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CADERNO

OBSERVATÓRIO
NACIONAL
DO MERCADO
DE TRABALHO

2
VOLUME
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Caderno do Observatório
Nacional do Mercado
de Trabalho
Volume 2

São Paulo, 2017


Presidente da República
Michel Temer

Ministro do Trabalho
Ronaldo Nogueira

Secretário de Políticas Públicas de Emprego


Leonardo José Arantes

Subsecretário de Economia Solidária


Natalino Oldakoski

Secretário de Relações do Trabalho


Carlos Cavalcante de Lacerda

Ministério do Trabalho
Secretaria de Políticas Públicas de Emprego – SPPE
Esplanada dos Ministérios Bloco F- Anexo Ala B,
2º Andar-Sala 211
Telefone (61) 2031-6667 | Fax (61) 2031-8272

Subsecretaria de Economia Solidária – Senaes


Esplanada dos Ministérios Bloco F - Sede
3º Andar - Sala 300
Telefone: (61) 2031-6533 / 6534 | Fax: (61) 2031-8221

Secretária de Inspeção do Trabalho


Esplanada dos Ministérios Bloco F - Anexo - Ala B,
1º Andar-Sala 176
Telefone: (61) 2031-6174/6162 | Fax: (61) 2031-8270
CEP: 70059-900 | Brasília – DF

Equipe Técnica Observatório Nacional do Mercado de Trabalho


Felipe Pateo, Mariana Almeida, Vinicius Lobo

MTb. © copyright 2017 - Ministério do Trabalho

Obs.: Os textos não refletem necessariamente a posição do Ministério do Trabalho


2
VOLUME
CADERNO
DO OBSERVATÓRIO
NACIONAL
DO MERCADO
DE TRABALHO
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
Rua Aurora, 957 – Centro – São Paulo – SP – CEP 012009-001
Fone: (11) 3874 5366 – Fax: (11) 3874 5394
E-mail: institucional@diesse.org.br / http://www.dieese.org.br

Direção Sindical Executiva


Luís Carlos de Oliveira – Presidente
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo Mogi das Cruzes e Região – SP
Raquel Kacelnikas – Vice-Presidente
Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de São Paulo Osasco e Região – SP
Nelsi Rodrigues da Silva – Secretário Geral
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – SP
Alex Sandro Ferreira da Silva – Diretor Executivo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco e Região – SP
Bernardino Jesus de Brito – Diretor Executivo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de São Paulo – SP
Carlos Donizeti França de Oliveira – Diretor Executivo
Federação dos Trabalhadores em Serviços de Asseio e Conservação Ambiental Urbana e Áreas Verdes do Estado de São Paulo – SP
Cibele Granito Santana – Diretora Executiva
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de Campinas – SP
Josinaldo José de Barros – Diretor Executivo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Materiais Elétricos de Guarulhos Arujá Mairiporã e Santa Isabel – SP
Mara Luzia Feltes – Diretora Executiva
Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramentos Perícias Informações Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul – RS
Maria das Graças de Oliveira – Diretora Executiva
Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de Pernambuco – PE
Paulo Roberto dos Santos Pissinini Junior – Diretor Executivo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Máquinas Mecânicas de Material Elétrico de Veículos
e Peças Automotivas da Grande Curitiba – PR
Paulo de Tarso Guedes de Brito Costa – Diretor Executivo
Sindicato dos Eletricitários da Bahia – BA
Zenaide Honório – Diretora Executiva
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – SP

Direção técnica
Clemente Ganz Lúcio – Diretor Técnico
Patrícia Toledo Pelatieri – Coordenadora Pesquisa e Tecnologia
José Silvestre Prado de Oliveira – Coordenador de Relações Sindicais
Fausto Augusto Jr – Coordenador de Educação e Comunicação
Ângela Maria Schwengber – Coordenadora de Estudos em Políticas Públicas
Rosana de Freitas – Coordenadora Administrativa e Financeira

Equipe técnica responsável


Ademir Figueiredo, Angela Schwengber, Joana Cabete Biava, Fernando Adura Martins, Patrícia Laczynski de Souza, Paulo Jäger,
Pedro dos Santos Bezerra Neto, Samira Schatzmann, Tiago Cortes, Vera Gebrim, Geni Marques, Iara Heger (revisão)

Projeto gráfico
Caco Bisol Produção Gráfica

Diagramação
Zeta Studio

DIEESE

D419 Caderno do Observatório Nacional do Mercado de Trabalho./


Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos.
São Paulo: DIEESE, 2017 .

140 p.
ISBN 978-85-87326-84-X

1. Observatório do Mercado de Trabalho 2. Mercado de


Trabalho 3. Metodologia I. DIEESE II Título.

CDU 331.5
SUMÁRIO 5

7 APRESENTAÇÃO

12 INTRODUÇÃO

17 CONHECER PARA TRANSFORMAR: A PRODUÇÃO DE


INFORMAÇÕES NO DIEESE
Equipe técnica do Núcleo de Produção de Informações
e dos Observatórios do Trabalho do DIEESE

34 O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE


TRABALHO: TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS
METODOLÓGICAS
Vinicius Lobo, Viviani Anze, Felipe Pateo, Mariana Almeida,
Augusto Albuquerque

49 A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO


DE TRABALHO DA PARAÍBA: ENTRE ESCOLHAS
METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS
Mario Henrique Ladosky, Nadine Gualberto Agra
67 O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL)
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

6 E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS


DE TRABALHO: ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES
E DESAFIOS
Francisco E. B. Vargas

82 AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO


DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO
NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO: BREVE EXPOSIÇÃO
DO CASO PARAENSE
José Raimundo Trindade

101 OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO


MARANHÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE
IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Tadeu Gomes Teixeira, Flávia de Almeida Moura,
Bruno Rogens Ramos Bezerra

116 OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE


PERNAMBUCO: ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS
RESULTADOS PRELIMINARES
Cristiano Wellington Noberto Ramalho, Sidartha Sória e Silva
Apresentação 7

A Secretaria de Políticas Públicas de vidadas para enfrentar os desafios de


Emprego do Ministério do Trabalho implementação das políticas públicas
(MTb) apresenta a Coleção Caderno de emprego, trabalho e renda. Atual-
do Observatório Nacional do Mercado mente, a maior parte dos recursos do
de Trabalho, desenvolvida em parceria Fundo de Amparo ao Trabalhador
com o Departamento Intersindical de (FAT) é destinada a políticas passi-
Estatística e Estudos Socioeconômi- vas de emprego, notadamente os be-
cos (DIEESE). Esta segunda edição nefícios do seguro-desemprego e do
do Caderno, além de trazer um ar- abono salarial. De outro lado, as po-
tigo sobre a experiência do DIEESE líticas ativas, como a intermediação
na produção de informações sobre o de mão de obra e a qualificação pro-
trabalho e as políticas públicas nes- fissional, merecem maior atenção por
te campo, reúne as experiências das parte do sistema público de emprego,
parcerias estabelecidas pelo Ministé- na medida em que buscam reduzir o
rio com cinco universidades federais tempo de desemprego e possibilitam
para a implantação de unidades de uma inserção mais qualificada do
observação do mercado de trabalho e trabalhador no mercado de trabalho.
o processo de implementação do Pai- A integração e efetividade dessas po-
nel de Monitoramento do Mercado líticas constitui para nós um desafio
de Trabalho pelo MTb. e, nesse sentido, a disponibilização e
análise de dados contribui para que o
As parcerias com o DIEESE e tam- gestor público conheça melhor a rea-
bém com as universidades fazem lidade em que deve atuar, resultando
parte de um conjunto de ações en- em ações mais efetivas.
No que se refere à intermediação de a necessidade “de que o MTE pro-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

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mão de obra, por exemplo, perce- videncie a disponibilização de infor-
be-se que, entre 2013 e 2015, houve mações atualizadas dos indicadores
uma queda constante no número e, quando possível, os bancos de da-
de trabalhadores inscritos, encami- dos que subsidiam os seus cálculos”.
nhados e colocados, bem como das
vagas oferecidas no sistema público. O papel de sistematizar o conjunto de
Em 2015, pouco mais de 10% dos informações e produzir conhecimen-
trabalhadores que procuraram a rede to é atribuído ao Observatório Na-
de atendimento do Sistema Nacional cional do Mercado de Trabalho, que,
de Empregos (Sine) conseguiram ser ademais, assume a tarefa de se cons-
contratados por meio dos serviços de tituir como intermediário entre as
intermediação oferecidos por meio áreas responsáveis pela produção dos
do órgão e apenas 29% dos emprega- dados e seus usuários, internos ou ex-
dores que ofereceram vagas no siste- ternos ao Ministério. Nesse sentido,
ma tiveram sucesso no recrutamento.
A organização do Observatório deve
Os números chamam a atenção, so- prever ramificações regionais, e nesses
bretudo em um contexto socioeco- casos pode ser importante a parceria
nômico de crise e, como o Ministério com institutos de pesquisas e com as
do Trabalho é o ator central das polí- entidades representantes dos trabalha-
ticas públicas de emprego, há que se dores e dos empregadores, buscando
atuar proativamente. abrir caminhos para a coleta de infor-
mações produzidas por esses atores do
Faz-se necessário, para isso, a profis- mercado de trabalho. [...] a forma de
sionalização da política pública por atendimento do serviço de emprego a
meio do aumento da utilização das essas comunidades pode se beneficiar
estatísticas produzidas pelo próprio e se alimentar das informações obtidas
Ministério e por outros órgãos pú- juntos a esses parceiros. Ademais, isso
blicos como subsídio para interven- pode ser importante para a realização
ção e tomada de decisão no âmbito de estudos prospectivos que apontem
da implementação de políticas pú- os caminhos do futuro do trabalho”
blicas. Tal necessidade foi apontada (MORETTO, 2007, p. 214-215).
inclusive pelo Tribunal de Contas
da União, por meio do Acórdão do O reconhecimento pelo governo des-
TCU 732/2015, que identificou, a sa necessária ramificação foi oficiali-
respeito dos indicadores de efetivi- zado com a publicação do Decreto nº
dade da política pública de trabalho, 8.893, em 3 de novembro de 2016,
APRESENTAÇÃO

que, no artigo 14, inciso VIII, atribui que orientaram a consolidação de


9
a esta Secretaria de Políticas Públicas um método de produção de infor-
de Emprego a função de “promover mações socioeconômicas baseado no
o desenvolvimento da Rede de Ob- conhecimento científico da realidade
servatório do Trabalho”. do mercado de trabalho brasileiro.
Aproveitando-se da experiência his-
O Ministério do Trabalho conta tórica do DIEESE na produção de
com uma rede física de atendimento, informações, na constituição dos
composta por 559 unidades próprias Observatórios do Trabalho estadu-
e 1.558 unidades administradas por ais e municipais e no seu desenvol-
estados e municípios, que executam vimento metodológico, este Caderno
as políticas públicas de emprego por apresenta também o relato de um
meio de convênios com a União. processo recentemente iniciado com
Para exercer o papel de coordenação o fomento, pelo MTb, a partir de su-
dessa política junto aos entes federa- porte metodológico do DIEESE, à
dos, o Ministério tem caminhado no constituição de Observatórios vincu-
sentido de formar uma rede de par- lados a universidades federais.
ceiros que possibilite maior aproxi-
mação entre a administração central No conjunto de artigos apresentados
e as realidades locais, em constante nesse Caderno é possível perceber a
transformação. peculiaridade do processo de cons-
trução de cada um dos observatórios
É com este objetivo que se avança na parceiros do processo, vinculados à:
construção da Rede Observatórios Universidade Federal de Campina
do Trabalho, inclusive estabelecendo Grande, Universidade Federal do
no Convênio MTb/SPPE/Codefat Maranhão, Universidade Federal do
DIEESE, Siconv nº 811485/2014 a Pará, Universidade Federal de Pelo-
meta de “Criação e articulação da tas e Universidade Federal de Per-
Rede Nacional de Observatórios do nambuco1.
Trabalho”, da qual este Caderno é
um dos produtos. Nesse processo, as universidades,
além de desenvolverem metodolo-
O artigo introdutório intitulado gias e indicadores para debater as
“Co­nhecer para Transformar: A tra- realidades dos mercados locais, par-
jetória do DIEESE na produção de ticiparam ativamente da construção
1. Nesta primeira versão foram
informações”, de autoria do Depar- de indicadores que foram utilizados convidadas universidades que
participaram de uma oficina
tamento, apresenta os condicionantes pelo Observatório Nacional deste realizada no encontro da Associação
Brasileira de Estudos do Trabalho
históricos, conceituais e as diretrizes Ministério para construção do Pai- (Abet) em 2015.
nel de Monitoramento do Mercado entendidas como resultantes de um
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

10
de Trabalho, experiência também afastamento histórico da universida-
relatada neste Caderno. Destaca-se, de brasileira em relação às demandas
deste esforço conjunto, a ênfase na sociais e da desvalorização da exten-
construção de indicadores com espe- são universitária como componente
cial foco no subsídio à tomada de de- indissociável do ensino e pesquisa no
cisão de políticas públicas e à oferta tripé universitário, o que dificulta o
de informações relevantes para em- estabelecimento de uma cultura de
pregadores e trabalhadores. colaboração entre a gestão pública e
o ambiente acadêmico.
Envolver as universidades federais
nesse processo significa convocar Outro fator explicativo deste afasta-
essas instituições para desenvolver o mento é a fragilidade institucional
conhecimento aplicado às políticas das políticas de trabalho nas gestões
públicas e provocar o diálogo com estaduais e municipais. Desta forma,
a sociedade civil e o poder público. cabe ao Ministério o papel de fomen-
Registram-se, desta forma, avanços tador da utilização de ferramental
importantes, como o envolvimento analítico e processos de inteligência
de um número ampliado de estu- informacional como parte do neces-
dantes, pesquisadores e professores sário processo de profissionalização
na temática do mercado de trabalho, das políticas públicas de trabalho,
fomentando a massa crítica de infor- aproximando produtores de conheci-
mação e análises disponíveis para os mento e tomadores de decisão. É este
tomadores de decisão. o processo iniciado com as parcerias
aqui apresentadas e que deve se apro-
Por outro lado, é possível perceber, fundar e institucionalizar.
nas experiências dos Observatórios
criados nas universidades, o grande Esperamos que todos façam uma
desafio que é garantir que esse co- boa leitura.
nhecimento seja efetivamente aplica-
do ao aperfeiçoamento das políticas
públicas de emprego, trabalho e ren-
Leonardo José Arantes
da. Essas dificuldades podem ser Secretário de Políticas Públicas de Emprego
APRESENTAÇÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão 732/2015: plenário. Brasília, DF,
2015. Relator: Augusto Sherman. Disponível em: www.tcu.gov.br/consultas/juris/docs/judoc/
acord/20150409/ac_0732_12_15_p.doc
MORETTO, Amilton José. O sistema público de emprego no Brasil: uma construção
inacabada. Tese (Doutorado) - Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2007.
Introdução
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

12

O Ministério do Trabalho (MTb), por meio da Secretaria de Políticas Públi-


cas de Emprego (SPPE), e o Departamento Intersindical de Estatística e Estu-
dos Socioeconômicos (DIEESE), apresentam o segundo número da Coleção
Caderno do Observatório Nacional do Mercado de Trabalho. A Coleção tem
o objetivo de fomentar a elaboração e difundir estudos sobre as temáticas do
mundo do trabalho e metodologias de monitoramento das políticas públicas
de emprego, trabalho e renda1.

Esta publicação faz parte do projeto Desenvolvimento de instrumentos e atua-


lização dos indicadores de apoio à gestão de políticas públicas de emprego, tra-
balho e renda, desenvolvido por meio do Convênio MTPS/SPPE/Codefat nº
003/2014 - DIEESE - Siconv nº 811485/2014, firmado em 19 de outubro de
2014. Em uma das metas do Convênio estão previstas ações para fortalecer o
Observatório Nacional do Mercado de Trabalho e articular uma Rede Nacio-
nal de Observatórios do Trabalho.
1. Para mais informações sobre a
política editorial da Coleção Caderno
do Observatório Nacional do Entre as ações estão atividades e elaboração de produtos voltados para a articu-
Mercado de Trabalho, ver introdução
do Volume 1, disponível no ambiente lação dos atores sociais e o desenvolvimento metodológico junto aos técnicos
virtual da Rede Observatórios do
Trabalho (www.redeot.colivre.net). e pesquisadores envolvidos com as questões relacionadas ao trabalho e às polí-
Diferentemente do primeiro volume,
o atual foi editado apenas em ticas públicas de emprego, trabalho e renda. Destaca-se que, no segundo ano
formato eletrônico, em consonância
com a estratégia mais geral de do Convênio, foi desenvolvido e lançado o ambiente virtual da Rede Obser-
construção dos instrumentos da
Rede Observatórios do Trabalho, vatórios do Trabalho, o qual possibilita a interação entre os membros da Rede
que busca avançar na utilização
dos recursos de Tecnologia da por meio de diversas ferramentas de comunicação e compartilhamento de es-
Informação e Comunicação para
articulação dos membros da Rede. tudos e experiências. Além disso, foi realizado um levantamento de experiên-
INTRODUÇÃO

cias de políticas públicas de emprego, anterior e, ao mesmo tempo, subsidiar


13
trabalho e renda em municípios com mais diretamente o desenvolvimento
mais de 100 mil habitantes. Entre as do trabalho dos Observatórios, tendo
atividades, além da 3ª Oficina Meto- em vista contribuir para a articulação
dológica com técnicos de Observató- dos pesquisadores envolvidos na Rede
rios do Trabalho e do 2º Seminário Observatórios do Trabalho.
da Rede Observatórios do Trabalho,
que deram continuidade às ativida- O primeiro artigo apresentado no ca-
des do primeiro ano, foi realizado derno é “Conhecer para transformar: A
ainda o curso de formação dos téc- produção de informações no DIEESE”.
nicos de Observatórios do Trabalho No artigo são apresentados alguns as-
de cinco universidades federais, que pectos históricos da trajetória da insti-
estabeleceram parcerias com o Mi- tuição, criada em 1955, para produzir
nistério do Trabalho desde o final de informações para a classe trabalha-
2015. Todas as atividades debateram dora, visando à transformação social.
diferentes aspectos da produção de Desde os anos 1990, os Observató-
informações para analise local. rios do Trabalho desenvolvidos pelo
DIEESE em diferentes parcerias insti-
Buscando sistematizar as reflexões tucionais permitiram que se avançasse
desenvolvidas pelos Observatórios do no desenvolvimento de uma meto-
Trabalho e o conteúdo debatido nes- dologia de produção de informações
sas atividades, o Caderno do Observa- voltada para a análise do mercado de
tório Nacional do Mercado de Trabalho trabalho local, possibilitando conhe-
– Volume 2 reúne artigos que trazem cer melhor as especificidades de cada
reflexões sobre a produção de infor- localidade e contribuir assim para que
mações para análise local pelos Obser- os atores sociais ajam sobre a reali-
vatórios do Trabalho. Para tratar deste dade, através de políticas públicas de
tema, foi elaborada uma proposta, emprego, trabalho e renda mais ade-
pactuada com os autores, de elabora- quadas. Por fim, o artigo apresenta
ção de artigos que sistematizassem o alguns princípios de boas práticas ado-
processo de desenvolvimento meto- tados pela instituição na produção de
dológico desenvolvido pelos Obser- informações.
vatórios existentes ou em processo de
constituição, bem como os resultados O segundo artigo foi elaborado por
alcançados em termos analíticos. Vinicius Lobo, Viviani Anze, Felipe
Pateo, Mariana Almeida e Augusto
Pretendeu-se assim diversificar o con- Albuquerque, equipe do Observató-
teúdo publicado em relação ao volume rio Nacional do Mercado de Traba-
lho (ONMT) do MTb. Como revela so de constituição dos Observatórios
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

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o título “O Observatório Nacional do do Trabalho nas cinco universidades
Mercado de Trabalho: Trajetória Ins- federais a partir da parceria com o
titucional e Premissas Metodológicas”, MTb e detalha as atividades desen-
o artigo situa a criação do ONMT volvidas pelo Observatório do Mer-
como parte da estratégia do MTb cado de Trabalho da Paraíba. Em
para a produção de informações seguida, o texto detalha o processo
para o sistema público de emprego, de desenvolvimento dos indicadores
em consonância com as recomenda- relativos à mobilidade ocupacional e
ções da Organização Internacional saúde do trabalhador, eixos temáticos
do Trabalho (OIT). Em seguida, o aprofundados pelo Observatório no
artigo apresenta as premissas meto- trabalho, desenvolvido em conjunto
dológicas que embasaram a estra- com o ONMT e as demais univer-
tégia desenvolvida desde 2014 pelo sidades federais. Por fim, os autores
ONMT para promover levantamen- analisam alguns indicadores sele-
to, análise e disponibilização de dados cionados para traçar um quadro do
sobre o mercado de trabalho ao MTb mercado de trabalho paraibano e dos
e às gestões de estados e municípios, municípios acompanhados pelo Ob-
bem como aos demais atores sociais servatório, evidenciando a vulnera-
envolvidos com as políticas públi- bilidade e precariedade ocupacional
cas de emprego, trabalho e renda no dessas localidades. Entre os princi-
Brasil. Destaca-se nesse sentido, além pais desafios do Observatório está
das parcerias desenvolvidas com o o de avançar na articulação com os
DIEESE, Ipea e as universidades fe- atores sociais locais envolvidos com
derais o desenvolvimento do Painel as políticas públicas de emprego,
de Monitoramento do Mercado de para que o conhecimento produzido
Trabalho, com informações sobre pelo Observatório seja compartilha-
o emprego e as políticas públicas de do e aprimorado, contribuindo para
emprego, trabalho e renda no Brasil. a transformação da realidade local.

O artigo dos professores Mario Hen- O quarto artigo, “O Observató-


rique Ladosky (Universidade Federal rio Social do Trabalho (UFPel) e as
de Campina Grande) e Nadine Gual- Transformações dos Mercados Locais
berto Agra (Universidade Estadual de Trabalho: Abordagens Analíti-
da Paraíba), “A experiência do Obser- cas, Limites e Desafios”, do professor
vatório do Mercado de Trabalho da Francisco Vargas, da Universidade
Paraíba: entre escolhas metodológicas e Federal de Pelotas (UFPel), apresen-
desafios futuros”, apresenta o proces- ta o desenvolvimento metodológico
INTRODUÇÃO

e analítico do único Observatório, (Universidade Federal do Pará) apre-


15
entre os Observatórios das universi- senta o processo de constituição e o
dades federais presentes neste Cader- desenvolvimento metodológico do
no, que já existia antes da parceria Observatório Paraense do Mercado
estabelecida entre o MTb. O artigo, de Trabalho. O autor apresenta o
portanto, apresenta o processo de processo de trabalho e de produção
constituição e desenvolvimento me- de informações desenvolvido pelo
todológico do Observatório Social Observatório e a proposta de indi-
do Trabalho da UFPel, partindo de cadores desenvolvida para monitora-
uma leitura das transformações con- mento do mercado de trabalho local,
temporâneas do mundo do trabalho, o que se faz após uma apresentação
caracterizado pela permanência do da abordagem teórica geral que o
desemprego e pela multiplicação de autor tem acerca das condicionantes
formas de inserção ocupacional fle- das relações de trabalho no sistema
xíveis precárias, pano de fundo para capitalista e suas especificidades re-
a análise do mercado de trabalho lo- sultantes do processo histórico de
cal, particularmente dos municípios formação do mercado de trabalho
de Pelotas e Rio Grande. Por fim, o brasileiro. Por fim, o autor analisa al-
autor apresenta as dificuldades para guns dos indicadores propostos para
promover o debate para além do am- acompanhamento do emprego e da
biente acadêmico, indicando o estí- renda no estado e em alguns municí-
mulo ao diálogo social com os atores pios do Pará.
sociais envolvidos com o mundo do
trabalho um dos principais desafios a O artigo seguinte, de autoria dos
serem enfrentados, o que deve trazer professores Tadeu Gomes Teixeira,
avanços para o trabalho desenvolvi- Flávia de Almeida Moura e Bruno
do pelo Observatório, além de con- Rogens Ramos Bezerra (Universi-
tribuir para a superação dos dilemas dade Federal do Maranhão), é inti-
enfrentados pelo mundo do traba- tulado “Observatório do Mercado de
lho, por meio da construção de diag- Trabalho do Maranhão (OMT-MA):
nósticos e ações convergentes. considerações sobre o processo de im-
plantação e organização”. Os autores
“As Dimensões da Forma Social Mer- apresentam os objetivos e o processo
cado de Trabalho e as Fontes de Infor- de constituição do Observatório e a
mação Necessárias à sua Compreensão: proposta de desenvolvimento de es-
Breve Exposição do Caso Paraense” é tudos e estratégia de relação com os
o quinto artigo do Caderno, no qual atores sociais, apresentando os prin-
o professor José Raimundo Trindade cipais instrumentos produzidos para
a disseminação do conhecimento. gência e desagregação territorial que
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

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No escopo pactuado com as demais orienta as análises do Observatório.
universidades federais e o ONMT, o Os autores fazem uma análise do
OMT-MA assumiu a tarefa de de- mercado de trabalho formal per-
senvolver indicadores relacionados nambucano, a partir de indicadores
à caracterização demográfica e da estruturais e conjunturais, revelando
atividade, paralelamente ao acompa- os impactos da crise econômica re-
nhamento estrutural e conjuntural cente sobre o nível de emprego e a
do mercado de trabalho local, o que distribuição por setor de atividade.
é feito por meio de relatórios com di- Por fim, indicam como atividade es-
ferentes periodicidades e recorte ter- tratégica para o próximo período o
ritorial. Por fim, os autores analisam investimento na comunicação para
algumas informações estatísticas, aprimorar a disseminação do traba-
as quais revelam a precariedade do lho desenvolvido pelo Observatório
mercado de trabalho maranhense. para toda a sociedade.

O sétimo e último artigo do Ca- A leitura dos artigos presentes neste


derno do ONMT, “Observatório do Caderno possibilita compreender os
Mercado do Trabalho de Pernambu- desafios comuns enfrentados pelos
co: Atividades Iniciais e Alguns Resul- Observatórios do Trabalho no pro-
tados Preliminares”, é de autoria dos cesso de desenvolvimento metodoló-
professores Cristiano Wellington gico e na produção de informações.
Noberto Ramalho e Sidartha Sória Espera-se que o fortalecimento da
e Silva (Universidade Federal de Per- Rede Observatórios do Trabalho e
nambuco). Como nos demais arti- a continuidade de iniciativas para a
gos, os autores iniciam apresentando troca de experiências e metodologias,
os objetivos e o processo de consti- como este Caderno, possibilitem a
tuição do Observatório para, em se- superação conjunta destas dificulda-
guida, apresentar os procedimentos des, particularmente no que diz res-
metodológicos adotados, indicando peito ao fortalecimento dos espaços
quais as bases de dados utilizadas, os de debate e participação social das
instrumentos elaborados para a dis- políticas públicas de emprego, traba-
seminação da informação e a abran- lho e renda.
Conhecer para transformar: 17
A produção de informações
no DIEESE*

Em mais de sessenta anos de história, mantida e dirigida pelo movimen-


o DIEESE tem produzido conheci- to sindical brasileiro, que congrega
mento para subsidiar as lutas dos tra- mais de setecentas entidades sindi-
balhadores por melhores condições de cais representativas de trabalhadores
vida e trabalho. Esse conhecimento, de todas as atividades econômicas e
além de sustentar a atuação das enti- regiões geográficas do país, incluídas
dades sindicais - Sindicatos, Federa- nove Centrais Sindicais. Foi funda-
ções, Confederações e Centrais – tem do em 1955, a partir da iniciativa
apoiado a ação de diversas instituições de um grupo de dirigentes sindicais
da sociedade civil e dos Poderes Exe- que, diante do crescimento da clas-
cutivo, Legislativo e Judiciário. Vários se operária em uma sociedade cada
são os espaços em que as informações vez mais industrial e urbana, sentiu
produzidas pelo DIEESE são utiliza- a necessidade de atuar de forma mais
das para a compreensão da realidade, qualificada na disputa entre capital e
como, entre outros, Congresso Nacio- trabalho pela distribuição da renda.
nal, prefeituras, governos estaduais, Para isso, optou pela criação de uma
governo federal, fóruns de promoção entidade que, por meio da utilização
do diálogo social e conselhos de políti- de instrumental científico, produzis-
cas públicas. A produção desse conhe- se conhecimento técnico, pela pers-
cimento tem na pesquisa, na assessoria pectiva da classe trabalhadora, para
e na formação seus eixos estruturantes. subsidiar a ação sindical.
* Este artigo foi elaborado pela
equipe técnica do Núcleo de
Produção de Informações e dos
O DIEESE é uma experiência úni- O primeiro objeto de estudo do Observatórios do Trabalho do
DIEESE, com contribuições da equipe
ca no mundo: instituição fundada, DIEESE foi o custo de vida da classe de editoração do DIEESE.
trabalhadora, que resultou na cria- elemento fundamental na política
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

18
ção, em 1959, do Índice do Custo distributiva, foi objeto de vários es-
de Vida (ICV-DIEESE), cuja finali- tudos que procuravam revelar sua
dade era embasar as reivindicações deterioração e apresentar alternati-
dos trabalhadores por reajustes sala- vas para a recuperação de seu valor,
riais nas negociações coletivas entre sendo o de maior destaque o Salário
patrões e empregados. A motivação Mínimo Necessário2 para o sustento
dos sindicalistas da época para o de- dos trabalhadores e de suas famílias.
senvolvimento desse indicador era Esse indicador passou a ser calcula-
a desconfiança gerada pelos índices do e divulgado sistematicamente e
apresentados pelo patronato como tornou-se uma importante referência
parâmetro para a recomposição do no debate sobre a política de salário
poder aquisitivo dos salários. Quase mínimo no Brasil3.
duas décadas após sua implantação,
mais precisamente no ano de 1977, Ainda no início dos anos de 1980,
diante de denúncia de manipulação quando os níveis de desemprego
do índice oficial de inflação relativo atingiram patamares preocupan-
ao ano de 1973 -, o ICV-DIEESE foi tes, o DIEESE, em parceria com a
reconhecido como o índice que refle- Fundação Seade, elaborou a PED
tia o real aumento do custo de vida – Pesquisa de Emprego e Desem-
1. O índice relativo à inflação oficial
correspondia a 13,7 % e o do DIEESE, no Brasil1, o que projeta a entidade prego, implementada em meados da
a 26,9%
no cenário nacional e lhe confere a década. Para essa pesquisa, desenvol-
2. O Salário Mínimo Necessário
é a projeção do valor que o credibilidade que o acompanha des- veu-se um instrumental capaz de in-
salário mínimo deveria ter para
fazer frente aos gastos de uma de então. vestigar a heterogeneidade típica do
“família típica”, definida como um
casal e dois filhos. Para maiores mercado de trabalho brasileiro, que
detalhes, ver a metodologia do
indicador aqui: https://www. No decorrer dos anos 1970 e 1980, possibilitou desvendar as diversas
dieese.org.br/metodologia/
metodologiaCestaBasica2016.pdf com o processo continuado de des- formas de ocultação do desemprego,
3. Em 1984, o salário mínimo,
antes definido regionalmente,
valorização dos salários em geral – e viabilizando a aferição do verdadeiro
foi unificado nacionalmente, e
passou a figurar entre os direitos
do salário mínimo, em particular -, número de desempregados e da pre-
dos trabalhadores rurais e urbanos
assegurados, posteriormente,
o DIEESE dedicou-se ao desenvol- cariedade dos empregos oferecidos
pela Constituição Federal de 1988:
“IV - salário mínimo, fixado em lei,
vimento de análises sobre o poder no país. Em 1993, a PED foi reco-
nacionalmente unificado, capaz de
atender às suas necessidades vitais
de compra da população e a distri- nhecida pelo Conselho Deliberativo
básicas [do trabalhador] e às de sua
família com moradia, alimentação,
buição da renda. Inúmeras foram as do Fundo de Amparo ao Trabalha-
educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência
avaliações realizadas pela instituição dor (Codefat) como a mais adequa-
social, com reajustes periódicos que
lhe preservem o poder aquisitivo”
a respeito dos efeitos das sucessivas da para a compreensão do mercado
(artigo 7º, inciso IV da CF 1988).
políticas econômicas decretadas pe- de trabalho no Brasil e passou a ser
4. Resolução Codefat nº 54 de
14 de dezembro de 1993: http:// los governos sobre os trabalhadores. considerada a pesquisa oficial do Sis-
portalfat.mte.gov.br/wp-content/
uploads/2016/01/Res54.pdf Também o salário mínimo, como tema Nacional de Emprego (Sine)4, o
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

que foi reconhecido em 2003 e 2005 A década de 1990 caracteriza-se por


19
nos Congressos do Sistema Público aguda crise econômica, altos índices
de Emprego, Trabalho e Renda, re- de precarização do mercado de tra-
forçando-a como instrumento para balho e reformas que enfraquecem
subsidiar a formulação e monitora- a capacidade do Estado de liderar
mento das políticas públicas de em- processos de investimentos e de de-
prego, trabalho e renda. senvolver políticas sociais, que se
associam ao processo de descentra-
Foi também a partir do final dos lização das políticas públicas deter-
anos de 1970 e no decorrer da década minado pela Constituição Federal
de 1980, com o avanço significativo de 1988. Coloca-se, então, a necessi-
da atuação sindical e das negociações dade urgente de geração de trabalho
coletivas de trabalho, que novos desa- e renda e abre-se a agenda pública
fios se colocam aos trabalhadores em sobre desenvolvimento local e forta-
sua relação com o capital. Nesse con- lecimento da participação e do con-
texto, ampliou-se consideravelmente trole social nas políticas públicas. O
o campo de análise do DIEESE, DIEESE é, assim, instado pelo mo-
que passou a enfatizar outras dimen- vimento sindical a subsidiá-lo tam-
sões das relações de trabalho, como bém nessa temática e desenvolve os
processos de trabalho, automação, Observatórios do Trabalho, de modo
formação profissional e sistema de a municiar prefeituras e governos
relações de trabalho. Ainda nesse pe- com a produção de conhecimento
ríodo, investiu-se na implantação do para as políticas públicas no campo
SAIS-DIEESE – Sistema de Acom- do trabalho.
panhamento de Informações Sindi-
cais, composto por três sistemas para A partir dos anos de 1990 e nas déca-
o armazenamento de dados sobre das de 2000 e 2010, amplia-se con-
acordos e convenções coletivas de sideravelmente o campo de atuação
trabalho (SACC-DIEESE), reajus- do movimento sindical e intensifica-
tes e pisos salariais (SAS-DIEESE) se sua intervenção nos mais diver-
e greves (SAG-DIEESE). Posterior- sos fóruns públicos de debate, o que
mente, já na segunda metade dos leva o DIEESE a incorporar uma
anos 2000, a experiência acumulada imensa gama de conteúdos à agen-
pelo DIEESE no desenvolvimento da temática, seguindo na trajetória
da metodologia para a estruturação de extrapolar seu objetivo inicial de
do SAIS foi fundamental para sub- instrumentalização das negociações
sidiar o Ministério do Trabalho na coletivas. Hoje, a instituição produz
constituição do Sistema Mediador. conhecimento sobre os mais variados
temas, tratando desde questões que mercado de trabalho brasileiro, por
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

