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CEI-PGE/PGM 2ª EDIÇÃO

9ª RODADA - 18/08/2016

CEI-PGE/PGM
2ª EDIÇÃO

9ª RODADA - 18/08/2016
DURAÇÃO

26/05/2016 A 14/09/2016

MATERIAL ÚNICO
Questões totalmente Inéditas.

ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone.

30 QUESTÕES OBJETIVAS
Por rodada.

2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada.

1 PEÇA PRÁTICA
Por rodada.

IMPORTANTE: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI CEI-PGE/
possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. PGM
O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela 2ª ED.
sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo. 2016

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PROFESSORES

Jorge Maffra Ottoni - Coordenador do curso, professor de Direito Constitucional e Empresarial.


Procurador do Município de Niterói. Aprovado nos seguintes concursos públicos: Procurador da Assembleia Legislativa de
Goiás (1º colocado). Procurador Especial junto ao Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (2º colocado – aguardando
apuração de títulos). Procurador do Município de São Paulo. Procurador do Banco Central. Procurador
Federal (AGU). Procurador da Câmara do Município de São Paulo. Procurador do Município de Atibaia
(2º colocado). Procurador do Município de Limeira (1º colocado). Procurador do Município de
Jundiaí. Procurador do Município de Taboão da Serra (1º colocado antes dos títulos). Procurador
do Município de Araras (2º colocado). Advogado da Companhia Paulista de Obras e Serviços.
Advogado SP Urbanismo (3º colocado). Procurador Instituto de Previdência de Ilhabela (1º
colocado). Advogado Dataprev. Procurador Geral da Câmara de Caieiras. Bacharel em Direito
pela USP.

Natalia Maia – Direito Civil, Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho.


Procuradora do Estado de Goiás. Aprovada no concursos da PGE-BA e da PGE-RN. Pós-graduanda
em Direito Processual pela PUC-MG. Bacharel em Direito pela UFC.

Kaoye Guazina Oshiro – Direito Processual Civil e Fazenda Pública em Juízo no NCPC.
Procurador do Estado do Mato Grosso do Sul. Ex-Analista Judiciário do TJ-MS. Aprovado no concurso
de Procurador do Estado do Piauí (2014 – 42º lugar), Procurador do Estado do Paraná, além de ter
outras aprovações como Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador do TRF 3ª Região (2013 – 7º
lugar), Técnico Orçamentário do MPU (2010 – 10º lugar) e Técnico Judiciário do TRT 24ª Região (2010
– 54ª lugar), do STM (2010 – 13º lugar) e do TJ-MS (2009 – 1º lugar). Bacharel em Direito pela UFMS.

Rodolfo Cursino – Direito Tributário e Ambiental.


Procurador da Fazenda Nacional. Especialista em Direito Público pela UBC/SP. Pós-graduado em Direito
Processual pela PUC/MG. Bacharel em Direito pela UFPE. Ex-Técnico do Seguro Social. Coautor do
livro “Questões Discursivas Comentadas – Advocacia Pública Federal (AGU e PFN)”, Juspodivm/2015.
Colaborador do Blog Foca no Resumo. Aprovado, ainda, nos concursos de Julgador do Tribunal
Administrativo Tributário de Pernambuco; Procurador dos Municípios de Maceió/AL e João Pessoa/
PB; Advogado da Caixa Econômica Federal; Analista do MPU, TRT6 e TJPE; Técnico da Fazenda
Municipal de Olinda/PE e do TRT6.

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José Américo – Direito Civil, Penal e Direito Processual Penal.


Procurador do Estado do Piauí. Aprovado nos seguintes concursos públicos: Procurador de Contas do
TCE-CE (3o Colocado). Procurador Especial junto ao TCM-RJ (5º Colocado – aguardando apuração de
títulos). Procurador do Estado do Piauí (6º colocado). Procurador de Contas do TCE-PB (7º Colocado).
Procurador do Estado do Paraná (14º Colocado). Procurador do Estado do RN. Procurador da Câmara
Municipal de Porto Alegre-RS (2º Colocado). Procurador do Município de Cuiabá (3º Colocado).
Assessor Jurídico do TCE-PI (6º Colocado). Procurador do Estado do Acre. Advogado da CEF e
Advogado do BNB.

Gustavo Carminatti – Direito Administrativo e Direito Financeiro-Econômico.


Procurador da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso (Aprovado em 9º lugar). Foi Procurador
do Estado de Goiás. Aprovado em 1º lugar na Procuradoria do Município de Cuiabá. Aprovado na
Procuradoria do Município de São Paulo. Aprovado na Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso.
Especialista em Direito Constitucional e Direito Eleitoral.

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INSTRUÇÕES GERAIS

Caros alunos,

para que este curso ocorra perfeitamente, gostaria que observassem as seguintes instruções:

1. Leiam com atenção o calendário do curso, disponibilizado no site do CEI, para se programarem
e se organizarem.

2. Os exercícios decorrentes das questões dissertativas e das peças judiciais devem ser enviados
tempestivamente, até a data indicada em cada rodada, para o email do respectivo professor. Não é
obrigatório o envio dos exercícios para ter acesso ao Espelho de Correção.

3. Se deseja submeter seu exercício escrito à mão, baixe o arquivo no formato .pdf e depois envie
para o email do professor em arquivo único (e não dividido, portanto). Se deseja submeter seu
exercício digitado, baixe o arquivo no formato .doc e igualmente o envie depois para o respectivo
professor.

4. Para atingirmos o nível esperado de simulação da prova real, recomendamos que respondam
às questões dissertativas e elaborem as peças judiciais consultando apenas a legislação seca. Após
enviar seu exercício para o professor, pesquise os temas à vontade.

5. Para qualquer dúvida operacional sobre o CEI (problemas para acessar o site, p. ex.), entre em
contato com o Kleber no email suporte@cursocei.com.

6. Para qualquer crítica, elogio ou consideração sobre os materiais do curso ou sobre determinado
professor, entre em contato comigo pelo email profcei.jorgeottoni@gmail.com

Vamos em frente, rumo à aprovação nos concursos das Advocacia Pública!

JORGE MAFFRA OTTONI


PROFESSOR E COORDENADOR DO CEI-PGE/PGM 2ª ED.

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SUMÁRIO

QUESTÕES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO....................................................................6


DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO.............................................................6
DIREITO CIVIL.......................................................................................................................................... 7
DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL.......................................................................11
DIREITO PROCESSUAL CIVIL............................................................................................................ 13
DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................................................... 17
DIREITO TRIBUTÁRIO.......................................................................................................................... 18
DIREITO ADMINISTRATIVO..............................................................................................................20
DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO.............................................................................................22
DIREITO CONSTITUCIONAL.............................................................................................................23
DIREITO EMPRESARIAL......................................................................................................................25
GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS...................................................................................................27
QUESTÕES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO................................................................28
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO...........................................................28
DIREITO CIVIL........................................................................................................................................37
DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL......................................................................56
DIREITO PROCESSUAL CIVIL............................................................................................................ 71
DIREITO AMBIENTAL..........................................................................................................................86
DIREITO TRIBUTÁRIO..........................................................................................................................88
DIREITO ADMINISTRATIVO..............................................................................................................93
DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO.............................................................................................99
DIREITO CONSTITUCIONAL...........................................................................................................102
DIREITO EMPRESARIAL.................................................................................................................... 116
QUESTÕES DISSERTATIVAS....................................................................................................................... 122
DIREITO TRIBUTÁRIO........................................................................................................................122
DIREITO CIVIL......................................................................................................................................123
PEÇA PROFISSIONAL...................................................................................................................................124
DIREITO FINANCEIRO.......................................................................................................................124

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QUESTÕES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO

ORIENTAÇÃO: procure responder todas as questões com agilidade, sem consulta a nenhum material,
a fim de simular a situação encontrada em prova.

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. Em relação à prescrição no âmbito trabalhista, é correto afirmar:

a) A transferência do regime jurídico celetista para o estatutário configura sucessão


imprópria, não podendo ser equiparada à extinção do contrato de trabalho para efeitos de
fluência da prescrição bienal.

b) O ajuizamento anterior de reclamação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe


a prescrição para pedidos idênticos, sendo o cômputo da prescrição bienal reiniciado a
partir do trânsito em julgado da decisão proferida na ação anteriormente ajuizada, e o da
prescrição quinquenal, da propositura da primeira reclamação trabalhista.

c) A suspensão do contrato de trabalho em virtude da percepção do auxílio-doença impede


a fluência da prescrição quinquenal.

d) Em regra, as demandas envolvendo pedidos de prestações sucessivas decorrentes de


alteração contratual se submetem à prescrição parcial, na medida em que a lesão se renova
mês a mês.

e) Nas hipóteses em que o prazo prescricional, em relação ao FGTS, já estava em curso em


13/11/2014, aplica-se o prazo prescricional de trinta anos.

2. Dentre as situações abaixo relacionadas, assinale aquela em relação à qual NÃO se aplica, no
âmbito do processo do trabalho, o princípio da extrapetição:

a) Concessão de adicional de 50% (cinquenta por cento), em reclamação na qual se pleiteia


tão somente a percepção de horas extras.

b) Determinação de anotação da CTPS, em ação objetivando exclusivamente o


reconhecimento de vínculo empregatício.

c) Determinação de atualização do crédito trabalhista com base no IPCA-E, em sede de


liquidação de sentença na qual foi determinada, em contrariedade ao entendimento do
STF, a aplicação da TR como índice de correção monetária.

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d) Condenação ao pagamento do adicional de 1/3 (um terço), quando o pedido se restringe


ao pagamento das férias, sem alusão expressa ao adicional.

e) Decisão que defere os salários correspondentes, em reclamação na qual o empregado


requereu somente a reintegração.

3. Quanto ao processo de execução no âmbito da Justiça do Trabalho, assinale a alternativa


incorreta:

a) O inadimplemento de sentença condenatória transitada em julgado, proferida pela


Justiça do Trabalho, exclusivamente com relação aos honorários, não impede a obtenção
da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, ante a sua natureza privada e distinta da
relação discutida na lide.

b) A decisão transitada em julgado proferida por juiz trabalhista poderá ser levada a
protesto, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário. No entanto, se o
executado ajuizar ação rescisória objetivando desconstituir a decisão exequenda, poderá,
sob sua responsabilidade, anotar a propositura da ação à margem do título protestado.

c) Os juros diferenciados previstos no art. 1º-F da Lei nº. 9.494, de 1997 não beneficiam
a Fazenda Pública, quando condenada a responder subsidiariamente pelas obrigações
trabalhistas inadimplidas pela empresa prestadora de serviços terceirizados.

d) A inscrição da hipoteca judiciária no registro público, prevista no art. 495 do Novo CPC,
pode ser determinada pelo juízo trabalhista, em sede de execução, independentemente de
pedido, não dependendo, ademais, de comprovação da debilidade financeira do devedor.

e) O §3º do art. 782 do Novo CPC, que permite a inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes, aplica-se à execução trabalhista, não obstante a existência de
regramento próprio na CLT, determinando a inclusão do devedor no Banco Nacional de
Devedores Trabalhistas.

DIREITO CIVIL

4. Assinale a alternativa que trata corretamente do inventário e da partilha, à luz do Código de


Civil de 2002, considerando a jurisprudência atualizada nos Tribunais Superiores:

a) Aplica-se a pena de sonegados ao inventariante que sonegar, ocultar ou desviar bens


do espólio.

b) Considera-se não escrita a previsão, constante do testamento ou do instrumento da

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doação, que dispensa o descendente do dever de colacionar o bem, na medida em que


impossibilita a equiparação entre as legítimas, afrontando o princípio da isonomia.

c) A inexistência de previsão, no CC/2002 e no CPC/2015, de penalidade pelo descumprimento


do prazo de 2 (dois) meses, a partir da abertura da sucessão, para instauração do processo
de inventário, não impede a instituição e cobrança de multa, pelos Estados, em face do
retardamento em seu início.

d) A partilha faz cessar o caráter imóvel e indivisível da herança, obrigando os coerdeiros a


indenizarem uns aos outros por eventuais vícios redibitórios nos bens aquinhoados.

e) Por envolver ordem pública, o inventário pode ser aberto pelo juízo de forma oficiosa,
constituindo exceção ao princípio da inércia da jurisdição.

5. Considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a doutrina majoritária e os dispositivos


do Código Civil de 2002, assinale a alternativa correta, no que diz respeito à responsabilidade
civil:

a) Apesar da impossibilidade do juízo cível de discutir sobre os fatos e sua autoria quando
houver sentença penal condenatória transitada em julgado reconhecendo a prática
de homicídio culposo, nada obsta que, examinando as circunstâncias que envolvem as
condutas do autor e da vítima, conclua pela concorrência de culpas em relação ao evento
danoso, afastando o dever de indenizar.

b) O arbitramento da indenização deverá ter como parâmetro preponderante o patrimônio


do ofendido, de modo a evitar o enriquecimento ilícito da parte contrária.

c) A indenização, na forma de pensionamento mensal, atribuída a soldado vítima de


acidente, em decorrência de debilidade permanente em seu membro inferior, por não
impedir o exercício de outras atividades de cunho administrativo ou outras ocupações, não
poderá corresponder a 100% do valor que recebia antes do infortúnio.

d) Na fixação do valor da reparação de danos morais sofridos por parentes de vítimas


mortas em um mesmo evento, deve ser estipulada, de forma global, a mesma quantia
reparatória para cada grupo familiar, em virtude da impossibilidade de se medir o grau de
abalo psíquico de cada parente de forma individualizada.

e) O Marco Civil da internet adotou a responsabilidade subjetiva agravada dos provedores


de conexão à internet, em relação ao conteúdo gerado por terceiros.

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6. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com o Código


Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta sobre condomínio, direito de vizinhança e
temas correlatos:

a) Conforme tem decidido o STJ, afronta o direito de propriedade e sua função social
a decisão da assembleia geral de condôminos que determina a suspensão de serviços
essenciais em decorrência da inadimplência de taxa condominial, já que o débito deve
ser cobrado pelos meios legais, assim como, em ação de cobrança de cotas condominiais
proposta somente contra o promissário comprador, não é possível a penhora do imóvel
que gerou a dívida - de propriedade do promissário vendedor -, admitindo-se, no entanto,
a constrição dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda.

b) Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, inclusive para defender
a sua posse e a de todos, sem necessidade de outorga dos demais condôminos, ao passo
que as dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e durante
ela, obrigam o contratante que age sem consultar os demais, porém, aquele tem direito
a ressarcimento mediante simples compensação com os benefícios auferidos pelos
condôminos. Ademais, a cláusula convencional que restringe a permanência de animais em
unidades autônomas residenciais deve ser valorada à luz dos parâmetros legais de sossego,
insalubridade e periculosidade.

c) A divisão de condomínio tem procedimento e regras próprias previstas no Código Civil


que servem até para outras partilhas, como a de herança. Nesse contexto, é correto afirmar
que a destinação da coisa comum não pode ser alterada por qualquer dos condôminos,
ainda que comunique aos demais este ato, porém, a todo tempo será lícito ao condômino
exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas
despesas da divisão, desde que não haja acordo estipulando a indivisibilidade por prazo
não maior do que cinco anos, via de regra.

d) Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só,


indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em
condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos o de quinhão
maior, mesmo que outro tenha realizado benfeitorias mais valiosas, sem embargo de que
não é admitida a renúncia da parte ideal pelo condômino, ainda que para se eximir do
pagamento das despesas e dívidas.

e) É correto afirmar que a doutrina aponta que não deve ser reconhecida personalidade
jurídica ao condomínio edilício, mas apenas personalidade judiciária, bem como afirma
ser possível a utilização exclusiva de área “comum” que, pelas próprias características
da edificação, não se preste ao “uso comum” dos demais condôminos. Por outro lado,

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a convenção de condomínio ou a assembleia-geral podem vedar a locação de área de


garagem ou abrigo para veículos a estranhos ao condomínio e, ainda, fixar qualquer
quórum para alteração do Regimento Interno.

7. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores, bem como de acordo


com o que prescreve o Código Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta sobre a
classificação de contratos e temas correlatos:

a) Os caracteres jurídicos presentes no mandato em causa própria: possui natureza jurídica


de negócio jurídico translativo de direitos; responsabilidade do mandatário pela evicção;
revogabilidade e prestação de contas; os herdeiros do mandatário, caso este faleça,
subrogam-se no crédito;

b) A ratificação de atos praticados por quem não tenha o mandato, ou o tenha sem poderes
suficientes, deverá ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e produzirá efeitos a partir
da data da ratificação. Ademais, o mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu
causa com os proveitos que, por outro lado, tenha obtido com esforço ao seu constituinte,
porém, tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe
for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso de
despesas.

c) Sobre a descoberta, aquele que restituir coisa achada terá direito a uma recompensa
não inferior a cinco por cento do seu valor e à indenização pelas despesas que houver
feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la; porém,
o descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo,
quando tiver procedido com dolo ou culpa graves. Ademais, a autoridade competente
dará conhecimento da descoberta, via de regra, através da imprensa e editais, podendo o
bem ir à hasta pública, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa,
oportunidade em que eventual remanescente (após dedução de despesas e recompensa)
pertencerá ao Estado em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.

d) Segundo entendimento doutrinário, a a noção de enriquecimento à custa de outrem


do art. 886 do CC/2002 (“Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao
lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido”) não significa, necessariamente,
que deverá haver empobrecimento, bem como o comando normativo encartado no referido
artigo não exclui o direito à restituição do que foi objeto de enriquecimento sem causa nos
casos em que os meios alternativos conferidos ao lesado encontram obstáculos de fato.
Por fim, de acordo com o CC/2002, a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem
causa prescreve em 4 anos.

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e) No que se refere ao contrato estimatório do Direito Civil, trata-se de inovação legislativa


a nível da codificação civilista, e pode ter por objeto bem fungível, cuja restituição, se for
o caso, será por coisa de igual gênero, qualidade e quantidade. Após a entrega da coisa,
a posse é exercida em nome do consignatário, em virtude da transferência do poder de
dispor da coisa, de modo que suporta os riscos da perda ou deterioração da coisa. Por fim,
o preço de estima é ajustado entre as partes ou fixado unilateralmente pelo consignante,
observada a vedação do art. 122 do CC/2002, e, se não alcançado em determinado lapso
temporal, emerge o dever de restituir a coisa, não exigindo o contrato a forma escrita.

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

8. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com a legislação


penal, assinale a alternativa incorreta sobre tipicidade no Direito Processual Penal:

a) São elementos do crime culposo: conduta humana voluntária, relacionada à ação e


não ao resultado; violação de um dever de cuidado objetivo; resultado naturalístico; nexo
causal; previsibilidade; e tipicidade.

b) No direito penal brasileiro, admite-se a compensação de culpas no caso de duas ou


mais pessoas concorrerem culposamente para a produção de um resultado naturalístico,
respondendo cada um, nesse caso, na medida de suas culpabilidades.

c) No caso de excesso culposo da legítima defesa, embora o agente somente possa resultar
punido com a pena do crime culposo, quando prevista em lei esta estrutura típica, a vontade
deste é dirigida ao resultado, de modo que age, na realidade, dolosamente, mas, por erro
vencível ou evitável, não sabe que transpôs os limites legais da causa de justificação e
exercita defesa desnecessária.

d) No dolo eventual, une-se o assentimento à assunção do risco, a partir da posição do


agente que tem consciência de que pode ocorrer o resultado e assim mesmo age. Na culpa
consciente, assoma ao espírito do agente a possibilidade de causação do resultado, mas
confia ele que esse resultado não sucederá. A distinção é relevante, por exemplo, nos casos
de homicídio. Ademais, prevalece no Brasil o entendimento desfavorável ao cabimento da
tentativa nos crimes cometidos com dolo eventual, por não ser equiparado pelo art. 18, I,
do Código Penal, no tocante ao seu tratamento, ao dolo direto.

e) O dolo alternativo consiste na vontade e consentimento do agente a produzir um ou


outro resultado, ao passo que na culpa inconsciente o agente não prevê o resultado, que,
entretanto, era previsível. Neste caso, qualquer outra pessoa, naquelas circunstâncias,
poderia prever a ocorrência daquele resultado.

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9. Em relação à parte geral do Direito Penal, notadamente quanto à tipicidade e nexo causal,
assinale a alternativa incorreta:

a) As majorantes e minorantes, também conhecidas como causas de aumento e de


diminuição de pena, são encontradas apenas na Parte Geral do Código Penal, especificando
o quantum do aumento ou diminuição da pena, em frações, dobro ou triplo, por exemplo.
São aplicadas na segunda fase da Sentença Penal Condenatória. Já as agravantes e
atenuantes são encontradas tanto na Parte Geral quanto na Parte Especial do Código Penal,
sem especificação do quanto irão agravar ou atenuar a pena do autor delituoso, ficando
a critério do juiz, sendo vedadas as chamadas atenuantes inominadas. As agravantes e
atenuantes são aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena. Já as qualificadoras somente
são encontradas na Parte Especial do Código Penal, constituindo-se em um verdadeiro tipo
qualificado, que piora a situação do autor do delito, possuindo um novo mínimo e um novo
máximo da pena em abstrato mais gravoso em relação ao tipo fundamental. Situa-se na
primeira fase da dosimetria da pena.

b) Segundo o STF, a hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o
regime prisional mais gravoso, pois o juízo, em atenção aos princípios constitucionais da
individualização da pena e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais,
deve motivar o regime imposto, observando a singularidade do caso concreto. Por outro
lado, é possível a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada,
desde que acompanhada de motivação idônea.

c) Segundo entende o STJ, a inexistência de casa de albergado na localidade da execução


da pena não gera o reconhecimento de direito ao benefício da prisão domiciliar quando
o apenado estiver cumprindo a reprimenda em local compatível com as regras do regime
aberto.

d) No tocante à dosimetria da pena, a reincidência penal pode ser considerada como


circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial, ao passo que a
incidência da circunstância atenuante pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo
legal.

e) Consoante entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, nos casos em


que a confissão do acusado servir como um dos fundamentos para a condenação, deve
ser aplicada a atenuante em questão, pouco importando se a confissão foi espontânea
ou não, se foi total ou parcial, ou mesmo se foi realizada só na fase policial, com posterior
retratação em juízo.

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10. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com a


legislação penal, assinale a alternativa correta sobre a aplicação da lei penal e penas restritivas
de direito:

a) A suspensão condicional do processo se aplica na hipótese de delitos sujeitos ao rito da


Lei Maria da Penha, sendo vedada, contudo, a transação, em razão da principiologia que
inspirou a edição da referida lei.

b) No caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos, ela converte-se em


privativa de liberdade e, no cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido
o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias
de detenção ou reclusão, ao passo que, em se tratando de prestação pecuniária, o valor
pago pelo réu será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação
civil, se coincidentes os beneficiários, em razão dessa prestação pecuniária ostentar, ainda
que indiretamente, caráter de indenização civil antecipada, impedindo o enriquecimento
ilícito do ofendido ou de seus dependentes, natureza jurídica essa que desaparece quando
o valor fixado na sentença condenatória for destinado em sua totalidade a alguma entidade
pública ou privada com destinação social, pois são diversos os beneficiários.

c) Se o condenado for reincidente, o juiz não poderá substituir a pena privativa de liberdade
por pena restritiva de direitos em caso de nova condenação.

d) No caso de abandono pelo sentenciado do cumprimento da pena restritiva de


direitos - prestação de serviços à comunidade -, a prescrição da pretensão executória
será regulada pelo tempo restante do cumprimento da medida substitutiva imposta, de
sorte que, ao conferir interpretação restritiva ao art. 113 do CP, decidiu-se que o abandono
no cumprimento da pena restritiva de direitos não pode ser equiparado às hipóteses de
“evasão” e da “revogação do livramento condicional” previstas no referido artigo.

e) Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do


cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo
superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação, ao passo que a reabilitação poderá ser requerida,
decorridos 3 (três) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua
execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional,
ainda que tenha ocorrido revogação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

11. Um grupo de cerca de quinhentos indivíduos de determinado movimento social, cuja maior

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reivindicação é a implementação de programas sociais que garantam o acesso à moradia pela


população de baixa renda local, em um ato de protesto, decidiu ocupar a praça Presidente Vargas,
situada em bairro residencial do Município M. A praça é bem público de uso comum e propriedade
do Município M. Muito firmes em seu intento, os membros do grupo social permaneceram no
local por meses, obstando que a população utilizasse os benefícios ínsitos ao bem de uso comum,
período no qual se tentou resolver extrajudicialmente a quezília. Irresignados com essa situação,
os membros da associação do respectivo bairro ajuizaram ação de interdito proibitório em face
dos indivíduos do grupo social que ocupavam o bem público no dia em que a ocupação completou
um ano. Foi promovida a citação por edital dos ocupantes do imóvel para que, cientificando-se
a respeito da ação, apresentassem defesa. O Município M, tomando conhecimento da demanda,
resolveu ingressar no processo na condição de litisconsorte ativo facultativo ulterior, antes do
saneamento do processo. O magistrado competente aceitou o ingresso do ente público no
processo e, no mesmo ato, saneou o processo, dando início à fase instrutória. Considerando esse
cenário fático hipotético, assinale a alternativa CORRETA:

a) É nula a citação levada a efeito, que deveria ser feita pessoalmente em relação aos
ocupantes que fossem encontrados no local pelo oficial de justiça.

b) Apenas o ente público, possuidor direto e indireto do bem cuja posse foi esbulhada,
possui legitimidade para ajuizar a ação possessória.

c) Não se poderá utilizar o procedimento especial possessório no caso, inclusive com a


previsão de medida liminar específica, por não se tratar de ação possessória de força nova.

d) A fase instrutória das ações possessórias exige a adoção de regras específicas,


expressamente previstas pelo Novo Código de Processo Civil, a fim de adequar a tutela
jurisdicional à peculiaridade da demanda.

e) A ação cabível na situação descrita é a de reintegração de posse, haja vista o esbulho


ocorrido, e não o interdito proibitório, destinado à tutela da mera ameaça à posse, de
modo que se devem intimar os autores para adequação do procedimento, promovendo-se,
após, a nova citação dos ocupantes.

12. Os embargos de terceiro são ação de conhecimento de rito especial sumário, de que dispõe o
terceiro ou a parte a ele equiparada, não incluído no processo, sempre que sofra uma constrição
de um bem que possua, em razão de decisão judicial. A respeito desse procedimento especial,
assinale a única alternativa INCORRETA:

a) Na dinâmica do Código de Processo Civil de 2015, os embargos de terceiro podem ser


opostos pelo proprietário da coisa, ainda que não possuidor.

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b) É cabível pedido de tutela provisória nos embargos de terceiro, inclusive liminarmente.

c) O terceiro pode opor embargos enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da sentença,
na fase de conhecimento.

d) Se a ação da qual se originou a constrição tramitar no juízo estadual e a União, suas


autarquias ou empresas públicas opuserem embargos de terceiro, a ação principal e a
incidente devem ser julgadas pela justiça federal.

e) O embargado, em regra, não é citado pessoalmente.

13. Conquanto a primeira Revolução Industrial, no século XVIII, seja o marco histórico do surgimento
dos conflitos coletivos, apenas na década de 70 do século XX passou a ser sedimentada a ideia
de que essa espécie de conflitos reclama uma tutela jurisdicional especializada, com a ampliação
das hipóteses de legitimação e dos efeitos da coisa julgada. No Brasil, com inspiração no modelo
norte-americano de ações coletivas – as class actions – estabeleceu-se um plexo normativo de
tutela coletiva de direitos, instituindo-se um microssistema de processo coletivo. Afirma-se que
a Lei n. 4.717/65 (Lei da Ação Popular) e a Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente)
foram os marcos do surgimento desse microssistema, que foi consolidado com o advento da
Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e potencializado com a Lei n. 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor). Atualmente, o microssistema de processo coletivo brasileiro é composto
por uma série de outros diplomas legislativos e encontra perfeito fundamento de validade na
Constituição Federal de 1988. A respeito da competência no microssistema de tutela coletiva de
direitos, assinale a única alterativa INCORRETA:

a) Na ação civil pública que visa à tutela de danos de âmbito nacional ou regional é
competente para a causa a justiça local no foro da Capital do Estado ou no do Distrito
Federal.

b) Ao microssistema de processo coletivo se aplica regularmente a regra de que, em


princípio, não se pode conhecer a incompetência relativa de ofício.

c) Compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal,
processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo, tratando-se de
exemplo emblemático de competência por delegação.

d) A competência do local do dano para as ações coletivas é absoluta.

e) Nem sempre a competência para processo e julgamento para ação civil pública será a
do local do dano.

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14. De acordo com as disposições do Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/15 com as
alterações da Lei n. 13.256/16) e com o entendimento jurisprudencial dominante, julgue as
seguintes assertivas a respeito dos procedimentos especiais:

I. É inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo


retardamento do início ou da ultimação do inventário.

II. Se os autos desaparecerem em tribunal, a ação de restauração de autos respectiva


deve ser proposta no juízo de primeiro grau em que tramitaram inicialmente, caso não se
trate de ação originária.

III. Se munido de título executivo extrajudicial, o credor não pode se valer da ação
monitória, porquanto destituído de interesse, no particular da utilidade.

IV. É possível a revisão de cláusulas contratuais na ação de consignação em pagamento.

V. A existência de dívida para com a Fazenda Pública não impede o julgamento da partilha
no inventário, contanto que o seu pagamento esteja devidamente garantido.

Está CORRETO apenas o que se afirma em:

a) I e IV.

b) IV e V.

c) II e V.

d) I, II e III.

e) III, IV e V.

15. Nas imediações de determinado município, banhado por diversos afluentes de importantes
rios nacionais, há várias represas, que constituem uma das maiores fontes de lazer na região.
À margem esquerda de um rio com curso de água com mais de 200 metros de largura, em
área de preservação permanente, foram construídos setenta e cinco casas de veraneio, bares
e restaurantes. Essa situação foi apurada em procedimento administrativo levado a efeito pelo
respectivo órgão estadual de meio ambiente. Após autuação administrativa e imposição de multa,
os fatos foram levados a conhecimento da Procuradoria-Geral do Estado respectivo, o Estado
E, decidindo-se pelo ajuizamento de ação civil pública pelo Estado, à vista da gravidade dos
fatos. Na ação, postulou-se a desocupação da área de preservação permanente e o pagamento
de indenização. Com a ação coletiva em fase de instrução, o Ministério Público do Estado, que

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paralelamente havia iniciado um procedimento investigativo a respeito dos mesmos fatos, ajuizou
outra ação civil pública, em face dos mesmos indivíduos, postulando a desocupação da área de
preservação permanente, a demolição das construções e o reflorestamento da região afetada. A
respeito desse cenário fático hipotético, assinale a única alternativa CORRETA:

a) Não se opera litispendência no caso, à falta de tríplice identidade, por não haver
identidade de partes e de pedido.

b) O Estado não possui legitimidade para ajuizar a ação civil pública no caso em exame,
de modo que se deve extinguir a primeira ação, sem resolução de mérito, mantendo-se
apenas a segunda.

c) Não há litispendência no caso, mas mera conexão, razão pela qual ambos os processos
devem ser reunidos no juízo prevento.

d) A ação ajuizada pelo Ministério Público Estadual deve ser extinta, sem resolução de
mérito, ante a ocorrência de litispendência.

e) Há litispendência na situação narrada, razão pela qual ambos os processos devem ser
reunidos no juízo prevento.

DIREITO AMBIENTAL

16. Sobre a Avaliação de Impactos Ambientais, o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de


Impacto Ambiental, assinale a alternativa incorreta:

a) A avaliação de impactos ambientais é gênero, do qual são espécies, dentre outros, o


relatório ambiental, o plano de manejo e o estudo de impacto ambiental, acompanhado do
relatório de impacto ambiental.

b) O estudo de impactos ambientais pode ser considerado como uma aplicação do princípio
da prevenção.

c) Com base na disposição da Constituição Federal de 1988, o estudo de impacto ambiental


apenas deve ser exigido quando a atividade for potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental, sendo que, para o CONAMA, há casos em que se presume a
existência de significativa degradação para algumas atividades.

d) No âmbito doutrinário, pacificou-se o entendimento de que a conclusão do estudo de


impacto ambiental vincula a decisão do órgão ambiental competente.

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e) O Relatório de Impacto Ambiental busca, através de linguagem clara e simples,


demonstrar as conclusões do estudo, explicitando as vantagens e desvantagens do projeto,
bem como todas as consequências ambientais de sua implementação.

17. Sobre a Responsabilidade Administrativa Ambiental, considere a seguinte situação hipotética:

“João, ao passear pela praça de seu bairro, verificou que a empresa SOU SUJA LTDA estava
despejando resíduos em um córrego. Imediatamente, João escreveu uma carta anônima e
encaminhou à autoridade ambiental competente”.

De acordo com o exposto, com o entendimento doutrinário, jurisprudencial e a legislação do


Direito Ambiental, assinale a alternativa incorreta.

a) Embora João pudesse, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento


ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores,
dirigir representação ao órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização
ambiental, a legislação apenas assegura tal direito quando a pessoa for legalmente
identificada, vedando-se, assim, o anonimato.

b) De acordo com a legislação, a autoridade ambiental, quando tiver conhecimento de


uma infração ambiental, é obrigada a promover a sua apuração imediata. Não o fazendo, a
autoridade poderá ser considerada corresponsável.

c) Ainda que a autoridade verifique que a conduta de SOU SUJA LTDA esteja, de fato,
ocasionando danos ao meio ambiente, não poderá imputar a responsabilidade administrativa
caso a conduta não se encontre tipificada nas normas de proteção ao meio ambiente.

d) A despeito da controvérsia doutrinária acerca da natureza da responsabilidade


administrativa, recentemente, o Superior Tribunal de Justiça passou a adotar a teoria
subjetiva, de forma que, diferentemente da esfera cível, deve-se comprovar o dolo ou a
culpa do infrator.

e) É possível seja dada publicidade a eventual sanção administrativa aplicada em face de


SOU SUJA LTDA, em virtude de ilícito ambiental.

