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São Paulo
2017
FILIPE GONÇALVES BORGES
São Paulo
2017
Borges, Filipe Gonçalves
A Constituição de Pessoa Jurídica no Agronegócio - Filipe Gonçalves
Borges; orientadora: Ana Cristina Von Gusseck Kleindienst Bussato –
São Paulo, 2017.
Banca Examinadora
_____________________________
Ana Cristina Von Gusseck Kleindienst Bussato
Professora Orientadora
Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
_____________________________
Nome Completo
Titulação
Instituição
_____________________________
Nome Completo
Titulação
Instituição
Para Juliana e Heloísa.
Agradeço ao apoio da minha família e ao Dr. Régis
pelos valiosos ensinamentos jurídicos.
“O agronegócio é uma empresa a céu aberto”
(Ricardo Merola, pecuarista.)
RESUMO
The Constitution of Legal Entity in Agribusiness seeks to clarify the legal elements involved on
the creation of a legal entity for the development of business activities related to agribusiness.
The issue is widely discussed by farmers individuals, in view of their relevance to the allocation
of risks involving rural activity. The methodology used was literature in the corporate law and
agribusiness.
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................14
1. O AGRONEGÓCIO NO BRASIL.....................................................................................15
1.1. OS SISTEMAS DO AGRONEGÓCIO..............................................................................20
1.2. DIREITO DO AGRONEGÓCIO.......................................................................................22
2. ATIVIDADE EMPRESÁRIA..................................................................................................25
2.1. O AGRONEGÓCIO E A ATIVIDADE EMPRESÁRIA ..................................................32
2.2. OBRIGAÇÕES GERAIS DO EMPRESÁRIO..................................................................33
2.2.1. REGISTRO DE EMPRESÁRIO...................................................................................34
2.2.2. ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL E O BALANÇO PATRIMONIAL................................38
2.3. O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL DO AGRONEGÓCIO.................................................40
2.4. A SOCIEDADE EMPRESÁRIA.......................................................................................43
2.4.1. OS RISCOS DO NEGÓCIO...............................................................................................44
2.4.2. OS CUSTOS DO NEGÓCIO.............................................................................................47
2.4.3. AUTONOMIA PATRIMONIAL DO NEGÓCIO.............................................................50
2.4.4. LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE NO NEGÓCIO.............................................52
4. CONCLUSÃO..........................................................................................................................93
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................95
14
INTRODUÇÃO
Portanto, este estudo tem como ponto central a identificação dos principais
aspectos do direito empresarial, especialmente do direito societário, e dos contornos da decisão
que leva o produtor rural empresário a constituir (ou não) uma pessoa jurídica para o exercício
das suas atividades. E mais: se, ainda, há fatores impeditivos para que essa pessoa física,
isoladamente ou com outros sócios, constitua a pessoa jurídica.
A discussão sobre a constituição ou não de uma pessoa jurídica pelo produtor rural
empresário é fundamental, já que ela esta presente em grande parte dos foros de debate do direito
do agronegócio. Ademais, as respostas aos questionamentos sobre o tema não são binárias:
requerem a análise de diversos fatores existentes na atividade desenvolvida, bem como nas
particularidades de cada cultura ou criação.
1. O AGRONEGÓCIO NO BRASIL
1
Segundo HARARI: “O Homo sapiens (...) a todo lugar que ia, continuava a viver coletando plantas silvestres e
caçando animais selvagens. Por que fazer outra coisa se seu estilo de vida fornece alimento abundante e sustenta um
mundo repleto de estruturas sociais, crenças religiosas e dinâmica política? Tudo isso mudou há cerca de 10 mil
anos, quando os sapiens começaram a dedicar quase todo o seu tempo e esforço a manipular a vida de algumas
espécies de plantas e animais. Do amanhecer ao entardecer, os humanos espalhavam semente, aguavam plantas,
arracavam ervas daninhas do solo e conduziam ovelhas a pastos escolhidos. Esse trabalho, pensavam, forneceria
mais frutas, grãos e carne. Foi uma revolução na maneira como os humanos viviam – a Revolução Agrícola.” In
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. 16ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p. 87.
2
MIRANDA, Evaristo de. Alimentar o Mundo. O Estado de São Paulo. 26/09/2016.
16
(...) a missão do Brasil já pode ser: saciar a fome do planeta. (...) Em 2015 o Brasil
produziu 207 milhões de toneladas de grãos para uma população de 206 milhões de
habitantes. Ou seja, uma tonelada de grãos por habitante. Só a produção de grãos do
Brasil é suficiente para alimentar quatro vezes sua população, ou mais de 850
milhões de pessoas. (...) Em 50 anos, de importador de alimentos, o Brasil tornou-se
uma potência agrícola. Nesse período, o preço dos alimentos caiu pela metade e
permitiu à maioria da população o acesso a uma alimentação saudável e
diversificada e a erradicação da fome. Esse é o maior ganho social da modernização
agrícola e beneficiou, sobretudo, a população urbana. O Brasil saiu do mapa dos
países com insegurança alimentar.
3
MORAIS, Fernando. Chatô o Rei do Brasil. São Paulo: Shwarcz, 2009. p. 177.
4
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos – O breve século XX 1914-1991. 2ª ed., São Paulo: Shwarcz, 2002. pp.
255-256.
17
Durante as décadas douradas não houve fome endêmica, a não ser produto de
guerras e loucura política, como na China (...). Na verdade, à medida que a
população se multiplicava, a expectativa de via aumentava em média sete anos – e
até dezessete anos, se compararmos o fim da década de 1930 com o fim da década
de 1960 (Morawetz, 1977, p. 48). Isso significa que a produção em massa de
alimentos cresceu mais rápido que a população, tanto nas áreas desenvolvidas
quanto em toda grande área do mundo não industrial. (...) Apesar disso, a produção
total de alimentos no mundo.
As alterações nos métodos de plantio e nos demais elos da cadeia agrícola criaram
a chamada Revolução Verde, que trouxe novos conhecimentos científicos no trato das culturas,
com grande mecanização das lavouras e da indústria voltada ao agronegócio.
Ao longo dos últimos anos, o setor do agronegócio no Brasil tem obtido cada vez
mais relevância econômica, representando, em 2015, 21,5% (vinte um e meio por cento) do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, se se considerado “dentro da porteira” 6, onde segundo
FURTADO7, “estão as atividades agropecuárias propriamente ditas. Depois da porteira vem a
distribuição, a indústria, o consumo.”
5
Proálcool foi um programa instituído pelo Governo Federal, em 1975, para substituir a utilização de combustíveis
fósseis (derivados do petróleo) pelo álcool etílico.
6
PIB do Agronegócio – Dados de 1995 a 2015, 2016. Disponível em: http://cepea.esalq.usp.br/pib/; acessado em:
03/11/2016.
7
FURTADO, Rogério. Agribusiness Brasileiro: A História. São Paulo: Evoluir, 2002. p. 206.
18
8
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2016. Disponível em
http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm; acessado em: 03/11/2016.
9
BURANELLO, Renato. Contratos do Agronegócio. In Tratado de Direito Comercial. Vol. 8. (autor). São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 295.
19
A esse respeito, vale lembrar que o Brasil tem uma característica peculiar no
financiamento das operações do agronegócio. Aqui não somente as instituições financeiras (o
mercado financeiro) figuram como fontes de financiamento, tal como ocorre em outras
localidades. No Brasil também figuram como agentes financiadores do agronegócio: (i) a rede
geradora dos insumos, tais como as agroindústrias de fertilizantes, defensivos e sementes,
diretamente ou por meio de seus agentes, distribuidores ou representantes comerciais; (ii) as
cooperativas, de produtores ou de crédito; (iii) as comercial exportadoras; e (iv) as grandes
empresas do agronegócio, as agroindústrias.
Ocorre que, com o passar dos anos e do progresso tecnológico por que passou a
atividade rural, em especial na última metade de século passado, tais termos cederam espaço ao
agronegócio.
10
ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de Agronegócios. 4ª edição. São Paulo: Atlas, 2013. pp.15-16.
11
COELHO, Fábio Ulhoa. Prefácio. In MEDEIROS NETO, Elias Marques de. (coord.). Aspectos Polêmicos do
Agronegócio. Uma Visão Através do Contencioso. São Paulo: Castro Lopes, 2013. p. 10.
21
Os SAGs ou CAIs são também permeados de riscos, muito mais que em outros
setores da economia, já que a atividade do agronegócio, além dos riscos comumente inerentes ao
desenvolvimento das atividades empresariais de maneira geral, ainda envolve o risco do ciclo
agrobiológico das culturas ou das criações. O tratamento dado a tais particularidades também é
bastante complexo e a melhor alocação de tais riscos, reduzindo o grau de exposição às perdas do
empresário, é um tema tratado a seguir.
12
Segundo MENDES e PADILHA JUNIOR, o agronegócio é caracterizado pela “ (...) soma total das
operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícola, do
armazenamento, do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas e itens produzido com base neles. Estão
nesse conjunto, consequentemente, todos os serviços financeiros, de transporte, classificação, marketing, seguros,
bolsas de mercadorias, entre outros. Todas essas operações são elos de cadeias que se tornam cada vez mais
complexos á medida que a agricultura se modernizou e o produto agrícola passou a agregar mais e mais serviços que
estão fora da fazenda.” In MENDES, Judas Tadeu Grassi. PADILHA JUNIOR, João Batista. Agronegócio – Uma
Abordagem Econômica. São Paulo: Pearson Education, 2007. p. 48.
13
BURANELLO, Renato. Manual do Direito do Agronegócio. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. p. 33.
22
Por tudo isso, nos dias atuais, não se pode pensar em agronegócio como sendo
somente aquela atividade de subsistência desenvolvida pelo pequeno produtor rural e sua família.
O agronegócio atual envolve uma infinidade de agentes, pessoas físicas e jurídicas produtoras
rurais, cooperativas, tradings, empresas de transporte e logística, indústrias de processamento de
alimentos, máquinas e equipamentos, seguros, monitoramento, e outras. Todas elas ligadas por
um emaranhado de contratos empresariais, ou até mesmo previstos no Direito Agrário
(arrendamento e parceria rural) que acabam por ser objeto de estudo do Direito do Agronegócio.
(...) forma um todo organizado, onde princípios informam a aplicação das regras, e
essas, assim como aqueles, relacionam-se entre si, devendo ser interpretados todos
em conjunto. Essas normas regulam a organização das pessoas e dos bens
envolvidos na consecução da atividade agrária, entendida, segundo a melhor
14
BURANELLO, Renato. Autonomia Didática do Direito do Agronegócio. In Direito do Agronegócio. (coord.)
São Paulo: Quartier Latin, 2011. pp. 29-31.