20
se referem diretamente às condições, exemplo, deve-se considerar sua pro-
relações e regulamentação do traba- funda heterogeneidade estrutural, a
lho até as atinentes à formulação de flexibilidade contratual da força de
políticas públicas, sempre visando à trabalho, a alta rotatividade e a in-
transformação social. tensa transição entre postos de tra-
balho com maior ou menor proteção
PROCESSO DE PRODUÇÃO social. Nesse sentido, embora uma
DE INFORMAÇÕES PARA A base de dados possa contribuir mais
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL para o conhecimento de um aspec-
to desse mercado de trabalho do que
A produção de informações pelo outra, deve-se utilizar um conjunto
DIEESE tem origem e destino na de fontes de informações de nature-
ação dos trabalhadores. As inves- zas distintas e complementares.
tigações realizadas pela instituição
partem da necessidade de supera- Existe no Brasil, hoje, uma ampla
ção de situações-problema e geram disponibilidade de dados estatísticos
conhecimentos que alimentam as sobre os mais variados aspectos so-
organizações de representação dos ciais e econômicos. Para que esse vo-
trabalhadores - e outras instituições lume de dados seja transformado em
sociais e públicas - para uma atuação informação, é necessária sua organi-
qualificada nos espaços constituídos zação a partir da intencionalidade
para sua resolução. do analista, com base em um diag-
nóstico inicial acerca do problema
Para a produção de informações, é e das medidas de superação a serem
necessário que algumas etapas sejam adotadas, que deverá ser confrontado
percorridas, de modo a viabilizar a com os dados analisados em todas as
transformação de dados brutos em etapas da produção das informações.
subsídio para a ação. O primeiro mo-
mento desse percurso é a escolha das A produção de conhecimento só
fontes de dados para a investigação ocorre quando os atores se apropriam
do fenômeno sobre o qual se quer in- da informação gerada para sua ação,
tervir, que deve levar em conta sua o que requer a utilização de recursos
complexidade para o levantamen- que possibilitem essa apropriação,
to da maior diversidade possível de por meio de linguagem clara e trans-
informações que permitam elaborar parência na exposição da metodolo-
um diagnóstico completo do pro- gia empregada. O DIEESE, como
blema. Se o objeto de análise for o mediador entre o objeto analisado e
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

o sujeito (movimento sindical, ou a conjunto de dados brutos, que são


21
sociedade, ou um governo), desen- coletados por diversos métodos es-
volveu vários instrumentos para via- tatísticos (diretos ou indiretos) ou
bilizar a apreensão, pelo sujeito, do de prospecção qualitativa. A maio-
conhecimento produzido. ria dos livros textos de Estatística
define “dados” simplesmente como
Produção de dados, informações, valores assumidos por uma determi-
conhecimento e ação não corres- nada variável, podendo ser qualitati-
pondem, no entanto, a etapas subse- vos ou quantitativos. A organização
quentes do processo. O movimento, da informação pode ser feita com
ainda que se oriente na direção da base em determinados recortes que
ação, caracteriza-se pela retroali- expressam relações entre variáveis e
mentação entre as etapas, buscando é disponibilizada por meio de ferra-
uma aproximação sucessiva do obje- mentas analíticas, como, entre ou-
to analisado: graus de complexidade tros, anuários compactos, sistema de
do conhecimento produzido são am- informações geográficas, boletins,
pliados a partir da ação e da disputa estudos e pesquisas. A análise dessas
ao longo do processo. informações e indicadores sociais,
aliada a atividades formativas para a
A disputa em torno do conhecimento disseminação de conteúdo, permite
produzido se dá em todas as etapas. sua apropriação por parte dos atores
A produção de um dado em uma sociais, possibilitando desse modo a
pesquisa primária, por exemplo, é produção do conhecimento que re-
antecedida de uma definição do que troalimenta a produção de informa-
será perguntado. Na organização dos ção em novas etapas.
dados definem-se as informações que
serão analisadas e as que serão des- Os indicadores sociais são um ins-
prezadas. A disseminação da infor- trumento operacional que permite o
mação pode possibilitar ou restringir monitoramento da realidade social,
a apropriação do conhecimento pe- que, ao contextualizar e comparar,
los diversos segmentos da sociedade. contribui para a interpretação dos
Nesse sentido, reafirma-se que a par- diversos fenômenos sociais e para a
ticipação no processo de produção de formulação de estratégias de ação. A
conhecimento é um recurso de poder ciência estatística é uma das ciências
nas ações que serão realizadas. que contribui enormemente para o
conhecimento de determinado objeto
Uma síntese desse processo é des- de estudo, pois permite agrupamento
crita partindo-se de um volumoso por critérios de similaridade e com-
parações entre universos com carac- outro lado, observa-se a forte presen-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

22
terísticas distintas. Tomemos como ça de trabalhadores por conta-própria
exemplo a comparação entre a posição (26,6%), empregados sem carteira de
dos ocupados em mercados de traba- trabalho assinada (15,7%), trabalha-
lho tão distintos quanto os do Acre e dores na produção para o próprio
de São Paulo, cujos dados estão discri- consumo (8,3%) e trabalhadores
minados na Tabela 1, a seguir. não remunerados (6,8%), formas de
inserção ocupacional menos prote-
A comparação entre os dados apre- gidas do ponto de vista trabalhista e
sentados possibilita visualizar a previdenciário. Esses dados podem
heterogeneidade da estrutura ocu- ser relacionados a outros indicadores
pacional dos dois estados. Em São econômicos e sociais que revelem o
Paulo, destaca-se a importância do contraste da realidade local, confor-
emprego com carteira de trabalho mando um panorama analítico da
assinada, situação de mais da metade situação complexa que se pretende
(52,3%) dos ocupados. No Acre, por conhecer em profundidade.

TABELA 1
Distribuição dos ocupados por posição na ocupação
Acre e São Paulo 2015 (em %)
Posição na ocupação Acre São Paulo
Empregado com carteira 20,9 52,3
Militar 0,9 0,3
Funcionário público estatutário 11,4 6,2
Empregado sem carteira 15,7 10,5
Trabalhador doméstico com carteira 1,8 2,7
Trabalhador doméstico sem carteira 4,9 4,1
Conta própria 26,6 18,5
Empregador 2,4 4,0
Trabalhador na produção para o próprio consumo 8,3 0,4
Trabalhador na construção para o próprio uso 0,2 0,1
Não remunerado 6,8 0,7
Total 100,0 100,0
Total (em nºs absolutos) 330.409 21.362.148

Fonte: IBGE.Pnad
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

ANUÁRIO DOS TRABALHADORES: mas então tratados, como Gênero,


23
RESULTADO DO PROCESSO DE Educação Profissional, Saúde do
PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES Trabalhador, Trabalho nas Micro e
Pequenas Empresas e Trabalho no
No DIEESE, a ideia de se produ- Meio Rural. Essas publicações sub-
zir anuários estatísticos compactos sidiaram, além do movimento sindi-
surgiu no final da década de 1980, cal, gestores públicos e organizações
a partir de uma experiência realiza- da sociedade civil.
da pelo movimento sindical alemão.
Em 1993, lançou-se o “Anuário dos Além desses, com vistas a aprofundar
Trabalhadores”, publicação esta- o conhecimento das relações entre
tística de “bolso”, que conta com o políticas públicas de emprego e pro-
maior número de edições compac- teção social e estrutura e dinâmica
tas elaboradas pelo Departamento. do mercado de trabalho brasileiro, o
Esse Anuário apresenta informações DIEESE e o Ministério do Trabalho
relativas às principais dimensões do lançaram, em 2008, o “Anuário do
“mundo do trabalho”, como, entre Sistema Público de Emprego, Tra-
outras, mercado de trabalho, relações balho e Renda”, que se tornou uma
de trabalho e condições de trabalho. espécie de guia para a produção de
Atualmente, já em parceria com o informações sobre o mercado de tra-
Ministério do Trabalho, a publicação balho e as políticas públicas de em-
está em sua 12ª edição. A obra reúne prego, trabalho e renda.
um conjunto de indicadores coleta-
dos em mais de 30 bases de dados Os anuários estatísticos do DIEESE,
estatísticas e, por seu formato, que como o próprio nome evidencia,
facilita a consulta a qualquer infor- apresentam valores dos indicadores
mação, tem se notabilizando como disponíveis no último ano e com-
importante subsídio às negociações parações temporais de médio prazo
coletivas no Brasil. para alguns indicadores seleciona-
dos. Registre-se, ainda, que, além de
A experiência adquirida pelo exibir e propor indicadores, a pu­bli­
DIEESE na elaboração do “Anuário cação contém diversos textos meto-
dos Trabalhadores” e a ampliação dológicos que justificam as escolhas
da temática que compõe a agenda realizadas, o que pode ser importante
sindical levou, na primeira década instrumento pedagógico de orienta-
dos anos 2000, ao desenvolvimento ção para a produção de planos tabu-
de outras publicações com o mes- lares e sugestões técnicas de recorte
mo formato. Diversos foram os te- de variáveis e suas categorias.
A produção de cada um dos Anuários determinado território (município,
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

24
Estatísticos tem início com a defini- estado ou outra área delimitada) e
ção das informações necessárias para estabelecem como ponto de partida a
subsidiar os atores envolvidos na dis- organização e a produção de infor-
puta social. Em seguida, levantam-se mações associadas à produção de
as fontes de informação disponíveis, análises e ao fomento ao debate e
dentre as quais, as produzidas pelo participação social. A organização
próprio DIEESE: Custo de Vida de informações é o ponto de partida
(ICV e Cesta Básica), Emprego e ao qual o Observatório do Trabalho
Desemprego (PED) e Indicadores volta recorrentemente ao longo da
Sindicais (Sistemas de Acompanha- sua atividade, trazendo os elementos
mento de Contratações Coletivas de da conjuntura e a percepção dos ato-
Trabalho, de Greves e de Reajustes res sociais para uma (re)construção
Salariais). Também são coletadas constante da interpretação acerca
informações de bases de dados pro- dos fenômenos analisados.
duzidas por outras instituições, que
se distribuem em Registros Admi- O primeiro desafio dos Observató-
nistrativos e Pesquisas (domicilia- rios do Trabalho ocorre na etapa de
res, em estabelecimentos, amostrais, coleta dos dados brutos, na qual de-
censitárias etc.), cuja organização e vem ser identificadas as fontes de in-
tratamento são centralizados pelo formações que produzem estatísticas
Núcleo de Produção de Informações referentes à área geográfica em que
(NPI), unidade de trabalho criada o Observatório atua. No caso dos
pelo DIEESE em fevereiro de 2006 municípios brasileiros, essas infor-
para a sistematização do processo de mações são escassas, o que leva à ne-
produção de informações e padro- cessidade de identificação de fontes
nização institucional no tratamento de informação locais, como registros
das bases de dados secundárias. administrativos da gestão pública
municipal, por exemplo, ou a produ-
OBSERVATÓRIO DO TRABALHO zir pesquisas primárias no local para
DO DIEESE: INFORMAÇÕES PARA preencher essa lacuna.
ANÁLISE LOCAL E A GESTÃO
DAS POLÍTICAS DE EMPREGO, Nesse sentido, ao refletir sobre os re-
TRABALHO E RENDA gistros administrativos municipais e
as estruturas locais, o Observatório
Os Observatórios do Trabalho do contribui para explorar suas poten-
DIEESE têm por finalidade formu- cialidades e aprimorá-los. Pode-se
lar conhecimento para a ação num tomar como exemplo a consulta aos
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

registros de matrículas em escolas O uso de registros administrativos


25
municipais, que podem ser utilizados implica cuidados ainda mais acu-
para a elaboração de um cadastro de- rados por parte dos pesquisadores,
talhado das famílias; ou o desenvol- dado que os dados por eles coletados
vimento de pesquisas que utilizem não tinham a finalidade de prestar-se
as estruturas locais para a coleta de à análise; seu objetivo inicial era au-
informações, como postos do Sine, xiliar na fiscalização (no caso da Re-
escolas municipais e hospitais. Ain- lação Anual de Informações Sociais
da, em muitos casos, a produção de – Rais/MTb, por exemplo, para o
informações nos Observatórios do controle da nacionalização da mão de
Trabalho dá-se a partir da utilização obra por meio da “Lei dos 2/3”) ou na
de metodologias qualitativas, tais gestão de diferentes políticas públicas
como diagnósticos participativos, (como o Seguro Desemprego/MTb).
entrevistas em profundidade, grupos Assim, os registros administrativos
focais e oficinas de diálogo social, possuem restrições que derivam de
entre outras. Essas metodologias, sua função, como por exemplo uma
além de viabilizarem a captação de menor consistência em informações
informações importantes, aportam que não são fundamentais para o seu
conhecimentos relevantes para a objetivo administrativo (como a vari-
análise de dados secundários. ável raça/cor no caso da Rais, muitas
vezes preenchida pelo contador da
O segundo desafio dos Observató- empresa). Ainda assim, o Brasil é o
rios do Trabalho para a produção de único país da América do Sul com
informações é a escolha dos dados registros administrativos que possi-
mais adequados à investigação que se bilitam um monitoramento regular
quer realizar, o que depende de pro- do mercado de trabalho e vem aos
fundo conhecimento sobre as bases poucos aprimorando as consistências
de dados disponíveis. das suas informações, ainda que com
alto custo para o MTb/FAT.
No que se refere às pesquisas – do-
miciliares ou em estabelecimentos -, Ainda sobre o uso dos registros admi-
é fundamental que se tenha total do- nistrativos, é importante destacar que
mínio das metodologias empregadas, o Instituto Brasileiro de Geografia e
uma vez que cada uma delas adota Estatística (IBGE) reconhece o avanço
conceitos, variáveis, nomenclaturas e na sua qualidade. Pode-se citar o caso
períodos de referência distintos, sen- da Lei dos Registros Públicos5 que
5. IBGE. Mudança Demográfica
do mais ou menos apropriadas aos propiciou grande avanço no desenvol- no Brasil no Início do Século
XXI: subsídios para as projeções
objetivos postos. vimento dos registros civis, permitin- populacionais. 2015. 156 p.
do alteração nos fluxos de envio dos pesquisas domiciliares, dicionários
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

26
dados pelos Cartórios e centralização de variáveis e uma metodologia de-
na coleta e processamento pelo IBGE. talhada e pública. Neste sentido, a
Entretanto, a própria melhora na qua- primeira etapa da organização da
lidade dos registros administrativos informação deve ser a elaboração
em países com dimensões continentais de um dicionário de variáveis dos
como o Brasil se deve fundamental- bancos de dados relacionais.
mente à melhora da própria realidade
dos trabalhadores e suas famílias nas Os dicionários de variáveis (existentes
diferentes regiões do país. Os contras- ou desenvolvidos pelos Observatórios
tes regionais em infraestrutura social do Trabalho) são elaborados para
e acesso a direitos são limitantes na compor um cadastro de fontes e va-
superação de problemas históricos de riáveis, no qual são descritas todas
sub-registro e registro tardio. as variáveis disponíveis nos bancos de
dados que possam ser analisadas pe-
Um limite atualmente para o uso los Observatórios, relacionando por
dos registros administrativos decorre tema as principais características das
da desarticulação entre as políticas fontes e variáveis (cobertura, regula-
públicas. Essa desarticulação, parti- ridade, série histórica, etc.).
cularmente presente entre as políti-
cas públicas de emprego, trabalho e As informações assim organizadas
renda, resulta da persistente setoriali- são agrupadas a partir das necessi-
zação do Estado brasileiro e, além de dades impostas pelo objeto que será
aumentar o custo da produção de in- analisado. O conhecimento multi-
formações e o retrabalho6, implica a disciplinar é fundamental na hora
produção de registros administrativos de definição dos indicadores que se-
com diferentes unidades de registro rão desenvolvidos e monitorados, sen-
(e sem um identificador único), co- do os critérios estatísticos usados para
bertura, períodos de captação, entre contribuir em determinada análise, e
outras restrições que impossibilitam não como definidores da direção que
a comparação entre as suas informa- a análise irá tomar. No mesmo senti-
ções. Os Observatórios do Trabalho do, para que a compreensão dos fenô-
também podem contribuir para supe- menos do mercado de trabalho local
rar esses problemas, ao reforçar esse avance em cada território, é preciso
6. Na Bahia, a organização das
políticas públicas em torno dos diagnóstico e propor mudanças. que a produção de indicadores se des-
Territórios de Identidade, está sendo
uma iniciativa para promover a cole da organização a partir das bases
superação dessa desarticulação:
http://www.seplan.ba.gov.br/ Nem todos os registros administra- de dados que permitem o seu cálculo,
modules/conteudo/conteudo.
php?conteudo=17 tivos possuem, como no caso das e passe cada vez mais para uma orga-
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

nização temática e das dimensões que muitos moradores do interior vão até
27
fazem parte do complexo ocupacio- a capital para a inscrição nos progra-
nal e territorial a ser compreendido. mas do Ministério do Trabalho.

No processo de produção de infor- Ainda na perspectiva da organiza-


mações para a intervenção no terri- ção das informações, uma vez de-
tório, realizada pelos Observatórios senvolvidos os indicadores que serão
do Trabalho, a apresentação de da- analisados e monitorados, é preciso
dos em tabelas e gráficos não é su- realizar o registro da metodologia
ficiente para revelar a dinâmica da empregada na sua construção.
realidade. Surge a necessidade de Os Observatórios do Trabalho do
abordar também a informação es- DIEESE desenvolveram para este
pacializada, para complementar a fim as fichas de qualificação de
informação e análise setorial. Junta- indicadores, que apresentam me-
mente com os gráficos e tabelas, os todologia, interpretação, limitações
cartogramas passam a ser preponde- e potencialidades dos indicadores,
rantes na elaboração dos indicadores. com o objetivo tanto de esclarecer os
A informação espacializada permite, usuários, quanto de permitir sua re-
por exemplo, entre outras análises, plicação posteriormente pelo próprio
contemplar a dinâmica dos fluxos da ou por outros Observatórios.
população no território, como mos-
tra a Figura 1, a seguir, que apresenta Para viabilizar a apropriação das in-
o fluxo de trabalhadores inscritos no formações produzidas, e assim per-
Sine do Território de Identidade Me- mitir a produção de conhecimento,
tropolitana de Salvador, segundo seu os Observatórios do Trabalho man-
município de residência. têm um diálogo permanente entre
técnicos, gestores públicos e atores
O mapa apresenta o fluxo de todos os sociais que farão uso das informa-
moradores da Bahia que fizeram sua ções, de modo a possibilitar sua in-
inscrição no posto do Sine estadual cidência sobre as políticas públicas
localizado na região metropolitana de de emprego, trabalho e renda. O
Salvador, revelando a atração do Ter- fomento a espaços de participação
ritório de Identidade Metropolitana dos diversos atores e à promoção do
de Salvador em relação ao fluxo de diálogo social constitui um insumo
inscritos no estado: embora haja pos- para a produção do conhecimento e
tos do Sine localizados em municípios contribui para a apropriação da in-
mais próximos de suas residências, formação produzida.
FIGURA 1
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

28

Por fim, o conhecimento produzido transformar-se em subsidio para a


precisa ser interpretado conjunta- definição de um plano de ação que
mente pelos técnicos do Observató- oriente as políticas públicas de em-
rio do Trabalho, pela gestão pública prego, trabalho e renda no território.
local e pelos atores sociais, com o
objetivo de definir as ações a serem Como apontado anteriormente, as
adotadas naquele território. O co- fases da produção de informações
nhecimento produzido deve, então, para a ação não caminham apenas
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

em uma direção, sendo um proces- manter também um diálogo com


29
so que se retroalimenta entre as os responsáveis pela organização dos
etapas de coleta, organização, aná- bancos de dados para superar a inter-
lise e ação. A aproximação sucessiva dição de linguagem. A própria ação
em relação à análise de determinado proposta pode, ainda, incluir uma
fenômeno depende da reorganização alteração em relação às informações
constante das informações coletadas coletadas, caso permita avançar na
e da reformulação de indicadores análise do objeto de estudo ou no
a partir das novas pistas identifica- monitoramento da política pública
das. Além disso, os técnicos devem (ver Box 1).

BOX 1
Indicadores para acompanhar e avaliar as políticas públicas
“Cada etapa do ciclo envolve o uso de um conjunto de indicadores de diferentes naturezas e propriedades, em função
das necessidades intrínsecas das atividades aí envolvidas” (JANNUZZI, 2005, p 147 e 148). No caso da elaboração do
diagnóstico, os indicadores devem abranger as temáticas da realidade social. Além de indicadores com boa confiabilidade
e validade, os pesquisadores ou técnicos devem atentar para sua possibilidade de desagregação ao nível territorial
desejado, ou seja, ao nível intraterritório (até municípios, quando considerarmos as políticas públicas estaduais, e
intramunicipais, no caso de políticas públicas municipais). Assim é possível comparar as diferentes regiões e se os
resultados esperados da ação afetam parcelas da população mais vulneráveis. A matriz de indicadores define a situação
inicial, cuja intervenção pública irá operar, permitindo, portanto, o seu acompanhamento quanto às mudanças desejadas.

Na fase da formulação da política pública (ou dos programas), o conjunto de indicadores pode ser mais reduzido e
deverá estar relacionado aos objetivos que se quer alcançar. Segundo Jannuzzi (2005), os indicadores de formulação
da política pública devem ser baseados em informações sobre a realidade social (assim como na fase de diagnóstico),
mas devem estar focados nas temáticas relacionadas aos objetivos concretos da política pública.

Na etapa de implementação da política pública, são necessários indicadores de monitoramento, que devem primar
pela periodicidade com que estão disponíveis. Como esse é um grande problema, uma vez que as informações
produzidas pelas agências estatísticas não são, em geral, específicas para os propósitos de monitoramento de
programas, uma solução é a elaboração de indicadores baseados em registros administrativos.

O ideal é, nessa fase, estruturar um sistema de indicadores que permitam monitorar a implementação processual
do programa na lógica insumo-processo e resultado-impacto. Ou seja, os indicadores deverão possibilitar a análise
quanto ao dispêndio realizado por algum tipo de unidade operacional prestadora de serviços ou subprojeto; uso
operacional dos recursos humanos, financeiros e físicos; geração de produtos e a percepção dos efeitos sociais mais
amplos dos programas (Jannuzzi, 2005).

Enquanto os indicadores de monitoramento permitem subsidiar o gestor público e os conselhos de participação


quanto ao ritmo e à forma de implementação dos programas, os indicadores de avaliação são referentes aos
resultados e efeitos almejados. Neste último caso, os indicadores devem “revelar” a eficácia (resultados) e a efetividade
social (impactos) dos programas e podem ser levantados a partir de pesquisas amostrais, registros administrativos,
grupos focais, por exemplo (Jannuzzi, 2005).
PRINCÍPIOS E BOAS PRÁTICAS NA zida pode vir a ser objeto de manu-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

30
PRODUÇÃO E USO DE INFORMAÇÕES seio inapropriado e o uso dos bancos
de dados disponibilizados, pelos pes-
Um dos primeiros desafios para uma quisadores pode ser limitado.
instituição se consolidar na produ-
ção e uso de informações é sua cre- Um caso especial dessa situação, e
dibilidade junto à sociedade. Para que demanda atenção adicional na
isso, além da adoção de princípios e hora de se registrar a metodologia,
diretrizes sólidos na produção das in- se apresenta quando há necessidade
formações, bem como, dos próprios de mudanças metodológicas. Con-
princípios institucionais, é funda- siderando que a sociedade está em
mental que estes se tornem públicos. constante transformação social, esta
Estes princípios tratam de: i) trans- pode implicar a necessidade de ajus-
parência metodológica, ii) validação te na forma de captação da infor-
da produção e uso das informações mação, sejam pesquisas ou registros
pelos atores sociais; e iii) cooperação administrativos. Isso representa, a
interinstitucional. rigor, um aprimoramento das fontes
de dados. Nesse sentido, uma dire-
Do ponto de vista da transparência triz importante na produção e uso
metodológica, é importante que a de informações é a sistematização de
metodologia completa da produção toda a documentação das bases de
das informações esteja devidamente dados com o propósito de analisar os
registrada, e disponível para quem eventos ocorridos ao longo do tempo
quiser consultar. Ela tem como sem perder a dimensão histórica em
missão possibilitar a reprodução da que está referenciada a mudança me-
pesquisa realizada ou do indicador todológica7.
elaborado e, como princípio básico,
contribui para o debate público das Para além da produção primária das
ideias e concepções sobre o mercado informações, a transparência meto-
de trabalho de diferentes instituições. dológica é igualmente importante
O cálculo de um indicador apresen- quando da utilização de dados se-
tado por uma instituição possui di- cundários. No caso da utilização das
versos atributos, e a publicidade do informações oriundas dos cadastros
método utilizado para sua criação públicos e registros administrativos
possibilita o debate sobre estas carac- recomenda-se, por exemplo, que se
terísticas, o que reforça a credibilida- registre a data de processamento da
de institucional. Sem a transparência informação, pois a informação ex-
metodológica, a informação produ- traída reflete a posição dos dados
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

no momento que a informação é lho brasileiro. Esse diagnóstico par-


31
prestada. Esse aspecto é particular- ticipativo tem o propósito de captar
mente importante para os registros aspectos não revelados diretamente
administrativos, como o Caged e o pelas fontes usuais de informação, a
Seguro Desemprego, em que é há a partir da interação entre os atores so-
necessidade de reconhecimento da ciais, bem como de realçar atributos
parcialidade temporal dos dados, qualitativos que se dão no processo
ou seja, que eles podem se alterar se dinâmico do mercado de trabalho.
forem extraídos em outro momento Além disso, as informações produ-
do tempo. Além disso, cabe diferen- zidas serão analisadas sob o prisma
ciar e identificar fatores que podem dos atores sociais beneficiários dire-
ocasionar a sub-declaração e a de- tos desse levantamento. A essa etapa
claração tardia, tanto para entender atribui-se o nome de validação social
as implicações destas questões nos pelos atores sociais e constitui fator
indicadores elaborados, em termos decisivo na relação com a sociedade
de relativização da sua capacidade quando o assunto é a revisão oca-
de explicação, mas também com sionada por mudança metodológica.
vistas a contribuir para o aprimo- No processo de produção de infor-
ramento metodológico8, através do mação, essa fase é indispensável para
feedback entre usuários e produtores a apropriação da informação e a pro-
de informação. Estas questões são dução do conhecimento. Para que
relevantes quando se trata de apu- um instrumento seja de efetiva uti-
rar a maneira mais adequada para lidade para a transformação social,
a reconstituição de séries históricas, precisa ser apropriado pelos sujeitos
tendo em vista às características do desta transformação.
banco de dados utilizado.
Por fim, em relação à cooperação
No que tange ao envolvimento dos institucional, este é um princípio
atores sociais, este confere qualida- adotado pelo DIEESE na produção e
de e validação social das informações uso de informações. Esta cooperação
produzidas, uma vez que eles são tem se materializado na ampliação
demandantes e beneficiários destas. do acesso às fontes de informações,
Desde o início do processo de pro- na realização de uma pesquisa pri-
dução de informações, o DIEESE mária, na análise de aspectos do
realiza atividades que envolvem o mercado de trabalho e, sobretudo,
movimento sindical e a sociedade na constituição de redes de institui-
na elaboração de panoramas sobre ções preocupadas com a elaboração
os problemas do mercado de traba- do adequado diagnóstico, análise do
mercado de trabalho e implementa- nhecimento da instituição e sua
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

32
ção de medidas de políticas públicas presença é verificada na mobilização
de mercado de trabalho. Esse princí- da produção para temas pertinentes
pio tem como estratégia o fortaleci- da agenda do trabalho, que se am-
mento interinstitucional na disputa plia consideravelmente, tornando-se
pelo acesso às informações estatísti- imperativa a ampliação e a conso-
cas públicas, na constituição de uma lidação do conhecimento das bases
rede de pesquisadores multidiscipli- de dados existentes na sociedade que
nares para a análise do mercado de contribuem para o reconhecimento
trabalho e na ampliação de parceiros da realidade do mercado de traba-
na disputa da narrativa pública sobre lho. Apenas para ilustrar, a política
os determinantes da desestruturação de valorização do salário mínimo e
do mercado de trabalho e do subde- a discussão sobre os impactos da ro-
senvolvimento social, econômico e tatividade no mercado de trabalho
ambiental brasileiro. são dois exemplos de ampla mobili-
zação interna de produção de infor-
Esses princípios são renovados co- mação para subsidiar essas ações de
tidianamente na produção de co- política nacional.
CONHECER PARA TRANSFORMAR:
A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES NO DIEESE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33
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Thesaurus, 2004. p.154- 176.
O Observatório Nacional do Mercado
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

34
de Trabalho: Trajetória Institucional
e Premissas Metodológicas
Vinicius Lobo, Viviani Anze, Felipe Pateo, Mariana Almeida*
Augusto Albuquerque**

INTRODUÇÃO: SERVIÇOS PÚBLICOS DE EMPREGO E


INFORMAÇÕES SOBRE MERCADO DE TRABALHO

O debate sobre a consolidação dos sistemas públicos de emprego ganha im-


portância especialmente no período posterior à Segunda Guerra Mundial,
quando os Estados e as Organizações Internacionais focam suas preocupa-
ções com a reorganização da produção, não mais para o esforço bélico, mas
sim, para a produção de bens de consumo e de produção. Em 1944, a Or-
ganização Internacional do Trabalho (OIT), pensando na transição de uma
* Analistas de Políticas Sociais do
Observatório Nacional do Mercado economia de guerra para uma economia de paz, e considerando que isso
de Trabalho do Ministério do
Trabalho. implicaria em requalificação e realocação da mão de obra, publicou duas nor-
** Estagiário do Observatório
Nacional do Mercado de Trabalho do
mas internacionais1: a Recomendação nº 71, sobre a organização do emprego
Ministério do Trabalho.
(transição da guerra à paz) e a Recomendação nº 72, sobre o serviço público
1. As normas internacionais
desenvolvidas pela Organização de emprego.
Internacional do Trabalho (OIT)
assumem a forma de convenções
e recomendações internacionais
sobre o trabalho. As convenções são Segundo Ricca (1983), essas normas já indicavam uma mudança conceitual
tratados internacionais sujeitos à
ratificação pelos Estados Membros em relação à função que vinham desempenhando os serviços públicos de
da Organização. As recomendações
são instrumentos não vinculativos – emprego no período entreguerras, quando passam a dar ênfase à promoção
muitas vezes tratando dos mesmos
assuntos das convenções – que do emprego e à organização do mercado de trabalho, em substituição à ên-
definem a orientação das políticas
públicas e ações nacionais. Desta fase ao auxílio aos desempregados individualmente. Essa nova orientação
forma, observa-se que as normas
internacionais da OIT podem teórica que toma corpo nas normas de 1944, por sua vez, influenciou aquelas
influenciar consideravelmente a
legislação, as políticas públicas e as orientações que foram adotadas no pós-guerra, em 1948, e que dariam as
decisões judiciais adotadas a nível
nacional, bem como as disposições bases definitivas para a organização dos serviços públicos de emprego nos
das convenções coletivas de
trabalho. países desenvolvidos.
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

Assim, com as normas de 1948 – a portanto, apesar de conservar a fun-


35
Convenção OIT, nº 88; e a Recomen- ção social original desse tipo de ser-
dação OIT, nº 83 – a proposta de um viço – de apoiar trabalhadores em
serviço público de emprego ganha situação de desemprego – passa a ter
sua forma mais acabada e, conforme um novo objetivo, de caráter econô-
o Art. 1º da Convenção OIT, nº 88, mico, o de organizar o mercado de
este serviço passa a ter como tarefa es- trabalho. Para isso, são detalhados
sencial “a melhor organização possível os instrumentos básicos, necessá-
do mercado de trabalho como parte rios para atingir tal objetivo, entre
integrante do programa nacional des- os quais se destaca aquele expresso
tinado a assegurar e manter o pleno na alínea “c” do Art.6º: “recolher e
emprego, assim como desenvolver e analisar, em colaboração, se for ne-
utilizar os recursos produtivos”. Con- cessário, com outras autoridades,
forme analisa Moretto (2007), essas assim como com os empregadores e
normas, ao reafirmarem o sentido das os sindicatos, todas as informações
mudanças na concepção teórica das de que se dispõe sobre a situação do
normas de 1944, vão muito além da mercado de emprego e sua evolução
simples especificação de como organi- provável no país e nas diferentes in-
zar o serviço de emprego, como está dústrias, profissões ou regiões”. As-
expresso no título da Convenção nº sim, uma instância capaz de recolher
88. O desemprego passa a ser consi- e analisar informações sobre o mer-
derado como resultado do mau fun- cado de trabalho é, por conseguinte,
cionamento da economia e não mais de acordo com a Convenção nº 88
como uma adversidade do indivíduo e da OIT, uma peça básica dos servi-
o pleno emprego passa a ser um objeti- ços de emprego, que devem dispor
vo concreto. A ação racional, realizada dela e colocá-la em interação com as
pelos serviços públicos de emprego, de demais políticas e ações, como, por
organização do mercado de trabalho, exemplo, a intermediação de mão de
retirando obstáculos e reduzindo os obra e a qualificação profissional.
desequilíbrios, contribuiria assim para
se atingir o pleno emprego. Dessa for- O Brasil ratificou a Convenção da
ma, o serviço de emprego passa então OIT, de nº 88 em 25 de abril de
a justificar-se como um instrumento 1957, e a instituição do Sistema Na-
organizador e regulador do mercado cional de Emprego (Sine), por meio
de trabalho (RICCA, 1983). do Decreto nº 76.403, de 8 de outu-
bro de 1975, é a regulamentação do
O sistema público de emprego defi- conteúdo ratificado. Como consta
nido na Convenção nº 88 da OIT, no Decreto, em vigor até o presente
momento2, a principal finalidade do prioritariamente em articulação com
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

36
Sine é promover a intermediação de os Estados e Municípios, por meio
mão de obra, por meio da implanta- do Sistema Nacional de Emprego
ção de serviços e agências de inter- (Sine), nos termos da lei” (BRASIL,
mediação de mão de obra em todo 1990). E, como visto acima, os ter-
o país. O Decreto também prevê o mos da Lei, no caso do Sine (e da
desenvolvimento de uma série de Convenção nº 88 da OIT que o fun-
objetivos específicos relacionados a damenta), determinam que o sistema
essa finalidade principal, dos quais o público de emprego deve dispor de
primeiro a ser citado pelo Art. 3º do um sistema de informações e pesqui-
Decreto é o de “organizar um siste- sas sobre o mercado de trabalho ca-
ma de informações e pesquisas sobre paz de subsidiar a operacionalização
o mercado de trabalho, capaz de sub- das políticas públicas de emprego.
sidiar a operacionalização da política
de emprego, em nível local, regional No caso brasileiro, há um grande
e nacional”. A organização de um sis- conteúdo de informações sobre mer-
tema informações e pesquisas sobre o cado de trabalho. Somente o Minis-
mercado de trabalho é, portanto, em tério do Trabalho (MTb) dispõe de
linha com aquilo que está posto na quatro registros administrativos ex-
Convenção nº 88, um dos objetivos tremamente ricos, com informações
do Sine, sendo, ademais, colocada sobre a movimentação no mercado
como o instrumento que deve sub- de trabalho formal (celetista, estatu-
sidiar a operacionalização da política tário e trabalhadores temporários),
pública de emprego e renda nos ní- os beneficiários do seguro-desempre-
veis local, regional e nacional. go e os trabalhadores atendidos pelo
Sine, por meio, respectivamente, do
Hoje, o Sine, por meio da Lei nº Cadastro Geral de Empregados e
8.016, de 11 de abril de 1990, é parte Desempregados (Caged), da Rela-
integrante do Programa Seguro-De- ção Anual de Informações Sociais
semprego, tal como coloca o Artigo (Rais), do Sistema de Registro de
13º da Lei: “A operacionalização Empresas de Trabalho Temporário
do Programa Seguro Desemprego, (Sirett) e das informações do sistema
no que diz respeito às atividades de Portal MTb Mais Emprego. Além
2. É importante destacar que o
Ministério do Trabalho enviou ao pré-triagem e habilitação de reque- disso, existem ainda bases de dados
Congresso Nacional, no primeiro
semestre de 2016, um projeto de rentes, auxílio aos requerentes e se- de outros órgãos produtores de infor-
lei (PL 5.278) para reestruturar a
organização e a gestão do Sistema gurados na busca de novo emprego, mações, também oriundas de regis-
Nacional de Emprego (Sine), que
se encontra em tramitação e já foi bem como às ações voltadas para re- tros administrativos ou de pesquisas
aprovado em sua primeira comissão
na Câmara dos Deputados. ciclagem profissional, será executada amostrais.
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

