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Apresentação
Ao elaborar este trabalho, nossa intenção maior não foi a de dirigi-lo aos
estudantes, menos ainda aos doutos. Se nele alguma valia acharem, sentir-nos-
emos gratificados.
Movidos pela vontade incansável de aprender, de pesquisar, procuramos ser
concisos tanto nos assuntos abordados quanto na linguagem. Quanto a esta,
esforços fizemos para que leve fosse.
Saídos do velho casarão da Praça XV, emigramos para os corredores do
Fórum. Ali, colocamos em prática o que nem sempre a teoria ensina. Daí, estu-
dar ser preciso sempre.
O advogado não é nem deverá ser um simples receptor mecânico, um classi-
ficador de dados. Por isso, procuramos abordar os temas sob a ótica do dia-a-dia
forense, sem perder de vista a grande importância que se atribui ao patrimônio,
aqui particularmente assegurado sob a égide da garantia real.
Das poucas vezes em que ousamos discordar dos mestres (e que eles nos
perdoem). divergimos fundados na convicção de quem vive o dia-a-dia do
Fórum, apanágio de todos os práticos postulantes.
Bastante ficou ainda por dizer, especialmente no que respeita à alienação
fiduciária em garantia.
Dos institutos abordados neste trabalho, achamos que o da anticrese deveria
ser extinto. Desde o início da vigência do Código (1927) até hoje, pouco se
usou. Não se ajusta à realidade econômica dos nossos dias.
No sentido de aprender, de corrigir erros que devem ser bastantes, estamos
abertos à crítica.
1. Parte geral
1.3 Conceito
"Art. 755. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, a coisa
dada em garantia fica sujeita por vínculo real, ao cumprimento da obrigação."
Refulge do texto legal que o direito do credor assenta-se sobre determinado
bem do devedor. Sabido também que se trata de princípio trivial agasalhado em
muitas legislações. Mas, para que se chegasse a tanto, foi preciso que se obtivesse
a verdade do direito, sem que a propriedade da coisa fosse alijada da posse do
seu dono, do devedor. A garantia pessoal passou a ter valor erga omnes ao
credor, foi assegurado o poder de dispor de coisa por si ou pelo poder de impe-
rium do Estado no caso de inadimplemento, ou a percepção dos frutos até ver
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seu crédito atendido. Em resumo, o direito real de garantia é todo aquele que dá
ao credor o direito de ressarcir o seu crédito, com o resultado da aplicação de
determinado bem a seu exclusivo subjetivismo.
1.4 Características
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1.7 Distinção entre os direitos reais de garantia e os privilégios
Na verdade, o privilégio não é um direito real, eis que não confere poderes
sobre a coisa tal como sucede com os direitos de garantia. O privilégio é uma
resultante de imposição legal e, por essa mesma razão, sobrepõe-se à garantia
real contratada. O exemplo melhor (já mencionado) é o que dispõe o art. 186
do Código Tributário Nacional e a Consolidação das Leis do Trabalho, cada
qual na sua esfera de atuação e competência.
Entendemos, pois, que se o privilégio alcança todo o patrimônio do devedor,
tal alcance importa, ou poderá eventualmente importar, uma diminuição do
crédito assegurado por garantia real livremente contratada. O legislador, ao criar
a preponderância do privilégio sobre a garantia real, deu atenção maior à causa
e à qualidade do crédito.
Em nossa opinião, melhor andaria o legislador se apenas desse tratamento
diferenciado aos créditos trabalhistas. O crédito do Estado deveria concorrer,
em igualdade de condições, como o crédito garantido por direito real, às sobras
do patrimônio do devedor. Doutro modo, queiramos ou não, a garantia esvazia-se.
"Art. 756. Só aquele que pode alienar poderá hipotecar, dar em anticrese ou
empenhar. Só as coisas que se podem alienar poderão ser dadas em penhor,
anticrese, ou hipoteca."
Somente aquele que dispõe de capacidade civil plena e é o titular da pro-
priedade (posse e domínio) pode gravar a coisa.