23
15
COELHO, Fábio Ulhoa. Prefácio. In MEDEIROS NETO, Elias Marques de. (coord.). Aspectos Polêmicos do
Agronegócio. Uma Visão Através do Contencioso. São Paulo: Castro Lopes, 2013. p. 9.
16
Segundo BURANELLO, “(...) utilizaremos a expressão Direito do Agronegócio para caracterizar o conjunto de
normas jurídicas que disciplina as relações intersubjetivas decorrentes da produção, armazenamento, comercialização
24
Nas relações havidas entre os seus agentes, verifica-se que as partes estão sempre
buscando incorrer em menos dispêndios e auferir mais recursos, ou seja, obter o lucro. Sob esta
visão, portanto, o Direito do Agronegócio busca entender e tratar o risco das atividades
desenvolvidas empresarialmente, bem como a lucratividade das relações havidas entre os seus
partícipes, alocando-as de uns para os outros, de acordo com a característica de cada fase da
atividade do negócio.
E, diante deste cenário, que visa identificar, quantificar e mitigar riscos, além de
defender, buscar e maximizar as margens de lucro, é que atuam os envolvidos com o
agronegócio, especialmente os profissionais do direito, tratando de tais negócios jurídicos em
contratos de natureza totalmente empresarial17.
2. A ATIVIDADE EMPRESÁRIA
A atividade comercial se iniciou há muito tempo, tendo seu início com as trocas,
ou escambo. Esses eventos ocorriam de maneira ocasional e com poucos agentes. Portanto, não
se pode afirmar que havia uma economia verdadeira baseada puramente em trocas. Nesse sentido,
segundo HARARI18:
negócio, imprimindo-lhe dinâmica diversa e peculiar” (destaques da autora). In FORGIONI, Paula A. Contratos
Empresariais – Teoria Geral e Aplicação. 2 ed. São Paulo: 2016. p. 38.
18
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. 16ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p.
183.
26
permitir que seus agentes acumulassem riquezas. “Para sistemas comerciais complexos
funcionarem, algum tipo de dinheiro é indispensável.” 19
Conforme MARTINS20:
19
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. 16ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p.
186.
20
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 1.
21
A respeito desse tema, REQUIÃO aponta que “O direito comercial surgiu, fragmentariamente, na Idade Média,
pela imposição do desenvolvimento do tráfico mercantil. É compreensível que nas civilizações antigas, entre as
regras rudimentares do direito imperante, surgissem algumas para regular certas atividades econômicas. Os
historiadores encontraram normas dessa natureza no Código de Manu, na Índia; as pesquisas arqueológicas, que
27
Essa teoria surgiu na Itália com a entrada em vigor, em 1942, do Codice Civile,
que passou a disciplinar a matéria civil e a matéria comercial. A partir desta alteração no
ordenamento jurídico italiano, a atividade econômica ganha uma visão de direito privado e acaba
sendo mais adequada às atividades empresariais desenvolvidas à época.
revelaram a Babilônia aos nossos olhos, acresceram à coleção do Museu do Louvre a pedra em que foi esculpido há
cerca de dois mil anos a. C. o Código do Rei Hammurabi, tido como a primeira codificação de leis comerciais. São
conhecidas diversas regras jurídicas, regulando instituições de direito comercial marítimo, que os romanos acolheram
dos fenícios, denominadas Lex Rhodia de Iactu (alijamento), ou institutos como o foenus mauticum (câmbio
marítimo). Mas essas normas ou regras de natureza legal não chegaram a formar um corpo sistematizado, a que se
pudesse denominar ‘direito comercial’. In REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2014. p. 32.
22
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª edição. Vol. 1. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 35.
23
Conforme ensina MARTINS, “Inicialmente, um só indivíduo podia realizar os atos necessários para a circulação
das mercadorias, servindo de intermediário entre o produtor e o consumidor. Desenvolvendo-se o tráfico de
mercadorias, tornou-se indispensável a existência de mais de uma pessoa para a realização das atividades
intermediárias, nascendo daí as sociedades empresárias em que, segundo a concepção primitiva dos Códigos, várias
pessoas “negociavam em comum” (Código Comercial, art. 315); só mais tarde foi reconhecida a personalidade
jurídica das sociedades, mas, ainda hoje, em alguns países (Alemanha, Inglaterra) não possuem personalidade
jurídica, sendo os seus sócios considerados comerciantes que se agregam apenas para reunir maiores capitais, repartir
encargos e usufruir lucros, mas cada um se caracterizando como um comerciante, ou seja, respondendo com seu
patrimônio pelas obrigações assumidas.” In MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª edição. Rio de
Janeiro: Forense, 2017. p. 9.
28
Segundo COELHO24:
24
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. pp. 37-38.
25
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 34.
29
(...) com o advento do Código Civil de 2002 (“CC/02”), (é) que passamos a ter um
novo regramento sobre o direito empresarial brasileiro, trazendo para o centro das
discussões a própria atividade empresarial, organizada, profissional, voltada ao
mercado e ao lucro. É ela que precisa ser protegida em razão dos interesses que
congrega.
26
WAISBERG, Ivo. A Viabilidade da Recuperação Judicial do Produtor Rural. In Direito das Empresas em
Crise. Revista do Advogado. Ed. 131. São Paulo: AASP, 2016. pp. 84-85.
27
CAMARGO, André Antunes Soares de. Direito Societário. In Direito Empresarial Brasileiro. Avanços e
Retrocessos. (coord.). São Paulo. Almedina, 2014. p. 41.
30
28
Segundo COELHO, “O Código Civil define empresário como o profissional exercente de atividade econômica
organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços (art. 966), sujeitando-o às disposições de lei
referentes à matéria mercantil (art. 2.037). Exclui do conceito de empresário o exercente de atividade intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, mesmo que conte com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se
constituir o exercício da profissão elemento de empresa (art. 966, parágrafo único). Esse dispositivo alcança, grosso
modo, o chamado profissional liberal (advogado, dentista, médico, engenheiro etc.), que apenas se submete ao
regime geral da atividade econômica se inserir a sua atividade específica numa organização empresarial (na
linguagem normativa, se for “elemento de empresa”). Caso contrário, mesmo que empregue terceiros, permanecerá
sujeito somente ao regime próprio de sua categoria profissional. Em situação diversa, encontram-se os empresários
rurais, que são dispensados de inscrição no registro de empresa e dos demais deveres impostos aos inscritos (art.
970). Não são, por evidente, excluídos do conceito de empresário, tal como os profissionais liberais, mas podem, por
ato unilateral de vontade (inscrição no registro de empresa), ingressar ou não no regime geral de disciplina da
atividade econômica.” In COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª
edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 43.
29
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 104.
30
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 113.
31
31
Para COELHO, a diferenciação de tais atividades gera diferentes consequências: “No direito positivo vigente,
hoje, no Brasil, são duas as importantes consequências da configuração de certa atividade econômica como sujeita ao
direito comercial: de um lado, a execução judicial concursal do patrimônio do empresário por meio de procedimento
próprio, isto é, a falência, e, de outro, a possibilidade de requerer a recuperação judicial da empresa ou a
homologação da recuperação extrajudicial. Nenhuma outra distinção de relevo, quanto ao regramento de suas
relações com os demais particulares, separa hoje os empresários e os exercentes das atividades civis (profissionais
intelectuais, cooperativas e empresários rurais não inscritos no registro das empresas). Claro que há, pontualmente,
algumas outras diferenças de tratamento, a exemplo das chamadas obrigações comuns aos empresários (escrituração,
levantamento de balanços), ou a da prova do vínculo contratual e do efetivo cumprimento das obrigações como
requisito para o protesto por indicações de duplicata de prestação de serviços, condição inexistente para a duplica
mercantil. Mas, de qualquer forma, em termos gerais, ao contrário do que se verificava no passado, sob a égide da
teoria dos atos do comércio, é cada vez mais dispensável discernir a natureza civil ou empresária do exercente de
atividade econômica, para aplicar o direito em vigor no Brasil.” In, COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 44-45.
32
E é por isso que não se aceita mais como razão determinante da autonomia
científica do direito comercial a distinção entre a matéria civil e a comercial, através
do critério do lucro. Isto porque o caráter especulativo não é exclusivo das
operações mercantis, existindo em todas as atividades econômicas. Em
consequência, não se pode concluir que o lucro seja critério distintivo entre as
atividades civis e mercantis.
A resposta, com se verá adiante, não é tão simples. Para alcançá-la, é necessário
analisar uma série de fatores que envolvem os casos específicos para a tomada de decisão. E este
é o propósito do presente estudo: analisar grande parte das variáveis que envolvem a decisão
acima, em especial as voltadas ao direito societário.
32
BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 16ª edição. São Paulo: Atlas, 2001. p. 57.
33
Com efeito, o tema em questão, no mais das vezes, se inicia com questões do
ponto de vista fiscal. No entanto, precipuamente, pelo menos no campo do direito, a questão da
“pejotização”33 deve ser analisada, primordialmente, sob o ponto de vista societário.
33
O termo “pejotização” significa transferir a atividade econômica da pessoa física para a pessoa jurídica e é muito
utilizado no jargão comum do setor agrícola.
34
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 147.
34
organização proveniente do acordo de duas ou mais pessoas, que pactuam a reunião de capitais e
trabalho para um fim lucrativo”.
35
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 153-157.
35
Vale lembrar que este registro é recomendável que ocorra antes que o empresário
inicie suas atividades. Isso porque é com este registro que tanto o empresário individual, como a
sociedade empresária, passam a existir junto aos órgãos de registro empresarial e, posteriormente,
fiscal36.
As Juntas Comerciais, que são órgãos estaduais, relativas a cada um dos Estados
da União têm funções essencialmente executivas. Sua competência administrativa destina-se a
praticar, basicamente, os atos de: matrícula, arquivamento e autenticação.
36
Nas palavras de ROVAI, “Como estabelece a lei, o registro público de empresas mercantis é executado em todo
Brasil por meio das Juntas Comerciais. Cada Estado da Federação possuía sua junta, cuja finalidade é de dar
garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas (individuais e coletivas),
cadastrando e atualizando suas informações.” In, ROVAI, Armando Luiz. Registro Público das Empresas. In
Tratado de Direito Comercial. Vol. 1. (autor). São Paulo: Saraiva, 2015. p. 237.
Segundo REQUIÃO, “O Registro Público de Empresas Mercantis é exercido em todo o território nacional, de forma
sistêmica, por órgãos federais e estaduais, com a finalidade de: dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro; cadastrar as empresas nacionais e
estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; proceder às matrículas dos
agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. O Registro Público das Empresas Mercantis serão
exercidos (...) pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SIN-REM), composto pelos seguintes
órgãos: I – o Departamento Nacional de Registro de Comércio, órgão central do SINREM, com funções supervisora,
orientadora e normativa, no plano técnico; e supletiva, no plano administrativo; II – Juntas Comerciais, como órgãos
locais, com funções executora e administradora dos serviços de registro.” In, REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito
Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 158-159.
