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1. Introdução
Em sua evolução, o Homem tornou-se a forma dominante de vida na Terra, controlando outras
espécies animais e vegetais e desenvolvendo uma tecnologia que lhe permite alterar, cada
vez mais rápida e poderosamente, o ambiente em que vive. Em virtude do desenvolvimento
obtido, o ser humano, antes apenas um entre os vários organismos integrantes da biosfera,
assumiu o papel de interventor na Natureza, explorando exaustivamente os recursos naturais
e deteriorando a qualidade do meio ambiente. O processo, de certa forma inevitável, realizou-
se de maneira predatória, desordenada, sem uma preocupação permanente com possível
advento da escassez dos recursos naturais. Daí, a deterioração da qualidade do meio
ambiente e, portanto, da qualidade da nossa vida na biosfera.
O Homem vive hoje numa complexa teia de relações e interações em meio a três sistemas: a
biosfera, a tecnosfera e a sociosfera 1. Os dois primeiros compreendem as estruturas material
e energética, e o terceiro, a institucional.
BIOSFERA
HUMANIDADE
SOCIOSFERA TECNOSFERA
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Até bem poucos anos atrás, os nossos êxitos técnico-científicos nos induziam à crença de que
o ambiente artificial, por nós criado, nos levaria a prescindir do ambiente natural, que, por sua
vez, se submeteria às nossas manipulações. Os filmes de ficção científica dos anos 50 (Flash
Gordon e outros) confirmam esta crença, pois toda a ação acontecia em cavernas, túneis
cavados em rochas, salões com “modernos” equipamentos, foguetes, e raramente se via uma
área natural, com árvores e animais.
Apesar de parte da humanidade viver na tecnosfera, nem por isso ela deixou de pertencer e
depender da biosfera. A biosfera funciona como um sistema, evolucionariamente aperfeiçoado
através de milhões e milhões de anos, no qual há um relativo equilíbrio dinâmico entre os
seres vivos e entre estes e os componentes físicos e químicos do meio, todos se inter-
relacionando e interagindo, num traçado cujas ligações ainda não são totalmente conhecidas.
Sabe-se, porém, que os elos desta emaranhada teia têm importância vital para o
funcionamento relativamente harmonioso do conjunto e que, se forem destruídos ou
seriamente afetados, todo o sistema poderá desintegrar-se.
Durante muitos séculos, a partir do início da era cristã, a população humana cresceu muito
lentamente. A partir da metade da Idade Média a população começou a crescer cada vez mais
rápido, em virtude principalmente da maior produção de alimentos. Em 1802, a Terra tinha 1
bilhão de habitantes. Duzentos anos depois, em 1900, a população humana atingiu 1,5 bilhão.
Mas apenas cem anos após, em 2000, a populacão já tinha atingido a espantosa cifra de 6
bilhões de habitantes (aumentou quatro vezes nos últimos cem anos, e seis vezes nos últimos
200 anos).
População 1 2 3 4 5 6
(bilhões)
Ano 1802 1928 1961 1974 1987 1999
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população rural, mas em 2007 já era maior que a população rural. Como conseqüência, a
degradação do meio ambiente passou a produzir efeitos diretos e claramente identificáveis
sobre as comunidades: dificuldades para servir água potável à população, poluição dos rios e
lagos pelos esgotos domésticos e industriais, poluição do ar pelos sistemas de transportes
movidos a combustíveis fósseis, pelas indústrias e pelo aquecimento das casas no inverno
usando carvão, necessidade de remover e tratar o lixo produzido pela população.
Mesmo assim, a organização de uma consciência social e política em torno dos problemas
ambientais só começou a manifestar-se, de forma vigorosa, a partir da segunda metade dos
anos sessenta, particularmente nos países desenvolvidos, os primeiros a sofrer severos
problemas de poluição industrial.
"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O
grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e de sua benevolência. Isto é gentil de
sua parte, pois sabemos que ele não precisa da nossa amizade. Vamos pensar em sua
oferta. Se não pensarmos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande
chefe em Washington pode acreditar no que chefe Seatlle diz, com a mesma certeza com que
os nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é
como as estrelas, elas não empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não
somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como podes então comprá-los de nós?