No Brasil não há, portanto, uma O Observatório do Mercado de Tra-


37
carência de dados, pois existe uma balho, se devidamente estruturado,
grande variedade de fontes com in- pode, portanto, prover um sistema
formações sobre o mercado de traba- de informações sobre mercado de
lho, as quais, até hoje, foram muito trabalho ao serviço público de em-
pouco exploradas pela Secretaria de prego brasileiro e contribuir com a
Políticas Públicas de Emprego do governança das políticas públicas de
MTb (SPPE/MTb) no que se refere emprego, sistema este que, desde que
ao uso focado em subsidiar as toma- o Brasil ratificou a Convenção de nº
das de decisão dos atores envolvidos 88 da OIT e instituiu o Sine, é uma
nos ciclos das políticas públicas de tarefa pendente.
emprego. Nesse sentido, como afir-
ma o Prof. Amilton Moretto, em sua É importante que se destaque, tam-
tese de doutoramento intitulada “O bém, a adequação da proposta de
sistema público de emprego no Bra- um Observatório do Mercado de
sil: uma construção inacabada”: Trabalho - visto como provedor de
informações e conhecimento sobre
A existência de um Observatório do mercado de trabalho - à natureza
Mercado de Trabalho é importante descentralizada da execução das po-
para se articular esse conjunto de in- líticas públicas de emprego no país.
formações e produzir conhecimento. Tais políticas, em linha com o prin-
Ele pode ser o elo articulador entre cípio da descentralização do Estado
os produtores de dados e os usuários, brasileiro presente na Constituição
tanto públicos quanto privados. Ade- Federal de 1988, executam-se em
mais, pode mobilizar toda a compe- parceria com os governos estaduais e
tência existente no país para se criar municipais, conforme determinado
uma rede de pesquisa que incentive pelas Leis nº 7.998 e nº 8.019, res-
a produção de análises nacionais, re- pectivamente de 11 de janeiro e 7 de
gionais e locais que contribua para abril de 1990, que regem a execução
subsidiar a formulação de políticas das políticas públicas de emprego,
públicas de emprego e renda. Nesse trabalho e renda.
sentido, cabe destacar a necessidade
de o Observatório capacitar-se – tan- Neste contexto, torna-se um insumo
to em termos de estrutura física como essencial para a gestão destas políticas
de pessoal – para poder antecipar-se a um nível de conhecimento adequado
mudanças no mercado de trabalho e sobre o mercado de trabalho, sobre
nas condições de contratação de mão os desempregados e sobre os traba-
de obra (MORETTO, 2007, p. 137). lhadores inscritos no Sine, tanto por
parte dos gestores locais, quanto por caminho. O texto está organizado
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

38
parte dos atores da sociedade civil em duas seções, além desta introdu-
que devem exercer o controle social, ção e das considerações finais. Na
em que se destaca aqui a institucio- seção seguinte, apresenta-se a traje-
nalidade das Comissões Estaduais e tória institucional do Observatório
Municipais de Emprego3. Nacional do Mercado de Trabalho,
apontando as dificuldades enfren-
Assim, prover gestores estaduais e tadas para a consolidação enquanto
municipais e atores sociais envolvi- parte da estrutura do Ministério do
dos com o controle social da política Trabalho. Na segunda seção, discu-
pública com conhecimento adequado tem-se as premissas metodológicas
sobre a situação do mercado de traba- para se alcançar efetividade nas ações
lho nacional e local e sobre o público do Observatório do Trabalho e apre-
das políticas de emprego e de merca- senta-se a segunda versão do painel
do de trabalho significa dar condições de monitoramento do mercado de
para que a governança das políticas trabalho. Por fim, são traçadas algu-
públicas de emprego possa ser efetiva. mas considerações finais.
Em última instância, a partir dessas
informações, o Sine pode cumprir 1. O OBSERVATÓRIO NACIONAL
plenamente com a sua finalidade de DO MERCADO DE TRABALHO:
organizar o mercado de trabalho na- TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL
cional e promover o pleno emprego.
O Observatório Nacional do Merca-
3. No contexto dos anos 1990, O presente artigo apresenta o pro- do de Trabalho (ONMT) foi criado
dentro da lógica descentralizada de
execução das políticas de emprego, cesso de construção do Observatório em 2002, por intermédio da Portaria
trabalho e renda, foram criadas as
Comissões Estaduais e Municipais Nacional do Mercado de Trabalho, nº 339, de 23 de agosto, como uma
de Emprego, em decorrência da
criação do FAT e do Codefat e a instância responsável, no Ministé- “comissão técnica” ligada ao gabinete
determinação de que deveria haver
uma estrutura correspondente rio do Trabalho, pelo levantamento, da Secretaria Executiva do então Mi-
em estados e municípios, de
caráter tripartite (empresários, análise e disponibilização de dados nistério do Trabalho e Emprego. Seu
trabalhadores e governos) e que
deveria ser a responsável pela sobre o mercado de trabalho no objetivo, segundo a Portaria, seria o
elaboração de diagnósticos e
propostas para a gestão das políticas âmbito do sistema público de em- de “promover estudos sobre o pro-
de geração de trabalho e renda
no nível local. Os critérios para prego brasileiro, conforme definido cesso de formulação, implementação
reconhecimento das Comissões
estaduais, distritais e municipais de em Portaria Ministerial nº 2.061 e avaliação de políticas públicas de
emprego foram estabelecidos pelas
Resoluções nº 63 (1994) e nº 80 de 30/12/2014. Para melhor com- trabalho, bem como de assessorar os
(1995) do Codefat, as quais tiveram
pequenas alterações por meio preender este processo, destacam-se órgãos do Ministério”. Além desse
das Resoluções 114/96, 138/97,
227/99 e 270/01. em: Ministério a trajetória institucional, premissas objetivo, de caráter mais geral, tam-
do Trabalho. Disponível em: (In:
http://portal.mte.gov.br/codefat/ metodológicas, principais resultados bém são atribuídas 10 competências,
comissoes-estaduais-e-municipais-
de-emprego.htm). e desafios enfrentados ao longo do como, por exemplo, “promover es-
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

tudos sobre o mercado de trabalho”, É preciso destacar, contudo, que,


39
“subsidiar a formulação de políticas mesmo com os resultados mencio-
públicas de emprego e renda”, “dis- nados, a trajetória institucional do
ponibilizar as informações existentes Observatório tem sido marcada por
sobre mercado de trabalho no âmbi- descontinuidades, relacionadas às
to do Ministério do Trabalho e Em- mudanças nos ocupantes dos car-
prego” e “subsidiar as ações da Seção gos da alta gestão do Ministério. A
Brasileira do Observatório do Merca- principal razão para a descontinui-
do de Trabalho do Mercosul”. dade tem sido o grau insuficiente
de institucionalidade conferido ao
Na verdade, a criação do Observató- Observatório, pois o seu instrumen-
rio Nacional do Mercado de Traba- to de criação não o vinculou à estru-
lho foi um desdobramento da criação, tura organizacional do Ministério, 4. Segundo o site do Observatório
do Mercado de Trabalho do
no ano de 1999, do Observatório do mobilizando-se, então, para a sua Mercosul, este constitui “um órgão
técnico permanente de informação e
Mercado de Trabalho do Mercosul4, coordenação, cargos de direção e as- consulta das questões relacionadas
com o mercado de trabalho, de
o qual pressupõe a existência de se- sessoramento superiores. caráter público e de gestão por
parte do setor governamental e com
ções nacionais nos países membros. participação tripartite (governo,
empresários e trabalhadores).
Nesse primeiro momento, destacou- Este desenho institucional vinha le- O Observatório é formado por
seções nacionais da Argentina,
se, na atuação do ONMT, o trabalho vando à desmobilização da coorde- Brasil, Paraguai e Uruguai. A
coordenação é de responsabilidade
desenvolvido junto à assessoria inter- nação do Observatório a cada troca dos Ministérios do Trabalho de cada
país, ou do organismo responsável
nacional do Ministério. Como exem- de direção do Ministério, dificultan- pelas políticas trabalhistas do país
membro. O OMTM é um órgão
plo, entre as atividades desenvolvidas do ou impossibilitando processos de auxiliar do Grupo Mercado Comum.
Suas reuniões regionais, nas
neste período, esteve o assessoramen- transição com garantia de continui- quais participam os responsáveis
governamentais pelos ministérios
to à implantação do Observatório dade e aproveitamento do legado da do trabalho e os representantes
dos atores sociais (empregadores
do Mercado de Trabalho do Timor gestão anterior. e trabalhadores) se realizam
semestralmente no quadro das
Leste em 2011, a instituição da polí- reuniões dos órgãos sócio laborais
(SGT 10, CSL e Ganemple) no
tica de salário mínimo naquele país e, A partir de 2013, a coordenação do país que tenha a Presidência Pro-
Tempore do Mercosul. O OMTM foi
de forma continuada, as ações junto ONMT passou a ser realizada por institucionalizado como o órgão
técnico consultivo do Grupo de
ao Observatório do Mercosul. Além servidores de carreira, vinculados Alto Nível da Estratégia Mercosul
para Crescimento do Emprego
disso, foi importante o assessora- ao Gabinete da Secretaria de Políti- (Ganemple). O Objetivo Geral do
Observatório é facilitar a tomada
mento ao Gabinete do Ministro, no cas Públicas de Emprego, o que deu de decisões sobre o mercado de
trabalho, incentivando a produção,
processo de elaboração da “Agenda início a um processo de reestrutura- coleta, análise e divulgação de
informação sobre o mercado de
Nacional do Trabalho Decente”, dos ção, com o objetivo de consolidá-lo trabalho no Mercosul, entendendo
como tal, entre outras as relativas ao
seminários regionais e nacionais, que enquanto ferramenta de acompanha- emprego, às migrações de trabalho,
à formação profissional, â segurança
culminaram no “Plano Nacional do mento do mercado de trabalho e das social, às normas reguladoras
dos mercados de trabalho e às
Trabalho Decente”, sendo o Brasil o políticas públicas de trabalho, em- políticas e programas públicos que
lidam com estas áreas temáticas”
único país a instituir um plano espe- prego e renda, de forma a subsidiar (OBSERVATÓRIO DO TRABALHO DO
MERCOSUL. Disponível em: www.
cífico para esta agenda. o planejamento das ações da Secre- observatorio.net/pt).
taria de Políticas Públicas de Empre- consultas, metodologias), indicadores
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

40
go (SPPE/MTb) e das Secretarias do e informações, estudos, formação de
Trabalho dos governos subnacionais. gestores e conselheiros, entre outros
Isso fez com que, em 2014, uma subsídios que contribuirão, sobretudo
nova portaria fosse editada, a já ci- com os propósitos do ONMT.
tada Portaria do Ministério do Tra-
balho nº 2.061, de 30 de dezembro, Além disso, o Observatório desen-
publicada no DOU de 02 de janeiro volveu uma plataforma para o mo-
de 2015, que instituiu formalmente nitoramento analítico do mercado
o Observatório junto ao Gabinete da de trabalho, incorporando, na ferra-
SPPE, embora a alteração referente a menta desenvolvida em software livre
sua incorporação na estrutura regi- e de atualização mensal, informações
mental da secretaria não tenha sido oriundas da Relação Anual de Infor-
realizada até o presente momento. mações Sociais (Rais), do Cadastro
Geral de Empregados e Desemprega-
O Observatório passou, então, pela dos (Caged) e do Sistema de Registro
ampliação da equipe técnica com ser- de Empresas de Trabalho Temporá-
vidores concursados, pela retomada e rio (Sirett), de forma a disponibilizar,
ampliação das suas atividades e das não só a movimentação do emprego,
parcerias com outras instituições, como também o rendimento, em
entre elas com o DIEESE e com o diversos níveis de desagregação ge-
Instituto de Pesquisa Econômica ográfica e setorial5. Por meio dessa
Aplicada (Ipea), esta última orienta- mesma parceria, de maneira automa-
da para a produção de estudos sobre tizada e coordenada por sua equipe
o mercado de trabalho e para a ava- técnica, o Observatório faz o envio
liação de políticas e programas sob regular de Boletins sobre os merca-
responsabilidade da SPPE. dos de trabalho locais para todos os
convenentes da SPPE, além dos con-
O Convênio firmado entre o MTb selheiros municipais e estaduais do
e o DIEESE, em 2014, prevê uma trabalho e entidades econômicas. O
meta específica voltada para o forta- envio do boletim é feito, hoje, para
lecimento do Observatório Nacional mais de 10.000 instituições, em todo
do Mercado de Trabalho, no sentido país. Além da importância de garan-
da constituição da Rede Nacional de tir, de maneira amigável, aos gestores
Observatórios do Trabalho. Contu- subnacionais, o acesso a informações
do, no conjunto das metas do convê- sobre o mercado formal de trabalho
5. Disponível em: nio, serão desenvolvidos instrumentos local e nacional, tais iniciativas pos-
<mercadodetrabalho.mte.gov.br>.
Acesso em: 01 de dezembro de 2016. (anuários estatísticos, sistemas de sibilitaram uma aproximação entre
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

esses gestores que, graças ao debate e, assim, passem a incidir cada vez
41
sobre tais ferramentas, agora mantém mais sobre a gestão das políticas pú-
um fluxo contínuo de comunicação. blicas de emprego, trabalho e renda
e, dessa forma, qualificá-las para que
Devido a esse trabalho de reestrutu- entreguem melhores resultados aos
ração, com a publicação do Decreto trabalhadores e empregadores.
nº 8.893, em 03 de novembro de
2016, que aprovou a estrutura re- 2. PREMISSAS METODOLÓGICAS
gimental e o quadro demonstrativo
dos cargos em comissão e das fun- A missão do ONMT é aprimorar a
ções de confiança do Ministério do administração das políticas públicas
Trabalho, o Observatório Nacional de emprego, trabalho e renda, o que
do Mercado de Trabalho foi final- procura fazer com a disponibilização
mente institucionalizado, passando a de um programa/política de alcance
ter atribuições no quadro de compe- nacional, capaz de produzir e disse-
tências da Secretaria de Políticas Pú- minar conhecimento e informação
blicas de Emprego. Esta deve agora, significativa para o planejamento e a
segundo o inciso VIII do art. 14º do gestão de tais políticas.
mesmo decreto, “promover o desen-
volvimento da Rede de Observatório Por ter o aprimoramento da gestão
do Trabalho”; e também, atuar no como seu fim, as informações e o
quadro de competências do Depar- conhecimento produzido no âmbito
tamento de Emprego e Renda, o qual do observatório nacional precisam
a partir de agora deve, segundo o in- observar pelo menos quatro premis-
ciso VI do art. 15º, “supervisionar, sas, que são o ponto de partida para
orientar e coordenar as atividades do qualquer discussão metodológica.
Observatório Nacional do Mercado
de Trabalho e elaborar informações A primeira é a necessidade de que as
estatísticas e indicadores da evolução informações produzidas sejam signi-
do mercado de trabalho e emprego, ficativas do ponto de vista da gestão
de análises, pesquisas e relatórios ca- das políticas públicas de emprego,
pazes de subsidiar a formulação de trabalho e renda, ou seja, precisam
políticas públicas de trabalho, em- expor aspectos da realidade local
prego e renda”. que induzam o gestor a refletir sobre
iniciativas, no âmbito da execução
Com essa institucionalização, espe- da política, que melhorem os seus
ra-se que as ações hoje em curso no resultados. As informações e o co-
ONMT possam ter continuidade nhecimento desenvolvido precisam,
portanto, ser produzidos de uma re-se à importância de disponibilizar
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

42
maneira que permita ao gestor, ou o conteúdo de maneira customiza-
ao representante da sociedade civil da, tempestiva, automatizada e com
envolvido com a política, perceber baixo custo operacional e de manu-
a possibilidade de uma intervenção tenção. Estas características pressu-
por parte do poder público naquele põem a utilização de ferramentas de
aspecto em particular. Tecnologia de Informação e Comu-
nicação adequadas que viabilizem o
A segunda premissa tem a ver com a processamento ágil de grandes volu-
forma de disposição, apresentação e mes de dados, de forma a propiciar
fácil usabilidade das informações, ga- a disponibilização de informações
rantindo que elas estejam dispostas customizadas para todas as Unida-
em interfaces cuja compreensão seja a des Federativas do Brasil.
mais intuitiva possível. Trata-se de um
pré-requisito para que as análises pro- Feita a apresentação dessas premissas
duzidas possam ser absorvidas pelos básicas, pode-se concluir essa sessão
gestores públicos locais e representan- apresentando alguns aspectos da se-
tes da sociedade civil, um público-alvo gunda versão do painel de monito-
não acadêmico, e aplicadas na imple- ramento do mercado de trabalho,
mentação de políticas públicas. que está sendo desenvolvido, nesse
momento, por meio de uma parceria
A terceira premissa é a de promoção com o Centro de Apoio ao Desen-
do diálogo social. Além de serem volvimento Tecnológico da Universi-
significativas e de fácil assimilação, dade de Brasília (CDT/UnB) e cujo
espera-se que as informações dispo- lançamento está previsto para o pri-
nibilizadas facilitem e qualifiquem meiro semestre de 2017.
a interação entre gestores públicos
e representantes dos trabalhadores e Como destacado na primeira seção
empregadores nos espaços de interlo- do texto, em julho de 2015, o ONMT
cução institucionalizados ou não, tais disponibilizou, em seu sítio online, a
como seminários, oficinas, reuniões primeira versão do painel de moni-
das comissões estaduais e municipais toramento do mercado de trabalho,
de emprego etc. Desta forma, permi- criado para apoiar a gestão estadual
te-se que os debates ocorram a partir e municipal das políticas públicas de
de dados confiáveis e atualizados. emprego, trabalho e renda. O painel
foi concebido para integrar e organi-
A última premissa que é considerada zar, em um ambiente único e de fácil
central ao trabalho do ONMT refe- utilização, dados que possam ajudar
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

os gestores estaduais e municipais, ra decisão tomada foi a de trabalhar


43
além de conselheiros de políticas de com informações estatísticas que pu-
emprego e entidades da sociedade ci- dessem ser divulgadas, no mínimo
vil ligadas ao mundo do trabalho, a com agregação estadual e, quando
formular suas respectivas estratégias possível, municipal (restrição espe-
de inclusão produtiva e combate ao cialmente para os dados provenientes
desemprego. Nesta primeira versão, de pesquisas amostrais).
ele traz informações mensalmente
atualizadas, para todos os estados e Além disso, optou-se por um modelo
para cada um dos 5.570 municípios de painel automatizado, programa-
brasileiros, sobre dois eixos: a movi- do para gerar automaticamente um
mentação do mercado de trabalho conjunto de indicadores pré-selecio-
formal e a evolução do rendimento nados sobre o mercado de trabalho,
auferido pelos seus trabalhadores. com abrangência geográfica para to-
das as unidades da federação. Desta
O principal objetivo dessa iniciativa forma, com a orientação metodoló-
foi ampliar o acesso a informações gica do Observatório Nacional, cabe
sobre mercado de trabalho e, assim, aos gestores e à sociedade civil local a
qualificar a gestão das políticas de interpretação dos dados e sua trans-
emprego e a participação dos ato- formação em diretrizes de políticas
res que exercem o controle social. A públicas.
segunda versão, em desenvolvimen-
to, como já mencionado, está sendo Também, por tratar-se de um painel
projetada para abranger um espectro de abrangência nacional, optou-se
ampliado de variáveis relacionadas ao ainda por trabalhar apenas com ba-
mercado de trabalho e para integrar ses de dados que tenham abrangência
bases de dados externas ao MTb, as para todo o território do país. Não
quais permitirão ampliar as análises obstante, sendo papel do Observa-
para além do mercado de trabalho tório Nacional fomentar uma rede
formal. de observatórios estaduais e munici-
pais, é possível e até recomendável,
Tendo em vista a relevância dos ges- que as informações disponibilizadas
tores locais na tomada de decisões no painel de monitoramento possam
a respeito das políticas públicas de ser complementadas futuramente
emprego, bem como a grande di- por registros administrativos e pes-
versidade de dinâmicas e realidades quisas amostrais de abrangência re-
regionais e territoriais do mercado gional pelos observatórios membros
de trabalho no Brasil, uma primei- da Rede.
Após definição das temáticas abor- buscou apresentar neste painel, são as
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

44
dadas (processo a ser tratado mais a desigualdades estruturais do mercado
frente), foram selecionadas as seguin- de trabalho. Sempre que a informação
tes bases de dados: a) de produção do esteve disponível e com significância
próprio Ministério do Trabalho, a estatística, buscou-se apresentar os
Rais, o Caged, a BG-IMO (base de indicadores do mercado não só para o
gestão da intermediação de mão de conjunto da população, mas também
obra), a BG-SD (base de gestão do se- para os diferentes grupos populacio-
guro-desemprego) e o Cadsol (cadas- nais a partir de recorte por gênero,
tro de empreendimentos de economia raça/etnia, faixa etária e para pessoas
solidária); b) do IBGE, são utilizados com deficiência (ABRAMO, 2006;
os dados da Pnad anual e contínua CORSEUIL E FRANCA, 2015).
e os dados das Contas Regionais do Ao se agrupar essas informações em
Brasil; c) do Sebrae, agrega-se a base segmentos específicos, busca-se per-
dos Microempreendedores Individu- mitir ao gestor público e à sociedade
ais - MEI e; d) do MDS, agrega-se a civil organizada observar quais ações
base do Cadastro Único. públicas ainda são necessárias para
reduzir e buscar a eliminação dessas
Percebe-se, pelas bases selecionadas, desigualdades.
que se buscou aproveitar ao máximo
os registros administrativos produzi- De forma geral, os indicadores cons-
dos pelo Ministério do Trabalho, mas truídos foram organizados em cinco
também agregar a utilização de pes- eixos (sendo dois destes divididos
quisas amostrais que permitem veri- em oito subeixos), cujas informa-
ficar o comportamento das posições ções estão organizadas em relatórios
informais e não-assalariadas. Mesmo e painéis que serão atualizados pe-
com o avanço da formalização nos riodicamente (trimestralmente). Os
anos 2000, a relevância do traba- recortes temporais utilizados foram:
lho informal continua sendo uma informações do presente; evolução
característica marcante do mercado no curto prazo (últimos oito trimes-
de trabalho brasileiro que, como o tres); e evolução no médio prazo (úl-
de outros países em desenvolvimen- timos seis anos). Este recorte visou
to, é marcado pela heterogeneidade permitir a observação de mudanças
ocupacional (POCHMANN, 2014; conjunturais e características estru-
KREIN E PRONI, 2010). turais do mercado de trabalho.

Outra característica presente na re- Na definição dos eixos (Figura 1)


alidade brasileira, cuja evolução se identificou-se dois eixos com in-
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

formações de dimensões externas máticos são fruto de um processo de


45
ao mercado de trabalho, mas cujo construção coletiva, em que a equipe
comportamento tem impacto direto do Observatório Nacional do Merca-
sobre ele, que são os eixos relativos do de Trabalho contou com a parti-
à caracterização demográfica e à ca- cipação e colaboração de professores
racterização econômica. Neste últi- e técnicos de cinco universidades fe-
mo eixo, são analisados indicadores derais, do Programa de Pós-Gradu-
como elasticidade emprego-produto, ação em Economia da Universidade
produtividade do trabalho e distri- Federal do Pará, do Programa de Pós
buição funcional da renda. Graduação em Ciências Sociais da
Na sequência, estabeleceu-se um Universidade Federal do Maranhão,
grande eixo referente às característi- do Programa de Pós Graduação em
cas da ocupação, que se subdividiu Ciências Sociais da Universidade
em seis subeixos distintos (rendimen-
to e jornada, saúde do trabalhador,
mobilidade ocupacional, estrutura
setorial, rotatividade e flexibilidade e FIGURA 1
Nova versão do painel de monitoramento do
posição na ocupação e informalida- mercado de trabalho: eixos temáticos e subeixos
de). Outro eixo definido, de relevân-
cia direta para análise do mercado 1. Caracterização Econômica
de trabalho, é o da caracterização
do desemprego, sua evolução e perfil
dos desempregados. 2. Caracterização Demográfica

Por fim, agregou-se um eixo a respei-


to das políticas públicas de emprego, 3. Característica da Ocupacão:
trabalho e renda, subdividido em
• 3.1. Rendimento e Jornada;
políticas para os assalariados (segu- • 3.2. Saúde do Trabalhado;
• 3.3. Mobilidade Ocupacional;
ro-desemprego, intermediação de • 3.4. Estrutura Social;
• 3.5. Rotatividade;
mão de obra e jovem-aprendiz) e po- • 3.6. Posicão na Ocupacão e Informalidade.
líticas para posições não-assalariadas
(microcrédito produtivo orientado, 4. Caracterização do Desemprego
microempreendedorismo individual
e economia solidária). Segue abaixo
quadro síntese dos eixos: 5. Caracterização das Políticas de
Emprego, Trabalho e Renda:

• 5.1. Políticas para os assalariados;


Destaca-se que os indicadores cons- • 5.2. Políticas para posicões não assalariada.
truídos para cada um destes eixos te-
Federal de Campina Grande, do to, o principal desafio para que o
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

46
Instituto de Filosofia, Sociologia e Observatório possa apresentar uma
Política da Universidade Federal de contribuição para a estruturação do
Pelotas e do Departamento de Ciên- Sistema Público de Emprego é a dis-
cias Sociais da Universidade Federal seminação das informações e do uso
de Pernambuco, e dos técnicos do delas para os gestores públicos locais
Departamento Intersindical de Es- e estaduais.
tatística e Estudos Socioeconômicos
(DIEESE). Nesse sentido, apresentam-se alguns
caminhos ainda a percorrer. Em pri-
CONSIDERAÇÕES FINAIS meiro lugar, é preciso reconhecer
que a ferramenta construída gera in-
O caminho percorrido pelo Observa- formações com certo grau de deta-
tório Nacional do Mercado de Traba- lhamento e periodicidade para todas
lho nos últimos anos e o lançamento as unidades da federação, mas para
da segunda versão, ampliada e deta- serem aplicados, os resultados produ-
lhada, do Painel de Monitoramento zidos requerem um esforço de inter-
do Mercado de Trabalho marcam pretação e análise que não é trivial.
a conclusão de uma primeira etapa
desse processo de construção, com Desta forma, entende-se que um
a institucionalização e a disponibili- próximo passo necessário é a cons-
zação de uma ferramenta robusta e trução de um caderno metodológi-
acessível, que permite a apresentação co da segunda versão do Painel do
de uma gama ampla de informações Mercado de Trabalho, que contenha
e deixa aberta a possibilidade de seus orientações sobre como as informa-
usuários terem conhecimento conso- ções produzidas podem ser utilizadas
lidado sobre o mercado de trabalho para a tomada de decisão de inter-
do seu território. venção em políticas públicas estadu-
ais e municipais. O ideal é que esse
Esta é uma etapa que nunca estará processo de construção seja feito de
plenamente concluída, pois é somen- forma participativa, contando com
te a partir da efetiva disseminação, gestores públicos que estejam já en-
apropriação, e uso das informações volvidos com essas políticas e espe-
disponibilizadas que será possível cialistas técnicos de universidades e
perceber as necessidades de apri- institutos de pesquisa.
moramento e desenvolvimento dos
indicadores e relatórios realizados. A disseminação da ferramenta é um
Além desse constante aprimoramen- processo e desafio constante a ser fa-
O OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO:
TRAJETÓRIA INSTITUCIONAL E PREMISSAS METODOLÓGICAS

cilitado com a produção do caderno induzindo seus parceiros a prever a


47
metodológico. Essa disseminação criação dessas estruturas como pres-
deve abranger, prioritariamente. ges- suposto necessário à racionalização
tores públicos e membros das co- da ação pública e aumento da efetivi-
missões municipais e estaduais de dade da política.
emprego, podendo ser realizada por
meio de oficinas e eventos de sensi- Espera-se com isso permitir o correto
bilização. Seu objetivo final deve ser planejamento das ações públicas, com
a montagem de uma estrutura nos a estruturação de políticas de qualifi-
órgãos locais responsáveis pelas po- cação, intermediação de mão de obra,
líticas públicas de trabalho e renda, aprendizagem, fomento ao empreen-
capacitada para analisar as informa- dedorismo e à economia solidária
ções e propor mudanças nas políti- adequadas às dinâmicas e tendências
cas. Para contribuir neste processo é dos mercados de trabalho locais, de
fundamental também que o Ministé- forma a melhorar o atendimento às
rio do Trabalho utilize sua capacida- necessidades de geração de emprego e
de de órgão coordenador do sistema, renda para os trabalhadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

48
ABRAMO, Laís. Desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro.
Cienc. Cult., São Paulo, v. 58, n. 4, dez. 2006
BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei 7.998. 1990. Disponível em: < http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7998.htm>.
CORSEUIL, Carlos Henrique L; FRANCA, Maíra A. P. Inserção dos jovens no
mercado de trabalho brasileiro: evolução e desigualdades no período 2006 – 2013.
Brasília: OIT, 2015
KREIN, D.; PRONI, M. Economia informal: aspectos conceituais e teóricos. Brasília,
DF: OIT, 2010. Documento de Trabalho n. 4 da série Trabalho Decente no Brasil.
MORETTO, Amilton José. O sistema público de emprego no Brasil: uma construção
inacabada. Tese (Doutorado) - Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2007.
OBSERVATÓRIO DO TRABALHO DO MERCOSUL. Disponível em: www.
observatorio.net/pt.
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO. Painel de
monitoramento do mercado de trabalho. Disponível em: http://mercadodetrabalho.
mte.gov.br/pentaho/api/repos/:public:SPPE:INDEX.xaction/generatedContent. Acesso em 01
dez. 2016.
POCHMANN, M.. Brasil: segunda grande transformação no trabalho?. Estudos
Avançados (USP. Impresso), São Paulo, v. 28, p. 1-292, 2014.
RICCA, S. Los servicios de empleo. Suíça, Genebra: OIT, 1983.
A experiência do Observatório 49
do Mercado de Trabalho
da Paraíba: entre escolhas
metodológicas e desafios futuros
Mario Henrique Ladosky*
Nadine Gualberto Agra**

APRESENTAÇÃO

O presente artigo tem como objetivo sintetizar o processo de desenvolvimento


operacional e analítico do Observatório do Mercado de Trabalho da Paraíba –
OMT-PB, de modo que seja explicitado como surgiu, os principais objetivos,
as linhas de pesquisa e os indicadores acompanhados, enfim, a metodologia
que norteia o trabalho como um todo, bem como os desafios postos. Além das
questões operacionais, pretende-se ainda, demonstrar, sucintamente, alguns
resultados alcançados em termos analíticos, levando-se em consideração a re-
alidade do mercado de trabalho paraibano, a partir dos dados levantados pela
equipe em 2016. Com isso, pretende-se, contribuir para o trabalho realizado
pelas demais unidades da Rede de Observatórios do Trabalho, visando uma
articulação mais sólida e frutífera.