36
A sociedade com atividade rural, se não for empresária – vale dizer, se não contar
com uma organização -, será necessariamente uma sociedade simples. Dotada de
organização, poderá optar, livremente, entre a condição de sociedade simples e a
condição de sociedade empresária.
Para qualificar-se como sociedade empresária, não poderá revestir a forma típica de
sociedade simples, e, se esta for a sua forma, cumprirá transformar-se para, em
seguida, requerer a sua inscrição no Registro de Empresas.
37
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 21.
37
Vale lembrar, como visto, que o registro público dos empresários individuais, da
empresa individual e sociedades empresárias tem, atualmente, como objetivo principal, dar
publicidade de tais sociedades ou indivíduos a terceiros. Esse registro não tem o condão de
constituir direito algum.
Ademais disso, tais sociedades ou EIRELI sem registro, portanto, irregulares, não
têm o direito de pleitear a falência de outro comerciante e não pode, da mesma forma, requerer a
si recuperação judicial.
E as limitações às pessoas jurídicas não registradas não param por aqui. Tais
entidades também ficam impedidas de obter o registro junto ao Ministério da Fazenda, ou seja,
junto ao Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
38
Nesse sentido, verifique-se também REQUIÃO: “É preciso acentuar que o registro dos atos de comércio não é
constitutivo de direitos. Assim, por exemplo, a inscrição de firma individual, ou de contrato social, não assegura a
qualidade de comerciante, pelo só efeito do registro (nº 4 supra). Essa qualidade constante do registro pode ser
elidida por qualquer prova em contrário. Como ensina von Gierke, no direito germânico, “segundo a doutrina
dominante, não se cria, com o registro, uma presunção de direito”, e o mais acertado será, acentua ele, que se
considere que a inscrição constitua uma prova prima facie. Mas o efeito da inscrição e publicidade decorrente de um
ato que se deva inscrever produz seus efeitos frente a terceiros, porém não há “fé pública” nesse registro e
publicidade. Podem ser elididos, vale repetir, em face de melhor prova.” In, REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito
Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 171.
38
Tais obrigações têm função específica. Elas devem ser cumpridas por todos os
empresários, uma vez que seu cumprimento destina-se à proteção deles mesmos, empresários,
como também de todos os agentes que se relacionam com esta atividade empresária. Ou seja, o
registro empresarial, a escrituração contábil e a preparação de demonstrações financeiras
interessam a outros agentes, tais como os demais credores da sociedade, os funcionário, ao fisco,
e ainda, à própria sociedade em que atua40.
39
PEREIRA, Alexandre Demetrius. A Contabilidade Empresarial. In Tratado de Direito Comercial. Vol. 1.
(autor). São Paulo: Saraiva, 2015. p. 261.
40
Os relatórios contábeis podem ser melhor compreendidos pelos ensinamentos de PEREIRA: “Um dos objetivos
principais dos relatórios contábeis é evidenciar a posição patrimonial e financeira da entidade empresarial. Para
tanto, os relatórios contábeis fazem uso de contas que representam os bens e direitos da entidade (ativos), suas
dívidas e obrigações (passivos), e a diferença entre o ativo e o passivo (patrimônio líquido).” In, PEREIRA,
Alexandre Demetrius. A Contabilidade Empresarial. In Tratado de Direito Comercial. Vol. 1. (autor). São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 262.
A respeito da sua obrigatoriedade, REQUIÃO ensina que “(...) O Código Civil, nos arts. 1.179 e segs., passou a
regular, em parte, a matéria principiante por dispor: ´O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir
um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em
correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o resultado
econômico’. (...) A regra do art. 1.179, parágrafo 2º, pela sistemática do Código Civil, está dirigida ao empresário¸
definido nos arts. 966 e 968 (ou seja, à antiga firma individual ou empresa individual) e ao empresário rural. (...) O
empresário e a sociedade empresária, portanto, nos termos do disposto no Código Civil, são obrigados: 1º A seguir
uma ordem uniforme de contabilidade e escrituração, a ter os livros para esse fim necessários; 2º A autenticar no
Registro Público de Empresas Mercantis todos os livros e fichas, cujo registro for expressamente exigido pelo
Código, antes de postos em uso (art. 1.811); 3º A conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e
mais papéis pertencentes ao giro de seu comércio, enquanto não prescreverem as ações que lhe possam ser relativas
(art. 1.194); 4º A elaborar anualmente um balanço patrimonial e de resultado econômico, com o primeiro devendo
exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta e as disposições de
39
No entanto, ainda que o Código Civil não preveja a aplicação de qualquer pena,
essa falta de organização empresarial (ausência de escrituração contábil e/ou de demonstrações
financeiras) pode ter sanções em outras esferas.
leis especiais, indicar, indistintamente, o ativo e o passivo (art. 1.188), bem como o balanço de resultado econômico,
ou demonstração da conta de lucros e perdas, que acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e
débito, na forma da lei especial (art. 1.189).” In REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª
edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 218-219.
41
Ensina REQUIÃO que: “Essas regras foram enfeixadas no art. 226 do Código Civil, onde se dispõe sobre os livros
e fichas dos empresários provam contra as pessoas a que pertencem e, em seu favor, quando, escriturados sem vício
extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. Acrescentou-se, no parágrafo único, que a prova
resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular
revestido de requisitos essenciais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos.”
In REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 245.
40
42
Segundo BURANELLO, “No Brasil, os agricultores familiares são de fato pequenos agricultores, representando o
tamanho das propriedades, uma das mais fortes restrições para o crescimento sustentável da agricultura familiar.
Como foi visto, um número significativo de estabelecimentos familiares são minifúndios que não oferecem
condições apropriadas para a sobrevivência familiar. O outro traço marcante é a heterogeneidade tecnológica. Mais
da metade dos agricultores ainda utiliza a tração humana, isto é, o braço e a enxada como principal força mecânica e
instrumento de trabalho.” In BURANELLO, Renato. Sistema Privado de Financiamento do Agronegócio. Regime
Jurídico. 2ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p .48
43
(Código Civil)
“Artigo 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades
de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a
registro.
(...)
Artigo 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída,
ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará
equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.”
44
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 113.
42
Este estudo visa aquele produtor rural, pessoa física, que explora a sua atividade
de maneira contínua, organizada, profissional e visando obtenção de lucros: portanto, ao
empresário do setor rural. Não serve, desta forma, àquelas pessoas físicas amparadas pelo
Estatuto da Terra, as quais desenvolvem também atividades agropecuárias, valendo-se da terra
como insumo, mas não a exploram com o fim precípuo de obter resultados econômicos positivos.
Não almejam lucro, mas apenas subsistir.
A atividade empresária rural tem a mesma natureza que as demais – que visam
lucro - mas volta-se às atividades desenvolvidas no campo. Conforme COELHO45:
45
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 1. 28ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 34.
43
questão é fundamental para a análise dos riscos, da sua alocação, dos mecanismos de defesa de
seus agentes e correta intepretação dos contratos que envolvem a cadeia do agronegócio.
Assim, o objetivo do presente estudo se destina àquele produtor rural pessoa física
que, ao final do dia, aumenta seu patrimônio mediante a exploração econômica da atividade rural.
46
Para WAISBERG, o “empresário rural é aquele que exerce, de forma habitual, profissional e com o intuito de
obter lucro, atividade rural, que é a que envolve a produção e circulação de bens e serviços de natureza agrícola,
pecuária, agroindustrial e extrativa (ver BURANELLO, 2009). O art. 970 do CC assegurou a esta espécie de
empresário tratamento diferenciado e simplificado em relação à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Portanto, para
ele há uma regra específica em relação à inscrição: a facultatividade. Isto é, a lei faculta-lhe a inscrição ou não no
Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede. Se o empresário rural optar por se registrar, então está
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário não rural sujeito a registro, aplicando-se a ele, integralmente, o
regime jurídico empresarial, sem qualquer distinção e nas mesmas condições aplicadas a qualquer outro empresário.”
WAISBERG, Ivo. A Viabilidade da Recuperação Judicial do Produtor Rural. In Direito das Empresas em Crise.
Revista do Advogado. Editora AASP. São Paulo, Outubro de 2016. Edição 131. p. 86.
44
Ademais, os produtores rurais estão sujeitos a outros vários fatores de risco, dentre
os quais, além da comentada produção, a operação e o preço47.
47
Sobre tais riscos, leciona BURANELLO “(...) a) risco de produção: também conhecido como risco físico, está
relacionado a fatores de variações e quebras de safras agrícolas, tendo em vista a impossibilidade de prevê-lo no
momento do plantio até a respectiva colheita. Os principais fatores a serem considerados nessa espécie de risco são
os referentes ao clima e à incidência de doenças e pragas, apontados como um dos principais responsáveis pelas
variações e quebras das safras. (...) b) risco operacional: pouco observado em outros casos em função das peculiares
45
Os riscos agropecuários são, assim, muito maiores que os que afetam as demais
empresas. Nas palavras de ARAÚJO48, essa atividade tem especificidades que a diferenciam de
outros, a saber:
O produtor rural que desenvolve suas atividades como pessoa física tem em si
mesmo a imputação de toda a responsabilidade gerada por sua atividade: todos os riscos
decorrentes de sua atividade rural giram em torno de seu próprio patrimônio pessoal. Em outras
palavras, todos os bens de propriedade do produtor rural pessoa física respondem por eventuais
prejuízos gerados a terceiros com o desenvolvimento de sua atividade empresarial.
características de cada cadeia agroindustrial e que não mantém padronização em relação às regras de classificação. O
mais importante para o empresário do setor é a identificação dos riscos que a organização agroindustrial está disposta
a assumir, bem como a maximização do retorno esperado dado um nível de risco estabelecido. (...) c) risco de preço:
também conhecido como risco de mercado, é proveniente de alterações nos preços e nas relações de preços entre o
momento em que a decisão de produzir é tomada e o período no qual a venda da produção será realizada. O controle
de preços de commodities tem diversas e graves implicações (...)”. In BURANELLO, Renato. Manual do Direito
do Agronegócio. 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013. p. 54.
48
ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de Agronegócios. São Paulo: Atlas, 2003. p. 18.
46
em que as atividades rurais são desenvolvidas seja de sua propriedade e ele ainda detenha a
propriedade de dois outros imóveis urbanos.
Insista-se, por oportuno, que esta deve ser a principal análise a ser feita pelos
empresários e seus assessores quando da decisão pela constituição, ou não, de uma estrutura
societária para o desenvolvimento das atividades do agronegócio.
