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UC → GÉNEROS JORNALÍSTICOS

Docente: Hália Santos

Discentes: Inês Félix [81223]; Inês Silva [81227]; Jade Garcia [81303]

VIDA MATINAL ABRANTINA


ADORMECERAM OU DESAPARECERAM?

Sexta-feira, dia 15 de Novembro, Abrantes acordou já a tremer de frio. Ainda


assim, o gelo que parecia penetrar até aos ossos, não foi um empecilho para dar
início à vida matinal do centro histórico. Estabelecimentos a abrir, pequenos-
almoços a sair e uma vasta cadeia de comerciantes e trabalhadores comuns que
relatam e se focam na mesma
conjuntura: o facto é que, de há
“uns tempos pra cá”, a
população local vem sentindo
uma redução significativa do
número de pessoas que se
encontra na rua, principalmente
ao início do dia.

O relógio marcava as 9 horas, o termómetro registava os 7ºC e a vontade de ficar em casa tinha bastante força.
Contudo, as tarefas e deveres diários sobrepunham-se e, pouco a pouco, o Centro Histórico de Abrantes, mais
minuciosamente, a Praça Barão da Batalha e seus arredores, começavam a desejar os bons dias. Cores de
inverno, folhas no chão, esplanadas ainda banhadas pela água da chuva que caíra na madrugada anterior, era
assim o cenário desta manhã, onde se inseriam trabalhadores comuns que chegavam nas carrinhas de trabalho,
comerciantes que abriam a porta das suas lojas, moradores que saíam à janela para cumprimentar a vizinhança
e clientes/consumidores que se dirigiam aos seus locais de eleição para dar início a mais um dia.

A começar também mais um dia de trabalho, ainda com cheiro a chuva, a empregada da boutique GKids, conta
que é raro ver um cliente entrar de manhã, que não seja apenas para lhe “dar uma palavrinha” ou desejar
somente os bons dias. Com 37 anos, esta trabalhadora declara que “parece que as pessoas fugiram de cá, não
entram pessoas na minha loja, nem sequer para ver” e que, para além disso sente, maiormente no período
matinal, a diferença do seu número de clientes em comparação com os estabelecimentos ao seu redor, uma
vez que, como a mesma relatou, sendo roupa o produto comercializado, não é de estranhar que a esmagadora
maioria dos consumidores não o procure tão cedo. De referir que, a trabalhadora em questão, foi uma das
pessoas que enfatizou bastante a redução da circulação de pessoas pelo Centro.

Se não é da roupa que se sente necessidade ao amanhecer, de certeza que é do pequeno-almoço e, nos dias
correntes, um considerável número de pessoas procura fazer a sua primeira e mais importante refeição do dia,
num café ou numa pastelaria. Às sextas-feiras, Maria, Fernanda e Fátima, têm sempre encontro marcado na
Pastelaria Guloseima, onde tomam o pequeno-almoço e fazem como que um género de “balanço” da semana.
Estas três Abrantinas confirmam que saem da cama apenas porque “tem de ser “, preferindo pensar que o “o
frio é psicológico” e esclarecem ainda gostar do sossego, não lhes fazendo tanta confusão a “falta” de pessoas
e sentindo-se satisfeitas com as poucas que tropeçam nelas “com a correria para chegar ao trabalho”.

Ao descer da rua, numa loja da EDP, Cármen contava que quando chega, mesmo antes de abrir a porta para
ela própria entrar, encontra-se já e quase sempre uma fila formada que aguarda para pagar contas, tirar
qualquer tipo de dúvida relativamente ao serviço, estando desta forma “habituada a ver a casa cheia”.

Por outro lado, o Sr. Eduardo é neste momento o oposto de Cármen. Fotógrafo de profissão, este Sr. tem uma
loja de fotografia aberta em Abrantes há imensos anos e, talvez por isso, seja quem mais sofre com a falta de
pessoas. Todavia, Eduardo relatou outro problema para si, maior que qualquer êxodo de pessoas – ainda que
este continue a ser uma peripécia –, a evolução da tecnologia que, neste caso em específico e a seu ver o
substitui. “Cheguei a revelar 200 rolos por dia e agora, na maior parte dos dias, revelo 0”. Para além de não
lhe esperar uma fila de clientes de manhã, são poucos os que chegam a entrar, visto que nos dias de hoje “as
pessoas só precisam de fotografias para renovar a carta e esse tipo de coisas”.

O facto desta “evasão” afetar e impressionar negativamente os que vivem o seu quotidiano em Abrantes, tem
que ver também com a antiga atribuição do estatuto de “acolhedora” a esta cidade. Desta forma, o receio de
que o Centro Histórico de Abrantes passe a ser um Centro Histórico de Fantasmas, faz-se sentir por parte dos
mesmos, ainda que muitos o preencham ao observar a vida académica dos estudantes da ESTA – Escola
Superior de Tecnologia de Abrantes.

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