Decidimos apenas sobre coisas de nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para meu povo.
Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras,
cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença de meu
povo.
Sabemos que homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele, um pedaço de
terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo
quanto necessita. A terra não é sua irmã, é sua inimiga, e depois de a esgotar, ele vai
embora. Deixa para trás a cova de seu pai, sem remorsos. Rouba a terra dos seus filhos.
Nada respeita. Esquece o cemitério dos antepassados e o direito dos filhos. Sua ganância
empobrece a terra e deixa atrás só desertos. Tuas cidades são um tormento para os olhos do
homem vermelho. Talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada
compreende.
Se eu decidir a aceitar, imporei uma condição. O homem branco deve tratar os animais como
se fossem irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma.
Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os
abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante
cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos apenas
para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais
desaparecessem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece
aos animais pode também afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto
fere a terra fere também os filhos da terra."
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A frase a seguir é atribuida a um Chefe Sioux, durante a “marcha para o oeste” nos Estados
Unidos (final do século XVIII): "Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for
poluído, quando o último peixe for pescado , aí sim, eles verão que dinheiro não se come...".
Outro exemplo importante do século passado está aqui na cidade do Rio de Janeiro. Foi o
replantio da Floresta da Tijuca por motivos ambientais, ordenado pelo Imperador Pedro II e
executado pelo Major Archer, a partir de 1862. Grande parte da floresta tinha sido derrubada
para o plantio de café, e além da erosão acelerada do solo e do desmoronamento de
encostas, os rios que forneciam água para vários bairros da cidade estavam secando. Quem
visita hoje o Parque da Tijuca, nem imagina o estado em que se encontrava aquela área 150
anos atrás, e nem pensa que aquela floresta é secundária (maior parte reflorestada).
Em 1908, numa Conferência sobre Conservação dos recursos Naturais nos Estados Unidos,
Theodore Roosevelt (que viria ser mais tarde Presidente daquele país) afirmava:
"Enriquecemos pela utilização pródiga dos nossos recursos naturais e podemos, com razão,
nos orgulhar do nosso progresso. Chegou porém o momento de refletirmos sobre o que
acontecerá quando nossas florestas tiverem desaparecido, quando o carvão, o ferro e o
petróleo se esgotarem, e quando o solo estiver mais empobrecido ainda, levado para os rios
(pela erosão), poluindo suas águas, desnudando os campos e dificultando a navegação".
Apesar de alertas tão sábios quanto este, o que estamos discutindo hoje, quase cem anos
após, é praticamente a mesma coisa: desmatamento, erosão dos solos, esgotamento de
recursos naturais, poluição das águas.
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Alguns desastres sérios de poluição das águas também ocorreram nesta época, como em
Minamata, uma cidade situada na Baia de Minamata, no Japão. Em 1956, uma criança de
cinco anos foi hospitalizada apresentando distúrbios neurológicos, com problemas de fala,
locomoção, e dificuldades na ingestão de alimentos. Nos dias seguintes, vários casos similares
surgiram, parecendo ser uma epidemia, assustando a população e as autoridades
governamentais, que pensavam que a doença fosse contagiosa. A pesquisa para caracterizar
e determinar as causas levou mais de dez anos, até confirmar que o problema estava sendo
causado pelos efluentes de uma fabrica de acetaldeído, despejados sem tratamento nas
águas da Baia. Os efluentes continham metil-mercúrio, que apesar das baixas concentrações
nas águas da Baia de Minamata, foi concentrado ao longo da cadeia alimentar, chegando a
atingir 40 ppm (partes por milhão) nos peixes, que eram a dieta básica da população. A
“Doença de Minamata”, causada pela ingestão de peixes com altas concentrações de metil-
mercúrio, afetava o sistema nervoso central, provocando dormência e sensibilidade diminuída
nas extremidades (pés e mãos), dificuldades de coordenar os movimentos dos pés e das
mãos, dificuldade para articular as palavras (até a perda da fala), dificuldade de concentação,
fraquesa e fadiga constantes, perda gradual da visão e audição, e finalmente coma e morte.