No setor do agronegócio, mais ainda essa decisão deve ser sopesada. Isso porque,
segundo WINTER49: “No agronegócio, o risco atinge todos os seus agentes, de forma direta ou
49
WINTER, Marcelo Franchi. Riscos Físicos, de Mercado, Comerciais e Jurídicos do Agronegócio e seus
Mitigantes. In Direito do Agronegócio. (autor) São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 162.
47
indireta, e é proporcional ao volume e valor da operação, ou seja, quanto maior for a operação,
sejam em volume ou valor, maior é o risco”.50
A ideia aqui não é exaurir todos os aspectos econômicos relativos à criação de uma
pessoa jurídica, até porque eles podem ser os mais variáveis possíveis. O que se pretende aqui é
analisar rapidamente os aspectos econômicos umbilicalmente ligados à criação desta verdadeira
entidade - pessoa jurídica -, pelos empresários - pessoas físicas. Dentre eles, os aspectos
econômicos mais comumente identificados são, dentre outros: (i) custos com a manutenção e
registo da pessoa jurídica; (ii) custos a serem incorridos com contadores ou prestadoras de
serviços de contabilidade, e (iii) custos tributários.
50
Ainda mesma nesta linha, LOEW pontua que “(...) o agronegócio ainda constitui atividade repleta de riscos, o que
significa que o retorno esperado de um investimento pode sofrer consideráveis variações por força de fatores
responsáveis pela quebra da safra ou, simplesmente, pela não performance das obrigações. Essas incertezas nos
objetivos do agronegócio normalmente são provocadas por eventos da natureza, bem como por movimentos
desfavoráveis no mercado internacional.” In, LOEW, Ricardo Ribeiro da Luz. Gestão de Risco Físico e Novo Seguro
Rural e Seguro-Garantia na Gestão de Risco de Performance. In Direito do Agronegócio. (autor) São Paulo:
Quartier Latin, 2011. p. 617.
48
custo – o qual, na maioria das vezes, não se revela impeditivo para a sua constituição - o
empresário quer saber quais são os custos a serem incorridos com o gerenciamento desta pessoa
jurídica, pelos contadores.
Com efeito, é importante acrescentar ainda a tais custos devem ser agregados
ainda os custos atrelados ao gerenciamento de tributos, bem como de todas as informações
utilizadas para a sua apuração. São os denominados custos de conformidade, que podem
claramente compreendidos nos ensinamentos de BERTOLUCCI51:
(...) abrangem as pessoas físicas e jurídicas que têm que cumprir as obrigações
principais e acessórias definidas pelo Poder Público e que, no exterior, são
designados como compliance of costs of taxation, e que representam o sacrifício de
recursos para atender às disposições legais. O termo (...) deve ser compreendido
como o custo de conformar sua atividade às normas tributárias, assumido a forma
estabelecida pelo Poder Público.
51
BERTOLUCCI, Aldo Vicenzo. Quanto Custa Pagar Tributos. São Paulo: Atlas, 2003. p. 21.
49
influência é tão grande que, em alguns casos, ela chega até a ofuscar um estudo societário mais
aprofundado: em alguns casos, o que se verifica é que a carga tributária é que pode acabar
motivando a criação de uma sociedade empresária, suplantando todas as demais análises,
inclusive a societária. É o que ocorre quando a criação de uma pessoa jurídica objetiva a
implantação de um planejamento tributário 52. Ou seja, é a vontade do empresário, pessoa física,
em reduzir o montante de tributos por ele suportado que, no mais das vezes, acaba por motivá-lo
a constituir uma pessoa jurídica.
52
Assim entendido como a criação de uma estrutura organizacional efetiva que busca a redução dos tributos
incidentes sobre a operação.
53
SANTOS, Rodrigo Baraldi dos. O Planejamento Tributário em Reorganizações Societárias. São Paulo:
Quartier Latin, 2014. p. 17.
54
A esse respeito WIEDEMANN assevera que: “(...) ambos (o direito societário e o direito tributário) realizam
diferentes tarefas: o direito societário deve, antes de tudo, atingir a justa ordem das coisas, o direito tributário, em
seguida, uma adequada tributação. Na realidade, os pesos quase que se inverteram. Na elaboração dos contratos
sociais e estatutos dirige-se a escolha da forma jurídica e das particulares determinações estatutárias mais de acordo
com ponderações de direito tributário do que de direito societário. (...) O direito tributário tornou-se uma
indesejada fonte do direito societário.” (os destaques são nossos). In WIEDEMANN, Herbert. Direito Societário I
– Fundamentos. São Paulo: Editora Malheiros, 2009. p. 638.
50
econômicos das atividades empresariais. Acredita-se que esse ramo do direito, como nenhum
outro, pode melhor explicar o conceito de “direito-custo”, expressão cunhada pelo Prof. Fabio
Ulhoa Coelho.
Entende-se, com efeito, que a preocupação com temas tributários não deve ser a
primeira preocupação das pessoas físicas que pretendem se tornar sócias de novas pessoas
jurídicas. Muito menos ainda deveria ser a preocupação dos operadores do direito. Como visto,
há questões fundamentais de cunho societário que devem ser respondidas e compreendidas antes
da criação de uma sociedade empresária.
55
Nas palavras de COELHO, “A autonomia patrimonial das sociedades empresárias é uma técnica de segregação de
riscos. Outras técnicas jurídicas igualmente cumprem esta finalidade, como, por exemplo, o patrimônio especial, a
conta de participação e, em alguns casos, o condomínio. Em razão da autonomia patrimonial, os bens, direitos e as
obrigações da sociedade, enquanto pessoa jurídica, não se confundem com os dos seus sócios. A principal implicação
deste princípio é a impossibilidade de se cobrar, em regra, dos sócios, uma obrigação que não é deles, mas de outra
pessoa, a sociedade. Outras implicações projetam-se na definição das partes do negócio jurídico e na questão da
legitimidade processual, mas com relevância menor do que a da responsabilidade patrimonial. Se a autonomia da
sociedade está sendo relativizada (no direito brasileiro desde meados do século passado), no sentido de a lei e a
jurisprudência passarem a considerar os sócios responsáveis por determinados passivos da pessoa jurídica, esta
tendência não alcança (e não deve alcançar) as relações regidas pelo direito comercial. Quando a obrigação envolve
exclusivamente empresários, como seus credores e devedores principais, o princípio da autonomia patrimonial das
pessoas jurídicas deve ser estritamente respeitado. (...) Como se vê, os aqui chamados credores negociais são
necessariamente empresários, estando, em decorrência, a relação jurídica com a sociedade empresária devedora
sujeita à disciplina do direito comercial. Já os direitos dos credores não negociais perante as sociedades empresárias
51
2ª) Tendo a sociedade, como pessoa jurídica, individualmente própria, os sócios que
a constituírem com ela não se confundem, não adquirindo por isso a qualidade de
comerciantes. (...)
4ª) A sociedade tem a possibilidade de modificar a sua estrutura, quer jurídica, com
a modificação do contrato adotando outro tipo de sociedade, quer econômica, com a
retirada ou ingresso de novos sócios, ou simples substituição de pessoas, pela
cessão ou transferência de parte do capital.
são regidos por outros ramos jurídicos, como o direito do trabalho e do consumidor. Se, nestes últimos, a autonomia
patrimonial tem sido relativizada (embora não propriamente eliminada), em vista de princípios e valores próprios a
cada ramo jurídico, no direito comercial, ela há de sem amplamente prestigiada. (...) Pelo princípio da autonomia
patrimonial, considera-se a sociedade empresária, por se pessoa jurídica, um sujeito diferente dos sócios que a
compõem. Entre outras consequências, este princípio implica que a responsabilização pelas obrigações sociais cabe à
sociedade, e não aos sócios. Apenas depois de executados os bens da sociedade, e mesmo assim observando-se
eventuais limitações impostas por lei, os credores podem pretender a responsabilização dos sócios. Como técnica de
segregação de riscos, a autonomia patrimonial das sociedades empresárias é um dos mais importantes instrumentos
de atração de investimentos na economia globalizada. Trata-se de expediente que, em última instância, aproveita a
toda a coletividade, como proteção do investimento. A segregação de riscos motiva e atrai novos investimentos por
poupar o investidor de perdas elevadas ou totais, em caso de insucesso da empresa. Se determinada ordem jurídica
não contemplar a autonomia patrimonial (ou outras técnicas igualmente disseminadas de segregação de risco), é
provável que muitos investidores receiem investir na economia correspondente. Afinal, se o fato de a empresa não
prosperar e vir a experimentar perdas que acabem por leva-la à quebra, num determinado país, colocar em risco a
totalidade do patrimônio do investidor (e não somente o que investiu no infeliz negócio), é provável que ele opte por
direcionar seu capital para outro lugar. (...) Deste modo, interessa não somente aos sócios das sociedades empresárias
a aplicação, pelo Poder Judiciário, do princípio da autonomia patrimonial, mas a toda a coletividade.” In COELHO,
Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 2. 20ª edição. Revista dos Tribunais, 2016. p.
51.
56
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 482-483.
52
Note-se que os bens e direitos dos sócios das sociedades empresárias somente
devem ser objeto de direcionamento de eventuais cobranças advindas de responsabilidades por
negócios empresarias depois de esgotados os bens e direitos da própria sociedade empresária
devedora.
57
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. 16ª ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p.
39.
53
58
Para COELHO, o “(...) princípio da limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais visa
justamente manter o risco empresarial em determinado nível que, de um lado, atraia o interesse dos investidores
conservadores e, de outro lado, contribua para que os preços dos produtos e serviços sejam acessíveis a maior parcela
da população. É natural. A maioria de nós teria muito receio em envolver-se em qualquer empreitada que poderia
implicar a perda de tudo o que amealhamos em nosso patrimônio. A partir de determinado momento da vida, todos
os que empenharam decididamente em seu trabalho (manual, liberal, empresarial etc.) conseguem reunir algum
patrimônio, ainda que modesto. São os bens com que pretendem se manter na velhice, terminar de criar os filhos,
desfrutar de prazeres. Ninguém quer expor deliberadamente a riscos de perda todos os seus bens. Também a maioria
dos investidores naturalmente pensa assim. O princípio da limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações
sociais, ao eliminar o risco de o investidor perder a totalidade dos bens do seu patrimônio, estimula novos
investimentos. (...) A limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, portanto, não é uma forma
de torna-los irresponsáveis. Pelo contrário, é um expediente de segregação de riscos, que, ao incentivar maiores
investimentos, (em especial, dos empresários com perfil conservador), traz proveitos a toda a coletividade. Mais uma
vez, o princípio do direito comercial, ao mesmo tempo em que protege o interesse individual dos sócios da sociedade
empresária (de tipo limitada ou autônoma), ampara, também, o metaindividual de todos os consumidores
brasileiros.” In COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Vol. 2. 20ª edição. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. pp. 54-55.