Ele se divide em três seções. A primeira trata do histórico de criação do OM-


T-PB, no final de 2015, como parte de uma cooperação entre a Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG) e o Ministério do Trabalho (MTb), que * Professor da Unidade Acadêmica
de Ciências Sociais da Universidade
envolve outras quatro universidades. Federal de Campina Grande (UACS-
UFCG), e credenciado no Programa
de Pós-Graduação em Ciências
Sociais (PPGCS-UFCG). Coordenador
A segunda seção apresenta parte do debate que os vários Observatórios destas do Observatório do Mercado de
Trabalho da Paraíba.
universidades e o Observatório Nacional do Mercado de Trabalho (ONMT)
** Professora do Departamento
do MTb têm realizado, e a elaboração de indicadores sobre mobilidade ocu- de Administração e Economia
da Universidade Estadual da
pacional e saúde do trabalhador que o OMT-PB fez, dentro desse esforço Paraíba (UEPB). Coordenadora
do Observatório do Mercado de
coletivo do projeto de cooperação. Trabalho da Paraíba.
Na terceira seção apresenta-se, su- consideração a complexidade de tais
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

50
cintamente, uma breve análise do atribuições, na SPPE levantou-se a
mercado de trabalho da Paraíba, em necessidade de conhecer mais pro-
especial sobre os municípios escolhi- fundamente a realidade do mercado
dos no âmbito do projeto para rece- de trabalho nacional nas suas mais
berem acompanhamento e subsídio variadas configurações, de modo
do OMT-PB na elaboração de polí- que o conhecimento produzido pu-
ticas públicas de emprego, trabalho e desse subsidiar as ações da secretaria,
renda em nível local. sobretudo, no tocante ao enfrenta-
mento da informalidade no mercado
Ao final, apresentam-se algumas con- de trabalho.
siderações ressaltando o desafio maior
do OMT-PB, que é o de empoderar A partir dessa necessidade de co-
os atores envolvidos – gestores, repre- nhecimento, no âmbito da SPPE,
sentantes de trabalhadores e de em- foi instituída uma comissão técnica
pregadores – e, com isso, fortalecer o denominada Observatório Nacional
espírito do tripartismo na elaboração do Mercado de Trabalho - ONMT,
de políticas públicas de emprego, tra- tendo como objetivos: promover es-
balho e renda em nível local. tudos sobre o processo de formula-
ção, implementação e avaliação de
1. A CONSTITUIÇÃO DO políticas públicas de trabalho, em-
OBSERVATÓRIO DO MERCADO prego e renda, bem como assessorar
DE TRABALHO DA PARAÍBA os órgãos do Ministério do Trabalho
(BRASIL, 2014).
O Ministério do Trabalho - MTb
tem como competência institucio- O ONMT, então, tem como com-
nal a elaboração e acompanhamen- petência: 1) promover estudos sobre
to de políticas públicas de geração o mercado de trabalho e as políti-
de emprego e renda, bem como de cas públicas de geração de emprego
apoio ao trabalhador. Nesse universo e renda; 2) subsidiar a formulação
de competências, cabe a Secretaria de políticas públicas de emprego e
de Políticas Públicas de Emprego - renda, bem como efetuar estudos e
SPPE, entre outras atribuições, sub- avaliação de seus impactos; 3) proce-
sidiar a formulação de políticas de der à interlocução com instituições
emprego e qualificação profissional, de estudo e pesquisas e centros pro-
e ainda, planejar, monitorar e avaliar dutores de estatísticas, cujas ações
programas relacionados à geração estejam voltadas para o mercado de
de emprego e renda. Levando-se em trabalho, entre outras.
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

Em suma, trata-se de um órgão ar- apresentar o projeto e as necessidades


51
ticulador da produção de conheci- de expansão da Rede Observatórios
mento sobre o mundo do trabalho, do Trabalho.
direcionando a produção destes con-
teúdos à sua aplicação para a gestão Contudo, o OMT-PB foi criado, efe-
de políticas públicas de emprego. tivamente, em dezembro de 2015,
com a assinatura do termo de coo-
No entanto, diante da grande diver- peração firmado entre a Universi-
sidade da realidade nacional nos seus dade Federal de Campina Grande
mais variados aspectos, faz-se estraté- (UFCG) e o então Ministério do
gico que a produção do conhecimen- Trabalho e Previdência Social, espe-
to ocorra de maneira capilarizada, cificamente, no âmbito da Secretaria
daí a necessidade de parcerias com de Política Pública de Emprego –
instâncias locais, a exemplo das uni- SPPE, como explicado anteriormen-
versidades federais, instituições com te. Institucionalmente, localiza-se na
condições de desenvolver um traba- Unidade Acadêmica de Ciências So-
lho com garantia de excelência e con- ciais – UACS, do Centro de Huma-
tinuidade. Assim, para a elaboração nidades – CH, da UFCG. Enquanto
de dados regionais e locais, o MTb atividade de pesquisa integra-se ao
buscou se apoiar na expertise de pes- Grupo de Pesquisa Trabalho, De-
quisa do pessoal docente nas institui- senvolvimento e Políticas Públicas
ções federais de ensino superior. - TDEPP, iniciativa do Prof. Dr. Ro-
berto Véras de Oliveira.
De uma dessas parcerias surgiu o
Observatório do Mercado de Tra- Desse modo, o OMT-PB compõe
balho da Paraíba (OMT-PB), que uma rede coordenada pelo MTb jun-
começou a ser gestado no XIV En- tamente com outras universidades
contro Nacional da Associação Bra- públicas federais, a saber: Univer-
sileira para Estudos do Trabalho sidade Federal de Pelotas – UFPel,
(Abet), em setembro de 2015, reali- Universidade Federal de Pernambu-
zado na Universidade de Campinas co – UFPE, Universidade Federal do
(Unicamp), quando técnicos do Ob- Maranhão – UFMA e Universidade
servatório Nacional do Mercado de Federal do Pará – UFPA.
Trabalho do Ministério do Trabalho
(ONMT/MTb) e do Departamento No tocante aos seus objetivos, o
Intersindical de Estatísticas e Es- OMT-PB propõe, no primeiro mo-
tudos Socioeconômicos – DIEESE mento, produzir conhecimento acer-
– propuseram uma atividade para ca do mercado de trabalho no estado
da Paraíba, para, em seguida, subsi- quisa, destaca-se o fato desses terem
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

52
diar os gestores públicos municipais, sido escolhidos como fruto de um
representantes da classe empresarial, esforço coletivo de todos os Obser-
dos trabalhadores, bem como as vatórios criados nas universidades
Comissões Municipais de Empre- federais a partir de 2015, coordena-
go Trabalho e Renda com dados dos pelo ONMT, com o apoio técni-
que lhes auxilie no diagnóstico e na co do DIEESE.
proposição de políticas públicas. Os
dados do OMT-PB, portanto, são Como apresentado na Figura 1 do
produzidos tendo em vista a promo- artigo anterior, após várias reuniões
ção do diálogo social de forma tri- com representantes de cada observa-
partite, buscando sempre envolver os tório, realizadas no MTb, em Brasília,
mais variados atores. foram definidos os eixos e subeixos te-
máticos para elaboração dos indicado-
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS res pelos Observatórios do Trabalho
das Universidades Federais1.
Pretende-se, aqui, destacar tanto as
questões relativas à proposta meto- A ideia central que norteou a escolha
dológica para produção de conhe- dos indicadores foi a necessidade de
cimento local, quanto o processo se gerar uma base de conhecimentos
de escolha e acompanhamento dos que refletisse aspectos estruturais de
indicadores realizado de forma ar- cada localidade, com as devidas dife-
ticulada com a rede nacional. Ini- renciações da realidade socioeconô-
cialmente, destaca-se que, sendo mica e do mercado de trabalho. No
realizada em rede, a pesquisa dos entanto, uma análise estrutural sem
Observatórios possui um eixo cen- prescindir questões conjunturais, de
tral e eixos temáticos. O primeiro maneira que as oscilações do merca-
volta-se à análise de indicadores so- do de trabalho também possam ser
cioeconômicos locais; e o segundo, a contempladas como objeto de estu-
1. Eixos e subeixos de pesquisa questões específicas de cada localida- do. Logo, entende-se que a observa-
dos Observatórios do Trabalho
das Universidades Federais: 1. de, ficando, portanto, discricionário ção conjunta de questões estruturais
Caracterização econômica; 2.
Caracterização demográfica; 3. aos pesquisadores de cada região, de e conjunturais ajudará a compreen-
Características da ocupação (3.1
Rendimento e Jornada; 3.2 Saúde acordo com seus interesses de estudo são mais detalhada de cada região,
do Trabalhador; 3.3 Mobilidade
Ocupacional; 3.4 Estrutura Setorial; em consonância com as peculiarida- possibilitando que potencialidades e
3.5 Rotatividade e Flexibilidade;
3.6 Posição na Ocupação e des do local. vulnerabilidades dos diversos merca-
Informalidade); 4. Caracterização
do desemprego; e 5. Caracterização dos de trabalhos sejam evidenciadas
das políticas de emprego, trabalho
e renda (5.1 Políticas para os No que diz respeito à elaboração dos e devidamente contempladas em fu-
assalariados; 5.2 Políticas para
posições não assalariadas). indicadores do eixo central da pes- turas políticas públicas.
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

Após a escolha dos eixos, cada Ob- les que têm maior probabilidade de
53
servatório local e o ONMT assumiu uma trajetória de ascensão ou de des-
dois dos eixos ou subeixos para ela- censo no decorrer dos anos, e quais
borar uma proposta de dicionário de variáveis mais contribuem para isso.
indicadores, conforme demonstra o Foram considerados, por exemplo,
Quadro 1. Nessa divisão de tarefas, fluxos de trabalhadores que entram
coube à equipe do OMT-PB os su- e permanecem no mercado de tra-
beixos “mobilidade ocupacional” e balho com o mesmo vínculo; os que
“saúde do trabalhador”. entram e permanecem mudando de
vínculo; os que saem e retornam; os
Seguindo a ideia central do grupo, que saem e não retornam; os que
em ambos os temas, considerou-se saem e procuram tornar-se Micro-
que os indicadores deveriam refletir empreendedores Individuais (MEI);
mais a condição estrutural da mo- os que saem e tornam-se beneficiá-
bilidade ocupacional e da saúde do rios do Programa Bolsa-Família etc.
trabalhador, fazendo interface com Foi ainda proposto cruzar tais fluxos
outros eixos que retratem uma di- com as características pessoais, as
nâmica mais conjuntural como, por características do vínculo, o muni-
exemplo, de “rotatividade e flexibili- cípio, as probabilidades de inclusão
dade”. Porém, deve-se sempre pensar e de exclusão etc. Os indicadores do
em ajustes para que tais interfaces eixo “mobilidade ocupacional” es-
entre os eixos não resultem, de fato, tão listados no Quadro 22.
em sobreposição ou vieses contradi-
tórios na mirada sobre o mercado de Com tal perspectiva, foi proposto
trabalho. Em termos metodológicos, um corte transversal para acom-
optou-se por utilizar a base de dados panhar determinados anos (1991,
da Rais como principal fonte para os 1995, 1999, 2003, 2009 e 2015),
indicadores nos subeixos. que tiveram capacidade de inflexão
sobre trajetórias individuais no mer-
A compreensão estrutural da mo- cado de trabalho: início do governo
bilidade ocupacional, assim, passa Collor (1991); início do Plano Real e
pela identificação dos mais variados sua crise (1995 e 1999); início do go-
fluxos de “entrada” e “saída” do mer- verno Lula (2003) e sua dinâmica até
cado de trabalho que denotem um o enfrentamento da crise financeira
movimento em sua constância, de global (2009), e seu maior impacto
modo a reconhecer o perfil daque- sobre a economia brasileira (2015).
2. Estes indicadores estão em
processo de desenvolvimento. Ainda
não foram testados, nem proposto
uma fórmula de cálculo.
QUADRO 1
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

54 Divisão de atividades entre observatórios


Eixos / atividade Responsável
Definir indicadores para o Eixo de “Caracterização Econômica” e o Subeixo de “Rendimento e Jornada” do Eixo de Caracterização
Observatório - UFPA
da Ocupação.
Definir indicadores para o Eixo de “Caracterização Demográfica e da Atividade”. Observatório – UFMA
Definir indicadores para o Eixo de “Caracterização das Políticas Públicas de Emprego, Trabalho e Renda”. Observatório – UFPE
Definir indicadores para o Eixo de “Caracterização do Desemprego” e do Subeixo “Posição na Ocupação e Informalidade” do Eixo
Observatório – UFPel
de Caracterização da Ocupação.
Definir indicadores para o Subeixo “Saúde do Trabalhador” e “Mobilidade Ocupacional” do Eixo Caracterização da Ocupação Observatório – UFCG
Definir indicadores para o Subeixo “Estrutura Setorial” e “Rotatividade e Flexibilidade” do Eixo Caracterização da Ocupação ONMT

QUADRO 2
Indicadores de mobilidade ocupacional
Indicadores
Número de trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal;
Número de trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal (em percentual);
Características pessoais dos trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal;
Características dos vínculos dos trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal;
Identificação dos trabalhadores com maior probabilidade a sair e não retornar ao mercado formal;
Número de trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal, cadastrados como microempreendedores individuais;
Número de trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal, cadastrados como beneficiários do Programa Bolsa Família;
Número de trabalhadores que saíram e não retornaram ao mercado formal que procuraram uma agência do MTb/Sine;
Número de trabalhadores que permaneceram no mesmo vínculo no mercado formal;
Número de trabalhadores que permaneceram no mesmo vínculo no mercado formal (em percentual);
Características pessoais dos trabalhadores que permaneceram no mesmo vínculo no mercado formal;
Características dos vínculos dos trabalhadores que permaneceram no mesmo vínculo no mercado formal;
Identificação dos trabalhadores com maiores probabilidades a permanecer no mesmo vínculo no mercado formal;
Número de trabalhadores que saíram e voltaram ao mercado formal;
Número de trabalhadores que saíram e voltaram ao mercado formal (em percentual);
Características pessoais dos trabalhadores que saíram e voltaram ao mercado formal;
(continua)
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

QUADRO 2
Indicadores de mobilidade ocupacional (continuação) 55

Indicadores
Características dos vínculos dos trabalhadores que saíram e voltaram ao mercado formal;
Identificação dos trabalhadores com maiores probabilidades a sair e voltar ao mercado formal;
Número de trabalhadores que mudaram de faixa salarial, por tipo de fluxo, por características pessoais;
Número de trabalhadores que mudaram de faixa salarial, por tipo de fluxo (em percentual);
Características pessoais dos trabalhadores que mudaram de faixa salarial, por tipo de fluxo;
Características dos vínculos dos trabalhadores que mudaram de faixa salarial, por tipo de fluxo;
Distribuição dos fluxos intersetoriais;
Distribuição dos fluxos intersetoriais (em percentual);
Probabilidade de encontrar trabalho;
Probabilidade de desistir de encontrar trabalho;
Probabilidade de se manter desempregado;
Probabilidade do trabalhador em manter-se empregado;
Probabilidade de encontrar trabalho no mercado formal ou informal;
Probabilidade de sair da condição de ocupado no mercado formal e ir para uma ocupação informal;
Probabilidade de deixar de estar ocupado no mercado formal como assalariado, empregador ou sem remuneração e ir para uma atividade por conta própria;
Probabilidade de estar ocupado no mercado formal e se retirar da força de trabalho;
Probabilidade de estar ocupado no mercado informal e se retirar da força de trabalho;
Probabilidade de estar ocupado no mercado informal e ir para um emprego formal;
Probabilidade de estar ocupado no mercado informal como assalariado, empregador ou sem remuneração e ir para uma ocupação por conta própria;
Cálculo de tendência para todas as transições acima;
Porcentagem dos Microempreendedores Individuais – MEI - que eram empregados celetistas;
Porcentagem dos MEIs que eram empregados celetistas e mudaram de setor de atividade.

Do ponto de vista da saúde do tra- cado de trabalho, seja por motivo


balhador, os indicadores propostos de acidente de trabalho (típico ou
buscam captar as principais caracte- de trajeto), adoecimento ou aposen-
rísticas da população que se licencia tadoria por invalidez. Assim, foram
temporariamente do trabalho ou se elaborados os indicadores demons-
retira de modo permanente do mer- trados no Quadro 3.
QUADRO 3
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

56 Indicadores de saúde do trabalhador


Indicadores

Número de trabalhadores afastados por acidente de trabalho típico por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores afastados por acidente de trabalho típico por município;

Características pessoais dos trabalhadores afastados que sofreram acidentes de trabalho típico;

Número de trabalhadores afastados por acidente de trabalho de trajeto por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores afastados por acidente de trabalho de trajeto por município;

Características pessoais dos trabalhadores afastados que sofreram acidentes de trabalho de trajeto;

Número de trabalhadores afastados com doença relacionada ao trabalho; por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores afastados com doença relacionada ao trabalho; por município;

Número de trabalhadores afastados com doença relacionada ao trabalho por características pessoas;

Número de trabalhadores afastados com doença não-relacionada ao trabalho por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores afastados com doença não relacionada ao trabalho por município;

Número de trabalhadores afastados com doença não relacionada ao trabalho por características pessoais;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de acidente de trabalho típico por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de trabalho típico por município;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de trabalho típico por característica pessoal;

Número de trabalhadores falecidos decorrente de acidente de trabalho de trajeto por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de acidente de trabalho de trajeto por município;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de acidente de trabalho de trajeto por característica pessoal;

Número de trabalhadores falecidos decorrente de doença profissional por atividade econômica e ocupação;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de doença profissional por atividade por município;

Número de trabalhadores falecidos em decorrência de doença profissional por característica pessoal;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de acidente de trabalho, por atividade econômica e
ocupação;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de acidente de trabalho por município;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de acidente de trabalho por características pessoais;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de doença profissional por atividade econômica e
ocupação;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de doença profissional por município;

Número de trabalhadores aposentados por invalidez decorrente de doença profissional por característica pessoal.
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

Este indicador também procura Ainda se espera que a partir de tais


57
captar a movimentação estrutural de indicadores possam ser realizados
trabalhadores em virtude de ques- estudos comparativos entre os esta-
tões de adoecimento e de acidente dos da federação que compõem as
(típico e de trajeto), identificando unidades locais dos Observatórios,
qual a magnitude do adoecimento quando, aí sim, buscar-se-á eviden-
dos trabalhadores e dos acidentes re- ciar as especificidades da realidade
lacionados ao trabalho, enfim, como regional paraibana.
se caracterizam as formas de adoecer
e morrer em função das relações com Quanto aos eixos temáticos, o OMT/
o processo de trabalho. A observa- PB optou por duas linhas de pesqui-
ção deste fenômeno deverá ser rea- sa ou dois eixos temáticos, a saber: o
lizada seguindo uma série histórica eixo “Trabalho, educação e desenvol-
de 1991 a 2015, com cruzamento de vimento”, com o objetivo de anali-
dados sobre causas do afastamento e sar a adequação da oferta de ensino
informações como setor econômico, superior à dinâmica do mercado de
características pessoais (sexo, idade, trabalho estadual, entre os anos de
cor, escolaridade etc.) e característi- 1995 e 2015. A proposta se deu pelo
cas do vínculo (rendimento, tipo e fato de o estado possuir três grandes
natureza do vínculo, entre outros), o instituições públicas de ensino su-
que se faz de fundamental importân- perior, das quais, duas sediadas em
cia para identificar “probabilidades” Campina Grande. O segundo eixo
de maior incidência das questões re- é denominado “Economia solidária”,
lacionadas à saúde frente ao mercado cujo objetivo é mapear as iniciativas
de trabalho. de economia solidária na Paraíba,
bem como levantar as dificuldades
No que diz respeito às fontes de pes- de gestão enfrentadas pelos gestores
quisa e informações, a base de dados dos empreendimentos de economia
do Relatório Anual de Informações solidária. Esta linha de pesquisa
Sociais (Rais) é a principal fonte para foi escolhida em função dos altos
os indicadores de “mobilidade ocu- níveis de informalidade do merca-
pacional” e “saúde do trabalhador”. do de trabalho local. Contribuiu,
Quando possível, tais indicadores também, o fato de ambos os pes-
contemplarão cruzamento com ou- quisadores envolvidos no OMT/PB
tras bases de dados, sobretudo a já atuarem, seja como atividade de
Pesquisa Nacional por Amostra de pesquisa ou extensão universitária,
Domicílios (Pnad), do IBGE. nesses temas.
No que diz respeito aos caminhos de 2014, segundo o IBGE, a Paraíba
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

58
pesquisa adotados pelo observatório possui uma produção de riqueza ex-
paraibano, é importante destacar a tremamente concentrada na capital
escolha do campo de pesquisa. Desse e no seu entorno. Segundo os dados
modo, foram adotados os municí- do IBGE por municípios, disponibi-
pios de João Pessoa, Campina Gran- lizados pelo Instituto de Desenvolvi-
de, Guarabira, Monteiro e Patos. Os mento Municipal e Estadual (Ideme),
municípios a serem analisados foram em 2014, João Pessoa concentrava
escolhidos devido à representativida- 32,9% do PIB estadual. No mesmo
de socioeconômica em cada mesorre- ano, Campina Grande, com um PIB
gião do estado, ou seja, conforme sua de R$ 7,5 bilhões, foi responsável por
relevância econômica em diferentes 14,2% da geração da riqueza estadual,
regiões do estado, que, geralmente, seguida por Patos (5º maior PIB mu-
cumprem um papel de mercado de nicipal) com R$ 1,3 bilhões, que cor-
trabalho atrativo para a população responde a aproximadamente 2,5%
que vive em outras localidades, em do PIB paraibano; Guarabira (R$
um raio de até 50 km da cidade-po- 788 milhões e 1,5% do PIB estadu-
lo. Maiores especificações sobre os al); e Monteiro (18º PIB municipal),
municípios citados serão expostas no que embora tenha aproximadamente
item destinado à análise do mercado R$ 343,9 milhões e participe com
de trabalho paraibano. apenas 0,6% da riqueza estadual, ca-
racteriza-se como um polo de atrati-
3. MERCADO DE TRABALHO vidade na região do Cariri paraibano,
DA PARAÍBA: UM QUADRO DE justificando sua escolha para ser uma
VULNERABILIDADE E PRECARIEDADE das cidades a serem analisadas pelo
OMT-PB (IDEME, 2014).
Feitas as considerações metodológicas
do OMT-PB em conjunto com a Rede Outro indicador observado quando
Observatórios do Trabalho, neste da escolha dos municípios foi o Ín-
item, passa-se a indicar sucintamente dice de Desenvolvimento Humano
alguns dados preliminares acerca da Municipal (IDHM).
realidade da Paraíba, como forma de
demonstrar, minimamente, os estudos No Gráfico 1, observa-se que o Ín-
3. Os dados do Índice de
Desenvolvimento Humano introdutórios realizados pela equipe dice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) foram obtidos do
Atlas do Desenvolvimento Humano nesse primeiro ano de trabalho. (IDH) dos municípios paraibanos
do Brasil, publicado em 2013 em
conjunto pelo Programa das Nações selecionados e acompanhados pelo
Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), IBGE e Fundação João Com um Produto Interno Bruto de Observatório melhorou no período
Pinheiro, com dados de 1991, 2000
e 2010. aproximadamente R$ 53 bilhões, em 1991 – 20103. Partindo de um pata-
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

GRÁFICO 1
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) 59
Municípios selecionados da Paraíba – 1991,2000,2010
0,9

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0.3

0.2

0,1

0
1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010
IDH – Renda IDH – Saúde IDH – Educação IDH – Total
João Pessoa 0,659 0,710 0,770 0,660 0,720 0,832 0,384 0,523 0,693 0,551 0,644 0,763
Campina Grande 0.584 0,647 0,702 0,586 0,717 0,812 0,316 0,467 0,654 0,476 0,601 0,720
Patos 0,535 0,595 0,667 0,586 0,719 0,821 0,265 0,403 0,628 0,436 0,557 0,701
Guarabira 0,494 0,560 0,641 0.652 0,699 0,812 0,193 0,350 0,586 0,396 0,516 0,673
Monteiro 0,448 0,536 0,625 0,538 0,591 0,709 0,164 0,291 0,558 0,341 0,452 0,628

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Elaboração dos autores

mar baixo (0,500 a 0,599) ou mui- da, considerada isoladamente, en-


to baixo (0,000 a 0,499) em 1991, a contrava-se, em 2010, ligeiramente
maior parte dos municípios analisa- abaixo das médias de IDH dos mu-
dos atingiu o nível mais elevado (aci- nicípios, exceto em João Pessoa.
ma de 0,700) no ano mais recente da
aferição. Somente Guarabira (0,673) Dados do Atlas do Desenvolvimento
e Monteiro (0,628) ainda estavam no Humano no Brasil apontam que, em
patamar médio de IDH, em 2010. A João Pessoa, em 2010, a escolaridade
melhora das condições humanas tem de 72,8% da População Economica-
ocorrido, sobretudo, pelo desempe- mente Ativa – PEA - ocupada equi-
nho da área de saúde, com a amplia- valia ao nível fundamental completo;
ção da longevidade; tendo no quesito e de 58,2% da PEA correspondia ao
educação, o fator que mais pesa para nível médio completo. Além disso,
manter os índices rebaixados. A ren- em torno de 67,7% dos ocupados
tinham um rendimento de até dois também predomina quadros de con-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

60
salários mínimos. No caso de Cam- centração da geração de emprego,
pina Grande, considerando o ano como demonstrada na Tabela 1.
de 2010, o percentual dos ocupados
com fundamental completo era de No tocante à atividade econômica,
64,7%; e o dos ocupados com ní- no conjunto dos municípios selecio-
vel médio completo era de 48,9% nados, os vínculos de emprego formal
(PNUD; IPEA; FJP, 2016). se concentram nas atividades de ser-
viços (34,4%), administração pública
Em Patos, o quadro social da esco- (31,0%) e comércio (16,5%), segundo
laridade e rendimento dos ocupados os dados da Tabela 2. Na capital do
era o seguinte: 56,8% tinham apenas estado, João Pessoa, destaca-se o peso
o fundamental completo; e 41,6%, o da Administração Pública (37,7%),
médio completo. Aproximadamente pois o município registra boa par-
81,8% tinham rendimento até dois te dos vínculos de órgãos públicos
salários mínimos. Guarabira, por estaduais, e a maior participação da
sua vez, tinha 54,7% da população Construção Civil (7,4%) entre os mu-
ocupada com escolaridade no ensi- nicípios selecionados. Destoa dessa
no fundamental completo, em 2010, tendência, apenas o setor da indústria
e 41,7% com o ensino médio com- de transformação, onde se destaca da
pleto. Em termos de rendimento, geração de empregos em Guarabira
no mesmo ano, 83,1% tinham um (31,4%) e Campina Grande (17,4%).
rendimento de até dois salários míni-
mos. Por fim, na cidade de Monteiro, Com relação ao nível de remuneração
a parcela da população ocupada que do estado da Paraíba, o Gráfico 2 mos-
tinha o ensino fundamental comple- tra que os vínculos de emprego formal
to era de aproximadamente 40,2%, e se concentram na faixa de trabalhado-
a que tinha o ensino médio comple- res que têm rendimentos entre 1,0 e
to, de 29,6%. O rendimento com até 1,5 salário mínimo, ou seja, que rece-
dois salários mínimos correspondia a biam entre R$ 788,00 e R$ 1.182,00,
90,1% dos ocupados. segundo valores de 2015. No estado,
44,7% dos trabalhadores concentram-
O quadro estrutural de concentração se nessa faixa, e com exceção de João
da atividade econômica na capital e Pessoa (40,3%), o gráfico ressalta que
em Campina Grande e os níveis de a concentração de trabalhadores nessa
baixa escolaridade e vulnerabilidade faixa se deve ao peso relativo dos mu-
social do estado refletem-se nos nú- nicípios de Campina Grande (53,8%),
meros do mercado de trabalho, onde Patos (54,6%), Guarabira (63,0%) e
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

Monteiro (50,1%), com quantidade de trabalhadores nas faixas salariais


61
acima da média do estado. Na capital, mais elevadas, comparado com os de-
como se vê, há concentração relativa mais municípios selecionados.

TABELA 1
Estoque de vínculos de emprego¹ formal
Paraíba e municípios selecionados - 2015
Município Nº de vínculos Participação %
Campina Grande 104.215 15,6
Guarabira 9.602 1,4
João Pessoa 291.292 43,7
Monteiro 2.469 0,4
Patos 14.289 2,1
Total municípios selecionados 421.867 63,2
Paraíba 667.030 100,0
Fonte: MTb. Rais 2015
Nota: (1) Estoque de vínculos ativos em 31 de dezembro de 2015

TABELA 2
Distribuição do estoque de vínculos de emprego formal por setor de atividade econômica
Municípios selecionados da Paraíba – 2015 (em %)
Total -Muni-
Campina João Pes- cípios Sele-
Setor de atividade econômica Grande Guarabira soa Monteiro Patos cionados Paraíba
Extrativa mineral 0,2 0,0 0,0 0,0 0,1 0,1 0,2
Indústria de transformação 17,4 31,4 5,6 3,6 9,6 9,2 11,7
Serviços industriais de utilidade pública 1,1 2,1 1,7 1,0 1,9 1,6 1,2
Construção Civil 6,1 1,6 7,4 2,5 4,5 6,9 5,5
Comércio 20,4 24,9 14,1 27,9 29,3 16,5 16,0
Serviços 40,3 16,1 33,3 15,2 28,8 34,4 25,4
Administração Pública 14,2 17,2 37,7 49,0 25,3 31,0 38,1
Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 0,3 6,6 0,2 0,7 0,5 0,4 2,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: MTb. Rais 2015
Nota: (1) Estoque de vínculos ativos em 31 de dezembro de 2015
Conforme o mesmo gráfico, há ainda No que diz respeito ao tipo de vín-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

62
um percentual significativo de traba- culo dos empregos formais, apre-
lhadores nas faixas de renda de 0,51 sentados na Tabela 3, o vínculo
a 1 SM; de 1,51 a 2 SM; e de 2,01 a celetista de trabalhadores urbanos
3 SM, declinando nas faixas salariais empregados por pessoa jurídica por
seguintes. Somados os números rela- tempo indeterminado predomina
tivos de trabalhadores nestas faixas, (56,1%), seguido pelos empregos es-
tem-se na Paraíba 81,8% de traba- tatutários (19%), muito em função
lhadores recebendo até três salários- da quantidade de emprego público
mínimos, ou seja, R$ 2.640,00 em concentrado na capital. Porém, é
valores de 2015. importante destacar a quantidade
de empregos estatutários não efe-
Só uma parcela mínima da população tivos (12,8%), o que mostra a pre-
possui renda superior a R$ 3.000,00, cariedade das relações de trabalho
como demonstrado no Gráfico 2. também no setor público.

GRÁFICO 2
Estoque de veículos de emprego formal¹ por faixa de remuneração em salário mínimo
Paraíba e municípios selecionados – 2015
0,7

0,6

0,5
João Pessoa

0,4 Campina Grande


Patos
0,3 Guarabira
Monteiro
0,2

0,1

0,9
Até 0,50 0,51 a 1,01 a 1,51 a 2,01 a 3,01 a 4,01 a 5,01 a 7,01 a 10,01 a 15,01 a Mais de
1,00 1,50 2,00 3,00 4,00 5,00 7,00 10,00 15,00 20,00 20,00

Fonte: MTb. Rais 2015


Nota: (1) Estoque de vínculos ativos em 31 de dezembro de 2015
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

TABELA 3
Distribuição dos vínculos de emprego formal¹ por tipo de vínculo empregatício do trabalhador 63
Paraíba e municípios selecionados
João Pessoa Campina Grande Patos Guarabira Monteiro Paraíba

Tipo Vínculo Nr. % Nr. % Nr. % Nr. % Nr. % Nr. %

CLT 171.557 58,9% 89.423 85,8% 10.648 74,5% 7.943 82,7% 1.259 51,0% 406.506 60,9%

Trabalhador urbano por prazo


indeterminado (empregador 166.889 57,3% 81.484 78,2% 10.402 72,8% 7.715 80,3% 1.228 49,7% 374.335 56,1%
PJ)

Demais vínculos regidos pela


CLT (2) 4.668 1,6% 7.939 7,6% 246 1,7% 228 2,4% 31 1,3% 32.171 4,8%

Estatutários 119.735 41,1% 14.792 14,2% 3.641 25,5% 1.659 17,3% 1.210 49,0% 260.524 39,1%

Estatutário (3) 71.277 24,5% 12.932 12,4% 2,368 16,6% 1.399 14,6% 0 0,0% 126.739 19,0%

Estatutário não efetivo (4) 48366 16,6% 1.847 1,8% 1.257 8,8% 260 2,7% 102 4,1% 85.343 12,8%

Estatutário RGPS (5) 92 0,0% 13 0,0% 16 0,1% 0 0,0% 1.108 44,9% 48.442 7,3%

Total 291.292 100,0% 104.215 100,0% 14.289 100,0% 9.602 100,0% 2,469 100,0% 667.030 100,0%

Fonte: MTb. Rais 2015


Nota: (1) Estoque de vínculos ativos em 31 de dezembro de 2015; (2) inclui trabalhadores urbanos por prazo indeterminado empregados por pessoa física, trabalhadores urbanos empregados por prazo
determinado ou obra certa, trabalhadores rurais e trabalhadores temporários, avulsos, aprendizes, entre outras (3) Servidor regido pelo Regime Jurídico Único (federal, estadual e municipal) e militar, vinculado a
Regime Próprio de Previdência; (4) Servidor público não efetivo (demissível ad nutum ou admitido por meio de legislação especial, não-regido pela CLT); (5) Servidor regido pelo Regime Jurídico Único (federal,
estadual e municipal) e militar, vinculado ao Regime Geral de Previdência Social

No entanto, falar em emprego na Paraíba apresentado aqui de modo in-


Paraíba não é falar apenas de um trodutório constitui-se como o prin-
mercado formal, com vínculo cele- cipal motivador para implantação do
tista hegemônico, mas sim, tem que OMT-PB, de forma que a socialização
se destacar a grande heterogeneidade do conhecimento que venha a ser pro-
desse mercado de trabalho, no qual duzido, e o devido diálogo tripartite
44,3% da PEA trabalha sem carteira que venha a ser promovido em torno
assinada (IBGE, 2010). Além disso, desse conhecimento, possam contri-
50,4% dos trabalhadores vivem na buir para a melhoria das políticas pú-
informalidade, segundo estudo do blicas de emprego, trabalho e renda.
Ministério do Trabalho, na Paraíba, Espera-se que a partir daí seja traçado
divulgado em 2015, a partir dos da- um caminho para ações de transfor-
dos do IBGE. mação da realidade, que venha a ter
como resultado uma conscientização
Diante do exposto, o quadro socio- em torno da necessidade de dispu-
econômico precário do estado da ta por recursos públicos que sejam
efetivamente destinados à melhoria trais sindicais reconhecidas pela Lei
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

64
na quantidade e na qualidade dos no 11.648/2008) e gestores expunham
empregos gerados na Paraíba e das suas demandas e dificuldades, o que
possibilidades de renda pelos empre- funcionou como uma lente a ampliar
endimentos da economia solidária. o olhar sobre a realidade do mercado
de trabalho na Paraíba.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO A partir dessas visitas, o OMT-PB
PARA OS GESTORES LOCAIS foi convidado a participar das reuni-
E O DESAFIO DA PROMOÇÃO ões do Conselho Estadual de Traba-
DO DIÁLOGO TRIPARTITE lho e Emprego (Cete), atividade que
vem garantindo inserção nos fóruns
Completando um ano de atividade, de discussão institucionalizados,
o OMT-PB tem logrado êxito na abrindo espaço para divulgação do
execução do plano de trabalho pro- que vem sendo produzido, além de
posto pelo MTb à rede de observa- possibilitar uma ampliação do olhar
tórios das universidades federais. No sobre o fazer-se cotidiano do Siste-
decorrer desse ano, foi realizado o ma Público de Trabalho, Emprego e
Seminário “Mercado de trabalho da Renda da Paraíba.
Paraíba em perspectiva” para que o
trabalho fosse apresentado à socie- Algumas dificuldades já percebidas
dade civil paraibana, quando se al- na tarefa do OMT-PB em subsidiar
cançou uma presença expressiva dos os gestores dos cinco municípios esco-
atores sociais. O sucesso do evento se lhidos refletem a própria dificuldade
deveu, em grande medida, às visitas de capilarização das políticas públi-
que foram realizadas aos represen- cas de emprego, trabalho e renda no
tantes empresariais, trabalhadores e país. Isso pelo fato de, com exceção
gestores públicos pela equipe técnica de João Pessoa e de Campina Gran-
do OMT/PB ao longo do ano. de, nos demais municípios escolhidos
– Patos, Monteiro e Guarabira – não
Do contato direto com várias lideran- haver uma área dedicada especifica-
ças municipais e estaduais, pode-se mente aos temas de trabalho, emprego
destacar a credibilidade da universida- e renda, denotando uma fragilidade
de pública junto à sociedade, segundo institucional nas prefeituras. Geral-
os vários depoimentos. Da mesma mente, nos municípios menores há
forma, esse contato ofereceu a rica uma Secretaria de Desenvolvimento
experiência da escuta, na medida em Social que trata de diversos assuntos,
que empresários, trabalhadores (cen- desde o Programa Bolsa Família, as-
A EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DA PARAÍBA:
ENTRE ESCOLHAS METODOLÓGICAS E DESAFIOS FUTUROS

sistência social, agricultura familiar, Assim, mesmo contando com a legi-


65
distribuição de cestas básicas para a timidade social que a universidade
população vulnerável, a qual inclui tem enquanto lugar de excelência
o tema trabalho. Diante da situação na elaboração do conhecimento, o
encontrada, a estratégia do OMT-PB Observatório ainda carece de legi-
foi aproximar-se do Sistema Nacional timidade como interlocutor das en-
de Emprego estadual – Sine/PB, res- tidades organizadas em torno do
ponsável pela gerência das agências trabalho, o que vem sendo conquis-
dos municípios analisados. tado através de passos. O contato
com as entidades representativas e os
Ainda como ponto a ser destacado, gestores públicos é um desafio contí-
um elemento que dificulta a relação nuo para o OMT-PB e requer um es-
do OMT/PB com os atores triparti- forço permanente, daí a necessidade
tes é o fato de a sua criação ter pres- de promoção de debates, eventos e da
cindido da intervenção desses atores, participação nas reuniões ordinárias
ocorrendo exclusivamente a partir do Cete, como forma de ampliar a
da interação do MTb com a UFCG. integração universidade e sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