Mais de 50 pessoas morreram e cerca de 500 apresentaram desordens neurológicas, e as
indenizações pagas às vítimas da doença ultrapassaram 60 milhões de dólares.
Fatos como este aconteceram porque, desde o início da Revolução Industrial e até pouco
tempo atrás, o meio ambiente era considerado como um bem livre ou quase livre, que
qualquer pessoa tinha o direito de usar conforme sua vontade. Se considerarmos os altos
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custos que a poluição acarreta para a sociedade, como os danos à saúde das populações,
veremos que o meio ambiente não pode ser considerado um bem livre. As inovações
tecnológicas sempre perseguiram a otimização dos processos de produção, não levando em
conta, na maioria das vezes, os efeitos nocivos sobre o ambiente. Os custos ambientais das
atividades econômicas aparecem quando a capacidade de assimilação do meio ambiente é
ultrapassada. Estes custos foram, no início, externalizados, isto é, transferidos para vários
segmentos da sociedade sob a forma de prejuízos por danos à saúde humana, danos
materiais, como a corrosão de estruturas de ferro e de obras de arte e danos aos
ecossistemas, como a redução ou eliminação da pesca em um rio, provocando prejuízos
econômicos a quem não tinha responsabilidade pela poluição do rio.
O agravamento dos índices de poluição nos países desenvolvidos, provocado pelo grande
crescimento da produção industrial após a Segunda Guerra Mundial, e o surgimento de uma
maior conscientização sobre as questões ambientais, exigiu uma ação governamental para
tentar controlar o problema. Esta ação resultou no estabelecimento de padrões
crescentemente mais rigorosos de qualidade ambiental e de emissão de poluentes industriais,
iniciando a internalização dos custos ambientais, pagos em grau cada vez maior pelas
atividades econômicas que os produziam. As pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias
visando a redução da poluição industrial foram inicialmente direcionados para a produção de
caros e sofisticados equipamentos anti-poluição, a serem acoplados aos processos produtivos
existentes (controle no final do processo, ou “end of the pipe”). Desta forma, atacou-se,
principalmente, os efeitos da poluição, e não necessariamente as suas causas. A partir dos
anos 80 as pesquisas foram também dirigidas para a modificação dos processos de produção,
com o desenvolvimento de tecnologias industriais "mais limpas" que reduziam a emissão de
resíduos para o ambiente, diminuindo os custos de controle da poluição.
2. Os Anos 70
No final dos anos 60, os países industrializados estavam começando a perceber o impacto
negativo das suas tecnologias: lagos e rios poluídos, florestas sendo destruídas pela chuva
ácida, poluição do ar nas grandes cidades. A população afetada por estes problemas começou
a se organizar em grupos de protesto, que exigiam o controle da poluição e a conservação e a
proteção da natureza. A atuação das ONGs, o aumento da conscientização sobre os
problemas ambientais e as reclamações da Suécia, que estava sofrendo as conseqüências da
chuva ácida proveniente das emissões da Inglaterra e da Alemanha, contribuíram
decisivamente para que as Nações Unidas decidissem em 1968, durante sua Assembléia
Geral, convocar a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Esta
Conferência foi realizada entre 5 e 16 de junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia.
Um grupo com marcante participação nesta época foi o do Clube de Roma, que foi criado em
1968, na Academia dei Lincei (a Academia de Leonardo da Vinci), em Roma. Cientistas de
vários países o integravam, com a intenção precípua de estudar e propor soluções para os
complexos problemas decorrentes da crescente pressão que a explosão demográfica já
exercia sobre o delicado equilíbrio dos ecossistemas do planeta e sobre os recursos não
renováveis. A atuação do Clube pode ser analisada em duas fases distintas: a fase ecológica
e a social.