DIREITO TRIBUTÁRIO

18. Sobre garantias e privilégios do crédito tributário, assinale a alternativa correta:

a) Dentre as garantias do crédito tributário, encontra-se a fraude à execução fiscal,


caracterizada, dentre outros casos, pela alienação de bens quando pendente crédito

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tributário regularmente inscrito em dívida ativa, devendo a Fazenda Pública comprovar


o registro da penhora do bem alienado ou a má-fé do terceiro adquirente, com o fim de
buscar a declaração de ineficácia do negócio jurídico.

b) O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo
de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do
acidente de trabalho, bem como os créditos com garantia real.

c) Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida sem prova


da suspensão da exigibilidade ou da quitação de todos os tributos relativos aos bens do
espólio, ou às suas rendas.

d) Para que pleiteie a indisponibilidade de bens, é necessário que a Fazenda Pública


comprove que foram esgotados todos os meios e diligências possíveis na busca de bens
penhoráveis.

e) Excetuados os bens gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou


impenhorabilidade, o sujeito passivo responde pelo pagamento do crédito tributário com
a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza.

19. Sobre a constituição do crédito tributário, considere a seguinte situação hipotética:

“A empresa COMERCIAL LTDA entregou declaração, afirmando ser devedora de ICMS no valor de
R$10.000,00, procedendo, no entanto, ao recolhimento de apenas 50% do valor declarado. Em
análise desta declaração, o Fisco constatou que a empresa declarou a menor, omitindo R$2.000,00
do imposto devido”.

De acordo com o exposto e com o entendimento firmado pela doutrina e pela jurisprudência,
julgue os seguintes itens:

I. No que tange aos R$10.000,00, uma vez que fora resultante de declaração de lavra da
própria empresa, não corre para o Fisco o prazo decadencial para sua constituição.

II. No que se refere aos valores declarados e não recolhidos, inicia-se para a Fazenda
Pública, a contar do vencimento ou da entrega da declaração, o prazo de cinco anos para o
ajuizamento da respectiva execução fiscal.

III. Embora omitida, por derivar da declaração entregue, entende-se que os R$2.000,00
se encontram devidamente constituídos, não havendo que se falar em fluência de prazo
decadencial para o Fisco.

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IV. Apesar de o ICMS ser imposto tipicamente constituído por lançamento por
homologação, no caso narrado, para parte dos valores, faz-se necessário o lançamento de
ofício.

Assinale a única alternativa em todos os itens se encontram corretos:

a) I, II e IV.

b) II e IV.

c) I e IV.

d) III e IV.

e) I e IIII.

20. Sobre o parcelamento do crédito tributário, assinale a alternativa errada:

a) O parcelamento possui o efeito de interromper o prazo prescricional.

b) Para fins de denúncia espontânea, não se admite o parcelamento do crédito tributário.

c) Por consistir em verdadeira causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o


parcelamento, em regra, impede a inclusão de juros e multas.

d) Em regra, para os casos de recuperação judicial, o parcelamento dependerá de previsão


em lei específica.

e) Ainda que o crédito se encontre parcelado, o sujeito passivo deve cumprir com as
respectivas obrigações acessórias.

DIREITO ADMINISTRATIVO

21. Cuidando das agências reguladoras, marque a alternativa correta:

a) As agências reguladoras são novas entidades jurídicas acrescentadas à estrutura formal


da administração pública, não se enquadrando sua natureza na das entidades até então
existentes.

b) Não é possível que uma agência reguladora seja qualificada como agência executiva.

c) Uma das principais características que visam a garantir autonomia às agências reguladoras

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é a existência de mandato com prazo determinado para os Conselheiros e Diretores, que


somente poderão ser destituídos do cargo em caso de renúncia, de condenação judicial
transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar, podendo a lei de criação
da agência prever outras condições para a perda do mandato.

d) O ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer


serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de quatro anos, contados
da exoneração ou do término do seu mandato.

e) Não é possível a edição, pelas agências reguladoras, de atos normativos, devendo toda
sua atuação possuir expressa previsão legal.

22. Acerca das formas de provimento dos servidores públicos, assinale a alternativa correta:

a) Readaptação é a forma de provimento mediante a qual o servidor, estável ou não, tendo


sofrido uma limitação física ou mental em suas habilidades, torna-se inapto para o exercício
do cargo que ocupa, mas, não configurada a invalidez permanente, pode ainda exercer
outro cargo para o qual a limitação sofrida não o incapacita. Desde que possível diante
do grau de invalidez, o cargo provido por readaptação deverá ter atribuições afins às do
anterior, respeitando-se a habilitação exigida, o nível de escolaridade e a equivalência de
vencimentos.

b) Recondução é o retorno à atividade de servidor em disponibilidade, em cargo de


atribuições e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado.

c) A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado,


quando invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento
do que teria feito jus durante o período de seu desligamento ilegal, inclusive às promoções
por antiguidade que teria obtido nesse ínterim, ressalvados os vencimentos, uma vez que
não se remunera quem não trabalhou, sob pena de enriquecimento ilícito.

d) Aproveitamento é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e


decorrerá de inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo e reintegração do
anterior ocupante.

e) Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado.

23. Tratando dos consórcios públicos, assinale a alternativa correta:

a) O consórcio público constituirá associação pública, não podendo possuir natureza de


pessoa jurídica de direito privado.

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b) A União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte todos
os Estados em cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados.

c) Os consórcios públicos não poderão promover desapropriações.

d) O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação, mediante lei, do


protocolo de intenções, sendo vedada a ratificação realizada com reserva, pois não se
admite consorciamento parcial ou condicional.

e) Os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante


contrato de rateio, e, formado o consórcio, os entes consorciados, isoladamente, são parte
ilegítima para exigir o cumprimento das obrigações previstas no contrato de rateio.

DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO

24. Tratando das atribuições, competências e organização do Conselho Administrativo de Defesa


Econômica (CADE), marque a alternativa correta:

a) O CADE é constituído pelo Tribunal Administrativo de Defesa Econômica e pela


Superintendência-Geral, sendo o Tribunal Administrativo composto por um Presidente e
seis Conselheiros escolhidos dentre cidadãos com mais de 30 (trinta) anos de idade, de
notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovados pelo Senado Federal.

b) Compete à Superintendência-Geral do CADE acompanhar, permanentemente, as


atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição
dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem
econômica, podendo, para tanto, requisitar as informações e documentos necessários,
mantendo o sigilo legal, quando for o caso.

c) Compete ao Departamento de Estudos Econômicos adotar medidas preventivas que


conduzam à cessação de prática que constitua infração da ordem econômica, fixando prazo
para seu cumprimento e o valor da multa diária a ser aplicada, no caso de descumprimento.

d) A lei nº 12.529/2011 aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou


privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas, constituídas de fato
ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, salvo as que
exerçam atividade sob regime de monopólio legal.

e) Constitui infração contra a ordem econômica exercer de forma abusiva posição


dominante, presumindo-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de

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empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou


quando controlar 50% (cinquenta por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este
percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia.

25. Sobre as despesas públicas, assinale a alternativa correta:

a) O pagamento da antecipação de receita orçamentária, incluindo seus juros, é exemplo


de despesa extraorçamentária.

b) As transferências correntes, modalidade de despesa corrente, são as dotações para


despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive
para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades
de direito público ou privado.

c) Subvenções econômicas são as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio


das entidades beneficiadas, como as que se destinem a instituições públicas ou privadas de
caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa.

d) Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de


obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização
destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações,
equipamentos e material permanente, ressalvada a constituição ou aumento do capital de
empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.

e) Consideram-se restos a pagar as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de
dezembro distinguindo-se as processadas – aquelas empenhadas e não liquidadas - das
não processadas – aquelas sequer empenhadas.

DIREITO CONSTITUCIONAL

26. Tendo em vista as previsões constitucionais sobre os direitos sociais, bem como a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, analise os itens que seguem:

I. A instituição, por lei ordinária, de uma das contribuições da seguridade social previstas
no art. 195, incisos I a IV da CF é manifestação da competência discriminada da União.

II. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante, dentre outras medidas, a
garantia de educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade própria, tendo em vista que acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo, e o seu não oferecimento implica responsabilidade da autoridade competente.

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III. A Constituição traz em seu art. 217 o dever do Estado de fomentar atividades desportivas
formais e não formais, sendo certo que tal previsão direciona-se especificamente à prática
de esportes, seja nas suas manifestações formais ou informais.

IV. A seguridade social tem como característica a não vinculação a qualquer tipo de
contraprestação pelos seus usuários, e será organizada pelo poder Público, tendo dentre
os seus objetivos a irredutibilidade do valor dos benefícios e o caráter democrático e
descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite.

V. É constitucional a lei que preveja alíquotas diferenciadas para as contribuições


previdenciárias incidentes sobre a folha de salários de instituições financeiras e entidades a
elas equiparáveis para fins de custeio da seguridade social.

Está correto o que se afirma apenas nos itens:

a) I e II.

b) I, II e III.

c) I e III.

d) I, II e V.

e) II, IV e V.

27. Acerca do Poder Judiciário, assinale a alternativa correta:

a) Os conflitos fundiários serão resolvidos por juízes de entrância especial com competência
exclusiva para tanto, já que não é possível a criação de varas especializadas sobre questões
agrárias no âmbito dos estados.

b) Tendo em vista competir à União, nos termos do art. 21, XIV da CF, organizar e manter
a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, poderá a
União vir a responder por eventuais ações propostas por esses servidores.

c) A demanda em que a Infraero figure como autora, ré, assistente ou opoente será
necessariamente julgada na Justiça Federal.

d) No caso de o Estado da África do Sul ajuizar ação indenizatória contra o Município do


Rio de Janeiro, a competência originária para julgar a demanda será do Superior Tribunal
de Justiça.

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e) É inconstitucional norma estadual que vincula as receitas obtidas com indenizações ou


créditos pagos ao Estado pela União ao pagamento de débitos de idêntica natureza.

28. Tendo em vista a jurisprudência do STF, assinale a alternativa correta:

a) A decisão do STF declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de


preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores
que tenham adotado entendimento diferente, tendo em vista que o termo inicial da eficácia
executiva da sentença é a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário Oficial.

b) Não fere a separação de poderes a realização, pelo Poder Judiciário, de controle abstrato
sobre a emenda, pelo o Poder Legislativo, aos projetos de leis orçamentárias, ainda que o
procedimento para a emenda tenha sido regular e que as alterações sejam compatíveis com
o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, indiquem os recursos necessários,
e sejam relacionadas com os dispositivos do texto do projeto de lei.

c) Em que pese não ser possível que lei de iniciativa parlamentar crie conselho de
acompanhamento dentro da estrutura do Poder Executivo, poderá o Legislativo disciplinar,
por lei de iniciativa sua, as consequências jurídicas das relações mantidas pelo Poder
Executivo com particulares.

d) Em caso de prática de crime continuado em escritório, não será possível a entrada


forçada da autoridade no local durante a noite, tendo em vista se enquadrar o escritório no
conceito de casa para fins de aplicação da inviolabilidade de domicílio garantida pelo art.
5º, XI da CF.

e) A regra da perda do mandato por infidelidade partidária é aplicável tanto aos candidatos
eleitos pelo sistema proporcional quanto àqueles eleitos pelo sistema majoritário.

DIREITO EMPRESARIAL

29. Zé Augusto é dono de um pequeno mercado na Lagoa da Conceição em Florianópolis/SC. Após


constatar o sucesso de seu negócio, investidores estrangeiros de um grande zaibatsu japonês
decidem adquirir seu estabelecimento, convencendo Zé a se aposentar e passar o resto de sua vida
se dedicando exclusivamente à prática de surf na ilha da magia. Os investidores firmaram, assim,
um contrato de trespasse do estabelecimento junto com uma cláusula de não restabelecimento
por prazo indeterminado em todo território nacional, a qual Zé anuiu expressamente, tendo em
vista sua intenção de usar o dinheiro do trespasse para se aposentar. Sobre o caso, assinale a
alternativa correta:

a) A cláusula de não restabelecimento é considerada nula de pleno direito diante, uma

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vez que o ordenamento Brasileiro veda expressamente esse tipo de ajuste, em razão do
principio da livre iniciativa constitucionalmente consagrado.

b) Se a cláusula de não restabelecimento fosse limitada temporalmente, seria


necessariamente válida.

c) A cláusula de não restabelecimento é nula, posto que seu prazo deve ser necessariamente
quinquenal, em razão de previsão expressa do CC/02.

d) O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à


transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de um an, a partir da publicação do trespasse pelos
créditos vencidos e vincendos.

e) Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia
da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação,
sem prejuízo da necessidade de averbar o trespasse e publicá-lo.

30. Acerca das prioridades legais para pagamento de credores na falência, assinale a alternativa
INCORRETA:

a) O crédito trabalhista cujo valor não ultrapasse 150 salários mínimos por credor deve ser
pago antes mesmo do crédito tributário.

b) Os créditos extraconcursais devem ser pagos antes dos créditos com garantia real.

c) Os créditos constituídos em favor dos microempreendedores individuais e das


microempresas e empresas de pequeno porte devem ser pago antes dos créditos com
privilégio geral.

d) Todo o crédito tributário deve ser pago com prioridade em face aos credores
quirografários.

e) Os créditos quirografários possuem prioridade em face daqueles devidos aos sócios e


administradores sem vínculo empregatício.

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GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS

QUESTÃO 1 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 2 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 3 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 4 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 5 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 6 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 7 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 8 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 9 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 10 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 11 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 12 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 13 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 14 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 15 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 16 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 17 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 18 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 19 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 20 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 21 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 22 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 23 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 24 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 25 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 26 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 27 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 28 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 29 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 30 ALTERNATIVA D

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QUESTÕES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO

PROFESSOR: NATALIA MAIA


E-mail: profcei.nataliamaia@gmail.com

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. Em relação à prescrição no âmbito trabalhista, é correto afirmar:

a) A transferência do regime jurídico celetista para o estatutário configura sucessão


imprópria, não podendo ser equiparada à extinção do contrato de trabalho para efeitos de
fluência da prescrição bienal.

b) O ajuizamento anterior de reclamação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe


a prescrição para pedidos idênticos, sendo o cômputo da prescrição bienal reiniciado a
partir do trânsito em julgado da decisão proferida na ação anteriormente ajuizada, e o da
prescrição quinquenal, da propositura da primeira reclamação trabalhista.

c) A suspensão do contrato de trabalho em virtude da percepção do auxílio-doença impede


a fluência da prescrição quinquenal.

d) Em regra, as demandas envolvendo pedidos de prestações sucessivas decorrentes de


alteração contratual se submetem à prescrição parcial, na medida em que a lesão se renova
mês a mês.

e) Nas hipóteses em que o prazo prescricional, em relação ao FGTS, já estava em curso em


13/11/2014, aplica-se o prazo prescricional de trinta anos.

COMENTÁRIO

A prescrição é instituto ligado à inércia do titular da pretensão que retira exigibilidade de determinado
direito, em razão do decurso do tempo, objetivando proporcionar segurança jurídica nas relações. Com
a violação do direito, nasce para o trabalhador a pretensão de exigi-lo judicialmente. A prescrição não
interfere na possibilidade de ingressar com ação judicial, nem implica a perda do direito em si, recaindo
apenas sobre a sua exigibilidade. O art. 7º, inciso XXIX da CRFB assegura aos trabalhadores o direito de
ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos,
até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. Vejamos algumas peculiaridades
da prescrição na justiça obreira:

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Alternativa (A): incorreta. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a investidura em cargo ou
emprego público passou a ser condicionada à previa aprovação em concurso público (art. 37, II, CF/88).
Do mesmo modo, foi determinada a instituição obrigatória de regime jurídico único para reger as
relações da Administração com os seus servidores. A EC 19/1998, que dispensou essa obrigatoriedade,
somente produziu efeitos entre a sua promulgação e o dia 7/3/2008, data em que teve sua eficácia
suspensa por força de medida cautelar deferida pelo STF, com efeitos ex nunc, nos autos da ADI nº. 2135-
DF. Nesse contexto, muitos entes federados passaram a editar leis prevendo a transmutação automática
do regime celetista dos seus empregados para o regime estatutário, adequando-se à exigência do regime
jurídico único. Obs: O STF entendeu, em sede de controle concentrado, que a conversão automática para
o regime jurídico estatutário somente é constitucional em relação aos celetistas que haviam ingressado
na Administração pública mediante concurso público. Quanto aos demais, embora sejam beneficiários
da estabilidade no serviço público, nos termos do art. 19 da ADCT, não podem ter seu regime jurídico
convolado para o estatutário.

Essa alteração do regime celetista para o estatutário, decorrente de lei, acarreta o término do
contrato de trabalho, dando início à contagem do prazo prescricional de 2 (dois) anos para
que o empregado que teve seu regime jurídico modificado ajuíze reclamação pleiteando seus direitos
trabalhistas. É o que diz a Súmula nº. 382 do TST.

Alternativa (B): correta. A contagem do prazo prescricional poderá ser afetada pela configuração das
chamadas causas interruptivas, suspensivas e impeditivas. Ocorrendo uma causa interruptiva, o prazo
prescricional é “zerado”, reiniciando-se a sua contagem por inteiro. A Súmula nº. 268-TST estabelece que
o ajuizamento da ação trabalhista interrompe a prescrição, ainda que venha a ser extinta sem resolução
de mérito (arquivada), porém apenas no que diz respeito aos pedidos deduzidos nessa primeira
ação: “a ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em relação aos pedidos
idênticos”. Nessa hipótese, a prescrição bienal, que passou a correr a partir da extinção do contrato de
trabalho e foi interrompida em virtude do ajuizamento da ação, terá sua contagem reiniciada a partir
do trânsito em julgado da decisão proferida na primeira reclamação. Já a prescrição quinquenal volta
a contar do mesmo momento em que foi interrompida, ou seja, da data da propositura da reclamação.
Foi o que decidiu o TST, em julgado divulgado no Informativo nº. 13, de 2012:

Prescrição. Interrupção. Reclamação trabalhista arquivada. Marco inicial para o reinício da


contagem do prazo prescricional bienal e quinquenal. O ajuizamento anterior de reclamação
trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição bienal e quinquenal, para pedidos
idênticos, sendo que o cômputo do biênio é reiniciado a partir do trânsito em julgado
da decisão proferida na ação anteriormente ajuizada, enquanto que a prescrição
quinquenal conta-se da data da propositura dessa primeira reclamação trabalhista (art.
219, § 1º, do CPC c/c art. 202, parágrafo único, do CC) (TST-E-ED-RR19800-17.2004.5.05.0161,
SBDI-I, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 14.6.2012.

Alternativa (C): incorreta. As causas suspensivas “congelam” a contagem do prazo prescricional, de

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modo que, uma vez cessada a circunstância que ensejou a suspensão, ele volta a contar de onde parou.
Exemplificando, o art. 625-G da CLT prevê a suspensão do prazo prescricional a partir da provocação da
Comissão de Conciliação Prévia, retomando-se a sua fluência a partir da tentativa frustrada de conciliação
ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F da CLT.

A suspensão do contrato de trabalho ocorre quando, diante de determinadas situações, tanto o


empregador quanto o obreiro têm as suas obrigações contratuais suspensas, ou seja, o obreiro deixa de
prestar serviços, e o empregador deixa de remunerá-lo, embora o vínculo empregatício se mantenha.
É importante frisar que, em regra, as causas que suspendem o contrato de trabalho não suspendem
também o prazo prescricional. Nesta senda, a OJ nº. 375 da SDI-1 do TST estabelece que “a suspensão do
contrato de trabalho, em virtude da percepção do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, não
impede a fluência da prescrição quinquenal”. Isso porque tais hipóteses não estão previstas no art. 199 do
Código Civil de 2002, que não comporta interpretação extensiva ou analógica para inclusão de outras
causas de suspensão. Observação: essa regra será excepcionada se o empregado comprovar que, em
virtude da enfermidade, estava absolutamente impossibilitado, física ou mentalmente, de comparecer à
Justiça do Trabalho. Para a Corte, tal situação configura uma condição suspensiva autônoma, atraindo
a incidência do inciso I do art. 199 do CC/2002. Logo, se a doença que ensejou a percepção do auxílio
estiver impossibilitando, de modo absoluto, o empregado de acionar a Justiça do Trabalho, não haverá a
fluência do prazo prescricional, enquanto a situação persistir.

Alternativa (D): incorreta. O TST, mediante criação jurisprudencial, diferencia a prescrição parcial da
prescrição total. A prescrição total está atrelada a um ato único do empregador, que implica alteração
contratual lesiva, suprimindo direitos do trabalhador não previstos em lei. A partir da prática desse ato
ilícito único, terá início a contagem do prazo prescricional de 5 (cinco) anos para o trabalhador questioná-
lo, pela via judicial. Já na prescrição parcial, relacionada a prestações que possuem previsão legal,
consideram-se exigíveis as parcelas relativas aos 5 (cinco) anos que antecedem o ajuizamento da ação,
e não a prática do ato lesivo, na medida em que se entende que a violação do direito, que faz surgir a
pretensão, renova-se mês a mês, sempre que a parcela não for paga. Nesta senda, a Súmula nº. 294 do
TST prevê que: “tratando-se de ação que envolva pedido de prestações sucessivas decorrente de alteração
do pactuado, a prescrição é total, exceto quando o direito à parcela esteja também assegurado por
preceito de lei”. Exemplificando, a supressão de comissões, em prejuízo do empregado, é suscetível de
operar a prescrição total da ação, por tratar-se de parcela não assegurada por preceito de lei (OJ nº. 175-
SDI do TST). Na ação de equiparação salarial, por sua vez, a prescrição é parcial, somente alcançando as
diferenças salariais vencidas no período de 5 (cinco) anos que precedeu o ajuizamento (Súm 6-TST, item
IX).

Alternativa (E): incorreta. O art. 23, §5º da Lei nº. 8.036/90, que regula o FGTS, estabelece que “o
processo de fiscalização, de autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo disposto no Título VII
da CLT, respeitado o privilégio do FGTS à prescrição trintenária”. Com base no dispositivo, o TST
entendia que, respeitado o prazo de 2 (dois) anos após a extinção contratual para ingresso com a

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reclamação trabalhista, o trabalhador poderia pleitear as parcelas de FGTS relativas aos últimos 30 (trinta)
anos anteriores ao ajuizamento da ação. Era a chamada prescrição trintenária. Ocorre que o preceito
legal foi declarado inconstitucional pelo STF, em sede de repercussão geral (ARE 709.212/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, j. em 13/11/2014). Na ocasião, a Corte entendeu que os valores devidos ao FGTS,
por estarem previstos no rol de direitos constitucionais assegurados aos trabalhadores do art. 7º da CRFB,
configuram direito decorrente da relação de trabalho, devendo, portanto, sujeitar-se ao prazo prescricional
de 5 (cinco) anos previsto no art. 7º, inciso XXIX da CF/88. Observação: os efeitos da decisão foram
modulados, produzindo efeitos ex nunc. Assim, com esse julgamento, o prazo prescricional ocorrerá,
no máximo, 5 (cinco) anos após a decisão do STF. Adequando-se ao novo posicionamento da Corte
Constitucional, o TST modificou a redação da Súmula nº. 362 de sua jurisprudência, estabelecendo que
a prescrição do FGTS será quinquenal quanto aos prazos que tiverem início, pela ciência da lesão, após
a decisão do STF (13/11/2014). Com relação aos prazos que já estavam em curso naquela data, deverá
ser aplicado o prazo que se consumar primeiro: trinta anos, do termo inicial, ou cinco anos, a partir de
13/11/2014. Veja o que diz a súmula:

FGTS. PRESCRIÇÃO (nova redação)

I – Para os casos em que a ciência da lesão ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal a


prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento de contribuição para o FGTS,
observado o prazo de dois anos após o término do contrato;

II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em curso em 13.11.2014, aplica-se o


prazo prescricional que se consumar primeiro: trinta anos, contados do termo inicial, ou cinco
anos, a partir de 13.11.2014 (STF-ARE-709212/DF).

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

2. Dentre as situações abaixo relacionadas, assinale aquela em relação à qual NÃO se aplica, no
âmbito do processo do trabalho, o princípio da extrapetição:

a) Concessão de adicional de 50% (cinquenta por cento), em reclamação na qual se pleiteia


tão somente a percepção de horas extras.

b) Determinação de anotação da CTPS, em ação objetivando exclusivamente o


reconhecimento de vínculo empregatício.

c) Determinação de atualização do crédito trabalhista com base no IPCA-E, em sede de


liquidação de sentença na qual foi determinada, em contrariedade ao entendimento do
STF, a aplicação da TR como índice de correção monetária.

d) Condenação ao pagamento do adicional de 1/3 (um terço), quando o pedido se restringe


ao pagamento das férias, sem alusão expressa ao adicional.

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e) Decisão que defere os salários correspondentes, em reclamação na qual o empregado


requereu somente a reintegração.

COMENTÁRIO

Uma das características da Jurisdição é a inércia, que impede a atuação do Estado-Juiz, sem a correspondente
provocação da parte, salvo determinadas exceções. Essa provocação, via de regra, ocorre mediante o
ajuizamento de uma ação. Nesse sentido, o art. 2º do CPC/2015 estabelece que o processo começa
por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Uma
vez provocado, o juízo deverá decidir o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado
conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte (art. 141 do CPC/2015).
Do mesmo modo, ao juiz também é vedado proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como
condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 492 do
CPC/2015). Essas previsões materializam o princípio da congruência, sendo que a sua inobservância
enseja a prolação de decisões ultra, cita ou extra petita.

O princípio da congruência é relativizado pelos pedidos implícitos. No direito processual comum,


por exemplo, considera-se implícito o pedido pela inclusão de juros moratórios na fase de liquidação,
mesmo quando a inicial ou a condenação for omissa nesse ponto (Súmula nº. 254-STF). O art. 322, §1º
do CPC/2015 incorporou o entendimento jurisprudencial e ampliou as hipóteses estabelecidas no CPC
anterior, passando a prever que “compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as
verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios”. Na seara trabalhista, a autorização para que
o julgador, de ofício, conceda mais do que o pleiteado ou condene o reclamado em vantagem diversa
da requerida, nos casos previstos em lei, recebe a denominação de princípio da extrapetição. Vejamos
algumas das hipóteses em que o princípio é aplicado:

Alternativa (A): incorreta. O art. 7º, inciso XVI da CF/88 garante aos trabalhadores a remuneração do
serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta por cento) à do normal. Em virtude dessa
previsão, o TST entende que, nas ações que buscam unicamente o pagamento de horas extras, o juiz
deverá incluir na condenação também o pagamento do respectivo adicional, de modo a fazer valer a
ordem constitucional, sem que isso implique em decisão extra ou ultra petita.

Alternativa (B): incorreta. Em reclamação trabalhista na qual o empregado pleiteia o reconhecimento do


vínculo trabalhista, o juízo deverá, de ofício, determinar a anotação da Carteira de Trabalho e Previdência
Social, ainda que não haja pedido expresso nesse sentido. Isso porque a anotação da CTPS é imperativa
quando há relação empregatícia configurada, devendo ser considerada como pedido implícito nas ações
envolvendo o reconhecimento do vínculo. Também deverá ser levado em consideração o disposto no
§1º do art. 832 da CLT, que estabelece que a decisão deverá determinar o prazo e as condições para o
seu cumprimento, quando concluir pela procedência do pedido, bem como o teor do art. 835 da CLT, na
medida em que prevê que o cumprimento da decisão far-se-á no prazo e condições nela estabelecidas.

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Alternativa (C): correta (o princípio não se aplica a essa hipótese). O art. 39, §1º da Lei 8.177/91 prevê
que, “aos débitos trabalhistas constantes de condenação pela Justiça do Trabalho (...) serão acrescidos,
nos juros de mora previstos no caput, juros de um por cento ao mês, contados do ajuizamento da
reclamatória e aplicados pro rata die, ainda que não explicitados na sentença ou no termo de
conciliação”. Logo, mesmo diante da ausência de pedido ou de condenação, deverão incidir juros e
correção monetária na fase de liquidação. O mesmo, contudo, não ocorre quando existe previsão
expressa, na decisão, determinando a utilização de determinado índice, de modo que eventual
alteração desse índice, pelo juiz, em fase de liquidação, implicará violação da coisa julgada.

Observação: O art. 39 da Lei nº. 8.177/1991 estabelece que, em relação aos débitos trabalhistas não
satisfeitos pelo empregador na época própria, deverá incidir a TRD acumulada no período compreendido
entre a data de vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento. Ocorre que, no julgamento das
ADIs nº. 4.357 e 4.372, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial do §12º do art. 100 da CF/88, na
medida em que determinava a correção monetária, na atualização de valores devidos pela Fazenda
Pública e pagos mediante precatórios, pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança (TR). Naquela ocasião, a Corte entendeu que tal índice não reflete os efeitos da inflação,
sendo, por isso, insuficiente para preservar o valor real do crédito, cuja atualização monetária é direito
subjetivo do credor e deve refletir a exata recomposição do poder aquisitivo decorrente da inflação
do período em que apurado, sob pena de violar o direito fundamental de propriedade do credor.
Baseando-se na ratio decidendi dessas decisões, o Plenário do TST declarou inconstitucional a
expressão “equivalentes à TRD”, contida no dispositivo mencionado (art. 39, caput, da Lei nº.
8.177/91), definindo a variação do índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E)
como fator de atualização a ser utilizado na tabela de atualização monetária dos débitos
trabalhistas na Justiça do Trabalho. O STF, contudo, em medida liminar proferida pelo Min. Dias
Toffoli no julgamento da Rcl 22012-MC, em 14/10/2015, suspendeu os efeitos da referida decisão.

A declaração de inconstitucionalidade por arrastamento somente alcança dispositivo cuja eficácia


normativa dependa da norma objeto da declaração de inconstitucionalidade e, portanto, se relaciona
com os limites objetivos da coisa julgada. Como as ADI nº. 4.357/DF e 4.425/DF tiveram como objeto
a sistemática de pagamento de precatórios introduzida pela EC nº. 62/09, sendo que o próprio Relator
reforçou o limite objetivo da declaração de inconstitucionalidade por arrastamento do art. 1º-F da Lei
nº. 9.494/97 “ao intervalo de tempo compreendido entre a inscrição do crédito em precatório e o efetivo
pagamento”, tais decisões não têm o condão de esvaziar a força normativa da expressão “equivalentes
à TRD”, contida no caput do art. 39 da Lei nº. 8.177/91. Concluindo, permanece aplicável a TR como
índice de correção monetária nos créditos trabalhistas.

Alternativa (D): incorreta. O art. 7º, XVII da CF/88 assegura o pagamento das férias com, pelo menos,
um terço a mais do que o salário normal, de modo que o adicional constitui parte integrante da
remuneração das férias. Diante disso, entende o TST que, em reclamação que deduz o pedido de
pagamento de férias, é irrelevante que não haja menção expressa ao adicional, devendo o juiz inclui-lo na

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condenação, sem que isso caracterize julgamento extra petita. Essa conclusão também pode ser inferida
do teor da Súmula nº. 328 do TST, ao prever que “o pagamento das férias, integrais ou proporcionais,
gozadas ou não, na vigência da CF/1988, sujeita-se ao acréscimo do terço previsto no respectivo art. 7º,
XVII”.

Alternativa (E): incorreta. O art. 496 da CLT estabelece que o tribunal do trabalho poderá converter
a obrigação de reintegração em indenização, quando, dado o grau de incompatibilidade resultante
do dissídio, especialmente quando for o empregador pessoa física, for desaconselhável a reintegração
do empregado estável. Com fulcro nesse dispositivo, entende o TST que, ultrapassado o período de
estabilidade, com muito mais razão o juiz poderá deferir, de ofício, o pagamento dos salários do período,
mesmo que o pedido seja apenas pela reintegração. Além disso, o correto enquadramento jurídico do
pedido é facultado ao juízo, por aplicação do princípio “da mihi factum dabo tibi jus”. Sobre o assunto,
confira o teor da Súmula nº. 396 do TST:

ESTABILIDADE PROVISÓRIA. PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO. CONCESSÃO DO SALÁRIO


RELATIVO AO PERÍODO DE ESTABILIDADE JÁ EXAURIDO. INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO
“EXTRA PETITA”

I - Exaurido o período de estabilidade, são devidos ao empregado apenas os salários do período


compreendido entre a data da despedida e o final do período de estabilidade, não lhe sendo
assegurada a reintegração no emprego.

