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Processual do Trabalho
Manual de Direito
Processual do Trabalho
15a Edição
De acordo com o novo CPC,
Reforma Trabalhista – Lei N. 13.467/2017
e a IN. N. 41/2018 do TST
EDITORA LTDA.
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Fevereiro, 2019
Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: Peter Fritz Strotbek – The Best Page
Projeto de Capa: Fabio Giglio
Impressão: Mark Press
18-22572 CDU-347.9:331
Índice para catálogo sistemático:
1. Direito processual do trabalho 347.9:331
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
Sumário
Nota à Décima Quinta Edição............................................................................................. 31
Apresentação....................................................................................................................... 33
10 Mauro Schiavi
12 Mauro Schiavi
14 Mauro Schiavi
16 Mauro Schiavi
18 Mauro Schiavi
20 Mauro Schiavi
22 Mauro Schiavi
24 Mauro Schiavi
26 Mauro Schiavi
28 Mauro Schiavi
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1. Do conflito trabalhista
Não há consenso na doutrina sobre o que seja conflito(1), mas este é inerente
à condição humana, principalmente em razão da escassez de bens existentes na
sociedade e das inúmeras necessidades do ser humano.
Márcio Pugliese(2) apresenta os seguintes fatores para um modelo conflitivo
da sociedade:
“a) A vida social, num determinado modo produtivo, é resultado da
interação permanente de utilidades (interesses) diversas que constituem
o elemento motivador fundamental para a conduta social do homem; b) O
conflito de interesses é a busca de utilidade, domina a vida social e, em
consequência, propicia a produção de normas, regulamentos, sistemas de
repressão e lide de todo tipo; c) O consenso, também chamado equilíbrio
social, é um estado precário, sendo mais um construto teórico-prático
que efetivo consenso normativo generalizado; d) O consenso, no sentido
de c), existe como expressão ideológica das resultantes das forças de domi-
nação e coerção ou de exploração de uma sociedade e é, por consequência,
precário e mutável; e) O conflito social favorece a divisão da sociedade em
grupos de pressão, instituições (particularmente partidárias) que disputam o
poder que, de fato, permanece com as elites dominantes; f)A ordem social
(estado de equilíbrio do sistema) depende da natureza desse conflito,
ou melhor, de sua estrutura; g) O conflito entre os contendores produz
a mudança social, elemento permanente em qualquer sociedade a fim
de manter o estado geral de coisas orbitando em torno de um ponto de
equilíbrio (um ponto de acumulação, em sentido topológico); h) Quando
o desequilíbrio excede a capacidade de o sistema obter retorno a esse
ponto de acumulação, transformações serão necessárias; i) Inicialmente,
o sistema tenderá a diversificar seu funcionamento a fim de superar o
(1) Segundo Antonio Houaiss, o conflito é “profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes, choque,
enfrentamento” (Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 797).
(2) PUGLIESE, Márcio. Por uma teoria geral do direito. Aspectos microssistêmicos. São Paulo: RCS, 2005. p. 203.
(3) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 314.
(4) Conforme Wilson de Souza Campos Batalha: “Os grupos são entidades sociais que, no direito atual,
assumem categorização jurídica expressiva e são dotadas de realidade processual. Alguns são inorga-
nizados, aflorações espontâneas da coletividade, como grupos de pressão e comissão de fábrica. Outros
são organizados como entidades civis ou como entidades sindicais. As associações civis são livremente
organizadas e se registram no Registro de Títulos e Documentos, nos termos da Lei de Registros Públicos
(Lei n. 6.015/73)” (Instrumentos coletivos de atuação sindical. Revista Legislação do Trabalho. São Paulo:
LTr, ano 60, v. 2, 1996. p. 184).
(5) A greve sem a justiça do trabalho. Revista Legislação do Trabalho. São Paulo: LTr, ano 61, v. 02, 1997. p. 197.
(6) FERNANDES, Antonio Monteiro. Direito do trabalho. 13. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 835.
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(7) MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho. Direito coletivo. V. IV. 4. ed. São Paulo: LTr, 1994.
p. 162.