66
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria nº 2061, de 02 de janeiro de
2015. Institui a Comissão Técnica denominada Observatório do Trabalho e dá outras
providências. Brasília, DF, 2015. Disponível em: http//www.legisweb.com.br. Acesso
em: 30 out. 2016.
BRASIL. Ministério do Trabalho. Relação Anual de Informação Social: RAIS.
Brasília, DF, vários anos. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em: 30 out.
2016.
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a Domicílio: PNAD. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br.
Acesso em: 30 out. 2016.
PARAÍBA. Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual – IDEME. Produto
Interno Bruto dos Municípios do estado da Paraíba: 2104. Disponível em: http://
ideme.pb.gov.br/servicos/pib/nota-tecnica_pib-municipal_2014.pdf/view. Acesso em:
05 jan. 2017.
PNUD; IPEA; FJP. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil: 2013. Disponível
em: http://atlasbrasil.org.br/. Acesso em: 13 out. 2016.
O Observatório Social 67
do Trabalho (Ufpel) e as
transformações dos mercados
locais de trabalho: abordagens
analíticas, limites e desafios
Francisco E. B. Vargas*

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir algumas contribui-


ções metodológicas desenvolvidas pelo Observatório Social do Trabalho da
Universidade Federal de Pelotas-RS em suas atividades de monitoramento e
análise de mercados locais de trabalho.
* Doutor em Sociologia pela
Université de Versailles-Saint-
Quentin-En-Yveline (França).
O Observatório Social do Trabalho é um projeto de extensão, articulado com Professor associado do
departamento de sociologia e
o ensino e com a pesquisa, vinculado ao Instituto de Filosofia, Sociologia e política do Instituto de Filosofia,
Sociologia e Política (IFISP) da
Política (IFISP) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e que tem como Universidade Federal de Pelotas
(UFPel). E-mail: fvargas@via-rs.net.
objetivo geral monitorar e analisar as transformações do trabalho e do mer-
1. A região sul do Rio Grande do Sul,
cado de trabalho. As atividades do Observatório estão estruturadas em duas área de abrangência do Corede‐Sul,
abrange 22 municípios. Além de
dimensões principais. De um lado, no âmbito acadêmico, procura-se pro- Pelotas e Rio Grande, municípios
polos, essa região abrange, ainda,
mover o debate interdisciplinar em torno da temática do trabalho e de suas os seguintes municípios: Amaral
Ferrador, Arroio do Padre, Arroio
transformações na sociedade contemporânea. De outro, no âmbito da ação Grande, Canguçu, Capão do Leão,
Cerrito, Chuí, Herval, Jaguarão,
propriamente extensionista, procura-se fomentar o debate público, institucio- Morro Redondo, Pedras Altas,
Pedro Osório, Pinheiro Machado,
nal e interinstitucional, bem como o diálogo social, no sentido de subsidiar e Piratini, Santa Vitória do Palmar,
Santana da Boa Vista, São José do
qualificar o planejamento, a ação e a avaliação de políticas públicas de empre- Norte, São Lourenço do Sul, Tavares
e Turuçu. Situada no extremo sul
go, trabalho e renda no âmbito da região sul do estado do Rio Grande do Sul, do estado do Rio Grande do Sul
e com uma população estimada
área de abrangência do Conselho Regional de Desenvolvimento da Região pelo IBGE em 881.436 habitantes,
em 2016, essa região possui uma
Sul (Corede-Sul)1. área de 34.844,2 km², isto é, 12,4%
do território gaúcho (FEE, 2016).
Para maiores detalhes sobre essa
região ver: (VARGAS, (2012);
O Observatório Social do Trabalho institucionaliza-se como projeto de extensão MOLIN; FIGUEIREDO; TOGEIRO,
(2014); OBSERVATÓRIO SOCIAL DO
a partir de 2013, mas sua estruturação já vinha ocorrendo com a criação de um TRABALHO, (2015)).
Portal na internet (OBSERVATÓ- essas sociedades. Tanto a questão do
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

68
RIO SOCIAL DO TRABALHO, desemprego como aquela referente
2015). Apesar da ambição de ter um à multiplicação das formas de ocu-
alcance regional, o Observatório, es- pação flexíveis e precárias têm ocu-
trategicamente, passou a concentrar pado um lugar central no debate
suas atividades nos municípios de Pe- sociológico contemporâneo. O pro-
lotas e Rio Grande 2, devido à limita- cesso de reestruturação do capitalis-
ção de recursos materiais e humanos. mo, que já vem ocorrendo há mais
Além disso, os dois municípios em de três décadas, provocou uma pro-
pauta, sendo polos regionais, têm funda transformação no chamado
concentradas, em seus territórios, as paradigma produtivo, consolidan-
principais atividades econômicas da do, ao mesmo tempo, uma revolu-
região, o que permite monitorar com ção tecnológica e uma revolução na
amplo alcance os aspectos mais cen- organização do trabalho, além de
trais de seu desenvolvimento. alterar os princípios de regulação
do próprio Estado. Um novo capi-
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: talismo, flexível, global, financeiri-
AS TRANSFORMAÇÕES NO zado, marcado pela exacerbação do
2. Pelotas e Rio Grande são dois
municípios que apresentam perfis MUNDO DO TRABALHO individualismo, pela instabilidade
econômicos e demográficos
distintos, mas que foram igualmente econômica, psíquica e cultural,
impactados pela forte crise do
mercado de trabalho dos anos O enfoque teórico das atividades constituem a tônica dessas recentes
de 1990. Pelotas é um município
que possui economia baseada extensionistas do Observatório transformações nas sociedades con-
no comércio e serviços, mas que
apresenta também importante Social do Trabalho está balizado temporâneas (CASTEL, 2001).
segmento nas atividades
agroindustriais, principalmente pelas transformações contempo-
no setor de beneficiamento do
arroz e nas indústrias de conservas râneas no mundo do trabalho que É nesse cenário que o trabalho se
vegetais. Rio Grande abriga um
importante complexo industrial vêm sendo amplamente analisadas converte em um tema central de
portuário, sendo um corredor de
entrada e saída de produtos de pela sociologia do trabalho. Parte-se debate. Isto porque ele é decisivo
exportação e que possui atividades
relevantes ligadas à indústria do pressuposto de que a dinâmica não só para que os trabalhadores
naval, à indústria química e de
fertilizantes e à indústria pesqueira ocupacional é central na estrutura- tenham acesso a um rendimento
e de óleos vegetais. Segundo o IBGE,
a população estimada para Pelotas, ção das formas de integração e con- estável – o que é colocado em risco
em 2016, era de 343.651 habitantes.
Em 2014, o PIB de Pelotas era de flito nas sociedades modernas e pelo desemprego e pela precariedade
R$ 6.657.759.394,00, ficando em
décima posição na economia gaúcha, contemporâneas (OFFE, 1989). A do trabalho – mas também porque
e com PIB per capita de R$
19.464,00, bem abaixo da média do sociologia do trabalho tem trazido o trabalho se constitui em um ele-
estado, de R$ 31.927,00. O município
de Rio Grande, por sua vez, tinha importantes aportes no sentido de mento fundamental na construção
uma população estimada de 208.641
habitantes, em 2016. Em 2014, o PIB identificar essas transformações, da cidadania e da identidade social,
era de R$ 7.357.681.054,00, ficando
na oitava posição da economia bem como sua importância na con- individual ou coletiva. Como mo-
gaúcha, e seu PIB per capita
era de R$ 35.538,00, um dos mais figuração das desigualdades e dos dalidade de pertencimento social, o
altos do estado do Rio Grande do Sul
(FEE, 2016). problemas sociais enfrentados por trabalho tem estado no centro dos
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

mecanismos de integração produzi- cesso de desestruturação, crescendo


69
dos pela chamada sociedade salarial o desemprego aberto e as formas de
(CASTEL, 2001), na qual o Estado ocupação precárias (POCHMANN,
de bem-estar social tem funcionado 2002). Já nos anos 2000, com a re-
como um princípio básico de solida- tomada do crescimento econômico e
riedade social (ROSANVALLON, com a proposição de uma nova gera-
1995). O avanço da precariedade do ção de políticas desenvolvimentistas
trabalho tem como contrapartida, e de inclusão social, esse quadro se
portanto, a precarização das próprias altera significativamente. O mercado
formas institucionais de proteção de trabalho volta a se estruturar, o
consolidadas através dos direitos so- desemprego diminui sensivelmente,
ciais, trabalhistas e previdenciários. bem como a informalidade e preca-
Todo esse sistema entra em xeque a riedade do trabalho.
partir das transformações do capita-
lismo contemporâneo. É nesse novo contexto, de melhoria dos
indicadores do mercado de trabalho,
No Brasil, o problema torna-se ainda que surge a proposta do Observatório
mais delicado, visto que a esse pro- Social do Trabalho. Tinha-se como
cesso mais recente de reestruturação alvo analisar o impacto das novas
capitalista e precarização do trabalho políticas de desenvolvimento para
soma-se um processo histórico ante- o país, particularmente aquelas
rior, gerador de elevada precariedade que passaram a afetar a região sul
social e do trabalho. A expansão do do estado do Rio Grande do Sul,
capitalismo industrial no Brasil foi destacando-se, nesse caso, a formação
marcada por uma extensão limitada do polo naval de Rio Grande3, bem
do trabalho assalariado protegido e como o conjunto de investimentos
por um forte crescimento das formas realizados através do Programa de
de trabalho não assalariadas ou assa- Aceleração do Crescimento (PAC),
lariadas não protegidas, o que confe- entre tantos outros investimentos
re ao mundo do trabalho uma forte públicos (Reestruturação e Expansão
heterogeneidade (DRUCK, 2011; das Universidades Federais - Reuni,
CARDOSO, 2010). etc.). Uma indagação fundamental,
portanto, esteve na raiz de formação
Nos anos 1990, com o avanço do pro- do Observatório: em que medida esse
cesso de reestruturação produtiva, de novo modelo de desenvolvimento
reforma do Estado, enfim, de avanço implementado no país seria capaz de 3. A respeito dos aspectos
econômicos do desenvolvimento
das políticas liberalizantes, o mercado integrar, através do trabalho, imen- dessa região e do papel do polo
naval, ver (CARVALHO; CARVALHO;
de trabalho passa por um forte pro- sas parcelas da população brasileira DOMINGUES, 2013).
historicamente excluídas do acesso lho, como as fontes administrativas
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

70
aos direitos sociais básicos e de seus do Ministério do Trabalho (MTb),
mecanismos de proteção. principalmente a Relação Anual de
Informações Sociais (Rais) e o Ca-
3. ABORDAGENS METODOLÓGICAS dastro Geral de Empregados e De-
E ANALÍTICAS: A PRECARIEDADE sempregados (Caged), esta última
E AS TRANSFORMAÇÕES NOS fonte sendo mais sistematicamente
MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO destinada à análise das mudanças
conjunturais nos mercados locais de
Depois da formação e, sobretudo, trabalho6.
a partir da consolidação como pro-
jeto de extensão institucionalizado, O boletim informativo sobre a con-
as ações do Observatório Social do juntura do emprego em Pelotas e
Trabalho se concentraram na tenta- Rio Grande, publicado mensalmente
tiva de consolidar uma competência desde o final de 20127, utiliza dados
metodológica de análise e interpreta- do Caged para monitorar as varia-
ção dos principais indicadores locais ções sazonais do emprego formal
de mercado de trabalho. A partir das nesses dois municípios. Tais análises
principais fontes estatísticas brasilei- procuram captar tanto a variação ab-
ras, realizou-se um conjunto de pes- soluta e relativa do emprego total e
quisas visando à consolidação de um setorial através dos saldos do Caged
banco de dados, acessível no portal (diferença entre o volume de admis-
do Observatório na internet4, e de sões e desligamentos), como a distri-
um boletim informativo sobre a con- buição setorial do emprego formal,
juntura do emprego nos municípios revelando o peso dos diversos setores
de Pelotas e Rio Grande. da geração de emprego formal. No
4. A esse propósito, ver: http://
wp.ufpel.edu.br/observatoriosocial/ presente momento, esse boletim está
5. Sistema IBGE de Recuperação Apesar do alcance limitado das fon- sendo reavaliado, sobretudo quanto à
Automática (Sidra). Esse sistema,
acessível no Portal do IBGE, permite tes de dados estatísticos sobre mer- forma e à abrangência de apresenta-
fazer levantamentos de dados
nas mais diversas áreas e temas, cado de trabalho em nível local ção dos dados, com o intuito de fa-
possibilitando ao pesquisador se-
lecionar variáveis e montar tabelas, (municipal), explorou-se vastamente cilitar a leitura das informações pelo
automaticamente, segundo suas
necessidades (SIDRA, 2015). as fontes disponíveis: tanto os censos público em geral e pelos gestores.
6. Estas bases estão disponíveis
ao público no Portal do Programa
demográficos realizados e disponi- Pretende-se, também, alterar o perí-
de Disseminação de Estatísticas
do Trabalho (Pdet) do Ministério
bilizados pelo Instituto Brasileiro odo da análise, que passará de men-
do Trabalho (MTb), no seguinte
endereço eletrônico: http://acesso.
de Geografia e Estatística (IBGE), sal para trimestral ou semestral.
mte.gov.br/portal-pdet/.
através da ferramenta Sidra5, pró-
7. A esse propósito, ver: http://
wp.ufpel.edu.br/observatoriosocial/ prios para analisar as transformações Durante estes últimos anos, também
estudos-e-analises/boletim-
informativo/ estruturais do mercado de traba- foram produzidos relatórios e arti-
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

gos analisando aspectos estruturais cupação e das taxas de desocupação,


71
da evolução do mercado de trabalho bem como o crescimento da informa-
de Pelotas e Rio Grande, através da lidade e dos níveis de vulnerabilidade
análise dos censos demográficos do nos mercados locais de trabalho.
IBGE e dos dados da Rais. Esses re-
latórios e artigos estão disponíveis no Além disso, o procedimento com-
portal do observatório (OBSERVA- parativo permite, por outro lado,
TÓRIO, 2015; VARGAS, 2014). confrontar esses indicadores entre
os municípios estudados e com indi-
Tais abordagens estruturais trataram cadores estadual e nacional. Assim,
de mostrar como se deu a variação pode-se medir em que medida esses
absoluta e relativa dos principais in- mercados locais de trabalho não só se
dicadores demográficos e de mercado assemelham ou se diferenciam entre
de trabalho ao longo da última déca- si, mas também em que medida se
da e dos últimos anos, identificando afastam ou se aproximam da situa-
suas taxas totais e as taxas médias ção média do estado do Rio Grande
anuais de variação. Procurou-se, com do Sul e do Brasil.
isso, identificar em que medida os
mercados locais de trabalho produ- A seguir, são apresentados alguns re-
zem dinâmicas de inclusão/exclusão sultados das análises sobre a evolu-
ao trabalho protegido, dimensionan- ção dos mercados locais de trabalho
do suas taxas de vulnerabilidade, isto de Pelotas e Rio Grande ao longo da
é, a proporção de pessoas desempre- década de 2000, elaborados a partir
gadas e submetidas à informalidade dos dados dos censos demográficos
em relação ao conjunto da popula- de 2000 e 2010, do IBGE.
ção economicamente ativa. Trata-se
de uma medida de precariedade dos Como a literatura tem apontado, a
mercados de trabalho, ainda que esse análise desses dados revela que, de
indicador não dê conta de todas as di- fato, ocorreu, em nível local, um
mensões implicadas nesse fenômeno. processo de “desprecarização” do
trabalho e do mercado de trabalho
Através desse procedimento, pôde-se ao longo da década de 2000. No en-
comparar, por um lado, como esses tanto, esses dados revelam igualmen-
diversos indicadores evoluíram em te que a precariedade do trabalho
um dado período, dimensionando-se continua se apresentando como um
o crescimento demográfico e das taxas dilema fundamental a ser enfrentado
de atividade, o crescimento da ocupa- pela sociedade brasileira através das
ção, do emprego assalariado, da deso- políticas públicas.
Conforme a Tabela 1, observa-se, sivelmente durante a década de 2000.
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

72
nesse período, um forte crescimento Em Pelotas, essa taxa cai de 39,8%,
da ocupação, acompanhada de uma em 2000, para 33,6%, em 2010. Em
correspondente redução das taxas de Rio Grande, ela cai de 36,9% para
desocupação, tanto em Pelotas como 29,9% nesse mesmo período10.
em Rio Grande. Em Pelotas, a popu-
lação ocupada cresceu 18,8% nesse Apesar dessa melhoria dos principais
período e a taxa de desocupação caiu indicadores de mercado de trabalho
de 17,3%, em 2000, para 7,6%, em nesse período, evidenciando-se, por-
2010. Em Rio Grande, a taxa de cres- tanto, um processo de “desprecariza-
cimento da população ocupada foi ção” dos mercados locais de trabalho
ainda maior, de 25,8%, com a taxa em seu conjunto, é importante re-
de desocupação caindo de 19,1%, em gistrar que os níveis de precariedade
2000, para 8,6%, em 2010. A taxa de desses mercados continuam muito
crescimento da população ocupada elevados em 2010. Somando-se a po-
foi superior à da população economi- pulação ocupada, submetida a uma
camente ativa, que foi de 6,3%, em situação de informalidade, com a po-
Pelotas, e de 11,5%, em Rio Grande.8 pulação desempregada, identifica-se
um número elevado de trabalhadores
8. Essas mesmas tendências são Além disso, é possível observar, em uma situação de vulnerabilidade
igualmente observáveis no Rio
Grande do Sul e no Brasil. No Rio igualmente, no mesmo período, o no mercado de trabalho. Trata-se,
Grande do Sul, a taxa de crescimento
da população ocupada foi de 22% e, crescimento do emprego protegido, neste caso, de trabalhadores em si-
no Brasil, de 31,6%. No Rio Grande
do Sul, as taxas de desocupação com carteira de trabalho assinada, e tuação de risco e de limitado acesso
caem de 12,2%, em 2000, para
4,9%, em 2010. No Brasil, essas uma redução do emprego sem car- a seus direitos sociais, trabalhistas e
taxas caem de 15,3%, em 2000,
para 7,6%, em 2010. A taxa de teira de trabalho. O crescimento do previdenciários. Em 2010, o volume
crescimento da população ativa foi
de 12,7% no Rio Grande do Sul e de emprego protegido se deu em níveis de trabalhadores em condição de vul-
20,7% no Brasil.
superiores ao próprio crescimento da nerabilidade é de 62.483 pessoas em
9. No Rio Grande do Sul, a taxa
de crescimento do emprego com ocupação, o inverso ocorrendo com Pelotas e de 32.342 em Rio Grande.
carteira no referido período foi de
45,2% e, no Brasil, de 63,4%. As o emprego sem carteira de trabalho Trata-se, respectivamente, de 38,6% e
taxas médias anuais de crescimento
do emprego com carteira foram, assinada. Na década, a taxa de cres- de 35,9% de suas populações econo-
respectivamente, de 3,80% e 5,03%
nesses dois níveis geográficos. cimento do emprego com carteira, micamente ativas11. A forte dinâmica
10. Vale registrar que, no estado do
Rio Grande do Sul, essas taxas caem
em Pelotas, foi de 35,4% e, em Rio de crescimento da economia brasilei-
de 39,9% para 32,7%, no mesmo
período, enquanto no Brasil, elas
Grande, de 45,7%, o que correspon- ra e da economia local, bem como de
caem de 48,5% para 39,5%.
de a taxas médias anuais de 3,07% e melhoria de seus indicadores de mer-
11. Para o estado do Rio Grande
do Sul e para o Brasil, essas taxas 3,84%, respectivamente.9 cado de trabalho, não deu conta de
de vulnerabilidade são de 36,0%
e de 44,1%, respectivamente. No superar esse patamar elevado de vul-
Rio Grande do Sul, nesse mesmo
ano, eram 2.092.901 pessoas nessa Finalmente, a taxa de informalidade nerabilidade, uma vez que é enorme a
condição. No Brasil, eram 41.246.271
pessoas. da população ocupada diminuiu sen- “dívida histórica” herdada do período
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

auge de expansão capitalista no Brasil de meados de 2014, quando a eco-


73
(1930-1980) e do período de crise eco- nomia brasileira começa a apresen-
nômica e ajuste liberal (1980-2000)12. tar sinais de crise, quadro esse que
se acentua em 2015 e 2016, com a 12. Em 2000, essas taxas de
vulnerabilidade eram de 56,3% para
Além disso, a tendência positiva de recessão econômica e o crescimento o Brasil, de 47,2% para o Rio Grande
do Sul, de 50,2% para Pelotas e de
“desprecarização” rompeu-se a partir das taxas de desemprego. 49,0% para Rio Grande.

TABELA 1
Indicadores demográficos e de mercado de trabalho
Pelotas e Rio Grande, 2000 e 2010
Pelotas Rio Grande
Indicadores Var.Rel. Var.Anual Var.Rel. Var.Anual
2000 2010 Var.Abs. 2000 2010 Var.Abs.
(em %) (em %) (em %) (em %)

População Total 323.034 328.275 5.241 1,6 0,16 186.544 197.228 10.684 5,7 0,56

PIA 270.427 288.984 18.557 6,9 0,67 154.739 171.530 16.791 10,9 1,04

PEA 152.095 161.707 9.612 6,3 0,61 80.751 90.004 9.253 11,5 1,09

PO 125.768 149.472 23.704 18,8 1,74 65.363 82.230 16.867 25,8 2,32

Emp. c/cart. (1) 49.561 67.087 17.526 35,4 3,07 27.112 39.509 12.397 45,7 3,84

Emp. s/cart. 21.629 23.330 1.701 7,9 0,76 12.880 14.078 1.198 9,3 0,89

Ocup. s/ cont.
prev. 50.025 50.247 222 0,4 0,04 24.148 24.568 420 1,7 0,17

PD 26.327 12.236 -14.091 -53,5 -7,38 15.388 7.774 -7.614 -49,5 -6,60

PNEA 118.332 127.277 8.945 7,6 0,73 73.988 81.525 7.537 10,2 0,97

Taxa de Ativ. (em %) 56,2 56,0 -0,3 -0,5 52,2 52,5 0,3 0,5

Taxa de Des. (em %) 17,3 7,6 -9,7 -56,3 19,1 8,6 -10,4 -54,7

Taxa de Inform. (2)


(em %) 39,8 33,6 -6,2 -15,5 36,9 29,9 -7,1 -19,1

Taxa de Vulner.(3)
(em %) 50,2 38,6 -11,6 -23,0 49,0 35,9 -13,0 -26,6
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010
Nota: (1) Incluídos os trabalhadores domésticos e excluídos os militares e funcionários públicos estatutários; (2) Participação percentual dos ocupados que não contribuem para a previdência social em relação ao
total da população ocupada. (3) Soma dos ocupados que não contribuem para a previdência social com os desocupados, dividido pela população economicamente ativa e multiplicado por 100
Os dados do Gráfico 1 sobre a evolu- desse quadro positivo de crescimen-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

74
ção anual do estoque de vínculos de to do emprego. O elevado cresci-
emprego formal, com base na Rais, mento do emprego em Rio Grande
revelam essa tendência. De 2010 a foi fortemente marcado pela migra-
2014, o crescimento do emprego for- ção de trabalhadores de outras cida-
mal em Pelotas e Rio Grande se mos- des e estados da federação, uma vez
trou bastante elevado, especialmente que para um sem número de postos
neste último município, pois foi en- de trabalho gerados pela indústria
tre 2011 e 2014 que as atividades do naval não existiam trabalhadores lo-
polo naval atingiram seu ápice. Nes- cais qualificados14. Para minimizar
se período, tomando como base o essa situação, vários programas de
ano de 2010, foram criados 9.958 formação profissional foram imple-
novos postos de trabalho em Pelotas mentados com o objetivo de qualifi-
e 17.011 em Rio Grande. A taxa de car a população local para trabalhar
crescimento do emprego formal nes- no polo, mas essas iniciativas não
ses municípios foi de 14,3% e 42,7%, deram conta de atender à elevada
respectivamente. A taxa média anual demanda de força de trabalho nes-
de crescimento do emprego formal se período de boom econômico lo-
foi de 3,4% em Pelotas e de 9,3% em cal. Portanto, o fluxo migratório e a
Rio Grande13. Nota-se o impressio- busca de oportunidades de emprego
nante crescimento do emprego neste no polo pelos trabalhadores locais
último município, capitaneado pelo explicam, em parte, as diferenças de
crescimento do emprego industrial crescimento da população total, da
nas atividades do polo naval. população em idade ativa e da popu-
lação economicamente ativa entre os
Esses dados levam a crer que a me- dois municípios na década de 2000,
lhoria dos indicadores de mercado conforme a Tabela 1. Em Rio Gran-
de trabalho tenha continuado de- de, o crescimento dessas populações
pois de 2010, principalmente em foi bem superior ao de Pelotas. Todo
Rio Grande. No entanto, em relação esse quadro leva a crer que a redu-
13. Entre 2010 e 2014, no estado do
a este município, que já apresentava ção dos níveis de vulnerabilidade
Rio Grande do Sul, o crescimento do
emprego formal foi de 10,9%, o que
melhores indicadores de mercado da população trabalhadora de Rio
representa uma taxa média anual de
2,6%. No Brasil, esse crescimento foi
de trabalho que Pelotas, é preciso Grande não tenha sido capaz de dar
de 12,5%, a uma taxa média anual
de 3,0%.
considerar que o crescimento do conta do déficit histórico de integra-
14. Algumas estimativas, emprego deve ter estimulado um ção desses trabalhadores, conforme
provavelmente superestimadas, dão
conta de que em torno de 10.000 aumento significativo da população constatado através da análise dos
trabalhadores de fora do estado
teriam ido trabalhar no polo durante ativa, pressionando o mercado de indicadores de mercado de trabalho
o período de auge da produção naval
(SIMON, 2015). trabalho e minimizando os efeitos realizada acima.
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

GRÁFICO 1
Evolução anual do estoque de empregos formais, vínculos ativos em 31 de dezembro 75
Pelotas e Rio Grande – 2010 a 2015 (em números absolutos)
90.000
77.670 78.340 79.601 76.606
80.000 74.726
69.643
70.000

60.000 56.354 56.870


52.897 53.259
50.000 44.976
39.859
40.000

30.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015

Pelotas Rio Grande

Fonte: MTb. Rais

Finalmente, é preciso registrar que o A fim de aprofundar a análise sobre


impacto da crise econômica nacional as transformações dos mercados lo-
foi muito mais acentuado em Rio cais de trabalho, procura-se exami-
Grande que em Pelotas. Em 2015, nar mais detidamente, a seguir, o
observa-se, neste último município, impacto dos investimentos do polo
uma perda de 2.995 postos de em- naval sobre a estrutura setorial do
prego formal, segundo a Rais, o que emprego formal no município de
corresponde a uma redução de 3,8% Rio Grande.
em relação ao ano anterior. Em Rio
Grande, foram eliminados 3.611 4. UM BALANÇO DAS AÇÕES
postos de trabalho nesse mesmo ano, DO OBSERVATÓRIO SOCIAL
correspondendo a uma redução de DO TRABALHO E O DIÁLOGO
6,3% em relação ao ano anterior. SOCIAL E ACADÊMICO
Esse quadro de perdas continuou
ao longo de 2016. Até outubro des- As análises acima apresentadas dão
se ano, foram registrados saldos de conta de que os mercados locais de tra-
–1.991 empregos formais em Pelotas balho passam por transformações im-
e de -1.171 em Rio Grande, segundo portantes e apresentam uma série de
dados do Caged. Ou seja, os merca- problemas que devem ser enfrentados
dos locais de trabalho deterioram-se tanto no âmbito do debate público e
sensivelmente nos últimos dois anos. da implementação de políticas públi-
cas – em especial aquelas referentes a Em função da desarticulação das
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

76
emprego, trabalho e renda – como no políticas públicas de emprego, bem
âmbito do debate acadêmico. como devido à inexistência de co-
missões municipais de emprego e de
O Observatório Social do Traba- secretarias municipais especializadas
lho tem tentado atuar nessas duas na área de trabalho e emprego16, o
dimensões, apesar das dificuldades Observatório não conseguiu avan-
enfrentadas até o presente momento. çar no sentido de produzir subsídios
efetivos aos gestores na análise e ava-
No que diz respeito à aproximação liação dessas políticas em âmbito
do Observatório com outras institui- municipal, uma vez que as mesmas
ções ligadas ao mundo do trabalho, são, com frequência, pensadas como
procurou-se implementar algumas o resultado de políticas mais amplas
parcerias, levantando e publicando de desenvolvimento local e regional.
15. Em 2014, entre 14 de outubro
uma série de indicadores como, por As diversas instituições públicas que
e 04 de novembro, promoveu-se
um Ciclo de Debates intitulado “As
exemplo, aqueles referentes à inter- atuam na área de trabalho e empre-
Transformações do Trabalho na Região
Sul do RS e o Papel das Instituições
mediação de mão de obra do Siste- go também não conseguem dialogar
Públicas”, dele participando o Sine/
Pelotas e o Cerest.
ma Nacional de Emprego (Sine) e e estabelecer um debate sobre suas
16. O município de Pelotas não aqueles referentes à saúde dos tra- ações. Neste sentido, as ações do
possui uma secretaria focalizada
em políticas de emprego, trabalho balhadores do Centro de Referência Observatório pouco avançaram nes-
e renda, apenas secretarias
de desenvolvimento, quais em Saúde do Trabalhador (Cerest). sa direção.
sejam: “Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico e Procurou-se, ainda, organizar e ana-
Turismo” e “Secretaria Municipal
de Desenvolvimento Rural”, lisar os indicadores do Ministério da Um passo decisivo nessa direção foi
além da “Secretaria Municipal de
Assistência Social”, que faz a gestão Previdência Social sobre a concessão dado com a formação da Rede Ob-
das políticas de inclusão social no
município (PELOTAS, 2015). Já o de benefícios acidentários e de do- servatórios do Trabalho, desencadea-
município de Rio Grande possui
uma secretaria especializada ença profissional, mas a publicação da em meados de 2015 por iniciativa
que inclui tanto a questão do
desenvolvimento como a questão do desses indicadores ainda não foi im- do Ministério do Trabalho e do De-
emprego, denominada “Secretaria
de Município de Desenvolvimento, plementada. Criou-se, também, um partamento Intersindical de Esta-
Inovação, Emprego e Renda”. No
entanto, na descrição das atribuições espaço inicial de reflexão, no âmbi- tísticas e Estudos Socioeconômicos
dessa secretaria consta que ela
“tem por finalidade o planejamento, to acadêmico (seminários, debates), (DIEESE). Naquele ano, foram rea-
a proposição, a articulação, a
coordenação, a execução e a no qual vem se discutindo a ação de lizadas duas oficinas e um seminário
avaliação das políticas municipais
voltadas ao desenvolvimento algumas dessas instituições, desta- nacional destinados a discutir e for-
da indústria, do comércio, da
prestação de serviço, da ciência e cando-se, nesse particular, a partici- matar a rede que se encontra em pro-
tecnologia, do emprego e renda no
âmbito local e, de forma integrada, pação do Sine/Pelotas, do Ministério cesso avançado de estruturação e que
regional, valendo-se da criatividade,
da inovação e do planejamento Público do Trabalho e do Centro de terá um papel fundamental na con-
estratégico” (RIO GRANDE, 2015).
Aparentemente, a questão do Referência em Saúde do Trabalha- solidação técnica e metodológica dos
emprego aparece subsumida à
questão do desenvolvimento, dor (Cerest)15. observatórios do trabalho no Brasil.
algo muito comum nos discursos
políticos dominantes.
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

Ao final de 2015, assinou-se, igual- particular no Curso de Ciências So-


77
mente, um importante acordo de ciais18. No âmbito da pesquisa aca-
cooperação técnica com o Ministério dêmica, observa-se o maior avanço
do Trabalho destinado a apoiar as das atividades do Observatório, con-
atividades do Observatório e estabe- siderando que em torno de suas ati-
lecer um debate sistemático com os vidades vários trabalhos acadêmicos
gestores de políticas públicas e atores (Trabalhos de Conclusão de Curso)
sociais relevantes no mundo do tra- e artigos foram elaborados e publi-
balho em âmbito local. Esta foi uma cados. Nesse sentido, o Observatório
iniciativa do Observatório Nacional está inserido numa rede de pesqui-
do Mercado de Trabalho, órgão vin- sa, ainda embrionária, mas que re-
culado à Secretaria de Políticas Pú- úne vários professores do Instituto
blicas de Emprego do Ministério do de Filosofia, Sociologia e Política da
Trabalho (SPPE/MTb) e envolve a UFPel e uma parceria com o Núcleo
participação de mais quatro univer- de Análises Urbanas (NAU), liga-
sidades federais. A primeira etapa do do à Fundação Universidade de Rio
plano de trabalho desses convênios Grande (FURG). Destaca-se, neste
já foi executada, com a definição da sentido, os vários trabalhos acadêmi-
metodologia inicial de análise dos cos que têm procurado analisar o im-
mercados locais de trabalho e das pacto do setor naval sobre o trabalho
17. Cada uma das universidades
políticas de emprego, trabalho e ren- e o mercado de trabalho local.19 públicas envolvidas no convênio,
em diferentes estados da federação,
da17. Trata-se, pois, de um projeto deverá desenvolver análises de
mercados locais de trabalho, num
ainda em fase de implantação, mas 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS total de cinco municípios mais o
próprio Estado. As universidades
que apresenta uma perspectiva con- que mantém convênio com o
Ministério do Trabalho são as
creta de estreitamento dos laços en- O impacto positivo mais importante seguintes: Universidade Federal
de Pelotas, estado do Rio Grande
tre algumas universidades – entre as do Observatório Social do Trabalho, do Sul; Universidade Federal
de Pernambuco, estado de
quais a UFPel, através do Observató- até o presente momento, tem se dado Pernambuco; Universidade Federal
de Campina Grande, estado da
rio Social de Trabalho – e os gestores principalmente no âmbito acadêmi- Paraíba; Universidade Federal do
Maranhão, estado do Maranhão; e
locais de políticas públicas de empre- co, na medida em que este projeto Universidade Federal do Pará, estado
do Pará.
go, trabalho e renda. tem colaborado para colocar e man- 18. Trata-se, neste caso, das
disciplinas optativas denominadas
ter a temática do trabalho na agenda “Trabalho, Sociedade e
Desigualdades I e II”, nas quais
No âmbito propriamente acadêmi- de pesquisa, estimulando alunos e são trabalhados conteúdos de
sociologia do trabalho voltados
co, além das atividades de extensão professores a investigarem e a se de- para a pesquisa sobre mercado de
trabalho e políticas de emprego.
mencionadas, conseguiu-se estabe- dicarem aos estudos do trabalho fo- Vale salientar que, nestas disciplinas,
são amplamente apresentadas,
lecer uma conexão ainda incipiente, calizados no âmbito regional. discutidas e utilizadas as bases de
dados estatísticos sobre mercado de
mas consistente, com o ensino de trabalho no Brasil.
graduação, ocorrida, principalmente, As principais dificuldades e limi- 19. Vargas; Fabres (2015); Vargas;
Fabres; Salvador (2015); Vargas
através de atividades de ensino, em tações do Observatório Social do (2014); Fabres (2013).
Trabalho se manifestam no âmbito intervenção no âmbito das políticas
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