II - Não há nulidade por julgamento “extra petita” da decisão que deferir salário quando o
pedido for de reintegração, dados os termos do art. 496 da CLT.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

3. Quanto ao processo de execução no âmbito da Justiça do Trabalho, assinale a alternativa


incorreta:

a) O inadimplemento de sentença condenatória transitada em julgado, proferida pela


Justiça do Trabalho, exclusivamente com relação aos honorários, não impede a obtenção
da Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, ante a sua natureza privada e distinta da
relação discutida na lide.

b) A decisão transitada em julgado proferida por juiz trabalhista poderá ser levada a
protesto, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário. No entanto, se o
executado ajuizar ação rescisória objetivando desconstituir a decisão exequenda, poderá,
sob sua responsabilidade, anotar a propositura da ação à margem do título protestado.

c) Os juros diferenciados previstos no art. 1º-F da Lei nº. 9.494, de 1997 não beneficiam
a Fazenda Pública, quando condenada a responder subsidiariamente pelas obrigações

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trabalhistas inadimplidas pela empresa prestadora de serviços terceirizados.

d) A inscrição da hipoteca judiciária no registro público, prevista no art. 495 do Novo CPC,
pode ser determinada pelo juízo trabalhista, em sede de execução, independentemente de
pedido, não dependendo, ademais, de comprovação da debilidade financeira do devedor.

e) O §3º do art. 782 do Novo CPC, que permite a inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes, aplica-se à execução trabalhista, não obstante a existência de
regramento próprio na CLT, determinando a inclusão do devedor no Banco Nacional de
Devedores Trabalhistas.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta, devendo ser assinalada. A Lei nº. 12.440, de 2011, introduziu o Título VII-A
na CLT, instituindo a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT), a ser expedida gratuita e
eletronicamente, para comprovar a inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho,
a qual certifica a empresa em relação a todos os seus estabelecimentos, agências e filiais, pelo período
de 180 (cento e oitenta) dias, a partir de sua emissão. A exigência de regularidade trabalhista, a ser
comprovada pela apresentação da CNDT, também passou a ser exigida como condicionante à habilitação
das empresas nos procedimentos licitatórios (art. 27, inciso IV e art. 29, inciso V, ambos da Lei nº. 8.666/93).
Nos moldes do art. 642-A, §1º, incisos I e II da CLT, impedem a obtenção da certidão: (a) o inadimplemento
de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante o Ministério Público do Trabalho;
(b) o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante Comissão
de Conciliação Prévia; (c) o inadimplemento de obrigações estabelecidas em sentença condenatória
transitada em julgado proferida pela Justiça do Trabalho ou em acordos judiciais trabalhistas, inclusive
no concernente aos recolhimentos previdenciários, a honorários, a custas, a emolumentos ou a
recolhimentos determinados em lei. Observação: na fase de execução, o cabimento do Recurso de
Revista fica limitado à ofensa direta e literal de norma da CF. Contudo, nas controvérsias, em fase de
execução, envolvendo a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, ele também será cabível por violação
a lei federal e por divergência jurisprudencial (CLT, art. 896, § 10).

Alternativa (B): correta. O Novo CPC, preocupado em emprestar efetividade à execução, passou
possibilitar, em seu art. 517, que a decisão judicial transitada em julgado seja levada a protesto, nos termos
da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário (no caso da justiça obreira, o prazo,
em se tratando de pagamento em dinheiro, é de 48 (quarenta e oito) horas - CLT, art. 880). Para efetivar
o protesto, a parte deverá apresentar certidão de teor da decisão, indicando o nome e a qualificação do
exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para
pagamento voluntário. Caso o executado opte por promover ação rescisória para impugnar a decisão
exequenda, terá a possibilidade de requerer, as suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação
da propositura da ação à margem do título protestado (CPC/2015, art. 517, §3º). O TST, vale dizer, já se

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manifestou pela aplicação do dispositivo no âmbito do Processo do Trabalho, nos termos do art. 17 da
Instrução Normativa nº. 39, de 2016.

Alternativa (C): correta. Conforme prevê o art. 39, §1º, da Lei nº. 8.177/91, os juros, na seara trabalhista,
são calculados em 1% ao mês, de forma simples, sem capitalização, incidindo a partir do ajuizamento
da ação. Já em relação às condenações impostas a Fazenda Pública, incidem juros de mora segundo os
seguintes critérios: a) 1% (um por cento) ao mês, até setembro de 2001, nos termos do § 1º do art. 39
da Lei nº 8.177, de 1/03/1991; b) 0,5% (meio por cento) ao mês, de setembro de 2001 a junho de 2009,
conforme determina o art. 1º – F da Lei nº 9.494, de 10.09.1997, introduzido pela Medida Provisória nº
2.180-35, de 24.08.2001, e c) a partir de julho de 2009, mediante a incidência dos juros aplicados à
caderneta de poupança, por força da previsão do art. 5º da Lei nº. 11.960, de 2009, que conferiu
nova redação ao art. 1º-F da Lei nº. 9.494/97 (OJ nº 07 do Tribunal Pleno do TST).

Observação: Embora o STF tenha declarado a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de


remuneração básica da caderneta de poupança”, contida no § 12 do art. 100 da CF/88, e, por arrastamento,
do art. 1º-F da Lei nº. 9.494/97, com redação da Lei 11.960/09, (ADI 4.357), somente o índice de correção
monetária das dívidas fazendárias foi atingido. Quanto aos juros, esses permanecerão equivalentes aos
índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, exceto quando a
dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras específicas.

O TST entende que esse benefício se aplica apenas nas hipóteses em que a Fazenda Pública
responde, na condição de devedora principal, pelo pagamento dos créditos trabalhistas
reconhecidos ao reclamante. Quando mera devedora subsidiária, por outro lado, deverá responder
nos limites impostos na decisão, submetendo-se ao regime jurídico aplicável ao devedor principal. O
vínculo obrigacional se subdivide em dois elementos distintos: a dívida e a responsabilidade. O primeiro
tem caráter pessoal e o segundo, patrimonial. A regra é a responsabilidade patrimonial primária, que
determina que o patrimônio do devedor será o primeiro a ser atingido pela execução (art. 789, NCPC).
Contudo, a responsabilidade pelo pagamento da dívida pode ser atribuída a outros sujeitos, como
acontece com o tomador de serviços na terceirização lícita. Como a dívida é única, ela será transferida
ao responsável secundário nos mesmos moldes em que constituída. A esse respeito, confira o teor da OJ
nº. 382 da SDI-1 do TST:

JUROS DE MORA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494, DE 10.09.1997. INAPLICABILIDADE À FAZENDA


PÚBLICA QUANDO CONDENADA SUBSIDIARIAMENTE. A Fazenda Pública, quando condenada
subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas devidas pela empregadora principal, não se
beneficia da limitação dos juros, prevista no art. 1º-F da Lei nº 9.494, de 10.09.1997.

Alternativa (D): correta. O art. 495 do CPC de 2015 estatui que a decisão que condenar o réu ao
pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer,
de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca
judiciária. Por meio desse dispositivo, confere-se ao provimento judicial condenatório a eficácia inerente

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à hipoteca em bens do devedor, como forma de assegurar o efetivo cumprimento da obrigação, na


medida em que acautela o credor contra o réu e terceiros. O provimento mandamental que, de forma
oficiosa, determina a constituição da hipoteca judiciária, vale dizer, não ultrapassa os limites objetivos da
demanda. Isso porque ao juiz incumbe, sem provocação das partes e mediante a aplicação de norma
de ordem pública, adotar providências no sentido de assegurar o resultado prático equivalente ao
provimento condenatório. Além disso, diferentemente do art. 466 do CPC/1973, que incumbia o juiz
de ordenar a inscrição da hipoteca judiciária na forma prescrita na Lei de Registros Públicos, o §2º do
art. 492 do CPC/2015 prevê que “a hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de
cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial,
de declaração expressa do juiz ou de demonstração de urgência”. Frise-se que não há previsão
legal condicionando a hipoteca judiciária ao risco de inadimplência do devedor ou à comprovação de
sua debilidade financeira, de forma que tais circunstâncias são irrelevantes para a sua constituição. Por
fim, vale acrescentar que o entendimento pela aplicabilidade do instituto à execução trabalhista, que
já prevalecia na jurisprudência do TST durante a vigência do CPC anterior, passou a ser expressamente
previsto no art. 17 da IN nº. 39/2016.

Alternativa (E): correta. Os §§3º e 4º do art. 782 do NCPC, aplicáveis à execução definitiva de título
judicial, estabelecem que, a requerimento da parte, o juiz poderá determinar a inclusão do nome do
executado em cadastros de inadimplentes, devendo ser imediatamente cancelada a inscrição se for
efetuado o pagamento, garantida a execução ou extinta a execução, por qualquer outro motivo. Quanto
ao tema, o Enunciado nº. 190 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) concluiu que o
dispositivo “não veda a inclusão extrajudicial do nome do executado em cadastros de inadimplentes, pelo
credor ou diretamente pelo órgão de proteção ao crédito”. O TST entende, nos termos do art. 17 da IN nº.
39/2016, que essa norma também se aplica à execução trabalhista, sem prejuízo da inclusão o devedor
no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas de que trata o art. 642-A da CLT. Isso porque a obtenção de
CNDT interessa, primordialmente, às empresas que pretendem celebrar contratos com o Poder Público,
como já explicamos na alternativa A. Já a inscrição no cadastro de inadimplentes tem alcance muito mais
amplo, impedindo o acesso do devedor a financiamentos, por exemplo, de modo que possui maior
efetividade em seu objetivo, qual seja, coagir o executado a efetuar o pagamento da dívida.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

PROFESSORES: NATALIA MAIA E JOSÉ AMÉRICO


E-mail: profcei.nataliamaia@gmail.com | profcei.joseamerico@gmail.com

DIREITO CIVIL

4. Assinale a alternativa que trata corretamente do inventário e da partilha, à luz do Código de

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Civil de 2002, considerando a jurisprudência atualizada nos Tribunais Superiores:

a) Aplica-se a pena de sonegados ao inventariante que sonegar, ocultar ou desviar bens


do espólio.

b) Considera-se não escrita a previsão, constante do testamento ou do instrumento da


doação, que dispensa o descendente do dever de colacionar o bem, na medida em que
impossibilita a equiparação entre as legítimas, afrontando o princípio da isonomia.

c) A inexistência de previsão, no CC/2002 e no CPC/2015, de penalidade pelo descumprimento


do prazo de 2 (dois) meses, a partir da abertura da sucessão, para instauração do processo
de inventário, não impede a instituição e cobrança de multa, pelos Estados, em face do
retardamento em seu início.

d) A partilha faz cessar o caráter imóvel e indivisível da herança, obrigando os coerdeiros a


indenizarem uns aos outros por eventuais vícios redibitórios nos bens aquinhoados.

e) Por envolver ordem pública, o inventário pode ser aberto pelo juízo de forma oficiosa,
constituindo exceção ao princípio da inércia da jurisdição.

COMENTÁRIO

A instrumentalização do Direito Sucessório se dá pelo inventário e pela partilha, temáticas tratadas tanto
pelo Código Civil quanto pelo Código Processual. Considerando que seu processamento envolve a atuação
da Fazenda Pública e que o Novo CPC implementou mudanças nos institutos, inclusive modificando a
redação de artigos do CC/02, o tema ganha importância, havendo grande probabilidade de cobrança
nas próximas provas de concursos.

Pelo princípio da saisine, a transmissão dos bens se opera, em relação aos herdeiros legítimos e
testamentários, desde o momento da abertura da sucessão, o que ocorre com a morte do de cujus
(CC/02, art. 1.784). Contudo, é por meio do inventário que se promove a efetiva transferência da herança.
O inventário judicial, procedido quando há testamento ou interessado incapaz, é subdividido em três
espécies: a) inventário judicial pelo rito tradicional; b) inventário judicial pelo rito do arrolamento
sumário - cabível quando todas as partes forem maiores e capazes (NCPC, art. 659) e c) inventário
judicial pelo rito do arrolamento comum, cabível quando o valor dos bens do espólio for igual ou
inferior a 1.000 (mil) salários mínimos (NCPC, art. 664). Lembrando que, quando todas as partes forem
capazes e concordes, o inventário poderá ser feito mediante escritura pública, sendo que esta somente
será lavrada pelo tabelião se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por
defensor público (NCPC, art. 610, §§1º e 2º).

Alternativa (A): incorreta. A pena de sonegados, tratada no art. 1.992 do CC/02, consiste em sanção

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ou penalidade civil aplicável aos herdeiros que, atuando, nessa condição, de forma dolosa, ou seja,
com a intenção de prejudicar, sonegarem bens da herança, não os descrevendo no inventário quando
estiverem sob o seu poder ou, com o seu conhecimento, sob o poder de outrem, omitirem bens na
colação ou, ainda, deixarem de restituí-los, tendo por consequência a perda do direito existente
sobre tais bens. Os bens sonegados, nos termos do art. 669, inciso I do CPC de 2015, ficarão sujeitos
à sobrepartilha. Se o herdeiro sonegador for o próprio inventariante, será também penalizado com a
remoção da inventariança.

O inventariante é o auxiliar do juízo que, agindo por mandado legal, após a devida nomeação pelo juiz, é
incumbido de administrar a herança, desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha
(CC/02, art. 1.991). A prática dos atos descritos pelo art. 622 do Novo CPC, dentre os quais a sonegação,
ocultação e desvio de bens do espólio, tem como consequência a remoção do inventariante, que deverá
entregar imediatamente ao substituto os bens do espólio, sob pena de aplicação de multa e expedição
de mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se trate de bem móvel ou imóvel
(NCPC, art. 625). Em suma, a pena de sonegados decorre da atuação na qualidade de herdeiro, e não
de inventariante.

Alternativa (B): incorreta. A doação inter vivos de ascendente para descendente, embora permitida,
importa adiantamento do que lhes cabe por herança, nos termos do art. 544 do CC/02. Nesta senda,
o art. 2002 do mesmo diploma prevê que “os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente
comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam,
sob pena de sonegação”. Esse ato de promover o retorno ao monte das liberalidades feitas pelo autor
da herança em vida, objetivando à apuração equitativa das cotas hereditárias, de modo a igualar as
legítimas, é chamado de colação. Privilegiando o princípio da autonomia privada, o Código Civil de
2002 possibilita que o doador, via testamento ou no próprio título da liberalidade, dispense da colação
as doações, desde que, computado o seu valor ao tempo da doação, não excedam a parte disponível
da herança, não ingressando na legítima. Por outro lado, caso o doador outorgue a dispensa da colação
em relação a bens cujos valores somados excedam a parte que poderia ser disposta, a própria doação é
que será considerada inoficiosa, devendo ser reduzida. Em suma, a doação inoficiosa, considerada nula
apenas no que exceder o que o doador poderia dispor, no momento da liberalidade, será objeto de
redução, não afetando a cláusula que outorga a dispensa da colação dentro dos limites permitidos.

Alternativa (C): correta. O art. 611 do CPC de 2015 determina a instauração do processo de inventário
e de partilha dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze)
meses subsequentes. Esses prazos podem ser prorrogados pelo juízo, de ofício ou a requerimento de
parte. Por se tratar de procedimento obrigatório, o requerimento fora do prazo não acarretará seu
indeferimento. Também, via de regra, não implicará a aplicação de nenhuma penalidade, em face da
inexistência de previsão na legislação processual ou privada. No entanto, nada impede que os Estados
da federação, mediante lei própria, estabeleçam a aplicação de penalidade pelo retardamento
do ínicio ou ultimação do inventário. Nesta senda, o C. STF, por meio da Súmula nº. 542, consolidou o

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entendimento pela constitucionalidade da multa instituída pelo Estado-membro, objetivando sancionar a


inobservância de tais prazos.

Alternativa (D): incorreta. A partilha faz cessar o caráter imóvel e indivisível da herança, na medida
em que, como efeito de seu julgamento, circunscreve o direito de cada um dos herdeiros aos bens
de seu quinhão (CC/02, art. 2.023). Em caso de evicção dos bens aquinhoados, o art. 2.024 do CC/02
determina que os coerdeiros serão reciprocamente obrigados a indenizar-se. Vale reforçar que a evicção
se caracteriza pela perda de uma coisa, determinada por ato administrativo ou decisão judicial que, em
razão de ato anterior, a atribui a um terceiro. Havendo evicção, o evicto será indenizado pelos coerdeiros
na proporção de suas cotas hereditárias, a menos que algum deles se ache insolvente. Nessa hipótese,
os demais responderão na mesma proporção pela sua parte, menos a cota que corresponderia ao
indenizado. A obrigação pela evicção pode ser elidida em três hipóteses, quais sejam: a) se houver
convenção em contrário; b) se a evicção se der por culpa do próprio evicto; c) se a evicção se der por
fato posterior à partilha. Vale esclarecer que o Código Civil somente deduz garantia, em relação
à partilha, contra a evicção, não abrangendo os demais vícios redibitórios. Isso porque os vícios
redibitórios, assim como a evicção, são institutos relacionados aos contratos, não se aplicando ao Direito
Sucessório, a menos que haja previsão legal expressa nesse sentido.

Alternativa (E): incorreta. A previsão do art. 989 do CPC de 1973, no sentido de que o juízo poderia,
de forma oficiosa, determinar o início do inventário, se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos
antecedentes o requeresse no prazo legal, não foi reproduzida no Novo CPC. Tal se deu porque o
inventário envolve interesses substancialmente patrimoniais, e não a ordem pública, devendo, por isso,
seguir o princípio da inércia da jurisdição. Assim, o inventário somente terá início mediante requerimento,
o qual incumbe a quem estiver na posse e na administração do espólio (NCPC, art. 615), possuindo
legitimidade concorrente, nos moldes do art. 616 do mesmo diploma: o cônjuge ou companheiro
supérstite; o herdeiro; o legatário; o testamenteiro; o cessionário do herdeiro ou do legatário; o credor
do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; o administrador judicial da falência do herdeiro, do
legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite; o Ministério Público, havendo
herdeiros incapazes e, finalmente, a Fazenda Pública, quando tiver interesse.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

5. Considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a doutrina majoritária e os dispositivos


do Código Civil de 2002, assinale a alternativa correta, no que diz respeito à responsabilidade
civil:

a) Apesar da impossibilidade do juízo cível de discutir sobre os fatos e sua autoria quando
houver sentença penal condenatória transitada em julgado reconhecendo a prática
de homicídio culposo, nada obsta que, examinando as circunstâncias que envolvem as
condutas do autor e da vítima, conclua pela concorrência de culpas em relação ao evento

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danoso, afastando o dever de indenizar.

b) O arbitramento da indenização deverá ter como parâmetro preponderante o patrimônio


do ofendido, de modo a evitar o enriquecimento ilícito da parte contrária.

c) A indenização, na forma de pensionamento mensal, atribuída a soldado vítima de


acidente, em decorrência de debilidade permanente em seu membro inferior, por não
impedir o exercício de outras atividades de cunho administrativo ou outras ocupações, não
poderá corresponder a 100% do valor que recebia antes do infortúnio.

d) Na fixação do valor da reparação de danos morais sofridos por parentes de vítimas


mortas em um mesmo evento, deve ser estipulada, de forma global, a mesma quantia
reparatória para cada grupo familiar, em virtude da impossibilidade de se medir o grau de
abalo psíquico de cada parente de forma individualizada.

e) O Marco Civil da internet adotou a responsabilidade subjetiva agravada dos provedores


de conexão à internet, em relação ao conteúdo gerado por terceiros.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. O art. 935 do Código Civil de 2002, ao prever que a responsabilidade civil
é independente da criminal, estabeleceu, como regra, o princípio da independência das instâncias.
No entanto, essa independência não é absoluta, havendo algumas hipóteses em que o julgamento
criminal irá influenciar na decisão cível. Nesta senda, um dos efeitos da condenação, na esfera penal,
é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (CP, art. 91, inciso I). Assim,
o juízo cível não poderá dizer que o fato não existiu ou que o condenado não foi o seu autor, se a
autoria e materialidade houverem sido reconhecidas em sentença condenatória transitada em julgado
na esfera criminal. Tratando sobre a matéria, o Enunciado nº 45 da I Jornada de Direito Civil concluiu
que, “no caso do art. 935, não mais se poderá questionar sobre a existência do fato ou quem seja o seu
autor se estas questões se acharem categoricamente decididas no juízo criminal”. A impossibilidade de
discussão sobre os fatos e a sua autoria, contudo, não impede que o juízo cível, após o exame dos
autos e das circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima, conclua pela existência
de concorrência de culpas em relação ao evento danoso. O que o juízo cível não poderá fazer é,
com base na culpa concorrente, afastar o dever de indenizar. Isso porque, além de o art. 63 do CPP
prever que a sentença condenatória transitada em julgado poderá ser executada, no juízo cível, para o
efeito da reparação do dano, a concorrência de culpas não se inclui nas hipóteses de excludente da
responsabilidade, apenas servindo como fator de mitigação do valor da indenização. O art. 945
do Código Civil corrobora com essa premissa, ao prever que: “se a vítima tiver concorrido culposamente
para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em
confronto com a do autor do dano.”. Nesse sentido, o STJ concluiu, no julgamento do REsp 1.354.346-

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PR (4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 17/9/2015 - divulgado no Info 572), que, diante de
sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível,
ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na concorrência
de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência de culpa concorrente
da vítima para fixar o valor da indenização.

Alternativa (B): incorreta. Ao fixar indenização por danos extrapatrimoniais, o magistrado deverá
agir com equidade, levando em consideração, além da extensão do dano (CC/02, art. 944, caput), as
condições socioeconômicas e culturais dos envolvidos, as condições psicológicas das partes, o grau de
culpa do agente, do terceiro ou da vítima, as repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima,
a vedação ao enriquecimento sem causa da parte contrária, etc. Daí a conclusão de que a quantificação
da reparação por danos extrapatrimoniais não deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos. Do
mesmo modo, o patrimônio do ofendido não pode funcionar como parâmetro preponderante
para o arbitramento de compensação por danos extrapatrimoniais, o que conduziria à discriminação
contra os desprovidos de patrimônio, sob o argumento de que a elevação da indenização poderia gerar
um enriquecimento sem razão do ofendido. Foi o que se concluiu na VII Jornada de Direito Civil (2015),
conforme Enunciado nº. 588.

Alternativa (C): incorreta. O art. 950 do CC/02 estabelece que, na hipótese de haver lesão ou outra
ofensa à saúde resultando defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se
lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes
até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que
se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. O STJ entende que o fato de se poder presumir que a
vítima ainda tenha capacidade laborativa para outras atividades, diversas daquela exercida no momento
do acidente, não exclui, por si só, o pensionamento civil de que trata o art. 950 do CC/02, devendo ser
observado o princípio da reparação integral do dano. Em virtude do princípio, o pensionamento poderá,
inclusive, corresponder a 100% do valor que a vítima percebia antes do infortúnio. Nesse sentido, ao
julgar o REsp 1.344.962-DF, (Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. em 25/8/2015 - divulgado no Info
568), a 3ª Turma da Corte condenou determinada empresa ao pagamento de pensionamento mensal
correspondente a 100% do Soldo que recebia, em virtude de atropelamento de soldado do Exército
Brasileiro que causou debilidade permanente em 50% do seu membro inferior, pelo encurtamento de
sua perna, embora tal circunstância não excluísse, a priori, a possibilidade de a vítima exercer atividades
diversas daquela exercida antes do acidente.

Alternativa (D): incorreta. O art. 948 do CC/02 estabelece que a indenização, em caso de homicídio,
consistirá, sem excluir outras reparações, no pagamento de despesas com o tratamento da vítima,
seu funeral e o luto da família (danos emergentes ou positivos) e na prestação de alimentos às pessoas
a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima (lucros cessantes
ou danos negativos). Dentro do conceito de “outras reparações” constante do artigo, estão situados
os danos extrapatrimoniais sofridos pelos familiares da pessoa morta, chamados pelo Min. Paulo

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de Tarso Sanseverino de “prejuízo de afeição” (préjudice d’affection). A reparabilidade do dano moral


possui função meramente satisfatória, que objetiva a suavização de um pesar, insuscetível de restituição
ao status quo ante. Em outras palavras, busca-se, com a indenização, um paliativo para o sofrimento
psíquico ensejado pelo evento danoso, sendo esse o ponto nuclear do conceito de dano moral stricto
sensu.

Embora a dor seja incomensurável, o sistema de responsabilidade civil rechaça indenizações ilimitadas,
que alcançam valores exorbitantes e incompatíveis com os resultados ordinariamente esperados da
conduta do agente causador do dano. Diante disso, o STJ concluiu que, em caso de dano moral
decorrente de morte de parentes próximos, a indenização deve ser arbitrada de forma global para
a família da vítima, não devendo, em regra, ultrapassar o equivalente a quinhentos salários-mínimos.
Esse valor, contudo, poderá ser elevado até o dobro, de modo a evitar que os quinhões individualmente
considerados sejam diluídos ou se tornem irrisórios. Observação: a regra é excepcionada na hipótese
em que, havendo mais de uma vítima morta em um mesmo evento, uma delas tiver mais parentes que
a outra. Isso porque a estipulação da mesma quantia reparatória para cada grupo familiar, nesse caso,
acaba por representar uma diferença de tratamento injustificada a lesados que se encontram em uma
mesma situação de abalo psíquico. Assim, diante de tal circunstância, o juízo deverá considerar a situação
individual de cada parente de cada vítima do dano morte.

Nesta senda, o STJ decidiu que:

“na fixação do valor da reparação pelos danos morais sofridos por parentes de vítimas
mortas em um mesmo evento, não deve ser estipulada de forma global a mesma
quantia reparatória para cada grupo familiar se, diante do fato de uma vítima ter mais
parentes que outra, for conferido tratamento desigual a lesados que se encontrem em
idêntica situação de abalo psíquico, devendo, nessa situação, ser adotada metodologia
de arbitramento que leve em consideração a situação individual de cada parente de
cada vítima do dano morte. A fixação de valor reparatório global por núcleo familiar, justificar-
se-ia apenas se a todos os lesados que se encontrem em idêntica situação fosse conferido igual
tratamento” (STJ, Corte Especial. EREsp 1.127.913-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j.
em 4/6/2014 - divulgado no Info 544).

Alternativa (E): correta. O parágrafo único do art. 927 do CC/02 estabelece que haverá obrigação de
reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem. O STJ tem afastado a incidência desse dispositivo no que diz respeito aos ambientes virtuais,
entendendo que o dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo inseridas no site pelo
usuário não constitui risco inerente à atividade dos provedores de conteúdo, havendo necessidade de
comprovação da culpa. A Lei nº. 12.965, de 2014, que instituiu o Marco Civil da internet, vale dizer,
incorporou esse entendimento, passando a prever, em seu art. 18, que o provedor de conexão à internet
não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Ainda

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nos termos do diploma (art. 19), a responsabilização, nessas hipóteses, somente será possível se, após
ordem judicial específica, o provedor de aplicações de internet não tomar as providências para,
no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível
o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. Parte da
doutrina entende que, com essas previsões, a Lei adotou a responsabilidade subjetiva agravada, na
medida em que somente será caracterizada em caso de desobediência à ordem judicial.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

6. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com o Código


Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta sobre condomínio, direito de vizinhança e
temas correlatos:

a) Conforme tem decidido o STJ, afronta o direito de propriedade e sua função social
a decisão da assembleia geral de condôminos que determina a suspensão de serviços
essenciais em decorrência da inadimplência de taxa condominial, já que o débito deve
ser cobrado pelos meios legais, assim como, em ação de cobrança de cotas condominiais
proposta somente contra o promissário comprador, não é possível a penhora do imóvel
que gerou a dívida - de propriedade do promissário vendedor -, admitindo-se, no entanto,
a constrição dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda.

b) Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, inclusive para defender
a sua posse e a de todos, sem necessidade de outorga dos demais condôminos, ao passo
que as dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e durante
ela, obrigam o contratante que age sem consultar os demais, porém, aquele tem direito
a ressarcimento mediante simples compensação com os benefícios auferidos pelos
condôminos. Ademais, a cláusula convencional que restringe a permanência de animais em
unidades autônomas residenciais deve ser valorada à luz dos parâmetros legais de sossego,
insalubridade e periculosidade.

c) A divisão de condomínio tem procedimento e regras próprias previstas no Código Civil


que servem até para outras partilhas, como a de herança. Nesse contexto, é correto afirmar
que a destinação da coisa comum não pode ser alterada por qualquer dos condôminos,
ainda que comunique aos demais este ato, porém, a todo tempo será lícito ao condômino
exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas
despesas da divisão, desde que não haja acordo estipulando a indivisibilidade por prazo
não maior do que cinco anos, via de regra.

d) Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só,


indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em

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condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos o de quinhão


maior, mesmo que outro tenha realizado benfeitorias mais valiosas, sem embargo de que
não é admitida a renúncia da parte ideal pelo condômino, ainda que para se eximir do
pagamento das despesas e dívidas.

e) É correto afirmar que a doutrina aponta que não deve ser reconhecida personalidade
jurídica ao condomínio edilício, mas apenas personalidade judiciária, bem como afirma
ser possível a utilização exclusiva de área “comum” que, pelas próprias características
da edificação, não se preste ao “uso comum” dos demais condôminos. Por outro lado,
a convenção de condomínio ou a assembleia-geral podem vedar a locação de área de
garagem ou abrigo para veículos a estranhos ao condomínio e, ainda, fixar qualquer
quórum para alteração do Regimento Interno.

COMENTÁRIO

Cobramos nesta questão uma variação de jurisprudência recente do STJ, legislação (Código Civil) e
entendimentos doutrinários (Enunciados das Jornadas de Direito Civil), sobre temas que podem vir a
ser cobrados em provas objetivas das principais bancas, constituindo-se em matéria de obrigatório
conhecimento pelos candidatos. Novamente, recomenda-se atenta leitura dos Informativos de
jurisprudência do STJ, Enunciados das Jornadas de Direito Civil e dos dispositivos legais pertinentes.

Antes de comentar especificamente cada questão, insta fazer breve introdução sobre o instituto do
condomínio, cujo conceito, basicamente, envolve a acepção de relações jurídicas nas quais mais de uma
pessoa tem o exercício da propriedade sobre determinado bem.

Conforme detalha Flávio Tartuce (in Manual de Direito Civil, Volume único, 2015, Ed. Método), “Serve como
suporte didático o conceito de Limongi França, segundo o qual o condomínio “é a espécie de propriedade
em que dois ou mais sujeitos são titulares, em comum, de uma coisa indivisa (pro indiviso), atribuindo-se
a cada condômino uma parte ou fração ideal da mesma coisa. Na situação condominial vários são os
sujeitos ativos em relação ao direito de propriedade que é único, o que justifica a utilização dos
termos copropriedade e compropriedade. Didaticamente, pode-se dizer que no condomínio duas ou mais
pessoas têm os atributos da propriedade (GRUD) ao mesmo tempo”.

Sobre a classificação, o referido Autor expõe um quadro que bem sintetiza as principais nomenclaturas e
espécies, levando-se em conta três diferentes critérios:

I) Quanto à origem: a) Condomínio voluntário ou convencional – decorre do acordo


de vontade dos condôminos, nasce de um negócio jurídico bilateral ou plurilateral,
como exercício da autonomia privada. Ex.: Alguns amigos compram um imóvel para
investimentos em comum. No silêncio do instrumento de sua instituição, presume-se
que a propriedade estará dividida em partes iguais (concursu partes fiunt). Destaque-
se que o condomínio edilício, via de regra, tem essa origem, mas com estudo e tratamento

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em separado. b) Condomínio incidente ou eventual – origina-se de motivos estranhos


à vontade dos condôminos. Ex.: Duas pessoas recebem determinado bem como
herança. c) Condomínio necessário ou forçado – decorre de determinação de lei, como
consequência inevitável do estado de indivisão da coisa. Nasce dos direitos de vizinhança
tal como na hipótese de paredes, muros, cercas e valas (art. 1.327 do CC).

II) Quanto ao objeto ou conteúdo: a) Condomínio universal – compreende a totalidade


do bem, inclusive os seus acessórios, caso de frutos e benfeitorias. Em regra, o
condomínio tem essa natureza. b)Condomínio particular – compreende determinadas
coisas ou efeitos, o que geralmente é delimitado no ato de instituição.

III) Quanto à forma ou divisão: a) Condomínio pro diviso – aquele em que é possível
determinar, no plano corpóreo e fático, qual o direito de propriedade de cada
comunheiro. Há, portanto, uma fração real atribuível a cada condomínio. Ex.: parte
autônoma em um condomínio edilício. b) Condomínio pro indiviso – não é possível
determinar de modo corpóreo qual o direito de cada um dos condôminos que têm
uma fração ideal. Ex.: parte comum no condomínio edilício.

Por fim, sobre a natureza jurídica das relações condominiais, Flávio Tartuce destaca que o Direito
Brasileiro adotou a teoria da propriedade integral ou total. Desse modo, há no condomínio uma
propriedade “sobre toda a coisa, delimitada naturalmente pelos iguais direitos dos demais consortes; entre
todos se distribui a utilidade econômica da coisa; o direito de cada condômino, em face de terceiros,
abrange a totalidade dos poderes imanentes ao direito de propriedade; mas, entre os próprios condôminos,
o direito de cada um é autolimitado pelo de outro, na medida de suas quotas, para que possível se torne
sua coexistência”.

Após essa introdução no tema, vamos às alternativas.

Alternativa (A): correta. A assertiva está em consonância com a jurisprudência do STJ, que, sobre a
primeira parte do enunciado, repudia a postura de restrição a uso de bens comuns do condomínio
quando desrespeitados os meios próprios de cobrança das despesas condominiais, expressamente
previstos em lei, de modo a limitar a autonomia privada no estabelecimento das sanções impostas pela
assembleia geral, que deve ser exercida nos limites do direito fundamental à moradia, do direito de
propriedade e sua função social e outros, todos enfeixados no princípio-mor da dignidade da pessoa
humana.

Nesse sentido, o julgado REsp nº. 1.401.815–ES assim decidiu sobre o tema:

“O inadimplemento de taxas condominiais não autoriza a suspensão, por determinação da


assembleia geral de condôminos, quanto ao uso de serviços essenciais, em clara afronta ao
direito de propriedade e sua função social e à dignidade da pessoa humana, em detrimento
da utilização de meios expressamente previstos em lei para a cobrança da dívida condominial”

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(STJ, REsp nº. 1.401.815 – ES, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
03/12/2013).

O caso concreto chama a atenção especialmente porque versava sobre proibição do uso do elevador
do condomínio, em função do inadimplemento das taxas condominiais, de sorte que o STJ considerou
que “Não sendo o elevador um mero conforto em se tratando de edifício de diversos pavimentos, com
apenas um apartamento por andar, localizando-se o apartamento da recorrente no oitavo pavimento, o
equipamento passa a ter status de essencial à própria utilização da propriedade exclusiva”.