As pessoas de que tratam os arts. 5.° e 6.° do Código estão afastadas da
prática válida de poder dar em garantia. Entretanto, se lhes for suprida a inca-
pacidade pela forma prevista na lei substantiva e mediante fiscalização judicial,
nada impedirá de constituir direitos reais. Vale dizer, os tutores e curadores
podem gravar os bens dos tutelados ou curatelados desde que haja autorização
do juiz e vantagem para os incapazes. Hoje, a norma contida no art. 429 é
entendida com um certo abrandamento, especialmente no que respeita à troca,
dada a impraticabilidade de efetuá-la por hasta pública. A mulher casada, sem
a anuência marital ou suprimento judicial, não pode, claro está, dar em garan-
tia, não influindo nisto o regime do casamento. O inventariante não pode cons-
tituir direito real de garantia, salvo se a tanto estiver autorizado pelo juiz. Já ao
herdeiro, a lei permite que o faça (hipoteca) sobre o seu quinhão, uma vez
aberta a sucessão, o que será separado na partilha em favor do seu credor. Ao
falido, a partir do decreto falimentar, se privado da administração de seus bens,
a lei nega autorização para dar em garantia.
Daqui se conclui existir uma subordinação a princípios gerais, os quais Or-
lando Gomes nesta ordem resume:
Diante deste elenco, por eliminação, temos que as coisas fora do comercIO
e as que por lei são inalienáveis (art. 69) não podem ser objeto de gravame, a
par dos bens dotais. Não se pode dar, em garantia real, coisa alheia. Se tal
cláusula existir, será tida como não-escrita.
Fácil é de ver que um dos efeitos decorrentes dos chamados princípios gerais
consiste na indivisibilidade.
1.9 Indivisibilidade
"Art. 756. ( ... ) Só as coisas que se podem alienar poderão ser dadas em
penhor, anticrese ou hipoteca (arts. 69, 72, 235, 242, 1.386, 1.723)."
Observa-se ser nula de pleno direito a garantia real lastreada em coisa alheia.
As coisas alienáveis são todas aquelas que estão dentro do comércio.
Deste modo, só estas poderão ser objeto de garantia.
Questão ainda não de todo pacífica é a de saber-se se o condômino pode dar
em garantia a sua quota-parte na coisa comum.
O art. 757, segunda parte, permite claramente que o condômino grave o seu
quinhão. Impõe, todavia, uma condição: a de que a coisa seja divisível.
Duas espécies de indivisibilidade são conhecidas: a material ou física, que
decorre da própria natureza da coisa; e a jurídica, que decorre da lei - por
exemplo, o prédio enfitêutico.
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Perguntamo-nos a qual das indivisibilidades a lei se reporta. Acreditamos
que se refira à segunda espécie, à jurídica, porque o quinhão do condômino
está dentro do comércio.
Assim, dúvidas não deverá ter o oficial do registro de imóveis, uma vez que
a inscrição ou registro fará referência de que o bem dado em garantia acha-se
em condomínio, mencionando as confrontações atinentes ao todo.
Os pressupostos ou requisitos dos contratos nada mais são que uma especiali-
zação dos direitos reais de garantia. Para que haja eficácia erga omnes, devem
tais contratos conter de modo inequívoco: a dívida total ou estimada, prazo
I Bevilacqua, Clóvis. Comentários ao Código Civil. art. 759. Apud. Carvalho Santos
(1975) .
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a coisa, o credor terá imediatamente o seu crédito satisfeito, até o limite do
produto apurado na venda. Deduzem-se apenas as despesas ditas processuais
(custas, despesa de arrecadação etc.). Satisfeitos o crédito e as despesas, se
sobras houver, estas integrarão a massa. Entretanto, se o produto da venda não
cobrir o crédito caucionado por garantia real mais as despesas, o saldo restante
passará a ser crédito quirografário.
Tratando-se de falência, o credor terá seu crédito igualmente assegurado. Des-
necessário será dizer-se que terá que habilitá-lo no juízo universal da falência.
Prestações pagas com atraso podem acarretar a antecipação do vencimento
se tal estiver assim contratado. Daí, o recebimento a posteriori- de qualquer
prestação vencida implicar a renúncia do credor à execução imediata. Ensina
Lafayette não ser possível excutir a dívida quanto à parte não-paga.
No caso do perecimento do objeto constitutivo da garantia, isto é, no caso de
a coisa dada em garantia perder as qualidades essenciais, o credor sub-roga-se
na solvência da indenização se seguro houver. Entretanto, a lei faculta ao deve-
dor a opção: ou antecipa o vencimento da dívida, podendo desde logo ser exe-
cutado, ou oferece suplementação da garantia, o que impedirá o credor do exer-
cício do direito de excussão.