A primeira fase foi dominada pela preocupação com o equilíbrio ecológico e com o
esgotamento dos recursos não renováveis do planeta, acompanhando a crescente
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O modelo matemático analisou vários cenários possíveis para o futuro. A Figura 3 acima
mostra o resultado do cenário 1, que usou os valores históricos de 1900 a 1970 e supôs que
não houvesse alterações importantes nas relações físicas, econômicas ou sociais a partir de
1970 (business as usual).
Para evitar esta catástrofe, o Relatório recomendava a imediata adoção de uma política
mundial de contenção do crescimento, visando a atingir um estado de equilíbrio o mais cedo
possível. Embora afirmasse que este estado de equilíbrio global poderia ser planejado de
forma que todas as pessoas tivessem suas necessidades básicas atendidas e oportunidades
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iguais de realizar seu potencial humano, os países subdesenvolvidos entenderam que esta
política, denominada "crescimento zero", se adotada, condenaria a maioria dos países da
Terra a situações de permanente subdesenvolvimento (Figura 4).
Como era de se esperar, esta proposta foi imediatamente contestada e críticas surgiram
quanto à validade das conclusões apresentadas e dos resultados obtidos através das
simulações pelo modelo matemático. Este modelo abrigava algumas simplificações extremas,
como por exemplo, a de se considerar o mundo como homogêneo em relação ao consumo de
energia e de matérias primas. Os países subdesenvolvidos não aceitaram os resultados do
modelo, nem tão pouco a proposta de crescimento zero.
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Apesar disto, a maioria dos países subdesenvolvidos, incluído o Brasil, encarou essa
Conferência das Nações Unidas como uma tentativa de frear o seu desenvolvimento, através
do controle da poluição industrial. Nas reuniões preparatórias e durante a Conferência,
representantes dos países industrializados diziam para os dos países em desenvolvimento:
"Vejam a situação em que nos encontramos, com poluição do ar e das águas em nossos
países e cidades. Não queiram repetir os nossos erros".
A Conferência de Estocolmo foi iniciada no dia 5 de junho de 1972, dia que desde então é
comemorado como o Dial Mundial do Meio Ambiente. Estiveram representados 113 países.
Aceitar a proposta do “crescimento zero” significava condenar os países em desenvolvimento
ao subdesenvolvimento eterno, pois estava implícito que os países não deveriam aumentar os
seus consumos per capita de energia e recursos naturais. Críticas surgiram quanto à validade
das conclusões apresentadas e dos resultados obtidos através das simulações pelo modelo
matemático. Este modelo abrigava algumas simplificações extremas, como por exemplo, a de
se considerar o mundo como homogêneo em relação ao consumo de energia e de matérias
primas, não fazer distinção entre população rural e urbana, e não considerar aspectos
relacionados com a saúde.
A reação dos países em desenvolvimento foi liderada pelo Brasil e pela Índia. A Primeira
Ministra da Índia, Indira Gandhi, único Chefe de Estado presente à Conferência, durante seu
discurso cunhou uma frase que se tornou famosa: "O pior tipo de poluição é a pobreza, a falta
de condições mínimas de alimentação, saneamento e educação".
Como resultado da Conferência de Estocolmo, surgiu o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente - PNUMA, e sua sede mundial instalada em Nairobi, Quênia. O PNUMA foi
criado com o objetivo de catalisar e coordenar as atividades de proteção ambiental dentro do
sistema das Nações Unidas e entre os vários organismos de âmbito regional e internacional,
além de entidades governamentais. Foi criado também um Fundo Voluntário para o Meio
Ambiente gerido pelo PNUMA.
O dia 5 de junho passou a ser celebrado como o Dia Mundial, do Meio Ambiente.
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relação entre necessidade e produção de alimentos, mesmo quando o déficit produzia efeitos
catastróficos. Assim como no modelo anterior, não há distinção entre as populações rural e
urbana, e não foram considerados os aspectos de saúde e de habitação. A poluição, com um
papel central no modelo anterior, aqui, praticamente, não foi considerada. O fator mais
importante neste novo modelo foi a energia, em virtude da crise mundial provocada pelo
aumento dos preços do petróleo.