Vale ressaltar, ainda, que a Corte Superior considerou que:

“[...] o corte do serviço dos elevadores gerou dano moral, tanto do ponto de vista subjetivo,
analisando as peculiaridades da situação concreta, em que a condição de inadimplente restou
ostensivamente exposta, como haveria, também, tal dano in re ipsa, pela mera violação de um
direito da personalidade”. Vale a pena conferir o inteiro teor do julgado.

No tocante à segunda parte do enunciado, o seguinte julgado do STJ bem detalha a matéria:

“[...] Cinge-se a controvérsia a saber se, não tendo o proprietário do bem figurado na ação de
cobrança de cotas condominiais, mas tão somente o promissário comprador, é possível, em
execução, a penhora do próprio imóvel que gerou a dívida ou apenas a constrição sobre os
direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda. 2. Ajuizada a ação contra
o promissário comprador, este responde com todo o seu patrimônio pessoal, o qual não
inclui o imóvel que deu origem ao débito condominial, haja vista integrar o patrimônio
do promitente vendedor, titular do direito de propriedade, cabendo tão somente a
penhora do direito à aquisição da propriedade. 3. A penhora do unidade condominial
em execução não pode ser autorizada em prejuízo de quem não tenha sido parte na
ação de cobrança na qual se formou o título executivo. Necessária a vinculação entre
o polo passivo da ação de conhecimento e o polo passivo da ação de execução. 4. Pelo
princípio da continuidade registrária (arts. 195 e 237 da Lei nº 6.216/1975), a transferência de
direito sobre o imóvel depende de que este preexista no patrimônio do transferente, o que, no
caso, torna inviável a penhora do próprio imóvel em virtude da ausência de título anterior em
nome dos executados.” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 3/11/2015, divulgado no Informativo n. 573).

Alternativa (B): incorreta. O erro da assertiva é que as dívidas contraídas por um dos condôminos
em proveito da comunhão, e durante ela, obrigam o contratante, mas terá este ação regressiva
contra os demais. Não é caso de simples compensação com o proveito gerado aos demais condôminos.
Cobrou-se, aqui, o conhecimento do CC/2002, em seus arts. 1.314 e 1.318:

Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer
todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua

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posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.

Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar
posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.

[...] Art. 1.318. As dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e
durante ela, obrigam o contratante; mas terá este ação regressiva contra os demais.

Além disso, a parte final da assertiva está correta, tratando-se do enunciado 566 da VI Jornada de Direito
Civil:

“A cláusula convencional que restringe a permanência de animais em unidades


autônomas residenciais deve ser valorada à luz dos parâmetros legais de sossego,
insalubridade e periculosidade”.

Flávio Tartuce, em seu sítio eletrônico, comenta de forma breve esse enunciado:

“A proibição prevista na convenção de condomínio à presença de animais em unidades


autônomas residenciais deve ser analisada de acordo com os níveis de sossego, saúde e
segurança do condomínio, bem como com as especificidades do caso concreto, como por
exemplo, a utilização terapêutica de animais de maior porte. Evita-se, assim, a vedação abusiva
na convenção”.

Alternativa (C): incorreta. A primeira parte da assertiva está equivocada, já que é o contrário que
ocorre: as regras procedimentais da partilha de herança é que se aplicam à divisão do condomínio,
sem que exista norma que preveja a co-respectiva incidência.

No mais, corretas as demais afirmações, uma vez que a mudança de destinação da coisa comum exige
consenso e não mera comunicação aos demais condôminos, bem como é lícito ao condômino exigir a
divisão da coisa comum a qualquer tempo, estando igualmente correta a ressalva do prazo de indivisão,
que é de 5 anos. Todos os temas tratados encontram-se no CC/2002, conforme seguintes artigos que
abaixo transcrevemos:

Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer
todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e
alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.

Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum,
nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.

[...] Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum,
respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.

§1° Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não
maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.

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§2° Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador.

§3° A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o aconselharem, pode o juiz


determinar a divisão da coisa comum antes do prazo.

Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as regras de partilha de


herança (arts. 2.013 a 2.022).

Alternativa (D): incorreta. Nessa assertiva também se exigiu o conhecimento do CC/2002, tratando-se
de matéria estritamente objetiva.

Observe que os erros da assertiva são dois: primeiramente, a preferência na venda da coisa indivisa
será deferida ao condômino que tenha efetuado benfeitorias de maior valor e não ao de maior
quinhão na coisa; em segundo lugar, pode o condômino renunciar à sua parte ideal, exatamente
com o objetivo de eximir-se do pagamento das despesas e dívidas. Segundo Flávio Tartuce (in
op. já citada), esta última possibilidade é uma inovação introduzida pelo CC/2002. Observemos os
dispositivos legais pertinentes:

Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas
de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita.

Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.

art. 1.316, CC: Pode o condômino eximir-se do pagamento das despesas e dívidas, renunciando
à parte ideal.

§1° Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a renúncia lhes aproveita,


adquirindo a parte ideal de quem renunciou, na proporção dos pagamentos que fizerem.

art. 1.320, CC: A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum,
respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão. §1° Podem os
condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior de cinco anos,
suscetível de prorrogação ulterior. §2° Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida
pelo doador ou pelo testador. §3° A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o
aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da coisa comum antes do prazo.

art. 1.322, CC: Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um
só, indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em
condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver
na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior.

Alternativa (E): incorreta. A assertiva está incorreta, uma vez que contraria o disposto no enunciado n. 90
das Jornadas de Direito Civil: “Art. 1.331: Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio
edilício”. Os demais trechos estão corretos, conforme seguintes Enunciados das Jornadas:

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91 – Art. 1.331: A convenção de condomínio ou a assembléia-geral podem vedar a locação de


área de garagem ou abrigo para veículos a estranhos ao condomínio.

[...] 247 - Art. 1.331: No condomínio edilício é possível a utilização exclusiva de área
“comum” que, pelas próprias características da edificação, não se preste ao “uso
comum” dos demais condôminos.

248 - Art.: 1.334, V: O quórum para alteração do regimento interno do condomínio edilício
pode ser livremente fixado na convenção.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

7. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores, bem como de acordo


com o que prescreve o Código Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta sobre a
classificação de contratos e temas correlatos:

a) Os caracteres jurídicos presentes no mandato em causa própria: possui natureza jurídica


de negócio jurídico translativo de direitos; responsabilidade do mandatário pela evicção;
revogabilidade e prestação de contas; os herdeiros do mandatário, caso este faleça,
subrogam-se no crédito;

b) A ratificação de atos praticados por quem não tenha o mandato, ou o tenha sem poderes
suficientes, deverá ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e produzirá efeitos a partir
da data da ratificação. Ademais, o mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu
causa com os proveitos que, por outro lado, tenha obtido com esforço ao seu constituinte,
porém, tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe
for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso de
despesas.

c) Sobre a descoberta, aquele que restituir coisa achada terá direito a uma recompensa
não inferior a cinco por cento do seu valor e à indenização pelas despesas que houver
feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la; porém,
o descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo,
quando tiver procedido com dolo ou culpa graves. Ademais, a autoridade competente
dará conhecimento da descoberta, via de regra, através da imprensa e editais, podendo o
bem ir à hasta pública, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa,
oportunidade em que eventual remanescente (após dedução de despesas e recompensa)
pertencerá ao Estado em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.

d) Segundo entendimento doutrinário, a a noção de enriquecimento à custa de outrem


do art. 886 do CC/2002 (“Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao

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lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido”) não significa, necessariamente,
que deverá haver empobrecimento, bem como o comando normativo encartado no referido
artigo não exclui o direito à restituição do que foi objeto de enriquecimento sem causa nos
casos em que os meios alternativos conferidos ao lesado encontram obstáculos de fato.
Por fim, de acordo com o CC/2002, a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem
causa prescreve em 4 anos.

e) No que se refere ao contrato estimatório do Direito Civil, trata-se de inovação legislativa


a nível da codificação civilista, e pode ter por objeto bem fungível, cuja restituição, se for
o caso, será por coisa de igual gênero, qualidade e quantidade. Após a entrega da coisa,
a posse é exercida em nome do consignatário, em virtude da transferência do poder de
dispor da coisa, de modo que suporta os riscos da perda ou deterioração da coisa. Por fim,
o preço de estima é ajustado entre as partes ou fixado unilateralmente pelo consignante,
observada a vedação do art. 122 do CC/2002, e, se não alcançado em determinado lapso
temporal, emerge o dever de restituir a coisa, não exigindo o contrato a forma escrita.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. O contrato consigo mesmo (autocontrato) ocorre quando alguém figura em
um contrato de um lado como parte interessada do negócio e de outro lado representando outra pessoa.
Ou seja, a mesma pessoa emite duas vontades: como representante e ao mesmo tempo sendo a outra
parte no negócio jurídico.

O autocontrato também pode ocorrer de forma indireta. Nesse caso o representante atua declarando duas
vontades, porém por meio de uma interposta pessoa que lhe foi substabelecida. Ou seja, o representante
transfere a outrem os poderes que lhe foram outorgados pelo representado, com o objetivo de celebrar
contrato consigo mesmo.

Em princípio essas situações não podem ocorrer, salvo se houver autorização da lei ou do representado.
Como a regra geral é a não admissibilidade, para efeitos de anulabilidade há a presunção relativa
(juris tantum) de que quem celebra o negócio consigo mesmo o faz em conflito de interesses entre o
representante e o representado.

Quando temos essa cláusula no contrato, “em causa própria”, no latim “in rem propriam ou in rem suam”,
dizemos que é do interesse do mandatário. Assim, diz que, o mandatário no caso, aquele que como
sabemos recebeu poderes, pode então agir em seu próprio interesse, e dessa forma não precisa prestar
contas dos atos que ele exerceu.

Ademais, a procuração em causa própria, em princípio, consubstancia, além do mandato, o contrato


pelo qual se convenciona o negócio ou a operação, que vão ser tratados ou executados como próprios
pelo mandante. Nessas circunstâncias, no instrumento em que se materializa o mandato, propriamente,
devem ser atendidas todas as exigências legais acerca do negócio ou da convenção que ali se firma.

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Segundo Plácido e Silva (in “Tratado do Mandato e prática das procurações”, Vol. I, Forense, 4ª, Edição),
em se tratando de cláusula com mandato em causa própria para transferência de domínio, deve esta
ser formulada em teor semelhante à escritura de venda: conter a descrição do imóvel a ser vendido,
mencionando ou fazendo referência ao título de aquisição anterior, inclusive o número de registro
imobiliário (transcrição), fixar o preço da venda e declarar havê-lo recebido, dando, assim a quitação ao
comprador (mandatário) e se comprometendo, afinal, em fazer valiosa a mesma venda e responder por
evicção.

Atendidos os requisitos relativos à venda ou cessão, na parte especialmente procuratória, dará poderes
irrevogáveis e em causa própria para praticar todos os atos indispensáveis à perfeição jurídica e definitiva
conclusão do contrato, que serve de objeto do mandato. Não há dúvida de que essa cláusula inverte a
natureza do mandato e o transforma em cessão de venda. Por força disso é que o mandante também
responde pela evicção.

O erro da assertiva, na verdade, é que o mandato em causa própria é irrevogável, em função da sua
natureza jurídica e da finalidade a que se pressupõe, conforme detalhado, orientação essa incorporada,
inclusive, a nível, conforme consta do art. 685 do CC/2002, que dá os contornos gerais do instituto no
Codex Civilista:

“Conferido o mandato com a cláusula “em causa própria”, a sua revogação não terá eficácia,
nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de
prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato,
obedecidas as formalidades legais”.

Alternativa (B): incorreta. A assertiva cobrou o conhecimento combinado de diversos dispositivos do


Código Civil de 2002. Na primeira parte, exigiu-se o conhecimento do art. 662 e respectivo parágrafo
único: ”Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes
em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Parágrafo único. A ratificação
há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato”. Observe que a ratificação
retroagirá, por expresso efeito legal, de sorte que está errado afirmar que os seus efeitos serão produzidos
somente a partir de quando efetivada.

Em relação à segunda parte da assertiva, foi cobrado o conhecimento do disposto no art. 669 do CC/2002:

“O mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos que, por
outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte”.

Ressalte-se, por fim, que a vedação à compensação não se confunde com o direito à retenção da
contraprestação devida ao mandatário, o que é autorizado pelo CC/2002. Confiram a redação dos arts.
664 e 681:

“Art. 664. O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida,
quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em conseqüência do mandato.

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[...] Art. 681. O mandatário tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato,
direito de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu”.

Observem, em face disso, que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi
cometida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o
reembolso de despesas.

Alternativa (C): incorreta. Nessa assertiva, objetivamos cobrar o conhecimento do CC/2002,


particularmente do instituto da descoberta, tema que eventualmente é cobrado em questões objetivas
e, por não ser tão recorrente, traz dificuldades aos candidatos. Optamos por inserir algumas nuances e
detalhes típicos de provas objetivas, que levam o candidato a erro.

São três os equívocos da assertiva: não há exigência de dolo e/ou culpa graves do descobridor
para impor o dever de indenizar pelos prejuízos a que der causa, mas somente dolo (art. 1.235
do CC/2002); a divulgação da descoberta, pela autoridade competente, ocorrerá, via de regra,
através da imprensa e outros meios de informação, ao passo que a expedição de editais ocorrerá
somente quando o valor da descoberta os comportar (art. 1.236) – ou seja, a expedição de edital é
exceção como via de comunicação da descoberta; por último, o remanescente caberá ao Município
da circunscrição em que se deparou o objeto perdido e não ao Estado (art. 1.237). Confiram os
referidos dispositivos legais, na íntegra:

Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a
uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas
que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.

Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço


desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades
que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.

Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor


legítimo, quando tiver procedido com dolo.

Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e


outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar.

Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não
se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta
pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o
remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.

Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de
quem a achou.

Alternativa (D): incorreta. A primeira parte da assertiva está correta, tratando-se de combinação dos

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enunciados 35 e 36 das Jornadas de Direito Civil. Confiram o teor:

35 – Art. 884: A expressão “se enriquecer à custa de outrem” do art. 886 do novo Código

Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento.

36 – Art. 886: O art. 886 do novo Código Civil não exclui o direito à restituição do que foi objeto
de enriquecimento sem causa nos casos em que os meios alternativos conferidos ao lesado
encontram obstáculos de fato.

Segundo Flávio Tartuce (in op. já citada), são pressupostos da ação que visa a afastar o enriquecimento
sem causa, pela doutrina clássica: “[...] o enriquecimento do accipiens (de quem recebe); o empobrecimento
do solvens (de quem paga); a relação de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento; a
inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes ou pela lei; e a inexistência de ação
específica”.

Ocorre que, segundo o mesmo Autor, a doutrina atual relativiza a necessidade de que haja empobrecimento
da outra parte, prevalecendo o entendimento que foi consagrado no enunciado n. 35 das Jornadas de
Direito Civil, já acima reproduzido.

Por outro lado, o erro da assertiva é quanto ao prazo prescricional da ação de enriquecimento
indevido, que é de três anos – e não de quatro, conforme disposto no Art. 206, § 3º, IV do CC/2002:

“Art. 206 Prescreve: [...] § 3º. Em três anos: [...] IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento
sem causa.

Por último, reproduzimos os principais artigos sobre o tema:

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir
o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é
obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na
época em que foi exigido.

Art. 885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o
enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.

Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios
para se ressarcir do prejuízo sofrido.

Alternativa (E): correta. Segundo o Professor Flávio Tartuce, o CC/2002 passou a tratar da figura do
contrato estimatório como “[...] novidade festejada, diante da grande aplicação prática do instituto. O
contrato estimatório ou venda em consignação pode ser conceituado como sendo o contrato em que
alguém, o consignante, transfere ao consignatário bens móveis, para que o último os venda, pagando um
preço de estima; ou devolva os bens findo o contrato, dentro do prazo ajustado (art. 534 do CC)”.

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Sobre a forma do contrato, o mesmo autor afirma que “Não há solenidade prevista em lei para o contrato
estimatório, sendo o contrato informal e não solene, não havendo sequer a necessidade de ser adotada a
forma escrita”.

Sobre o objeto do contrato, há uma divergência doutrinária, pois parcela relevante da doutrina aponta
que é possível contrato estimatório de bens móveis, fungíveis ou infungíveis. Outros alegam que se o
bem for fungível, descaracterizado está o contrato. Isso por que a restituição de outra coisa (de mesmo
gênero, quantidade e qualidade) não é restituição, em essência; seria, em verdade, dação ou pagamento.
Assim, não seria um contrato estimatório “propriamente dito”.

Todavia, nesse caso a entrega dessas coisas ao consignatário opera a transmissão da propriedade,
restando ao consignante, que deixa a qualidade de proprietário, apenas um crédito, pois outras coisas
poderão ser restituídas ao final do prazo previsto no contrato. Cuida-se de uma espécie imprópria de
contrato estimatório.

No tocante aos riscos, estes são do consignatário, como demonstra o art. 535, in verbis:

“O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em


sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável”.

Da mesma forma, o contrato estimatório não implica na entrega plena da propriedade, do consignante
ao consignatário. Tão somente a posse direta é entregue. Com a alienação, e o pagamento do preço, fica
claro que não houve transferência da propriedade. Sem a alienação, a restituição da coisa demonstra
apenas a posse mediata. Apenas um dos poderes da propriedade é transferido: a disposição,
conforme doutrina de Carlos Roberto Gonçalves (in Direito Civil Brasileiro, Vol. III. 6 ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 252).

A posse é própria, pois, faticamente, o consignatário recebe o poder de dispor livremente (a quem quiser,
do modo que preferir, pelo preço que ajustar). Segundo Flávio Tartuce:

“De acordo com o art. 536 do CC, “A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou
sequestro pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço”. Isso
porque o proprietário da coisa é o consignante, tendo o consignatário apenas a sua
posse direta. Entretanto, a propriedade do consignante é resolúvel, sendo extinta se a
outra parte pagar o preço de estima. Eventualmente, se a coisa consignada foi apreendida ou
sequestrada, poderá o consignante opor embargos de terceiro em eventual ação de execução
promovida contra o consignatário”.

Por sua vez, o art. 537 do CC/2002 enuncia que o consignante não pode dispor da coisa antes de lhe
ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição. O dispositivo limita o direito de propriedade do
consignante, sendo o bem inalienável em relação a ele, na vigência do contrato estimatório. A propriedade,
portanto, além de ser resolúvel, é limitada.

Por fim, o preço de estima é ajustado entre as partes, segundo depreende-se do artigo 534 do CC/2002,

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razão pela qual, via de regra, não é unilateralmente fixado. Mesmo que fosse unilateralmente imposto, é
de se observar que seria o consignante a fixa-lo e obedecido o limite do art. 122, do CC/2002, que versa
a vedação de cláusulas puramente potestativas.

Transcrevemos os artigos do CC/2002 sobre o tema:

Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que
fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo
estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada.

Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da


coisa, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável.

Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do
consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.

Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser
comunicada a restituição.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

PROFESSOR: JOSÉ AMÉRICO


E-mail: profcei.joseamerico@gmail.com

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

8. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com a legislação


penal, assinale a alternativa incorreta sobre tipicidade no Direito Processual Penal:

a) São elementos do crime culposo: conduta humana voluntária, relacionada à ação e


não ao resultado; violação de um dever de cuidado objetivo; resultado naturalístico; nexo
causal; previsibilidade; e tipicidade.

b) No direito penal brasileiro, admite-se a compensação de culpas no caso de duas ou


mais pessoas concorrerem culposamente para a produção de um resultado naturalístico,
respondendo cada um, nesse caso, na medida de suas culpabilidades.

c) No caso de excesso culposo da legítima defesa, embora o agente somente possa resultar
punido com a pena do crime culposo, quando prevista em lei esta estrutura típica, a vontade
deste é dirigida ao resultado, de modo que age, na realidade, dolosamente, mas, por erro

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vencível ou evitável, não sabe que transpôs os limites legais da causa de justificação e
exercita defesa desnecessária.

d) No dolo eventual, une-se o assentimento à assunção do risco, a partir da posição do


agente que tem consciência de que pode ocorrer o resultado e assim mesmo age. Na culpa
consciente, assoma ao espírito do agente a possibilidade de causação do resultado, mas
confia ele que esse resultado não sucederá. A distinção é relevante, por exemplo, nos casos
de homicídio. Ademais, prevalece no Brasil o entendimento desfavorável ao cabimento da
tentativa nos crimes cometidos com dolo eventual, por não ser equiparado pelo art. 18, I,
do Código Penal, no tocante ao seu tratamento, ao dolo direto.

e) O dolo alternativo consiste na vontade e consentimento do agente a produzir um ou


outro resultado, ao passo que na culpa inconsciente o agente não prevê o resultado, que,
entretanto, era previsível. Neste caso, qualquer outra pessoa, naquelas circunstâncias,
poderia prever a ocorrência daquele resultado.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. De fato, todos os caracteres relacionados configuram elementos do crime
culposo:

a) Conduta humana voluntária: a voluntariedade está relacionada à ação, e não ao resultado.

b) Violação de um dever de cuidado objetivo: o agente atua em desacordo com o que é esperado
pela lei e pela sociedade. São formas de violação do dever de cuidado, ou mais conhecidas como
modalidades de culpa, a imprudência, a negligência e a imperícia.

c) Resultado naturalístico: não haverá crime culposo se, mesmo havendo falta de cuidado por
parte do agente, não ocorrer o resultado lesivo a um bem jurídico tutelado. Assim, em regra, todo
crime culposo é um crime material.

d) Nexo causal: o conceito de nexo causal, ou nexo etiológico ou ainda, relação de causalidade
é proveniente de leis naturais. O conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais.
É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. A relação causal,
portanto, estabelece o vínculo entre um determinado comportamento e um evento, permitindo
concluir, com base nas leis naturais, se a ação ou omissão do agente foi ou não a causa do dano.
Determina se o resultado surge como consequência natural da voluntária conduta do agente. Em
suma, o nexo causal é um elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que
poderemos concluir quem foi o causador do dano.

e) Previsibilidade: é a possibilidade de conhecer o perigo. Na culpa consciente, mais do que a


previsibilidade, o agente tem a previsão (efetivo conhecimento do perigo). É um dos elementos do

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crime culposo a Previsibilidade Objetiva, ou seja, o agente deve ter a possibilidade e conhecimento
de que sua conduta é contrária ao que se espera de um homem médio, de senso comum, expondo
a perigo bens jurídicos. No entanto, se o resultado for imprevisível, por exemplo, decorrente de
caso fortuito ou força maior, isenta o agente de responsabilidade, rompendo o nexo causal. Dessa
forma, a imprevisibilidade do resultado torna o fato atípico, não sendo elemento constitutivo do
crime culposo.

f) Tipicidade: Não se deve confundir o tipo com a tipicidade. O tipo é a fórmula que pertence à lei,
enquanto a tipicidade pertence à conduta. Um fato típico é uma conduta humana, por isso prevista
na norma penal. Tipicidade é a qualidade que se dá a esse fato. Típica é a conduta que apresenta
característica específica de tipicidade (atípica a que não apresenta); tipicidade é a adequação da
conduta a um tipo; tipo é a fórmula legal que permite averiguar a tipicidade da conduta.

Alternativa (B): correta. A compensação de culpas, comum no Direito Privado, é incabível em


matéria penal. Presente a negligência do acusado e da vítima, não se admite a compensação de
culpas. Pode, no entanto, a culpa concorrente da vítima atenuar a responsabilidade do acusado, nos
exatos termos do artigo 59 do Código Penal (fonte: SANCHES, Rogerio. Manual de Direito Penal, 2015).

No mesmo sentido é a doutrina de Cléber Masson (in Direito Penal Esquematizado – Parte Geral, 2015,
Ed. Método):

“Não se admite a compensação de culpas no Direito Penal, uma vez que prevalece o caráter
público da sanção penal como fundamento para a sua proibição. Nesses termos, a culpa do
agente não é anulada pela culpa da vítima. Se “A” ultrapassou com seu carro o semáforo no
sinal vermelho, vindo a colidir com o automóvel de “B”, que trafegava na contramão da direção,
daí resultando lesões corporais em ambos, cada qual responde pelo resultado a que deu causa.
A compensação de culpas tem incidência apenas no direito privado, com a função de reduzir
ou excluir o valor da indenização pelo ilícito praticado”.

No âmbito penal, vale ressaltar que a culpa da vítima, embora não afaste a culpa do agente, funciona como
circunstância judicial favorável ao acusado, a ser sopesada pelo magistrado por ocasião da dosimetria da
pena-base. É o que se extrai do art. 59, caput, do Código Penal.

É o que se verifica quando duas ou mais pessoas concorrem, contribuem, culposamente, para a produção
de um resultado naturalístico. Todos os envolvidos que tiveram atuação culposa respondem pelo
resultado produzido. Fundamenta-se essa posição na teoria da conditio sine qua non, acolhida
pelo art. 13, caput, do Código Penal:

“o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe


deu causa”.

E, como é fácil perceber, se o resultado foi provocado pela pluralidade de condutas culposas, por ele
respondem aqueles que as realizaram. Nesse caso, de fato, cada um irá responder pelo delito, na medida

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de sua culpabilidade, por força do art. 29 do CP, mas a isso não se dá o nome de “compensação de
culpas”, que seria uma espécie de “anulação de culpa” do infrator em razão da existência de culpa,
também, da vítima. O comportamento da vítima até pode ser levado em conta pelo Juiz no momento da
fixação da pena, mas não tem o condão de “compensar” a culpa do infrator.

Alternativa (C): correta. Na legítima defesa, o excesso se consubstancia no emprego de meios


desnecessários para repelir a injusta agressão, atual ou iminente, ou, quando necessários, os emprega
imoderadamente.

Segundo Rogério Greco (in Curso de direito penal: parte geral - v. 1. 17. ed., Impetus, 2015), o excesso,
de acordo com o parágrafo único do art. 23 do Código Penal, pode ser considerado doloso ou culposo.
Diz-se doloso o excesso em duas situações:

a) quando o agente, mesmo depois de fazer cessar a agressão, continua o ataque porque quer causar
mais lesões ou mesmo a morte do agressor inicial (excesso doloso em sentido estrito); e b) quando o
agente, também, mesmo depois de fazer cessar a agressão que era praticada contra a sua pessoa, pelo
fato de ter sido agredido inicialmente, em virtude de erro de proibição indireto (erro sobre os limites
de uma causa de justificação), acredita que possa ir até o fim, matando o seu agressor, por exemplo.

Por outro lado, ocorre o excesso culposo nas seguintes situações:

a) quando o agente, ao avaliar mal a situação que o envolvia, acredita que ainda está sendo ou poderá vir
a ser agredido e, em virtude disso, dá continuidade à repulsa, hipótese na qual será aplicada a regra do art.
20, §1º, segunda parte, do Código Penal (descriminante putativa por erro quanto aos pressupostos
de fato de uma causa de justificação); e b) quando o agente, em virtude da má avaliação dos fatos
e da sua negligência no que diz respeito a aferição das circunstâncias que o cercavam, excede-se em
virtude de um “erro de cálculo quanto à gravidade do perigo ou quanto ao modus da reação” (excesso
culposo em sentido estrito).

Por sua vez, Masson (op. já citada) aponta a existência do “Excesso extensivo ou impróprio”, sendo aquele
em que não estão mais presentes os pressupostos das causas de exclusão da ilicitude: não mais existe a
agressão ilícita, encerrou-se a situação de perigo, o dever legal foi cumprido e o direito foi regularmente
exercido. Em seguida, o agente ofende bem jurídico alheio, respondendo pelo resultado dolosa ou
culposamente produzido.

Portanto, a assertiva está correta, na medida em que expõe o conceito de “excesso culposo em
sentido estrito”, caracterizado pelo “erro de cálculo quanto à gravidade do perigo ou quanto ao
modus da reação”.

Alternativa (D): incorreta. O conceito de culpa inconsciente está adequado, pois, segundo Masson,
“Culpa consciente, com previsão ou ex lascivia é a que ocorre quando o agente, após prever o
resultado objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando sinceramente que ele não ocorrerá”.

Por sua vez, sobre o dolo eventual, o conceito tratado na assertiva, igualmente, está correto, pois

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trata-se de modalidade em que o agente não quer o resultado, por ele previsto, mas assume o
risco de produzi-lo. É possível a sua existência em decorrência do acolhimento pelo Código Penal
da teoria do assentimento, na expressão “assumiu o risco de produzi-lo”, contida no art. 18, I, do
Código Penal.

Segundo Masson (op. já citada), “Deve-se ao alemão Reinhart Frank a formulação de um princípio, rotulado
de teoria positiva do conhecimento, que é útil como critério prático para identificar o dolo eventual. Para
esse postulado, há dolo eventual quando o agente diz a si mesmo: “seja assim ou de outra maneira, suceda
isto ou aquilo, em qualquer caso agirei”, revelando a sua indiferença em relação resultado”. Nesse sentido,
cita entendimento do Supremo Tribunal Federal:

Salientou-se que, no Direito Penal contemporâneo, além do dolo direto – em que o agente quer
o resultado como fim de sua ação e o considera unido a esta última –, há o dolo eventual, em
que o sujeito não deseja diretamente a realização do tipo penal, mas a aceita como possível
ou provável (CP, art. 18, I, in fine). Relativamente a este ponto, aduziu-se que, dentre
as várias teorias que buscam justificar o dolo eventual, destaca-se a do assentimento
ou da assunção, consoante a qual o dolo exige que o agente aquiesça em causar o
resultado, além de reputá-lo como possível. Assim, esclareceu-se que, na espécie,
a questão principal diz respeito à distinção entre dolo eventual e culpa consciente,
ambas apresentando em comum a previsão do resultado ilícito. Observou-se que para a
configuração do dolo eventual não é necessário o consentimento explícito do agente, nem sua
consciência reflexiva em relação às circunstâncias do evento, sendo imprescindível, isso sim, que
delas (circunstâncias) se extraia o dolo eventual e não da mente do autor (STF, HC 91.159/MG,
rel. Min. Ellen Gracie, 2.ª Turma, j. 02.09.2008, noticiado no Informativo 518).

Por fim, prevalece no Brasil o entendimento favorável ao cabimento da tentativa nos crimes
cometidos com dolo eventual, exatamente por ser equiparado pelo art. 18, I, do Código Penal, no
tocante ao seu tratamento, ao dolo direto, sendo esse, portanto, o erro da assertiva.

Apenas a título de complemento, Masson explica que:

“A dificuldade de prova do início da execução de um crime que não se consuma por circunstâncias
alheias ao consentimento do agente é questão de natureza processual, em nada interferindo na
tipicidade do fato. Invoquemos uma vez mais as lições de Nélson Hungria:

Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime, previsto como possível, é


claro que este entra na órbita de sua volição: logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal resultado
não ocorre, é inegável que o agente deve responder por tentativa. É verdade que, na prática,
será difícil identificar-se a tentativa no caso de dolo eventual, notadamente quando resulta
totalmenteimprofícua (tentativa branca). Mas, repita-se: a dificuldade de prova não pode influir
na conceituação da tentativa”.

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OBS: o próprio Masson ressalva a existência de posições pela inadmissibilidade da tentativa nos
crimes praticados com dolo eventual:

“[...] com fundamento na redação do art. 14, II, do Código Penal: se o legislador definiu o crime
tentado como aquele em que, “iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias
à vontade do agente”, limitou o instituto ao dolo direto, para o qual adotou a teoria da vontade
(art. 18, I, 1.ª parte), excluindo-a do alcance do dolo eventual, em que se acolheu a teoria do
consentimento ou do assentimento (art. 18, I, in fine)”.

Alternativa (E): correta. Os conceitos tratados na alternativa estão adequados. O “dolo alternativo”
ocorre quando o agente prevê uma pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para perfazer
qualquer deles com a mesma intensidade de vontade (ex.: quero ferir ou matar, tanto faz). Nesse
caso, o agente deve responder pelo crime mais grave, pois sua intenção projetou-se também
para esse sentido.

Sobre culpa consciente e inconsciente, nos socorremos da doutrina de Cléber Masson:

Culpa inconsciente, sem previsão ou ex ignorantia é aquela em que o agente não prevê o
resultado objetivamente previsível.

Culpa consciente, com previsão ou ex lascivia é a que ocorre quando o agente, após
prever o resultado objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando sinceramente que
ele não ocorrerá.

O Código Penal dispensa igual tratamento à culpa consciente e à culpa inconsciente.


A previsão do resultado, por si só, não representa maior grau de reprovabilidade da conduta.

OBS: Apenas a título de complemento, Masson também discorre sobre a distinção entre culpa consciente
e dolo eventual, ao afirmar que “Na culpa consciente, o sujeito não quer o resultado, nem assume o risco
de produzi-lo. Apesar de sabê-lo possível, acredita sinceramente ser capaz de evitá-lo, o que apenas não
acontece por erro de cálculo ou por erro na execução. No dolo eventual o agente não somente prevê o
resultado naturalístico, como também, apesar de tudo, o aceita como uma das alternativas possíveis. A
distinção é tênue, e somente pode ser feita no caso concreto, mediante a análise das provas exteriores ao
fato” e cita julgado do Supremo Tribunal Federal:

A diferença entre o dolo eventual e a culpa consciente encontra-se no elemento volitivo que,
ante a impossibilidade de penetrar-se na psique do agente, exige a observação de todas as
circunstâncias objetivas do caso concreto, sendo certo que, em ambas as situações, ocorre a
representação do resultado pelo agente. Deveras, tratando-se de culpa consciente, o agente
pratica o fato ciente de que o resultado lesivo, embora previsto por ele, não ocorrerá. (…) A
cognição empreendida nas instâncias originárias demonstrou que o paciente, ao lançar-se em
práticas de expressiva periculosidade, em via pública, mediante alta velocidade, consentiu em
que o resultado se produzisse, incidindo no dolo eventual previsto no art. 18, inciso I, segunda

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parte, verbis: (“Diz-se o crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco
de produzi-lo”) (STF: HC 101.698/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 18.10.2011).