54
sobre a circulação de seus títulos de propriedade, sua continuidade, seu encerramento, entre
outras.
A partir daí, toda a atividade rural passará a ser desenvolvida por esta empresa, por
meio do patrimônio destacado, e não mais pela pessoa física do produtor rural. Todos os atos ou
negócios jurídicos a serem desenvolvidos, a partir da constituição desta empresa, serão praticados
pela empresa, por meio de seus representantes legais.
59
ASCARELLI, Tulio. Problemas das Sociedades Anônimas e Direito Comparado. 2ª ed., São Paulo: Saraiva,
1969. p. 250.
60
WIEDEMANN, Herbert. Direito Societário I – Fundamentos. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 630.
55
(...) capital social representa, grosso modo, o montante de recursos que os sócios
disponibilizaram para a constituição da sociedade. De fato, para existir e dar início
Às suas atividades, a pessoa jurídica necessita de dinheiro ou bens, que são
providenciados pelos que a constituem. Não se confunde o capital social com o
patrimônio social. Este último, é o conjunto de bens e direitos de titularidade da
sociedade (ou seja, tudo que é de sua propriedade).
61
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito da Empresa. Vol. 1. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 104.
62
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito da Empresa. Vol. 2. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 39.
56
Conforme BURANELLO65:
63
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 496.
64
WIEDEMANN, Herbert. Direito Societário I – Fundamentos. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 625.
65
BURANELLO, Renato; MORATO, Marcelo Lins. Principais Tipos Societários nas Atividades de Produção e
Comercialização Agropecuária. In Direito do Agronegócio. (coord.; autor) São Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 234.
57
E neste sentido, o produtor rural, ao pretender criar uma estrutura societária para o
desenvolvimento de suas atividades deve verificar se a estrutura proposta tem relação com sua
realidade.
Mais do que isso, deve se atentar ao fato de que esta estrutura passará, no mais das
vezes, a determinar a sua conduta presente e futura, quer seja na figura de sócio, quer seja na
figura de eventual administrador da sociedade criada. Deste sua criação surgem obrigações
específicas a serem observadas pelos seus criadores.
66
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph W., JORDAN, Bradoford D. et al. Fundamentos de
Administração Financeira. 9ª edição, Porto Alegre: AMGH, 2013. p. 5.
58
rurais, uma vez que cada um dos tipos societários atualmente existentes no direito societário tem
características próprias, mecanismos de funcionamento e resolução particulares.
Assim, é necessário verificar qual é a efetiva demanda pela criação de uma pessoa
jurídica com vistas a se identificar qual é o tipo societário mais adequado. A crítica que se faz
nesta avaliação é que, no mais das vezes, esse tema é tratado como a “papelada” que vai ser
gerada com a criação de uma pessoa jurídica. No entanto, uma desatenção neste momento, quer
seja pela criação de uma empresa pela euforia com o início de um empreendimento conjunto, que
seja por que “não vamos tratar de coisas desgastantes no começo”, acabam por gerar muitos
efeitos indesejados no futuro.
67
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 29.
68
Sobre esse tema, REQUIÃO assevera que: “O empresário pode exercitar a atividade empresarial individualmente:
será então um empresário individual e, com o advento da Lei nº 12.441, de julho de 2011, o empresário individual
de responsabilidade limitada. (...) A empresa comercial pode, no entanto, revestir-se de forma societária: a sociedade
comercial exercita a atividade empresária. Ao exercício a empresa dessa forma se tem chamado de empresa
coletiva.” In REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp.
114; 123.
60
69
A respeito dessa teoria, BORBA pontua que “Mesmo quando a sociedade decorre de um acordo de vontades, lavra
na doutrina forte controvérsia quanto à natureza do ato constitutivo, entendendo alguns que não se teria aí um
contrato, mas sim um ato coletivo, de instituição ou corporativo, em virtude do qual as vontades se somariam, de
forma paralela, sem portanto, se contrapor. Com efeito, o contrato bilateral não se ajusta às características da
sociedade, posto que nele não ocorrem partes contrapostas, como no comum dos contratos. (...) No contrato de
sociedade não há essa contraposição. Ao invés, as partes se conjugam para um fim comum. Substituindo o sinalagma
em que se cruzam os interesses, coloca-se a identidade de interesses, instrumentalizada na criação da sociedade. Foi
Tullio Ascarelli, com a teoria do contrato plurilateral, quem revitalizou a corrente contratualista. (...) em lugar da
necessária contraposição de dois pólos, várias podem ser as partes, todas dirigidas para uma finalidade comum.
Verdadeiros contratos de organização, aprestam sempre uma função instrumental, não terminando com o
cumprimento das obrigações básicas das partes, antes constituindo estas a premissa de uma atividade ulterior.” In
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 32.
70
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 463.
71
Sobre o assunto, REQUIÃO pontua que: O Prof. Jean Escarra esclarece que, desde o fim do último século,
publicistas ou comercialistas alemães foram os primeiros a descartar a noção do contrato, tendo essas tentativas sido
repetidas na França por Saleilles e Hauriou, e por muitos outros comercialistas contemporâneos. Deve-se a Hauriou a
elaboração da teoria institucionalista, que teve como ponto de partida as instituições de direito público, projetando-se
no direito comercial para explicar a constituição das sociedades anônimas, por excelência. (...) Não é fácil
compreender o que seja a instituição. (...) Hauriou definiu a instituição como “uma organização social, estável em
relação à ordem geral das coisas, cuja permanência é assegurada por um equilíbrio de forças ou por uma separação
de poderes, e que constitui, por si mesma, um estado de direito”. Uma característica fundamental distingue, na
exposição de Hauriou, a instituição do contrato. Na primeira, o consentimento dos membros se restringe à aceitação
da disciplina, sem preocupação imediata dos resultados de sua atividade; no segundo, o consentimento tem por
objeto os atos dos contratantes e implica os resultados. (...) Dessa forma, nos contratos, admite-se a resolução pela
61
A primeira solução teve maior elaboração na Alemanha, não por acaso a terra-mãe
tanto do institucionalismo quanto da sociedade unipessoal com responsabilidade
limitada.
(...)
Assim, esta teoria passou a considerar que os interesses pessoais dos sócios, que
constituíram a sociedade, deveriam ser relativizados, frente ao interesse da própria sociedade 72.
inexecução das obrigações, o que não ocorre na instituição; sendo, além disso, mais estáveis as situações
institucionais, que não podem ser bruscamente resolvidas ou dissolvidas, porque alima ao seu poder de duração um
poder de evolução e adaptação às condições novas da vida que as situações contratuais não possuem.” In
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. pp. 35-
36.
72
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º Vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 467-468.
62
(...) é fartamente conhecido. Por essa razão, a partir sobretudo desse período a
análise econômica do Direito passou a ser identificada ou talvez confundida com a
chamada “Teoria da Eficiência”. (...) Segundo esse princípio (da eficiência), as
normas jurídicas são eficientes “quando permitem a maximização de riqueza global,
mesmo que isso seja feito à custa de prejuízo a um agente econômico específico”.
Em uma linguagem mais jurídica, a firma é vista como um único agente subscritor
de um grupo de contratos, que começam pelos contratos com os sócios e vão desde
os contratos com fornecedores e clientes até contratos com trabalhadores e
contratos de empréstimo necessários para suprir as necessidades de fundos da
empresa.
73
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. pp.
40-41.
74
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. p.
42.
75
Visão originalmente criada por Armen Alchian e Harold Demsetz (nexus of contracts).
76
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. pp.
42-43.
77
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. p.
43.
63
assevera que “Essa preocupação fica mais clara no passo seguinte da teoria. Trata-se de
determinar qual o fundamento do controle interno da empresa. Na perspectiva econômica, o
fundamento está na teoria dos custos de transações”.
Cinco anos mais tarde, Coase divulga o artigo The nature of the firm, reagindo à
teoria econômica central, a qual acreditava que “the direction of resources is
dependente directly on the price mechanism”, como se não houvesse empresas e o
funcionamento do sistema econômico pudesse prescindir de “islands of conscious
power”. A partir da identificação dos “custos de transação”, o autor explica a razão
da existência das empresas (que chama de “firmas”).
E é importante novamente ressaltar que tais custos não dizem respeito somente aos
custos economicamente mensuráveis. A teoria dos custos de transação considera ainda os custos
78
FORGIONI, Paula A. A Evolução do Direito Comercial Brasileiro – Da Mercancia ao Mercado. 3ª edição. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. pp. 49-50.
64
relacionados à satisfação dos que com a empresa vão se relacionar o que não se pode mensurar
economicamente.
Assim, aos operadores do direito não deve fugir a ideia de que a constituição de
uma empresa está umbilicalmente ligada às questões econômicas que a cercam. A sua
constituição deve buscar maior eficiência econômica, distributiva (que gera lucros aos seus
participantes) e mais: a partir da criação de uma empresa, os interesses dos sócios não podem ser
superiores aos interesses sociais – os interesses da empresa propriamente ditos.
A criação de uma pessoa jurídica faz surgir um novo centro de contratação. Nasce
uma entidade capaz de contrair novos direitos e obrigações, quando destinada ao
desenvolvimento de atividades empresariais; necessariamente, tem personalidade distinta de seus
sócios. Está sujeita a novas e mais complexas obrigações de registro, de controle das operações
comerciais realizadas, e ainda a outros critérios de análise creditícia.
Esse verdadeiro ente criado pelos sócios, em suas relações, vai buscar maior
eficiência, maximizando os lucros, reduzindo os custos, alocando corretamente os riscos, tudo em
verdadeira sintonia com os fundamentos da economia e o interesse público da localidade em que
atua.
Assim, a empresa criada pelo produtor rural pessoa física passará, portanto, a
celebrar contratos com os fornecedores, colaboradores, clientes, distribuidores, agentes
financiadores e outros. Ou seja, a sociedade empresária constituída passará a celebrar verdadeiros
contratos empresariais, que passarão a tratar suas relações de direito e obrigações. Conforme
FORGIONI79, “A empresa cristaliza-se em sua atividade de interagir; a empresa é agente
econômico.”
79
FORGIONI, Paula A. Contratos Empresariais – Teoria Geral e Aplicação. 2ª ed. São Paulo: 2016. p. 23.
65
Nos termos dos artigos 44, 45 e 984 do Código Civil 80, a sociedade tem
personalidade jurídica. Isso faz com que, na sua criação, nasça um sujeito de direito capaz de
figurar nas relações jurídicas, nos dizeres de CARVALHOSA81.
80
Artigo 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações;
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos;
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada.
(...)
Artigo 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
(...)
Artigo 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída,
ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará
equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.”
81
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 1º Volume, 7ª ed., São Paulo: Saraiva,
2013. p. 95.
82
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 460.
66
Portanto, os tipos societários a serem apontados como opções aos produtores rurais
contemplam especificamente a EIRELI, a Sociedade Limitada e as Sociedades Anônimas.
- as primeiras – sociedades simples -, por força do artigo 982 do Código Civil, não
desenvolvem atividades empresárias;
83
SIMÃO FILHO, Adalberto. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI. In Tratado de
Direito Comercial. Vol. 1. (autor). São Paulo: Saraiva, 2015. p. 192.
67
- as sociedades em comandita simples e por ações, já que alguns de seus sócios são
solidários e também ilimitadamente responsáveis, enquanto que outros, prestadores de serviços,
respondem limitadamente à contribuição feito ao seu capital social; e
Qualquer dos tipos societários a seguir descritos pode ter como objeto “o exercício
de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um
dos tipos de sociedade empresária (...).”84.
Dito isso, verifique-se os principais aspectos relativos a cada uma das pessoas
jurídicas que permitem a limitação da responsabilidade do empresário produtor rural.
3.3. EIRELI
84
Artigo 984 do Código Civil.
68
societário ao regular a sua criação, tais como capital social e quotas, e por isso, não se trata de um
novo tipo societário, mas de uma sociedade unipessoal.
A EIRELI pode ser vista como mais uma via de acesso à atividade empresarial e ao
empreendedorismo e possibilidade real de racionalização da gestão das sociedades,
a considerar que, por alguma razão, o seu quadro social tenha se reduzido a apenas
um sócio, possibilitando o fomento da atividade mercantil, regularização e/ou
criação de empresas unipessoais, contribuindo para o crescimento e
desenvolvimento social com o auxílio da circulação da riqueza no âmbito
circunscrito da sua operação.
Esse tipo societário é bem simplificado e passou a ser muito utilizado a partir de
sua criação. Sua principal característica, como já mencionado, é não estar obrigada à observância
da pluralidade de sócios. Ou seja, para a sua constituição, não é necessário que o produtor rural
desenvolva suas atividades com outros sócios. Pode fazê-la isoladamente, sozinho. Com isso, não
é necessário que ele se associe a uma outra pessoa física ou jurídica para a criação de uma
EIRELI.
85
SIMÃO FILHO, Adalberto. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI. In Tratado de
Direito Comercial. Vol. 1. (autor). São Paulo: Saraiva, 2015. p. 194.
69
A empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. No primeiro caso,
o exercente da atividade econômica se chama empresário individual; no segundo,
sociedade empresária. Como é a pessoa jurídica que explora a atividade
empresarial, não é corretor chamar de ‘empresário’ o sócio da sociedade
empresária.
Nos termos do artigo 980-A do Código Civil, o produtor rural que pretender se
valer de tal tipo societário deverá ser o titular da totalidade das quotas representativas de seu
capital social, que não poderá ser inferior a 100 (cem) vezes o maior valor de salário mínimo
86
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito da Empresa. Vol.1. 20ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016. p. 103-104.
87
SALOMÃO FILHO, Calixto. A Sociedade Unipessoal. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 44.
70
vigente no país. Ou seja, esta sociedade terá um capital próprio, segregado do patrimônio de seu
sócio. Este capital será dividido em quotas, sendo que, na sua totalidade, pertencerão a uma única
pessoa.
Ao se constituir uma EIRELI para esta finalidade, é crucial que o produtor rural
pessoa física entenda que, a partir dessa constituição, todos os atos por ele praticados em relação
à atividade rural, no todo ou em parte, foram transferidos a esta nova pessoa jurídica.
O representante legal da EIRELI deve estar estabelecido em seu contrato, que deve
ser levado a registro na Junta Comercial competente. Necessariamente, os atos administrativos
devem ser praticados por pessoas físicas, já que, no direito brasileiro, são as únicas pessoas
permitidas a praticar os atos de administração da pessoa jurídica.
No ensinamento de SIMÃO88
88
SIMÃO FILHO, Adalberto. Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI. In Tratado de
Direito Comercial. Vol. 1. (autor). São Paulo: Saraiva, 2015. p. 209.
71
O produtor rural pessoa física, além de titular da totalidade das quotas emitidas
pela EIRELI, pode também figurar como seu administrador. Neste caso, ele continuará à frente
de todos os atos que envolvem o desenvolvimento da atividade rural. No entanto, não é demais
lembrar que todos os contratos e outros documentos necessários a esta atividade serão elaborados
em nome da EIRELI, sendo o seu sócio, na qualidade de administrador, que firmará tais
documentos.
Ademais disso, este tipo societário é bastante indicado àqueles produtores rurais
que não têm sócios em suas atividades, já que dispensa a pluralidade de sócios.
Pode-se afirmar que a principal característica deste tipo societário é a sua natureza
contratual, já que é de um contrato que ela surge para fins jurídicos. Conforme ABRÃO89, “A
89
ABRÃO, Nelson. Sociedades Limitadas. 10ª ed., São Paulo: Saraiva. 2012, p. 50.
72
E justamente por esta obrigatoriedade, pode-se verificar com certa frequência a sua
consideração como “sociedade de pessoas”, tendo em vista a relevância que tais figuras alcançam
neste tipo societário. No entanto, tanto a doutrina como a jurisprudência - depois de alguma
confusão inicial - identificam neste tipo societário o intuitu personae, mas não desprezam, em
alguns casos, a sua natureza capitalista 91.
90
Ainda sobre o tema, COELHO faz nota que “A discussão sobre a natureza da sociedade limitada é um dos mais
importantes temas do direito societário brasileiro. Deriva, por certo, do contexto em que ela surgiu, como um novo
tipo de sociedade, isto é, o da busca de uma alternativa para a exploração de atividades econômicas, em parceria, que
pudesse assegurar a limitação da responsabilidade característica da anônima, mas sem as formalidades próprias
desta. (...) A sociedade limitada, pode ser de pessoas ou de capital, de acordo com a vontade dos sócios. O contrato
social define a natureza de cada limitada.”. In, COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito da
Empresa. Vol. 2. 20ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 360. O mesmo autor entende que os
contratos celebrados entre os seus agentes que foram o tipo societário da sociedade limitada: “Quando duas ou mais
pessoas se obrigam reciprocamente a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade econômica e a
partilhar o resultado dela advindo, diz a lei que celebraram um contrato de sociedade (CC, art. 981). As atividades
econômicas são as exploradas com o objetivo de ganhar dinheiro. (...) Pois bem, a atividade econômica pode ser
explorada por um sujeito de forma isolada ou em conjunto com outro ou outros. A conjugação dos esforços, quando
assentada em premissas racionais e feita adequadamente, permite aprimorar os serviços oferecidos, reduz custos e
aumenta as oportunidades de ganho. (...) A exploração da atividade em conjunto pode ser viabilizada por diversos
contratos, um dos quais, é o de sociedade.” In COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Vol. 3. 8ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 415.
91
No entendimento de REQUIÃO, “Temos, para nós, que a sociedade limitada constitui sociedade de pessoas: não
podemos, porém, deixar de nos impressionar com a circunstância de que os sócios, na elaboração do contrato social,
podem dar-lhe um caráter capitalístico, quando permitem a cessão de quotas a estranhos, sem a necessária anuência
dos demais. Se na sociedade pode ingressar um estranho, é porque os sócios mantém a sociedade mais em atenção ao
seu capital do que à qualidade pessoal dos companheiros. Por outro lado, modernamente, a doutrina – como iremos
mostrar no devido tempo – tem admitido que o mesmo fenômeno empolgue as sociedades anônimas fechadas, que
podem tomar um aspecto personalista, quando restringem a negociabilidade das ações, estabelecendo que essas
73
O capital social, como nas EIRELIs, é dividido por quotas. As quotas acabam por
representar bens ou direitos contribuídos pelos sócios em sua integralização. Não é permitido, nos
termos do Código Civil, que o capital social seja integralizado, nas sociedades limitadas, com a
prestação de serviços dos sócios. O capital social subscrito pelos sócios, na proporção acordada,
deverá ser integralizado com o aporte de moeda corrente nacional ou ainda em bens
economicamente avaliáveis.
somente podem ser vendidas a estranho, após oferecimento delas aos demais acionistas.” In REQUIÃO, Rubens.
Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 588. Já MARTINS Sobre o mesmo
tema, verifique-se MARTINS entende que “Nas sociedades limitadas temos sócios que tanto podem ser pessoas
físicas ou jurídicas; apesar das doutrinas, o legislador teve em mente manter o hibridismo, de uma sociedade mista,
tanto de capital como de pessoas. Constituída por escrito particular ou público, fazem uso da denominação social,
espelhando o nome empresarial, mas é essencial conter a palavra limitada, por extenso ou abreviadamente.” In
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 216.
92
“A sociedade limitada é um tipo societário popular e democrático. Como o próprio nome diz, desenvolver uma
atividade econômica por meio de uma sociedade limitada é uma das maneiras de restringir a responsabilidade do
sócio e, com isso, proteger o seu patrimônio pessoal. Sob este fundamento societário podemos encontrar desde um
simples bar e lanchonete até uma grande indústria pertencente a grupo estrangeiro.” In MATTOS FILHO, Ary
Oswaldo, CHAVENCO, Maurício, HUBERT, Paulo et al. Radiografia das Sociedades Limitadas. São Paulo:
Núcleo de Estudos em Mercados e Investimentos. FGV Direito SP, Outubro de 2014. p. 1.
93
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 40ª edição. São Paulo: Forense, 2017. P. 223.
74
Note-se que por deter a quota parte do capital social que o sócio tem o direito de
participar nos resultados econômicos gerados pela atividade empresarial desenvolvida pela
sociedade. Neste mesmo sentido, importante frisar que a sua participação em tais resultados pode
estar ou não atrelada à quantidade de quotas detidas. Ou seja, é possível que, quando da
confecção do contrato social, os sócios optem por estabelecer uma distribuição desproporcional
dos lucros gerados entre eles, que não obedeça proporção que cada um detém no capital social.
As quotas sociais podem ser objeto de cessão por parte de seus titulares. No
entanto, essa transferência pode estar sujeita à aquiescência dos demais sócios integrantes da
sociedade. Neste caso, a transferência das quotas somente se opera caso os demais sócios
declinem do direito de preferência para a sua aquisição.
No que diz respeito aos titulares das quotas sociais, estes podem ser pessoas físicas
ou jurídicas. Sendo titulares de tais quotas, portanto, essas pessoas são denominadas sócios
quotistas da sociedade, já que integram o contrato social.
A primeira delas, muito comum, é que não poderá figurar cônjuges casados em
comunhão total ou parcial de bens. Esse fato é bastante relevante no setor da atividade rural. É
75
muito comum que o produtor rural desenvolva suas atividades em conjunto com sua esposa, que
figura verdadeiramente como sócia em tais atividades.
Se isso ocorrer, esses produtores rurais somente poderão figurar como sócios na
sociedade limitada se o regime de bens do casamento entre ambos for o da separação total. Esse é
o preceito havido no artigo 977 do Código Civil.
Essas determinações por meio de normas infra legais já foram revogadas pelo
DREI, com a edição da IN nº 46, de 1996. No entanto, suas determinações continuam a ser
aceitas pelas Juntas Comerciais dos estados federativos.
de que maneira os poderes sobre a sociedade serão exercidos por eles, diretamente, ou em seu
nome (por terceiros).
A sociedade empresária, sendo pessoa jurídica, deve manifestar sua vontade por
meio das pessoas naturais investidas, nesta função, pela lei e pelo respectivo ato
constitutivo (estatuto ou contrato social). O conjunto de sócios – por vezes,
reunidos formalmente num órgão, a assembleia geral – corresponde às pessoas
investidas na função de definir a vontade geral da sociedade empresária. Nesta
definição, em vista do princípio majoritário, prevalecerá a vontade ou o
entendimento da maioria.
94
COELHO, Fábio Ulhoa. Princípios do Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 46. Esse autor vai além:
“Convém destacar, desde logo, que o princípio majoritário, no direito societário, não é democrático. Pelo contrário,
quando fala em maioria, não está necessariamente prestigiando a vontade ou o entendimento da maior quantidade de
sócios. Se fosse democrático, o princípio majoritário adotaria a fórmula um sócio um voto; mas não é assim. A
maioria, no campo do direito societário, está invariavelmente associada ao risco assumido. Quanto maior o risco que
o sócio assume em determinada sociedade, maior será sua participação nas deliberações sociais. Deste modo, em
geral, o princípio majoritário se expressa pela atribuição de poder deliberativo ao sócio proporcionalmente às quotas
ou ações (votantes) tituladas. Em decorrência, numa sociedade limitada, o sócio titular de quotas representativas de
mais da metade do capital social é o majoritário; e na anônima, será o acionista titular de mais da metade das ações
votantes, presentes na assembleia geral. Esse sócio majoritário, sozinho, pode definir a vontade da sociedade
empresária, mesmo que com ele não concordem os demais. As deliberações sociais dependem da vontade ou
entendimento de outros sócios, além do majoritário, somente se previsto algum mecanismo que o assegure num
acordo de quotistas ou de acionistas.”
95
REQUIÃO ensina que “A assembleia é a congregação de sócios, convocada de modo formal, pelo administrador,
pelo sócio em caso de atrasos do administrador, pelo sócio ou sócios com mais de 20% do capital social ou pelo
conselho fiscal 95, dedicada a decidir sobre assuntos fundamentais, fixados em lei ou no contrato social.
Obrigatoriedade. A assembleia é obrigatória sempre que a sociedade limitada tenha mais de dez sócios, ou quando
for determinada pelo contrato social. Será dispensável se todos os sócios decidirem por escrito sobre matéria que
77
seria objeto da assembleia. Temas. Além dos assuntos que forem arrolados pelo contrato social, devem ser tratados
em assembleia, quando for obrigatória e condição da eficácia da deliberação: I – a aprovação das contas da
administração; II – a designação de administradores, por ato em separado; III – a destituição dos administradores; IV
– a remuneração destes, quando não for objeto do contrato social; V – a modificação do contrato social; VI – a
incorporação, a fusão, a transformação, a dissolução da sociedade, a cessação do estado de liquidação; VII – a
nomeação e destituição de liquidantes e o julgamento de suas contas; VIII – a eleição do conselho fiscal e
remuneração de seus membros.” In, REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2014. p. 637.
96
Segundo REQUIÃO, “Na sociedade limitada, a assembleia se instala com a presença, em primeira convocação, de
titulares de três quartos do capital social. Em segunda convocação, vale qualquer número de quotas para instalar a
assembleia. (...) Número de votos necessários para deliberar. (...) O regime inaugurado pelo Código Civil é mais
elaborado. A lei pode exigir: I – a unanimidade; II – três quartos do capital; III – dois terços do capital; IV – maioria
absoluta; V – maioria simples. A maioria absoluta é composta por mais da metade do capital presente na assembleia,
reunião ou ato (art. 1.010). (...) A unanimidade do capital é necessária quando se tratar de: a) nomeação de
administrador não sócio, caso o capital não esteja integralizado (art. 1.061); b) dissolução da sociedade com prazo
determinado (art. 1.033, II); c) mudança da nacionalidade da sociedade (art. 1.127). A maioria de três quartos do
capital é necessária para: a) alteração do contrato social; b) incorporação, fusão, dissolução da sociedade ou cessação
do estado de liquidação (arts. 1.071, V e VI, e 1.076, I). A maioria de dois terços do capital social é necessária para
a: a) destituição do administrador sócio nomeado no contrato social, caso este não disponha de modo diferente (art.
1.063, parágrafo 1º); b) para a designação de administrador não sócio (art. 1.061) se o capital já estiver completado.
A maioria absoluta do capital é exigida (art. 1.076, II) para: a) designação de administrador sócio realizada em ato
separado; b) a destituição do administrador, salvo se sócio e nomeado no contrato social; c) fixação da remuneração
dos administradores; d) impetração de concordata preventiva (art. 1.076, II); e) dissolução da sociedade com prazo
indeterminado (art. 1.033, III); f) exclusão do sócio por justa causa (art. 1.085). A maioria simples deve ser
observada para: a) aprovação das contas dos administradores (art. 1.071, I); b) nomeação e destituição dos
liquidantes e julgamento de suas contas (art. 1.071, VII); c) autorização aos liquidantes para onerar bens móveis ou
imóveis, ou contrair empréstimos para facilitar a liquidação (art. 1.105, parágrafo único); d) autorização para o
liquidante realizar rateios em favor dos sócios, por conta da partilha final, na apuração dos haveres da sociedade em
liquidação, no caso de já terem sido pagos os credores; e) outros temas, para os quais não se exija quórum especial,
no contrato ou na lei.” In REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva,
2014. pp. 639-641.
78
sociedade, e a forma de saída. Isso porque a saída imotivada de um sócio pode gerar a
descontinuidade da sociedade limitada.
Nos termos do artigo 1.060 do Código Civil, sociedades limitadas devem ser
administradas por pessoas físicas. Essas pessoas físicas podem se confundir com seus sócios, ou
não. Pode ser administrador apenas um de seus sócios ou mais de um; neste caso, assinando em
conjunto ou separadamente 97.
97
Artigo 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em
ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que
posteriormente adquiram essa qualidade.
98
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 627.
79
Por isso tudo, para os produtores rurais que desenvolvam suas atividades em uma
ou mais pessoas físicas, ou ainda jurídicas, esse tipo societário pode ser uma primeira alternativa,
haja vista a simplicidade para sua criação e o seu dia a dia societário.
Por fim, compre analisar um último tipo societário, a sociedade anônima, que se
verá adiante, é o mais complexo de todos os anteriores. Esse tipo societário é regido pela LSA,
diploma legal em vigor desde 1º de janeiro de 1977.
80
99
No entendimento de MARTINS, “(...) a sociedade anônima é a sociedade na qual o capital é dividido em ações,
limitando-se a responsabilidade do sócio ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Referidas
sociedades têm um modo de constituição próprio e o funcionamento está condicionado às normas estabelecidas na lei
ou no estatuto. Consideram-se as sociedades institucionais ou normativas e não contratuais, uma vez que nenhum
contrato liga os sócios entre si. O tipo da sociedade anônima tem regulação por leis especiais.” In MARTINS, Fran.
Curso de Direito Comercial. 40ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 237.
100
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 23-25.
101
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 1º Volume. 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2011. p. 95.
81
102
SALOMÃO FILHO, Calixto. O Novo Direito Societário. 4ª edição. 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2015. pp.
38 e 29.
103
KRAAKMAN, Reinier, ARMOUR, John, DAVIES, Paul et al. The Anatomy of Corporate Law – A
Comparative and Functional Approach. 2 ed. New York, Oxford. p. 5.
82
104
REQUIÃO continua: “Valores mobiliários são todos os papéis emitidos pelas sociedades anônimas para captação
de recursos financeiros no mercado. Mercado de balcão é atividade exercida fora de bolsas, relativas aos valores
mobiliários, assim consideradas as realizadas com a participação das empresas ou de profissionais que tenham por
objetivo distribuir aqueles valores. Atuam no exercício dessa atividade, fora da bolsa, no balcão de seus escritórios.
(...) Isso quer dizer que a companhia aberta somente será considerada como tal, se os valores mobiliários que ela
operar estiverem registrados naquela Comissão (de Valores Mobiliários). É evidente que a Comissão de Valores
Mobiliários só registrará os valores mobiliários segundo a atenção a certos requisitos e a certas formalidades por ela
determinados. (...) As outras sociedades que não se enquadrarem em tais requisitos serão consideradas sociedades
fechadas. (...) Embora a lei considere que a sociedade anônima constitua o tipo ideal da grande empresa moderna,
não deixa de transigir, reconhecendo a existência, entre nós, da pequena sociedade anônima. O art. 294 facilita a
organização de tais sociedades, que são sempre fechadas, com menos de vinte acionistas, cujas ações sejam
nominativas não conversíveis, e cujo patrimônio líquido for inferior ao valor de um milhão de reais. In, REQUIÃO,
Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 54-55.
105
Verifique-se passagem de REQUIÃO neste sentido: “Não se tem mais constrangimento em afirmar que a
sociedade anônima fechada é constituída nitidamente cum intuitu personae. Sua concepção não se prende
exclusivamente à formação do capital desconsiderando a qualidade pessoal dos sócios. Em nosso país, com efeito,
prevalece a sociedade anônima constituída tendo em vista o caráter pessoal dos sócios, ou a sua qualidade de
parentesco, e por isso chamada de sociedade anônima familiar. Explica-se, assim, a cláusula estatutária frequente,
fundada no art. 27, parágrafo 2º, da lei anterior, que dá guarida aos interesses pessoas do grupo de acionistas, no
sentido de que “os estatutos podem impor limitação à circulação as ações nominativas, contanto que regulem
minuciosamente tais limitações e não impeçam a sua negociação, nem sujeitem o acionista ao arbítrio da
administração da sociedade ou da maioria dos acionistas.” In, REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º
vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 56.
83
E é por esse motivo que este tipo societário está sujeito à regras mais rigorosas de
fiscalização, quer seja pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), quer seja pelo Banco
Central do Brasil. Esses órgãos visam garantir a segurança da economia popular, fiscalizando as
formas de capitação e o uso dos recursos captados.
Da mesma forma que as sociedades anônimas obtêm o registro para operar junto à
CVM, esta pode suspendê-lo ou até mesmo, cassá-lo. Neste caso, a companhia deverá fazer uma
Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) para adquirir suas ações no mercado, com a atenção
a determinados critérios. Esse procedimento visa impedir o “fechamento branco” de capital,
movimento em que as próprias sociedades acabam comprando, pouco a pouco suas ações,
impondo um fechamento de seu capital, sem o devido pagamento justo das ações adquiridas.
Outra característica fundamental das sociedades por ações é o seu capital social.
Ele é a verdadeira garantia de que a instituição seguirá com o andamento de suas operações,
previstas em seu objeto social. Nas palavras de EIZIRIK107:
106
Stakeholders é a denominação dada a todos aqueles que, de alguma forma, interagem com as sociedades.
107
EIZIRIK, Nelson. Notas sobre a Alteração do Objeto Social e o Direito de Recesso. In Direito Societário –
Estudos e Pareceres. (autor). São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 207.
84
Nesse sentido, Enrico Zanelli, em estudo clássico observa que é suficiente definir o
objeto social como a atividade econômica em vista da qual a sociedade foi
constituída e em torno da qual ela desenvolve seus negócios.
O capital social representa a garantia que os credores da sociedade tem para com
esta instituição. Portanto, a sua mutação, é totalmente regulada por lei. Aumento e redução do
capital social das sociedades anônimas devem respeitar rigorosamente os ditames legais.
Sumariamente, o capital social pode ser aumentado por meio de uma deliberação
em assembleia geral ordinária, onde os acionistas, por meio do mecanismo do voto, aprovam ou
rejeitam essa chamada de capital. É a chamada capitalização de novas ações a serem emitidas
pela companhia. Pode ainda este capital ser aumentado por meio da capitalização de valores
registrados contabilmente em reservas de capital.
E, de outro lado, o capital social poderá ser diminuído, também por aprovação em
assembleia geral, em dois casos: (i) para a absorção de prejuízos acumulados; ou (ii) quando
julgado excessivo em relação ao desenvolvimento das atividades previstas no objeto social da
companhia.
Este tipo societário privilegia a circulação de referidas ações, que podem ter a sua
propriedade transferida mediante simples apontamento no livro de registro das ações, indicando
os novos proprietários. As ações são títulos representativos do capital social das sociedades
85
anônimas, sendo, inclusive, item integrante do rol de títulos de crédito. Elas permitem aos seus
detentores participar da vida social, que se dá nas deliberações sociais, havidas nas assembleias.
Esse direito é resguardado também aos acionistas portadores de ações preferenciais, sem direito
de voto.
As ações podem ter ou não valor nominal. Na grande maioria dos casos, as
companhias abertas emitem ações sem valor nominal, fazendo, com isso, que a sua negociação
fique sempre a valor de mercado.
As movimentações das ações são registradas nos livros sociais. Nos termos do
artigo 100 da LSA, as sociedades anônimas deverão manter o Livro de Registro de Ações
Nominativas, o Livro de Transferência de Ações Nominativas, o Livro de Registro de Partes
Beneficiárias Nominativas, o Livro de Transferência de Partes Beneficiárias Nominativas, o
Livro de Atas de Assembleias Gerais, o Livro de Presença dos Acionistas, os livros de Atas das
Reuniões do Conselho de Administração (se existente) e Atas das Reuniões da Diretoria.
Também há o Livro de Atas e Pareceres do Conselho Fiscal.
Outrossim, a atividade rural a ser transferida para uma pessoa jurídica pode
requerer altos volumes de recursos financeiros, os quais poderão ser obtidos junto ao mercado
financeiro de capitais. Se este for o caso, necessariamente, os sócios de tal atividade deverão se
valer deste tipo societário, e ainda buscar autorização da CVM para tal capitação de recursos
junto ao mercado financeiro.
86
Tendo em vista a natureza de livre circulação das ações emitidas pelas sociedades
anônimas, o que acontece é que acabam por se formar diversos grupos de acionistas. No mais das
vezes, formam-se, basicamente, dois grupos: os controladores e os minoritários.
A lei societária não define quem é o acionista controlador, mas sim o que é
controle para fins societários. O acionista controlador é aquele que exerce o controle da
sociedade, independentemente da propriedade das ações por ele detidas.
O acionista controlador das sociedades por ações é, em vista de sua posição, titular
de direitos e também de obrigações, advindas da própria lei societária. Nas palavras de
REQUIÃO108
108
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 183-184.
87
Essa conduta vem expressa na regra do art. 116, pela qual o acionista controlador
deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objetivo e cumprir
a sua função social. Tem deveres e responsabilidades para com os acionistas
minoritários, a empresa, os que nela trabalham e a comunidade em que atua;
direitos e interesses esses que deve lealmente respeitar e atender. Assim entendida a
função de quem traça os destinos da sociedade, visando ao bem comum, realiza a
lei a política do governo que a promulgou, de tratar a companhia como uma
instituição.
(...)
O artigo 109 da LSA prevê os direitos essenciais dos acionistas. Sendo assim, tais
direitos não podem ser totalmente suprimidos. São eles: direito de participar dos lucros sociais;
de participar do acervo líquido na liquidação da companhia; de fiscalizar a administração da
sociedade; de preferência na subscrição de novas ações, partes beneficiárias conversíveis em
ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição.
109
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 208.
88
Como visto, da mesma forma que nas sociedades limitadas, muitos dos assuntos
relacionados com o andamento das atividades empresariais, nas sociedades anônimas, são
decididas pelo voto em reuniões de acionistas, as assembleias.
110
EIZIRIK, Nelson. A Lei das SA Comentada. Vol. II. 2ª ed. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 407.
89
A assembleia geral ordinária tem por objetivo decidir sobre os temas do artigo 122
da LSA, que são: tomar contas dos administradores; examinar e votar as demonstrações
contábeis; eleger os membros da administração e do conselho fiscal. Já a assembleia
extraordinária deve tratar dos demais casos, tais como, por exemplo, a reforma do estatuto
social111.
Da mesma forma que a lei civil, cada um dos temas tem quórum específico, de
instalação e de aprovação dos temas. Também como na lei civil, a LSA previu uma série de
requisitos para a sua convocação, instalação e cronograma dos trabalhos.
111
Nas palavras de REQUIÃO: “Tem a assembleia geral competência privativa, que lhe é outorgada pela lei (art.
122), para: I – reformar o estatuto social; II – eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da
companhia, não tendo entretanto competência para eleger e destituir diretores, pois compete essa escolha ao conselho
de administração; III – tomar, anualmente, as contas dos administradores, e deliberar sobre as demonstrações
financeiras por eles apresentadas; IV – autorizar a emissão de debêntures, ressalvada a competência do conselho de
administração para emitir debêntures simples, não conversíveis em ações e sem garantia real; V – suspender o
exercício dos direitos do acionista (art. 120); VI – deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorre
para a formação do capital social; VII – autorizar a emissão de partes beneficiárias; VIII – deliberar sobre
transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação; eleger e destituir liquidantes e
julgar-lhes as contas; IX – autorizar os administradores a confessar a falência e pedir concordata.” In REQUIÃO,
Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 213.
112
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 230-231.
90
A lei, no art. 136, prevê quorum qualificado para as deliberações seguintes, que
exigem para aprovação os votos dos acionistas detentores da metade, no mínimo,
das ações com direito a voto: I – criação de ações preferenciais ou aumento das
classes existentes, sem guardar proporção com as demais classes, salvo se já
previstos ou autorizados pelo estatuto; II – alteração nas preferências, vantagens e
condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais,
ou criação de nova classe mais favorecida; III – redução do dividendo obrigatório;
IV – fusão da companhia, ou sua incorporação em outra; V – participação em grupo
de sociedades (art. 265); VI – mudança do objeto da companhia; VII – cessação do
estado de liquidação da companhia; VIII – criação de partes beneficiárias; IX –
cisão da companhia; X – dissolução da companhia.
De maneira bem distinta das sociedades limitadas, nas sociedades por ações há
uma distinção bem nítida no que diz respeito ao controle societário. Nas sociedades limitadas,
para que o sócio tenha o controle absoluto da sociedade, é necessário que ele detenha 75%
(setenta e cinco) por cento das quotas emitidas pela sociedade. Já na sociedade anônima, o
controle absoluto é exercido por aquele acionista que detiver 50% (cinquenta por cento) mais
uma das ações com direito a voto emitidas pela sociedade.
administração (ou somente pela diretoria executiva naquelas empresas que não têm
conselho de administração, o que pode ser o caso em sociedades por ações, de
capital fechado). A administração tem a incumbência de administrar os assuntos da
empresa pelos acionistas. Em princípio, os acionistas controlam a empresa porque
eles elegem os conselheiros. 113”
Em análise aos termos transcritos anteriormente, que foi extraído de um livro não
pertencente ao mundo jurídico, pode-se ter a falsa impressão de que os administradores estão
subordinados aos acionistas das sociedades por ações.
Isso não é verdade. Essa discussão foi gerada de maneira proposital para
demonstrar o quanto a cultura de que os administradores atendem aos interesses dos acionistas é
bastante disseminado no País. Esse entendimento, conforme se verá mais adiante, é distorcido da
realidade normativa em vigor.
113
ROSS, Stephen A. WESTERFIELD, Randolph W., JORDAN, Bradoford D. et al. Fundamentos de
Administração Financeira. 9ª ed., Porto Alegre: AMGH, 2013. p. 7.
114
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º vol. 33ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014. pp. 237-238.
92
Também por isso não estão vinculados a nenhum dos acionistas. Visando clarificar
ainda mais essa questão, é importante verificar qual é a amplitude e a discricionariedade dos atos
praticados pelos administradores de sociedades empresárias no Brasil.
Como visto, nas sociedades por ações, a administração pode ser exercida por uma
diretoria ou, por ela e um conselho de administração. Tais órgãos têm membros eleitos direta ou
indiretamente pelos acionistas. Estes elegem os membros do conselho de administração, se for o
caso, e este nomeiam os administradores da sociedade.
93
4. CONCLUSÃO
Como explanado anteriormente, o produtor rural pessoa física tem à sua disposição
a constituição de uma pessoa jurídica que limite sua responsabilidade frente os riscos
mencionados. Uma vez que este produtor rural decida pela sua constituição, caberá apenas a ele,
sozinho ou com outros sócios, definir o tipo societário mais adequado ao porte do negócio por ele
desenvolvido.
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