78
propriamente exterior ao ambiente públicas de emprego.
acadêmico, face não só à precariedade
das políticas públicas de emprego e ao De outro lado, no âmbito externo, e
frágil debate público e diálogo social dotado de recursos suficientes, o Ob-
sobre o tema trabalho, como também servatório pode ampliar suas ações
à limitação de recursos para ampliar tanto no sentido de estreitar os laços
suas ações. Nesse sentido, duas di- e parcerias com os atores e institui-
mensões devem ser priorizadas nas ções ligados ao mundo do trabalho,
ações futuras do Observatório. como no sentido de ampliar a pro-
dução de conhecimentos acadêmicos
De um lado, no âmbito interno, pre- que sirvam também para subsidiar
cisa-se ampliar as parcerias acadêmi- a ação dos gestores. Neste sentido,
cas que podem propiciar não apenas o passo dado nessa direção através
um maior volume de atividades na do acordo de cooperação técnica fir-
área, mas também um rico diálogo mado entre algumas universidades
interdisciplinar. A qualificação do públicas e o Ministério do Trabalho
Observatório é possível através da mostra-se estratégico.
participação de diversas áreas aca-
dêmicas, dentro ou fora das ciências Os próximos passos na execução
sociais, como as áreas de jornalismo desse projeto envolverão a intensi-
(qualificação da comunicação so- ficação da interação e do diálogo
cial), matemática e estatística (qua- com os gestores das políticas públi-
lificação do tratamento das bases de cas e com os demais atores envolvi-
dados estatísticos sobre mercado de dos com a temática do trabalho. As
trabalho), gestão pública e adminis- experiências desses gestores consti-
tração (qualificação da intervenção tuem um importante repositório de
junto às instituições públicas), di- conhecimento não só sobre o fun-
reito (qualificação da pesquisa e do cionamento do mercado de trabalho,
debate no âmbito dos direitos sociais mas também sobre a estrutura e fun-
e trabalhistas), psicologia e terapia cionamento das políticas públicas e
ocupacional (qualificação da inter- seus problemas.
venção no âmbito da questão da
saúde no trabalho), além das áreas Além disso, essa aproximação tam-
tradicionais das ciências sociais (ci- bém implicará o estímulo à dimen-
ência política e antropologia), com são essencial do diálogo social, que
as quais as parcerias podem ser in- envolve tanto os trabalhadores como
tensificadas, visando qualificar a com os empregadores. Trabalhadores
O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

e empregadores também apresentam, dimensão técnica, de identificação


79
a partir de suas experiências, um con- e uso de indicadores relevantes, as-
junto de vivências e conhecimentos senta-se fortemente também nessa
fundamentais para a compreensão dimensão dialógica a partir da qual
do mercado de trabalho e para a qua- se constrói perspectivas de análise e
lificação das políticas públicas. Nesse grades de leitura dos dados disponí-
contexto, começa a se desenhar um veis. Assim, as atividades do Obser-
quadro mais adequado a partir do vatório Social do Trabalho podem
qual as atividades do Observatório se converter, efetivamente, em um
podem se tornar mais aplicáveis em importante pilar na ampliação do
termos práticos, estimulando o di- debate público e do diálogo social
álogo e a capacidade de construir para o enfrentamento dos dilemas
diagnósticos e ações convergentes. O apresentados pelo mundo do traba-
aperfeiçoamento da metodologia de lho na contemporaneidade e, parti-
análise dos mercados locais de tra- cularmente, no Brasil, tais como a
balho, além de se assentar em uma precariedade do trabalho.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

80
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O OBSERVATÓRIO SOCIAL DO TRABALHO (UFPEL) E AS TRANSFORMAÇÕES DOS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO:
ABORDAGENS ANALÍTICAS, LIMITES E DESAFIOS

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BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 17. Porto Alegre – RS, Textos... Porto Alegre, 20
a 23 jun. 2015.
As dimensões da forma social
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

82
do mercado de trabalho e as
fontes de informação necessárias
à sua compreensão: breve
exposição do caso paraense*
José Raimundo Trindade**

1.INTRODUÇÃO

Nas últimas duas décadas, mudanças profundas nas relações de trabalho capi-
talistas se observaram: novas práticas de gestão e organização do processo de
trabalho, além do uso de tecnologias flexíveis e, principalmente, uma crescen-
te desregulamentação das relações de assalariamento em nível internacional.
Em diversos países, observou-se a reestruturação produtiva e industrial como
parte das estratégias empresariais de adequação à crise do padrão de acumu-
lação assentado no pós-guerra (fordismo) e a insurgência de um regime de
“acumulação flexível”, pautado em uma “nova racionalização econômica” que
ensejou uma “crescente insegurança” no mundo do trabalho1. A retomada de
estudos que acompanhem as atuais alterações no mercado de trabalho brasi-
leiro, buscando desenvolver metodologia de acompanhamento periódico e de
oferecimento de análises qualificadas para a sociedade, constitui a fundamen-
* Agradeço à equipe do Observatório tação da construção de observatórios locais do mercado de trabalho.
Paraense do Mercado de Trabalho
(Opamet) e as críticas do DIEESE
que tornaram este trabalho melhor.
Erros e incompreensões, no entanto, Por solicitação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-
são somente de responsabilidade
do autor. econômicos (DIEESE) e do Observatório Nacional do Mercado de Trabalho
** Professor do Programa de Pós-
graduação em Economia da UFPA e
(ONMT/MTb) preparamos o artigo que segue, tendo, justamente como um
Coordenador do Opamet
dos objetivos tratar de elementos metodológicos, inclusive categoriais, para
1. A bibliografia que trata
das alterações no regime de análise do mercado de trabalho. Cumpre, também, objetivo deste breve texto,
assalariamento ao nível brasileiro
e global é variada. Podemos citar ensejar elementos da construção, ainda embrionária, do observatório local do
a título de ilustração os seguintes
trabalhos: Mattoso (1995); Oliveira mercado de trabalho.
et al. (1996); Alves (2009); DIEESE
(2008); Braga (2012); Harvey (2010).
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

Deste modo, o texto segue dividido rio Nacional do Mercado de Trabalho


83
nas seguintes seções: primeiramente, (ONMT). O Opamet se encontra
busca-se apresentar as condições de articulado à Rede Observatórios do
formação e assentamento do Obser- Trabalho que organiza um conjunto
vatório Paraense; na segunda seção, de unidades estaduais e municipais
trata-se do que seria o centro da di- de análise e acompanhamento do
nâmica das relações de trabalho nas mercado de trabalho, coordenada na-
sociedades modernas: as relações de cionalmente pelo ONMT/MTb.
assalariamento. Para tal, está em de-
senvolvimento a categoria Relação Neste sentido, o Observatório Para-
de Trabalho Assalariado Normal ense do Mercado de Trabalho (Opa-
(RTAN), categoria desenvolvida met) realizará o acompanhamento
com vistas a analisar os fatores que mais detido do mercado de trabalho
influenciam a regulamentação das em cinco municípios: na capital pa-
relações de trabalho e direcionar os raense (Belém), na segunda maior
aspectos metodológicos da constru- cidade do estado na escala demográ-
ção de indicadores necessários ao fica (Ananindeua), nos dois princi-
entendimento do mercado de tra- pais centros regionais e municípios
balho. Na terceira seção, explora-se de polarização (Marabá e Santarém),
alguns elementos objetivos das rela- e no maior representante do polo mi-
ções de trabalho paraense, buscando neral estadual (Parauapebas).
somente uma primeira aproximação
de indicadores necessários ao acom- Os dados dos registros administra-
panhamento e análise do mercado de tivos da Relação Anual de Infor-
trabalho do estado do Pará; por fim mações Sociais (Rais), do Cadastro
faz-se as considerações finais. Geral de Empregados e Desemprega-
dos (Caged) e do Sistema de Registro
2. A CONSTRUÇÃO DO de Empresas de Trabalho Temporá-
OBSERVATÓRIO PARAENSE rio (Sirett), do sistema Mais Emprego
DO MERCADO DE TRABALHO: e as pesquisas domiciliares Pesquisa
CONDICIONANTES E DIFICULDADES Nacional por Amostra Domiciliar
(Pnad) e Pesquisa Mensal de Empre-
O projeto de pesquisa e extensão go (PME), publicadas pelo Instituto
Observatório Paraense do Mercado de Brasileiro de Geografia e Estatística
Trabalho (Opamet), constitui esforço (IBGE), além de documentos dispo-
conjunto da Universidade Federal do nibilizados pelo Observatório Nacio-
Pará (UFPA) e do Ministério do Tra- nal do Mercado de Trabalho, serão
balho (MTb), por meio do Observató- os instrumentos de base para cons-
trução de indicadores e análises de- trado e doutorado em economia).
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

84
senvolvidas pelo Opamet. Este núcleo se reúne semanalmente
(às terças-feiras), estabelecendo uma
A conformação do observatório deve-se agenda que inclui quatro atividades
à articulação do Programa de Pós-gra- permanentes: a confecção do Bole-
duação em Economia da Universidade tim Conjuntural do Emprego For-
Federal do Pará (PPGE/UFPa) com mal, o debate dos indicadores que
a Secretaria de Políticas Públicas de comporão o Relatório Anual do
Emprego do Ministério do Trabalho Mercado de Trabalho, a agenda de
(MTb), tendo sido firmado convênio pesquisa do grupo (constituída por
entre as duas instituições, com respon- planos de trabalho individuais) e es-
sabilidades compartilhadas através de tudos sobre temas específicos eleitos
um Termo de Cooperação Técnica2. semanalmente para discussão3.
Um dos objetivos fundamentais do
observatório é estabelecer um grupo Vale notar que o debate público e
permanente de especialistas no gran- acadêmico do mundo do trabalho
de tema das relações de trabalho, algo ganha com o observatório uma im-
que inclui, de um lado, a análise de portante ferramenta de produção e
cenários de mercado de trabalho e socialização de conhecimento, ao
indicadores de acompanhamento da mesmo tempo em que pode gerar
situação de empregabilidade e de ren- capacidade institucional de articu-
da no estado do Pará e nos cinco mu- lação dos atores sociais comprome-
nicípios foco de estudo e, por outro, tidos com as políticas públicas de
2. O Termo de Compromisso assim
como o Plano de Trabalho firmado promover estudos sobre o mercado de emprego, trabalho e renda. Fruto
entre a UFPa e o MTb relacionam um
conjunto de objetivos cujo principal trabalho, a fim de subsidiar a gestão e deste esforço foi o desenvolvimento
é “implantar e manter uma unidade
local de observação do mercado de o planejamento das políticas públicas do Relatório Estrutural do Mercado
trabalho, integrada ao observatório
nacional do mercado de trabalho”. de emprego e renda. de Trabalho4, que foi apresentado
Este Termo foi assinado em sua
primeira versão em novembro para sindicatos e gestores públicos
de 2015.
3. O site do Opamet (https://
O esforço inicial foi de mobilizar e enquanto primeira atividade de in-
goo.gl/p6kG0r) e sua página
no facebook (https://goo.
engajar um grupo de pesquisadores terlocução com os principais atores
gl/wfTTC5) disponibilizam os
principais trabalhos e atividades
que, a partir do interesse de análise sociais do mundo do trabalho.
desenvolvidas.
do mundo do trabalho, buscassem
4. O Relatório consolida uma
primeira versão de aplicação da também uma postura mais proativa 3. ELEMENTOS ESTRUTURAIS
base metodológica formulada
conjuntamente entre os de debate com a sociedade. O núcleo DA FORMA SOCIAL MERCADO
Observatórios Locais e coordenada
pelo Observatório Nacional (ONT). atual conta com dois professores, DE TRABALHO
O Relatório é constituído de cinco
seções de análise do mercado de nove alunos de graduação dos cursos
trabalho paraense centrada na
apresentação de 18 indicadores, de Economia, Ciências Sociais e Di- A análise do mercado de trabalho
para acesso ao Relatório: https://
goo.gl/gm2MMS. reito e quatro da pós-graduação (mes- pressupõe o entendimento da própria
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

dinâmica mais geral das relações de relação entre empresas de diver-


85
produção capitalistas, especialmente sos tamanhos (pequenas, médias,
os fatores condicionantes das relações grandes); assim como de distintas
de assalariamento e de disponibilida- composições tecnológicas;
de de formas de reprodução social
da população trabalhadora. Deste ii) um regime de acumulação, “com-
modo, na seção seguinte, são abor- preendendo uma lógica econômi-
dados os principais condicionantes ca geral que descreve a estabiliza-
das relações de trabalho assalariada ção a longo prazo da destinação do
como forma principal de reprodução produto social entre o consumo e
social. Assim, o refinamento teóri- a acumulação” (LIPIETZ, 1988,
co realizado será importante para a p. 30), ou seja, as condições mais
construção metodológica de indica- ou menos propícias à acumulação
dores, na medida em que estabelece de capital relacionada à taxa de in-
um padrão de entendimento da rea- vestimento e aos setores produtivos
lidade social sobre a qual se apoiará a estimulados, o que implica uma
construção dos indicadores. correspondência entre a transfor-
mação das condições de produção
3.1 ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE e as das condições de reprodução
TRABALHO ASSALARIADA NORMAL do trabalho assalariado; e

A compreensão estrutural do sistema iii) um modo de regulação, ou seja,


capitalista passa pela possibilidade o conjunto de “regras interioriza-
de formalização das relações sociais das e de procedimentos sociais,
de produção em torno de um modelo que incorpora o social nos com-
de desenvolvimento constituído com portamentos individuais, o que
base em três elementos: implica o desenvolvimento de
instituições, formas de relações
i) um modelo de organização do contratuais e a atuação do Estado
trabalho assalariado como forma capitalista” (LIPIETZ, 1988, p.
predominante de relações de tra- 30), elemento fundamental para
balho, estruturado em princípios a compreensão do processo de re-
gerais de controle do trabalho e produção das sociedades capitalis-
englobando não apenas as for- tas contemporâneas5.
mas de organização do trabalho
no interior das empresas, mas as A compreensão central envolvida na
5. Conferir, entre outros: Aglietta
formas de divisão do trabalho en- análise das relações de trabalho no (1979); Lipietz (1988 e 1991);
Trindade (2001); Boyer (1990 e
tre as empresas, aspectos como a capitalismo refere-se a uma tipifi- 2009); Freyssenet (2009).
cação institucional macroestrutural manda por força de trabalho assala-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

86
desta forma de reprodução econô- riada – se combina com as formas de
mica: o regime salarial. Para desen- auto reprodução das mais variadas,
volver os componentes dimensionais além da oferta de bens e serviços re-
do que se convenciona chamar de lativamente autônoma aos vetores de
“mercado de trabalho” faz-se neces- acumulação de capital formais (in-
sário entender o caráter da reprodu- formalidades diversas), por mais que
ção econômica do capitalismo e das não haja na relação entre “formal” e
relações de trabalho dominantes. “informal” nenhum traço de “dua-
lismo” e sim complementariedade
Vale notar que o assalariamento entre os mesmos, constituindo uma
constitui, antes de tudo, o padrão interação presente permanentemen-
de organização social capitalista, te, e estrutural à formação capitalis-
cuja importância corresponde tan- ta nacional (THEODORO, 2005;
to à produção da riqueza líquida OLIVEIRA, 2003).
(excedente econômico), quanto à
reprodução das condições sociais e Em termos clássicos, o mercado de
econômicas gerais. Esse padrão, po- trabalho converge para a contraposi-
rém, não é homogêneo nas diferen- ção entre ofertantes e demandantes
tes sociedades e economias, havendo da mercadoria força de trabalho. O
graus diferenciados de preponderân- entendimento da especificidade dessa
cia de assalariamento conforme a mercadoria é central para a análise es-
formação social. trutural do capitalismo (BRUNHO-
FF, 1985, 1991). A mercadoria força
No caso brasileiro, por exemplo, as de trabalho proporciona uma massa
condições estruturais capitalistas não de valor superior ao seu próprio valor
processaram a universalização do as- de reprodução, agindo no processo
salariamento e, mesmo nos setores produtivo de forma diferente das de-
em que ele é a regra, parcelas impor- mais mercadorias que somente inte-
tantes da força de trabalho ocupada gram o referido processo.
não é contratada mediante o regime
de assinatura da carteira de traba- A relação de troca desta mercadoria
lho, constituindo formas mais ou estabelece a base contratual funda-
menos precárias de assalariamento, mental do sistema, sendo que o as-
característicos da heterogeneidade salariamento é o centro dinâmico do
ocupacional no mercado de traba- próprio capitalismo. A relação sala-
lho. Assim, a base de determinação a rial é uma contratação conflituosa
partir da acumulação de capital – de- que envolve processos mercantis con-
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

vencionais, como a atribuição de um de análise propostas, convém visitar


87
preço à mercadoria força de trabalho cada um desses condicionantes.
(salário médio), como interações de
regulação social (jornada de trabalho, A produtividade do trabalho em
contrato coletivo, seguridade social). uma sociedade de elevada comple-
xidade supõe tanto certo grau de
Vale considerar que não é possível exploração da força de trabalho,
tratar das relações de trabalho iso- quanto a utilização de mecanismos
ladas dos componentes macroestru- técnicos (sociais e organizacionais)
turais que a definem, isso porque, a que definem padrões de desenvolvi-
expansão da acumulação de capital, mento ou regimes de acumulação. O
ou sua retração, produz efeitos tan- crescimento da produtividade define
to de criação quanto de destruição a elevação da massa de valores-rique-
de postos de trabalho, o que define za produzidos em certo período de
sua dupla capacidade de influência, tempo, sendo que as diversas formas
tanto sobre a demanda por força de econômicas nacionais apresentam
trabalho (lado das empresas), quan- diferentes padrões de produtividade,
to sobre a oferta de força de traba- integradas, por sua vez, a diferentes
lho (lado dos trabalhadores). Assim, formas de regulação social do uso da
qualquer análise das tendências de mercadoria força de trabalho. Con-
emprego deve, por um lado, partir vém observar que a maior ou menor
dos condicionantes e alterações sobre exploração média da força de traba-
o regime de acumulação, especial- lho possibilita a expansão absoluta
mente a dinâmica de elevação das ou relativa da riqueza nacional pro-
taxas de investimento e composição duzida, sendo que os mecanismos
setorial dos mesmos. Por outro, o tecnológicos e sociais levam a maior
tratamento dos condicionantes es- ou menor expansão do “exército” de
truturais que definem o assalaria- trabalhadores inativos, desemprega-
mento também se faz necessário. dos e em ocupações não assalariadas,
porém todos em estado de espera de
Os três condicionantes centrais que utilização econômica capitalista.
definem a principal forma de inte-
ração social no capitalismo são: i) a A incorporação dos ganhos de pro-
produtividade média do trabalho; ii) dutividade aos salários foi o fermento
a regulamentação social da disponi- necessário ao longo ciclo econômico
bilidade da força de trabalho; iii) o de crescimento das economias cen-
grau de organização dos trabalha- trais, produzindo um importante
dores. Antes de tratar as dimensões efeito de relacionamento entre ofer-
ta e consumo de massas (LIPIETZ, tida a certa regulação por legislação
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

88
1988; BOYER, 2009). No caso nacional, correspondendo a certo pa-
brasileiro, a sustentabilidade das drão médio de assalariamento, sen-
dinâmicas indústrias dos duráveis do estabelecidas jornadas médias de
se deu com base em um consumo trabalho, salários mínimos e médios,
restringido de produtos primários produtividade média setorial e grau
e crédito facilitado – implicando o médio setorial de intensidade de es-
endividamento interno – com vistas forço de trabalho. No caso brasileiro
ao alargamento desta demanda. A este padrão inclui os trabalhadores
opção pelo modelo de concentração assalariados com carteira de trabalho
da renda ou de demanda restringida assinada, assim como os estatutários
implicou, no caso brasileiro, entre e os militares. A categoria propos-
outros aspectos, a não incorpora- ta tem o objetivo de verificar como
ção dos ganhos de produtividade à a regulamentação e as condições de
determinação do nível real de salá- normalidade das relações de trabalho
rios, mesmo nos setores dinâmicos se projetam historicamente.
da economia (OLIVEIRA, 2003;
MATTOSO, 1995). A RTAN é uma forma social histó-
rica, sendo estabelecida em confor-
A regulação social refere-se, por sua midade com as realidades nacionais,
vez, à interação de formas sociais podendo ser mais ou menos flexíveis
vinculadas ao estabelecimento de a depender das características estru-
6. Esta legislação social das relações
de trabalho teve no famoso “Fair
regramentos sobre o “uso e dispo- turais de cada formação nacional.
Labor Standards Act”, de 1938,
do “New Deal” de Roosevelt, um
nibilidade” da mercadoria força de Segundo Lipietz (1988, p. 52) o re-
primeiro ensaio de gestão estatal
da força de trabalho. Essa lei
trabalho. A forma mais visível refere- gime salarial estabelecido no pós-
determinava, entre outras coisas, um
salário mínimo, jornada máxima de
se à legislação social, compondo um guerra nas chamadas economias
trabalho, regulamentava a hora-
extra e proibia o trabalho infantil
sistema de regras de contratualidades centrais, caracterizava-se pelos “acor-
(BRUNHOFF, 1985, p. 76). No Brasil o
governo de Vargas cria em maio de
que garantiram a institucionalização dos coletivos constringentes para o
1943 a chamada Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), cujas normas
dos mercados de trabalho nos paí- conjunto dos empregadores de um
atributivas e regulamentadoras
regem, até hoje, as relações formais
ses centrais, estabelecendo normas ramo ou região de produção”, o que
de trabalho no país.
de controle social sobre as empresas inviabilizava a concorrência pelos
7. Freyssenet (2009, p. 27) observa
que, na Europa como um todo, quanto à contratação e demissão de salários baixos6. As alterações mais
houve, nas últimas três décadas,
a disseminação de “formas mão de obra, remuneração mínima recentes, nas duas últimas décadas,
particulares de emprego”, sendo
que as relações contratuais de e jornada de trabalho máxima, o demonstram que a flexibilidade da
trabalho são distintas dos contratos
“normais”, ou seja, “do trabalho que propomos denominar de Rela- relação normal se impõe historica-
em tempo integral, de duração
indeterminada, com um empregador ção de Trabalho Assalariado Normal mente, porém com certo nível de
único que é o usuário efetivo da força
de trabalho”, porém os contratos (RTAN). Essa forma contratual, nor- rigidez necessária à manutenção da
normais ainda se mantêm como
forma majoritária no emprego total. mal na maioria dos países, é subme- ordem reprodutiva capitalista7. As-
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

pecto importante refere-se à maior 3.2 AS MULTIDIMENSÕES DO


89
pressão pela flexibilidade (salarial e MERCADO DE TRABALHO
contratual) de uso da força de tra-
balho, impondo-se um “regime de Para tratar analiticamente o merca-
acumulação flexível” (HARVEY, do de trabalho a partir da percepção
1993) como característica mais im- anunciada, qual seja em conformi-
portante do atual “regime salarial” dade com a categoria de Relação de
em termos internacionais. Trabalho Assalariada Normal, pro-
põe-se o estabelecimento de dimen-
Por último, mas sem menor impor- sões que favoreçam sua compreensão
tância, os aspectos de organização e histórica, econômica e social. Cada
luta coletiva dos trabalhadores tam- conjunto de dimensionalidades se re-
bém temperam e condicionam os di- laciona ou permite entender um dos
ferentes “regimes salariais nacionais”. componentes de condicionalidade de
Brunhoff (1991, p. 68) lembra que acordo com o já exposto. Vale no-
o Estado-Providência e as políticas tar que estas dimensões serão trata-
sociais adjacentes foram um contra- das como componente analítico que
ponto à organização sindical e políti- possibilite colaborar com as políticas
ca (socialista) do movimento operário, públicas no sentido de aprofundar a
ressaltando-se a importância destes regulamentação do mercado de tra-
movimentos sociais organizados balho nacional. Por outro lado, vale 8. Marx (2013, p. 704-705)
estabelece a categoria de
como força motivadora do estabele- notar que, como uma forma multi- “exército industrial de reserva”,
uma “superpopulação relativa”
cimento de normas sociais regulado- dimensional, o mercado de trabalho produzida pela própria acumulação
capitalista, “isto é, excessiva para as
ras das relações de compra e uso da apresenta um conjunto de dimensões necessidades médias de valorização
do capital e, portanto, supérflua”.
força de trabalho. No caso brasileiro, outras além daquelas aqui considera- Podemos tratar as características
estruturais flexíveis do mercado
as alterações históricas foram marca- das, reconhecendo as limitações dos de trabalho brasileiro como um
formato próprio de superpopulação
das por baixa capacidade organizati- aspectos aqui destacados. relativa, própria de sociedades
dependentes ou periféricas,
va dos setores assalariados, bastante conforme Neto (1996). Assim a
massa de trabalhadores assalariados
influenciado pela presença de um Propõe-se as seguintes dimensões de sem carteira de trabalho assinada
constitui elemento próprio da
extenso “exército” de trabalhadores análise, cuja capacidade de acompa- heterogeneidade do mercado de
trabalho brasileiro (DIEESE, 2016,
inativos, desempregados e em ocupa- nhamento é pertinente ao acompa- p. 78-79), fator de reforço das
características de flexibilidade e de
ções não assalariadas8. A maior con- nhamento estrutural do mercado de fragilidade da RTAN nacional.
flitualidade e disputa social definem, trabalho: 9. A elevada rotatividade da força
de trabalho no Brasil constitui
por sua vez, as condições de uso fle- característica estrutural do mercado
de trabalho nacional. Alguns dados
xível da força de trabalho9, sendo que i) Macroestruturais e Demográficas: comparativos nos dão a dimensão
das altas taxas de rotatividade aqui
a regulação social, em grande medi- a configuração social necessária praticadas, segundo o DIEESE (2011,
p. 13): “45,1%, em 2001, 43,6% em
da, acompanha esses fatores e a pro- para pensar a dinâmica de expan- 2004; 46,8% em 2007; 52,8%, em
2008, e 49, 4%, em 2009”, atingindo
dutividade do trabalho. são ou retração da população eco- em 2010 “o patamar de 53,8%”.
FIGURA 1
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

90 Eixos de análise do mercado de trabalho

Dimensão Demográfica e Macroestrutural

Dimensão Escolaridade e Qualificação Marcadore Sociológicoss

RTAN
Padrão Médio de Relações
Formais de Assalariamento
Dimensão Mobilidade Ocupacional Dimensão Desligamentos

Dimensão Desocupação Dimensão Setorial

nomicamente ativa, possibilita o regimes salariais menos “organi-


entendimento das diferentes reali- zados” e sujeitos a fortes pressões
dades locais. Essa dimensão define sazonais e cíclicas, estabelecendo,
os limites absolutos de expansão do do mesmo modo, baixa proteção
“exército” de trabalhadores ativos e social e movimentos de informa-
inativos, tendo grande importância lização das relações de trabalho.
no acompanhamento de políticas A clivagem no mercado de tra-
públicas voltadas para a regulação balho brasileiro sempre se mos-
das taxas de desemprego. Por outro trou acentuada, fundada em forte
lado, não há como tratar a análi- fluidez nas relações de trabalho
se e o acompanhamento do mer- e em relações contratuais muito
cado de trabalho sem indicadores flexíveis. Estes fatores se traduzi-
macroestruturais, especialmente ram na grande instabilidade no
aqueles que permitam acompa- emprego, nos baixos níveis de re-
nhar as tendências de expansão do muneração salarial e nas variadas
investimento e sua composição. formas (precárias) de uso da força
de trabalho. O acompanhamento
ii) Mobilidade Ocupacional: as ca- desse eixo dimensional se consti-
racterísticas de alteração internas tui ponto central para o estabele-
e segmentadas da força de traba- cimento de políticas de regulação
lho impõem a particularidade de do mercado de trabalho.
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

iii) O acompanhamento da “deso- se entender movimentos cíclicos no


91
cupação” permite visualizar uma mercado de trabalho, buscando re-
das principais características do gular, mesmo que parcialmente, a
regime salarial brasileiro: a “baixa partir de gestão localizada, as osci-
inserção das pessoas no mundo da lações mais abruptas.
proteção social pela via do traba-
lho” (IPEA, 2009), o que define, v) A dimensão “setorial” compre-
por sua vez, uma modalidade de ende, a exemplo da anterior, a
regulação social brasileira muito focalizada em mercados de traba-
frouxa, um padrão estrutural his- lho estruturados. O acompanha-
toricamente flexível no uso e dis- mento setorial possibilita a análise
posição da força de trabalho. As pontual das alterações em proces-
condições de “desocupação” refe- so. Interessa aos gestores e regula-
rem-se tanto à formação estrutu- dores públicos o acesso a desequi-
ral brasileira, quanto aos mecanis- líbrios localizados, possibilitando
mos contemporâneos de expansão o estabelecimento de políticas de
da produtividade. Por outro lado, regulação setoriais.
a crítica a qualquer dualismo se faz
necessária. A desocupação, carac- vi) A dimensão “escolaridade e qua-
terizada pela impossibilidade de lificação” está fortemente atinente
inserção no mercado de trabalho ao acompanhamento da produ-
ou pela momentânea condição de tividade e influência sobre os de-
desemprego, estabelece uma di- mais aspectos. Vale observar que a
mensão forte para identificação objetivação da escolarização não é
de formas de superexploração da somente formal, pois a apreensão
força de trabalho ou reforço ao de conhecimentos tácitos, assim
processo de precarização das rela- como a sua transferência na forma
ções de trabalho. de “aprendizagem profissional”
não se constituem movimentos au-
iv) A dimensão “desligamentos” busca tomáticos e se interligam ao desen-
analisar um dos aspectos internos a volvimento de procedimentos téc-
dinâmica dos mercados de trabalho nicos e de “aprendizagem social”.
estruturados (de maior organicida-
de e regulação), buscando visuali- vii) Por último, a multidimensiona-
zar as características de “turn over” lidade das relações de trabalho (e
e impactos sobre rendimento e as- do mercado de trabalho) compre-
censão funcional. Essa dimensão é ende nichos de acompanhamento
particularmente importante para que são marcadamente influen-
ciados por aspectos característicos ciente dos dados tratados, sendo que
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

92
próprios e que, em função desses a socialização do conhecimento das
“marcadores” sociais, requerem principais fontes de dados disponí-
acompanhamento. Definimos cin- veis possibilita condições favoráveis
co marcadores sociológicos que ao desenvolvimento econômico e so-
estabelecem nichos de acompa- cial. A análise das unidades estadu-
nhamento específicos: a) cor/raça; ais e municipais, quanto aos aspectos
b) gênero; c) juventude; d) idosos; mais gerais do mercado de trabalho,
e) deficiência física e mental. A ca- como teoricamente tratado, possi-
racterística e dimensão volumétri- bilita uma melhor ação dos agentes
ca própria de cada um desses seg- sociais, a seção seguinte busca desen-
mentos influenciam, por sua vez, volver essa primeira aproximação em
as demais dimensões, bem como relação ao estado do Pará e alguns
têm impacto nos condicionantes dos municípios que o constitui.
primários estabelecidos (produti-
vidade, regulação social e conflitos 4. EMPREGO E RENDA NO PARÁ E
sociais). NAS PRINCIPAIS CIDADES: UMA
PRIMEIRA ANÁLISE APROXIMATIVA A
O domínio e capacidade de uso das PARTIR DAS DIMENSÕES PROPOSTAS
fontes de informação disponíveis
sobre as relações de trabalho, consi- Com base em dados do Censo De-
derado “o manejo de códigos em per- mográfico e da Pesquisa Nacional
manente atualização, articulando os por Amostra de Domicílios (Pnad)
trabalhadores intelectuais dos dife- do Instituto Brasileiro de Geografia
rentes campos do saber” (BOLAÑO, e Estatística (IBGE) e da Relação
2007, p. 42), possibilita a melhor in- Anual de Informações Sociais (Rais)
teração entre os agentes sociais en- do Ministério do Trabalho (MTb)
volvidos com as políticas públicas fazemos neste texto breve balan-
de emprego e renda e, ao mesmo ço crítico da evolução do mercado
tempo, posiciona a sociedade quanto de trabalho do Pará e de suas cinco
aos possíveis agravamentos das cri- maiores cidades em termos do PIB e
ses econômicas e suas consequências da população (Belém, Ananindeua,
sociais. Uma das etapas principais Marabá, Santarém e Parauapebas),
necessárias ao domínio das fontes sob o ponto de vista das condições
de informações disponíveis refere-se de emprego e renda, visualizando
à compreensão de sua codificação e aspectos como desemprego, grau de
origem. O conhecimento sobre esses informalidade, renda média e princi-
aspectos possibilita o uso mais efi- pais setores de emprego formal.
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

4.1 A RELAÇÃO DE TRABALHO os que mais cresceram demografi-


93
ASSALARIADO NORMAL NO PARÁ camente no estado, com taxa mé-
dia de crescimento anual de 3,3% e
Segundo o Censo Demográfico de 8,0%, respectivamente. Em 2000, o
2010, o município de Belém concen- município de Parauapebas contava
trava 18,38% da população estadu- com 71.568 habitantes, já em 2010
al, ou seja, 1,3 milhão de habitantes. concentrava 153.908 habitantes. No
Desse total, aproximadamente 51% caso de Marabá, em 2000, o muni-
(663 mil) refere-se à população eco- cípio possuía 168.020 habitantes e
nomicamente ativa (PEA)10, ou seja, chega a 233.669 habitantes em 2010.
à parcela da população acima de 10
anos de idade que se encontra dis- O município de Santarém constitui
ponível para o mercado de trabalho o polo regional do oeste paraense,
na condição de ocupada ou desocu- tendo uma dinâmica econômica his-
pada. A taxa de desocupação11, cal- toricamente estabelecida enquanto
culada pelos dados do Censo 2010, centro de fornecimento de serviços
alcançou a marca de 10,3%, muito públicos e comerciais para o conjun-
superior aos níveis nacionais e mes- to da região13. Sua taxa de atividade
mo do estado do Pará, cuja taxa foi é a menor do estado, influenciada
de 5,5% em nível nacional e de 9,5% pelas fortes características ainda ru-
em nível estadual, para aquele ano. rais e com um grau de urbanização
inferior aos demais municípios foco 10. PEA é a parcela da população
em idade ativa que está ocupada ou
O segundo maior município do esta- dos estudos. desempregada.

do, em termos demográficos, e com a 11. Refere-se ao valor percentual da


população desocupada em relação
maior taxa de desocupação (11,2%), Os dados censitários refletem, por a população economicamente
ativa. Esta taxa apresenta
Ananindeua se constitui um muni- um lado, uma relativa melhora na alguns problemas referentes a já
mencionada heterogeneidade do
cípio dormitório da grande Belém, e oferta de empregos ao longo da déca- mercado de trabalho brasileiro.
Em termos metodológicos, o
parcela das atividades econômicas ali da, especialmente o aspecto positivo DIEESE (2016, p. 78) observa que
em mercados heterogêneos “a
estabelecidas resulta de serviços e ati- de elevação do grau de formalidade classificação tradicional da condição
de atividade e ocupação através
vidades industriais que se deslocam empregatícia em Belém e Parauape- das polarizações entre situações
de trabalho/não trabalho e com
para o cinturão (em torno) mais ex- bas, por mais que nas demais cidades procura/sem procura de trabalho”
seria inadequada, sendo necessário,
terior da capital nos últimos 20 anos. e no estado como um todo não se te- ainda captar situações de intersecção
“entre ocupação, desocupação e
nha verificado melhoria sensível. inatividade”, próprias de sociedades
dependentes ou periféricas.
Marabá e Parauapebas são os núcle- 12. Esta mesorregião é forma por 39
municípios, cujos polos são Marabá
os regionais do sudeste paraense12, Vale destacar que o quadro local do e Parauapebas, conferir: https://goo.
gl/Z3qqzH.
concentrando parcela expressiva da mercado de trabalho paraense acom-
13. Esta mesorregião é formada por
produção mineral do estado. Na úl- panha a forte flexibilidade da Rela- 14 municípios, cujo polo é Santarém,
que pode ser visto em: https://goo.
tima década, estes municípios foram ção de Trabalho Assalariada Normal gl/Z3qqzH.
(RTAN), com municípios com in- pouca capacidade de manutenção
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

94
formalidade acima de 60% da PEA no médio prazo, como se verá com
(Santarém). Mesmo no caso da capital a rápida desestruturação recente,
(Belém), as relações formalizadas in- a partir da crise de 2011. Por mais
cluem somente metade da população que se tenha tido uma certa elevação
ocupada. Neste caso, considera-se, do assalariamento celetista, o nível
para efeito de análise, a informalidade de informalidade permanece muito
como sendo resultante dos trabalha- elevado, preponderando empregos
dores empregados sem carteira e os informais e precários, ou seja, assa-
conta-próprias, que inclui tanto os tra- lariamento sem carteira de trabalho
balhadores urbanos, quanto rurais14. assinada, algo visível em todo Estado
e relevante nos municípios focaliza-
O principal avanço registrado na dos, como pode ser visto no Gráfico
década passada pode ser observado 1. A restrição do trabalho assalariado
nos números referentes à ocupação formal (Gráfico 2), que correspondia
assalariada formal (celetistas, esta- a 54,4% dos ocupados no Pará, em
tutários e militares), com o parcial 2014, também é um indicador da
avanço das relações do tipo RTAN, fragilidade das relações de trabalho
porém com elevada instabilidade e no estado.