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

9. Em relação à parte geral do Direito Penal, notadamente quanto à tipicidade e nexo causal,
assinale a alternativa incorreta:

a) As majorantes e minorantes, também conhecidas como causas de aumento e de


diminuição de pena, são encontradas apenas na Parte Geral do Código Penal, especificando
o quantum do aumento ou diminuição da pena, em frações, dobro ou triplo, por exemplo.
São aplicadas na segunda fase da Sentença Penal Condenatória. Já as agravantes e
atenuantes são encontradas tanto na Parte Geral quanto na Parte Especial do Código Penal,
sem especificação do quanto irão agravar ou atenuar a pena do autor delituoso, ficando
a critério do juiz, sendo vedadas as chamadas atenuantes inominadas. As agravantes e
atenuantes são aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena. Já as qualificadoras somente
são encontradas na Parte Especial do Código Penal, constituindo-se em um verdadeiro tipo
qualificado, que piora a situação do autor do delito, possuindo um novo mínimo e um novo
máximo da pena em abstrato mais gravoso em relação ao tipo fundamental. Situa-se na
primeira fase da dosimetria da pena.

b) Segundo o STF, a hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o
regime prisional mais gravoso, pois o juízo, em atenção aos princípios constitucionais da
individualização da pena e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais,
deve motivar o regime imposto, observando a singularidade do caso concreto. Por outro
lado, é possível a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada,
desde que acompanhada de motivação idônea.

c) Segundo entende o STJ, a inexistência de casa de albergado na localidade da execução


da pena não gera o reconhecimento de direito ao benefício da prisão domiciliar quando
o apenado estiver cumprindo a reprimenda em local compatível com as regras do regime
aberto.

d) No tocante à dosimetria da pena, a reincidência penal pode ser considerada como


circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial, ao passo que a
incidência da circunstância atenuante pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo
legal.

e) Consoante entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, nos casos em


que a confissão do acusado servir como um dos fundamentos para a condenação, deve

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ser aplicada a atenuante em questão, pouco importando se a confissão foi espontânea


ou não, se foi total ou parcial, ou mesmo se foi realizada só na fase policial, com posterior
retratação em juízo.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. O enunciado resume bem o tema, sendo o seu único erro afirmar que as
agravantes e atenuantes são aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena, quando, na verdade, são
objeto de apreciação na segunda fase. Seguem breves conceitos e resumo dos assuntos, tratados com
boa síntese por Cleber Masson (in Direito Penal Esquematizado – Parte Geral, Ed. Método, 2015):

- MAJORANTES e MINORANTES (causas de aumento e de diminuição de pena): São circunstâncias


obrigatórias ou facultativas de aumento ou de diminuição da pena, previstas na Parte Geral (genéricas)
ou na Parte Especial do CP (específicas), e também na legislação especial, em quantidade fixa ou variável.
São aplicadas na 3ª fase da dosimetria. Incidem sobre o montante resultante da 2ª fase de aplicação da
pena (agravantes e atenuantes genéricas), e não sobre a pena-base.

Podem levar a pena acima do máximo legal, ou trazê-la abaixo do mínimo abstratamente cominado, uma
vez que o legislador aponta os limites de aumento e/ou de diminuição.

- AGRAVANTES e ATENUANTES: Incidem na 2ª fase de aplicação da pena são circunstâncias legais, de


natureza objetiva ou subjetiva, não integrantes da estrutura do tipo penal, mas que a ele se ligam com
a finalidade de aumentar ou diminuir a pena. Recebem essa nomenclatura (“genéricas”) por estarem
previstas, no Código Penal, exclusivamente em sua Parte Geral.

Agravantes genéricas: prejudiciais ao réu (arts. 61 e 62 CP), em rol taxativo, não se admitindo analogia
in malam partem.

Atenuantes genéricas: favoráveis ao acusado, encontram-se descritas em rol exemplificativo.

Atenuantes inominadas (art. 66 CP): Não estão especificadas em lei, podendo ser qualquer circunstância
relevante, anterior ou posterior ao crime. São também chamadas de atenuantes de clemência.

- QUALIFICADORAS: Não fazem parte das etapas de fixação da pena, pois integram o preceito
secundário do tipo penal e, deste modo, são consideradas como ponto de partida para a
dosimetria da pena. As qualificadoras dão um novo preceito secundário ao crime. Caracteriza-se
por estabelecer novos patamares mínimo e máximo para a reprimenda penal em abstrato. Em
resumo: Qualifica o delito, substituindo penas abstratamente cominadas. Serve como ponto de
partida para o cálculo da pena-base.

Alternativa (B): correta. Cobrou-se, nessa assertiva, o teor das Súmulas 718 e 719, do STF, que seguem
transcritas:

Súmula n. 718: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não

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constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.

Súmula nº 719 do STF: a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a


pena aplicada permitir exige motivação idônea.

Por fim, na mesma linha dos colacionados enunciados do STF, tem-se o posicionamento do STJ cristalizado
na súmula nº 440: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional
mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do
delito”.

Alternativa (C): correta. A assertiva sintetiza o julgado proferido no HC 299.315-RS, divulgado no


Informativo n. 554 do STJ, assim exposto:

“A inexistência de casa de albergado na localidade da execução da pena não gera o


reconhecimento de direito ao benefício da prisão domiciliar quando o paciente estiver
cumprindo a reprimenda em local compatível com as regras do regime aberto. O STJ
tem admitido, excepcionalmente, a concessão da prisão domiciliar quando não houver local
adequado ao regime prisional imposto. Todavia, na hipótese em que o paciente, em face da
inexistência de casa de albergado, esteja cumprindo pena em local compatível com as regras
do regime aberto - tendo o juízo da execução providenciado a infraestrutura necessária,
atento ao princípio da razoabilidade e da proporcionalidade -, não se vislumbra o necessário
enquadramento nas hipóteses excepcionais de concessão do regime prisional domiciliar” (HC
299.315-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014, DJe 2/2/2015”.

Veja que esse entendimento se coaduna com a jurisprudência do STJ no que toca ao regime de
cumprimento da pena, quando este se dá em condições mais rigorosas que as estabelecidas pelo juízo
sentenciante ou pelo juízo das execuções penais. Confiram:

1. Configura constrangimento ilegal ao jus libertatis, sanável pela via do habeas corpus,
o cumprimento da pena em condições mais rigorosas que as estabelecidas pelo juízo
sentenciante ou pelo juízo das execuções penais. 2. Na hipótese dos autos, contudo,
constata-se que o Paciente, embora esteja em estabelecimento destinado ao regime fechado,
está alojado em pavilhão independente e autônomo, sem ligação física ao restante do Presídio,
prestando trabalho externo e usufruindo de saídas temporárias, segundo as regras do regime
semiaberto. Assim, não há constrangimento ilegal a ser sanado, uma vez que o apenado não
se encontra cumprindo pena em regime mais rigoroso do que o devido (HC nº 273.653/RS,
Quinta Turma, relatora Ministra Laurita Vaz, DJe, 10/10/2013).

Alternativa (D): correta. A assertiva foi extraída da combinação das Súmulas 231 e 241 do STJ. Confiram:

Súmula n. 231: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da


pena abaixo do mínimo legal.

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Súmula 241: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante
e, simultaneamente, como circunstância judicial.

Em relação à Súmula 241, o já consolidado entendimento jurisprudencial é:

“[...] de que não pode ser admitida a ‘dupla apenação’, como quer o impetrante, ou o
chamado ‘bis in idem’, aqui plenamente caracterizado na sentença que, conquanto considera
a reincidência para aumentar a pena, a utiliza ainda como agravante” (HC 9219 SE, Rel.
Ministro EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, julgado em 08/06/1999, DJ 16/08/1999), extraído
a partir da reforma do código penal, de sorte que “[...] não há como confundir (quanto a
natureza jurídica e o momento da aplicação) circunstância judicial e circunstância legal. A
reincidência é agravante (C.P., art. 61, 1). Tem, por isso, momento certo de consideração: após
a fixação da pena base. Se o magistrado leva-a em conta, na primeira etapa (CP, art. 59),
comete erro. Se a considera duas vezes, afronta o princípio - ne bis in eadem” (RHC 3947
SP, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA TURMA, julgado em 26/09/1994, DJ
28/11/1994).

OBS: persiste crítica doutrinária quanto à vigência atual da Súmula n. 231, uma vez que o STJ publicou
recentemente o Enunciado sumular n. 545, que consagrou o seguinte entendimento:

“Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará
jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal”.

Alguns doutrinadores entendem que este novo Enunciado “revoga” o de nº. 231, em razão de que neste
havia uma notória violação não só o princípio da individualização da pena, como, também, dos princípios
da legalidade, da proporcionalidade e da culpabilidade, pela impossibilidade prática de aplicar o art. 65,
III, “d”, do Código Penal (“[...] a confissão espontânea sempre atenua a pena [...]”), de forma a não permitir
a redução da sanção aquém do limite inicial, ressalva essa que a Súmula n. 545 não estabeleceu, ao
afirmar, em consonância com o mencionado dispositivo legal, que a confissão sempre diminuirá
a sanção penal.

Alternativa (E): correta. Na linha do que foi exposto na assertiva anterior, o entendimento consolidado
do STJ é exatamente o que consta nesta alternativa, e que foi cristalizado na Súmula n. 545, conforme
ilustram seguintes precedentes:

[...] Consoante entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, nos casos em


que a confissão do acusado servir como um dos fundamentos para a condenação, deve
ser aplicada a atenuante em questão, pouco importando se a confissão foi espontânea
ou não, se foi total ou parcial, ou mesmo se foi realizada só na fase policial, com
posterior retratação em juízo. [...]. (AgRg no Resp 1412043 MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, Julgado em 10/03/2015, DJe 19/03/2015).

[...] Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se a confissão do

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réu, ainda que parcial ou retratada, for utilizada pelo magistrado para fundamentar a
condenação, deve incidir a respectiva atenuante. [...]. (HC 316798 SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, Julgado em 07/05//2015, DJe 15/05/2015).

[...] Para haver a incidência da atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea ‘d’, do
Código Penal, mostra-se irrelevante a forma que tenha sido manifestada a confissão, se
integral ou parcial, notadamente quando o juiz a utiliza para fundamentar a condenação
[...]. (HC 318184 RJ, Rel. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/SC), QUINTA TURMA, Julgado em 26/05//2015, DJe 02/06/2015).

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

10. Considerando a doutrina, a jurisprudência dos Tribunais Superiores e de acordo com a


legislação penal, assinale a alternativa correta sobre a aplicação da lei penal e penas restritivas
de direito:

a) A suspensão condicional do processo se aplica na hipótese de delitos sujeitos ao rito da


Lei Maria da Penha, sendo vedada, contudo, a transação, em razão da principiologia que
inspirou a edição da referida lei.

b) No caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos, ela converte-se em


privativa de liberdade e, no cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido
o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias
de detenção ou reclusão, ao passo que, em se tratando de prestação pecuniária, o valor
pago pelo réu será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação
civil, se coincidentes os beneficiários, em razão dessa prestação pecuniária ostentar, ainda
que indiretamente, caráter de indenização civil antecipada, impedindo o enriquecimento
ilícito do ofendido ou de seus dependentes, natureza jurídica essa que desaparece quando
o valor fixado na sentença condenatória for destinado em sua totalidade a alguma entidade
pública ou privada com destinação social, pois são diversos os beneficiários.

c) Se o condenado for reincidente, o juiz não poderá substituir a pena privativa de liberdade
por pena restritiva de direitos em caso de nova condenação.

d) No caso de abandono pelo sentenciado do cumprimento da pena restritiva de


direitos - prestação de serviços à comunidade -, a prescrição da pretensão executória
será regulada pelo tempo restante do cumprimento da medida substitutiva imposta, de
sorte que, ao conferir interpretação restritiva ao art. 113 do CP, decidiu-se que o abandono
no cumprimento da pena restritiva de direitos não pode ser equiparado às hipóteses de
“evasão” e da “revogação do livramento condicional” previstas no referido artigo.

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e) Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do


cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo
superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação, ao passo que a reabilitação poderá ser requerida,
decorridos 3 (três) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua
execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional,
ainda que tenha ocorrido revogação.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Tanto a transação penal como a suspensão condicional do processo não são
admitidos no processamento dos crimes relacionados à Lei Maria da Penha. Tal posicionamento está
firmado na Súmula 536-STJ:

“A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese


de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha” (STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015,
Dje 15/06/2015).

Observem que o entendimento do STJ adveio da interpretação dada pelo STF ao disposto no art. 41 da
Lei n. 11.340/2006, que veda a aplicação da Lei n. 9099/1995 aos delitos dessa espécie, posicionamento
esse exarado inclusive em sede de ADI e ADC. Confiram os seguintes julgados:

O Supremo Tribunal Federal, no Habeas Corpus nº 106.212/MS, julgado pelo Plenário


no dia 24 de março de 2011, estabeleceu que nenhum dos institutos despenalizadores
da Lei nº 9.099/95 aplica-se às hipóteses da Lei nº 11.340/06. [...] Mais do que a
própria doutrina, o Supremo entendeu, por unanimidade, que sequer nas hipóteses de
contravenções que sejam processadas segundo o rito da Lei Maria da Penha, não se
aplicaria esses institutos despenalizadores, uma vez que o que a Lei estabeleceu, do
ponto de vista político normativo, foi uma regra específica para os casos de violência
doméstica contra a mulher. [...] (HC 191066 MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 06/09/2011,
DJe 20/06/2012)

[...] Em julgamento realizado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, os eminentes


Ministros que o integram, à unanimidade, entenderam pela inexistência de qualquer
ofensa a regra ou princípio constitucional o disposto no art. 41 da Lei Maria da Penha -
que afasta a incidência do art. 89 da Lei nº 9.099/95 aos crimes praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher -, tornando impossível a aplicação dos institutos
despenalizadores previstos no mencionado dispositivo a estes delitos. [...] coube ao
legislador ordinário estabelecer o alcance do referido conceito que, considerando a
maior gravidade dos crimes relacionados com violência doméstica ou familiar contra

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a mulher, decidiu tratar de forma mais severa as referidas infrações, afastando, no art.
41 da Lei nº 11.340/06, independentemente da pena prevista, a aplicação dos institutos
previstos na Lei nº. 9.099/95, quais sejam, a suspensão condicional do processo e a
transação penal. [...]. (HC 203374 MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 16/06/2011, DJe 29/06/2011)

Alternativa (B): correta. O enunciado cobrou o conhecimento dos seguintes dispositivos do Código
Penal:

Art. 44. [...] § 4º. A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade
quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da
pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

Art. 45. [...] § 1º. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima,
a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de
importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360
(trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de
eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.

Sobre esse último dispositivo da codificação penal, Masson comenta da seguinte forma:

“Em se tratando de sanção penal, a prestação pecuniária se reveste de caráter unilateral,


impositivo e cogente, razão pela qual independe de aceitação da pessoa por ela favorecida.
O juiz aplica essa pena sem prévia oitiva da vítima, de seus dependentes ou de entidade pública
ou privada com destinação social.

Não pode ser inferior a 1 (um) salário-mínimo, nem superior a 360 (trezentos e sessenta)
salários mínimos. E o valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em
ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários (CP, art. 45, § 1.º, in fine). Essa última
parte revela que, nada obstante seja pena restritiva de direitos, a prestação pecuniária
ostenta, ainda que indiretamente, caráter de indenização civil antecipada, impedindo
o enriquecimento ilícito do ofendido ou de seus dependentes. Frise-se, porém, que
desaparece qualquer aspecto civil quando o valor fixado na sentença condenatória for
destinado em sua totalidade a alguma entidade pública ou privada com destinação
social, pois são diversos os beneficiários”.

Alternativa (C): incorreta. A reincidência não impede a substituição de pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direitos, quando o Réu for reincidente em crime culposo ou a reincidência não for
específica (mesmo crime) e sendo favoráveis as circunstâncias judiciais. Trata-se de aplicação do disposto
no art. 44, II, c/c § 3º do Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,

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quando: [...] II – o réu não for reincidente em crime doloso; [...] § 3º. Se o condenado for
reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a
medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da
prática do mesmo crime.

Observem, ademais, que nesse sentido é o entendimento consolidado tanto no STJ como no STF:

1. A reincidência genérica não é motivo suficiente, por si só, para o indeferimento da substituição
da pena privativa de liberdade. Nos termos do art. 44, § 3º, do Código Penal, é possível o
deferimento da benesse ao réu reincidente desde que atendidos dois requisitos cumulativos,
quais sejam, ser a medida socialmente recomendável em face da condenação anterior e que
não esteja caracterizada a reincidência específica [...] (STJ, AgRg nos EDcl no AREsp 279042 SP.
Relator (a): Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, Publicação: DJe 02/10/2013).

1. A substituição da pena privativa de liberdade por outra restritiva de direitos é possível, ainda
que o condenado seja reincidente, “desde que, em face de condenação anterior, a medida seja
socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do
mesmo crime”, nos termos do artigo 44, § 3º, do Código Penal [...] (STF, HC 121138 SP, Relator:
Min. LUIZ FUX. Julgamento: 27/05/2014, Primeira Turma).

Alternativa (D): incorreta. De início, insta dizer que, segundo o art. 113 do Código Penal, “No caso de
evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que
resta da pena”.

A interpretação conferida pelo STJ ao mencionado artigo, na verdade, é EXTENSIVA, de modo a


abarcar também, por similitude das hipóteses, o abandono pelo sentenciado do cumprimento da pena
restritiva de direitos, no caso a prestação de serviços à comunidade, regulando-se a prescrição pelo
tempo que resta da pena. Confiram o teor do HC 232.764-RS, divulgado no Informativo n. 500 do STJ:

No caso de abandono pelo sentenciado do cumprimento da pena restritiva de direitos - prestação


de serviços à comunidade -, a prescrição da pretensão executória será regulada pelo tempo
restante do cumprimento da medida substitutiva imposta. [...] Ao conferir interpretação
extensiva ao art. 113 do CP, decidiu-se que o abandono no cumprimento da pena restritiva
de direitos pode se equiparado às hipóteses de “evasão” e da “revogação do livramento
condicional” previstas no referido artigo, uma vez que as situações se assemelham na
medida em que há, em todos os casos, sentença condenatória e o cumprimento de parte
da pena pelo sentenciado (STJ, HC 232.764-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 25/6/2012).

Alternativa (E): incorreta. De início, é importante não confundir o instituto da reabilitação com o prazo
para desparecimento dos efeitos da reincidência.

Segundo Masson (op. já citada):

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“Reabilitação é o instituto jurídico-penal que se destina a promover a reinserção social do


condenado, a ele assegurando o sigilo de seus antecedentes criminais, bem como a suspensão
condicional de determinados efeitos secundários de natureza extrapenal e específicos da
condenação, mediante a declaração judicial no sentido de que as penas a ele aplicadas foram
cumpridas ou por qualquer outro modo extintas. Busca, pois, reintegrar o condenado que tenha
cumprido a pena na posição jurídica que desfrutava anteriormente à prolação da condenação”.

O Autor afirma que possui, duas funções: (1) assegurar ao condenado o sigilo dos registros sobre seu
processo e condenação (art. 93, caput); e (2) suspender condicionalmente os efeitos da condenação
previstos no art. 92 do Código Penal (art. 93, parágrafo único).

Por outro lado, ao diferenciar os dois institutos, Masson afirma que:

“A reabilitação suspende condicionalmente alguns efeitos secundários de natureza extrapenal


e específicos da condenação. A condenação, todavia, permanece íntegra, pois o instituto em
análise não a rescinde. Portanto, se, embora reabilitado, o agente vier a praticar novo delito,
será considerado reincidente.

Com efeito, o art. 64, I, do Código Penal é peremptório ao esclarecer que a condenação anterior
somente perde força para gerar a reincidência quando, entre a data do cumprimento ou extinção
da pena dela decorrente e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5
(cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não
ocorrer revogação.

Esse hiato temporal é o que se convencionou chamar de período depurador ou caducidade da


reincidência”.

À vista disso, foi cobrado o conhecimento de dispositivos do Código Penal, de sorte que a primeira parte
da assertiva está correta, pois em conformidade com o disposto no art. 64, I, do Codex Penal:

Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a


data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período
de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do
livramento condicional, se não ocorrer revogação.

Por outro lado, a segunda parte da assertiva contém dois erros: o prazo para pedir a reabilitação é
de até dois anos e esta, tal como no caso da reincidência, depende de não ocorrer revogação da
suspensão ou do livramento condicional. Confiram o que dispõe o art. 94 do Código Penal:

Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for
extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período
de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde
que o condenado [...].

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GABARITO: ALTERNATIVA (B)

PROFESSOR: KAOYE GUAZINA OSHIRO


E-mail: profcei.kaoyeoshiro@gmail.com

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

11. Um grupo de cerca de quinhentos indivíduos de determinado movimento social, cuja maior
reivindicação é a implementação de programas sociais que garantam o acesso à moradia pela
população de baixa renda local, em um ato de protesto, decidiu ocupar a praça Presidente Vargas,
situada em bairro residencial do Município M. A praça é bem público de uso comum e propriedade
do Município M. Muito firmes em seu intento, os membros do grupo social permaneceram no
local por meses, obstando que a população utilizasse os benefícios ínsitos ao bem de uso comum,
período no qual se tentou resolver extrajudicialmente a quezília. Irresignados com essa situação,
os membros da associação do respectivo bairro ajuizaram ação de interdito proibitório em face
dos indivíduos do grupo social que ocupavam o bem público no dia em que a ocupação completou
um ano. Foi promovida a citação por edital dos ocupantes do imóvel para que, cientificando-se
a respeito da ação, apresentassem defesa. O Município M, tomando conhecimento da demanda,
resolveu ingressar no processo na condição de litisconsorte ativo facultativo ulterior, antes do
saneamento do processo. O magistrado competente aceitou o ingresso do ente público no
processo e, no mesmo ato, saneou o processo, dando início à fase instrutória. Considerando esse
cenário fático hipotético, assinale a alternativa CORRETA:

a) É nula a citação levada a efeito, que deveria ser feita pessoalmente em relação aos
ocupantes que fossem encontrados no local pelo oficial de justiça.

b) Apenas o ente público, possuidor direto e indireto do bem cuja posse foi esbulhada,
possui legitimidade para ajuizar a ação possessória.

c) Não se poderá utilizar o procedimento especial possessório no caso, inclusive com a


previsão de medida liminar específica, por não se tratar de ação possessória de força nova.

d) A fase instrutória das ações possessórias exige a adoção de regras específicas,


expressamente previstas pelo Novo Código de Processo Civil, a fim de adequar a tutela
jurisdicional à peculiaridade da demanda.

e) A ação cabível na situação descrita é a de reintegração de posse, haja vista o esbulho


ocorrido, e não o interdito proibitório, destinado à tutela da mera ameaça à posse, de

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modo que se devem intimar os autores para adequação do procedimento, promovendo-se,


após, a nova citação dos ocupantes.

COMENTÁRIO

O objeto de tutela das ações possessórias – com o perdão da obviedade – é a posse. Com isso em
mente, e sempre considerando a circularidade entre o direito material e processual, não se poderia bem
compreender a dinâmica das possessórias sem, antes, relembrar o que é posse e alguns dos lindes fixados
pelo Direito Civil. Com essa circularidade, queremos dizer que, bem pensadas as coisas, “‘o processo
serve ao direito material, mas para que lhe sirva é necessário que seja servido por ele’. (...) ‘Da mesma
maneira que a música produzida pelo instrumento de quem lê a partitura se torna viva, o direito objetivo,
interpretado no processo, reproduz no ordenamento jurídico um novo direito’.” (DIDIER JR, Fredie. Curso
de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. V. 1. 13ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2011, p. 26).

Com efeito, a posse se caracteriza, segundo a teoria objetiva de Ihering, adotada pelo Código Civil
vigente, com a mera conduta de dono, pouco importando a apreensão física da coisa e a vontade de ser
dono da res. Por meio dessa teoria é possível o desdobramento da posse em indireta (posse de pessoa
que tem a coisa em seu poder) e direta (direito exercido diretamente sobre a coisa, relativa aos
poderes do proprietário) (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6ª ed. São Paulo: Saraiva,
2011). Nessa linha, assim estabelece o Código Civil:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes à propriedade.

Nesse diapasão, a tutela processual da posse salvaguarda tanto a posse direta como a indireta, em três
níveis distintos: “manutenção [da posse] (casos em que há turbação da posse, isto é, embaraços no
exercício pleno da posse), reintegração [da posse] (quando houver esbulho na posse, isto é, perda total
ou parcial da posse) e o chamado ‘interdito proibitório’, voltado à proteção preventiva da posse [em caso
de efetiva ameaça ao seu exercício] (...)” (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil:
inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 438).

Demais disso, quando a demanda versar sobre o domínio, a propriedade, da coisa, em regra, terá natureza
petitória, não se lhe aplicando as regras previstas no procedimento especial das ações possessórias.

Fixados esses pontos, passemos a seguir à análise das alternativas.

Alternativa (A): correta. De fato, é nula a citação levada a efeito, que deveria ser feita pessoalmente em
relação aos ocupantes que fossem encontrados no local pelo oficial de justiça, com a citação por edital
dos ocupantes não localizados pessoalmente, na forma do art. 554, §1º, do Código de Processo Civil de
2015, in verbis:

Art. 554 (...) §1º. No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número

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de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a
citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e,
se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública (g.n.)

Logo, por disposição expressa do novo código, não mais se permite a citação por edital de todos os
ocupantes, hipótese em que não seriam respeitados o contraditório, a ampla defesa e, por extensão, o
devido processo legal.

A esse propósito, “preocupado com a realidade social do país, o CPC de 2015 trouxe importantes
modificações na disciplina das ‘ações possessórias’. As primeiras correspondem aos três parágrafos do
art. 554, que estabelecem regras a serem observadas na citação ‘no caso de ação possessória em que
figure no polo passivo grande número de pessoas’. Neste caso, como se lê do § 1º, será feita a citação
pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, sem prejuízo
da intimação do Ministério Público e, havendo pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da
Defensoria Pública. O § 2º, complementando a regra, prevê que, ‘para fim da citação pessoal prevista
no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-os por edital os que
não forem encontrados’. Sem prejuízo, o § 3º impõe ao magistrado o dever de determinar a ampla
publicidade do processo e dos prazos processuais respectivos, valendo-se, conforme o caso, de anúncios
em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito, e de outros meios” (BUENO,
Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São
Paulo: Saraiva, 2015, p. 440).

Alternativa (B): incorreta. Como se sabe e acima já se adiantou, tradicionalmente, têm legitimidade para
ajuizar as ações possessórias os possuidores do imóvel cuja posse foi ameaçada, turbada ou esbulhada,
seja o possuidor direto, seja o indireto, por força de regra vazada no art. 1.197 do Código Civil.

Sem prejuízo disso, deve-se registrar que “(...) outra novidade trazida pelo CPC de 2015 para as
‘ações possessórias’ está no art. 565, que, pela sua importância e rente à realidade brasileira, abrange,
excepcionalmente, também o litígio sobre a propriedade do imóvel (§ 5º)” (BUENO, Cássio Scarpinella.
Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015,
p. 441). Eis a respectiva disposição legal:

Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado
na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de
concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30
(trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.

§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data
de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º
deste artigo.

§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública

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será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.

§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária
à efetivação da tutela jurisdicional.

§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado
ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser
intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre
a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.

§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel. (g.n.)

Ocorre, de todo modo, que, para fins de verificação de legitimidade no âmbito das ações possessórias,
são considerados possuidores dos bens públicos de uso comum não apenas o ente público que detém
a respectiva propriedade (na condição de possuidor indireto), mas também os cidadãos que lhe dão uso
(como possuidores diretos). Dessa forma, tanto um quanto outro podem ajuizar a ação, ou mesmo agir
em conjunto em litisconsórcio ativo, como descrito no enunciado da questão. Nesse sentido:

“No caso de bens públicos de uso comum, a melhor doutrina aponta para a legitimidade do
Poder Público e dos particulares que habitualmente se valem de ditos bens, em mais uma
espécie de litisconsórcio facultativo” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 847).

Alternativa (C): incorreta. O procedimento liminar diferenciado – especial em relação à tutela de evidência
genérica, na forma do art. 311 do Código de Processo Civil de 2015, porque mais fácil de preencher seus
requisitos e com efeitos inaudita altera parte ex lege – é o que realmente diferencia as ações possessórias
em relação ao rito comum do código. Tanto é assim que, superada essa fase preliminar, o processo passar
a correr pelo referido rito.

Esse procedimento diferenciado das ações possessórias só se aplica quando a ação for proposta dentro
de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial ou mesmo da ameaça da posse,
conforme dicção dos arts. 565, caput, e 568, ambos do Código de Processo Civil de 2015, tal qual se dá
na hipótese narrada.

No ponto, convém rememorar que se “considera (...) proposta a ação quando a petição inicial for
protocolada” (art. 312 do NCPC).

Alternativa (D): incorreta. A fase instrutória das ações possessórias não exige a adoção de regras
específicas. É que, como já afirmado, superada a fase petitória, com a análise da liminar própria às
ações possessórias de força nova, passa-se a adotar o rito comum. Tanto é assim que, após as previsões
específicas a esse respeito, o Novo Código de Processo Civil fecha a seção dedicada à manutenção e à
reintegração de posse com o seguinte dispositivo:

Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.

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Alternativa (E): incorreta. Realmente, no caso narrado, a situação fática demanda, a rigor, o ajuizamento
de reintegração de posse, haja vista o esbulho ocorrido, e não o interdito proibitório, destinado à tutela
da mera ameaça à posse. Mas, sem qualquer embargo, existe fungibilidade entre as ações possessórias.
Na forma do art. 554 do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz
conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos
estejam provados.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

12. Os embargos de terceiro são ação de conhecimento de rito especial sumário, de que dispõe o
terceiro ou a parte a ele equiparada, não incluído no processo, sempre que sofra uma constrição
de um bem que possua, em razão de decisão judicial. A respeito desse procedimento especial,
assinale a única alternativa INCORRETA:

a) Na dinâmica do Código de Processo Civil de 2015, os embargos de terceiro podem ser


opostos pelo proprietário da coisa, ainda que não possuidor.

b) É cabível pedido de tutela provisória nos embargos de terceiro, inclusive liminarmente.

c) O terceiro pode opor embargos enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da sentença,
na fase de conhecimento.

d) Se a ação da qual se originou a constrição tramitar no juízo estadual e a União, suas


autarquias ou empresas públicas opuserem embargos de terceiro, a ação principal e a
incidente devem ser julgadas pela justiça federal.

e) O embargado, em regra, não é citado pessoalmente.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. É certo que, na dinâmica do Código de Processo Civil de 2015, os embargos
de terceiro podem ser opostos pelo proprietário da coisa, ainda que não possuidor. É que, ampliando o
rol de legitimados do código de 1973 para essa ação especial, incluindo o proprietário, inclusive fiduciário,
assim dispõe o art. 674, §1º, da nova legislação:

Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição
sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo,
poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.

§ 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor (...) –

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g.n.

Em idêntico sentido:

Conforme era previsto pelo art. 1.046, §1º, do CPC/73, independentemente da natureza do
direito sobre a coisa, a legitimidade ativa dependia da posse da natureza do direito sobre a
coisa, a legitimidade ativa dependia da posse do bem, ou seja, o proprietário não possuidor
não tinha legitimidade ativa nos embargos de terceiro (...). Essa realidade é modificada pelo
§1º do art. 674 do Novo CPC, que prevê que os embargos podem ser de terceiro proprietário,
inclusive fiduciário, ou possuidor. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 900).

Alternativa (B): correta. Realmente, é cabível pedido de tutela provisória nos embargos de terceiro,
inclusive liminarmente. É que, a despeito da falta de previsão legal expressa nesse sentido, nada impede
que o magistrado, no uso do propalado poder geral de cautela, defira nos embargos de terceiro medida
liminar inaudita altera pars, com base no regramento genérico das tutelas provisórias, na forma do art.
294 e seguintes aplicáveis do Código de Processo Civil de 2015. “Entretanto, para que a suspensão se
dê initio litis, é preciso que o embargante a requeria e que o juiz reconheça, por decisão fundamentada,
que o domínio ou a posse estão suficientemente provados” (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito
Processual Civil: Procedimentos especiais, v. III, 50ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 345). Em abono:

É cabível pedido de tutela provisória nos embargos de terceiro, inclusive liminarmente, isto é,
na própria petição inicial. Se o magistrado considerar suficientemente provado o domínio ou
a posse – e, para tanto, avulta em importância, a audiência preliminar a ser designada pelo
§ 1º do art. 677 –, poderá, a um só tempo, determinar a suspensão das medidas constritivas
sobre os bens litigiosos objeto dos embargos e determinar a manutenção ou a reintegração
provisória da posse, tudo nos termos do caput do art. 678. (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual
de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva,
2015, p. 451).

Alternativa (C): correta. Prevê o art. 675 do Novo Código de Processo Civil que “Os embargos podem
ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a
sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da
adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da
respectiva carta” (g.n.). Daí a correção da alternativa. Ressalva-se, porém, que:

O trânsito em julgado é apontado pelo art. 675 apenas como marco temporal, já que para o
estranho à relação processual não se forma a res iudicata. Assim, mesmo depois de ultrapassado
o dies ad quem assinalado na lei, ao terceiro sempre estará facultado o uso das vias ordinárias
para reivindicar o bem constrito judicialmente. Apenas não poderá se valer da via especial
dos embargos disciplinados pelo art. 674. Por isso, está assente na doutrina o entendimento
de que nenhum terceiro está jungido à obrigação ou ônus de usar dos embargos. Trata-se de

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simples faculdade que a lei lhe confere, cuja não utilização em nada afeta o direito material
do interessado (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Procedimentos
especiais, v. III, 50ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 342).

Alternativa (D): incorreta. Se a ação da qual se originou a constrição tramitar no juízo estadual e a
União, suas autarquias ou empresas públicas opuserem embargos de terceiro, a ação principal continua
de competência da justiça estadual. Mas a demanda principal será suspensa, até o desfecho dos embargos
de terceiro, que serão processados e julgados na Justiça Federal, Noutros termos, apenas a demanda
incidente será de competência da Justiça Federal, permanecendo na estadual a ação principal, que será
suspensa até o julgamento dos embargos. É esse o entendimento fixado em leading case do Superior
Tribunal de Justiça, cuja ementa segue:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL E JUSTIÇA FEDERAL.


AÇÃO DE EXECUÇÃO AJUIZADA PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL. EMBARGOS DE TERCEIRO
OPOSTOS PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE CONEXÃO. AÇÃO DE
EXECUÇÃO SOBRESTADA NA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. EMBARGOS DE TERCEIRO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. I. A reunião de processos por conexão, como forma
excepcional de modificação de competência, só ocorre quando as causas supostamente
conexas estejam submetidas a juízos, em tese, competentes para o julgamento das duas
demandas. II. É competente a Justiça Federal para o julgamento dos embargos de terceiro
opostos pela Caixa Econômica Federal, devendo ser sobrestada na Justiça Estadual,
a ação de execução, até julgamento dos referidos embargos, pela Justiça Federal, para
evitar prolação de decisões conflitantes. Conflito de competência conhecido declarando-se
competente para o julgamento dos embargos de terceiro o Juízo Federal da 24ª Vara da
Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais, ora suscitante. (CC 93969/MG. STJ. SEGUNDA
SEÇÃO. Relator(a) Ministro SIDNEI BENETI. DJe 05/06/2008 – g.n.)

Alternativa (E): correta. Por fora do disposto no art. 676, §3º, do Novo Código de Processo Civil, o
embargado, em regra, não é citado pessoalmente. Isso porque “a citação será feita por intermédio do
procurador constituído nos autos. Não havendo, será feita pessoalmente (art. 676, § 3º)” (BUENO, Cássio
Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo:
Saraiva, 2015, p. 451). Outrossim:

“A citação do embargado deverá ser feita na pessoa de seu advogado, o que prestigia o
princípio da economia processual (...). É nesse sentido o art. 677, §3º, do Novo CPC ao
prever que a citação pessoal depende de o embargado não ter advogado constituído na
ação principal, o que permite a conclusão da citação na pessoa do advogado quando existir
um constituído na ação principal” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 907).

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

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13. Conquanto a primeira Revolução Industrial, no século XVIII, seja o marco histórico do surgimento
dos conflitos coletivos, apenas na década de 70 do século XX passou a ser sedimentada a ideia
de que essa espécie de conflitos reclama uma tutela jurisdicional especializada, com a ampliação
das hipóteses de legitimação e dos efeitos da coisa julgada. No Brasil, com inspiração no modelo
norte-americano de ações coletivas – as class actions – estabeleceu-se um plexo normativo de
tutela coletiva de direitos, instituindo-se um microssistema de processo coletivo. Afirma-se que
a Lei n. 4.717/65 (Lei da Ação Popular) e a Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente)
foram os marcos do surgimento desse microssistema, que foi consolidado com o advento da
Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e potencializado com a Lei n. 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor). Atualmente, o microssistema de processo coletivo brasileiro é composto
por uma série de outros diplomas legislativos e encontra perfeito fundamento de validade na
Constituição Federal de 1988. A respeito da competência no microssistema de tutela coletiva de
direitos, assinale a única alterativa INCORRETA:

a) Na ação civil pública que visa à tutela de danos de âmbito nacional ou regional é
competente para a causa a justiça local no foro da Capital do Estado ou no do Distrito
Federal.

b) Ao microssistema de processo coletivo se aplica regularmente a regra de que, em


princípio, não se pode conhecer a incompetência relativa de ofício.

c) Compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal,
processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo, tratando-se de
exemplo emblemático de competência por delegação.

d) A competência do local do dano para as ações coletivas é absoluta.

e) Nem sempre a competência para processo e julgamento para ação civil pública será a
do local do dano.

COMENTÁRIO

Muito embora os temas relacionados à tutela coletiva sejam muitas vezes relegados pelos alunos, não
se pode ignorar que, atualmente, trata-se de questões de alta relevância e com debate cada vez mais
presente na seara acadêmica. Ademais, a praxe revela que, muita vez, as ferramentas ínsitas ao processo
coletivo são subutilizadas por seus titulares, notadamente pela administração pública. Tendo isso em
mente, quando for aprovado no concurso que almeja – o que decerto ocorrerá em breve se permanecer
dedicado e perseverante –, não olvide desses instrumentos, muito caros à efetiva defesa de interesses
transindividuais e também a um Judiciário mais econômico e eficiente.

Isso porque “(...) a melhor solução para a efetiva tutela dos direitos coletivos latu sensu nos litígios que

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envolvem o interesse público é aquele que garante progressivamente a legitimação mista e plúrima, tanto
de entes públicos quanto privados (...). Portanto, muito embora possam ocorrer distorções (...), continua
amplamente válido o brocardo: Republicae interest quam plurimus ad defendam suam causa (interessa à
República que sejam muitos os defensores de sua causa)” (ZANETI JR., Hermes. FERRAZ, Claudio Ferreira.
A doutrina da legitimação dos órgãos do Estado para tutela coletiva in Processo Coletivo: do surgimento à
atualidade. GRINOVER, Ada Pellegrinnni, et al, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 1107).

Passemos à análise das alternativas.

Alternativa (A): correta. A alternativa parafraseia o texto hospedado no art. 93, II, do Código de
Defesa do Consumidor, que irradia a regra de competência para todos os procedimentos que compõe o
microssistema de processo coletivo. Eis a disposição legal:

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça
local: (...) II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de
âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
competência concorrente.

Alternativa (B): correta. Como se sabe, a incompetência relativa não pode ser conhecida de ofício, na
forma do art. 65 do Código de Processo Civil de 2015 (“Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu
não alegar a incompetência em preliminar de contestação”) e por força da súmula n. 33 do Superior
Tribunal de Justiça (“A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”). E essa rega se aplica
regularmente ao microssistema de processo coletivo, não havendo particularidades nesse aspecto.

Alternativa (C): incorreta. O Superior Tribunal de Justiça, em sua Súmula de n. 183, fixou o entendimento
de que “Compete ao juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar
e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo”. Entretanto, ao enfrentar a matéria, o
Supremo Tribunal Federal deliberou pelo cancelamento da súmula do Superior Tribunal de Justiça, por
não haver autorizativo legal para a delegação de competência construída pelo STJ. E assim foi feito, de
modo que a súmula referida, reproduzida na alternativa, encontra-se revogada.

Com mais detalhes: “em razão do julgamento do Recurso Extraordinário n. 228.955-9, proferido pelo
Plenário do STF, a Seção do STJ cancelou a mencionada súmula [n. 183 do STJ] no julgamento dos
embargos declaratórios interpostos no CC 27.676-BA (...)” (DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso
de Direito Processual Civil: Processo Coletivo. V. 4. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 142).

Dessa forma, atualmente, “nas causas [coletivas] em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto das de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, a competência será da
Justiça do Trabalho, a competência será da Justiça Federal do local do dano. Ressalvada essa regra, os
demais casos deverão ser resolvidos pelo art. 93, I e II, do CDC.” (LENZA, Pedro. Teoria Geral da Ação Civil
Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 3ª ed., 2008, p. 288).

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Alternativa (D): correta. A competência do local do dano para as ações coletivas é absoluta, na forma
do art. 2º da Lei n. 7.347/85, segundo o qual “As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do
local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa”. E,
“do texto, surge conclusão induvidosa: competência territorial para a ação civil pública é absoluta. A lei
qualifica a competência do foro do local do dano como funcional, exatamente para que não paire dúvida
sobre a natureza de ordem pública dessa regra” (DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito
Processual Civil: Processo Coletivo. V. 4. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 141 – g.n.).

Também à vista desse dispositivo, afirma-se que: “O que determina a competência absoluta – e não
funcional – do local do dano é a natureza do direito controvertido (direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos)” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p.
190).

Alternativa (E): correta. A regra de que a competência para processo e julgamento para ação civil
pública será a do local do dano comporta exceções. Ela “será afastada no caso concreto na hipótese
em que a demanda coletiva versar sobre matéria tutelada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,
quando a competência será do local do ato ou omissão (art. 209 da Lei n. 8.069/1990 – ECA) ou quando
tutelar direito de idoso, quando a aplicação será do local de seu domicílio (art. 80 da Lei n. 10.741/2003 –
Estatuto do Idoso)” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p.
190). É dizer, nas demandas coletivas ordinariamente iniciadas pelas entidades da administração pública,
deve-se aplicar, sempre, a regra-geral.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

14. De acordo com as disposições do Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/15 com as
alterações da Lei n. 13.256/16) e com o entendimento jurisprudencial dominante, julgue as
seguintes assertivas a respeito dos procedimentos especiais:

I. É inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo


retardamento do início ou da ultimação do inventário.

II. Se os autos desaparecerem em tribunal, a ação de restauração de autos respectiva


deve ser proposta no juízo de primeiro grau em que tramitaram inicialmente, caso não se
trate de ação originária.

III. Se munido de título executivo extrajudicial, o credor não pode se valer da ação
monitória, porquanto destituído de interesse, no particular da utilidade.

IV. É possível a revisão de cláusulas contratuais na ação de consignação em pagamento.

V. A existência de dívida para com a Fazenda Pública não impede o julgamento da partilha

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no inventário, contanto que o seu pagamento esteja devidamente garantido.

Está CORRETO apenas o que se afirma em:

a) I e IV.

b) IV e V.

c) II e V.

d) I, II e III.

e) III, IV e V.

COMENTÁRIO

Assertiva (I): incorreta. A teor da Súmula n. 542 do Supremo Tribunal Federal: “Não é inconstitucional
a multa instituída pelo Estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do
inventário”.

Assertiva (II): incorreta. Prevê o art. 717, caput, do Código de Processo Civil que: “Se o desaparecimento
dos autos tiver ocorrido no tribunal, o processo de restauração será distribuído, sempre que possível, ao
relator do processo”. Logo, “Como se nota do dispositivo legal nesse caso, estando processo em grau
recursal, a competência não será do juízo de primeiro grau, que ficará limitado a cumprir carta de ordem
expedida pelo tribunal para praticar atos materiais que auxiliem na restauração, tais como a repetição
de oitiva de testemunha, depoimento pessoal ou prova pericial” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 962).

Assertiva (III) incorreta. Inicialmente, convém ter em mente que “costuma a doutrina afirmar que a
característica principal do procedimento monitório é a oportunidade concedida ao credor de, munido de
uma prova literal representativa de seu crédito, abreviar o iter processual para a obtenção de um título
executivo” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 923).
Dessa forma, o autor pode ingressar diretamente com a demanda monitória e, não sendo apresentados
embargos ao mandado monitório, obterá seu título executivo em menor tempo em comparação ao
procedimento regular de conhecimento.

Nada obstante, na forma do art. 785 do Código de Processo Civil de 2015, “a existência de título executivo
extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo
judicial”.

A esse respeito, afirma-se que “o interesse do autor na utilização do procedimento especial monitório
é o de obter um título executivo judicial. Eis a finalidade da ação monitória. Significa que cabe a ação
monitória mesmo que o autor disponha de título executivo extrajudicial. (CUNHA, Leonardo

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Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo, 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 491 – g.n.).

A respeito da monitória proposta pela Fazenda Pública:

(...) nada impede que a Fazenda Pública, em vez de inscrever o crédito em dívida ativa,
proponha ação monitória, desde que disponha de prova escrita do crédito, a fim de obter um
título judicial e promover, em seguida, um cumprimento de sentença. Isso porque (...) quem
dispõe de título executivo extrajudicial pode, mesmo assim, propor ação monitória. (CUNHA,
Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo, 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p.
498-499).

Assertiva (IV): correta. Conforme entendimento firmado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, é
ampla a convicção na ação de consignação em pagamento, de modo a se permitir a revisão de cláusulas
contratuais em seu bojo. Eis a ementa do respectivo leading case:

Processual civil. Recurso especial. Dissídio jurisprudencial. Comprovação. Acórdão recorrido.


Fundamento inatacado. Cumulação de pedidos. Consignação em pagamento e revisão de
cláusulas contratuais. Possibilidade. Emprego do procedimento ordinário. - Comprova-se o
dissídio jurisprudencial com a cópia dos acórdãos paradigmas ou a menção do repositório
oficial nos quais estejam publicados. - O recurso especial deve atacar os fundamentos do
acórdão recorrido. - Admite-se a cumulação dos pedidos de revisão de cláusulas do contrato
e de consignação em pagamento das parcelas tidas como devidas por força do mesmo
negócio jurídico. - Quando o autor opta por cumular pedidos que possuem procedimentos
judiciais diversos, implicitamente requer o emprego do procedimento ordinário. - Recurso
especial não conhecido (REsp 464439/GO. TERCEIRA TURMA. Relator(a) Ministra NANCY
ANDRIGHI (1118). DJ 23/06/2003).

É nesse sentido que se deve “(...) considerar superada a antiga concepção da consignatória como ‘execução
inversa’, que tornava inadmissível discussão sobre validade e interpretação de cláusulas contratuais. A
jurisprudência atual é firme no sentido de que a ação comporta ampla discussão sobre a natureza, a
origem e o valor da obrigação, quando controvertidos, podendo o debate, de tal sorte, versar sobre o
an e o quantum debeatur, ‘mesmo que se tenha que examinar intrincados aspectos de fato e complexas
questões de direito’” (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Procedimentos
especiais, v. III, 50ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 56).

Assertiva (V): correta. A assertiva reproduz, literalmente, a disposição do art. 654, parágrafo único, o
Código de Processo Civil de 2015, cuja íntegra segue:

Art. 654. Pago o imposto de transmissão a título de morte e juntada aos autos certidão ou
informação negativa de dívida para com a Fazenda Pública, o juiz julgará por sentença a
partilha.

Parágrafo único. A existência de dívida para com a Fazenda Pública não impedirá o julgamento

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da partilha, desde que o seu pagamento esteja devidamente garantido.

E, parafraseando a disposição legal, assim leciona Humberto Theodoro Júnior: “Comprovado o pagamento
do imposto de transmissão causa mortis, assim como a regularidade da situação do espólio em face dos
compromissos tributários em geral, a partilha deverá ser julgada por sentença (NCPC, art. 654). Entretanto,
eventual apontamento de débitos com a fazenda não impede o julgamento da partilha, desde que seu
pagamento esteja garantido mediante destacamento de parte da herança (art. 654, parágrafo único)”
(THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Procedimentos especiais, v. III, 50ª ed, Rio
de Janeiro: Forense, 2016, p. 287)

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

15. Nas imediações de determinado município, banhado por diversos afluentes de importantes
rios nacionais, há várias represas, que constituem uma das maiores fontes de lazer na região.
À margem esquerda de um rio com curso de água com mais de 200 metros de largura, em
área de preservação permanente, foram construídos setenta e cinco casas de veraneio, bares
e restaurantes. Essa situação foi apurada em procedimento administrativo levado a efeito pelo
respectivo órgão estadual de meio ambiente. Após autuação administrativa e imposição de multa,
os fatos foram levados a conhecimento da Procuradoria-Geral do Estado respectivo, o Estado
E, decidindo-se pelo ajuizamento de ação civil pública pelo Estado, à vista da gravidade dos
fatos. Na ação, postulou-se a desocupação da área de preservação permanente e o pagamento
de indenização. Com a ação coletiva em fase de instrução, o Ministério Público do Estado, que
paralelamente havia iniciado um procedimento investigativo a respeito dos mesmos fatos, ajuizou
outra ação civil pública, em face dos mesmos indivíduos, postulando a desocupação da área de
preservação permanente, a demolição das construções e o reflorestamento da região afetada. A
respeito desse cenário fático hipotético, assinale a única alternativa CORRETA:

a) Não se opera litispendência no caso, à falta de tríplice identidade, por não haver
identidade de partes e de pedido.

b) O Estado não possui legitimidade para ajuizar a ação civil pública no caso em exame,
de modo que se deve extinguir a primeira ação, sem resolução de mérito, mantendo-se
apenas a segunda.

c) Não há litispendência no caso, mas mera conexão, razão pela qual ambos os processos
devem ser reunidos no juízo prevento.

d) A ação ajuizada pelo Ministério Público Estadual deve ser extinta, sem resolução de
mérito, ante a ocorrência de litispendência.

e) Há litispendência na situação narrada, razão pela qual ambos os processos devem ser

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reunidos no juízo prevento.

COMENTÁRIO

A análise da identificação entre ações coletivas se afigura bastante peculiar, não possuindo paralelo
perfeito com o que se observa do processo individual. Neste, uma ação é idêntica a outra quando possui
(i) as mesmas partes, (ii) a mesma causa de pedir e (iii) o mesmo pedido (art. 337, §2º, do NCP). Naquele,
a legitimidade ad causam ativa é extraordinária, concorrente e disjuntiva, o que possibilita que mais de
um legitimado ajuíze a ação coletiva em decorrência de fatos já judicializados por outro. Nessa hipótese,
há identidade de partes, pois o substituído processual (a coletividade) está em juízo mais de uma vez pelo
mesmo motivo – (i). Ademais, em vez de se averiguar a similitude de causa de pedir e de pedidos – (ii)
e (iii) –, deve-se verificar se está em juízo, mais de uma vez, a mesma situação jurídica substancialmente
deduzida. Vejamos a seguir, com mais detalhes, essa situação.

Alternativas (A) e (C): incorretas. Como já adiantado acima, as ações são idênticas quanto às partes.
Isso porque o Ministério Público do Estado E não atua na defesa de direito próprio, mas de toda a
coletividade. Também o Estado E não busca tutelar direito próprio, da pessoa jurídica de direito público,
mas tutela direito de todos os indivíduos potencialmente atingidos pela lesão ambiental. Nessa linha,
se mais de um legitimado ativo propõe ação para a defesa do mesmo direito coletivo, conclui-se pela
identidade das partes. Em abono:

(...) é possível que uma mesma ação coletiva possa ser proposta por diferentes legitimados
ativos. É possível, portanto, que haja litispendência sem identidade entre as partes autoras. A
identidade da parte autora é irrelevante para a configuração da litispendência coletiva (DIDIER
JR, Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil: Processo Coletivo. V. 4. 4ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2009, p. 175).

No que toca à identidade de pedidos e causa de pedir, aqui substituída pela dedução da mesma situação
jurídica, deve-se repisar que “se a mesma situação controvertida for apresentada para solução jurisdicional
em processos diversos, há litispendência. Há litispendência quando se busca o reconhecimento da
efetivação de uma mesma situação jurídica ativa (baseada nos mesmos fatos), em processos diferentes.
(...) Confira-se esse exemplo. Uma determinada lesão ao meio-ambiente pode gerar um processo em que
se pede ressarcimento pecuniário do dano ambiental; um outro legitimado pode propor ação coletiva
em que se pede o ressarcimento do dano ambiental, mas na forma específica, e não em dinheiro (...). Há
litispendência entre essas ações coletivas (...), pois em ambas discute-se a mesma situação jurídica ativa,
decorrente do mesmo fato jurídico: o direito coletivo de ressarcimento dos prejuízos ambientais” (DIDIER
JR, Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil: Processo Coletivo. V. 4. 4ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2009, p. 176).

Destarte, salta aos olhos que há, sim, litispendência no caso. Nisso repousa o equívoco tanto da alternativa
(A) como da alternativa (C).

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Alternativa (B): incorreta. Na forma do art. 5º da Lei n. 7.347/85, reproduzido em maior ou menor
medida pelos demais diplomas que compõem o microssistema de processo coletivo:

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (...)

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Município (...) – g.n.

Alternativa (D): incorreta. Realmente, tal qual já foi afirmado, há litispendência na situação narrada
no enunciado da questão. Ocorre, todavia, que, nos processos coletivos, a litispendência não acarreta
a extinção do processo quando não são ajuizados pelo mesmo legitimado coletivo, como na situação
narrada. Daí porque está errada a assertiva.

A litispendência é um instituto processual que possui outros efeitos além da extinção do segundo processo
sem julgamento de mérito, notadamente quando se trata de ações coletivas. É lapidar, a esse respeito, a
seguinte lição:

Normalmente costuma-se atribuir à litispendência o efeito de extinguir o segundo processo


(...). Muito embora a nossa legislação seja omissa a respeito, essa será a consequência
quando houver litispendência entre causas coletivas, com tríplice identidade dos elementos
da demanda. Trata-se de solução geral, cuja aplicação não é incompatível ao âmbito da tutela
coletiva.

Quando ocorrer litispendência com partes diversas, porém, a solução não poderá ser a extinção
de um dos processos, mas sim, a reunião deles para processamento simultâneo. É que de
nada adiantaria extinguir um dos processos, pois a parte autora, como co-legitimada, poderia
intervir no processo supérstite, na qualidade de assistente litisconsorcial. Por uma medida
de economia, se isso for possível (se houver compatibilidade do procedimento e respeito às
regras de competência absoluta), os feitos devem ser reunidos. É muito mais prático e rápido
reunir as causas do que extinguir um dos processos e permitir que o legitimado peça para
intervir no processo que sobreviveu, requerimento que dará ensejo a um incidente processual,
com ouvida das partes e a possibilidade de interposição, ao menos teórica, de algum recurso
(DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil: Processo Coletivo. V.
4. 4ª ed. Salvador: Juspodivm, 2009, p. 176).

Em suma e em conclusão, em casos como o examinado, a litispendência enseja a reunião dos processos
no juízo prevento. À luz do acima exposto, não se afigura adequada ou desejada a extinção de um deles.

Alternativa (E): correta. De fato, há litispendência na situação narrada, razão pela qual ambos os
processos devem ser reunidos no juízo prevento. Já se afirmou à exaustão que há, sim, litispendência no
caso narrado. Quanto aos efeitos da litispendência na dinâmica das tutelas coletivas, como já afirmado
também, os processos deverão ser reunidos no juízo prevento.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

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PROFESSOR: RODOLFO CURSINO


E-mail: profcei.rodolfocursino@gmail.com

DIREITO AMBIENTAL

16. Sobre a Avaliação de Impactos Ambientais, o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de


Impacto Ambiental, assinale a alternativa incorreta:

a) A avaliação de impactos ambientais é gênero, do qual são espécies, dentre outros, o


relatório ambiental, o plano de manejo e o estudo de impacto ambiental, acompanhado do
relatório de impacto ambiental.

b) O estudo de impactos ambientais pode ser considerado como uma aplicação do princípio
da prevenção.

c) Com base na disposição da Constituição Federal de 1988, o estudo de impacto ambiental


apenas deve ser exigido quando a atividade for potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental, sendo que, para o CONAMA, há casos em que se presume a
existência de significativa degradação para algumas atividades.

d) No âmbito doutrinário, pacificou-se o entendimento de que a conclusão do estudo de


impacto ambiental vincula a decisão do órgão ambiental competente.

e) O Relatório de Impacto Ambiental busca, através de linguagem clara e simples,


demonstrar as conclusões do estudo, explicitando as vantagens e desvantagens do projeto,
bem como todas as consequências ambientais de sua implementação.

COMENTÁRIO

A questão versou sobre o EIA, instrumento de grande importância para o Direito Ambiental e com
enorme probabilidade de vir a ser cobrado nas provas de procuradorias.

Alternativa (A): correta. A Avaliação de Impactos Ambientais (art. 9º, inciso III, da LPNMA) é gênero,
sendo espécies desta avaliação o EIA, o plano de manejo, o relatório ambiental, o plano e o projeto de
controle ambiental, o Plano de Recuperação da Área Degradada, o Diagnóstico ambiental, etc.

Alternativa (B): correta. O EIA é o típico exemplo de aplicação do princípio da prevenção, por buscar um
conhecimento prévio sobre o potencial de impacto de uma determinada atividade, de forma a se impor
as medidas necessárias à redução ou eliminação dos efeitos negativos dos impactos.

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Alternativa (C): correta. De fato, isto é o que dispõe a CF/88. Ademais, o CONAMA, por meio da
Resolução CONAMA 01/86, elencou, de forma exemplificativa, diversas atividades em que se presume a
degradação, exigindo-se a realização do EIA.

Alternativa (D): incorreta. O entendimento doutrinário firmou-se em sentido contrário ao disposto


na assertiva. O EIA não vincula a decisão do órgão ambiental, apenas servindo como subsídio ao
procedimento de licenciamento ambiental.

Alternativa (E): correta. É exatamente o que busca o RIMA. Frise-se que a linguagem clara objetiva
efetivar o princípio da informação e o princípio democrático, possibilitando a compreensão por parte da
sociedade acerca das consequências da atividade ali analisada.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

17. Sobre a Responsabilidade Administrativa Ambiental, considere a seguinte situação hipotética:

“João, ao passear pela praça de seu bairro, verificou que a empresa SOU SUJA LTDA estava
despejando resíduos em um córrego. Imediatamente, João escreveu uma carta anônima e
encaminhou à autoridade ambiental competente”.

De acordo com o exposto, com o entendimento doutrinário, jurisprudencial e a legislação do


Direito Ambiental, assinale a alternativa incorreta.

a) Embora João pudesse, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento


ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores,
dirigir representação ao órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização
ambiental, a legislação apenas assegura tal direito quando a pessoa for legalmente
identificada, vedando-se, assim, o anonimato.

b) De acordo com a legislação, a autoridade ambiental, quando tiver conhecimento de


uma infração ambiental, é obrigada a promover a sua apuração imediata. Não o fazendo, a
autoridade poderá ser considerada corresponsável.

c) Ainda que a autoridade verifique que a conduta de SOU SUJA LTDA esteja, de fato,
ocasionando danos ao meio ambiente, não poderá imputar a responsabilidade administrativa
caso a conduta não se encontre tipificada nas normas de proteção ao meio ambiente.

d) A despeito da controvérsia doutrinária acerca da natureza da responsabilidade


administrativa, recentemente, o Superior Tribunal de Justiça passou a adotar a teoria
subjetiva, de forma que, diferentemente da esfera cível, deve-se comprovar o dolo ou a
culpa do infrator.

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e) É possível seja dada publicidade a eventual sanção administrativa aplicada em face de


SOU SUJA LTDA, em virtude de ilícito ambiental.

COMENTÁRIO

A questão objetivou revisarmos a responsabilidade administrativa em matéria ambiental, aplicando-a a


um caso concreto.

Alternativa (A): correta. A assertiva está de acordo com o que dispõe o artigo 17, §1º, da LC nº 140/11.

Alternativa (B): correta. A assertiva está de acordo com o que dispõe o artigo 70, §3º, da Lei nº 9605/98,
destacando-se, assim, a importância da atividade exercida pelas autoridades ambientais e da consequência
do não cumprimento de suas funções.

Alternativa (C): correta. A despeito da importância da proteção do Direito Ambiental, o Superior Tribunal
de Justiça entende que a imposição de sanções administrativas, por violar a esfera do cidadão, depende
da legalidade estrita, de forma que, mesmo no âmbito do Poder de Polícia, as penalidades devem estar
devidamente tipificadas nas normas de proteção ao meio ambiente.

Alternativa (D): incorreta. No âmbito administrativo, entende o Superior Tribunal de Justiça que vigora a
responsabilidade objetiva. Vejamos recente julgado, publicado no Informativo nº 561/2015:

1. A responsabilidade administrativa ambiental é objetiva. Deveras, esse preceito foi


expressamente inserido no nosso ordenamento com a edição da Lei de Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei n. 6.938/1981). Tanto é assim, que o § 1º do art. 14 do diploma em foco
define que o poluidor é obrigado, sem que haja a exclusão das penalidades, a indenizar ou
reparar os danos, independentemente da existência de culpa. Precedente: REsp 467.212/RJ,
Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 15/12/2003. (...) (REsp 1318051/RJ, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 12/05/2015)

Alternativa (E): correta. Não só é possível, como os órgãos integrantes do SISNAMA são obrigados
a conferir, trimestralmente, a publicidade dessas sanções, que são divulgadas no site do SISNAMA, na
internet.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

DIREITO TRIBUTÁRIO

18. Sobre garantias e privilégios do crédito tributário, assinale a alternativa correta:

a) Dentre as garantias do crédito tributário, encontra-se a fraude à execução fiscal,


caracterizada, dentre outros casos, pela alienação de bens quando pendente crédito
tributário regularmente inscrito em dívida ativa, devendo a Fazenda Pública comprovar

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o registro da penhora do bem alienado ou a má-fé do terceiro adquirente, com o fim de


buscar a declaração de ineficácia do negócio jurídico.

b) O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo
de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do
acidente de trabalho, bem como os créditos com garantia real.

c) Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida sem prova


da suspensão da exigibilidade ou da quitação de todos os tributos relativos aos bens do
espólio, ou às suas rendas.

d) Para que pleiteie a indisponibilidade de bens, é necessário que a Fazenda Pública


comprove que foram esgotados todos os meios e diligências possíveis na busca de bens
penhoráveis.

e) Excetuados os bens gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou


impenhorabilidade, o sujeito passivo responde pelo pagamento do crédito tributário com
a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza.

COMENTÁRIO

A questão versou sobre importantes institutos do Direito Tributário, as garantias e privilégios do crédito
tributário, cujo conhecimento é essencial para aquele que atuará na defesa dos interesses das Fazendas
Públicas.

Alternativa (A): incorreta. Os elementos de má-fé, intuito fraudulento e registro de penhora são aplicáveis,
apenas, à fraude à execução prevista no Código de Processo Civil. Assim, não se aplicam à Fazenda os
dizeres da Súmula 375/STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora
do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”.

Neste sentido, o STJ, por meio do Recurso Repetitivo REsp nº 1.141.990/PR, entendeu pela inaplicabilidade
deste enunciado de súmula às execuções fiscais, sob o argumento de ser o instituto fiscal regulado por
lei especial sobre a matéria, prevalecendo, portanto, sobre a regra geral do âmbito cível. Assim, no que
tange à fraude à execução fiscal, não se exigem os requisitos da prévia penhora registrada ou da prova da
má-fé, a fraude é presumida de forma absoluta (jure et de jure) a partir da mera alienação/oneração após
a inscrição em dívida ativa, devendo-se comprovar apenas este requisito temporal objetivo. Ademais,
definiu a Corte que “a diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude fiscal justifica-se pelo fato
de que, na primeira hipótese, afronta-se interesse privado, ao passo que, na segunda, interesse público,
porquanto o recolhimento dos tributos serve à satisfação das necessidades coletivas”.

Alternativa (B): incorreta. Conforme artigo 186, do Código Tributário Nacional, O crédito tributário
prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os

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créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. Ou seja, aqui não se incluem
os créditos com garantia real, que apenas preferem sobre os tributários na falência.

Alternativa (C): incorreta. Nos termos do artigo 192, do CTN, não se exige a suspensão da exigibilidade,
mas apenas a quitação de todos os tributos para os fins mencionados na assertiva.

Alternativa (D): correta. A indisponibilidade de bens corresponde a uma garantia da Fazenda Pública,
expressa no artigo 185-A, do Código Tributário Nacional. Conforme entendimento firmado pelo Superior
Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Repetitivo, apenas é possível o requerimento da indisponibilidade
e a aplicação do mencionado dispositivo quando for comprovada, pela Fazenda, o esgotamento de
diligências para localização de bens do devedor.

“1. Para efeitos de aplicação do disposto no art. 543-C do CPC, e levando em consideração o
entendimento consolidado por esta Corte Superior de Justiça, firma-se compreensão no sentido
de que a indisponibilidade de bens e direitos autorizada pelo art. 185-A do CTN depende
da observância dos seguintes requisitos: (i) citação do devedor tributário; (ii) inexistência de
pagamento ou apresentação de bens à penhora no prazo legal; e (iii) a não localização de bens
penhoráveis após esgotamento das diligências realizadas pela Fazenda, caracterizado quando
houver nos autos (a) pedido de acionamento do Bacen Jud e consequente determinação pelo
magistrado e (b) a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao
Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.” (REsp 1377507/
SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 02/12/2014)

Alternativa (E): incorreta. Conforme o artigo 184, do CTN, também respondem pelo pagamento do
crédito tributário os bens gravados com ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

19. Sobre a constituição do crédito tributário, considere a seguinte situação hipotética:

“A empresa COMERCIAL LTDA entregou declaração, afirmando ser devedora de ICMS no valor de
R$10.000,00, procedendo, no entanto, ao recolhimento de apenas 50% do valor declarado. Em
análise desta declaração, o Fisco constatou que a empresa declarou a menor, omitindo R$2.000,00
do imposto devido”.

De acordo com o exposto e com o entendimento firmado pela doutrina e pela jurisprudência,
julgue os seguintes itens:

I. No que tange aos R$10.000,00, uma vez que fora resultante de declaração de lavra da
própria empresa, não corre para o Fisco o prazo decadencial para sua constituição.

II. No que se refere aos valores declarados e não recolhidos, inicia-se para a Fazenda

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Pública, a contar do vencimento ou da entrega da declaração, o prazo de cinco anos para o


ajuizamento da respectiva execução fiscal.

III. Embora omitida, por derivar da declaração entregue, entende-se que os R$2.000,00
se encontram devidamente constituídos, não havendo que se falar em fluência de prazo
decadencial para o Fisco.

IV. Apesar de o ICMS ser imposto tipicamente constituído por lançamento por
homologação, no caso narrado, para parte dos valores, faz-se necessário o lançamento de
ofício.

Assinale a única alternativa em todos os itens se encontram corretos:

a) I, II e IV.

b) II e IV.

c) I e IV.

d) III e IV.

e) I e IIII.

COMENTÁRIO

Através de uma questão prática, buscamos a revisão do tema constituição do crédito tributário,
rememorando importantes entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, de grande incidência nos
concursos públicos.

Item (I): correta. No caso proposto, o crédito fora constituído por entrega de declaração (DCTF), sendo
entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça não só que a entrega da declaração constitui o
crédito, como que, após a sua declaração, não há mais nenhuma providência a ser adotada pelo Fisco,
iniciando-se o prazo de prescrição. Neste sentido:

Súmula 436: “A entrega de declaração pelo contribuinte, reconhecendo o débito fiscal, constitui
o crédito tributário, dispensada qualquer outra providencia por parte do Fisco”.

Item (II): correta. Estando os valores devidamente constituídos pela entrega da declaração, inicia-se,
de fato o prazo prescricional de cinco anos para a Fazenda ajuizar a execução fiscal. Atente-se, ainda,
que, para o STJ (REsp 1120295/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010, DJe
21/05/2010), o termo inicial do prazo prescricional, nos tributos constituídos pela entrega da declaração,
poder ser a data de vencimento do tributo ou a entrega da declaração, o que ocorrer por último,
entendimento que favorece a Fazenda.

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Item (III): incorreta. Ao analisar a declaração, tendo o Fisco encontrado omissões nos valores ali
declarados, deve proceder à constituição deste crédito a partir de lançamento de ofício, fluindo-se o
prazo decadencial.

Item (IV): correta. Conforme item III, haverá necessidade de lançamento de ofício para os valores omitidos.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

20. Sobre o parcelamento do crédito tributário, assinale a alternativa errada:

a) O parcelamento possui o efeito de interromper o prazo prescricional.

b) Para fins de denúncia espontânea, não se admite o parcelamento do crédito tributário.

c) Por consistir em verdadeira causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o


parcelamento, em regra, impede a inclusão de juros e multas.

d) Em regra, para os casos de recuperação judicial, o parcelamento dependerá de previsão


em lei específica.

e) Ainda que o crédito se encontre parcelado, o sujeito passivo deve cumprir com as
respectivas obrigações acessórias.

COMENTÁRIO

Analisamos, aqui, o tema suspensão da exigibilidade do crédito tributário, em especial o parcelamento,


instituto de grande relevância prática e teórica para as atividades das procuradorias.

Alternativa (A): correta. Conforme entendimento firmado na doutrina e na jurisprudência, exemplificado


na decisão do STJ, “o parcelamento, por representar ato de reconhecimento da dívida, suspende a
exigibilidade do crédito tributário e interrompe o prazo prescricional, que volta a correr no dia em que
o devedor deixa de cumprir o acordo”. (EDcl no AREsp 785.376/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2015, DJe 10/12/2015).

Alternativa (B): correta. Conforme previsão expressa do artigo 138, do Código Tributário Nacional,
aplica-se a denúncia espontânea apenas quando ocorra o pagamento ou o depósito do valor. Ademais,
conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça em sede Recurso Repetitivo, o parcelamento não
é equiparado a pagamento para fins de denúncia espontânea:

“1. O instituto da denúncia espontânea (art. 138 do CTN) não se aplica nos casos de
parcelamento de débito tributário. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 22/04/2009, DJe 18/05/2009)”.

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Alternativa (C): incorreta. Conforme art. 155-A, §1º, do CTN, salvo disposição de lei em contrário, o
parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas.

Alternativa (D): correta. É o que dispõe o artigo. 155-A, §3º, do CTN.

Alternativa (E): correta. De acordo com o artigo 151, do CTN, que regula as hipóteses de suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, em seu parágrafo único, tais hipóteses não dispensam o cumprimento
das obrigações assessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela
consequentes.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

PROFESSOR: GUSTAVO CARMINATTI


E-mail: profcei.gustavocarminatti@gmail.com

DIREITO ADMINISTRATIVO

21. Cuidando das agências reguladoras, marque a alternativa correta:

a) As agências reguladoras são novas entidades jurídicas acrescentadas à estrutura formal


da administração pública, não se enquadrando sua natureza na das entidades até então
existentes.

b) Não é possível que uma agência reguladora seja qualificada como agência executiva.

c) Uma das principais características que visam a garantir autonomia às agências reguladoras
é a existência de mandato com prazo determinado para os Conselheiros e Diretores, que
somente poderão ser destituídos do cargo em caso de renúncia, de condenação judicial
transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar, podendo a lei de criação
da agência prever outras condições para a perda do mandato.

d) O ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer


serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de quatro anos, contados
da exoneração ou do término do seu mandato.

e) Não é possível a edição, pelas agências reguladoras, de atos normativos, devendo toda
sua atuação possuir expressa previsão legal.

COMENTÁRIO

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Caros alunos, as agências reguladoras foram instituídas no Brasil visando a modernizar o serviço público,
especialmente no tocante à atividade regulatória, que demanda conhecimento técnico acima do comum
e exige certa independência das agências para que possam exatamente decidir com base em critérios
técnicos e não políticos. A matéria costuma aparecer nas provas da advocacia pública e, por isso,
procuramos abordar os pontos mais importantes da temática cobrada.

Alternativa (A): incorreta. Comenta a doutrina: “(...) as agências reguladoras brasileiras não são novas
entidades jurídicas acrescentadas à estrutura formal da administração pública. As leis que vêm
instituindo essas agências têm-lhes conferido a forma de autarquias sob regime especial. Trata-se,
portanto, de entidade há muito disciplinada em nosso ordenamento jurídico, integrante da administração
pública indireta formal, nos termos delineados pelo Decreto-Lei 200/1 967 – e encampados pela Carta
de 1988.” (PAULO, Vicente. ALEXANDRINO, Marcelo. 23ª ed. Direito Administrativo Descomplicado. São
Paulo: Método, 2015. p. 181). A título de exemplo, a Lei nº 9.472/97 que criou a ANATEL e a Lei nº 9.478/97
que criou a ANP fizeram previsão de natureza jurídica de autarquia sob regime especial.

Alternativa (B): incorreta. Sendo a agência reguladora uma autarquia sob regime especial, desde que se
submeta aos requisitos do artigo 37, §8º, da Constituição Federal, é possível sua qualificação legal como
agência executiva, não havendo impedimento legal para isso.

Alternativa (C): correta. A lei nº 9.986/2000 dispõe sobre a gestão de recursos humanos das Agências
Reguladoras no âmbito federal, sendo aplicáveis aos demais entes federados em caso de omissão. O
artigo 6º da lei citada diz que o mandato dos Conselheiros e dos Diretores terá o prazo fixado na lei
de criação de cada Agência. Já o artigo 9º preconiza que os Conselheiros e os Diretores somente perderão
o mandato em caso de renúncia, de condenação judicial transitada em julgado ou de processo
administrativo disciplinar. Por sua vez, o parágrafo único diz que a lei de criação da Agência poderá
prever outras condições para a perda do mandato. É possível, portanto, que, conforme a agência
reguladora, seja alterado o grau de limitação à liberdade do Presidente da República para exonerar ou
destituir os respectivos dirigentes.

Alternativa (D): incorreta. O erro da questão está no prazo de quarentena previsto no artigo 8º da
lei nº 9.986/2000, que é de 04 (quatro) meses. Sempre lembrando que a lei criadora da agência
pode prever prazo diverso. O dispositivo trata do instituto da quarentena e do “risco da captura”. A
doutrina explica o tema:

“A expressão ‘risco de captura’ não é autoexplicativa. A maior parte dos autores fala em
“captura” para descrever a situação (observada inicialmente nos Estados Unidos) em que o
ente regulador, não sendo capaz de resistir ao imenso poder econômico dos agentes do setor
regulado, passa a atuar tendenciosamente em favor dos interesses desses agentes, ou seja, o
ente regulador converte-se praticamente em um representante dos interesses das empresas
do setor regulado, em detrimento dos consumidores e usuários dos bens e serviços e do
próprio Estado. Na opinião do Prof. Floriano Azevedo Marques Neto, um dos mais eficazes

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instrumentos para a concretização da necessária independência dos órgãos reguladores


perante os agentes econômicos exploradores da atividade regulada ‘são os mecanismos de
impedimento do recrutamento, pelos regulados, de quadros dirigentes do órgão regulador (a
chamada quarentena)’. Caso não exista essa proibição de que o ex-dirigente do ente regulador,
nos meses seguintes à sua exoneração, seja contratado por empresas do setor por ele regulado,
a quantidade de informações privilegiadas que o ex-dirigente levaria consigo tomaria inexistente
a distinção entre os interesses de regulador e regulados.” (PAULO, Vicente. ALEXANDRINO,
Marcelo. 23ª ed. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo: Método, 2015. p. 191).

Alternativa (E): incorreta. Um dos temas mais polêmicos envolvendo as agências reguladoras é o exercício
de poder normativo, de criar obrigações a partir de ato administrativo, uma vez presente o dogma do
princípio da legalidade, pelo qual somente a lei oriunda do Poder Legislativo pode criar obrigações.
Ainda, temos a possibilidade de regulamentação de leis apenas pelo Chefe do Poder Executivo, no que
não se incluiriam as agências. Apesar dos tradicionais argumentos mencionados, a doutrina majoritária
admite o uso de poder normativo pelas agências reguladoras. Esse poder normativo, que não
apenas regulamenta a lei, mas complementa suas disposições, depende de autorização na lei de
criação da agência reguladora, devem haver diretrizes mínimas para o exercício desse poder (ausência
de delegação completa), a lei deve estabelecer claramente os assuntos que podem ser objeto da atuação
normativa da agência (devem ser matérias de índole técnica). Por fim, toda atuação normativa das agências
reguladoras está sujeita a permanente controle legislativo (CF, art. 49, V e X) e ao controle judicial. Supera
os argumentos tradicionais o fato incontestável da complexidade das relações atuais, especialmente as
que dizem respeito aos setores regulados, verificando-se uma justificativa plausível à aceitação de que
órgãos ou entidades especializados em determinado assunto editem normas desde que de natureza
estritamente técnica.

GABARITO: ALTERNATIVA (C)

22. Acerca das formas de provimento dos servidores públicos, assinale a alternativa correta:

a) Readaptação é a forma de provimento mediante a qual o servidor, estável ou não, tendo


sofrido uma limitação física ou mental em suas habilidades, torna-se inapto para o exercício
do cargo que ocupa, mas, não configurada a invalidez permanente, pode ainda exercer
outro cargo para o qual a limitação sofrida não o incapacita. Desde que possível diante
do grau de invalidez, o cargo provido por readaptação deverá ter atribuições afins às do
anterior, respeitando-se a habilitação exigida, o nível de escolaridade e a equivalência de
vencimentos.

b) Recondução é o retorno à atividade de servidor em disponibilidade, em cargo de


atribuições e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado.

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c) A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado,


quando invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento
do que teria feito jus durante o período de seu desligamento ilegal, inclusive às promoções
por antiguidade que teria obtido nesse ínterim, ressalvados os vencimentos, uma vez que
não se remunera quem não trabalhou, sob pena de enriquecimento ilícito.

d) Aproveitamento é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e


decorrerá de inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo e reintegração do
anterior ocupante.

e) Reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado.

COMENTÁRIO

Caros alunos, as formas de provimento do servidor público é matéria cotidiana na Administração Pública,
possui muitas controvérsias e pode ser objeto de cobrança nas questões que tenham objetivo de cobrar
conhecimentos a respeito das práticas e rotinas da Administração e que naturalmente implica em larga
atuação do advogado público sobre a matéria. É muito comum a cobrança nas provas com a inversão
dos conceitos, e por isso cobramos essencialmente a associação da nomenclatura dos institutos com seus
reais conceitos.

Alternativa (A): incorreta. O erro da questão está em condicionar o respeito ao nível de escolaridade,
atribuições afins e vencimentos ao grau de invalidez, o que não ocorre na lei. Disciplina o art. 22
da Lei nº 8.112 que readaptação é a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades
compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção
médica. Seu parágrafo 2º, determina que a readaptação será efetivada em cargo de atribuições
afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos e,
na hipótese de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a
ocorrência de vaga.

Alternativa (B): incorreta. A questão traz o conceito de “aproveitamento” e não do instituto da


recondução. Prevê o artigo 29 da Lei nº 8.112/90 que a recondução é o retorno do servidor estável
ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro
cargo; e II - reintegração do anterior ocupante.

Alternativa (C): incorreta. O artigo 28 da Lei nº 8.112/90 diz que a reintegração é a reinvestidura do
servidor estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua transformação, quando
invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as
vantagens. Assim, o erro da questão está em afirmar que não há direito ao recebimento dos vencimentos.
Vejamos a jurisprudência do STJ:

“(...) 2. Mandado de segurança concedido, para anular a Portaria n. 274, de 23 de outubro

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de 2009, do Ministro de Estado da Previdência Social, determinando a reintegração da


impetrante no cargo, garantidos os vencimentos, direitos e vantagens a ela inerentes, a
contar da data da publicação do ato impugnado.” (MS 15.047/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 21/10/2015).

Alternativa (D): incorreta. A questão traz o conceito de “recondução” e não do instituto do


aproveitamento. O artigo 30 da Lei nº 8.112/90 diz que o retorno à atividade de servidor em disponibilidade
far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis com
o anteriormente ocupado.

Alternativa (E): correta. É o instituto disciplinado nos artigos 25 a 27 da Lei nº 8.112/90. O retorno
pode ocorrer quando o servidor foi aposentado por invalidez, no caso da junta médica oficial declarar
insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou no interesse da administração, desde que: a) tenha
solicitado a reversão; b) a aposentadoria tenha sido voluntária; c) estável quando na atividade; d) a
aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à solicitação; e) haja cargo vago.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

23. Tratando dos consórcios públicos, assinale a alternativa correta:

a) O consórcio público constituirá associação pública, não podendo possuir natureza de


pessoa jurídica de direito privado.

b) A União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte todos
os Estados em cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados.

c) Os consórcios públicos não poderão promover desapropriações.

d) O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação, mediante lei, do


protocolo de intenções, sendo vedada a ratificação realizada com reserva, pois não se
admite consorciamento parcial ou condicional.

e) Os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante


contrato de rateio, e, formado o consórcio, os entes consorciados, isoladamente, são parte
ilegítima para exigir o cumprimento das obrigações previstas no contrato de rateio.

COMENTÁRIO

Caros alunos, o art. 241 da Constituição preceitua que “a União, os estados, o Distrito Federal e os
municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes
federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial
de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos’’. Percebe-se que

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o dispositivo constitucional atribui a cada ente federado a competência para disciplinar, por meio de lei
própria, os consórcios públicos, os convênios de cooperação e a gestão associada de serviços públicos.
De todo modo, a lei federal sobre o tema é a mais cobrada nas provas, o que não exime o aluno de
observar a lei do estado em que estiver realizando a prova. A incidência da matéria pode aumentar nas
provas dos entes federados que já praticam a consorciação com maior desenvoltura, como o Estado do
Rio de Janeiro, por exemplo.

Alternativa (A): incorretaa. Reza o artigo 1º, §1º, da Lei 11.107/2005 que a o consórcio público constituirá
associação pública ou pessoa jurídica de direito privado. Portanto, é possível que o consórcio público
ostente natureza jurídica de pessoa jurídica de direito privado. Por sua vez, o consórcio público com
personalidade jurídica de direito público, sendo uma autarquia pertencente a mais de um ente federado,
configura o que a doutrina denomina “autarquia interfederativa” ou “autarquia multifederada”. Os
consórcios públicos com personalidade jurídica de direito público integram a administração indireta de
todos os entes da Federação consorciados (art. 6º, § l º).

Alternativa (B): correta. É o que está previsto no artigo 1º, §2º, da Lei 11.107/2005. Em suma, não haverá
consórcio direto entre a União e Municípios, o que possui razão de ser do ponto de vista federativo e
institucional.

Alternativa (C): incorreta. O artigo 2º, §1º, II, da Lei nº 11.107/2005, diz que nos termos do contrato de
consórcio de direito público, o consórcio poderá promover desapropriações e instituir servidões
nos termos de declaração de utilidade ou necessidade pública, ou interesse social, realizada pelo
Poder Público. Verifica-se que o consórcio promove a desapropriação, mas a declaração de utilidade
ou necessidade pública é realizada pelo Poder Público.

Alternativa (D): incorreta. A ratificação do protocolo de intenções deve se dar por lei, e nisso a questão
está correta. O equívoco da questão está em vedar o consorciamento parcial ou condicionado. O
artigo 5º, §2º, da Lei nº 11.107/2005 diz que a ratificação pode ser realizada com reserva que, aceita
pelos demais entes subscritores, implicará consorciamento parcial ou condicional. Possível, assim, o
consorciamento parcial, desde que aceito pelos demais entes.

Alternativa (E): incorreta. De fato os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio
público mediante contrato de rateio. Contudo, o §3º do artigo 8º diz que os entes consorciados, isolados
ou em conjunto, bem como o consórcio público, são partes legítimas para exigir o cumprimento das
obrigações previstas no contrato de rateio. Portanto é legítimo que o ente consorciado atue isoladamente
para exigir o cumprimento das obrigações pactuadas no contrato de rateio.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

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DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO

24. Tratando das atribuições, competências e organização do Conselho Administrativo de Defesa


Econômica (CADE), marque a alternativa correta:

a) O CADE é constituído pelo Tribunal Administrativo de Defesa Econômica e pela


Superintendência-Geral, sendo o Tribunal Administrativo composto por um Presidente e
seis Conselheiros escolhidos dentre cidadãos com mais de 30 (trinta) anos de idade, de
notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovados pelo Senado Federal.

b) Compete à Superintendência-Geral do CADE acompanhar, permanentemente, as


atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição
dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem
econômica, podendo, para tanto, requisitar as informações e documentos necessários,
mantendo o sigilo legal, quando for o caso.

c) Compete ao Departamento de Estudos Econômicos adotar medidas preventivas que


conduzam à cessação de prática que constitua infração da ordem econômica, fixando prazo
para seu cumprimento e o valor da multa diária a ser aplicada, no caso de descumprimento.

d) A lei nº 12.529/2011 aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou


privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas, constituídas de fato
ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, salvo as que
exerçam atividade sob regime de monopólio legal.

e) Constitui infração contra a ordem econômica exercer de forma abusiva posição


dominante, presumindo-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de
empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou
quando controlar 50% (cinquenta por cento) ou mais do mercado relevante, podendo este
percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia.

COMENTÁRIO

A Lei nº 12.529/2011 trata sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. No art.
36 há a previsão de atos que constituem infrações contra a ordem econômica em razão de abuso de
poder econômico. CADE é a sigla de Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que consiste em
uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e que tem
como objetivo prevenir, fiscalizar e reprimir condutas que configurem abuso do poder econômico.

Alternativa (A): incorreta. O erro da alternativa está em não mencionar o Departamento de Estudos

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Econômicos como órgão integrante do CADE. Segundo o artigo 5º da Lei nº 12.529/2011, o Cade é
constituído pelos seguintes órgãos: I - Tribunal Administrativo de Defesa Econômica; II - Superintendência-
Geral; e III - Departamento de Estudos Econômicos. A composição do Tribunal Administrativo
apresentada na alternativa está correta, conforme o artigo 6º da lei alhures.

Alternativa (B): correta. É a competência prevista no artigo 13, II, da Lei nº 12.529/2011.

Alternativa (C): incorreta. A competência apresentada é da Superintendência-Geral (art. 13, XI) e não
do Departamento de Estudos Econômicos, que é dirigido por um Economista-Chefe, a quem incumbirá
elaborar estudos e pareceres econômicos, de ofício ou por solicitação do Plenário, do Presidente, do
Conselheiro-Relator ou do Superintendente-Geral, zelando pelo rigor e atualização técnica e científica
das decisões do órgão, conforme art. 17 da Lei nº 12.529/2011. Portanto, o DEE é um órgão de natureza
técnica específica para a área econômica, ao passo que a Superintendência-Geral possui diversas
atribuições inerentes à própria existência do CADE, sendo um órgão de auxílio executivo ao Plenário do
Tribunal Administrativo.

Alternativa (D): incorreta. O art. 31 da Lei nº 12.529/2011 diz que esta lei aplica-se às pessoas físicas ou
jurídicas de direito público ou privado, bem como a quaisquer associações de entidades ou pessoas,
constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica,
mesmo que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.

Alternativa (E): incorreta. Segundo o artigo 36, §2º, da Lei nº 12.529/2011, presume-se posição dominante
sempre que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as
condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) ou mais do mercado relevante,
podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da economia.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

25. Sobre as despesas públicas, assinale a alternativa correta:

a) O pagamento da antecipação de receita orçamentária, incluindo seus juros, é exemplo


de despesa extraorçamentária.

b) As transferências correntes, modalidade de despesa corrente, são as dotações para


despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive
para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades
de direito público ou privado.

c) Subvenções econômicas são as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio


das entidades beneficiadas, como as que se destinem a instituições públicas ou privadas de
caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa.

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d) Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de


obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização
destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações,
equipamentos e material permanente, ressalvada a constituição ou aumento do capital de
empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.

e) Consideram-se restos a pagar as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de
dezembro distinguindo-se as processadas – aquelas empenhadas e não liquidadas - das
não processadas – aquelas sequer empenhadas.

COMENTÁRIO

Os dispositivos cobrados na questão são constantemente cobrados nas provas de Direito Financeiro. É
importante que o aluno grave para as provas a disciplina da lei de responsabilidade fiscal (LRF) e da lei
nº 4.320/64, pois dessa temática se exige o conhecimento da lei seca. Reforçamos que a crise econômica
por que passa o Brasil aumenta a probabilidade de cobrança nas provas de temas de Direito Financeiro,
devendo o aluno se atentar ao momento político, econômico e jurídico do ente federado em que realizar
a prova. A banca examinadora, em regra, quer que o candidato tenha capacidade de resolver problemas
que efetivamente estão ocorrendo, por isso a necessidade de atenção à realidade do ente federado.

Alternativa (A): incorreta. O erro da questão está em incluir os juros decorrentes da antecipação
de receita orçamentária como despesa extraorçamentária, sendo que o correto é sua natureza de
despesa orçamentária. Segundo a doutrina:

“A despesa extraorçamentária é aquela que não consta do orçamento ou em seus créditos


adicionais. São valores com os quais o gestor não pode contar para fazer face aos gastos públicos
no seu exercício financeiro. (...) A antecipação de receita orçamentária (ARO), empréstimo
que se toma para pagar dentro do mesmo exercício financeiro, é um exemplo clássico de
receita extraorçamentária, e o seu pagamento, por óbvio, é despesa extraorçamentária.
Ele não é uma receita que se soma ao orçamento, mas apenas uma antecipação da receita para
suprir déficit financeiro, e que, com a sua realização, deverá haver o pagamento do empréstimo
correspondente. Computá-lo como receita orçamentária significaria levar em conta o seu valor
por duas vezes, o que não é possível. Cumpre registrar que, enquanto a amortização
da dívida principal da ARO é uma despesa extraorçamentária, o pagamento dos seus
juros é uma despesa orçamentária, visto que deve estar incluído no orçamento.” (LEITE,
Harrison. Manual de Direito Financeiro. 5ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 260-261).

Alternativa (B): correta. É a redação exata do art. 12, §2º, da Lei nº 4.320/64, que diz que se classificam
como transferências correntes as dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação
direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação

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de outras entidades de direito público ou privado. Incluem-se aqui as despesas com aposentados, pois
não mais trabalham para o poder público, ou seja, não há contraprestação de serviço.

Alternativa (C): incorreta. A alternativa prevê a hipótese de subvenção social, e não econômica.
Essa distinção deve ser conhecida pelos alunos. O art. 12, §3º, da Lei nº 4.320/64, prevê que se consideram
subvenções as transferências destinadas a cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas,
distinguindo-se como: I - subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de
caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa; II - subvenções econômicas, as que se destinem
a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril.

Alternativa (D): incorreta. Reza o art. 12, §4º, da Lei nº 4.320/64, que classificam-se como investimentos
as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis
considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho,
aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital
de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. O erro da alternativa está em retirar
do conceito de investimentos a constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de
caráter comercial ou financeiro.

Alternativa (E): incorreta. O artigo 36 da Lei nº 4.320/64 define os restos a pagar conforme a questão.
O erro está na distinção entre as despesas processadas e as não processadas. As despesas processadas
são aquelas empenhadas e já liquidadas, estando prontas para pagamento. Por seu turno, as despesas
não processadas são aquelas em que os empenhos dos contratos/convênios estão em plena execução,
mas, por não estarem liquidadas, não há possibilidade de pagamento.

GABARITO: ALTERNATIVA (B)

PROFESSOR: JORGE OTTONI


E-mail: profcei.jorgeottoni@gmail.com

DIREITO CONSTITUCIONAL

26. Tendo em vista as previsões constitucionais sobre os direitos sociais, bem como a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, analise os itens que seguem:

I. A instituição, por lei ordinária, de uma das contribuições da seguridade social previstas
no art. 195, incisos I a IV da CF é manifestação da competência discriminada da União.

II. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante, dentre outras medidas, a
garantia de educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade,

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assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade própria, tendo em vista que acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo, e o seu não oferecimento implica responsabilidade da autoridade competente.

III. A Constituição traz em seu art. 217 o dever do Estado de fomentar atividades desportivas
formais e não formais, sendo certo que tal previsão direciona-se especificamente à prática
de esportes, seja nas suas manifestações formais ou informais.

IV. A seguridade social tem como característica a não vinculação a qualquer tipo de
contraprestação pelos seus usuários, e será organizada pelo poder Público, tendo dentre
os seus objetivos a irredutibilidade do valor dos benefícios e o caráter democrático e
descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite.

V. É constitucional a lei que preveja alíquotas diferenciadas para as contribuições


previdenciárias incidentes sobre a folha de salários de instituições financeiras e entidades a
elas equiparáveis para fins de custeio da seguridade social.

Está correto o que se afirma apenas nos itens:

a) I e II.

b) I, II e III.

c) I e III.

d) I, II e V.

e) II, IV e V.

COMENTÁRIO

Item (I): correto. Conforme leciona Pedro Lenza, “as formas de custeio previstas no art. 195, I-IV,
materializam-se por lei ordinária e no exercício da denominada competência discriminada da União.
Isso porque, conforme entendimento do STF, não se aplica a regra do art. 146, III, “a” (que exige LC para
a modalidade imposto de tributo), nem a regra do art. 195, § 4º, que trata de outras fontes de custeio da
seguridade social” (Pedro Lenza, p. 1292).

Por outro lado, para instituir outras fontes de custeio destinadas a garantir a manutenção ou expansão
da seguridade social (competência residual da União), é preciso lei complementar, já que o art. 195,
§ 4º exige obediência ao art. 154, I (exigência de lei complementar, não cumulatividade, e base de cálculo
e fato gerador diferentes das contribuições previstas na CF).

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Nesse sentido:

O Supremo Tribunal Federal, por inúmeras vezes, decidiu ser a lei ordinária espécie normativa
juridicamente adequada para a instituição e/ou a majoração das contribuições sociais previstas
no art. 195, incisos I a IV, da Constituição Federal. Assim, à exceção da hipótese prevista no
art. 195, § 4º, da Carta, não há falar em exigência de lei complementar para a majoração da
alíquota COFINS. (STF. AR 2126-SP, Rel. min. Celso de Mello, j. 15/06/2015).

Item (II): correto. A assertiva está de acordo com a redação do art. 208, I e §§ 1º e 2º da CF. Vejamos:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria;

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular,


importa responsabilidade da autoridade competente.

Item (III): incorreto. Na verdade, a previsão de desporto trazida pela CF/88 tem sentido amplo, “não
se restringindo somente ao esporte, mas englobando também a ideia de recreação, lazer,
divertimento, uma vez que o Poder Público incentivará o lazer como forma de promoção social
(art. 217, § 3º)” (Pedro Lenza, p. 1303).

A doutrina lembra que o lazer consta do art. 6º como direito social, apresentando íntima relação com
a ideia de qualidade de vida. De fato, “os direitos sociais objetivam a formação do ser humano integral:
agente da sociedade, das relações de trabalho, construtor do mundo moderno e, ao mesmo tempo,
um ser relacional, humano, que, desse modo, deve integrar sua vida com o lazer, o convívio familiar e a
prática desportiva. Assim, o desporto, quer como forma de lazer, quer como parte da atividade educativa,
quer ainda em caráter profissional, foi incorporado ao nosso sistema jurídico no patamar de norma
constitucional”. (Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior, Curso de direito constitucional,
10. ed., p. 493 in Pedro Lenza, op. cit., p. 1303).

Item (IV): incorreto. O erro da afirmativa está na sua primeira parte, quando afirma, de forma genérica,
que seguridade social tem como característica a não vinculação a qualquer tipo de contraprestação
pelos seus usuários. Isso porque, conforme define o art. 194 da CF, “a seguridade social compreende um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Se, por um lado, a saúde e a assistência nos
estão vinculadas a qualquer contraprestação por parte dos usuários, a previdência, ao contrário, depende
de contraprestação. Nesse sentido já se manifestou o STF, em RE com repercussão geral:

“A seguridade social prevista no art. 194 da CF/1988, compreende a previdência, a saúde e a

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assistência social, destacando-se que as duas últimas não estão vinculadas a qualquer
tipo de contraprestação por parte dos seus usuários, a teor dos arts. 196 e 203, ambos
da CF/1988.” (RE 636.941, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 13-2-2014, Plenário, DJE de 4-4-
2014, com repercussão geral). Grifamos.

Já a segunda parte da assertiva está correta, na medida em que vai ao encontro do disposto no art. 194,
parágrafo único, incisos IV e VII da CF, litteris:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social,
com base nos seguintes objetivos: (...)

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite,


com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos
órgãos colegiados.

Item (V): correto. A afirmativa está de acordo com o disposto no § 9° do art. 195 da CF (“As contribuições
sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas,
em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de obra, do porte da empresa ou da
condição estrutural do mercado de trabalho”), bem como com o entendimento do STF, recentemente
assentado em repercussão geral:

É constitucional a previsão legal de diferenciação de alíquotas em relação às contribuições


previdenciárias incidentes sobre a folha de salários de instituições financeiras ou de entidades
a elas legalmente equiparáveis, após a edição da EC 20/1998. Essa a conclusão do Plenário,
que negou provimento a recurso extraordinário em que discutida a constitucionalidade do
art. 22, § 1º, da Lei 8.212/1991. O preceito impugnado dispõe sobre a contribuição adicional
de 2,5% sobre a folha de salários a ser paga por bancos comerciais, bancos de investimentos,
bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e
investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos
e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas
de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito
e entidades de previdência privada abertas e fechadas, considerado o período posterior à
aludida emenda constitucional. (...) a escolha legislativa em onerar as instituições financeiras e
entidades equiparáveis com alíquota diferenciada, para fins de custeio da seguridade social,
revela-se compatível com a Constituição, tendo em vista que as ECs 20/1998 e 47/2005 apenas
explicitaram o conteúdo do art. 145, § 1º, da CF, ao indicar critérios pelos quais poderiam ser
estabelecidas distinções entre contribuintes.” (RE 598.572, rel. min. Edson Fachin, julgamento
em 30-3-2016, Plenário, Informativo 819, com repercussão geral). Grifamos.

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Assim, os únicos corretos são os itens I, II e V, que são trazidos pela alternativa D.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

27. Acerca do Poder Judiciário, assinale a alternativa correta:

a) Os conflitos fundiários serão resolvidos por juízes de entrância especial com competência
exclusiva para tanto, já que não é possível a criação de varas especializadas sobre questões
agrárias no âmbito dos estados.

b) Tendo em vista competir à União, nos termos do art. 21, XIV da CF, organizar e manter
a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, poderá a
União vir a responder por eventuais ações propostas por esses servidores.

c) A demanda em que a Infraero figure como autora, ré, assistente ou opoente será
necessariamente julgada na Justiça Federal.

d) No caso de o Estado da África do Sul ajuizar ação indenizatória contra o Município do


Rio de Janeiro, a competência originária para julgar a demanda será do Superior Tribunal
de Justiça.

e) É inconstitucional norma estadual que vincula as receitas obtidas com indenizações ou


créditos pagos ao Estado pela União ao pagamento de débitos de idêntica natureza.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. Na verdade, nos termos do art. 126, caput, da CF, a constituição de varas
especializadas sobre questões agrárias no âmbito dos estados não só é possível como é uma determinação
constitucional. Vejamos:

Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas
especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias.

Sobre o tema, Pedro Lenza trata das Varas especializadas em âmbito estadual para a solução de conflitos
fundiários, e ressalta a competência da Justiça Federal nos casos de interesse da união, suas autarquias e
empresas públicas:

No tocante à solução de conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça Estadual proporá a criação


de Varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias (art. 126, caput,
na redação determinada pela EC n. 45/2004), sendo que, sempre que necessário, far-se-ão
presentes no local do litígio. No entanto, havendo fatos que atentem contra a ordem política
e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades

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autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei, a
competência será da Justiça Federal (art. 109, I, c/c o art. 144, § 1º, I).

Em relação aos conflitos fundiários, cumpre ressaltar a existência de Varas especializadas


também em âmbito federal, embora ainda não implementadas na maioria dos Estados da
Federação.

Dessa maneira, por exemplo, havendo interesse da União, ou, ainda, do INCRA (autarquia
federal), a competência será da Justiça Federal. (Pedro Lenza, p. 852).

Ressalte-se que, conforme aponta Eneas de Oliveira Matos, estão excluídos da competência das Varas
Agrárias Estaduais “os casos em que há competência em razão da pessoa e em razão da matéria para a
Justiça Federal, e também as causas trabalhistas (de competência da Justiça do Trabalho), previdenciárias
e tributárias (da Justiça Federal), causas referentes a crimes e contravenções penais (às varas criminais e
juizados especiais criminais, destinando-se as Varas Agrárias Estaduais mais para o problema fundiário
e de desenvolvimento da atividade agrária) ou, ainda, nas comarcas que, tendo em vista o volume de
demandas agrárias, não se justifique a criação de Vara Agrária Estadual, pelo que, nesse caso, deverão ser
julgadas perante Vara Cível” (Eneas de Oliveira Matos, Varas Agrárias na Emenda Constitucional 45/2004,
in André Ramos Tavares, Pedro Lenza, Pietro de Jesús Lora Alarcón (coord.), Reforma do Judiciário, p. 425
in Pedro Lenza, p. 853).

Incorreta, portanto, a alternativa, ao afirmar ser impossível a instituição de varas especializadas sobre
questões agrárias no âmbito dos estados.

Alternativa (B): incorreta. Em que pese o art. 21, XIV da CF realmente prever a competência da União
para “organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por
meio de fundo próprio”, isso não faz com que a União tenha legitimidade para figurar no polo passivo de
ações que veiculem pretensões desses servidores. Nesse sentido:

A cláusula constitucional reveladora da responsabilidade de manter a polícia do Distrito


Federal não implica a obrigatoriedade da União relativamente aos servidores do Distrito
Federal. Manter é alocar recursos e não atrai a legitimidade da União para, ante pretensão
dos servidores, vir a responder por ações propostas, como disposto no artigo 21, inciso XIV, da
Carta de 1988.” (RE 874.538-AgR, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 29-3-2016, Primeira
Turma, DJE de 29-4-2016).

Alternativa (C): incorreta. O aluno deve ter atenção redobrada nas alternativas que tragam expressões
como “necessariamente”, “somente”, “sempre”, “nunca”, etc. Isso porque essas expressões tendem a excluir
eventuais exceções – que, como sabemos, são muito comuns no nosso ordenamento. No caso específico
dessa questão, a alternativa deixou de levar em consideração as exceções trazidas pelo próprio art. 109,

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I, CF:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as
de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Assim, nem sempre as causas em que empresa pública, como a Infraero, figure como autora, ré, assistente
ou opoente será julgada na Justiça Federal, já que são exceções três tipos de causas:

- as de falência;

- as de acidentes de trabalho;

- as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.

Incorreta, portanto, a assertiva, não devendo ser assinalada.

Alternativa (D): incorreta. O erro da questão está na definição da competência, que, no caso, será
originária dos juízes federais, com possibilidade de recurso ordinário ao STJ, nos termos do art. 109,
II c/c art. 104, II, “c”, ambos da CF.

Assim, diante de litígios envolvendo organismos internacionais, a CF/88 determina a competência da


seguinte forma:

• Litígio com a União, estado, Distrito Federal ou território: competência originária do STF.

• Litígio com Município ou pessoa residente no Brasil: competência originária dos juízes
federais, cabendo recurso ordinário ao STJ.

Incorreta, portanto, a afirmativa, já que não se trata, no caso, de competência originária do STJ.

Alternativa (E): correta. De fato, tal vinculação seria inconstitucional, na medida em que representaria
burla à ordem cronológica dos precatórios, definida no art. 100 da CF. Nesse sentido é o entendimento
do STF, conforme se verifica do acórdão abaixo:

Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 245 da Constituição do Estado do Paraná. (...)


O preceito atacado cria forma transversa de quebra da ordem de precedência dos
precatórios ao efetivar a vinculação das receitas obtidas com indenizações ou créditos
pagos ao Estado pela União ao pagamento de débitos de idêntica natureza. Não encontra
amparo constitucional a previsão, porquanto seria instalada, inevitavelmente, uma ordem
paralela de satisfação dos créditos, em detrimento da ordem cronológica. Impossibilidade
de regramento da matéria por norma de hierarquia inferior. (ADI 584, rel. min. Dias Toffoli,
julgamento em 19-3-2014, Plenário, DJE de 9-4-2014.)

Correta, portanto, a assertiva, devendo ser assinalada.

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GABARITO: ALTERNATIVA (E)

28. Tendo em vista a jurisprudência do STF, assinale a alternativa correta:

a) A decisão do STF declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de


preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores
que tenham adotado entendimento diferente, tendo em vista que o termo inicial da eficácia
executiva da sentença é a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário Oficial.

b) Não fere a separação de poderes a realização, pelo Poder Judiciário, de controle abstrato
sobre a emenda, pelo o Poder Legislativo, aos projetos de leis orçamentárias, ainda que o
procedimento para a emenda tenha sido regular e que as alterações sejam compatíveis com
o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, indiquem os recursos necessários,
e sejam relacionadas com os dispositivos do texto do projeto de lei.

c) Em que pese não ser possível que lei de iniciativa parlamentar crie conselho de
acompanhamento dentro da estrutura do Poder Executivo, poderá o Legislativo disciplinar,
por lei de iniciativa sua, as consequências jurídicas das relações mantidas pelo Poder
Executivo com particulares.

d) Em caso de prática de crime continuado em escritório, não será possível a entrada


forçada da autoridade no local durante a noite, tendo em vista se enquadrar o escritório no
conceito de casa para fins de aplicação da inviolabilidade de domicílio garantida pelo art.
5º, XI da CF.

e) A regra da perda do mandato por infidelidade partidária é aplicável tanto aos candidatos
eleitos pelo sistema proporcional quanto àqueles eleitos pelo sistema majoritário.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): correta. A assertiva tratou do efeito produzido pela sentença de constitucionalidade ou
inconstitucionalidade do STF sobre sentenças anteriores que tenham adotado entendimento diverso.

De fato, a sentença do STF no sentido da constitucionalidade ou da inconstitucionalidade de determinado


preceito normativo gera, segundo o próprio STF, duas consequências. A primeira delas é a eficácia
normativa, ou seja, a manutenção ou exclusão da norma objeto de análise do ordenamento jurídico. A
segunda consequência é a eficácia executiva ou instrumental, que consiste no efeito vinculante que
essa decisão exerce sobre atos administrativos ou judiciais posteriores. A eficácia normativa se dá sobre
a vigência da norma em exame, e, por isso, retroage – se uma norma é declarada inconstitucional, ela o
é desde o seu nascimento. Já a eficácia executiva decorre da sentença e, por isso, ela se dá a partir da
publicação do acórdão do STF no Diário Oficial, conforme entende o próprio STF.

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A consequência disso é que essas sentenças do STF, que declaram a constitucionalidade ou a


inconstitucionalidade de determinada lei ou ato normativo não promove automaticamente a reforma das
sentenças anteriores em sentido contrário. Para se atacar tais sentenças, é necessário interpor recurso ou
ajuizar a ação rescisória no caso específico.

Nesse sentido, confira-se o acórdão abaixo colacionado, que elucida bem o entendimento do STF sobre
o tema:

A sentença do STF que afirma a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito


normativo gera, no plano do ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de
manter ou excluir a referida norma do sistema de direito. Dessa sentença decorre também
o efeito vinculante, consistente em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e
obrigatória em relação a supervenientes atos administrativos ou judiciais (= eficácia executiva
ou instrumental), que, para viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora não único,
o da reclamação prevista no art. 102, I, I, da Carta Constitucional. A eficácia executiva,
por decorrer da sentença (e não da vigência da norma examinada), tem como termo
inicial a data da publicação do acórdão do Supremo no Diário Oficial (art. 28 da Lei
9.868/1999). É, consequentemente, eficácia que atinge atos administrativos e decisões
judiciais supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que formados com
suporte em norma posteriormente declarada inconstitucional. Afirma-se, portanto, como
tese de repercussão geral que a decisão do STF declarando a constitucionalidade ou
a inconstitucionalidade de preceito normativo não produz a automática reforma ou
rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado entendimento diferente; para
que tal ocorra, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso,
a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado
o respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à
indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à execução de efeitos futuros
da sentença proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado.” (RE
730.462, rel. min. Teori Zavascki, julgamento em 28-5-2015, Plenário, DJE de 9-9-2015, com
repercussão geral.)

Correta, portanto, a alternativa “A”, devendo ser assinalada.

Alternativa (B): incorreta. A alternativa cobrou o conhecimento da jurisprudência do STF sobre


a interferência do Poder Judiciário na função do Poder Legislativo de definir receitas e despesas da
Administração Pública, emendando projetos de leis orçamentárias, notadamente o entendimento
recentemente fixado pelo STF no julgamento da ADI 5468.

A questão que chegou ao STF dizia respeito a discussões sobre a Lei Orçamentária Anual de 2016 (Lei nº
13.255/2016).

Segundo o art. 99 da CF/88, o Poder Judiciário tem autonomia administrativa e financeira. Assim, os

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tribunais, dentro dos limites estabelecidos na LDO, estipularão as suas propostas orçamentárias (art. 99, §
1º da CF/88). Essa proposta será encaminhada pelo Judiciário ao chefe do Poder Executivo, que irá reunir
em um único projeto de Lei Orçamentária, as propostas orçamentárias do Executivo, do Judiciário, do MP
e da Defensoria. O projeto, então, será encaminhado ao Poder Legislativo, onde será votada. Vejamos:

Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira.

§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados


conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.

§ 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete:

I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores,
com a aprovação dos respectivos tribunais;

II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais
de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.

(...)

No caso que ensejou a ADI 5468, o TST remeteu ao Poder Executivo a proposta orçamentária que
deveria ser adotada para a Justiça do Trabalho (nos termos do art. 99, §1º e §2º, I da CF) e o Presidente
da República a encaminhou ao Parlamento (nos termos do art. 166 da CF). Ocorre que o Congresso
Nacional, alegando dificuldades decorrentes da crise pela qual vive o país, promoveu um corte de 90%
nas despesas de investimento e de 24,9% nas despesas de custeio fixadas para a Justiça do Trabalho. A
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), então, ajuizou ADI questionando
tal redução do orçamento, sob a alegação de violação à independência e a autonomia do Poder Judiciário
(art. 99 da CF/88). O STF, então, julgando a referida ADI, posicionou-se da seguinte forma:

Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de violação
ao princípio da separação de poderes, interferir na função do Poder Legislativo de definir
receitas e despesas da Administração Pública, emendando projetos de leis orçamentárias,
quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal. [...]
A jurisdição constitucional não deteria capacidade institucional e não poderia empreender,
no controle abstrato, a tarefa de coordenação entre o planejamento plurianual e as leis de
diretrizes orçamentárias. Ao reconhecer a possibilidade de o Poder Legislativo emendar
proposições da lei orçamentária (CF, art. 166 e parágrafos), a Constituição teria estabelecido
suas condicionantes. E o Poder Legislativo deteria titularidade e legitimidade institucional
para debater a proposta orçamentária consolidada pelo Chefe do Poder Executivo,
com a especificação de valores e dotações a serem destinadas às múltiplas atividades
estatais. (STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e 30/6/2016 - Info 832).
Grifamos.

O STF não acolheu o pedido formulado, entendendo que a atividade de fixar e definir o orçamento é

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uma típica atribuição do Poder Legislativo. Para a Corte, ainda que o texto constitucional tenha reservado
ao Poder Judiciário a iniciativa do processo legislativo para a sua proposta orçamentária, não haveria
vedação absoluta, sob o ponto de vista formal, para que o Poder Legislativo realize um controle sobre o
que foi proposto pelo Judiciário (ADI 5468 - Informativo 832, STF).

O art. 166 da CF/88 dá ao Poder Legislativo a prerrogativa de emendar a proposta da Lei Orçamentária
trazendo, em seus parágrafos 2º a 4º, os requisitos para tanto. Observadas tais exigências, as mudanças
realizadas pelo Legislativo serão válidas. (Recomenda-se a leitura do art. 166 da CF/88, dada a sua grande
importância para a resolução de questões em provas).

A elaboração conjunta da lei orçamentária, segundo o STF, é ato complexo. Isso significa que “o Poder
Judiciário envia sua proposta, o Poder Executivo a consolida e o Poder Legislativo a arbitra”. Diante disso,
entendeu a Corte que a alteração promovida sobre a proposta não afrontaria a separação de Poderes
(ADI 5468 - Informativo 832, STF). No que concerne ao processo legislativo para a emenda ao projeto
de lei, o STF entendeu que, no caso concreto da Lei nº 13.255/2016, os requisitos procedimentais foram
todos atendidos, não tendo havido violação nem ao art. 99, nem ao art. 166 da CF/88.

Por fim, ressalte-se que o STF tem entendimento, também esposado no julgamento dessa ADI, no sentido
de que a análise da desconformidade, ou não, da LOA com o plano plurianual não imporia a atuação
do STF, considerada redação aberta do disposto na CF/88 a esse respeito (“Art. 166. Os projetos de lei
relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais
serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. ... § 3º As
emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser
aprovadas caso: I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias;”).
(ADI 5468/DF, rel. Min. Luiz Fux, 29 e 30.6.2016).

Alternativa (C): incorreta. O art. 61, § 1º da CF/88 estabelece as matérias reservadas à iniciativa privativa
do chefe do Poder Executivo, apontando, em seu inciso II, “e”, a criação e extinção de Ministérios e órgãos
da administração pública:

Art. 61. (...) § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II -
disponham sobre: e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;

Em atenção ao supratranscrito dispositivo, o STF declarou inconstitucional lei estadual de iniciativa


parlamentar que determinava o destino que o Poder Executivo deveria dar aos bens de empresa
estatal que estava sendo extinta; disciplinava as consequências jurídicas das relações mantidas pelo
Poder Executivo com particulares; e criava conselho de acompanhamento dentro da estrutura do Poder
Executivo. Confira-se a ementa do julgado:

PROCESSO NORMATIVO – INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. Em se tratando


de disciplina da atuação do próprio Poder Executivo, quanto à criação de conselho de

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acompanhamento, bem como de consequências jurídicas alusivas a relações mantidas com


particulares, incumbe a iniciativa do projeto ao Chefe do Poder Executivo. (ADI 2295, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 15/06/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
132 DIVULG 23-06-2016 PUBLIC 24-06-2016)

Assim, incorreta a alternativa, tendo em vista ser de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo a
matéria atinente às previsões legais apontadas na assertiva.

Alternativa (D): incorreta. A alternativa trata da inviolabilidade de domicílio, prevista pela CF/88, em seu
art. 5º, XI, litteris:

Art. 5º [...] XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Na parte em que afirma que o escritório se enquadra no conceito de casa para fins de aplicação da
inviolabilidade de domicílio, a assertiva está correta. Nesse sentido, confiram-se os ensinamentos de
Paulo Gustavo Gonet Branco, que traz o conceito de casa, para fins de aplicação do inciso XI do art. 5º
da CF:

[...] o STF vê como objeto da garantia constitucional do inciso XI do art. 5º da CF “(a) qualquer
compartimento habitado, (b) qualquer aposento ocupado de habitação coletiva e (c) qualquer
compartimento privado onde alguém exerce profissão ou atividade”. Assim o conceito
de domicílio abrange “todo lugar privativo, ocupado por alguém, com direito próprio e de
maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual” (MS-MC 23.595). O conceito
constitucional de domicílio é, assim, mais amplo do que aquele do direito civil. (MENDES,
Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2015, p. 289 e 290). Grifamos.

O autor ressalta ainda que, no mencionado MS-MC 23.595, DJ de 12-2-2000, o relator Min. Celso de Mello
“acentuou que, também na doutrina, a noção constitucional de domicilio não se restringe à habitação
do indivíduo, alcançando todo espaço privado em que exerce a sua atividade profissional. Citou
nesse sentido Pontes de Miranda, Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n. 1 de 1969 (t. 5,
p. 187, 2. ed./ 2. tir., 1974, Revista dos Tribunais); José Cretella Júnior (Comentários à Constituição de 1988,
v. I, p. 261, item n. 150, 1989, Forense Universitária); Pinto Ferreira (Comentários à Constituição brasileira,
v. I, p. 82, 1989, Saraiva); Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Comentários à Constituição brasileira de 1988,
v. 1, p. 36-37, 1990, Saraiva); Carlos Maximiliano (Comentários à Constituição brasileira, v. 3, p. 91, 1948,
Freitas Bastos); Dinorá Adelaide Musetti Grotti (Inviolabilidade do domicílio na Constituição, p. 70-78,
1993, Malheiros)”. (Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, op. cit., p. 290). Grifamos.

Assim, correto dizer que o escritório está abrangido pelo conceito de casa a ser protegida pela
inviolabilidade de domicílio. O erro da alternativa está na afirmação de que, no caso apresentado, não

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será possível a entrada forçada da autoridade no local durante a noite. Passamos a analisar essa situação.

Pela redação do supratranscrito art. 5º, XI, CF/88, só se pode entrar na casa de alguém sem o seu
consentimento nas seguintes hipóteses:

Durante o dia Durante a noite


Em caso de flagrante delito;
Em caso de flagrante delito;
Em caso de desastre;
Em caso de desastre;
Para prestar socorro;
Para prestar socorro.
Para cumprir determinação judicial.

Diante dessas hipóteses, verifica-se que não se pode adentrar na casa de alguém, à noite, sem a
autorização do morador, para cumprir decisão judicial (ex.: busca e apreensão; cumprimento de prisão
preventiva, etc.) (Márcio André Lopes Cavalcante, comentários ao Informativo 806-STF).

Como visto acima, uma das situações em que se pode ingressar na casa de alguém, de dia ou à noite,
independentemente de consentimento do morador, é o flagrante delito. E, no caso de delito permanente,
conforme entende o STF, “a situação de flagrância se protrai no tempo”. No entanto, ressalte-se que a
entrada forçada em domicílio sem determinação judicial deve submeter-se a controle judicial, ainda que
posterior, sendo certo que deverá ser demonstrada a existência, previamente ao ingresso, de fundadas
razões para a execução da medida.

Confira-se, a respeito, o acórdão abaixo:

Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2. Inviolabilidade


de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em
caso de crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado judicial para
ingresso forçado em residência em caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação
de flagrância se protrai no tempo. 3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao
período do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca é determinada por ordem judicial.
Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para prestar socorro – a Constituição
não faz exigência quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a posteriori. Necessidade
de preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da Constituição. Proteção
contra ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o
ingresso forçado em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada
judicialmente. A inexistência de controle judicial, ainda que posterior à execução da
medida, esvaziaria o núcleo fundamental da garantia contra a inviolabilidade da casa
(art. 5, XI, da CF) e deixaria de proteger contra ingerências arbitrárias no domicílio
(Pacto de São José da Costa Rica, artigo 11, 2, e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos, artigo 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da interpretação da

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Constituição, quanto da aplicação da proteção consagrada em tratados internacionais sobre


direitos humanos incorporados ao ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter
judicial que se incorporam à cláusula do devido processo legal. 5. Justa causa. A entrada
forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária.
Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que justificará
a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que havia elementos mínimos a
caracterizar fundadas razões ( justa causa) para a medida. 6. Fixada a interpretação
de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas
a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito,
sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade
e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso concreto. Existência de fundadas razões para
suspeitar de flagrante de tráfico de drogas. Negativa de provimento ao recurso. (STF. Plenário.
RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 - repercussão geral - Info
806).

Incorreta, portanto, a assertiva, na medida em que, diante da prática de crime continuado, a flagrância do
crime se protrai no tempo, o que possibilita o ingresso forçado durante a noite, observados os requisitos
para a medida.

Alternativa (E): incorreta. Na verdade, a perda do mandato por infidelidade partidária é aplicável apenas
aos candidatos eleitos pelo sistema proporcional, que enfatiza os votos ao partido, mas não se aplica
àqueles eleitos pelo sistema majoritário, já que, nesse caso, os votos são direcionados ao candidato
especificamente. Aplicar a perda do mandato a candidato eleito pelo sistema majoritário frustraria a
vontade do eleitor e violaria a soberania popular. Nesse sentido entendeu o STF, em controle concentrado
de constitucionalidade:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


RESOLUÇÃO Nº 22.610/2007 DO TSE. INAPLICABILIDADE DA REGRA DE PERDA DO MANDATO
POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA AO SISTEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO. 1. Cabimento da
ação. Nas ADIs 3.999/DF e 4.086/DF, discutiu-se o alcance do poder regulamentar da Justiça
Eleitoral e sua competência para dispor acerca da perda de mandatos eletivos. O ponto
central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da
regra da fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário. 2. As decisões
nos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 tiveram como pano de fundo o sistema
proporcional, que é adotado para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores.
As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos,
tornam a fidelidade partidária importante para garantir que as opções políticas feitas pelo
eleitor no momento da eleição sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se
decretar a perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e

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senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema proporcional. As características do


sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda
do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a
soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). 4. Procedência do pedido
formulado em ação direta de inconstitucionalidade.

(ADI 5081, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 18-08-2015 PUBLIC 19-08-2015)

Incorreta, portanto, a alternativa.

GABARITO: ALTERNATIVA (A)

DIREITO EMPRESARIAL

29. Zé Augusto é dono de um pequeno mercado na Lagoa da Conceição em Florianópolis/SC. Após


constatar o sucesso de seu negócio, investidores estrangeiros de um grande zaibatsu japonês
decidem adquirir seu estabelecimento, convencendo Zé a se aposentar e passar o resto de sua vida
se dedicando exclusivamente à prática de surf na ilha da magia. Os investidores firmaram, assim,
um contrato de trespasse do estabelecimento junto com uma cláusula de não restabelecimento
por prazo indeterminado em todo território nacional, a qual Zé anuiu expressamente, tendo em
vista sua intenção de usar o dinheiro do trespasse para se aposentar. Sobre o caso, assinale a
alternativa correta:

a) A cláusula de não restabelecimento é considerada nula de pleno direito diante, uma


vez que o ordenamento Brasileiro veda expressamente esse tipo de ajuste, em razão do
principio da livre iniciativa constitucionalmente consagrado.

b) Se a cláusula de não restabelecimento fosse limitada temporalmente, seria


necessariamente válida.

c) A cláusula de não restabelecimento é nula, posto que seu prazo deve ser necessariamente
quinquenal, em razão de previsão expressa do CC/02.

d) O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à


transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de um an, a partir da publicação do trespasse pelos
créditos vencidos e vincendos.

e) Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia
da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do

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consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação,
sem prejuízo da necessidade de averbar o trespasse e publicá-lo.

COMENTÁRIO

Alternativa (A): incorreta. A cláusula de não restabelecimento ou não concorrência não é só admitida
no ordenamento brasileiro, como imposta legalmente pelo prazo de 5 anos quando não há autorização
expressa no ajuste de trespasse:

Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer
concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência.

Incorreta, portanto, a assertiva.

Alternativa (B): incorreta. De fato, a jurisprudência exige que a cláusula seja temporalmente limitada
para que seja válida. Contudo, exige-se também que seja espacialmente restrita. No caso, a proibição de
limitar a atividade de Zé Augusto em todo o território nacional não condiz com o caráter local do seu
comércio (a saber, um mero mercado em um bairro específico de Florianópolis). Confira a posição do STJ:

“É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada ESPACIAL E


TEMPORALMENTE. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos
danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos
constitucionalmente. Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente
comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade
empresária concorrente pode irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que
por um prazo certo e em determinado LUGAR ESPECÍFICO (limitada temporária e
espacialmente)”. (STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 6/5/2015 – Info 561).

“Nos contratos de trespasse existe, de forma implícita, por força de lei, uma cláusula de não
concorrência (cláusula de não restabelecimento). Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula
de não concorrência é de5 anos. As partes não podem prever que a cláusula de “não
restabelecimento” será por prazo indeterminado. Logo, a cláusula de não restabelecimento
fixada por prazo indeterminado é considerada abusiva”. (STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 20/3/2014 – Info 554).

Outro equivoco da alternativa é afirmar que havendo limitação temporal será “necessariamente” válida.
Veja que se o ajuste previsse um prazo exageradamente longo, este também poderia ser considerado
nulo por afrontar a livre iniciativa (ex. limitar o restabelecimento pelos próximos 50 anos).

Alternativa (C): incorreta. A lei impõe o prazo quinquenal apenas no silêncio das partes. Assim, nada
impede que, por exemplo, as partes disponham que a não concorrência se dará por prazo menor (v.g. 3
anos) ou mesmo não se dará (quem pode o mais, pode o menos). A título informativo, cumpre registrar

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que não há consenso na jurisprudência e doutrina acerca das partes estipularem prazo maior que o
quinquenal, muito embora seja possível constatar uma tendência a considerar o prazo quinquenal como
o limite temporal.

Alternativa (D): incorreta. A assertiva peca ao prever o mesmo termo a quo da responsabilidade solidária
do alienante quanto aos créditos vencidos e vincendos. Assim, muito embora a assertiva esteja correta ao
afirmar o prazo de um ano a partir da publicação do trespasse quanto aos créditos já vencidos, se equivoca
ao prever o mesmo termo aos créditos ainda não vencidos, pois a lei prevê que a responsabilidade de um
ano passa a contar apenas da data do efetivo vencimento desses créditos vincendos. Confira:

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores
à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da
publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

Alternativa (E): correta. A assertiva reproduz o conteúdo do art. 1.145 c/c o art. 1.144 do CC/02, a saber:

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem
da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas
Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia
da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

Com efeito, a alienação é - em regra - livre, dependendo apenas de fatores formais de eficácia (publicação
e averbação), contudo, havendo dívidas é necessário adimpli-las ou obter anuência dos credores.
Graficamente tais normas podem ser assim representadas:

Correta, portanto, a alternativa “E”.

GABARITO: ALTERNATIVA (E)

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30. Acerca das prioridades legais para pagamento de credores na falência, assinale a alternativa
INCORRETA:

a) O crédito trabalhista cujo valor não ultrapasse 150 salários mínimos por credor deve ser
pago antes mesmo do crédito tributário.

b) Os créditos extraconcursais devem ser pagos antes dos créditos com garantia real.

c) Os créditos constituídos em favor dos microempreendedores individuais e das


microempresas e empresas de pequeno porte devem ser pago antes dos créditos com
privilégio geral.

d) Todo o crédito tributário deve ser pago com prioridade em face aos credores
quirografários.

e) Os créditos quirografários possuem prioridade em face daqueles devidos aos sócios e


administradores sem vínculo empregatício.

COMENTÁRIO

A presente questão cobrou um tema simples, porém de altíssima incidência nas provas objetivas: a ordem
de prioridade legal de pagamento na falência.

Como se sabe, a falência é uma forma de execução concursal do empresário devedor que se encontre
juridicamente insolvente que se pauta pela máxima do par conditio creditorum, pelo qual se o patrimônio
do devedor não é suficiente para atender a todos os credores, todas suas obrigações devem receber um
tratamento paritário, dando-se a todos os créditos de uma mesma classe a mesma chance de satisfação.
Nesse diapasão, a lei faz um sopesamento dos interesses envolvidos, estabelecendo uma gradação dos
créditos conforme a prioridade em seu recebimento.

Tal ordem está prevista no art. 83 e seguintes da lei 11.101/05. Os artigos referidos são extensos, mas
podem ser sintetizados da seguinte maneira:

 Satisfação do Passivo de uma Massa Falida  analisa-se a “massa falida subjetiva”, mensurando
o total dos passivos, elaborando um quadro geral de credores. Antes de formar-se o quadro geral,
são quitados débitos fora do concurso de credores, a saber:

i. Créditos trabalhistas de natureza salarial  limitados a 5 sal. min. em relação aos 3 últimos
meses.

ii. Pedidos de restituição  devolução de bens cujo proprietário não é a massa falida.

iii. Créditos extraconcursais  todo aquele que tem crédito constituído após decretada a
falência (“é credor da massa e não do devedor”).

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iv. CRÉDITOS CONCURSAIS: adimplidos os créditos acima apontados, passa-se a pagar os


créditos propriamente falimentares na seguinte ordem:

1. Trabalhistas limitados a 150 sal. mínimos + acidentes do trabalho

2. Garantia real, até o limite do bem.

3. Tributários (exceto multas).

4. Privilégio especial

5. Privilégio geral

6. Quirografários

7. Multas contratuais e legais (ex. multa tributária)

8. Subordinados (sócios e outros).

Vejamos as assertivas uma a uma:

Alternativa (A): correto. O legislador dá prioridade máxima ao crédito trabalhista:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-


mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

(...)

III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição,


excetuadas as multas tributárias;

Alternativa (B): correta. Os créditos extraconcursais são aqueles constituídos após a decretação da
falência ou recuperação judicial. Para estimular transações comerciais com massas falidas ou empresas
em recuperação o legislador prevê que tais créditos não se submetem ao concurso de credores (daí a
denominação ‘extraconcursal’), devendo ser pagos antes de qualquer crédito falimentar arrolado no art.
83, a saber:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência
sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:

I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da


legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados
após a decretação da falência;

II – quantias fornecidas à massa pelos credores;

III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu

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produto, bem como custas do processo de falência;

IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;

V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial,


nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos
geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art.
83 desta Lei.

Alternativa (C): correta, uma vez que os créditos de microempreendedores individuais e das microempresas
e empresas de pequeno porte são considerados créditos com privilégio especial, o qual tem precedência
em face daqueles com privilégio geral.

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

(...)

IV – créditos com privilégio especial, a saber:

(...)

d) aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e


empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro
de 2006

V – créditos com privilégio geral

Alternativa (D): incorreta, devendo ser assinalada. Apenas a parcela principal do crédito tributário
(atualizada e com juros) possui prioridade sobre os quirografários. As multas tributárias são pagas após a
satisfação dos quirografários. Confira:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: III – créditos
tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, EXCETUADAS AS
MULTAS TRIBUTÁRIAS; (...) VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração
das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

Alternativa (E): correta Os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício são
considerados créditos subordinados e, portanto, são pagos apenas após solvido todo o passivo da massa
falida:

Art. 83. (...) VI – créditos quirografários (...) VIII – créditos subordinados, a saber:

a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

GABARITO: ALTERNATIVA (D)

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QUESTÕES DISSERTATIVAS

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 25 linhas (utilize a folha de resposta disponibilizada na


área do aluno). Procure responder com consulta tão somente à legislação seca e com agilidade,
a fim de simular a situação encontrada em prova.

PROFESSOR: RODOLFO CURSINO


E-mail: profcei.rodolfocursino@gmail.com

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. Considere a seguinte situação: “Joana, dona de casa e na qualidade de consumidora final não
contribuinte do ICMS, domiciliada em Pernambuco (Alíquota interna X), adquiriu um produto de
uma empresa situada em São Paulo (Alíquota interna Y). A alíquota interestadual é Z.”

De acordo com o caso narrado e com as regras do ordenamento jurídico brasileiro, responda, de
forma fundamentada, aos seguintes questionamentos:

a) No caso narrado, a quais Estados competirá o ICMS recolhido e com base em qual
alíquota?

b) Haveria alguma alteração se Joana, enquanto consumidora final, fosse contribuinte do


ICMS? Explique.

c) E o que aconteceria no regime do ICMS se Joana não fosse consumidora final do produto?

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
28/08/2016: profcei.rodolfocursino@gmail.com

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PROFESSOR: JOSÉ AMÉRICO


E-mail: profcei.joseamerico@gmail.com

DIREITO CIVIL

2. João foi rendido por assaltantes armados, que o mantiveram como refém durante um assalto
a banco. A Policia Militar do Estado foi acionada para tentar evitar um desenlace fatal. Contudo,
no contexto da operação, para impedir que um assaltante assassinasse João, o policial Carlos
disparou sua arma de fogo e a bala acertou a cabeça do sequestrador, bem como resvalaram os
seus estilhaços na orelha de João, que ficou desfigurada. Essa medida invasiva foi, segundo a
perícia do órgão técnico, claramente necessária para salvar o sequestrado.

Considerando o contexto abordado, responda se o estrito cumprimento do dever legal afasta o


dever de reparar o dano, quando em sede de responsabilidade civil. E se o caso for considerado
como legítima defesa, exercício regular de direito ou estado de necessidade, a resposta seria
idêntica?

Justifique sintética e objetivamente cada situação e aborde, ainda, qual a teoria relativa ao nexo
causal da responsabilidade civil que prevalece no Brasil, jurisprudencial e doutrinariamente, além
de identificar, por fim, se há distinção em relação ao nexo causal na responsabilidade civil por
fato ocorrido exclusivamente entre particulares e nos casos em que o poder público participa da
relação jurídica, como causador do dano.

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
28/08/2016: profcei.joseamerico@gmail.com

CPF: 115.343.046-06 ALUNO: diegoprado.silveira pág. 123


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PEÇA PROFISSIONAL

ORIENTAÇÃO: responder em no máximo 150 linhas (utilize a folha de resposta disponibilizada


na área do aluno). Não se identifique no corpo da resposta, procure responder com consulta tão
somente à legislação seca e com agilidade, a fim de simular a situação encontrada em prova.

PROFESSOR: GUSTAVO CARMINATTI


E-mail: profcei.gustavocarminatti@gmail.com

DIREITO FINANCEIRO

A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás por motivos até então não esclarecidos, teria deixado
de aplicar corretamente recursos oriundos de convênio firmado com a União, que, diante da
situação, prontamente inscreveu o Estado de Goiás no CAUC (Cadastro Único de Convênios) e
instaurou, através do órgão competente, Tomada de Contas Especial para averiguar a regularidade
na aplicação dos recursos federais, procedimento este que passou a tramitar. Diante dos fatos
mencionados o Governador do Estado de Goiás determinou ao Procurador-Geral do Estado que
ajuizasse a medida judicial cabível, haja vista a necessidade do Estado em ter acesso aos recursos
federais nos mais diversos setores administrativos, incluindo alguns serviços essenciais.

Na condição de Procurador-Geral do Estado, estando dispensado o relatório, apresente a peça


processual adequada com os argumentos que melhor resguardem os interesses do Estado.

A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
28/08/2016: profcei.gustavocarminatti@gmail.com

CPF: 115.343.046-06 ALUNO: diegoprado.silveira pág. 124


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CPF: 115.343.046-06 ALUNO: diegoprado.silveira pág. 125

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