Por fim, havendo desapropriação (o que equivale ao fenecimento da coisa),
o desapropriante tem posição semelhante à do segurador ou daquele que for o
responsável pela indenização. Ora, se a desapropriação, como dissemos, se equi-
para ao fenecimento do objeto da garantia real pelo menos perante o credor,
desaparece justificadamente o benefício do termo. e de bom alvitre que o desa-
propriante atente para esta circunstância, sob pena de pagar duas vezes; ao de-
sapropriante, aplica-se-lhe o mesmo princípio contido no art. 677, qual seja o
de que os ônus reais aderem ao patrimônio do comprador ou sucessor, sem que
seja obrigatória qualquer interpelação. Bem andará o credor, a seu turno, se
prevenir erros, notificando o desapropriante de que devem a ele pagar, eis que
é credor hipotecário.
Allnhamo-nos com aqueles que defendem a idéia de que o procedimento cor-
reto será o desapropriante ou o responsável depositar não apenas o preço e sim
a quantia necessária à satisfação do direito do credor, em juízo. Mesmo porque
inválida será a estipulação que autorizar o credor a pagar-se com a coisa objeto
da garantia, especialmente se se tratar de hipoteca, caso em que a excussão não
pode ser desconsiderada.
Pela hipótese prevista no § 2.° do precitado artigo, tem-se que se a hipoteca
alcançar outros bens, sobreviverá quanto a estes. Reduzir-se-á a dívida, conse-
qüentemente a garantia, sobre os outros bens não atingidos a qualquer título.
"1.0) existência de uma ação exercitável (actio nata); 2.°) inércia do titular
da ação pelo seu não-exercício; 3.0 ) continuidade dessa inércia durante um certo
lapso de tempo; 4.°) ausência de algum fato ou ato a que a lei atribua eficácia
impeditiva, suspensiva ou interruptiva do curso prescricional."
Admite este autor que a prescrição é um castigo à negligência do titular do
direito.
Carpenter entende que a prescrição das ações reais em 10 e 15 anos não é
uma prescrição verdadeira. Câmara Leal insurge-se contra este ponto de vista
ao dizer que "( ... ) para as ações reais, como regra, a prescrição quinzenal entre
ausentes e a decenal, entre presentes, o Código estatuiu um preceito, que deve
ser obedecido, muito embora, em virtude de algum preceito especial, essa regra
deva sofrer exceção, e a prescrição ordinária de algumas ações seja dilatada para
20 anos.
Não havendo, porém, preceito especial, aplicável à espécie, que determine
essa dilatação do prazo comum, a prescrição das ações reais será, não a trinte-
nal, mas a quinzenal ou decenal, nos termos do referido art. 177".
Acreditamo-nos no rumo certo, ao afirmar que o princípio consagrado na se-
gunda parte do art. 177 não é de todo verdadeiro. No Código Civil português,
art. 309, a prescrição ordinária não ocorre antes de 20 anos. Em nosso direito
a mesma regra está contida no art. 550. Fácil admitir, então, que a efetiva pre-
tensão da segunda parte do art. 177 é criar duas espécies de prescrição para
as ações reais: ordinárias e extraordinárias. Esta não aconteceria antes de consu-
mados 20 anos, conforme texto do art. 550; aquela, subdividida em 15 anos
entre ausentes e 10 entre presentes. Aldyr Dias Vianna, ao discordar de Câmara
Leal, endossando o ponto de vista de Carpenter, entende que a prescrição só
acontece após decorridos 20 anos quer entre presentes quanto entre ausentes,
sempre que se trate de coisas imóveis. Tratando-se de ações reais sobre coisas
móveis, o prazo será de cinco anos entre presentes e ausentes. Termina este
autor por dizer: "B o próprio Código que, em seus arts. 550 e 619, corrige o
erro do art. 177."
Concluímos ser mais aceitável a idéia-valor de que a prescrição tem por fim
extinguir o direito do exercício da ação pelo transcurso de certo lapso de tempo.