(8) CARNELUTTI, Francesco. Instituições do processo civil. V. I. Campinas: Servanda, 1999. p. 77.
(9) Como destaca Patrícia Miranda Pizzol: “[...] podemos concluir que lide é o conflito de interesses qualificado
por uma pretensão resistida, submetido à apreciação do Judiciário. É importante, assim, diferenciar lide de
conflito de interesses — o conflito se manifesta no plano sociológico, enquanto a lide no plano processual;
logo, pode não haver uma correspondência entre conflito e lide, se o autor deduzir em juízo apenas uma
parte do conflito de interesses” (Competência no processo civil. São Paulo: RT, 2003. p. 27).
(10) Como destaca Amauri Mascaro Nascimento: “Se uma reivindicação do trabalhador é resistida pelo empregador
contra o qual é dirigida, surge um conflito de trabalho” (Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1998. p. 314).
(11) SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1985. p. 4.
(12) Teoria geral do processo. 21. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 22.
a) autotutela
A autotutela ou autodefesa é o meio mais primitivo de resolução dos conflitos
em que uma das partes, com utilização da força, impõe sua vontade sobre a parte
mais fraca. Nesta modalidade, há uma ausência do Estado na solução do conflito,
sendo uma espécie de vingança privada.
Ensina Amauri Mascaro Nascimento(13):
“A autodefesa pode ser autorizada pelo legislador, tolerada ou proibida
[...] A solução que provém de uma das partes interessadas é unilateral
e imposta. Portanto, evoca a violência, e a sua generalização importa na
quebra da ordem e na vitória do mais forte e não do titular do direito.
Assim, os ordenamentos jurídicos a proíbem, autorizando-a apenas excep-
cionalmente, porque nem sempre a autoridade pode acudir em tempo a
solução dos conflitos.”
Como destacam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamaro(14), “são fundamentalmente dois os traços característicos
da autotutela: a) ausência de juiz distinto das partes; b) imposição da decisão por
uma das partes à outra.”
Hoje, nas legislações, ainda há resquícios da autotutela em alguns Códigos,
como a legítima defesa da posse no Código Civil, ou o estado de necessidade e
legítima defesa na esfera penal.
Na esfera do conflito coletivo de trabalho, temos como exemplo de autotutela
a greve e o locaute, sendo este vedado no ordenamento jurídico brasileiro pelo
art. 17 da Lei n. 7.783/89. Na esfera individual, temos o direito de resistência do
empregado às alterações contratuais lesivas (arts. 468 e 483 da CLT) e o poder
disciplinar do empregador.
b) autocomposição
A autocomposição é modalidade de solução dos conflitos coletivos de trabalho
pelas próprias partes interessadas sem a intervenção de um terceiro que irá ajudá-las
(13) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 06.
(14) Teoria geral do processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 23.
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c) heterocomposição
A heterocomposição exterioriza-se pelo ingresso de um agente externo e desin-
teressado ao litígio que irá solucioná-lo e sua decisão será imposta às partes de forma
coercitiva. Como exemplo, temos a decisão judicial (dissídios individuais e coletivos)
e a arbitragem.
A heterocomposição, sob a modalidade da decisão judicial (Poder Judiciário),
tem sido o meio, por excelência, de solução do conflito trabalhista, pois o Brasil,
de cultura romano-germânica, não tem tradição de resolução dos conflitos pela via
da negociação nem da arbitragem.
Mais adiante, faremos estudo detalhado da jurisdição e da arbitragem.
d) mediação e conciliação
Mediação é forma de solução dos conflitos por meio da qual o mediador se
insere entre as partes, procurando aproximá-las para que elas próprias cheguem a
uma solução consensual do conflito.
Na visão de Pedro Romano Martinez(19), “a mediação constitui uma forma de
solucionar conflitos colectivos que se pode dizer está a meio caminho entre a conci-
liação e a arbitragem; é algo mais do que a conciliação e menos que a arbitragem.
(20) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 331-332.
(21) Op. cit., p. 1.354.
(22) DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 1.447.
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