Participaram da elaboração dos dois primeiros reltórios do Clube de Roma apenas cientistas
das chamadas "ciências exatas": matemáticos, físicos, químicos, biólogos e outros. Para a
elaboração de seu terceiro relatório, o Clube de Roma resolveu convidar também cientistas
das "ciências sociais", como economistas e sociólogos. O Prêmio Nobel de Economia, o
holandês Jan Timbergen, foi chamado para coordenar a equipe, e iniciou um estudo que
incluia o problema dos desequilíbrios entre os países desenvolvidos (quase todos no
hemisfério norte) e os subdesenvolvidos (predominantemente no hemisfério sul). Este
Terceiro Relatório foi apresentado ao Clube de Roma em 1976, na Argélia, com o nome de
Para uma Nova Ordem Internacional6 (Reshaping the International Order). O Relatório
mostrava que a relação média de renda dos países desenvolvidos em relação aos
subdesenvolvidos, naquela época, era de 13/1, considerada inaceitável em virtude dos
problemas que já estava provocando (incluindo a migração clandestina para os países
industrializados), e dos problemas que poderia provocar no futuro próximo, pois a tendência
era essa relação continuar a crescer.
O estudo concluía que, antes de serem atingidos os limites físicos do nosso planeta (pelo
crescimento populacional, esgotamento dos recursos naturais e poluição), ocorreriam grandes
convulsões sociais, econômicas e políticas provocadas por este enorme desnível entre os
países. Para que esta diferença pudesse ser reduzida em cerca de quatro décadas para 13/4
(ou aproximadamente 3/1), que representava então a diferença de nível entre as regiões mais
ricas e pobres da Europa Ocidental, portanto bem mais aceitável, seria necessário:
O conjunto de medidas proposto por Timbergen, no propósito de lograr as metas mínimas que
considerava aceitáveis para uma sociedade mundial mais eqüitativa, configurava uma Nova
Ordem Econômica Mundial e conduzia a taxas diferenciais de crescimento "per capita" que
favoreciam o Terceiro Mundo (vide a acima), apoiadas em:
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A simples análise desta proposta nos leva a entender porque a distância entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos continuou a aumentar. Na realidade algumas destas
medidas foram implantadas, só que exatamente ao contrário:
d. o final dos anos 70 e o início dos anos 80 foram marcados por um grande aumento
nos gastos militares mundiais, que atingiram em 1985 a cifra de US$ 1 trilhão por ano
(quase 10 vezes maior que os gastos militares de 1960). E os países
subdesenvolvidos, os que mais deveriam investir em atividades para construir, e não
em equipamentos para destruir, foram responsáveis por cerca de 25% dos gastos
militares de 1985.
Alguns outros modelos mundiais foram elaborados durante os anos 70, entre eles o Modelo
Latino Americano (ou Modelo Bariloche) e o Relatório Global 2000, preparado pelo Conselho
de Qualidade Ambiental e pelo Departamento de Estado para o ex-presidente Carter, dos
Estados Unidos.
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Foi preparado por um grupo de cientistas latino americanos, entre eles o Prof. Hélio
Jaquaribe, partindo da recusa em aceitar o fato de que o crescimento de seus países,
indispensável para livrá-los da pobreza, estaria limitado pelos recursos naturais disponíveis,
conforme a tese do "Crescimento Zero", proposta pelo relatório "Os Limites do Crescimento",
do Clube de Roma.
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a. “Se as tendências atuais forem mantidas, o mundo do ano 2000 estará mais
densamente povoado, mais poluído, menos estável ecologicamente e mais vulnerável
a rupturas do que o mundo em que vivemos agora. Estão nitidamente visíveis, a nossa
frente, sérias tensões que envolvem população, recursos e meio ambiente. Apesar de
maior produção material, os habitantes do mundo estarão mais pobres, em muitos
sentidos, do que hoje;
BIBLIOGRAFIA
1. Kassas, M., "The Natural Environment”, Seminário "Desafios da Década de 80", Clube
de Roma, Rio de Janeiro, 1980.