2. Do penhor
2.2 Características
Reúne todas aquelas comuns aos direitos reais de garantia. O penhor é indivi-
sível, eis que surge para garantir um determinado débito. ~ acessório, em razão
da subordinação da relação real à pessoal. Extinta a obrigação, fenece o penhor.
Porque implica, como já se disse, que haja a tradição, isso faz com que se tome
um contrato sinalagmático. Por esta razão e também porque o penhor tem ca-
racterísticas do contrato, diverso da obrigação da qual é acessório, o credor não
poderá ficar com a coisa pertencente ao devedor. Logo, não há que se falar em
pacto comissório (art. 765).
2.4 Forma
A lei, ao proteger certos credores, permite que estes tomem como garantia
alguns bens pelo valor da dívida, retendo-os, até mesmo alienando-os, para a
satisfação do seu crédito. Claro que deve observar-se a regra contida no art.
756, ou seja, as coisas objeto do penhor terão que estar dentro do comércio,
serem de propriedade do devedor e não pesar sobre elas qualquer gravame legal.
O penhor legal, apesar de não ser mais que uma faculdade assegurada ao
credor, é bem mais abrangente que o direito de retenção e mais eficaz que o
privilégio pessoal.
Cuidado bastante se deve ter para não confundir o penhor legal com o direito
de retenção. Este pressupõe a posse; naquele, a posse é adquirida em razão do
surgimento do direito ao penhor legal.
O conceito do direito de retenção (que geralmente se alicerça no direito de
exigir indenização por despesas havidas em proveito da coisa, também está liga-
do à idéia do cumprimento de uma obrigação, devida pelo dono da coisa, que
se transformou em garantia, coisa esta já em poder do credor) impede a confu-
são. A coisa "não é devida a outrem, precisamente porque está garantindo o
pagamento da dívida em virtude de expressa disposição de lei, só passando a
ser devida, portanto, quando for satisfeito o pagamento" (Carvalho Santos,
1975, p. 142).
Cuidado especial é d~ se ter com o estatuído no art. 777 da nossa lei substan-
tiva. Na falta desse cuidado, ou na sua má observância, está fatalmente a de-
cretação da nulidade do penhor. Adiante, disto teremos outra certeza.
Definido no art. 781 do Código Civil, incide sobre coisas imóveis por acessão.
Tem duração limitada (limitação que não é imposta ao penhor tradicional) a
dois anos, prorrogáveis por outro período igual. Pode ser constituído por escri-
tura pública ou particular, cujo registro é obrigatório (art. 796). No contrato,
é indispensável a consignação do montante da dívida, taxa de juros, prazo de
pagamento, além da individuação dos bens empenhados.
Diferencia-se da hipoteca, eis que nesta a detenção e a posse juridicamente
considerada do imóvel gravado ficam com o devedor, enquanto no penhor agrí-
cola a posse física fica com o devedor mas a posse jurídica transfere-se ao credor
por força da cláusula constituti.
Pela literalidade do art. 784, somos levados a acreditar que esta modalidade
de penhor tem por objeto todo o gado que numa fazenda houver. Não admite
prazo superior a três anos prorrogável por mais três. E também obrigatório que
se registre o instrumento no Registro de Imóveis do lugar de situação, obede-
cidos os requisitos dos arts. 770 e 771.
Uma vez vencida a dívida e não paga, o credor pode requerer a venda judi-
cial, desde que o contrato não cogite de venda amigável. Nula, portanto, será
a cláusula que autorize o credor a apropriar-se do bem, salvo a hipótese de
dação em pagamento. Se o resultado da excussão não satisfizer o direito do
credor, este poderá prosseguir na ação, penhorando outros bens do devedor.
I - extinguindo-se a obrigação;
11 - perecendo a coisa;
111 - renunciando o credor;
IV - dando-se a adjudicação judicial, a remlssao, ou a venda amigável do
penhor, se a permitir expressamente o contrato ou for autorizada pelo devedor
(art. 774, n.O 111), ou pelo credor (art. 785);
V - confundindo-se, na mesma pessoa, as qualidades de credor e dono da
coisa;
VI - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda do penhor,
autorizada pelo credor."
3.2 Definição
3.4 Espécies
3.6 Forma
Sempre que o direito real de garantia incida sobre imóvel cujo valor seja
superior àquele previsto no inciso 11 do art. 134 do Código, com a redação
dada pela Lei n.O 7.104/83, a forma será especial. Por instrumento público, sob
pena de nulidade, art. 145, inciso IH, do Código vigente.
A escritura, a teor do art. 167, inciso I, n.O 11, da Lei n.O 6.015/73 - Lei
dos Registros Públicos - terá que ser levada ao registro imobiliário.
O registro imobiliário deve ser feito na comarca da situação do imóvel. Se
localizado em comarcas limítrofes, o registro terá que ser feito em todas elas.
3.11 Excussão
Pelo art. 585, inciso IH, do Código de Processo Civil, o contrato de anticrese
é título executivo extrajudicial. Todavia, ao credor anticrético não é interes-
sante excutir a dívida posto que não goza de preferência. Se a excussão partir
de outro credor, contra este oporá o seu direito de retenção. Do contrário, tomar-
se-á mero credor quirografário.
Opondo seu direito (que é erga omnes), mantém o jus retentionis contra adqui-
rente, arrematante e adjudicatário. Este seu direito será oposto via embargos
de terceiro.
a) o § 1.° do art. 1.504 dispõe que, se os frutos forem percebidos pelo credor
à conta de juros e se seu valor ultrapassar a taxa máxima, permitida em lei
para as operações financeiras, o remanescente será imputado ao capital;
b) deverá o credor apresentar anualmente balanço de sua administração. Se o
devedor discordar do que se contém no balanço ou entender ruinosa a adminis-
tração, poderá impugná-lo ou requerer a transformação em arrendamento, de-
vendo o juiz fixar o valor mensal do aluguel, facultado o reajustamento anual
(art. 1.505 e § 1.0);
4. Da hipoteca
"Art. 809. A lei da hipoteca é a civil, e civil a sua jurisdição, ainda que
a dívida seja comercial, e comerciantes as partes."
O direito romano não distinguia entre o pignus e a hypotheca, eis que ambos
incidiam tanto sobre coisas móveis quanto imóveis, a um só tempo. Os romanos
não conheciam outros direitos reais que não fossem a propriedade e a servidão.
Assim, a coisa era vendida através da mancipatio ou da in jure cessio, pelo valor
do empréstimo contraído.
Uma outra forma ou modalidade de garantia era o pignus, pelo qual a posse
da coisa passava às mãos do credor. Este tinha seu direito limitado, pois em
lugar de ação real, apenas lhe era reconhecido o direito aos interditos.
A hipoteca foi do conhecimento dos gregos e autores há que afirmam ter
sido a hipoteca conhecida nitidamente em Roma. Para sustentar tal afirmação,
lastreiam-se no depoimento de Ulpiano: "Proprie pignus dicinus quod od cre-
ditorem transit, hypothecam cum non transit nec possessio ad creditorem.'"
Coelho da Rocha 5 elucida-nos que, ao passar a integrar as Ordenações, a
hipoteca perdeu seu sentido de unidade, de sistema. O direito português adotou,
com pequenas mudanças, a hipoteca romana com todos os seus vícios ou
falhas.
No Brasil, substituindo as Ordenações, editou-se a primeira lei em 1843,
para cuidar da matéria. Deste modo, a Lei n.O 317, de 21 de outubro daquele
ano, criou as hipotecas gerais. Alguns anos mais tarde, precisamente em julho
de 1864, surgiu a Lei n.O 1.237, que não só instituiu o registro geral das hipo-
tecas, como disciplinou as inscrições hipotecárias e criou a especialização para
que houvesse a prevalência da hipoteca sobre outros privilégios, observada a
ordem das inscrições.
4.2 Conceito
4.3 Princípios
Seja qual for a espécie, a hipoteca está sujeita aos princípios da especialização
e da publicidade.
O primeiro (exigível em todas as modalidades) consiste em informar qual o
imóvel gravado. Especifica a coisa e o total da dívida que garante. Daí, a não-
existência da hipoteca geral ou da hipoteca ilimitada. Não cabe, pois, cogitar-se
de hipoteca de bens futuros.
O segundo, isto é, a publicidade. é o ato que toma a hipoteca efetivamente
um direito real. A inscrição no Registro de Imóveis estabelece a preferência,
previne surpresas de terceiros, ao mesmo tempo que impede os demais credores
de promoverem a venda judicial do bem gravado antes de vencida a primeira
hipoteca, ressalvada a hipótese de insolvência civil. Resumindo, o princípio da
publicidade consiste essencialmente no registro da hipoteca no Registro de
Imóveis.
4.4 Indivisibilidade
A hipoteca é indivisível porque a lei assim o quer. Desde que não totalmente
liquidada, subsiste por inteiro, sobre o bem ou bens gravados, ainda que tenha
havido pagamento parcial.
A lei, ao dizer da indivisibilidade, visou assegurar mais o direito do credor.
Assim é que se o credor vier a falecer, seu crédito transmite-se aos herdeiros.
Carvalho Santos lembra que a indivisibilidade da hipoteca "acarreta como
conseqüência não poder ser ela nula em parte e noutra parte válida. A obriga-
ção garantida é que pode ser nula em parte e válida em parte, mas, se tal
acontecer, a hipoteca continua válida na sua totalidade, porque ela recai, dada
a sua indivisibilidade, sobre o todo e cada uma de suas partes, para garantir a
totalidade e cada fração do crédito.
Somente no caso de nulidade completa do crédito a hipoteca será extinta, mas
ainda assim, não por nulidade, mas por falta de objetivo, por ser um direito
acessório, uma vez que não se concebe uma garantia sem a obrigação a ser
garantida" (Carvalho Santos, 1975, p. 275).
Já foi dito que se trata de direito real e, como tal, vincula o bem gravado. t
um direito de garantia (provido de seqüela), acessório, que existe em função
do principal. Extinto este, desaparece aquele. Surge após o registro.
No dizer de Lafayette, é um direito real criado para assegurar eficácia a um
direito de ordem pessoal.
Já foi dito que o contrato de hipoteca está incluído na categoria dos contratos
solenes. Como tal, há de ser feito por escritura pública, escritura esta que
passa a ser o título constitutivo.
O título compreende a vontade do devedor (expressa a outorga uxória ou
marital), a aceitação do credor, a coisa dada em garantia perfeitamente indivi·
duada, valor da dívida, o prazo ajustado e a presença das testemunhas instru-
mentais.
Bem de ver que deverão estar preenchidos os requisitos atinentes - o intrín-
seco e o extrínseco. Este, formal, caracteriza-se pelo contrato em si, tornado do
"Art. 812. O dono do imóvel hipotecado pode constituir sobre ele, mediante
novo título, outra hipoteca, em favor do mesmo ou de outro credor."
4.14 Perempção
A obrigação principal desaparece por várias razões. A mais forte delas é, sem
dúvida, o pagamento integral em dinheiro. (A respeito de pagamento, ver o art.
930 e segs. do Código.)
Além das causas apontadas pela lei, extingue a hipoteca a dação em paga-
mento.
Apreciemos, agora, as causas de extinção enumeradas pelo Código.
4.16.4 Remição
6. Conclusões
Referências bibliográficas
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1984. v. 1 e 2.
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Carvalho Santos, J. M. de. Código Civil brasileiro interpretado. Freitas Bastos, 1975. v. 10.
De Plácido e Silva. Vocabulário jurídico. Forense, 1973.
Gomes, Orlando. Alienação fiduciária em garantia. Revista dos Tribunais, 1975.
--o Direitos reais. Forense, 1976.
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1981. v. 4 e 5.
Macedo, Gastão A. Curso de direito comercial. Freitas Bastos, 1973.
Monteiro, Washington de Barros. Direito das coisas. Saraiva, 1974. v. 3.
Moreira Alves, José Carlos. Da alienação fiduciária em garantia. Saraiva, 1973.
Nogueira. Paulo Lúcio. Questões cíveis controvertidas. Sugestões Literárias, 1975.
Pereira, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. Forense, 1974. v. 4.
Pontes de Miranda. Tratado de direito privado. Rev. Tribunais, 1983. t. 20.
Restiffe Neto, Paulo. Garantia fiduciária. Rev. dos Tribunais, 1975.
Rodrigues Silva. Direito civil. Saraiva, 1972. v. 5.
Ruggiero, Roberto de. Instituições de direito civil. Saraiva, 1972. v. 2.
Vianna, Aldyr Dias. Da prescrição no direito civil brasileiro. Forense, 1983.
Legislação
Código Civil brasileiro.
Código Civil português.
Lei n." 6.015/73.