeu-se que somente no estado de democracia é possível que haja uma


legitimidade do Direito e do próprio Estado, repercutindo em um resultado correto
nas urnas e que não haja medidas que substituam as decisões democráticas, ou
seja, a vontade do povo impere e haja a verdadeira justiça.

Na formulação teórica de Locke não encontramos uma discriminação precisa


das formas de exercício da soberania popular. Contudo, o fundamental é que o
princípio é garantido de forma inalienável. O desenvolvimento das democracias
liberais atuais, têm, como vimos, criado mecanismos capazes de garantir o exercício
do poder pela coletividade. Além da mera participação na eleição de representantes,
mecanismos de participação direta, tais como plebiscitos e referendos, tem sido
implementado com bastante regularidade.

Embora tais mecanismos de participação política estejam consagrados na


atual Constituição Brasileira, eles não fazem parte da realidade efetiva do processo
político do país. Como vimos, tais mecanismos estão sendo usurpados
particularmente no atual momento da gestão política brasileira. Portanto, resta claro
14

que, no Brasil o estatuto da soberania popular não detém a natureza e a importância


que lhe foram atribuídas por um dos maiores representantes das ideias liberais.

“A democracia não goza no mundo de ótima saúde, como de resto jamais


gozou no passado, mas não está à beira do túmulo.” (BOBBIO,1986, p. 9). No Brasil,
o governo controla a parte legislativa que resulta da interação entre poder e o apoio
da maioria, sendo que essa maioria é formada por um acordo político visando
objetivos comuns. Há ainda muita desconfiança do povo brasileiro com relação aos
seus governantes políticos e uma descrença na aceitação de que vivemos em um
país democrático, embora saibamos que o povo ainda interfere em muitas decisões
políticas, reivindicando direitos através de greves, passeatas, carreatas, etc.

REFERÊNCIAS

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BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma defesa das regras do jogo.


Tradução de Marco Aurélio Nogueira. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
15

______. O Futuro da Democracia. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. 2ª ed. São


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