TABELA 1
Indicadores de atividade econômica e ocupação no mercado de trabalho
Pará e Municípios Selecionados (2010)
Unidade Federativa
Indicador Ananin- Santa-
Belém Marabá Parauapebas Pará
deua rém

População Total 1.393.399 471.980 294.580 233.669 153.908 7.581.051

PIB Per Capita (em R$) 13.506,19 8.692,24 7.835,47 14.814,51 97.342,96 10.876,00
14. A taxa de informalidade
considerada corresponde a Pop. em Idade Ativa (PIA)(1) 1.188.026 394.224 234.565 185.156 122.067 5.701.872
razão entre o total da população
empregada sem carteira de trabalho
assinada (SCart) e aqueles que Pop. Econ. Ativa (PEA) 663.589 225.162 125.665 103.197 71.569 3.206.614
trabalham por conta própria (CC) em
relação a população empregada com Pop. Ocupada (PO) 595.399 199.899 114.556 93.234 63.804 2.901.986
carteira de trabalho assinada, do
setor público (ME) e do setor privado
(CCart); empregadores (E); como
Pop. Desocupada (PD) 68.190 25.263 11.109 9.963 7.765 304.628
também a população empregada
sem carteira de trabalho assinada Taxa de Atividade
e por conta própria. Em termos 55,9% 57,1% 53,6% 55,7% 58,6% 52,8%
formais, (PEA/PIA)
SCart + CC
Taxa de Informalidade = × 100 .
CCart + ME + E + SCart + CC (continua)
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

TABELA 1
Indicadores de atividade econômica e ocupação no mercado de trabalho 95
Pará e Municípios Selecionados (2010) (continuação)
Unidade Federativa
Indicador Ananin- Santa-
Belém Marabá Parauapebas Pará
deua rém

Taxa de Desocupação
10,3% 11,2% 8,8% 9,7% 10,8% 9,5%
(PD/PEA)

Nível de Ocupação
50,1% 50,7% 48,8% 50,4% 52,3% 50,89%
(PO/PIA)
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010
Elaboração do autor
Nota (1): Considera-se a parcela da população acima de 10 anos de idade que se encontra ocupada ou desocupada

GRÁFICO 1
Distribuição dos ocupados no Estado do Pará e municípios selecionados, segundo
formalidade e informalidade
2010 (em %)
100%
90%
80% 68,5 49,5 51,2 53,6 40,6 56,9
70%
60%
Situação de
50% informalidade (%)
40%
Situação de
30% formalidade (%)
20%
31,5 50,5 48,8 46,4 59,4 34,1
10%
0%
Pará Belém Ananindeua Marabá Parauapebas Santarém

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010


Elaboração do autor
GRÁFICO 2
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

96 Taxa de assalariamento (em %)


Pará (2001-2014)
70,0
61,7
60,0 55,2 54,4
50,0
49,7
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: IBGE. Pnad


Elaboração do autor
Obs.: Em 2000 e 2010, em vez da Pnad, o IBGE, realizou o Censo Demográfico

Nas duas últimas décadas, a economia 261 mil, em 2000, para 357 mil, em
de Belém aprofundou uma tendência 2009, com uma taxa de crescimento
já presente na década anterior: a per- médio de emprego de 3,6%, distri-
da de dinamicidade industrial para buídos em quatro segmentos princi-
outros municípios, porém reverten- pais: administração pública, que em
do, parcialmente, o peso econômico 2000 respondia por quase 41,0% dos
via setor terciário, especialmente ser- empregos formais; serviços e comér-
viços especializados e um novo boom cio, responsáveis no início da década
imobiliário centrado na capacidade por 46,5% dos empregos; indústria
comercial da cidade, principalmente a de transformação com uma partici-
partir de 2005 com o crescimento da pação de 5,6% e finalmente, cons-
indústria de construção civil, puxada trução civil, com 4,7% do total. Em
pelos investimentos do Programa de 2009, os setores de serviços e comér-
Aceleração do Crescimento (PAC) e cio já respondiam por 51,5% daquele
Minha Casa Minha Vida. total, e a indústria de transformação
tinha reduzido sua participação para
Vale observar, pelos dados do Ca- somente 4,5% do total.
dastro Geral de Empregados e De-
sempregados (Caged/MTb), que Esses números aparentemente acom-
em 10 anos o estoque de empregos panham a tendência de aumento da
com carteira assinada na capital pa- importância do setor terciário nas
raense passou de aproximadamente economias urbanas no país, porém as
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

características de renda média rece- desenvolvimento do Observatório


97
bida, assim como a precariedade das Paraense do Mercado de Trabalho,
condições ocupacionais, refletem um notando-se que a experiência con-
terciário pouco moderno e centrado junta de uma instituição acadêmica
em serviços de baixo valor agregado. (UFPA) com uma instituição de-
dicada à regulamentação nacional
O Gráfico 3 representa o grau de das relações de trabalho (MTb),
informalidade15 por grande setor, a constitui um esforço para melhor
partir dos dados da Pnad16. Eviden- acompanhamento do mercado de
cia-se o alto grau de informalidade trabalho local, fator importante
na agropecuária, enquanto na indús- para se pensar o fortalecimento de
tria percebe-se uma oscilação no pe- uma ampla rede de análise e acom-
ríodo, mas com volta ao crescimento panhamento do mundo do trabalho
num patamar de 67,7%, para 2014; em nível nacional.
no setor da construção civil ocorreu
oscilação no grau de informalidade, Buscou-se também explicitar as ca-
ao passo que no comércio a taxa de racterísticas próprias das relações de
informalidade vem perdendo força, assalariamento nacionais, tratando a
quando se observa o período analisa- chamada Relação de Trabalho As-
do e no setor de serviços a informa- salariada Normal como resultante
lidade vem oscilando na série, mas, de intervenções regulacionais sobre
para 2014, identifica-se mais uma o mercado de trabalho, bem como
baixa na taxa, que foi de 47,8%. pela preponderância da forma assala-
riada. A perspectiva é de que a inte-
Como mostram os Gráficos 2 e 3, as ração entre o assalariamento regular
taxas de assalariamento tiveram pou- e as diversas formas de emprego não
ca inflexão, mantendo-se bastante regulares corresponde a complemen-
estáveis mesmo durante o período de taridade entre as mesmas e não a
crescimento, o que reforça as conheci- uma dualidade.
das teses de que não há dualismo entre 15. Define-se informalidade pelo
percentual dos trabalhadores
o assalariamento formal e o informal Por fim ao se analisar brevemente o assalariados sem carteira, conta
própria e sem remuneração em
e sim complementariedade, como já mercado de trabalho paraense, ob- relação ao total de ocupados.
tratado na seção 2 deste artigo. servou-se como as referidas relações 16. Vale anotar as diferenças, no que
tange à desagregação geográfica
se refletem em uma economia com e abrangência, das bases Censo e
Pnad. O Censo abrange a totalidade
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS frágil presença do assalariamento da população, ou seja, apresenta o
caráter universal. A Pnad é de caráter
normal, mesmo frente ao cresci- somente amostral e apresenta
menor abrangência (Brasil, Grandes
Ao longo do texto, foram apresen- mento econômico das últimas duas Regiões, unidades da Federação,
Regiões Metropolitanas), conferir:
tados elementos constitutivos do décadas. http://ibge.gov.br/home.
GRÁFICO 3
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

98 Proporção de ocupados em relações informais por grande setor


PARÁ (em %) – 2002 a 2014

90,4
88,2

86,5
85,7

83,5
82,8

80,7
71,8
70,9

70,5
70,0

68,6

68,2

67,7
66,0

65,3
68,2
64,1

63,9

63,4
63,4
62,3

61,9
61,4

61,4
59,1
55,6
54,8
52,9

52,9
52,6

50,2

48,9

48,9

47,8
2002 2004 2006 2008 2011 2012 2014

Agropecuária Indústria Construção Civil Comércio Serviços

Fonte: IBGE. Sidra/Pnad


Elaboração do autor
AS DIMENSÕES DA FORMA SOCIAL DO MERCADO DE TRABALHO E AS FONTES DE INFORMAÇÃO NECESSÁRIAS À SUA COMPREENSÃO:
BREVE EXPOSIÇÃO DO CASO PARAENSE

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VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

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Observatório do Mercado 101
de Trabalho do Maranhão:
considerações sobre o processo
de implantação e organização
Tadeu Gomes Teixeira, Flávia de Almeida Moura,
Bruno Rogens Ramos Bezerra*

1. APRESENTAÇÃO

O objetivo deste artigo é apresentar o processo de constituição do Observa-


tório do Mercado de Trabalho do Maranhão (OMT-MA), descrever seus ob-
jetivos, proposta metodológica e, sumariamente, apresentar as características
da ocupação no estado do Maranhão, indicando o processo de produção de
informações para análise do mercado local de trabalho.

O surgimento da unidade maranhense do Observatório do Trabalho, em par-


ceria com o Observatório Nacional do Mercado de Trabalho (ONMT/MTb),
teve início em outubro de 2015. À época, a Universidade Federal do Mara-
nhão (UFMA), por meio do Grupo de Pesquisa Trabalho e Sociedade, vincu-
lado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, celebrou convênio
com a Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho
(SPPE/MTb) para a implantação da unidade local, compondo a Rede Obser-
vatórios do Trabalho.

O OMT-MA foi concebido para aliar pesquisas sobre o mercado de trabalho


maranhense às atividades de extensão. O propósito central do OMT-MA é
difundir informações sobre o mercado de trabalho e subsidiar políticas públi-
cas de emprego e renda por meio da divulgação de estatísticas sobre o merca-
do de trabalho, incentivando o debate público sobre o tema.
* Os autores são integrantes
do OMT-MA e professores da
Universidade Federal do Maranhão.
E-mail: omtmaranhao@gmail.com
Além disso, os objetivos específicos do Trabalho e pelo Departamento
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

102
são a) impulsionar estudos sobre Intersindical de Estatísticas e Es-
trabalho e mercado de trabalho na tudos Socioeconômicos (DIEESE),
Universidade Federal do Maranhão; pelos Observatórios do Trabalho da
b) analisar as características do mer- Bahia, do Instituto Federal de Goiás,
cado de trabalho maranhense; c) di- pelo Instituto de Pesquisa Econômi-
fundir estatísticas sobre trabalho e d) ca Aplicada (Ipea), entre outros.
subsidiar políticas públicas de traba-
lho, emprego e renda no Maranhão. A diretriz para constituição dos Ob-
servatórios do Trabalho estabelecia o
Desde o início do processo de im- desenvolvimento e a apropriação de
plantação, o OMT-MA foi estru- um conjunto de indicadores sobre os
turado em Coordenação Geral1, temas da demografia, setores de ativi-
Coordenação Técnica, Coordena- dade econômica, ocupação e desocu-
ção Organizacional, Pesquisadores pação, políticas de emprego, trabalho
e Assistentes de Pesquisa. A equipe é e renda, para acompanhamento das
formada por três professores doutores, características do mercado de traba-
que estão na Coordenação, um pes- lho em âmbito local e regional.
quisador de nível técnico com mestra-
do na área de Ciências Sociais e cinco O processo de apropriação metodo-
alunos de graduação. lógica por parte dos integrantes do
OMT-MA foi acompanhado pela
Na próxima seção, apresenta-se o interlocução com representantes
percurso metodológico seguido no do poder público, sobretudo com a
OMT-MA para a compilação e di- Secretaria de Estado de Trabalho e
vulgação de estatísticas do trabalho Economia Solidária do Estado do
e, a partir disso, proceder à interlo- Maranhão (Setres) e representantes
cução com o poder público e a socie- locais do Sistema Nacional de Em-
dade maranhense. prego (Sine-MA).
1. Os integrantes do OMT-MA são
os seguintes: Dr. Marcelo Sampaio
Carneiro (coordenador geral), IMPLANTAÇÃO DO OMT-MA: Nesse sentido, desde a primeira ativi-
dra. Flávia de Almeida Moura
(coordenadora organizacional), Dr. DESAFIOS METODOLÓGICOS dade, o OMT-MA incentivou a par-
Tadeu Gomes Teixeira (pesquisador
desde a implantação e coordenador E INTERLOCUÇÃO SOCIAL ticipação de atores sociais e agentes
técnico a partir de agosto de 2016),
Dr. Paulo Keller (coordenador públicos, com uma oficina ministra-
técnico até julho de 2016 e
pesquisador a partir de então), prof. Após celebrar o convênio com a da pelo analista técnico de Políticas
ME. Bruno Rogens (pesquisador),
Anacleto Aníbal Xavier Domingos e SPPE/MTb, o OMT-MA teve acesso Sociais da SPPE/MTb e Coordena-
Cellyna Manuelle Silva da Paixão
(assistentes de pesquisa), sendo aos dicionários, relatórios e estudos dor Geral do Observatório Nacional
incluídos posteriormente mais três
assistentes de pesquisa. preparados pela Rede Observatórios do Mercado de Trabalho, Vinícius
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Gomes Lobo, ocorrida em dezembro para acompanhamento da conjun-


103
de 2015, na UFMA. O objetivo foi tura ou para análise de mudanças
discutir a utilização dos registros ad- estruturais. A partir disso, foram de-
ministrativos mantidos pelo MTb, finidos os seguintes eixos analíticos
como é o caso do Cadastro Geral de para a composição de uma Cesta de
Empregados e Desempregados (Ca- Indicadores: Caracterização Econô-
ged) e da Relação Anual de Informa- mica, Caracterização Demográfica
ções Sociais (Rais). e da Atividade, Caracterização da
Ocupação, Rendimento e Jornada
Após essa atividade, a equipe do de Trabalho, Saúde do Trabalha-
OMT-MA começou a trabalhar com dor, Mobilidade Urbana, Mobilida-
estas bases de dados e com as esta- de Ocupacional, Estrutura Setorial,
tísticas do IBGE, iniciando um pro- Rotatividade e Flexibilidade, Posição
cesso de compilação de dados sobre na Ocupação e Informalidade, Ca-
o estado do Maranhão. Ao mesmo racterização do Desemprego, Carac-
tempo, buscou acompanhar as dis- terização das Políticas de Emprego,
cussões metodológicas adotadas em Trabalho e Renda, Políticas para os
âmbito nacional pela Rede Observa- assalariados e Políticas para posições
tórios do Trabalho. não assalariadas. Os eixos foram
distribuídos aos Observatórios das
Em fevereiro de 2016, a SPPE con- Universidades Federais para elabo-
vocou uma reunião conjunta dos ração de uma proposta inicial, com
Observatórios integrantes da Rede revisão pelos pares. Coube ao OM-
para definição de metodologia de T-MA propor indicadores do eixo
trabalho. Participaram da reunião de Caracterização Demográfica e da
integrantes do DIEESE e segmentos Atividade.
de trabalhadores e empresários par-
ticipantes do Conselho Deliberativo O contato com pesquisadores da rede
do Fundo de Amparo ao Trabalha- de observadores ajudou o OMT-MA
dor (Codefat). a se apropriar das bases e a construir
critérios metodológicos para realizar
Definiu-se que os Observatórios das análises com um recorte estrutural e
Universidades Federais parceiras fa- conjuntural e, consequentemente, co-
riam uma revisão do conjunto de meçar a acompanhar a dinâmica do
indicadores proposto pelo ONMT mercado de trabalho no Maranhão.
e proporiam novos indicadores que
tivessem, sobretudo, um recorte Para além da análise em âmbito esta-
adequado ao contexto regional, seja dual, o OMT-MA também é respon-
sável em acompanhar a dinâmica do Estadual Paulista Júlio de Mesqui-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

104
mercado de trabalho de cinco muni- ta Filho (Unesp) e pesquisador de
cípios maranhenses, como previsto temas relacionados ao trabalhador
no convênio com o Ministério do rural, complexo sucroalcooleiro e
Trabalho: São Luís, Açailândia, Im- políticas agrícolas. O objetivo prin-
peratriz, Codó e Barreirinhas. cipal do evento foi reunir pesquisa-
dores, professores, agentes públicos,
Ainda no âmbito da qualificação dos sindicalistas, estudantes e sociedade
membros do OMT-MA, a equipe do para discutir os desafios relacionados
DIEESE, através do Convênio com ao mercado de trabalho no contex-
o MTb, realizou uma oficina duran- to atual. Neste sentido, o encontro
te três dias no mês de maio de 2016, possibilitou estreitar vínculos com a
da qual participaram os integrantes sociedade civil e divulgar o processo
do Observatório e servidores do Sine de implantação do OMT-MA.
do Maranhão. O objetivo foi capa-
citar os participantes para utilizar os Durante a organização do I Encon-
registros administrativos do Ministé- tro, a equipe do OMT-MA pode
rio do Trabalho nas análises sobre o estreitar o relacionamento com o po-
mercado de trabalho local. der público estadual, principalmente
com a Setres do Maranhão, que além
A consolidação do OMT-MA junto de ajudar com recursos para viabilizar
à comunidade acadêmica e também o evento, também se interessou pela
à sociedade maranhense se deu na proposta e tem realizado várias par-
realização do I Encontro do Obser- cerias com a equipe do observatório.
vatório do Mercado de Trabalho no Desde então, a equipe do Observa-
Maranhão, ocorrido em julho de tório esteve presente em várias reuni-
2016 na UFMA. Na ocasião, além ões e eventos promovidos pela Setres,
dos pesquisadores do Maranhão, integrando o Grupo de Trabalho
estiveram presentes integrantes da sobre Mulheres e Pessoas com Defi-
Rede Observatórios do Trabalho ciência, além de ministrar formações
(Pelotas, Pernambuco, Bahia, Pará para agentes públicos de emprego,
e Campina Grande), especialistas na representantes de agências estaduais
área de trabalho, como os professores do Sine da capital e de municípios
José Dari Krein, do Instituto de Eco- do interior do estado. Realizaram-se
nomia da Unicamp e pesquisador também reuniões técnicas com a di-
do Cesit (Centro de Estudos Sindi- retoria do Sindicato dos Bancários do
cais e Economia do Trabalho) e José Maranhão, tendo em vista possíveis
Giacomo Baccarin, da Universidade articulações de trabalho.
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Para encerrar o primeiro ano de im- ção e sindicalistas, sobretudo, por es-
105
plantação do OMT-MA, foi reali- sas informações mensalmente.
zada a I Oficina de articulação com
agentes públicos no dia 15 de dezem- O Boletim Mensal abrange o Estado
bro de 2016, ocasião em que foram do Maranhão.
publicados os Boletins Estruturais e
Conjunturais. Os temas e indicadores presentes no
boletim foram selecionados para 1)
3. ESTUDOS E RELATÓRIOS: evidenciar o desempenho do merca-
PRODUTOS DO OMT-MA do de trabalho e 2) indicar o perfil
do trabalhador admitido e desligado
O OMT-MA elaborou, a partir dos no mês de referência.
eixos metodológicos, quatro rela-
tórios para atender à demanda do Assim, na primeira seção do Boletim,
ONMT e para acompanhar a dinâ- há informações sobre os seguintes te-
mica local do mercado de trabalho: mas no que se refere ao desempenho
1) Relatório Mensal; 2) Relatório do mercado de trabalho maranhense:
Conjuntural; 3) Relatório Estrutural
Municipal e, por fim, 4) Relatório • Saldo de empregos formais no
Estrutural do Maranhão2. Nordeste e no Maranhão;

O propósito do Boletim Mensal é • Variação absoluta e relativa nos


acompanhar a dinâmica do mercado vínculos formais de emprego (to-
formal de trabalho maranhense por tal de admissões e demissões no
meio dos dados administrativos do mês de referência);
Cadastro Geral de Empregados e De-
sempregados (Caged), registro admi- • Variação absoluta dos vínculos
nistrativo do Ministério do Trabalho formais de emprego nos últimos
que acompanha as admissões e des- 12 meses;
ligamentos dos vínculos de emprego
regidos pela Consolidação das Leis • Variação absoluta de vínculos dos
Trabalhistas (CLT) no Brasil. Busca- empregos formais por setor de
se situar o desempenho do mercado atividade econômica (Extrativa
de trabalho local, sobretudo em re- Mineral, Indústria de Transfor-
lação ao saldo de vínculo de empre- mação, Construção Civil etc.)
gos gerados, com o desempenho da
região Nordeste. Há uma demanda, • Cinco municípios que mais demi- 2. Indicadores e modelo em
elaboração, aperfeiçoamento e
por parte de veículos de comunica- tiram no mês de referência; revisão.
• Cinco municípios que mais cria- jetivo é monitorar o desempenho do
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

106
ram postos de trabalho no mês de mercado de trabalho e as característi-
referência. cas demográficas. Com periodicida-
de trimestral, abrange o Estado e a
Quanto ao perfil do trabalhador, os capital, São Luís.
seguintes aspectos foram seleciona-
dos para acompanhamento: O Boletim Conjuntural está orga-
nizado em três seções: 1) Caracte-
• Admitidos e desligados por sexo rização Demográfica; 2) Aspectos
no mês de referência; Estruturais do Mercado de Trabalho
e 3) Mercado de Trabalho Formal.
• Grau de instrução dos admitidos
no mês de referência; Os indicadores e temas monitorados
são os seguintes:
• 10 ocupações que mais admiti-
ram no mês de referência; • Distribuição da população mara-
nhense por sexo;
• 10 ocupações que mais demitiram
no mês de referência; • Distribuição da população mara-
nhense por grupos de idade;
• Faixa salarial média dos admiti-
dos e desligados no mês de refe- • Distribuição da população mara-
rência; nhense por nível de instrução;

• Saldo dos admitidos e desligados • Taxa de participação no mercado


por sexo no mês de referência; de trabalho (População economi-
camente ativa em relação à popu-
• Saldo dos admitidos e desligados lação em idade ativa) por sexo
por faixa etária no mês de referên-
cia; • Distribuição da população ocupa-
da por sexo;
A proposta do Boletim Conjuntural
é sistematizar e divulgar dados da • Taxa de ocupação e desocupação
Pesquisa Nacional por Amostra de no mercado de trabalho por nível
Domicílio - Contínua (Pnad-Contí- de instrução;
nua) e uma síntese do Cadastro Ge-
ral de Empregados e Desempregados • Taxa de desocupação por grupos
(Caged) do período analisado. O ob- de idade;
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

• Pessoas ocupadas por posição na panhados são: São Luís, Açailândia,


107
ocupação no trabalho principal; Imperatriz, Codó, Barreirinhas e, a
partir de 2017, Balsas.
• Pessoas ocupadas por grupamento
de atividade no trabalho principal; O Relatório Estrutural possui as se-
guintes seções: 1) caracterização de-
• Pessoas ocupadas por grupamen- mográfica; 2) aspectos estruturais do
tos ocupacionais; mercado de trabalho e 3) comporta-
mento do emprego formal.3 Os indi-
• Rendimento médio real do traba- cadores compilados e sistematizados
lho principal e de todos os traba- a partir de uma abordagem longitu-
lhos por sexo (Brasil, Nordeste, dinal são os seguintes:
Maranhão e São Luís);
• População residente por situação
• Saldo de movimentação (admissão de domicílio
e demissão) de empregos formais
por setor de atividade em 12 meses • Evolução da população por situa-
ção de domicílio
• Saldo da movimentação de víncu-
los de empregos formais por setor • População por sexo
de atividade;
• Evolução da população por cor
• Pessoas ocupadas por grupamento
de atividade no trabalho principal; • População por faixa etária

• Faixa salarial média das admis- • População Economicamente Ati-


sões formais em 12 meses. va (PEA)

O Relatório Municipal Estrutural • PEA por faixa de idade


tem como propósito sistematizar e
divulgar informações semestrais de • Distribuição da PEA por sexo
municípios selecionados. Serão utili-
zados dados do Censo Demográfico • Saldo dos vínculos de emprego
(IBGE), do Cadastro Geral de Em- formal 3. O Relatório Estrutural estadual é
mais abrangente, com as seguintes
pregados e Desempregados (Caged), seções: Caracterização demográfica
do estado do Maranhão, aspectos
da Relação Anual de Informações • Saldo dos vínculos de emprego estruturais da força de trabalho
maranhense, características e
Sociais (Rais) e do Sistema de Con- formal por setor de atividade eco- tendências da ocupação, rendimento
da população e comportamento e
tas Nacionais. Os municípios acom- nômica tendências do emprego formal.
• População em Idade Ativa (PIA) A partir desses indicadores, apresen-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

108
ta-se, na próxima seção, uma carac-
• População Ocupada (PO) por es- terização e tendências da ocupação
colaridade no Maranhão.

• População Ocupada (PO) por po- 4. CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS


sição na ocupação DA OCUPAÇÃO NO MARANHÃO

• Rendimento mensal da População A taxa de desocupação no mercado


de trabalho tem sido crescente des-
• Rendimento médio da população de o 3º trimestre de 2013 no Brasil,
em 2010 no Nordeste, no Maranhão e em São
Luís, de acordo dados da Pesquisa
• Rendimento das pessoas com de- Nacional por Amostra de Domicílios
ficiência Contínua do IBGE, como verificado
no Gráfico 1.

GRÁFICO 1
Evolução da taxa de desocupação no Brasil, Nordeste, Maranhão e São Luís
3º trimestre de 2013 ao 3º. trimestre de 2016 - Em %
60

#+"'$
50

14,7
40
##"&$
14,3

10,6
9,1
30
8,4
#("#$
7,7 7,4 6,7
20
10,8
9,4 9 8,6
11,8
10
8,9
7,1 6,9 6,8

0
3º trimestre 2012 3º trimestre 2013 3º trimestre 2014 3º trimestre 2015 3º trimestre 2016

Brasil Nordeste Maranhão São Luís

Fonte: IBGE. Pnad Contínua


OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Entre 2000 e 2010 houve diminui- carteira de trabalho assinada que


109
ção do percentual de trabalhadores saltou de 12,4% para 21,6%, e dos
por conta própria no Maranhão de empregados sem carteira de trabalho
35,7% para 27,5%, de acordo com assinada, que elevaram sua partici-
dados dos Censos de 2000 e 2010. pação de 23,7% para 28,5%, como
Por outro lado, os dados revelam que mostram os dados no Gráfico 2.
houve um ligeiro aumento dos tra-
balhadores que trabalhavam para o A Pnad Contínua mostra também
próprio consumo, que passaram de uma tendência importante do em-
11,4% para 12,4%. Apesar da pe- prego por setor de atividade do tra-
quena redução da participação dos balho principal desde o 3º trimestre
militares e funcionários públicos es- de 2012. O setor Agropecuária, Pe-
tatutários (de 6,2% para 5,9%), no cuária, Produção Florestal, Pesca e
mesmo período houve o aumento Aquicultura que ocupava 28,1% da
do número total de trabalhadores população ocupada, vem diminuin-
empregados, em virtude da elevação do sua participação até atingir 19,8%
da participação dos empregados com no 3º. trimestre de 2016 (Gráfico 3).

GRÁFICO 2
Evolução da População Ocupada por Posição na Ocupação entre 2000 e 2010 - Em %

35,7
Conta própria
27,5

1,3
Empregador
0,9

11,4
Trabalhador na produção para o próprio consumo
12,4

9,4
Não remunerado em ajuda a membro do domicílio
3,3

23,7
Empregado sem carteira de trabalho assinada
28,9

6,2
Empregado – militar e funcionário público estatutário
5,9

12,4
Empregado com carteira de trabalho assinada
21,6

2000 2010

Fonte: IBGE. Censos Demográficos


GRÁFICO 3
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

110 Pessoas ocupadas por grupamento de atividade principal - Em %

28,1
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e...
19,8
6,4
Indústria geral
6,6
5,0
Indústria de informação
5,3
9,8
Construção
9,7
1,8
Comércio, reparação de veículos automotores e ...
21,5
3,5
Transporte, armazenagem e correio
4,1
3,1
Alojamento e alimentação 4,9
4,3
Informação, comunicação e atividades finaceiras, ...
4,4
16,2
Administração pública, defesa, seguridade social, ...
18,6
4,4
Outro serviço
4,4
6,0
Serviço doméstico
6,0
3º trimestre 2012 3º trimestre 2013 3º trimestre 2014 3º trimestre 2016

Fonte: IBGE. Pnad Contínua

A Indústria de Transformação, por Em relação ao emprego formal, ve-


outro lado, teve pequena elevação rifica-se que o volume de postos de
na população ocupada de 5% no 3º trabalho tem crescido nas últimas
trimestre de 2012, chegando a 2016 duas décadas no Maranhão. Em
com 5,3%. As atividades que empre- 2003, o estado possuía um estoque
garam a maior parte da população de 348.761 vínculos de emprego for-
maranhense no 3º trimestre de 2016, mal, enquanto em 2015, o montante
contudo, são Comércio, Reparação chegou a 722.866, ou seja, um cres-
de Veículos Automotores e Bicicle- cimento absoluto de 107% no volu-
tas (21,5%) e Administração Pública, me de empregos formais, conforme
Defesa, Seguridade Social, Educa- o Gráfico 4, embora a crise iniciada
ção, Saúde Humana e Serviço Social em 2014 tenha imposto uma seve-
(18,6%), além da Agropecuária, pro- ra perda de postos de trabalho entre
dução florestal, pesca e aquicultura, 2014 e 2015.
como apontado no parágrafo anterior.
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

GRÁFICO 4
Evolução do estoque de vínculos de empregos formais no Maranhão 111
2003 a 2015 (em números absolutos)

711.490 738.826 722.866


696.348
675.274

562.275
540.010
482,938

400.154
348.761

2003 2005 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: MTb. Rais

O aumento do estoque de empregos meio salário mínimo (1.024.000


formais tem sido acompanhado pelo pessoas). Em 2013, eram 16,5%
aumento gradativo da participação nessa faixa de rendimento (908 mil
feminina, conforme o Gráfico 5. Em pessoas), como consta na Tabela 1.
2007 elas ocupavam 43,7% dos vín- O aumento do percentual de pesso-
culos formais, percentual que se ele- as nessa faixa de rendimento pode
vou para 45,1% em 2015. estar relacionado ao decréscimo da
população sem rendimento.
Quanto ao rendimento da popu-
lação maranhense, os dados da Em 2015, 23,4% auferiam entre meio
Pesquisa Nacional por Amostra e um salário mínimo (1.322.000 pes-
de Domicílio do IBGE mostram soas), enquanto em 2013 o percentu-
a distribuição do rendimento mé- al era de 22,0% (1.211.000 pessoas).
dio mensal da população em ida- O percentual dos que ganhavam en-
de ativa (pessoas com mais de 10 tre um e dois salários mínimos tam-
anos de idade). De acordo com os bém aumentou entre 2011 e 2015,
dados, verifica-se que, em 2015, saindo de 15,0% em 2011 e chegan-
18,1% da população auferiam até do a 16,4% em 2015.
GRÁFICO 5
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

112 Participação de homens e mulheres no estoque de empregos formais entre 2007 e


2015 - ( em %)
56,3 57,1 56,1 54,9

43,7 43.9 45,1


42,9

2007 2010 2013 2015

Masculino Feminino

Fonte: MTb. Rais

TABELA 1
Distribuição da população maranhense por faixa de rendimento médio mensal
Maranhão - 2011, 2013 e 2015 (em %)
Faixas de rendimento 2011 2013 2015

Sem rendimento 38,2 35,6 33,9

Até 1/2 salário mínimo 15,9 16,5 18,1

Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 21,4 22,0 23,4

Mais de 1 a 2 salários mínimos 15,0 16,2 16,4

Mais de 2 a 3 salários mínimos 3,6 4,0 3,0

Mais de 3 a 5 salários mínimos 2,1 2,2 2,3

Mais de 5 a 10 salários mínimos 1,3 1,4 1,4

Mais de 10 a 20 salários mínimos 0,5 0,5 0,6

Mais de 20 salários mínimos 0,2 0,2 0,2

Sem declaração 1,8 1,5 0,9


Fonte: IBGE. Pnad
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Houve, contudo, uma redução no de informações sobre o mercado de


113
percentual dos que ganhavam entre trabalho, portanto, é o principal foco
dois e três salários mínimos, que au- da implantação da unidade do Ob-
mentou entre 2011 e 2013, quando servatório do trabalho no estado.
chegou a 4,0%, e regrediu para 3,0%
em 2015 (redução de 223 mil pes- As dificuldades iniciais para implan-
soas para 167 mil). Houve também tação do OMT-MA foram, sobretu-
um ligeiro aumento dos que ganham do, relacionadas à uniformização dos
entre três e cinco salários mínimos relatórios e mecanismos de extração
entre 2013 e 2015 (de 122 para 128 dos dados dos registros administrati-
mil pessoas), ou seja, de 2,2 % para vos mantidos pelo Ministério do Tra-
2,3%. Os que ganham de cinco a 10 balho. Essas atividades foram o foco,
salários mínimos entre 2013 e 2014 no que concerne aos procedimentos
se mantiveram em 1,4% da popula- operacionais, do primeiro ano de
ção, ainda que tenham passado de 79 OMT-MA. A partir disso, buscar-se-
para 78 mil pessoas. Ainda no topo, -á aperfeiçoar a qualidade dos dados
houve um aumento entre os que ga- apresentados nos relatórios e elabo-
nham mais de 10 a 20 salários míni- rar, de forma mais profícua, estudos
mos, que saíram de 0,5% para 0,6% setoriais. Tais propósitos são factíveis
(de 25 para 30 mil pessoas). ao se desenvolver uma rotina no pro-
cesso de elaboração dos relatórios.
Em 2015, no cômputo geral, há
57,9% da população recebendo até O OMT-MA elaborou, conforme
dois salários mínimos, 7,4% rece- convênio com o Ministério do Tra-
bendo valores acima e 33,9% sem balho, mecanismos para subsidiar o
rendimento, sendo que 0,9% da po- governo do estado por meio da Secre-
pulação não declarou rendimento. taria de Estado de Trabalho e Econo-
mia Solidária, alcançando também as
CONSIDERAÇÕES FINAIS agências do Sine. Como diretriz, tem-
se como desafio articular parcerias
Busca-se, com a constituição do com representantes dos trabalhadores
OMT-MA, dinamizar as pesquisas e patronais que estejam engajados no
sobre o mercado de trabalho e, a processo de compreensão e discussão
partir disso, subsidiar o processo de do mercado de trabalho local.
formulação, implementação e avalia-
ção de políticas públicas que visem a Além disso, o convênio com o Mi-
geração de trabalho, emprego e ren- nistério do Trabalho tem sido aten-
da no Maranhão. A produção local dido pela elaboração dos Boletins
sobre o mercado de trabalho em di- e estruturais do mercado de trabalho
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

114
versos formatos: mensal, trimestral e maranhense, elementos que estão
semestral, contemplando tanto uma alinhados, portanto, ao propósito de
análise de municípios selecionados, produção de informações locais so-
como também aspectos conjunturais bre o mercado de trabalho.
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 115


BRASIL. Ministério do Trabalho. Relação Anual de Informações Sociais: RAIS.
Brasília, DF: MTE, 2015.
IBGE. Censo demográfico 2010: séries históricas. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua. Rio de Janeiro:
IBGE, 2016.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho. Manual da RAIS. Brasília, DF: MTE, 2010.
Observatório do Mercado
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

116
do Trabalho de Pernambuco:
atividades iniciais e alguns
resultados preliminares

Cristiano Wellington Noberto Ramalho*


Sidartha Sória e Silva**

1. APRESENTAÇÃO

* Doutor em Sociologia (Unicamp),


professor do Departamento de
O objetivo deste texto é apresentar as questões e os processos que fundamenta-
Sociologia da UFPE e um dos
coordenadores do Observatório
ram o surgimento do Observatório do Mercado de Trabalho de Pernambuco
do Mercado de Trabalho de
Pernambuco (OMT-PE) da UFPE.
(OMT-PE) no âmbito do Departamento de Sociologia (DS) da Universidade
E-mail: sidartha.soria@gmail.com
Federal de Pernambuco (UFPE), seja em termos práticos, seja quanto aos ele-
** Doutor em Ciências Sociais
(Unicamp), professor do mentos de ordem metodológica e teórica que o estruturaram (e o estruturam).
Departamento de Sociologia da
UFPE e um dos coordenadores Ademais, realizar-se-á, com base na utilização do banco de dados, um balan-
do Observatório do Mercado de
Trabalho de Pernambuco (OMT-PE) ço sobre o mercado de trabalho em Pernambuco, especialmente o da Região
da UFPE. E-mail: cristiano.ramalho@
ufpe.br Metropolitana do Recife, de 2004 a 2015, porque nesses anos foram observa-
1. Sobre isso, é importante destacar dos grandes avanços, recuos e transformações no universo do trabalho.
alguns aspectos: (a) os trabalhos
de pesquisa e de orientação
realizados pela profª. draª. Josefa
Salete Barbosa Cavalcanti (UFPE), Cabe destacar que a implantação do OMT-PE expressa um acúmulo de estudos
os quais versam sobre o universo do
trabalho ligado às suas reflexões na construídos pelo DS e pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS)
área da sociologia da agricultura,
principalmente a produção de frutas da UFPE nas últimas décadas, pois pesquisas com diversos recortes foram pro-
para exportação no Vale do São
Francisco, Nordeste do Brasil; e (b) duzidas sobre profissões, trabalho no meio rural1, na educação ou nas organiza-
a existência, na grade curricular do
curso de graduação em Ciências ções etc., apesar de a sociologia do trabalho não ser o eixo dessas análises.
Sociais, na condição de eletiva, da
disciplina Sociologia do Trabalho.
2. O contato e estímulo para a
criação do OMT-PE partiu do Sr.
Em 2015, a combinação de alguns fatores permitiu a criação do Observatório
Vinicius Lobos do Observatório
Nacional do Mercado de Trabalho
do Mercado do Trabalho de Pernambuco (OMT-PE), na UFPE, a saber:
(ONMT/MTb).
3. O interesse e o empenho do chefe
e o Subchefe do DS (professores (1) O contato estabelecido pelo Ministério do Trabalho (MTb)2 com o DS3 e
doutores Emílio de Britto Negreiros
e Arthur Perrusi, respectivamente) e o PPGS, e, de outro lado, o grande interesse de tais instâncias da Universi-
da coordenadora do PPGS (profª. drª.
Eliane Veras) foram decisivos. dade em implantar o OMT-PE na UFPE;
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

(2) A chegada de docentes4 ao DS – 2. PROCEDIMENTOS 117


entre o final do primeiro e início METODOLÓGICOS
do segundo semestre de 2015 –
com preocupações voltadas para No segundo semestre de 2015, foram
pesquisas ligadas, de maneira feitas discussões almejando a formu-
direta, ao mundo do trabalho, lação e preparação para montagem
o que foi um dos elementos mo- do projeto e instalação do OMT-PE
tivadores do interesse, tanto do da UFPE, junto com debates inter-
DS, quanto do PPGS, para ins- nos da equipe7 a respeito de temas
talação do OMT-PE. A isto se teóricos e metodológicos sobre o tra-
somou o fato de também existir, balho e o mercado de trabalho. 4. Professores doutores Cristiano
Wellington Noberto Ramalho e
em seus quadros, professores e Sidartha Sória e Silva.
pesquisadores dedicados ao tema No geral, o OMT-PE foi constituído 5. Professores doutores Francisco
Jatobá (DS/PPGS/UFPE) e Remo
da estatística5 (o OMT-PE se va- para realizar: (a) o monitoramento, a Mutzenberg (DS/PPGS/UFPE).
lerá de um expressivo banco de produção de dados e análises sobre 6. Prof. Ricardo Santiago. Ademais,
vale lembrar a presença de Victor
dados estatísticos para seu traba- o mercado de trabalho (formal e a Rodrigues (na época, professor
substituto em sociologia do DS/UFPE
lho) e da sociologia do desenvol- informalidade); saúde e adoecimen- e doutorando em sociologia pela
UFPB), que hoje compõe a equipe
vimento6; to no trabalho; negociações coleti- do OMT-PE.
vas; (b) subsidiar políticas públicas, 7. Equipe do OMT-PE: coordenadores
prof. dr. Cristiano Wellington
(3) O vácuo e a necessidade da a ação de gestores públicos, entida- Noberto Ramalho - DS/UFPE - e
prof. dr. Sidartha Sória e Silva - DS/
produção de informações siste- des sindicais e movimentos sociais; UFPE); Pesquisadores Emílio de
máticas, também por parte da (c) produzir estudos temáticos sobre Britto Negreiros (DS/UFPE),
Francisco Jatobá de Andrade (DS/
Universidade, sobre o Mercado o mercado de trabalho (juventude, UFPE), Ricardo Santiago (DS/UFPÈ) e
Romero Maia (IBGE); técnica Fabiana
do Trabalho em Pernambuco (a questões raciais, gênero, meio am- Bernardino Guedes; alunos(as)
bolsistas e voluntários: Clara de
exemplo da Região Metropoli- biente, pescadores etc.); (d) produzir Lima Hordonho, Daiana Angelo,
Jean Maciel da Costa Silva, Jonathan
tana do Grande Recife e outras pesquisas sobre o trabalho no meio Cartaxo Lopes, Patrícia Marília
Felix da Silva, Ramona Raissa do
localidades do estado), que ve- rural; e (e) atender demandas especí- Nascimento Guerra Melo Ribeiro,
Stephanie Gueiros e Victor de
nham a servir de subsídios para ficas oriundas dos sujeitos vinculados Oliveira Rodrigues
que os gestores públicos, movi- ao mercado do trabalho. 8. Equipe do OMT-PE: coordenadores
prof. dr. Cristiano Wellington
mentos sociais, sindicatos de tra- Noberto Ramalho - DS/UFPE - e
prof. dr. Sidartha Sória e Silva - DS/
balhadores e do patronato pres- Para tanto, o estabelecimento, de UFPE); Pesquisadores Emílio de
Britto Negreiros (DS/UFPE),
sionem e/ou elaborem políticas maneira contínua, de parcerias com Francisco Jatobá de Andrade (DS/
públicas voltadas ao mundo do gestores públicos e grupos da socie- UFPE), Ricardo Santiago (DS/UFPÈ) e
Romero Maia (IBGE); técnica Fabiana
trabalho nas suas mais diversas dade que demandem estudos e le- Bernardino Guedes; alunos(as)
bolsistas e voluntários: Clara de
conformações. vantamentos de informações sobre Lima Hordonho, Daiana Angelo,
Jean Maciel da Costa Silva, Jonathan
o mercado de trabalho é algo que Cartaxo Lopes, Patrícia Marília
Felix da Silva, Ramona Raissa do
Esses aspectos foram decisivos para a deverá permear e alimentar tam- Nascimento Guerra Melo Ribeiro,
Stephanie Gueiros e Victor de
constituição do OMT-PE. bém os procedimentos das ativi- Oliveira Rodrigues
dades a serem desenvolvidas pelo realizada. Sem dúvida, o OMT-PE
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

118
OMNT-PE. não demarcará seus estudos de dados
levantados a partir de uma única op-
Mesmo com os objetivos destacados, ção teórica.
uma pergunta de caráter geral tor-
nou-se fundamental, pois orientará, A abrangência das questões desta-
ao menos até novos questionamentos, cadas permite agregar, além das in-
os subsídios levantados/pesquisados, formações em caráter de subsídios
enriquecendo o saber-fazer em ter- para análise do mercado do traba-
mos de procedimentos metodológi- lho (mais técnico-descritivo do que
cos e também teóricos do OMT-PE. teórico8), possibilidades de reflexões
variadas sobre o tema, as quais não
Assim, no âmbito mais geral, uma deixarão de dialogar com as mais
questão estruturou nosso horizonte diversas linhas teóricas, mas que de-
teórico-metodológico: A partir da In- verão possibilitar, antes de tudo, ne-
fluência de Aspectos Estruturais e Con- cessárias interpretações do mercado
junturais do Mercado do Trabalho, de trabalho em Pernambuco em ter-
como é possível compreender e iden- mos estruturais e conjunturais
tificar quem é a nossa Classe Traba-
lhadora? Isso se desdobrou em duas O OMT-PE foi instalado e teve o
importantes indagações: (1) Quem é início formal de suas atividades em
e como é o fazer-se trabalhador(a)? e fevereiro de 2016, com a formaliza-
(2) Como o mercado de trabalho está ção do convênio entre a UFPE e o
organizado em termos de suas dinâmi- Ministério do Trabalho, embora -
cas de modo diacrônico e sincrônico? como destacado - as ações tenham
começado a ser desenvolvidas meses
Aqui, reflexões clássicas e contempo- antes.
râneas sobre classe social (ALVES,
2000; ANTUNES, 2005; BOUR- Inicialmente o foco dos estudos, que
DIEU, 2008; BRAGA, 2012; PO- será ampliado a partir de 2017, tem
CHMANN, 2012; SOUZA, 2011; em seis municípios da Região Metro-
STANDING, 2013; THOMPSON, politana do Recife (RMR) sua fonte
9. Em alguns momentos, existirá 1997; WRIGHT, 2015) e merca- empírica de análise: Cabo de Santo
a produção de informações com
caráter mais descritivo (sem que do de trabalho (BARBOSA, 2008; Agostinho, Camaragibe, Jaboatão
isso signifique ausência de análises
mais aprofundadas) e, em outros (a CARDOSO, 2010; SORENSEN, dos Guararapes, Paulista, Olinda
depender o público solicitante e da
necessidade), a pesquisa poderá ter 2015) apresentam-se como essen- e Recife compõem o nosso quadro
um caráter mais acadêmico (sem
deixar de expressar e conter uma ciais, especialmente a depender dos para desenvolvimento de análises e
linguagem acessível ao público
em geral). sujeitos focalizados na análise a ser debates dos dados.
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

Tais municípios foram selecionados (todos os municípios); e pela pre-


119
por conta das seguintes questões: sença de importantes sujeitos do
universo do trabalho (sindicatos,
(a) Para as atividades do OMT-PE, movimentos sociais, federações,
especialmente relativas aos 12 associações dos trabalhadores e
meses iniciais de instalação, es- patronais, além de gestores de al-
ses municípios eram os mais pro- guns dos principais municípios de
missores para serem mobilizados, Pernambuco, incluindo a capital,
no que concerne à construção de em termos econômicos, sociais e
parcerias com a UFPE e para par- políticos).
ticiparem das oficinas do Obser-
vatório, inclusive por questões de (c) Como o OMT-PE está no início
ordem geográfica e logística. de suas atividades, a partir da
montagem da equipe e, ao mesmo
(b) Ademais, tais localidades con- tempo, construindo uma cultura
centram parte considerável do institucional de pesquisa na área
PIB de Pernambuco, ou seja, elas do trabalho vinculado ao DS, a
têm importância para o mercado primeira decisão foi direcionar os
de trabalho pernambucano em esforços iniciais para os municí-
decorrência do PIB, da geração pios da RMR, seja pelo conjunto
de emprego e renda, da maior de informações já existentes ou
pluralidade de atividades econô- que podem ser levantadas com
micas existentes, da presença do maior facilidade e, acima de tudo,
setor da construção (Recife, Jabo- profundidade; seja pela possibi-
atão); pelo acelerado crescimento lidade de maior e melhor articu-
econômico vivido nos últimos lação junto aos poderes públicos
anos (a exemplo do Cabo); por e sindicatos. O acúmulo gerado
já terem sido importantes polos por meio da experiência a ser de-
para alguns setores industriais senvolvida no trabalho sobre os
(Paulista e Camaragibe); pelas seis municípios permitirá agregar
características rurais e pesquei- outras localidades e/ou regiões
ras que algumas dessas cidades pernambucanas até o segundo se-
ainda mantêm, devido a alguns mestre de 2017;
distritos ou comunidades (Cabo,
Jaboatão, Olinda, Paulista); por (d) No que diz respeito à infraestru-
serem cidades dormitório (Olin- tura estão disponíveis, na própria
da, Paulista e Camaragibe); pela UFPE, condições para mobilizar
forte presença do setor de serviços e trazer para as oficinas do OM-
T-PE os gestores públicos e movi- informações que podem ser usadas
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

120
mento sindical e setores do patro- na composição da tabela (como as
nato, o que se torna mais ágil. diferentes fontes e bancos de dados).

Através desses encaminhamentos, No site do DIEESE, na seção do Sis-


partiu-se para o desenvolvimento dos tema Público de Emprego Trabalho
indicadores sobre o mercado do tra- e Renda, existe uma ampla gama de
balho de acordo com os compromis- indicadores para consulta por campo,
sos estabelecidos na reunião nacional temática e área. No site é possível en-
dos Observatórios com o Ministério contrar parte dos indicadores que se-
do Trabalho, que ocorreu em junho lecionamos (alguns estão um pouco
de 2016 em São Luís – MA, ocasião diferentes, mas é possível fazer uma
em que o OMT-PE ficou responsável comparação na similaridade). No
pelo eixo Políticas Públicas de Empre- material do DIEESE encontram-se
go, Trabalho e Renda. Foram utiliza- alguns documentos com uma ampla
dos, acima de tudo, indicadores do qualificação de indicadores (bastante
Departamento Intersindical de Esta- detalhada) que segue as orientações
tísticas e Estudos Socioeconômicos do Departamento. Também foi utili-
(DIEESE), constantes no Anuário zado material do Instituto Brasileiro
do Sistema Público de Emprego Tra- de Geografia e Estatística (IBGE).
balho e Renda 2015 (fruto de convê-
nio com o MTb), o qual foi também Os indicadores que foram discuti-
uma referência importante para dar dos pelo OMT-PE vincularam-se ao
certa unidade aos indicadores tam- tema Políticas Públicas de Emprego,
bém produzidos no âmbito de outros Trabalho e Renda, focalizando da-
observatórios. O uso como referên- dos como: (a) Mercado de Trabalho;
cia deste material do DIEESE foi im- (b) Intermediação da força de traba-
portante pelo fato de já existir toda lho; (c) qualificação; (d) Economia
a construção formal dos indicadores solidária, microcrédito, Proger; (e)
(fonte, fórmula de cálculo, periodi- Seguro-desemprego formal: Aspec-
cidade, granularidade etc.) defini- tos gerais do público potencial do
dos a partir de acúmulo construído Seguro-desemprego formal; (f) Perfil
pelo próprio DIEESE em termos das vagas oferecidas pelo Sine,
teórico-metodológicos. Infelizmen-
te a publicação não indica a “ficha No geral, as bases de dados, que já
de qualificação das variáveis” (a fi- estão sendo utilizadas, são: Pesquisa
cha que disponibilizaria todos esses Nacional por Amostra de Domicí-
detalhes), mas já apresenta algumas lios (Pnad/IBGE), Sistema de Con-
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

tas Nacionais (SCN/IBGE), Relação e indiretamente ao universo do


121
Anual de Informações Sociais (Rais/ trabalho. Além disso, os mesmos
MTb), Cadastro Geral de Emprega- serão disponibilizados na página
dos e Desempregados (Caged/MTb), do OMT-PE; entregues, em for-
Sistema Nacional de Emprego (Sine/ mato impresso, às pessoas presen-
MTb), Pesquisa de Emprego e De- tes nos respectivos lançamentos e
semprego (PED) do DIEESE/Seade também enviados por e-mail;
e parceiros regionais e do Censo Es-
colar da Educação Básica do Institu- (b) produção de documentos espe-
to Nacional de Estudos e Pesquisas ciais voltados a temas específicos
Educacionais (Inep). (juventude, mulher, informalida-
de, educação, população negra
Por fim, o curso ofertado pelo etc.), que podem ser feitos por
DIEESE por meio do convênio com meio de demandas dos grupos so-
o MTb de 8 a 10 de agosto de 2016 ciais e/ou devido à relevância dos
intitulado “A produção de informa- mesmos para a compreensão do
ções sobre o mercado de trabalho lo- próprio mercado de trabalho em
cal a partir das estatísticas do MTb” suas dinâmicas e estruturas;
foi valiosa em termos de procedi-
mentos metodológicos. (c) realização de oficinas para apre-
sentação e discussão dos dados,
Os mecanismos que serão desenvolvi- que ocorrerão, na fase inicial, no
dos para divulgação e debate com os Campus Recife da UFPE;
gestores públicos, sindicatos de tra-
balhadores e patronais, entre outros, (d) reuniões com setores (secretarias
apoiar-se-ão em elementos como: municipais e estadual, justiça do
trabalho, entidades sindicais, mo-
(a) a publicação de boletins será fei- vimentos sociais) do mundo do
ta de maneira quadrimestral, em trabalho para discussões voltadas
formato simples e acessível, sendo para a necessidade de produção de
seguido de discussão dos seus da- determinados dados;
dos com o público alvo. Além da
escrita acessível para todos os pú- (e) debates e divulgação de resultados
blicos, os lançamentos desses bo- através da programação da rádio
letins contarão com a presença de Universitária FM 99.9 da UFPE.
gestores públicos, entidades pa- Planeja-se fazer chamadas a cada
tronais e dos trabalhadores, movi- lançamento dos boletins sobre
mentos sociais, vinculados direta seus resultados.
3. MERCADO DE TRABALHO Após 2004, existiu um aumento con-
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

122
FORMAL EM PERNAMBUCO siderável na participação dos salários
na renda nacional, ocorrendo uma
3.1 EVOLUÇÃO DO EMPREGO inversão no que tinha acontecido an-
FORMAL – 2004-2015 teriormente, porque “entre 2004 e
2010, o peso dos salários subiu 10,3%
Saída de uma década de grandes difi- e o da renda da propriedade decresceu
culdades econômicas (os anos 1990) 12,8%” (POCHMANN, 2012, p. 9).
que apresentou um quadro recessivo
com profundas repercussões negati- Distintamente do que ocorreu no
vas no mercado de trabalho em todo decênio de 1990 no Brasil, houve,
país (aumento da informalidade, pre- no início do século XXI, a retomada
carização das relações de trabalho, do crescimento econômico a partir
desemprego, por exemplo), a primei- de 2003, o que conduziu o país a 10
ra metade do decênio de 2000 ainda anos seguidos de saldos positivos no
sentiu a força desse impacto negativo. que diz respeito ao número de vín-
Dois indicadores sintetizam tal ques- culos de empregos formais gerados
tão no País: se, por um lado, o Brasil conforme revela o Gráfico 1.
foi palco do decréscimo da renda no
universo do trabalhador, de outro, Nos últimos anos, a estagnação e
houve uma considerável concentra- a queda do Produto Interno Bruto
ção da renda da propriedade entre nacional (que variou 0,1% em 2014,
os anos de 1995 a 2004. A partir de e -3,8% em 2015) refletiram-se em
dados do IBGE, Marcio Pochmann um mercado de trabalho formal
frisou o seguinte sobre esse momento com menor potencial de geração de
histórico nacional: postos de trabalho, bem como uma
elevação dos números referentes a
Assim, por nove anos seguidos houve a desligamentos.
trajetória de queda na participação sa-
larial na renda nacional, acompanha- Observa-se, também no Gráfico 1,
da simultaneamente pela expansão das que a partir de 2012 o mercado de
rendas da propriedade, ou seja, lucros, trabalho formal começou a dar si-
juros, renda da terra e aluguéis. Entre nais de menor dinamismo, com os
1995 e 2004, por exemplo, a renda do saldos positivos declinando acentu-
trabalho perdeu 9% de seu peso rela- adamente nos três anos seguintes.
tivo na renda nacional, ao passo que Em 2014, o crescimento zero da
a renda da propriedade cresceu 12,3% economia coincidiu com um saldo
(POCHMANN, 2012, p. 9). positivo pequeno na geração de vín-
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

culos de empregos formais. E, com nacional (Gráfico 2). Se existiu, por


123
a recessão no ano seguinte, ocorreu um lado, avanço considerável em
um forte saldo negativo, com a eli- 2010, o que fez deste ano o auge no
minação de mais de 1,6 milhão de saldo de vagas, quase 100 mil vín-
vínculos formais. Assim, estava, de culos de emprego formal, do outro
fato, instalada a crise econômica e lado, depois deste ano aconteceu um
no mundo do trabalho. recuo nos números positivos, o que
torna possível verificar um declínio
Sob o impacto do quadro brasilei- bastante acelerado, e já em 2014 o
ro, visto que parte considerável dos saldo tornou-se negativo em mais
investimentos que alavancaram a de 25 mil vagas, Com a recessão
economia, direta e indiretamente, econômica consolidada, o ano de
nos anos destacados, originaram- 2015 sentiu a força desse contexto
se do governo federal, Pernambuco econômico desfavorável, pois mais
acompanhou as tendências gerais de 92 mil vínculos formais foram
observadas no mercado de trabalho extintos no estado.

GRÁFICO 1
Saldos anuais de vínculos de empregos formais gerados
Brasil - 2004-2015
2.136.947

2.500.000
1.617.392

1.566.043

2.000.000
1.523.276

1.452.205
1.228.686
1.253.981

1.500.000
995.111

868.241

730.687

1.000.000

500.000
152.714

2015
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
–500.000

–1.000.000

–1.500.000
–1.625.551

–2.000.000

Fonte: MTb. Caged


Elaboração: Observatório do Trabalho de Pernambuco
GRÁFICO 2
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

124 Saldos anuais de vínculos de empregos formais


Pernambuco - 2004-2015
150.000

98.505
100.000

70.062
52.800
46.348

46.717
40.230
37.426

38.885
50.000

27.800

5.062
2014 2015
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

–25.517
–50.000

–100.000

–92.100
–1050.000

Fonte: MTb. Caged


Elaboração: Observatório do Trabalho de Pernambuco

Tais transformações negativas fize- 3.2 EVOLUÇÃO RECENTE DO


ram-se presentes nos mais diversos MERCADO DE TRABALHO FORMAL EM
setores da economia pernambucana, PERNAMBUCO E CIDADES DA RMR
afetando os empreendimentos do
complexo Portuário de Suape – en- Em 2016, a situação do mercado de
tre os municípios do Cabo de Santo trabalho formal pernambucano pa-
Agostinho e Ipojuca, como a Refina- rece menos precária, se comparada
ria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlânti- ao ano anterior, o que pode ser ob-
co Sul - e no setor da construção civil, servado comparando o período entre
repercutindo vertiginosamente a nova janeiro e setembro de 2016 e igual
dinâmica (ou o refluxo) no universo período em 2015 (Gráfico 3).
do mercado do trabalho formal. E
isso pode ser visto no caso da Região Deve-se observar que persistem, para
Metropolitana do Recife (RMR). ambos os anos, saldos negativos em
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

quase todo o período, com exceção o saldo negativo ultrapassou 65 mil


125
dos meses de setembro em 2015, e postos de trabalho, o que precisa, de
de agosto e setembro em 2016, tradi- certa maneira, ser um fato melhor
cionalmente meses de demanda por analisado em futuro próximo.
força de trabalho aquecida. Nota-se,
também, que os saldos negativos, em No que diz respeito às principais cida-
2016, são menos elevados do que os des que compõem a Região Metropo-
de 2015. O mês de setembro de 2016, litana do Recife, foram gerados dados
inclusive, teve saldo positivo superior para os municípios de Cabo de Santo
ao do mesmo mês do ano anterior. Agostinho, Camaragibe, Jaboatão dos
Guararapes, Olinda, Paulista e Recife
No acumulado do ano, Pernambuco (municípios que são os alvos iniciais
registra ainda um saldo negativo, com do OMT-PE). A cidade do Recife
-31.529 vínculos de emprego entre revela saldos negativos sucessivos, ao
janeiro e setembro de 2016. Mesmo longo de todo o ano, e, mais ainda, há
assim, é um resultado melhor do que dois anos seguidos esse fenômeno vem
o mesmo período em 2015, quando se reproduzindo.

GRÁFICO 3
Saldo mensal de vínculos de emprego formal em PE
Janeiro a setembro - 2015-2016
15.721

9.035 15.248

–5.255 –3.443 –2.877


–4.043
Jan. Fev. Marc. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set.
–1.920
–11.383 –6.339
–13.410 –7.303
!"$''$& –9.483
–11.862
–13.015
–15.874

–20.154

PE 2015 PE 2016

Fonte: MTb. Caged


Elaboração: Observatório do Trabalho de Pernambuco
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

126

TABELA 1
Distribuição do estoque de vínculos de emprego formal por atividade econômica (CNAE 2.0 Seção) –
2006 x 2015 (em %)
CABO CAMARAGIBE JABOATÃO OLINDA PAULISTA RECIFE
Setores de atividade
econômica 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015
Agricultura, Pecuária,
Produção Florestal, Pesca e
Aquicultura 4,4 1,9 1,9 1,2 2,0 0,6 0,1 0,0 0,1 0,5 0,5 0,3
Indústrias Extrativas 0,0 0,1 0,0 0,0 0,2 0,2 0,0 0,0 0,0 0,2 0,1 0,0
Indústrias de Transformação 39,9 30,8 9,1 10,1 18,0 15,0 6,6 4,9 20,8 18,6 5,4 4,1
Eletricidade e Gás 0,4 0,4 0,0 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,5 0,5
Água, Esgoto, Atividades
de Gestão de Resíduos e
Descontaminação 0,0 0,2 0,1 0,1 2,8 0,7 1,6 1,6 0,3 1,2 1,0 1,1
Construção 6,7 9,2 1,4 2,6 3,1 5,3 7,1 8,8 2,6 5,1 5,8 7,5
Comércio, Reparação de
Veículos Automotores e
Motocicletas 12,7 17,7 23,9 31,5 18,2 22,5 11,9 12,8 19,0 24,1 17,5 16,5
Transporte, Armazenagem e
Correio 4,0 9,8 11,3 1,5 9,8 11,7 6,9 6,9 0,5 1,5 3,3 3,9
Alojamento e Alimentação 2,8 3,4 1,8 3,6 3,4 4,6 3,1 3,5 1,8 3,9 4,0 4,4
Informação e Comunicação 0,1 0,2 0,1 0,7 1,9 3,8 1,6 0,9 0,2 0,5 1,7 2,1
Atividades Financeiras,
de Seguros e Serviços
Relacionados 0,4 0,8 0,8 1,1 0,5 0,5 1,1 0,8 0,7 0,6 1,9 1,7
Atividades Imobiliárias 0,0 0,1 0,3 1,1 0,1 0,2 0,0 0,1 0,0 0,0 0,2 0,3
Atividades Profissionais,
Científicas e Técnicas 0,8 0,9 0,4 0,8 0,3 8,1 2,5 4,0 0,7 4,4 2,3 3,1
Atividades Administrativas e
Serviços Complementares 2,8 2,5 2,9 9,4 19,6 9,2 39,4 36,3 15,9 8,9 11,0 13,4
Administração Pública, Defesa
e Seguridade Social 21,8 14,7 32,4 24,7 13,1 9,1 8,8 8,3 27,3 15,6 31,1 24,8
Educação 1,3 2,5 4,1 7,4 3,4 3,5 3,9 4,8 5,1 5,8 3,7 6,0
Saúde Humana e Serviços
Sociais 0,9 4,0 7,2 1,3 1,5 3,2 2,6 4,1 2,4 5,5 5,7 6,7
(continua)
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

TABELA 1
Distribuição do estoque de vínculos de emprego formal por atividade econômica (CNAE 2.0 Seção) – 127
2006 x 2015 (em %) (continuação)
CABO CAMARAGIBE JABOATÃO OLINDA PAULISTA RECIFE
Setores de atividade
econômica 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015 2006 2015
Artes, Cultura, Esporte e
Recreação 0,0 0,1 1,1 1,4 0,2 0,2 0,4 0,4 1,4 0,7 0,5 0,6
Outras Atividades de Serviços 0,9 1,0 1,2 1,5 2,0 1,4 2,3 1,7 1,1 2,8 3,8 3,2
Serviços Domésticos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Organismos Internacionais
e Outras Instituições
Extraterritoriais 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Total 100 100 100 100 100 100 100 100,0 100 100 100 100
Fonte: MTb. Rais
Elaboração: Observatório do Trabalho de Pernambuco

Os demais municípios observados ticipação, realizou-se uma compara-


(Olinda, Jaboatão, Cabo e Camara- ção entre os anos de 2006 e 2015, a
gibe) registram saldos negativos um partir da Classificação Nacional de
pouco menores, bem como saldos Atividades Econômicas – CNAE,
positivos nos meses típicos de agosto em sua configuração mais atualiza-
e setembro. Cada um deles, contudo, da (CNAE 2.0), e na forma de suas
manifesta dinâmica com caracterís- seções de atividades econômicas
ticas bastante específicas, as quais (CNAE 2.0 Seção).
precisam ser averiguadas de maneira
mais detalhada (Tabela 1). Cabe destacar que a Tabela 1 apre-
senta a distribuição do estoque de
3.4. EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS vínculos de emprego formal por
VÍNCULOS DE EMPREGO FORMAL POR seção de atividade econômica para
SETORES DE ATIVIDADE ECONÔMICA cada uma das cidades componentes
da RMR aqui abordada
A seguir faz-se uma breve análise da
participação dos setores de atividade Algumas observações podem ser fei-
econômica no emprego total, para as tas, a partir da Tabela 1, a respeito
cidades selecionadas neste estudo. A do vínculo formal dos trabalhadores
fim de observar a variação desta par- e trabalhadoras na RMR:
1. Houve aumento da participação derados os números de Recife (o
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

128
de vínculos de emprego formal que parece um paradoxo, pois as
na construção civil entre 2006 e cidades que ainda possuem gran-
2015, em todas as cidades obser- des áreas rurais como Jaboatão e
vadas, reproduzindo, de certa ma- o Cabo de Santo Agostinho ti-
neira, um fenômeno nacional que veram um decréscimo), não foi
atingiu a maioria das cidades bra- expressiva em uma década. No
sileiras, principalmente as regiões caso de Camaragibe, manteve-se
metropolitanas. praticamente inalterado o quadro
e, em Paulista, houve um cresci-
2. Cresceu a participação dos víncu- mento. Talvez, o que justifique
los de emprego formal nos setores esses números em Recife, Cama-
de educação e saúde na maioria ragibe e em Paulista seja o cresci-
dos municípios. mento legal (via registro no Mi-
nistério da Pesca e Aquicultura)
3. Ocorreu queda da participação de trabalhadores (as) pertencentes
percentual da Administração pú- à pesca e à aquicultura (isso me-
blica, defesa e seguridade social rece uma abordagem mais deta-
(esta categoria abrange atividades lhada em futuro próximo) para
típicas de Estado, compreenden- que pudessem ter acesso a várias
do a administração geral nos três políticas governamentais, dentre
poderes, regulamentação e fisca- as quais o seguro defeso da pesca.
lização de atividades de defesa,
justiça, gestão do sistema de segu- 5. Outro setor que apresentou cres-
ridade social obrigatória etc.), em cimento no geral, embora isso seja
todos os municípios. As cidades algo pouco significativo dentro
observadas aqui seguem a tendên- do âmbito total de empregos, foi
cia geral brasileira, qual seja, a de o de Artes, Cultura, Esporte e Re-
diminuição da participação per- creação. De maneira geral, houve
centual do setor público no total uma valorização e/ou estímulo a
de vínculos de emprego. essa área, especialmente a partir
da construção de várias políticas
4. Houve redução de vínculos de públicas nos âmbitos federal, esta-
emprego na Agricultura, Pecu- dual e municipais.
ária, Produção Florestal, Pesca e
Aquicultura na RMR. Contudo, 6. A participação considerável das
cabe uma observação oportuna: indústrias de transformação em
tal redução, quando são consi- alguns municípios da RMR, não
OBSERVATÓRIO DO MERCADO DO TRABALHO DE PERNAMBUCO:
ATIVIDADES INICIAIS E ALGUNS RESULTADOS PRELIMINARES

obstante a perda de participação cos de dados disponibilizados pelo


129
das mesmas, entre outros. Ministério do Trabalho e, no futuro
próximo, a efetivação de alguns es-
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES tudos de caso (com base em dados
primários) que possam ser deman-
A constituição do OMT-PE é fruto dados pelas entidades, instituições,
de uma necessidade de se construir movimentos sociais e gestores públi-
informações e estudos sobre o mer- cos, expressam e expressarão um con-
cado de trabalho em Pernambuco, junto inestimável de possibilidades
que possam servir para os sujeitos do oriundas da interlocuções do OM-
universo do trabalho, como já des- T-PE com a sociedade e os poderes
tacamos inicialmente, visto que há públicos, o que será capaz de conferir
carência nesse universo. Assim, além um caráter vivo a este Observatório.
da organização, sistematização e pro-
dução de dados, análises e pesquisas, O balanço aqui feito sobre o mercado
a parceria com gestores públicos, de trabalho em Pernambuco buscou
entidades sindicais (patronais e de refletir as questões metodológicas e
trabalhadores), movimentos sociais e dar conta, ao menos minimamente,
demais grupos sociais é essencial. da pergunta geral orientadora: A partir
da Influência de Aspectos Estruturais e
Além dos municípios destacados no Conjunturais do Mercado do Trabalho,
presente texto, outros farão parte dos como é possível compreender e identificar
estudos do OMT-PE, inclusive ci- quem é a nossa Classe Trabalhadora?
dades do interior de Pernambuco. A
ideia é dar conta de informações ge- Ademais, o desafio, além da produ-
rais sobre o mercado de trabalho per- ção de estudos e sistematização de
nambucano, subdividindo o mesmo dados, é a divulgação das informa-
de acordo com regiões e sub-regiões, ções produzidas pelo OMT-PE para
para traçar um cenário e um contex- a sociedade. Dessa maneira, uma ati-
to rico e diversificado de análise. vidade que ganhará - cada vez mais
força no OMT-PE - será a comunica-
Nesse sentido, os procedimentos me- ção, para que as informações possam
todológicos, a partir do uso de ban- ser melhor disseminadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOLUME 2
OBSERVATÓRIO NACIONAL DO MERCADO DE TRABALHO

130
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