2. Carson, R., "Silent, Spring", Houghton Mifflin Co., New York, 1962.
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6. Timbergen, J., "Para uma Nova Ordem Internacional", Livraria Agir Editora, 1978.
7. Barney G., "The Global 2000 Report to the President - Entering the Twenty-First
Century", Volume 1, Government Printing Office, Washington, 1980.
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*Presidente do Instituto Brasil PNUMA (Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente); Professor de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro; Coordenador de Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental da Escola Politécnica da UFRJ;
Presidente do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT; Superintendente do
Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental - ABNT/CB 38; Vice-Presidente do Comitê Técnico 207 da Organização
Internacional de Normalização – ISO; Presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Associação
Comercial do Rio de Janeiro; Membro do Conselho de Responsabilidade Social da FIESP; Secretário de Meio
Ambiente, do Ministério do Meio Ambiente, (94 a 99); Coordenador Brasileiro do Sub-Grupo de Trabalho de
Meio Ambiente do MERCOSUL (94 a 99); Secretário de Desenvolvimento Urbano e Regional do Estado do Rio
de Janeiro (87 a 91); Vice-Diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA (82 a 87);
Diretor Geral do Instituto Nacional de Tecnologia - INT do Ministério da Indústria e Comércio (80 a 82);
Presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA (75 a 79); Engenheiro Chefe de
Coordenação da Cia. de Águas da Guanabara - CEDAG (65 a 75).
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Anexo 1
"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar nossa terra. O grande chefe assegurou-nos
também da sua amizade e benevolência. É uma atitude gentil da parte dele, pois sabemos que não necessita
da nossa amizade. Vamos pensar na oferta. Sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas
e se apossará dela. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma
certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é
como as estrelas: não perdem o brilho.
Mas como é possível comprar ou vender o céu, o calor da terra? É uma idéia estranha. Não somos donos da
pureza do ar e do brilho da água. Como alguém pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre
coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de
areia, cada floco de neblina nas florestas escuras, cada clareira, todos os insetos a zumbir são sagrados nas
tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é o
mesmo que outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra
não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de esgotá-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem
nenhum sentimento. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos
filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os
olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim porque o homem vermelho seria um selvagem que nada
compreende.
Não há paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o som do desabrochar da folhagem
na primavera, o zumbir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das
cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a
voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento
sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com perfume de pinho.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores,
homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é
insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar a venda, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se
fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões
apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros. Sou um selvagem e não
compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles
vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos
os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais
pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Nossos guerreiros vergam sob o peso da vergonha. E
depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos doces e bebidas ardentes.
Não importa muito onde passaremos nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até
mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem
vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi
tão poderoso e cheio de confiança como o nosso povo.
Sabemos de uma coisa que o homem branco talvez venha um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus.
Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir nossa terra. Mas não pode. Ele
é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira do homem vermelho como do branco. A terra é amada por
Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer,
talvez mais depressa que as outras raças. Continua sujando sua própria cama e há de morrer, uma noite,
sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens,
quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam,
onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha
da torre e à caça. É o fim da vida e o começo da sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos que esperanças transmite a
seus filhos nas longas noites de inverno, que visões do futuro oferece para que possam tomar forma os desejos
do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são desconhecidos para nós. E
por serem desconhecidos, temos que escolher nosso próprio caminho. Se concordarmos com a venda é para
garantir as reservas que foram prometidas. Lá talvez possamos viver nossos últimos dias. Depois que o último
homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem sobre as pradarias, a
alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-
nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se vendermos nossa terra, ama-a como nós a amávamos.
Protege-a como nós a protegíamos. Nunca se esqueçam de como era a terra quando tomaram posse dela. E
com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos e ama-a como Deus
ama a todos nós. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem
mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino".
Anexo 2
Anexo 3
Depoimento dos irmãos Orlando e Cláudio Villas BOAS (A Marcha para o Oeste, 1994) ao
descreverem uma troca simbólica entre as aldeias camaiurá e trumaí, da cultura xinguana: