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CEI-PGE/PGM
2ª EDIÇÃO
26/05/2016 A 14/09/2016
MATERIAL ÚNICO
Questões totalmente Inéditas.
ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone.
30 QUESTÕES OBJETIVAS
Por rodada.
2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada.
1 PEÇA PRÁTICA
Por rodada.
IMPORTANTE: é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI CEI-PGE/
possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. PGM
O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. Agradecemos pela 2ª ED.
sua gentileza de adquirir honestamente o curso e permitir que o CEI continue existindo. 2016
PROFESSORES
Kaoye Guazina Oshiro – Direito Processual Civil e Fazenda Pública em Juízo no NCPC.
Procurador do Estado do Mato Grosso do Sul. Ex-Analista Judiciário do TJ-MS. Aprovado no concurso
de Procurador do Estado do Piauí (2014 – 42º lugar), Procurador do Estado do Paraná, além de ter
outras aprovações como Analista Judiciário – Oficial de Justiça Avaliador do TRF 3ª Região (2013 – 7º
lugar), Técnico Orçamentário do MPU (2010 – 10º lugar) e Técnico Judiciário do TRT 24ª Região (2010
– 54ª lugar), do STM (2010 – 13º lugar) e do TJ-MS (2009 – 1º lugar). Bacharel em Direito pela UFMS.
INSTRUÇÕES GERAIS
Caros alunos,
para que este curso ocorra perfeitamente, gostaria que observassem as seguintes instruções:
1. Leiam com atenção o calendário do curso, disponibilizado no site do CEI, para se programarem
e se organizarem.
2. Os exercícios decorrentes das questões dissertativas e das peças judiciais devem ser enviados
tempestivamente, até a data indicada em cada rodada, para o email do respectivo professor. Não é
obrigatório o envio dos exercícios para ter acesso ao Espelho de Correção.
3. Se deseja submeter seu exercício escrito à mão, baixe o arquivo no formato .pdf e depois envie
para o email do professor em arquivo único (e não dividido, portanto). Se deseja submeter seu
exercício digitado, baixe o arquivo no formato .doc e igualmente o envie depois para o respectivo
professor.
4. Para atingirmos o nível esperado de simulação da prova real, recomendamos que respondam
às questões dissertativas e elaborem as peças judiciais consultando apenas a legislação seca. Após
enviar seu exercício para o professor, pesquise os temas à vontade.
5. Para qualquer dúvida operacional sobre o CEI (problemas para acessar o site, p. ex.), entre em
contato com o Kleber no email suporte@cursocei.com.
6. Para qualquer crítica, elogio ou consideração sobre os materiais do curso ou sobre determinado
professor, entre em contato comigo pelo email profcei.jorgeottoni@gmail.com
SUMÁRIO
ORIENTAÇÃO: procure responder todas as questões com agilidade, sem consulta a nenhum material,
a fim de simular a situação encontrada em prova.
b) O art. 165 do CPC, que determina a criação, pelos Tribunais, de centros judiciários de
solução consensual de conflitos, somente é aplicável ao Processo do Trabalho no que diz
respeito à solução de conflitos coletivos de natureza econômica.
c) Em relação aos servidores estatutários das pessoas jurídicas de direito público, caberá
dissídio coletivo exclusivamente para a apreciação de cláusulas de natureza social.
e) É abusiva a greve envolvendo os setores definidos pela lei nº. 7.783/89 como sendo
essenciais à comunidade.
2. O CPC de 2015 ampliou o caráter vinculante das decisões judiciais em processos repetitivos,
implementando uma nova sistemática aos precedentes judiciais. Considerando a aplicabilidade
do diploma em relação ao Processo do Trabalho, assinale a alternativa incorreta:
a) A decisão que aplica tese jurídica firmada em precedente não precisa enfrentar novamente
os fundamentos analisados na decisão paradigma, bastando demonstrar a correlação fática
e jurídica entre o caso concreto e o julgamento que o originou.
b) Para fins do disposto no art. 489, §1º, V e VI do CPC, serão considerados unicamente
os precedentes que contenham explícita referência aos fundamentos determinantes da
decisão.
c) O juiz julgará liminarmente improcedente, nas causas que dispensem a fase instrutória,
d) Não se considera decisão surpresa aquela em que o juiz ou Tribunal decide com
fundamento em precedente vinculante, sem submetê-lo à audiência prévia de uma ou de
ambas as partes.
e) O juiz estará dispensado de enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela parte que
já houverem sido examinados nos fundamentos determinantes de enunciado de súmula.
a) Não se sujeita ao duplo grau de jurisdição a sentença contrária à Fazenda Pública que
estiver em consonância com súmula do Tribunal Regional do Trabalho a que o juiz que a
prolatou se vincular.
d) O teto previsto no art. 37, XI, da CF/88 somente passou a limitar a remuneração dos
empregados de empresas públicas e sociedades e economia mista após a alteração
promovida pela EC nº. 19/1998, não sendo aplicável a períodos anteriores a sua promulgação.
DIREITO CIVIL
b) A servidão é regida pelo regramento do civiliter modo, de modo que, quando constituída
para certo fim, não poderá ser ampliada a outro, nem na de maior ônus poderá ser
considerada incluída a de menor ônus.
5. À luz da jurisprudência dos tribunais superiores e dos princípios que regem Direito Existencial
de Família, assinale a alternativa correta:
b) Os princípios legais que regem a sucessão e a partilha têm, como ponto em comum, a
circunstância de que ambos deverão observar o ordenamento jurídico vigente na data do
óbito ou da dissolução do casamento ou da união estável.
b) Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que
se referem os fatos confessados, porém, inexistindo vício de capacidade e disposição do
direito, pode aquela ser revogada, bem como anulada, se decorreu de erro de fato ou de
coação.
d) A ata notarial é o instrumento público através do qual o notário capta, por seus sentidos,
uma determinada situação, um determinado fato, e o translada para seus livros de notas
ou para outro documento, registrando fatos jurídicos - sejam eles naturais ou voluntários
- com (possíveis) consequências jurídicas, sendo certo afirmar que a fé pública resultante
da escritura lavrada em notas de tabelião cede ante os termos de outra, posterior, que lhe
reconhece a falsidade ideológica.
a) As disposições do art. 236 do Código Civil (“Sendo culpado o devedor, poderá o credor
exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em
um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”) também são aplicáveis à hipótese
da parte final do art. 240 do mesmo Código (“Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa
do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do
devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”).
b) O art. 299 do Código Civil (“É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com
o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele,
ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”) exclui a possibilidade da
assunção cumulativa da dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis
pelo débito com a concordância do credor.
c) A “quitação regular” referida no art. 319 do CC/2002 (“O devedor que paga tem direito
a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada”) engloba a
quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação a distância”,
assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem
a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes, inclusive porque
válida será a quitação se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a
dívida.
a) O militar em serviço não responde pelos crimes de abuso de autoridade previstos na Lei
n.º 4.898/1965, haja vista incidir legislação própria, sem prejuízo de responder quando atua
fora do exercício das funções, mas a pretexto de exercê-las.
a) Na ação penal pública, o princípio da igualdade das armas é mitigado pelo princípio da
oficialidade, inserindo-se no contexto do modelo processual acusatório, entendido este
como adequado a um Estado Democrático de Direito por ser o mais garantista, partindo de
um pressuposto estrutural e lógico que é a separação entre juiz e acusação.
c) Nos crimes comuns e nos casos de prisão em flagrante, deverá a autoridade policial
garantir a assistência de advogado quando do interrogatório do indiciado, devendo nomear
defensor dativo caso o indiciado não indique profissional de sua confiança, especialmente
em se tratando de incapaz, sendo cabível, ademais, a absolvição sumária em processo
comum caso o juiz reconheça, após a audiência preliminar, a existência de doença mental
do acusado que, comprovada por prova pericial, o torne inimputável.
d) Ainda que se trate de lei processual nova híbrida ou mista, a jurisprudência consolidada
entende que deverá ser aplicado o princípio do efeito imediato, consagrado no direito
processual penal pátrio.
11. Maria das Dores moveu ação contra o Estado E, protocolada em 3 de fevereiro de 2009,
pleiteando a condenação do ente federado ao fornecimento de medicamentos e ao pagamento
de indenização correspondente aos valores pretéritos que expendeu na compra da medicação.
Porém, a ação foi extinta, sem resolução de mérito, por ter o magistrado considerado irregular
a representação processual da autora, que se quedou inerte após intimada para regularizá-la. A
sentença transitou em julgado em primeiro grau, em 5 de novembro de 2011. No dia 1º de junho
de 2016, Maria das Dores ajuizou nova ação, reiterando os pedidos deduzidos na primeira. O
Estado E, ao apresentar contestação, comprovou documentalmente que a medicação havia sido
concedida administrativamente à autora em 7 de janeiro de 2013. O magistrado, então, extinguiu
o processo, sem resolução de mérito, por falta de interesse de agir, na forma do art. 485, VI, do
Código de Processo Civil de 2015. Maria das Dores interpôs apelação, alegando que, embora tenha
havido perda superveniente do interesse de agir quanto à concessão da medicação, subsiste
interesse na condenação do ente federado ao pagamento dos valores pretéritos referentes aos
medicamentos que foi obrigada a adquirir por seus próprios meios. O recurso não foi admitido
pelo magistrado sentenciante. À vista desse cenário fático hipotético, assinale a única alternativa
INCORRETA:
imediato julgamento.
b) A autora não possui interesse de agir no caso narrado, visto que sua pretensão
indenizatória remanescente foi fulminada pela prescrição quinquenal.
12. Sobre o recurso de agravo na dinâmica do Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/15 com
as alterações da Lei n. 13.256/16), julgue as seguintes assertivas:
II. O agravante poderá requerer que o agravo fique retido nos autos, a fim de que dele
conheça o tribunal, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação.
III. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre
mérito do processo.
IV. Não cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, tampouco no processo de
sentença, ficando o recurso restrito à fase de conhecimento.
a) II e IV.
b) II e III.
c) I, II e IV.
d) IV.
e) III e V.
13. A reclamação:
e) Não é cabível quando inadmitido recurso que visava contrastar a mesma decisão já
interposto pelo reclamante.
14. Recurso excepcional constitui gênero do qual são espécies o recurso extraordinário para o
Supremo Tribunal Federal e o recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça. Considerando
o regramento dado a essas espécies recursais pela Constituição Federal e pelo Novo Código de
Processo Civil, assinale a única alternativa INCORRETA:
a) Os recursos excepcionais têm fundamentação vinculada, mas seu julgamento não está
adstrito à fundamentação deduzida, tampouco às questões pré-questionadas.
c) Tanto o recurso extraordinário como o recurso especial não podem ser manejados sem
que, antes, haja o esgotamento das instâncias ordinárias.
15. Um grupo de servidores públicos do Estado E moveu ação ordinária em face desse ente
federado. Na demanda, foi pleiteada a condenação do Estado ao pagamento de valores que
teriam sido indevidamente reduzidos dos vencimentos dos autores quando da alteração de seu
plano de carreira, promovida regularmente por meio de lei de iniciativa do Governador há dois
anos. Julgada a demanda em primeira instância, o ente público foi condenado a pagar os valores
retroativos e a incluir a diferença apurada no pagamento mensal dos autores. O Estado E, por
meio de seu órgão de representação judicial, apelou da sentença. No entanto, o Tribunal de
Justiça negou provimento ao recurso. O prazo para novo recurso do ente federado transcorreu in
albis. O acórdão transitou em julgado no dia 4 de setembro de 2014. A gestão estadual iniciada
em 2015 se mostrou bastante insatisfeita com tal situação, e a Procuradoria-Geral do Estado
ajuizou ação rescisória, por violação manifesta ao art. 37, X, e ao art. 61, §1º, II, “a” e “c”, ambos
da Constituição Federal, aplicados no âmbito estadual por simetria. A ação foi protocolada no dia
5 de setembro de 2016, uma segunda-feira, porque o dia fatal, 4, caiu em domingo. A respeito
desse quadro fático hipotético, assinale a alternativa CORRETA:
a) É cabível a ação rescisória contra decisão que viole manifestamente norma jurídica.
b) A Fazenda Pública possui prazo em dobro para propor ação rescisória, de sorte que se
mostra despicienda qualquer preocupação com o prazo decadencial no caso.
c) Cabe ação rescisória apenas por afronta a dispositivo de lei e ainda que a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
d) Para ser cabível a rescisória na espécie, o Estado deveria ter interposto recurso especial
ou extraordinário em face do acórdão rescindendo, visto que não se admite ação rescisória
quando não se tenham esgotado todos os recursos contra a decisão combatida.
e) A ação rescisória será julgada extinta sem apreciação da questão de fundo, pois, por ser
o prazo para o ajuizamento da ação rescisória decadencial, ele não se prorroga caso seu fim
se dê em final de semana ou feriado.
DIREITO AMBIENTAL
16. Sobre o Código Florestal, a Área de Preservação Permanente e a Reserva Legal, assinale a
alternativa incorreta:
legal.
e) Caso um imóvel rural não disponha de área de reserva legal suficiente para atingir
o percentual mínimo, é possível o estabelecimento de reserva legal condominial,
compensando-se o percentual faltante com o percentual excedente de outro imóvel.
IV. O prazo de validade da Licença de Operação é de, no mínimo, seis, e no máximo, dez
anos, devendo a renovação ser requerida com antecedência mínima de 120 dias do seu
vencimento.
a) I e III.
b) III e IV.
c) I, II e IV.
d) IV.
e) I e IV.
DIREITO TRIBUTÁRIO
a) Dentre outras situações, a solidariedade ocorre quando as pessoas têm interesse comum
na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, admitindo-se, no Direito
Tributário, o benefício de ordem.
b) Para uma melhor interpretação da definição legal do fato gerador, devem ser considerados
os efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.
II. A Dívida Ativa abrange, além do seu principal, a atualização monetária, juros e multa
de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato.
III. Em que pese a Lei de Execuções Fiscais dispor que a inscrição em Dívida Ativa suspenderá
a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução
fiscal, em caso de esta ocorrer antes de findo aquele prazo, tal regra apenas é aplicável aos
créditos não tributários, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
IV. A dívida regularmente inscrita goza da presunção relativa de certeza e liquidez e tem
o efeito de prova pré-constituída.
b) II e IV.
c) I e IV.
d) III e IV.
e) I e IIII.
20. Considere a seguinte situação e assinale a alternativa correta: “Maria, solteira, domiciliada no
Estado de São Paulo, ao falecer, deixou como herança para suas duas únicas filhas, Germana e
Josefa, domiciliadas no Estado da Paraíba: um sítio no Estado de Tocantins; um Duplex no Estado
de Santa Catarina; um automóvel que se encontra guardado em um depósito no Estado de São
Paulo; e a quantia de duzentos mil reais, guardada em um cofre no Estado da Pernambuco. O
inventário foi processado no Estado de São Paulo”.
a) A cobrança do ITCMD sobre todos os bens competirá ao Estado de São Paulo, por ser o
local onde se processou o inventário.
b) A cobrança do ITCMD sobre todos os bens competirá ao Estado da Paraíba, por ser o
local onde se encontram domiciliadas todas as herdeiras.
c) A cobrança do ITCMD competirá aos Estados de Tocantins, Santa Catarina, São Paulo
e Pernambuco, uma vez que devem ser cobrados pelo Estado em que se encontram
localizados os respectivos bens.
DIREITO ADMINISTRATIVO
21. Acerca dos atributos dos atos administrativos, marque a alternativa incorreta:
desses fatos na norma invocada pela administração como fundamento da prática do ato
administrativo é presumido correto.
b) A declaração de urgência pelo Poder Público e a efetivação de depósito prévio, cujo valor
será arbitrado pelo juiz segundo critérios da lei expropriatória, faculta ao juiz a concessão
da imissão provisória na posse em favor do expropriante.
c) Da sentença que fixar o preço da indenização caberá apelação com efeito simplesmente
devolutivo, quando interposta por qualquer das partes.
a) A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial não constitui ato de
DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO
d) Orçamento base zero consiste num método em que todo recurso solicitado é analisado
criteriosamente para que, na análise da proposta orçamentária, seja justificada a necessidade
de cada recurso requerido, não havendo dotação orçamentária prevista por mera decorrência
do orçamento anterior, afastando-se a presunção de necessidade de determinada unidade
em virtude dos recursos utilizados no ano antecedente.
e) O projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até sete meses antes
do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do
primeiro período da sessão legislativa, enquanto o projeto de lei orçamentária da União será
encaminhado até cinco meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido
DIREITO CONSTITUCIONAL
26. Tendo em vista a jurisprudência do STF sobre o Tribunal de Contas, assinale a alternativa
correta:
a) João, servidor público federal teve reconhecido em seu favor, por sentença judicial
transitada em julgado, o direito à percepção de determinado valor, a título de gratificação.
Se, quando da aposentadoria de João, o TCU perceber que aquela gratificação foi absorvida
por leis posteriores e determinar seja ela suprimida, restará violada a coisa julgada.
b) João, servidor público federal teve reconhecido em seu favor, por sentença judicial
transitada em julgado, o direito à percepção de determinado valor, a título de gratificação.
Se, quando da aposentadoria de João, o TCU perceber que aquela gratificação foi absorvida
por leis posteriores, poderá determinar seja ela suprimida, sem que isso viole a coisa julgada,
e João terá de devolver os valores recebidos anteriormente à decisão do TCU.
d) Para efeitos de inelegibilidade por rejeição de contas, o parecer técnico elaborado pelo
Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo exclusivamente à
Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local,
sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo.
b) Caso determinada lei ou ato normativo anterior ao atual ordenamento jurídico seja
objeto de ADPF, a sua revogação não impede o seu exame na ADPF.
e) Na ADO, a medida cautelar pode se dar pela suspensão da aplicação da lei ou do ato
normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como pela suspensão de processos
judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda por outra providência a ser fixada
pelo Tribunal.
28. Tendo em vista a divisão das competências legislativas previstas na Constituição, marque a
alternativa correta:
b) Lei estadual pode dispor sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio, por se tratar
o direito penitenciário de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal.
d) Será constitucional, no que concerne à competência legislativa, lei estadual que disponha
sobre gratuidade de estacionamento em estabelecimentos privados.
e) Invade competência da União lei estadual que verse sobre meia entrada para estudantes
em eventos esportivos, culturais e de lazer.
DIREITO EMPRESARIAL
29. Assinale a alternativa que NÃO descreve uma situação que por si só legitima a deflagração
de processo falimentar:
b) Sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada
d) Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo.
e) Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar
os credores.
30. Sobre a deliberação acerca da concessão ou não da recuperação judicial, assinale a alternativa
correta:
b) São os credores que, de fato, decidem ou não sobre a concessão da recuperação judicial,
sendo a decisão do juízo sempre de caráter meramente homologatório.
c) É possível que o juiz conceda recuperação judicial ainda que o plano tenha sido rejeitado
pelos credores.
d) O plano de recuperação judicial deve ser aprovado por todas as classes, sempre por
credores que representem mais da metade do valor total dos créditos em cada classe.
QUESTÃO 1 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 2 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 3 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 4 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 5 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 6 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 7 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 8 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 9 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 10 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 11 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 12 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 13 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 14 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 15 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 16 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 17 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 18 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 19 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 20 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 21 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 22 ALTERNATIVA E
QUESTÃO 23 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 24 ALTERNATIVA B
QUESTÃO 25 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 26 ALTERNATIVA D
QUESTÃO 27 ALTERNATIVA C
QUESTÃO 28 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 29 ALTERNATIVA A
QUESTÃO 30 ALTERNATIVA C
b) O art. 165 do CPC, que determina a criação, pelos Tribunais, de centros judiciários de
solução consensual de conflitos, somente é aplicável ao Processo do Trabalho no que diz
respeito à solução de conflitos coletivos de natureza econômica.
c) Em relação aos servidores estatutários das pessoas jurídicas de direito público, caberá
dissídio coletivo exclusivamente para a apreciação de cláusulas de natureza social.
e) É abusiva a greve envolvendo os setores definidos pela lei nº. 7.783/89 como sendo
essenciais à comunidade.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. Ao reconhecer as convenções e acordos coletivos de trabalho (art. 7º, XXVI) e
determinar a obrigatoriedade da participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho (art.
8º, VI), a Constituição atribuiu aos sindicatos poder correspondente ao princípio da autorregulamentação
ou princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva, em razão do qual poderá, juntamente às
empresas, criar normas jurídicas, estabelecendo normas mais benéficas aos trabalhadores, mediante
acordo coletivo ou convenção coletiva. Ambos somente serão válidos com a presença do sindicato
dos trabalhadores, sendo que, no primeiro, a negociação é realizada com uma ou mais empresas,
enquanto, no segundo, o instrumento é firmado com o sindicato representante da categoria econômica.
Os dois instrumentos coletivos se prestam a fixar condições de trabalho que serão incorporadas aos
contratos individuais de trabalho dos empregados da categoria representada pela entidade sindical,
independentemente de filiação.
A literalidade do art. 614, §3º da CLT veda a estipulação da duração de Convenção Coletiva ou Acordo
Coletivo superior a dois anos. Diante disso, salvo em relação às cláusulas que fixavam percentual de
aumento do salário, em decorrência da irredutibilidade (CF/88, art. 7º, VI), ou que tratavam de vantagens
pessoais adquiridas, o TST, adotando a teoria da aderência limitada ao prazo, entendia que, após
o decurso do prazo fixado no instrumento, os direitos conquistados cessavam imediatamente. Em
2012, contudo, a Corte alterou a redação da súmula 277, aderindo à teoria da aderência limitada
por revogação, segundo a qual as vantagens previstas no instrumento coletivo continuarão em
vigor, mesmo que ultrapassado o prazo de vigência, enquanto não houver um novo acordo ou
convenção coletiva estipulando a sua modificação ou supressão. Veja o que diz o enunciado:
Alternativa (B): correta. Uma das inovações trazidas pelo Novo CPC consiste na priorização da conciliação
e da mediação como formas de solução de conflitos. Visando a atingir esse objetivo, o art. 165 do
diploma processual prevê que “os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos,
responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento
de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”. O TST já se manifestou, no
art. 14 da IN 39/2016, pela inaplicabilidade da previsão ao Processo do Trabalho, SALVO nos conflitos
coletivos de natureza econômica. Frustrada a negociação coletiva, hipótese de solução autônoma
dos conflitos coletivos, a CF/88, art. 114 estabelece que as partes poderão eleger árbitros (§1º). A via do
ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica, por sua vez, somente é facultada às partes
quando houver prévia recusa, por parte de qualquer delas, à negociação coletiva ou à arbitragem (§2º).
Logo, para favorecer a autocomposição, filtrando o número de dissídios coletivos que serão julgados pela
justiça obreira, caberá aos tribunais regionais do trabalho criar centros judiciários de solução consensual
de conflitos coletivos de natureza econômica.
Alternativa (C): incorreta. A solução de conflitos coletivos pode ocorrer tanto pela via autônoma
(negociação coletiva, culminando na celebração de acordo ou convenção coletiva de trabalho) quanto
pela via heterônoma (arbitragem ou dissídio coletivo). A realização de dissídio coletivo, que ocorre
na via jurisdicional, pode envolver cláusulas econômicas ou sociais. As cláusulas sociais são aquelas
que fixam e regulam novas condições para as relações de trabalho, envolvendo ajustes que podem
ter conteúdos declaratórios ou obrigacionais, sem que tenham impacto econômico (ex.: alteração no
intervalo intrajornada). Já as primeiras têm como conteúdo obrigações de dar, envolvendo a assunção de
compromissos econômicos, financeiros.
O art. 173, §1º, II, da CF/88 sujeita as empresas públicas e sociedades de economia mista ao regime
jurídico próprio das empresas privadas, de modo que não há, em princípio, restrições quanto aos efeitos
de sentença normativa prolatada em dissídio coletivo ajuizada contra esses entes.
Por fim, embora o constituinte tenha assegurado o direito à organização sindical quanto aos servidores
públicos estatutários (art. CF/88, art. 37, VI), não estendeu a eles, no §3º do art. 39, o reconhecimento
das convenções e acordos coletivos de trabalho, garantido aos trabalhadores da iniciativa privada, nos
moldes do art. 7º, XXVI, da CF/88. Via de consequência, os servidores públicos ESTATUTÁRIOS das
pessoas jurídicas de direito público não podem ajuizar dissídio coletivo, independentemente do
teor da cláusula discutida.
Alternativa (D): incorreta. O conceito de categoria profissional diferenciada é dado pela CLT, que a
define, no §3º do art. 511, como aquela que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções
diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares.
Apesar da redação legal, para a caracterização de determinada categoria como diferenciada, não basta
que haja “condições de vida singulares”, sendo indispensável a existência de estatuto profissional
próprio (lei), regulamentando aquela profissão. Além da lei regulamentadora da profissão, também é
possível que uma lei já reconheça, diretamente, determinada categoria como diferenciada, a exemplo do
que fez a Lei nº. 12.998, de 2014, com relação aos condutores de ambulâncias.
Como a fixação dos trabalhadores que pertencem à categoria diferenciada decorre de lei, a jurisprudência
do TST se firmou pela impossibilidade de o Poder Judiciário proferir decisão reconhecendo uma categoria
diferenciada como tal. Esse posicionamento pode ser extraído da OJ 36 da SDC, que prevê que: “é por lei
e não por decisão judicial, que as categorias diferenciadas são reconhecidas como tais».
Alternativa (E): incorreta. A CF/88, em seu art. 9º, assegura o direito de greve no âmbito da iniciativa
privada, estabelecendo que caberá aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre
os interesses que devam por meio dele defender. O §1º do dispositivo atribui à lei a incumbência de
definir os serviços ou atividades essenciais, dispondo sobre o atendimento das necessidades inadiáveis
da comunidade. Esse papel foi cumprido pela Lei nº. 7.783/89, também conhecida como Lei de Greve.
Em seu art. 10, referido diploma elenca as atividades consideradas como essenciais, que compreendem,
dentre outras, a assistência médica e hospitalar, distribuição e comercialização de medicamentos
e alimentos, tratamento e abastecimento de água, produção e distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis, etc. Em relação a essas atividades, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam
obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis
ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, assim consideradas aquelas que,
se não atendidas, colocam em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população. Em caso de inobservância da determinação, caberá ao Poder Público assegurar a prestação
dos serviços indispensáveis. Além disso, a greve em serviços ou atividades essenciais somente poderá ser
deflagrada após comunicação da decisão aos empregadores e aos usuários, com antecedência mínima
de setenta e duas horas da paralisação. Nos termos do art. 14 da Lei, constitui abuso do direito de greve
a inobservância das normas nela contidas.
Assim, tem-se que a greve em serviços ou atividades essenciais é admitida pelo ordenamento jurídico,
embora sua validade esteja sujeita ao atendimento dos requisitos estabelecidos em lei. Entretanto, a
greve realizada em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade poderá ser
reputada abusiva, quando não for assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis
dos usuários do serviço, na forma prevista no art. 7.798/89. É o que estabelece a OJ 38 da SDC do
TST. Por fim, a greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, autoriza
o Ministério Público do Trabalho a ajuizar dissídio coletivo, conforme prevê o art. 114, §3º, da CF/88,
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.
Observação: A CF/88 permite o direito de greve dos servidores públicos, determinando que deverá
ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica (art. 37, inciso VII). Diante da omissão
legislativa quanto à edição dessa lei, o STF, em diversos Mandados de Injunção, decidiu aplicar, por
analogia, os dispositivos da Lei nº. 7.798/89 relativamente às greves envolvendo servidores estatutários,
atendidas as peculiaridades do serviço público.
2. O CPC de 2015 ampliou o caráter vinculante das decisões judiciais em processos repetitivos,
implementando uma nova sistemática aos precedentes judiciais. Considerando a aplicabilidade
do diploma em relação ao Processo do Trabalho, assinale a alternativa incorreta:
a) A decisão que aplica tese jurídica firmada em precedente não precisa enfrentar novamente
os fundamentos analisados na decisão paradigma, bastando demonstrar a correlação fática
e jurídica entre o caso concreto e o julgamento que o originou.
b) Para fins do disposto no art. 489, §1º, V e VI do CPC, serão considerados unicamente
os precedentes que contenham explícita referência aos fundamentos determinantes da
decisão.
c) O juiz julgará liminarmente improcedente, nas causas que dispensem a fase instrutória,
o pedido que contrariar enunciado de súmula de Tribunal Regional do Trabalho sobre
regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que não exceda à
sua jurisdição.
d) Não se considera decisão surpresa aquela em que o juiz ou Tribunal decide com
fundamento em precedente vinculante, sem submetê-lo à audiência prévia de uma ou de
ambas as partes.
e) O juiz estará dispensado de enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela parte que
já houverem sido examinados nos fundamentos determinantes de enunciado de súmula.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. O CPC de 2015, art. 489, §1º, ao tratar dos elementos essenciais da sentença, prevê
determinadas hipóteses em que a decisão será reputada não fundamentada. Sempre que ocorrer uma
das situações descritas no dispositivo, a parte poderá manejar embargos de declaração, uma vez que, nos
termos do art. 1022, parágrafo único, inciso II, do NCPC considera-se omissa a decisão que incorrer em
qualquer das condutas previstas no §1º do art. 489. Como a fundamentação dos julgamentos é exigência
constitucional, se o vício presente na decisão não for sanado pela via dos embargos, ela será reputada nula
(CF/88, art. 93, IX). Ao decretar a nulidade da sentença por falta de fundamentação, o Tribunal deverá
decidir desde logo o mérito, quando o processo estiver em condições de imediato julgamento, conforme
prevê o art. 1.013, §3o, IV, do NCPC (teoria da causa madura).
Uma dessas condutas diz respeito à necessidade de o juízo enfrentar todos os argumentos deduzidos
no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador (CPC, art. 489, §1º,
IV). O dispositivo também aduz que, ao invocar precedente, o julgador deverá identificar os fundamentos
determinantes, demonstrando que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos. Interpretando
esses artigos sob a ótica do Processo do Trabalho, a IN 39/2016 estabelece que a decisão que aplica a tese
jurídica firmada em precedente “não precisa enfrentar os fundamentos já analisados na decisão paradigma,
sendo suficiente para fins de atendimento das exigências constantes no art. 489, § 1º, do CPC, a correlação
fática e jurídica entre o caso concreto e aquele apreciado no incidente de solução concentrada” (art. 15, inciso
V). Logo, os argumentos deduzidos no processo que já tenham sido enfrentados na decisão paradigma não
precisarão ser novamente analisados pelo juízo, sem que tal circunstância seja capaz de tornar a decisão
omissa.
Alternativa (B): correta. Também não se considera fundamentada a decisão judicial que, nos termos do
NCPC, art. 489, §1º, incisos V e VI “se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos”
ou “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar
a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento”. Para efeitos de aplicação
desses dispositivos, no âmbito do processo do trabalho, a IN aduz que deverão ser considerados unicamente
os precedentes, súmulas do Supremo Tribunal Federal, orientação jurisprudencial e súmula do Tribunal
Superior do Trabalho e súmula de Tribunal Regional do Trabalho não conflitante com súmula ou orientação
jurisprudencial do TST, que contenham referência explícita aos fundamentos determinantes da decisão
(ratio decidendi) (IN nº. 39/2016, art. 15, inciso II).
Alternativa (C): correta. O Tribunal Superior do Trabalho elencou, na IN 39/2016, o que deve ser considerado
precedente, no âmbito do Processo do Trabalho, para fins de aplicação dos dispositivos do CPC de 2015
relacionados ao instituto. São eles:
a) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Tribunal Superior do Trabalho em
julgamento de recursos repetitivos (CLT, art. 896-B; CPC, art. 1046, § 4º);
d) tese jurídica prevalecente em Tribunal Regional do Trabalho e não conflitante com súmula ou
orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 896, § 6º);
Diferentemente do CPC anterior, o Novo CPC, em seu art. 332, afastou os precedentes do próprio juízo
como suficientes para o julgamento liminar de improcedência. Na nova sistemática, o pedido formulado do
autor, nas causas que dispensam a fase instrutória, somente poderá ser julgado liminarmente improcedente
quando o julgador verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou prescrição, ou quando o pedido
contrariar: a) enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; b)
acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência; d) enunciado de súmula de Tribunal de Justiça sobre direito local.
Essas normas foram consideradas aplicáveis ao Processo do Trabalho, com as necessárias adaptações à
legislação processual trabalhista, já procedidas pelo art. 7º da IN. Assim, as hipóteses de improcedência
liminar na justiça laboral são basicamente as mesmas, com a ressalva de que a contrariedade a enunciado
de súmula de Tribunal de Justiça sobre direito local não importará a improcedência liminar do
pedido. Por outro lado, na seara trabalhista, também deverá ser julgado liminarmente improcedente o
pedido que contrariar:
“enunciado de súmula de Tribunal Regional do Trabalho sobre direito local, convenção coletiva
de trabalho, acordo coletivo de trabalho, sentença normativa ou regulamento empresarial de
observância obrigatória em área territorial que não exceda à jurisdição do respectivo Tribunal
(CLT, art. 896, “b”, a contrario sensu)”.
Alternativa (D): incorreta, devendo ser assinalada. O princípio do contraditório envolve três elementos,
quais sejam: informação, reação e poder de influência. Emprestando maior concretude ao princípio, o Novo
CPC passou a vedar a prolação de decisão, pelo juízo, sem a prévia oitiva da parte contrária, bem como
o julgamento baseado em fundamento em relação ao qual não foi conferida prévia oportunidade de
manifestação aos litigantes, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Trata-se do
princípio da vedação à decisão surpresa, que encontra amparo nos artigos 9º e 10º do CPC de 2015.
No âmbito do Processo do Trabalho, conforme prevê o art. 4º, §1º, da IN 39/2016, entende-se por decisão
surpresa a que, no julgamento final do mérito da causa, em qualquer grau de jurisdição, aplicar fundamento
jurídico ou embasar-se em fato não submetido à audiência prévia de uma ou de ambas as partes. Por outro
lado, o §2º aduz que não será reputada “surpresa” a decisão que, à luz do ordenamento jurídico nacional
e dos princípios que informam o Direito Processual do Trabalho, as partes tinham obrigação de prever,
concernente às condições da ação, aos pressupostos de admissibilidade de recurso e aos pressupostos
processuais, salvo disposição legal expressa em contrário.
O art. 927 do CPC impõe aos juízes e tribunais a observância dos precedentes judiciais nele elencados.
Contudo, o §1º estabelece que o julgador deverá observar o art. 10 do diploma, mesmo quando decidir
com fundamento no artigo, devendo intimar a parte contrária para que se manifeste sobre a decisão
vinculante antes de proferir a sua decisão. Dessa forma, garante-se às partes a oportunidade de demonstrar
que o precedente ou não se aplica à hipótese (distinguishing) ou já foi superado (overruling). Assim, tem-
se que a decisão fundamentada na aplicação de precedentes não constitui hipótese de exceção ao
princípio da vedação à decisão surpresa.
Observação: Na exposição de motivos da IN 39/2016, o TST, justificando a diretriz assumida pela Corte
ao adotar a conclusão de que não se considera decisão surpresa a que as partes tinham obrigação de
prever, aduz que há hipóteses ressalvadas pela IN em que, a propósito desses institutos, há disposição legal
expressa determinando a audiência prévia da parte, mencionando como exemplo, dentre outros, os §§ 1º a
4º do art. 938 do CPC de 2015.
Alternativa (E): correta. O art. 927, §1º do NCPC impõe ao julgador observar o art. 489, §1º do CPC, mesmo
quando fundamentar sua decisão na aplicação de precedentes vinculantes. No entanto, a jurisprudência do
TST é no sentido de que a previsão constante do art. 489, §1º, IV, do NCPC, que estatui a obrigatoriedade do
juízo de enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador, não obriga o juiz ou o Tribunal a enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela
parte, quando já tenham sido examinados na formação dos precedentes obrigatórios ou nos fundamentos
determinantes de enunciado de súmula. Trata-se de mais uma interpretação flexibilizadora da norma
conferida pela Corte, expressamente prevista no art. 15, IV da IN.
a) Não se sujeita ao duplo grau de jurisdição a sentença contrária à Fazenda Pública que
estiver em consonância com súmula do Tribunal Regional do Trabalho a que o juiz que a
prolatou se vincular.
d) O teto previsto no art. 37, XI, da CF/88 somente passou a limitar a remuneração dos
empregados de empresas públicas e sociedades e economia mista após a alteração
promovida pela EC nº. 19/1998, não sendo aplicável a períodos anteriores a sua promulgação.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. O art. 1º do DL 779/1969 prevê que, nos processos perante a Justiça do Trabalho,
constitui privilégio dos entes federados, das autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais
ou municipais que não explorem atividade econômica, o recurso ordinário “ex oficio” das decisões que lhe
sejam total ou parcialmente contrárias. Apesar da terminologia utilizada, a remessa necessária, conforme
atualmente concebe a jurisprudência, tem natureza jurídica de eficácia das sentenças contrárias à
Fazenda Pública, inclusive em mandado de segurança e ação rescisória. Na vigência do CPC/73, o TST
editou a súmula nº. 303, prevendo, como exceções ao duplo grau obrigatório (baseadas no diploma
processual civil, em razão da ausência de regulamentação na legislação trabalhista), a condenação que não
ultrapassasse o valor correspondente a 60 (sessenta) salários-mínimos ou que estivesse em consonância
com decisão plenária do Supremo Tribunal Federal ou com súmula ou orientação jurisprudencial do
Tribunal Superior do Trabalho.
Com o advento do Novo CPC, as hipóteses que dispensam a remessa necessária sofreram algumas
alterações. Na nova sistemática, a sentença não estará sujeita ao duplo grau de jurisdição quando: a) a
condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a 1.000,00, 500
Alternativa (B): incorreta. A alteração dos contratos de trabalho, no âmbito do direito laboral privado,
pauta-se pela regra da condição mais benéfica, decorrente do princípio da proteção, bem como pela
impossibilidade de transferência dos riscos do empregador ao trabalhador, atrelada ao princípio
da alteridade. Nesta senda, o art. 468 da CLT prevê que nos contratos individuais de trabalho só é lícita a
alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta
ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.
Se o empregador, durante a vigência do contrato de trabalho, promover condição mais vantajosa ao
empregado, essa condição benéfica passará a integrar o contrato do emprego, ainda que não tenha sido
formalizada, não mais podendo ser suprimida. Assim, quando uma empresa contrata um empregado
para trabalhar por 8 (oito) horas diárias, mas, informalmente, consente que usufrua de labor reduzido
sem prejuízo de sua remuneração, por um período considerável, não poderá, posteriormente, determinar
à reversão do empregado à jornada originariamente contratada.
O mesmo, contudo, não ocorre nas relações envolvendo a Administração Pública. A equiparação dos
Entes Públicos ao empregador comum, relativamente aos servidores regidos pela CLT, não pode ser tida
como absoluta, uma vez que a aplicação das normas do Direito do Trabalho é mitigada pelos princípios
consagrados no artigo 37 da CF/88. Dentre eles, os princípios da impessoalidade e legalidade impedem
que, sem autorização legal e previsão orçamentária, o gestor público, por mera liberalidade, promova
a redução da jornada de trabalho prevista na lei e no contrato de seus empregados. Se isso ocorrer, a
determinação posterior de retorno à jornada contratual não caracterizará a alteração in pejus de que
trata o art. 468 da CLT, atendendo, na verdade, às determinações constitucionais. Veja o que diz a OJ nº
308 da SDI-1 do TST:
Alternativa (C): incorreta. A Constituição Federal prevê que a investidura em cargo ou emprego
público, no âmbito da administração direta e indireta, depende de aprovação prévia em concurso
público, estabelecendo, ainda, que a inobservância dessa determinação implicará a nulidade do ato e
a punição da autoridade responsável, nos termos da lei (CF/88, art. 37, inciso II e §2º). Em razão disso,
o TST firmou sua jurisprudência no sentido de que a contratação de servidor público, após a CF/88,
sem prévia aprovação em concurso público, somente confere ao empregado direito ao pagamento
da contraprestação pactuada em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora
do salário-mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS (Súmula nº. 363-TST). Entretanto,
havendo a admissão sem a observância desse requisito, e sobrevindo a privatização da instituição
pública, não haverá mais que se falar em nulidade do ato, uma vez que a exigência constitucional da
admissão somente mediante aprovação prévia em concurso público não se aplica às empresas privadas.
Assim, entende-se que a privatização, associada a continuidade do vínculo com o empregado admitido
sem concurso público, convalida o ato pela empregadora, não podendo ser declarada a sua nulidade,
por não mais subsistir o vício originário. O entendimento está consolidado na Súmula nº. 430 do TST.
Alternativa (D): incorreta. O art. 37, XI, da CF/88 estabelece um teto remuneratório para o funcionalismo
público, dispondo que a maior remuneração não poderá ultrapassar o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal. Somente com a alteração promovida pela EC 19/98, que acresceu
o §9º ao dispositivo, a CFRB passou a prever, de forma expressa, a aplicação do limite remuneratório
também aos empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista e suas subsidiárias. No
entanto, mesmo antes da alteração, o art. 37, XI, da CF/88 já fixava o teto também para os empregados
desses entes, na medida em que tratava genericamente de todos os servidores públicos. Diante disso, a
jurisprudência do TST entende que o §9º do art. 37 da CF/88 veio apenas confirmar o intuito do legislador
em aplicar o teto remuneratório previsto no inciso XI às sociedades de economia mista e empresas
públicas. Nesse sentido é a OJ 339 da SDI-1 do TST, ao prever que:
Alternativa (E): correta. OJ NOVA: a Constituição Federal assegurou aos trabalhadores o direito ao salário
mínimo, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que
lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim (CF/88, art. 7º, IV). Essa
previsão aplica-se também aos servidores ocupantes de cargo público, por força do que dispõe o art.
39, §3º, da CF/88. Vale esclarecer que, nos moldes da súmula vinculante 16 do STF, não é o vencimento
do servidor que não pode ser inferior ao salário-mínimo, mas a sua remuneração, que abrange,
além do vencimento básico, as demais vantagens pecuniárias recebidas em caráter permanente,
como adicionais e gratificações. No âmbito do direito laboral privado, o salário-mínimo é previsto como
contraprestação mínima devida aos empregados que se submetem à jornada de oito horas diárias e
quarenta e quatro horas semanais, de modo que, havendo contratação para cumprimento de jornada
reduzida, inferior à previsão constitucional, é lícito o pagamento do piso salarial ou do salário-mínimo
também de forma proporcional ao tempo trabalhado. Por outro lado, com relação aos servidores
públicos, o STF entende não ser constitucionalmente válida a remuneração inferior ao salário
mínimo, independente da duração da jornada de trabalho. Para ajustar-se ao posicionamento da
Corte, o TST, em fevereiro de 2016, acrescentou o item II à OJ 358 da SDI-1, passando a prever o seguinte:
DIREITO CIVIL
b) A servidão é regida pelo regramento do civiliter modo, de modo que, quando constituída
para certo fim, não poderá ser ampliada a outro, nem na de maior ônus poderá ser
considerada incluída a de menor ônus.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. Nos direitos reais de gozo ou fruição, os atributos relativos à propriedade são
divididos de maneira tal que o atributo de gozar ou fruir da coisa, em maior ou menor amplitude,
é transmitido a outrem, estabelecendo-se uma relação jurídica real entre o proprietário da coisa e o
titular desse tipo de direito. Conforme dispõe o art. 1.225, do CC/2002, os direitos reais de gozo ou fruição
compreendem: a) a superfície, b) as servidões, c) o usufruto, d) o uso, e) a habitação, f ) a concessão de
uso especial para fins de moradia e g) a concessão de direito real de uso.
Para a doutrina majoritária, o art. 1.396 do CC/02 compreende preceito de ordem privada, de modo
que a norma segundo a qual a servidão não autoriza, via de regra, a realização de obras no subsolo é
passível de afastamento mediante previsão contratual expressa. Assim, considerando que o direito de
superfície constitui importante instrumento de aproveitamento da propriedade imobiliária, passou-se
a reconhecer a possibilidade de constituição de propriedade superficiária sobre o subsolo ou sobre o
espaço relativo ao terreno, bem como o direito de sobrelevação, também chamado de direito de
laje, desde que atendida a legislação urbanística (Enunciado 568 da VI Jornada de Direito Civil). O
direito de laje, também chamado de superfície de 2º grau, vale dizer, refere-se às construções e obras
estabelecidas logo acima de um outro imóvel, situação muito comum em áreas favelizadas, onde
recebem o nome de “puxadinho”. A sobrelevação configura a criação de verdadeiro direito real, sem
previsão legal, em decorrência do exercício da autonomia privada. No entanto, embora admitido
pela doutrina, o direito de laje não é INERENTE ao direito de superfície, devendo haver previsão
contratual expressa que o autorize.
Alternativa (B): incorreta. A servidão consiste no direito real de gozo ou fruição por meio do qual
um prédio serviente, gravado, proporciona utilidade a outro prédio, chamado de dominante, cujo
domínio pertence a pessoa diversa. Pode ser constituída por declaração expressa dos proprietários ou
por testamento, sendo obrigatório, em ambos os casos, o registro no Cartório de Registro de Imóveis
(CC/02, art. 1.378). A servidão é regida pelo princípio da menor onerosidade ao imóvel serviente, também
chamado de uso civiliter modo. Nesta senda, o art. 1.385, do CC/2002 prevê que o exercício da servidão
deve se restringir às necessidades do prédio dominante, evitando-se, quando possível, agravar o encargo
ao prédio serviente. Com vistas a possibilitar o alcance deste fim, os parágrafos do dispositivo estabelecem
que: 1) constituída para certo fim, a servidão não pode se ampliar a outro; 2) nas servidões de trânsito,
a de maior inclui a de menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa; 3) se as necessidades da cultura,
ou da indústria, do prédio dominante impuserem à servidão maior largueza, o dono do serviente é
obrigado a sofrê-la; mas tem direito a ser indenizado pelo excesso. Vê-se, portanto, que, nas servidões
de trânsito, a de maior ônus inclui a de menor ônus, o mesmo não ocorrendo na situação inversa
(ou seja, a servidão de menor ônus não inclui a de maior), não sendo tal previsão incompatível com o
regramento do civiliter modo.
Alternativa (C): correta. O compromisso de compra e venda de imóvel estabelece um ponto de conexão
entre os direitos reais e os contratos preliminares. Por meio da promessa de compra e venda, que pode
ser celebrada por instrumento público ou particular (CC/02, art. 1.417), o promissário comprador assume
uma obrigação de dar, consistente no pagamento do preço estipulado, enquanto o promitente vendedor
se obriga a assinar e outorgar escritura pública de compra e venda em favor do promissório comprador,
após o pagamento integral do preço (obrigação de fazer). Para a validade do compromisso de compra e
venda, vale dizer, não é indispensável o registro. No entanto, uma vez registrado o instrumento público
ou particular no cartório de registro de imóveis, a promessa de compra e venda passa a ser
identificada como direito real (CC/02, art. 1.225, VII), de categoria intermediária entre os direitos reais
de garantia e os direitos reais de uso ou fruição, gerando efeitos reais erga omnes. Assim, se a coisa não
for entregue, o compromissário comprador poderá se utilizar da ação de adjudicação compulsória de rito
sumário de que trata o art. 25 da L. 6.766/79, inclusive contra terceiros, conforme prevê o enunciado
253/CJF: “o promitente comprador, titular de direito real (art. 1.417), tem a faculdade de reivindicar de
terceiro o imóvel prometido à venda”.
Por outro lado, quando o compromisso de compra e venda não possuir registro e houver recusa por
parte do promitente vendedor em cumprir sua obrigação de outorgar a escritura definitiva de compra e
venda, o promitente comprador deverá, primeiramente, ajuizar ação requerendo ao juízo que fixe prazo
razoável para a celebração do contrato definitivo (CC/02, art. 463), sendo que, após o seu esgotamento,
o juízo poderá suprir a declaração de vontade do vendedor (CC/02, 464), conferindo definitividade ao
contrato preliminar, por meio de sentença que produzirá o mesmo efeito da escritura pública que o
promitente vendedor não outorgou (efeito similar ao da adjudicação compulsória, mas inter partes).
É nesse sentido que deve ser compreendida a súmula 239-STJ, que dispõe que: “o direito à adjudicação
compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”.
Acrescente-se que, para o STJ, o direito à adjudicação compulsória é de caráter pessoal, restrito aos
contratantes, não se condicionando a obligatio faciendi a inscrição no registro de imóveis (REsp 16.822-
SP). Também no mesmo sentido é o enunciado 95 da I JDC, ao estabelecer que “o direito à adjudicação
compulsória (art. 1.418 do novo Código Civil), quando exercido em face do promitente vendedor, não se
condiciona ao registro da promessa de compra e venda no cartório de registro imobiliário”.
Alternativa (D): incorreta. No usufruto - modalidade de direito real de gozo ou fruição -, há divisão
igualitária dos atributos da propriedade (gozar, reivindicar, usar e dispor - GRUD) entre as partes
envolvidas: o usufrutuário tem os atributos que formam o domínio útil, quais sejam, os de usar e fruir,
enquanto o nu-proprietário permanecerá apenas com os atributos de reivindicar e dispor/alienar a
coisa. Quanto ao modo de instituição ou quanto à origem, a doutrina classifica o usufruto em a) legal, b)
voluntário (este subdividido em usufruto por alienação e usufruto por retenção), c) misto ou d) judicial.
O usufruto judicial era previsto no CPC/1973, que permitia ao juiz conceder ao exequente o usufruto de
móvel ou imóvel, quando o reputasse menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do
crédito. O Novo CPC, todavia, não mais prevê o usufruto judicial propriamente dito, tratando apenas
da possibilidade do juízo de ordenar a penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel.
Logo, pelo menos em um primeiro momento, deve-se concluir que, com o advento do CPC de 2015, o
usufruto judicial foi retirado do ordenamento jurídico brasileiro.
Alternativa (E): incorreta. A propriedade é considerada resolúvel quando suscetível de extinção pelo
advento de condição (evento futuro e incerto) ou termo (evento futuro e certo), bem como pela
superveniência de uma causa capaz de destruir a relação jurídica. São exemplos de propriedade resolúvel
as decorrentes de: 1) compra e venda com cláusula de retrovenda, durante o prazo máximo de até
três anos, dentro do qual o vendedor terá a possibilidade de reaver a coisa (CC/02, art. 508); 2) compra e
venda de móvel com cláusula especial de venda com reserva de domínio, até o integral pagamento do
preço, momento em que cessará a reserva da propriedade feita pelo vendedor (CC/2002, art. 521); e de
3) doação com cláusula de reversão, na qual a propriedade do donatário se resolve com a sua morte,
retornando ao patrimônio do doador que a ele sobreviver (CC/2002, art. 547).
Situação distinta é aquela em que a resolução da propriedade ocorre em função de outra causa,
envolvendo fato novo e superveniente. Nessa hipótese, o possuidor que houver adquirido a propriedade
por título anterior à sua resolução será considerado proprietário perfeito (efeitos ex nunc). Contudo,
somente poderá promover ação, objetivando haver a própria coisa ou seu valor, contra aquele cuja
propriedade se resolveu (CC/2002, art. 1.360). Logo, os efeitos da resolução da propriedade por causa
superveniente se restringem às partes envolvidas (efeitos inter partes). O enunciado 509 do CJF/STJ
sintetiza bem as diferenças apontadas, ao dispor que: “a resolução da propriedade, quando determinada
por causa originária, prevista no título, opera ex tunc e erga omnes; se decorrente de causa superveniente,
atua ex nunc e inter partes”. Observação: parte da doutrina entende que o art. 1.360 do CC/2002 não
traz hipótese de propriedade resolúvel, mas apenas revogável em razão de um evento futuro, na
medida em que não há cláusula contratual de limitação temporal da eficácia do negócio jurídico. Para
essa corrente, a propriedade que se extingue em decorrência de evento superveniente é, na verdade,
uma propriedade ad tempus.
5. À luz da jurisprudência dos tribunais superiores e dos princípios que regem Direito Existencial
de Família, assinale a alternativa correta:
b) Os princípios legais que regem a sucessão e a partilha têm, como ponto em comum, a
circunstância de que ambos deverão observar o ordenamento jurídico vigente na data do
óbito ou da dissolução do casamento ou da união estável.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. O art. 1.597 do CC de 2002 consagra, ao lado das antigas presunções de
paternidade decorrentes do casamento, novas presunções atreladas às técnicas de reprodução assistida.
As previsões ali constantes, segundo jurisprudência do STJ, estendem-se à união estável - que se configura
pela convivência pública, contínua e duradoura estabelecida com o objetivo de constituição de família -
enquanto entidade familiar protegida pela CF/88. Em 2011, o Plenário do STF reconheceu e qualificou
como entidade familiar a união estável homoafetiva (ADI 4.277 e ADPF 132), decidindo ser plena a
equiparação das uniões estáveis homoafetivas às uniões estáveis heteroafetivas. Diante disso, a recente
Resolução 2.121/2015 do Conselho Federal de Medicina passou a permitir, de maneira expressa, o uso das
técnicas de reprodução assistida tanto para relacionamentos homoafetivos (embora, lamentavelmente,
em relação a essa hipótese, tenha ressalvado o direito à objeção de consciência por parte do médico),
quanto para a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina em que não exista infertilidade.
Assim, considerando que os homossexuais podem casar ou constituir união estável, adotar ou ter filhos
por procriação assistida, nada justifica que não possam registrar os filhos em nome de ambos, quando
do nascimento, sem que seja necessário o ajuizamento de ação judicial objetivando a declaração desse
direito. A imposição da via judicial, vale dizer, prejudica o filho, na medida em que, além de negá-lo o
direito à identidade, o alija de também de outros, de natureza previdenciária e sucessória, bem como
impede que o genitor usufrua da licença natalidade. Com base nessas razões, o Enunciado 608 da VII
Jornada de Direito Civil, de 2015, adotou o entendimento de que: “é possível o registro de nascimento
dos filhos de pessoas do mesmo sexo originários de reprodução assistida, diretamente no Cartório do
Registro Civil, sendo dispensável a propositura de ação judicial, nos termos da regulamentação da
Corregedoria local”. Como bem observa Tartuce (in: Manual de Direito Civil. São Paulo: Método, 2016, pg.
1.375), esse reconhecimento, sem ação judicial, é um passo decisivo para a saudável desjudicialização das
contendas.
Alternativa (B): incorreta. A aquisição dos bens ocorre no momento em que se aperfeiçoam os requisitos
legais para tanto, tornando-se um ato jurídico perfeito. Do mesmo modo, a pessoa que adquiriu o bem
torna-se titular de um direito adquirido, não sendo possível que uma lei posterior retroaja para interferir
nesse patrimônio. Via de consequência, a partilha realizada ao cabo da união - seja em razão do
término, em vida, do relacionamento, seja em decorrência do óbito do companheiro ou cônjuge - deve
observar o regime de bens e o ordenamento jurídico vigentes ao tempo da aquisição de cada
um dos bens a partilhar. Isso porque a aplicação da lei vigente ao término do relacionamento a todo o
período de união constituiria manifesta ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito, na medida
em que implicaria a expropriação de patrimônio adquirido segundo a disciplina de lei anterior.
Por outro lado, é pacífico na jurisprudência do STJ que, em matéria de direito sucessório, deve ser
aplicada a lei em vigor na data da abertura da sucessão. Diante disso, ao julgar o REsp 1124859-
MG (STJ, 2ª Seção. Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 27/2/2015), o STJ concluiu que os princípios legais
que regem a sucessão e a partilha não se confundem: enquanto a sucessão é disciplinada pela lei
em vigor na data do óbito, a partilha deve observar o regime de bens e o ordenamento jurídico
vigentes ao tempo da aquisição de cada bem a partilhar.
Alternativa (C): incorreta. O art. 1.641, do CC/2002 estabelece a obrigatoriedade do regime da separação
de bens em três hipóteses: 1) casamento com inobservância das causas suspensivas; 2) casamento do
maior de setenta anos; e 3) casamento de pessoas que necessitam de suprimento judicial para casar.
A Lei 9.278/96, por sua vez, ao tratar genericamente da união estável, prevê, em seu art. 5º, que “os
bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na constância da união estável
e a título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a
ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito”. Interpretando
o dispositivo, extrai-se que, na união estável, o regime de bens é, em regra, o da comunhão parcial,
pelo qual há comunicabilidade ou meação dos bens adquiridos a título oneroso em sua constância.
Contudo, não se pode conceder mais benefícios à união estável do que ao casamento civil, sob pena
de frustrar a finalidade prevista na CF/88. Assim, tendo um dos companheiros idade superior a setenta
anos ao início da união estável, impõe-se a observância do regime da separação obrigatória de bens,
previsto no art. 1.641, II, do CC/02 (lembrando que, também no regime da separação obrigatória de
bens, pode haver a comunicação dos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável – S
377/STF). Nesta senda, analisando a situação, o STJ decidiu que, iniciada a convivência quando um dos
companheiros tinha mais de setenta anos de idade, os bens adquiridos onerosamente na constância
da união estável somente poderão ser objeto de partilha se for comprovado o esforço comum na
sua aquisição (STJ, 2a Seção. EREsp 1171820/PR. Rel. Min. Raúl Araújo, j. em 26/8/2015).
A Corte entendeu que, nessa hipótese, aplicar a compreensão de que o esforço comum deve ser presumido,
nos moldes previstos no art. 5º da L. 9.278/96, acabaria por conduzir à ineficácia do regime da separação
obrigatória de bens. Em suma, considera-se que é o esforço comum que enseja a comunicabilidade dos
bens, e não o mero dever de solidariedade, inerente à vida comum do casal.
Alternativa (D): incorreta. Como vimos, o art. 5º da L. 9.278/96 prevê o regime de comunhão parcial de
bens como regra na união estável, presumindo que os bens móveis e imóveis onerosamente adquiridos
pelos conviventes durante a relação decorrem de esforço comum. O §1º do dispositivo excepciona a
regra, estabelecendo que a presunção referida não se aplica se a aquisição patrimonial ocorrer
com o PRODUTO de bens adquiridos anteriormente ao início da união. Segundo a doutrina,
frutos são bens que de outro nascem, periodicamente, sem destruição ou prejuízo para este, enquanto
produtos são as vantagens não periódicas que se retira da coisa, alterando-a ou consumindo-a. Logo,
o dispositivo não afasta a comunicação dos FRUTOS dos bens comuns ou particulares percebidos
ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão, conforme determina o art. 1.660, do CC/2002. Nesta
senda, a jurisprudência do STJ é no sentido de que a incomunicabilidade do produto dos bens adquiridos
anteriormente ao início da união estável (art. 5º, § 1º, da Lei n. 9.278/96) não afeta a comunicabilidade dos
frutos dos bens comuns ou dos particulares de cada cônjuge percebidos na constância do casamento
ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão, estatuída no art. 1.660, V, do CC/02, operando-se a
comunicação desses últimos na união estável, para fins de partilha.
Alternativa (E): incorreta. O CC/2002, em seu art. 1.831, assegura direito real de habitação ao cônjuge
sobrevivente, relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar. Essa norma tem por escopo assegurar ao cônjuge sobrevivente o direito de
moradia, independentemente do regime de bens adotado no casamento e ainda que outros herdeiros
passem a ter a propriedade sobre o imóvel de residência do casal, em razão da transmissão hereditária.
A imposição legal reside na solidariedade interna do grupo familiar, que prevê recíprocas relações
de ajuda. Assim, quem deve suportar a limitação dos direitos de propriedade imposta pelo
reconhecimento do direito real de habitação são os herdeiros do de cujus, e não quem já era
proprietário do imóvel antes do óbito e havia permitido a sua utilização a título de comodato.
Caso contrário, estar-se-ia admitindo o direito real de habitação sobre imóvel de terceiros. Diante disso,
a jurisprudência do STJ entende que, se o cônjuge falecido, no momento do óbito, já não era mais
proprietário do imóvel residencial, mas mero usufrutuário, figurando a viúva sobrevivente como mera
comodatária, não será a ela reconhecido o direito real de habitação.
b) Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que
se referem os fatos confessados, porém, inexistindo vício de capacidade e disposição do
direito, pode aquela ser revogada, bem como anulada, se decorreu de erro de fato ou de
coação.
d) A ata notarial é o instrumento público através do qual o notário capta, por seus sentidos,
uma determinada situação, um determinado fato, e o translada para seus livros de notas
ou para outro documento, registrando fatos jurídicos - sejam eles naturais ou voluntários
- com (possíveis) consequências jurídicas, sendo certo afirmar que a fé pública resultante
da escritura lavrada em notas de tabelião cede ante os termos de outra, posterior, que lhe
reconhece a falsidade ideológica.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. Sobre o tema, o Professor Pablo Stolze afirma que:
157 – “Art. 212: O termo “confissão” deve abarcar o conceito lato de depoimento pessoal,
tendo em vista que este consiste em meio de prova de maior abrangência, plenamente
admissível no ordenamento jurídico brasileiro”.
373 – “Art. 787: Embora sejam defesos pelo § 2º do art. 787 do Código Civil, o reconhecimento
da responsabilidade, a confissão da ação ou a transação não retiram do segurado o direito à
garantia, sendo apenas ineficazes perante a seguradora”.
Observe que a confissão, como a doutrina mesmo indica, é a chamada “rainha das provas”, e nesse
sentido vai o enunciado 157 das Jornadas de Direito Civil, de modo conferir-lhe ampla abrangência,
inclusive mediante inserção no conceito lato de depoimento pessoal, ou seja, qualquer tipo
de depoimento dessa natureza pode levar ao reconhecimento prático da confissão. O erro da
alternativa é intencionar restringir esse âmbito de aplicação da confissão.
Ademais, a segunda parte da alternativa está em consonância com o enunciado 373 das Jornadas, cujo
teor é destrinchado pelo Professor Flávio Tartuce (in Manual de Direito Civil, Volume único, 2015, Ed.
Método), nos seguintes termos:
[...] Em suma, o § 2.º do art. 787 do CC entra em conflito com outros preceitos do próprio
CC e do CDC, a afastar a sua aplicação. Para diminuir o seu campo de aplicação, foi
aprovado, na IV Jornada de Direito Civil, o Enunciado n. 373: “Embora sejam defesos pelo
§ 2.º do art. 787 do Código Civil, o reconhecimento da responsabilidade, a confissão da ação
ou a transação não retiram ao segurado o direito à garantia, sendo apenas ineficazes perante
a seguradora”. Em complemento da VI Jornada de Direito Civil, o Enunciado n. 546: “O §
2.º do art. 787 do Código Civil deve ser interpretado em consonância com o art. 422 do
mesmo diploma legal, não obstando o direito à indenização e ao reembolso”.
Alternativa (B): incorreta. A questão exigiu o conhecimento dos seguintes artigos do CC/2002:
“Art. 213. Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a
que se referem os fatos confessados.
Parágrafo único. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos limites em que
este pode vincular o representado.
Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de
coação”.
Observe que a Confissão é irrevogável, embora possa ser anulada se decorreu de erro de fato ou coação.
O Professor Pablo Stolze (op. já citada) comenta os vícios da confissão da seguinte forma:
“No primeiro caso, o confitente reconhece o fato por força da violência psicológica sofrida
(“confesse, ou você morre!”). Note-se que, se a coação for física, traduzida no emprego de
energia corporal sobre o corpo da vítima, o ato deixa de ser simplesmente anulável, e passa a
ser inexistente.
Ocorre erro de fato, por sua vez, quando o declarante equivoca-se sobre a natureza do negócio,
suas qualidades essenciais, seu objeto, ou quanto à pessoa do outro declarante, e culmina por
confessar, por engano, fato inverídico, não condizente com a realidade”.
O professor ainda menciona a característica da indivisibilidade da confissão, consagrada pelo art. 354 do
Código de Processo Civil:
“A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova,
aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia,
quando o confitente lhe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de
direito material ou de reconvenção”.
Alternativa (C): incorreta. A assertiva contraria o disposto no enunciado n. 298 das Jornadas de Direito
Civil:
Vale salientar que, atualmente, há ampla aceitação dos chamados documentos eletrônicos, inclusive pela
expansão dos sistemas informatizados de tramitação processual no Poder Judiciário, com regulamentação
própria através da Lei n. 11.419/2006, na qual se afirma que:
Por fim, o Supremo Tribunal Federal já entendeu que documento não representa apenas o papel,
mas também abrange o arquivo eletrônico (STF, RHC 95689, Rel. Min. EROS GRAU).
Alternativa (D): correta. Sobre o tema, vale ressaltar o que dispõe o Art. 215 do CC/2002: “A escritura
pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena”.
Segundo Ricardo Fiúza (in Código Civil Comentado, 8ª ed, 2012, Saraiva):
Por sua vez, o novo Código de Processo Civil aborda explicitamente a ata notarial como meio de prova,
em seu art. 384 e parágrafo único:
“Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou
documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos
eletrônicos poderão constar da ata notarial”.
Portanto, as atas notariais não terão como conteúdo um ato jurídico e, sim, fatos, atos ou circunstâncias
de relevância jurídica dos quais se derivem ou declarem direitos ou interesses legítimos para as pessoas,
ou qualquer outro ato de declaração lícita que por sua natureza não constitua ato jurídico.
OBS: é oportuno lembrar que, apesar da inserção no NCPC, como inovação no Código Processual, a ata
notarial já estava prevista na legislação civil especial – Lei 8.935/1994, em seu art. 7º, III:
“Art. 7º Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: [...] III - lavrar atas notariais; [...]
Parágrafo único. É facultado aos tabeliães de notas realizar todas as gestões e diligências
necessárias ou convenientes ao preparo dos atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus
maiores que os emolumentos devidos pelo ato”.
Por fim, a parte final da assertiva está em consonância com o seguinte julgado do STJ: “Escritura pública.
Fé pública. A fé pública resultante da escritura lavrada em notas de tabelião cede ante os termos de outra,
posterior, que lhe reconhece a falsidade ideológica” (STJ, REsp 813.491/PR, Rel. Min. Ari Pargendler, 3ª
Turma, julgado em 18-12-2007).
Alternativa (E): incorreta. A alternativa contraria o entendimento solidificado no enunciado n. 297 das
Jornadas de Direito Civil:
“Art. 212: O documento eletrônico tem valor probante, desde que seja apto a conservar a
integridade de seu conteúdo e idôneo a apontar sua autoria, independentemente da
tecnologia empregada”.
Ou seja, para fins de valor probatório (não confundir isso com a simples discussão sobre a
originalidade do documento), o documento eletrônico tem validade independentemente da
tecnologia empregada, desde que, de per si, seja apto a conservar a integridade de seu conteúdo
e possa identificar a sua autoria, de modo que será irrelevante a tecnologia empregada, não sendo
necessária certificação específica para valer como prova, a não ser que a lei exija forma especial (art. 212,
caput, CC/2002).
a) As disposições do art. 236 do Código Civil (“Sendo culpado o devedor, poderá o credor
exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em
um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”) também são aplicáveis à hipótese
da parte final do art. 240 do mesmo Código (“Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa
do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do
devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”).
b) O art. 299 do Código Civil (“É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com
o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele,
ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”) exclui a possibilidade da
assunção cumulativa da dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis
pelo débito com a concordância do credor.
c) A “quitação regular” referida no art. 319 do CC/2002 (“O devedor que paga tem direito
a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada”) engloba a
quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação a distância”,
assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem
a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes, inclusive porque
válida será a quitação se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a
dívida.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. Trata-se da redação do enunciado n. 15 das Jornadas de Direito Civil:
“Art. 240: As disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à
hipótese do art. 240, in fine”.
O art. 236 do Código Civil de 2002 reza que “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente,
ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização
das perdas e danos”, o que é aplicação básica da responsabilidade civil por ato ilícito culposo (art.
186 do CC/2002), inclusive por força da relação causal que levou ao dano, sem prejuízo de que
tanto esse artigo como 240 do CC/2002 observam a regra do res perit domino (“a coisa perece
para o dono”), quando inexistente culpa do devedor.
“No caso de deterioração, as regras são idênticas às dos arts. 234 e 236. Se não houver culpa
do devedor, o credor, que é o dono da coisa, fica com o prejuízo: receberá de volta a coisa
danificada, sem direito a qualquer indenização. Havendo culpa do devedor, o credor receberá a
coisa danificada, acrescida do valor referente à depreciação e ainda as perdas e danos”.
Alternativa (B): incorreta. A assertiva dissente do entendimento consagrado no enunciado 16 das Jornadas
de Direito Civil (“O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da
dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância
do credor”), sendo claro que contraria a lógica do interesse do credor a vedação a que dois ou mais
devedores assumam cumulativamente a dívida, sem prejuízo de ferir a própria ideia de autonomia e
liberdade contratual, inerente ao Direito Civil obrigacional e contratual.
Alternativa (C): correta. A assertiva está de acordo com o disposto no Enunciado 18 das Jornadas de
Direito Civil:
“Art. 319: A “quitação regular” referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação
dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de “comunicação a distância”,
assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos
sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes”, bem como
com o que dispõe o art. 320 e parágrafo único do CC/2002:
“Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor
e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar
do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação,
se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida”.
Alternativa (D): correta. A alternativa está em consonância com o disposto nos enunciados n. 351 e 352
das Jornadas de Direito Civil:
“352 – Art. 300: Salvo expressa concordância dos terceiros, as garantias por eles prestadas
se extinguem com a assunção da dívida; já as garantias prestadas pelo devedor primitivo
somente serão mantidas se este concordar com a assunção”.
Por sua vez, a redação dos arts. 282 e 300 do CC/2002 é a seguinte:
No tocante ao art. 282, Flávio Tartuce (op. já citada) aponta que “O enunciado doutrinário tem
conteúdo bem interessante, de diálogo entre o Direito Civil e o Direito Processual, sendo certo
que o chamamento ao processo é efeito decorrente da solidariedade, nos termos do art. 77, III, do
CPC. Em relação àquele que foi exonerado da responsabilidade (B), portanto, não caberá o chamamento
ao processo”.
Sobre esse último dispositivo legal, Ricardo Fiúza (op. já citada) assim se manifesta:
“Controverte-se a doutrina sobre quais seriam essas “garantias especiais” consideradas extintas
a partir da assunção. Seriam as garantias pessoais? As garantias prestadas por terceiros? O
vocábulo parece que não foi bem empregado.
Assim, se o antigo devedor garantiu a dívida com a hipoteca de seu imóvel, e o credor, sem o
seu assentimento (expromissão), o substitui no polo passivo da obrigação, a garantia real não
se transmitirá ao novo devedor. Presume-se que o credor, ao “abrir mão” do primitivo devedor,
também “dispensou” a garantia por ele prestada.
Todas as outras garantias, como “as nascidas diretamente da lei, as constituídas pelo terceiro
assuntor, ou por terceiro ou pelo antigo devedor, que tenham consentido na transmissão”, se
mantêm, a despeito da alteração registrada na relação obrigacional” (VARELA, João de Matos
Antunes. Das obrigações em geral. vol. II. 7. ed. Coimbra: Almedina, 1997, p. 382-383)”.
Alternativa (E): correta. Segundo o Professor Flávio Tartuce, o art. 266 do CC/2002 aponta que a
obrigação solidária, quanto à presença de elemento acidental, pode ser assim subclassificada:
* Obrigação solidária pura ou simples – é aquela que não contém condição, termo ou encargo.
* Obrigação solidária condicional – é aquela cujos efeitos estão subordinados a um evento futuro e
incerto (condição).
* Obrigação solidária a termo – é aquela cujos efeitos estão subordinados a evento futuro e certo
(termo).
Anota o Professor que “A obrigação solidária pode ser pura em relação a uma parte e condicional ou
a termo em relação à outra, seja o sujeito credor ou devedor. O comando legal, contudo, não fala de
obrigação solidária modal ou submetida a encargo. Fica a dúvida: seria esta possível?
Diante do sistema aberto adotado pela atual codificação privada, deve-se entender que não há vedação,
diante da possibilidade de compatibilidade do encargo com uma obrigação solidária e pelo fato de não
existir ilicitude ou contrariedade aos bons costumes a gerar eventual nulidade.
Em suma, a dedução é que o art. 266 do atual CC traz um rol exemplificativo de situações
(numerus apertus). Nesse sentido, na IV Jornada de Direito Civil foi aprovado o Enunciado n. 347,
estabelecendo que “A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol
previsto no art. 266 do Código Civil”.
pratique pessoalmente atos de execução, bem como o seu agravamento em de 1/6 (um
sexto) a 2/3 (dois terços) em casos de participação de criança ou adolescente, de concurso
de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática
de infração penal ou se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou
em parte, ao exterior;
publicação de legislação penal extravagante, razão por que apenas as condutas praticadas
em momento posterior ao início do vigor da lei podem ser enquadradas nesse tipo penal.
Atualmente, na vigência da Lei n. 12.850/2013, estando tipificado tal crime, incorrerá
também nas penas atribuídas a essa infração penal aquele que impede ou embaraça a
investigação de infração que envolve organização criminosa, da mesma forma de quem
integra organização criminosa.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. A alternativa trocou as hipóteses de aumento de pena com a de agravante.
No primeiro caso (comando da organização) há agravamento da pena para quem exerce o comando,
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução,
ao passo que as demais hipóteses citadas configuram causa de aumento de pena. Confiram o art. 2º, §§
3º e 4º da Lei de Organizações Criminosas:
Art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa:
[...]
Alternativa (B): correta. A alternativa está em consonância com o disposto no art. 3º, §§ 1º e 2º, c/c
incisos II e V da Lei n. 12.850/2013, tratando-se de inovação trazida pela Lei nº 13.097, de 2015. Confiram
os dispositivos legais pertinentes:
Art. 3º. Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já
previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:
[...]
[...]
§ 2º. No caso do § 1º, fica dispensada a publicação de que trata o parágrafo único do art. 61
da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de controle interno
da realização da contratação. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015)
Ademais, vejam o que diz o Art. 61, parágrafo único da Lei n. 8.666/1993:
Art. 61. Todo contrato deve mencionar os nomes das partes e os de seus representantes, a
finalidade, o ato que autorizou a sua lavratura, o número do processo da licitação, da dispensa
ou da inexigibilidade, a sujeição dos contratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais.
Alternativa (C): correta. A primeira parte da alternativa está em consonância com o art. 4º e seguintes
parágrafos da Lei nº. 12.850/2013:
Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até
2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele
que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal,
desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
[...]
[...]
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor,
ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. (letra E correta)
[...]
§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações
de agente colaborador.
Sobre a parte final do enunciado, o STJ decidiu, de fato, no sentido exposto: “No caso de extorsão mediante
seqüestro (art. 159 do CP), não se considera delação premiada (§ 4º do referido artigo) o fato de o
paciente, depois de preso, apenas fornecer o número de telefone de seu comparsa, visto que, em
nenhum momento, facilitou a resolução do crime ou influenciou a soltura da vítima. [...]” (STJ, HC
107.916/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 07/10/2008, DJe 20/10/2008).
Alternativa (D): correta. A alternativa está em estrita consonância com os Arts. 8º e 9º da Lei de
Organizações Criminosas:
§ 2º. A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que
possam indicar a operação a ser efetuada.
§ 3º. Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
Sobre a Ação Controlada, o Professor Renato Brasileiro (in Legislação Criminal Especial Comentada, 2015,
Juspodivm) aponta que “Cuida-se de importante técnica especial de investigação, prevista expressamente
na Lei de Drogas (Lei n°. 11.343/06, art. 53, II), na Lei de Lavagem de Capitais (Lei n°. 9.613/98, art. 4°B, com
redação dada pela Lei n°. 12 .683/12) e na nova Lei das Organizações Criminosas (Lei n°. 12.850/13, art.
8°)”, asseverando, ademais, que “[...] é estrategicamente mais produtivo , sob o ponto de vista da colheita
de provas, evitar a prisão prematura de integrantes menos graduados de determinada organização
criminosa, pelo menos num primeiro momento, de modo a permitir o monitoramento de suas ações
e subsequente identificação e prisão dos demais membros, notadamente daqueles que exercem o
comando da societas criminis”.
Alternativa (E): correta. A parte inicial da alternativa se refere ao seguinte entendimento do STF:
Já a segunda parte da alternativa está de acordo com o Art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/2013:
“art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa: [...] § 1º. Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer
forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.
a) O militar em serviço não responde pelos crimes de abuso de autoridade previstos na Lei
n.º 4.898/1965, haja vista incidir legislação própria, sem prejuízo de responder quando atua
fora do exercício das funções, mas a pretexto de exercê-las.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. Não há previsão de crime de abuso de autoridade no Código Penal
Militar, além de que a lei n. 4.898/1965 (lei dos crimes de abuso de autoridade) abarca como autoridades
os servidores militares:
“Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou
função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”.
Ademais, quanto à parte final da assertiva, lembrem-se de que, em relação aos chamados crimes
funcionais, o sujeito responderá mesmo que não esteja no exercício efetivo da função pública,
bastando que esta seja o pretexto ou fundamento de sua ação, como, por exemplo, quando o
servidor utiliza-se de privilégios funcionais para assuntos de natureza particular.
Alternativa (B): correta. Segundo o art. 1º, I, “a”, da Lei 9.455/97, constitui crime de tortura:
Alternativa (C): incorreta. A Lei n. 4.898/1965 não prevê tipos penais culposos (o que pode não ser
nenhum deslize do “legislador”, considerando que foi editada em período de exceção, quando vigente a
ditadura militar), e, do mesmo modo, é equivocado afirmar que não há crime de abuso de autoridade por
omissão, na medida em que é possível a sua ocorrência na forma omissiva, como, por exemplo, no caso
de autoridade policial deixar de comunicar o juiz e a família do preso quanto a sua prisão (art. 4º, “c”).
Alternativa (D): incorreta. O erro da assertiva é que na lei de tortura há previsão de interdição para
o exercício e cargo, função ou emprego público pelo dobro do prazo da pena aplicada. Confiram os
dispositivos legais pertinentes:
“Art. 1º. [...] § 5º. A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público
e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”.
“Art. 2º. [...] § 6º. A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário
público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para
o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao
cumprimento da pena”.
OBS: a doutrina majoritária e o STJ têm entendimento no sentido de que a perda do cargo, em
função de crime de tortura, é efeito automático da condenação, por tratar-se de efeito previsto em
lei especial, prevalecendo sobre a regra geral do Código Penal.
Alternativa (E): incorreta. São dois os erros da alternativa. Em relação à primeira parte, o crime a ser
imputado ao servidor é o de “Maus-tratos” (Art. 136, do Código Penal: “Expor a perigo a vida ou a saúde
de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina”), uma vez que, para se desclassificar a
conduta de Maus-tratos, tipificando o crime de Tortura, deve-se observar o intenso sofrimento físico ou
mental por meio do emprego de violência ou grave ameaça.
Em relação à segunda parte da assertiva, a Lei de tortura não prevê a cassação da aposentadoria
do servidor público, devendo ser lembrado que a lei penal não comporta interpretação extensiva ou
ampliativa, de modo a abarcar efeitos e/ou condutas não expressamente dedutíveis do tipo penal e de
suas respectivas cominações. Confiram o que dispõe o art. 1º, § 5º, da Lei n. 9.455/1997: “Art. 1º. [...]§ 5º.
A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício
pelo dobro do prazo da pena aplicada”.
a) Na ação penal pública, o princípio da igualdade das armas é mitigado pelo princípio da
oficialidade, inserindo-se no contexto do modelo processual acusatório, entendido este
como adequado a um Estado Democrático de Direito por ser o mais garantista, partindo de
um pressuposto estrutural e lógico que é a separação entre juiz e acusação.
c) Nos crimes comuns e nos casos de prisão em flagrante, deverá a autoridade policial
garantir a assistência de advogado quando do interrogatório do indiciado, devendo nomear
defensor dativo caso o indiciado não indique profissional de sua confiança, especialmente
em se tratando de incapaz, sendo cabível, ademais, a absolvição sumária em processo
comum caso o juiz reconheça, após a audiência preliminar, a existência de doença mental
do acusado que, comprovada por prova pericial, o torne inimputável.
d) Ainda que se trate de lei processual nova híbrida ou mista, a jurisprudência consolidada
entende que deverá ser aplicado o princípio do efeito imediato, consagrado no direito
processual penal pátrio.
COMENTÁRIO
Assim, em consonância com o enunciado, verifica-se que parcela expressiva da doutrina considera
que a nota de destaque do modelo acusatório é a separação entre juiz e acusação.
Alternativa (B): incorreta. O flagrante diferido, segundo o Professor Nestor Távora (in Curso de Direito
Processual Penal, 2016, Ed. Juspodvim), “É um flagrante de feição estratégica, pois a autoridade policial
tem a faculdade de aguardar, do ponto de vista da investigação criminal, o momento mais adequado
para realizar a prisão, ainda que sua atitude implique na postergação da intervenção. Mesmo diante da
ocorrência da infração, pode-se deixar de atuar, no intuito da captura do maior número de infratores, ou
da captação de um maior manancial probatório”.
Esclarece o professor, ainda, que “Esta hipótese não se confunde com o flagrante esperado, pois neste
a polícia aguarda o início dos atos executórios, e, uma vez iniciados, estará obrigada à realização
da prisão. Já no flagrante diferido, a polícia deixa de efetivar a prisão, mesmo presenciando o crime, pois
do ponto de vista estratégico, esta é a melhor opção”.
Conforme já visto, a Lei nº 12.850/2013 (nova Lei de Organização Criminosa) previu expressamente
esta espécie de flagrante, que recebe a denominação de “ação controlada”, para a qual não
se exigiu autorização judicial, tampouco oitiva do MP, cabendo à autoridade policial administrar a
conveniência ou não da postergação, devendo apenas comunicar ao juízo competente, de modo a
possibilitar o controle judicial da medida, conforme art. 8º, § 1º, dessa Lei.
Por outro lado, o flagrante postergado foi contemplado também na Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas),
que prevê, no art. 53, inciso II, “a não-autuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a
finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição,
sem prejuízo da ação penal cabível”.
Sobre esse dispositivo, o Professor Nestor Távora (op. já citada) aponta que “A ideia é a mesma, contudo
os requisitos são diversos, já que na lei de tóxicos, exige-se autorização judicial, prévia oitiva do
MP, além do conhecimento do provável itinerário da droga e dos eventuais agentes do delito ou
colaboradores (art. 53, caput e parágrafo único). Ademais, o juiz que delibera quanto à prorrogação já é
o competente para o futuro processo (prevenção)”.
A situação de incapacidade exige apenas representação para o ato, se for o caso, considerando,
especialmente, o que prescreve o novel Estatuto da Deficiência (lei n. 13.146/2015) e as alterações
que promoveu na legislação civil, abolindo os casos de incapacidade relativa.
OBS: vale apontar que a Lei nº 13.245/2016, que altera o art. 7º do Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94),
de forma a incluir o inciso XXI a esse artigo, não permite que chegue a conclusão diversa, pois, a
rigor, a presença da defesa técnica no interrogatório e nos demais atos da investigação criminal
continua sendo facultativa.
Trata-se de um direito do investigado, mas, ao contrário do interrogatório judicial, este pode optar por
não estar acompanhado de um advogado no ato, sem que isso acarrete nulidade. O que mudou é que
agora a legislação é expressa ao reconhecer o direito do advogado de, se quiser, participar do ato, não
podendo haver embaraço da autoridade que conduz a investigação.
No que toca à parte final da assertiva, não cabe absolvição sumária no processo comum por
inimputabilidade de acusado com deficiência mental, pois será caso de aplicação de medida
de segurança. Nesse sentido é o que reza o art. 397, CPP - “(...) o juiz deverá absolver sumariamente o
acusado quando verificar: (...) II- a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade”.
Ademais, a absolvição sumária ocorre somente após a resposta à acusação, que é antes da
audiência preliminar, o que faz a assertiva incorrer em outro erro.
Alternativa (D): incorreta. As leis híbridas são aquelas que possuem conteúdo processual e material.
Segundo o Professor Nestor Távora (op. já citada), “Como não pode haver cisão, deve prevalecer o aspecto
penal. Se este for benéfico, a lei será aplicada às infrações ocorridas antes da sua vigência. O
aspecto penal retroage, e o processual terá aplicação imediata, preservando-se os atos praticados
quando da vigência da norma anterior. Já se a parte penal for maléfica, a nova norma não terá
nenhuma incidência aos crimes ocorridos antes de sua vigência e o processo iniciado, todo ele,
será regido pelos preceitos processuais previstos na antiga lei”.
Observem que a jurisprudência acompanha e pratica esse entendimento, como, por exemplo, em relação
a fatos praticados antes da entrada em vigor da Lei 11.719/2008, que alterou dispositivos do CPP relativos
à suspensão do processo, emendatio libelli, mutatio libelli e aos procedimentos nele previstos:
“(…) 1. A regra do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, que dispõe sobre a fixação,
na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos danos causados ao
ofendido, é norma híbrida, de direito processual e material, razão pela que não se aplica a
delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.719/2008, que deu nova redação
ao dispositivo”. (STJ, AgRg no REsp 1254742/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 22/10/2013, DJe 05/11/2013)
Alternativa (E): incorreta. Sobre a parte inicial da assertiva, Norberto Avena (Processo Penal Esquematizado,
2014, Ed. Método) alerta que :
Ademais, há autores que afirmam ser dispensável ou fortemente mitigada a obrigação de fundamentação
no rito do Tribunal do Júri, considerando o procedimento de votação do Conselho de Sentença, o que é
secundado por decisões dos Tribunais Superiores, senão vejamos:
11. Maria das Dores moveu ação contra o Estado E, protocolada em 3 de fevereiro de 2009,
pleiteando a condenação do ente federado ao fornecimento de medicamentos e ao pagamento
de indenização correspondente aos valores pretéritos que expendeu na compra da medicação.
Porém, a ação foi extinta, sem resolução de mérito, por ter o magistrado considerado irregular
a representação processual da autora, que se quedou inerte após intimada para regularizá-la. A
sentença transitou em julgado em primeiro grau, em 5 de novembro de 2011. No dia 1º de junho
de 2016, Maria das Dores ajuizou nova ação, reiterando os pedidos deduzidos na primeira. O
Estado E, ao apresentar contestação, comprovou documentalmente que a medicação havia sido
concedida administrativamente à autora em 7 de janeiro de 2013. O magistrado, então, extinguiu
o processo, sem resolução de mérito, por falta de interesse de agir, na forma do art. 485, VI, do
Código de Processo Civil de 2015. Maria das Dores interpôs apelação, alegando que, embora tenha
havido perda superveniente do interesse de agir quanto à concessão da medicação, subsiste
interesse na condenação do ente federado ao pagamento dos valores pretéritos referentes aos
medicamentos que foi obrigada a adquirir por seus próprios meios. O recurso não foi admitido
pelo magistrado sentenciante. À vista desse cenário fático hipotético, assinale a única alternativa
INCORRETA:
b) A autora não possui interesse de agir no caso narrado, visto que sua pretensão
indenizatória remanescente foi fulminada pela prescrição quinquenal.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. Como já visto anteriormente, “o CPC encampou a ‘teoria da causa madura’”
(DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação
às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 194). Essa teoria,
ao ampliar o thema decidendum, obriga o órgão ad quem a julgar diretamente o mérito da ação quando
o processo se mostrar suficientemente instruído e dês que já integrada ao processo a parte ré, por meio
da citação, nas hipóteses arroladas no art. 1.013, §3º, do Novo Código de Processo Civil. Entre outras
hipóteses, o tribunal deverá decidir desde logo o mérito quando reformar sentença terminativa, tal qual
ocorre no caso narrado.
Alternativa (B): incorreta. Ao caso em comento, por se tratar de obrigação de trato sucessivo imposta a
ente público, aplica-se a prescrição quinquenal, na forma da súmula n. 85 do Superior Tribunal de Justiça,
segundo a qual:
Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora,
quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação.
A esse respeito, Leonardo Carneiro da Cunha afirma que “algumas pretensões formuladas em face da
Fazenda Pública dizem respeito a vantagens financeiras, cujo pagamento se divide em dias, meses ou
ano. (…) Em casos assim, a prescrição não encobre toda a pretensão, atingindo, apenas, as prestações
que se vencerem antes dos últimos 5 (cinco) anos” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública
em Juízo, 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 68).
Nessa linha, considerando que a prescrição foi interrompida com o ajuizamento da ação, em 1º de junho
de 2016, em tese, apenas as prestações relativas aos cinco anos anteriores não estariam prescritas, é dizer,
a requerente poderia pleitear os valores devidos de junho de 2011 a junho de 2016. Ocorre que não há
valores a serem pagos a partir do deferimento administrativo do pleito, em 7 de janeiro de 2013. Logo,
em princípio, as pretensões anteriores a 7 de janeiro de 2013 – únicas sobre as quais haveria interesse de
agir – já estariam fulminadas em parte pela prescrição quinquenal. Dessa forma, se se entendesse que
houve prescrição do fundo do direito – e não prescrição mensal de relação jurídica de trato sucessivo – a
assertiva estaria correta.
Entretanto, essa linha de raciocínio ignora dois fatores de relevo: primeiramente, repise-se que, no caso,
o prazo prescricional se renova mês a mês; em segundo lugar, a prescrição fora interrompida com o
ajuizamento da primeira ação, em 3 de fevereiro de 2009, voltando a correr apenas em 5 de novembro
de 2011, como se verá com detalhes adiante. Dessa forma, a autora do caso hipotético possui interesse
de agir, porquanto necessária e útil a tutela pleiteada, em relação aos valores anteriores ao deferimento
administrativo do pleito, não abarcados pela prescrição quinquenal.
Alternativa (C): correta. De fato, conforme prevê o art. 1.010, §3º, do Código de Processo Civil de 2015,
interposta a apelação e intimada a parte adversa para apresentar suas contrarrazões, os autos serão
remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. Assim, “a competência
tanto para a admissibilidade como para o julgamento do mérito recursal é exclusiva do tribunal de
segundo grau (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal)” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 1546).
Essa regra, inovadora em relação à dinâmica do Código Buzaid, buscou evitar o retrabalho decorrente da
duplicidade do juízo de admissibilidade em primeiro e em segundo graus de jurisdição.
Como já vimos em oportunidade anterior, conquanto a redação original do Novo Código de Processo
Civil tivesse dado o mesmo regramento ao recurso especial e ao recurso extraordinário, a Lei n. 13.256/16
impediu que isso acontecesse. Assim, nos recursos excepcionais, remanesce o juízo de admissibilidade
prévio do órgão a quo e o definitivo do ad quem.
Alternativa (D): correta. Como exposto na alternativa (B), supra, e na alternativa (E), infra, conquanto a
autora não possua interesse de agir quanto à fração de seu pedido, remanesce o interesse e a utilidade
da tutela pretendida em relação aos valores anteriores ao deferimento do pleito administrativo, sobre os
quais não incide a prescrição quinquenal.
Alternativa (E): correta. Realmente, o prazo prescricional foi interrompido em 3 de fevereiro de 2009,
com a propositura da primeira demanda, e voltou a correr somente em 5 de novembro de 2011, com seu
trânsito em julgado, tudo conforme disposição do art. 202, I e parágrafo único, do Código Civil, in verbis:
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu,
ou do último ato do processo para a interromper.
É que “o prazo prescricional, interrompido pela citação válida, somente reinicia o seu curso após o
trânsito em julgado do processo extinto sem julgamento de mérito. Tanto que, se assim não fosse, a
segunda ação também seria extinta por força da litispendência” (Resp 1.165.458. STJ. Primeira Turma. Rel.
Luz Fux, DJ 29.6.2010).
Além disso, a prescrição foi mais uma vez interrompida em 1º de junho de 2016, com o ajuizamento da
segunda ação e com o respectivo despacho citatório. A regra vazada no art. 202, caput, do Código Civil
não pode ser entendida de forma absoluta, pois, há, sim, hipóteses em que a prescrição será interrompida
mais de uma vez. Nesse sentido:
“Segundo o texto legal, a interrupção só poderá ocorrer uma vez (…). Uma dificuldade, porém,
necessita ser contornada, pois, interrompida a prescrição (…) seria inconcebível entender
que, voltando a correr, na conformidade do parágrafo único, não mais fosse detida com o
12. Sobre o recurso de agravo na dinâmica do Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/15 com
as alterações da Lei n. 13.256/16), julgue as seguintes assertivas:
II. O agravante poderá requerer que o agravo fique retido nos autos, a fim de que dele
conheça o tribunal, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação.
III. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre
mérito do processo.
IV. Não cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, tampouco no processo de
sentença, ficando o recurso restrito à fase de conhecimento.
a) II e IV.
b) II e III.
c) I, II e IV.
d) IV.
e) III e V.
COMENTÁRIO
O objeto da questão, o recurso de agravo, deve ser considerado como um gênero recursal, havendo
três diferentes espécies previstas no Código de Processo Civil de 2015. Com efeito, “contra determinadas
decisões interlocutórias de primeiro grau é cabível o agravo de instrumento, sendo que as decisões
interlocutórias de primeiro grau não recorríveis por tal recurso (...) são impugnáveis como preliminar de
apelação ou nas contrarrazões desse recurso (...). Contra as decisões monocráticas proferidas no Tribunal
cabe agravo interno ou agravo em recurso especial e extraordinário, a depender da espécie de decisão”
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p. 1557).
Assertiva (I): correta. Incorporando uma sistemática semelhante à do Processo Penal, em seu recurso
em sentido estrito, o Novo Código de Processo Civil estabelece pontual e expressamente quais decisões
são agraváveis por instrumento no rol do art. 1.015. Eis a respectiva disposição legal:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
XII - (VETADO);
Assim, “nos termos do art. 1.015, só são agraváveis as decisões ali mencionadas e outras previstas na
legislação extravagante” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil:
meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm,
2016, p. 206). O objetivo expresso dessa nova sistemática, “desde a Exposição de Motivos do Anteprojeto,
é o de reduzir os casos em que aquele recurso pode ser interposto” (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual
de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 624).
Assertiva (II): incorreta. A assertiva reproduz o art. 522, §1º, do Código de Processo Civil de 1973, que
versava sobre o agravo retido nos autos. Ocorre que o Código de Processo Civil de 2015 eliminou a
figura do agravo retido. Agora, “as decisões não agraváveis devem ser atacadas na apelação” (DIDIER JR.,
Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões
judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 205).
Assertiva (III): correta. Como já visto em outra oportunidade, o Novo Código de Processo Civil concebe
decisões interlocutórias de mérito, propiciando o julgamento parcial da lide. Como parte da pretensão
resistida continua a ser apreciada, seria inimaginável a interposição de apelação para impugnar essas
decisões. Portanto, na forma do art. 1.015, II, do Código de Processo Civil de 2015, cabe agravo de
instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre mérito do processo.
Assertiva (IV): incorreta. Nos termos do art. 1.015, parágrafo único, acima transcrito, caberá agravo
de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
Perceba-se que, após a fase de conhecimento, o rol do dispositivo legal deixa de ser aplicado na
generalidade dos casos, valendo tal autorização genérica para o manejo do agravo de instrumento.
Isso porque, nesses casos, “é bastante que a interlocutória seja proferida naquelas fases ou processos,
independentemente de seu conteúdo, para que sua recorribilidade imediata seja reconhecida” (BUENO,
Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São
Paulo: Saraiva, 2015, p. 624).
Assertiva (V): correta. Conforme preceitua o art. 1.042 do Novo Código de Processo Civil: “cabe
agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em
regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos” (g.n.). A esse respeito convém
conferir a seguinte lição:
O agravo, tal qual disciplinado pelo art. 1.042, tem pouca similaridade com o agravo que, no
CPC de 1973, voltava-se ao destrancamento do recurso extraordinário e do recurso especial
que não haviam superado o juízo de admissibilidade perante os órgãos de interposição (art.
544 do CPC de 1973). Até porque, não é demais frisar, o CPC de 2015 aboliu o exame de
admissibilidade daqueles recursos perante os TJs e os TRFs, cabendo ao STF ou ao STJ sua
realização, como se extrai do parágrafo único do art. 1.030. O objetivo daquele recurso,
destarte, é completamente diverso. Ele se volta à decisão do Presidente ou do Vice-Presidente
do tribunal perante o qual o recurso extraordinário ou especial é interposto (art. 1.029,
caput) e contrarrazoado (art. 1.030, caput) que: (i) indeferir pedido de inadmissão de recurso
extraordinário ou especial sobrestado porque intempestivos (arts. 1.035, § 6º, e 1.036, § 2º);
ou (ii) inadmitir, com base no inciso I do art. 1.040, recurso especial ou extraordinário sob o
fundamento de que o acórdão recorrido coincide com a orientação do Tribunal Superior; ou,
ainda, (iii) inadmitir, com base no § 8º do art. 1.035 ou no parágrafo único do art. 1.039, recurso
extraordinário, sob o fundamento de que o STF reconheceu a inexistência de repercussão geral
da questão constitucional discutida. (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual
Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 663).
13. A reclamação:
e) Não é cabível quando inadmitido recurso que visava contrastar a mesma decisão já
interposto pelo reclamante.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. Segundo entendeu o STF, a reclamação não é recurso, nem ação, nem incidente
processual, mas mera manifestação do direito de petição. Conforme Didier Jr., “O STF, valendo-se de
lições de Ada Pellegrini Grinover, considerou a reclamação como manifestação do direito constitucional
de petição previsto no art. 5º, XXXIV, a, da Constituição Federal, em razão do qual o cidadão se dirige
ao Poder Público, com vistas a obter a defesa de direito ou objetivando combater ilegalidade ou abuso
de poder. A reclamação seria veículo para exercício do direito de petição” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA,
Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo
nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 536).
Ocorre, todavia, que “É majoritário o entendimento de que a reclamação é verdadeira ‘ação’ voltada a
preservar a competência e/ou a autoridade das decisões dos Tribunais. Verdadeira ‘ação’ cujo exercício
rende ensejo ao surgimento de um novo processo perante o Tribunal competente para julgá-la. É o que
basta para atrair para ela tudo a respeito das exigências que o CPC de 2015 ainda faz com relação à
regularidade do exercício do direito da ação e à constituição e ao desenvolvimento válido do processo”
(BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo
CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 597). Em idêntico sentido: “A reclamação consiste, a bem da verdade,
numa ação, ajuizada originariamente em tribunal, com vistas a obter a preservação de sua competência
Alternativa (B): incorreta. Antes mesmo da vigência do Novo Código de Processo Civil, o Supremo
Tribunal Federal havia editado a súmula n. 734: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em
julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal” (g.n.).
Na mesma toada, o art. 988, §5º, do Código de Processo Civil de 2015 estabelece que “é inadmissível a
reclamação (...) proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada; (...)”.
Alternativa (C): incorreta. O Novo Código de Processo Civil não revogou a possibilidade de se manejar
reclamação contra ato que viole o enunciado de súmula vinculante. Pelo contrário, a nova legislação
dispõe que:
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: (...)
Tampouco poderia o novo código promover tal revogação, visto que tal hipótese de cabimento da
reclamação tem assento constitucional, especificamente no art. 103-A. Esse dispositivo “foi regulamentado
pela Lei no 11.417, de 19 de dezembro de 2006, que disciplinou o procedimento para edição, revisão ou
cancelamento de súmula vinculante. Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar súmula
vinculante ou que a aplique indevidamente, cabe reclamação ao Supremo Tribunal” (DIDIER JR., Fredie.
CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais
e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 545). Dessa forma, “a primeira parte
da hipótese do inciso IV do art. 988, de qualquer sorte, é supérflua porque, não fosse por ela, e a
reclamação, para garantia da observância das chamadas súmulas vinculantes, é expressamente prevista
pelo § 3º do art. 103-A da CF e, como se a previsão constitucional não fosse suficiente, pelo caput do
art. 7º da Lei n. 11.417/2006” (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente
estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 598).
Alternativa (D): correta. Conforme art. 988, §1º, NCPC: A reclamação pode ser proposta perante
qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar
ou cuja autoridade se pretenda garantir.
De acordo com o § 1° do art. 988 do CPC, a reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal. Já
era cabível normalmente para o STF e para o STJ. O Código de Processo Penal Militar prevê a reclamação
para o STM. Também, segundo entendimento do STF, já era cabível para os tribunais de justiça, caso
houvesse previsão na Constituição Estadual. A teoria dos poderes implícitos justificava a aceitação da
reclamação para todo e qualquer tribunal. A previsão da reclamação no CPC e a existência de expresso
dispositivo que afirma ser cabível perante qualquer tribunal confirmam isso. A previsão da reclamação
para todo e qualquer tribunal reforça o cumprimento pelos juízos e tribunais dos deveres de coerência e
integridade previstos no art. 926 do CPC, justamente porque serve de instrumento para efetivá-los. Cabe,
enfim, reclamação perante todo e qualquer tribunal (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro.
Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v.
3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 538).
Alternativa (E): incorreta. Estabelece o art. 988, §6º, do Código de Processo Civil de 2015 que “A
inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado
não prejudica a reclamação”.
No ponto, “O dispositivo, como se vê, estabelece que a reclamação não fica prejudicada com o julgamento
do recurso. É preciso, contudo, fazer uma advertência, pois a previsão legal não abrange todas as
hipóteses. Se o recurso for inadmitido ou for conhecido, mas não provido, o julgamento, efetivamente,
não prejudica a reclamação. Se, entretanto, o recurso for conhecido e provido, seja para anular a decisão
recorrida, seja para reformá-la, estará prejudicado o exame da reclamação. Se a decisão for reformada,
terá sido substituída pela decisão do tribunal, subtraindo da reclamação o indispensável interesse de agir.
De igual modo, se houver anulação da decisão, esta deixou de existir, prejudicando o exame de mérito
da reclamação. Assim, se o recurso for provido, a reclamação fica prejudicada, não se aplicando o § 6° do
art. 988 do CPC” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios
de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p.
567).
14. Recurso excepcional constitui gênero do qual são espécies o recurso extraordinário para o
Supremo Tribunal Federal e o recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça. Considerando
o regramento dado a essas espécies recursais pela Constituição Federal e pelo Novo Código de
Processo Civil, assinale a única alternativa INCORRETA:
a) Os recursos excepcionais têm fundamentação vinculada, mas seu julgamento não está
adstrito à fundamentação deduzida, tampouco às questões pré-questionadas.
c) Tanto o recurso extraordinário como o recurso especial não podem ser manejados sem
que, antes, haja o esgotamento das instâncias ordinárias.
COMENTÁRIO
Inicialmente, reforçando a ideia introdutória exposta no enunciado, deve-se frisar que “é comum agrupar
os recursos extraordinário e especial (...) em contraposição aos demais recursos para, classificando-os
de extraordinários, enfatizar a sua função primária de definição da interpretação e da uniformização do
direito constitucional e infraconstitucional brasileiro e somente em segundo plano satisfazer o interesse
das partes. Tanto é assim – e de forma absolutamente coerente com o seu modelo constitucional – que
estes recursos não se prestam a reexame de prova (por isso as Súmulas 279 do STF e 7 do STJ) ou a
reexaminar cláusulas contratuais (por isso as Súmulas 454 do STF e 5 do STJ)” (BUENO, Cássio Scarpinella.
Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015,
p. 642).
Alternativa (A): correta. Como se sabe, os recursos excepcionais são exemplos de recursos de
fundamentação vinculada, de modo que suas “hipóteses de cabimento estão previstas na Constituição
Federal (art. 102, III, e art. 105, III). (...) São recursos de estrito direito” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo
Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo
nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 306). Assim, o recorrente não está livre para,
em sede de recursos excepcionais, alegar toda matéria que lhe convier. Ele só pode arguir questões
constitucionalmente delimitadas, tendo o Código de Processo Civil se limitado a regrar o processamento
desses recursos e não suas hipóteses de cabimento. São estas as hipóteses em comento:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,
quando a decisão recorrida:
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. (...)
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,
quando a decisão recorrida:
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Nada obstante, “o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça, em conhecendo do recurso,
não se limita a censurar a decisão recorrida à luz da solução que dê à quaestio iuris, eventualmente
cassando tal decisão e restituindo os autos ao órgão a quo, para novo julgamento. Fixada a tese jurídica a
seu ver correta, o tribunal aplica-a à espécie, isto é, julga ‘a causa’ (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo
Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos
tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 322). Igualmente, o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça, “diferentemente de tribunais de cassação europeus, desempenham não só a
função rescisória, mas também rescindente, isto é, não se limitam a cassar ou invalidar o julgado contrário
à CF ou à lei federal porque estão habilitados, pelo modelo constitucional, a rejulgar a causa nos limites
em que decidida, aplicando, desde logo, ao caso concreto, a solução que entendem ser adequada para
a questão constitucional ou para a questão legal federal” (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito
Processual Civil: inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 652).
Demais disso, “o parágrafo único do art. 1.034 remonta, para generalizá-las, às Súmulas 292 (“Interposto
o recurso extraordinário, por mais de um dos fundamentos indicados no art. 101, n. III, da Constituição,
a admissão apenas por um deles não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos outros”) e 528
do STF (“Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo Presidente do Tribunal a
quo, de recurso extraordinário, que, sobre qualquer delas se manifestar, não limitará a apreciação de
todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de interposição de agravo de instrumento”).
Assim, conhecido o recurso extraordinário ou especial por um fundamento, devolvem-se os demais para
o julgamento do capítulo impugnado” (BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil:
inteiramente estruturada à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 652).
Nessa mesma linha segue a Súmula n. 456 do STF, ao afirmar que “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo
do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie”. O entendimento pretoriano foi
positivado, ipsis litteris, no art. 1.034, caput, do Código de Processo Civil de 2015. Diante disso, colhemos
da lição de Fredie Didier Jr que:
(...) se o recurso extraordinário ou especial for interposto por outro motivo, e for conhecido,
poderá o STF ou STJ, ao julgá-lo, conhecer ex officio ou por provocação de todas as matérias
que podem ser alegadas a qualquer tempo (...), bem como de todas as questões suscitadas
e discutidas no processo, relacionadas ao capítulo decisório objeto do recurso extraordinário
(art. 1.034, par. ún., CPC), mesmo que não tenham sido enfrentadas no acórdão recorrido.
Perceba-se: não é possível que uma dessas questões seja objeto (...) de recurso extraordinário
ou especial sem que tenha havido o pré-questionamento. Mas, uma vez examinado o recurso,
que, por exemplo, tenha outro fundamento, os tribunais superiores poderão aplicar o § 3º
do art. 485 do CPC e os arts. 193, 210 e 211 do Código Civil, reconhecendo as questões
processuais, a prescrição ou a decadência, bem como todas as demais questões relevantes
para o julgamento da causa (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª
ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 321-322)
Daí fica claro que, embora os recursos excepcionais tenham fundamentação vinculada, seu julgamento
não está adstrito à fundamentação deduzida, tampouco às questões pré-questionadas.
Alternativa (B): correta. Conforme regramento estabelecido pelo art. 1.031, parágrafos 2º e 3º, do
Novo Código de Processo Civil, na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. Porém, se o relator do recurso especial
considerar prejudicial o recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá
os autos ao Supremo Tribunal Federal. Ainda é possível que, se o relator do recurso extraordinário, em
decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o
julgamento do recurso especial. Em abono:
Alternativa (C): correta. Os recursos extraordinário e especial pressupõem uma decisão contra a qual
já foram esgotadas as possibilidades de impugnação nas instâncias ordinárias ou na instância única, de
modo que esses recursos não podem ser exercitados per saltum. Assim, “o recurso especial e o recurso
extraordinário são cabíveis de decisões que tenham julgado a causa em última ou única instância. Logo,
enquanto houver recurso na instância de origem, ainda não houve decisão de última ou única instância.
É necessário, como se percebe, o prévio esgotamento das instâncias ordinárias para que se possa intentar
os recursos extraordinário e especial” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 313).
Alternativa (D): correta. Os artigos 1.032 e 1.033 do Novo Código de Processo Civil concretizam
“o princípio da fungibilidade dos recursos e, por consequência, também, o princípio da primazia da
decisão de mérito, e o princípio da cooperação” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso
de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª
ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 350). É que, em vez de levar à extinção do procedimento recursal sem
exame do mérito, o fato de o recurso especial versar sobre questão constitucional ou o fato de o recurso
extraordinário pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado levam à conversão de
um no outro, com a remessa dos autos ao tribunal competente. Eis as disposições legais mencionadas:
Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente
demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao
Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior
Tribunal de Justiça.
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição
afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal
ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso
especial.
Nesse ponto, calha conferir a seguinte observação: “A exigência de ‘dúvida objetiva’ ou de ‘inexistência
de erro grosseiro’, própria à concretização do princípio da fungibilidade, não se aplica aqui. Ela se justifica
como pressuposto de incidência de uma norma aberta como o principio da fungibilidade, que exige ser
ponderado com o principio da boa-fé, por exemplo. De modo mais simples, o legislador, no art. 1.033
[e no art. 1.032] do CPC, criou uma regra de fungibilidade133, cujos pressupostos de aplicação são mais
singelos e cuja compatibilização com a boa-fé processual já teria sido previamente feita” (DIDIER JR.,
Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões
judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 358).
Alternativa (E): incorreta. Estabelece o art. 1.029 do Código de Processo Civil que “O Supremo Tribunal
Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou
determinar sua correção, desde que não o repute grave” (g.n.). De forma inovadora, o dispositivo legal
estabelece o que a doutrina vem chamando de princípio da primazia no julgamento do recurso
extraordinário e no recurso especial. A propósito:
(...) há dois comandos que decorrem desse dispositivo: a) o STF ou o STJ pode desconsiderar
vicio formal de recurso tempestivo, desde que não o repute grave; I) o STF ou o STJ pode
determinar a correção de vicio formal de recurso tempestivo, desde que não o repute grave.
Os comandos dirigem-se ao relator e ao órgão colegiado. Os comandos possuem dois
pressupostos comuns: a) o recurso há de ser tempestivo - o que é bastante compreensível,
pois, caso contrário, estaria o tribunal superior transformando o recurso excepcional em ação
rescisória de uma decisão que já transitou em julgado; b) o defeito a ser corrigido ou ignorado
não pode ser grave (...) Evidentemente, trata-se de regra que permite aos tribunais superiores
proceder a uma escolha de causas que pretende julgar, mesmo que o recurso que as veicule
seja inadmissível (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual
Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 318-320).
15. Um grupo de servidores públicos do Estado E moveu ação ordinária em face desse ente
federado. Na demanda, foi pleiteada a condenação do Estado ao pagamento de valores que
teriam sido indevidamente reduzidos dos vencimentos dos autores quando da alteração de seu
plano de carreira, promovida regularmente por meio de lei de iniciativa do Governador há dois
anos. Julgada a demanda em primeira instância, o ente público foi condenado a pagar os valores
retroativos e a incluir a diferença apurada no pagamento mensal dos autores. O Estado E, por
meio de seu órgão de representação judicial, apelou da sentença. No entanto, o Tribunal de
Justiça negou provimento ao recurso. O prazo para novo recurso do ente federado transcorreu in
albis. O acórdão transitou em julgado no dia 4 de setembro de 2014. A gestão estadual iniciada
em 2015 se mostrou bastante insatisfeita com tal situação, e a Procuradoria-Geral do Estado
ajuizou ação rescisória, por violação manifesta ao art. 37, X, e ao art. 61, §1º, II, “a” e “c”, ambos
da Constituição Federal, aplicados no âmbito estadual por simetria. A ação foi protocolada no dia
5 de setembro de 2016, uma segunda-feira, porque o dia fatal, 4, caiu em domingo. A respeito
desse quadro fático hipotético, assinale a alternativa CORRETA:
a) É cabível a ação rescisória contra decisão que viole manifestamente norma jurídica.
b) A Fazenda Pública possui prazo em dobro para propor ação rescisória, de sorte que se
mostra despicienda qualquer preocupação com o prazo decadencial no caso.
c) Cabe ação rescisória apenas por afronta a dispositivo de lei e ainda que a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
d) Para ser cabível a rescisória na espécie, o Estado deveria ter interposto recurso especial
ou extraordinário em face do acórdão rescindendo, visto que não se admite ação rescisória
e) A ação rescisória será julgada extinta sem apreciação da questão de fundo, pois, por ser
o prazo para o ajuizamento da ação rescisória decadencial, ele não se prorroga caso seu fim
se dê em final de semana ou feriado.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. Não é outra a redação do art. 966, V, do Novo Código de Processo Civil. Essa
hipótese de cabimento da ação rescisória tem como “fundamento o erro crasso do juízo na aplicação do
direito no caso concreto, considerando-se que a decisão que violar manifestamente norma jurídica deva
ser desconstituída” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed. 2016, p.
1374). Também a esse respeito:
O art. 485, V, CPC-1973, permitia a rescisão no caso de violação literal a lei. A substituição do
termo “lei” pelo termo “norma jurídica” era reclamada pela doutrinal. No ponto, andou bem
o CPC-2015. A norma jurídica violada pode ser de qualquer natureza, desde que seja uma
norma geral: legal (lei ordinária, delegada, complementar, estadual, municipal), constitucional,
costumeira, regimental, administrativa, internacional, decorrente de lei orgânica, medida
provisória ou decreto etc. A norma jurídica violada pode ser processual ou material, de direito
público ou privado. A ação rescisória serve, enfim, para corrigir um error in procedendo ou
um error in judicando. Decisão que viola manifestamente precedente obrigatório (art. 927,
CPC) também é rescindível” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª
ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 488).
Alternativa (B): incorreta. É assente na doutrina que a “Fazenda Pública não dispõe (...) de prazo
diferenciado para o ajuizamento da ação rescisória, salvo nos casos de transferência de terras públicas
rurais, hipótese em que o prazo é de 8 (oito) anos” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública
em Juízo, 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 99).
Alternativa (C): incorreta. Inicialmente, o rol do art. 966 do Código de Processo Civil de 2015 abarca
hipóteses diversas, que vão além da mera violação a dispositivo de lei, ressalvando-se que a atual
disposição legal, como dito, prevê como hipótese de cabimento da ação rescisória a violação manifesta
de norma jurídica. Confira-se o texto legal:
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda,
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha
a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava
ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;
Demais disso, é certo, que, a teor da súmula n. 343 do Supremo Tribunal Federal: “Não cabe ação
rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais”
Logo, cabe ação rescisória em casos outros além da afronta a dispositivo de lei, mas não quando alegado
esse fundamento e a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida
nos tribunais.
Alternativa (D): incorreta. Na forma da súmula n. 514 do Supremo Tribunal Federal: “Admite-se ação
rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotado todos os
recursos” (g.n.)
Dessa forma, é indiferente, para o cabimento da ação rescisória, que o trânsito em julgado tenha ocorrido
porque a parte não interpôs o recurso ou porque interpôs todos os recursos contra a decisão rescindenda.
“Não há exigência de esgotamento das instâncias recursais para a propositura da ação rescisória. Basta
que tenha havido o trânsito em julgado” (DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 13ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 441).
Alternativa (E): incorreta. Colocando fim à discussão existente a esse respeito, o Código de Processo
Civil de 2015 estabeleceu em seu art. 975, §1º, que se prorroga “até o primeiro dia útil imediatamente
subsequente o prazo a que se refere o caput [de dois anos], quando expirar durante férias forenses,
recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense”, nada obstante se tratar de prazo
decadencial.
Também a respeito do prazo da ação rescisória, convém relembrar a súmula n. 410 do Superior Tribunal
de Justiça, segundo a qual “O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível
qualquer recurso do último pronunciamento judicial”. Ainda nesse ponto, a doutrina vem debatendo se,
considerada a dinâmica de coisa julgada parcial instituída pela Novo Código de Processo Civil, por meio
das interlocutórias de mérito, haveria um prazo único, na forma dessa súmula, para rescindir todas as
questões decididas no curso do processo ou se o prazo se contaria partir do trânsito em julgado de cada
decisão. A questão permanece sem solução e certamente continuará rendendo acalorados debates.
DIREITO AMBIENTAL
16. Sobre o Código Florestal, a Área de Preservação Permanente e a Reserva Legal, assinale a
alternativa incorreta:
e) Caso um imóvel rural não disponha de área de reserva legal suficiente para atingir
o percentual mínimo, é possível o estabelecimento de reserva legal condominial,
compensando-se o percentual faltante com o percentual excedente de outro imóvel.
COMENTÁRIO
Novamente, pela importância, elaboramos nova questão sobre o Código Florestal, abordando as APP e
a Reserva Legal, reforçando a necessidade de domínio do tema para os concursos.
Alternativa (A): incorreta. O STF, na ADI 3540 MC/DF, entendeu por constitucional o artigo 4º do Código
Florestal, que autoriza, por ato administrativo, a supressão da vegetação de uma área protegida. Para
o STF, a CF/88 só exigiu lei para supressão de uma área ambientalmente protegida, mas não para a
supressão da vegetação ali existente, que pode ocorrer por autorização administrativa, desde que haja
razão para tanto.
Alternativa (B): correta. Para tanto, devem-se seguir algumas regras: a) caso a soma da APP e da
Reserva Legal ultrapasse o percentual mínimo, não se pode suprimir a vegetação excedente protegida;
b) a APP a ser considerada no cômputo da Reserva Legal deve estar conservada ou em recuperação; c)
o proprietário deve requerer a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural.
Alternativa (C): correta. É o que se infere do artigo 12, da Lei nº 12651/2012, lembrando-se que, na
Amazônia Legal, o percentual varia entre 80% (florestas), 35% (cerrado) e 20% (campos gerais).
Alternativa (D): correta. Trata-se de exceção em que não se exige a reserva legal, conforme artigo 12,
§6, da Lei nº 12651/2012.
Alternativa (E): correta. É o que se encontra no artigo 16, da Lei nº 12651/2012. São requisitos para
a Reserva Legal Condominial as propriedades serem contínuas; o percentual legal ser respeitado em
relação a cada imóvel; e seja realizada averbação referentes a todos os imóveis no Cadastro Ambiental
Rural.
IV. O prazo de validade da Licença de Operação é de, no mínimo, seis, e no máximo, dez
anos, devendo a renovação ser requerida com antecedência mínima de 120 dias do seu
vencimento.
a) I e III.
b) III e IV.
c) I, II e IV.
d) IV.
e) I e IV.
COMENTÁRIO
Item (I): correto. Conforme entendimento doutrinário, com base nas disposições do CONAMA,
a licença prévia é aquela concedida em fase preliminar, discutindo-se a localização e concepção do
empreendimento, bem como atestando a sua viabilidade ambiental e estabelecendo requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação.
Item (II): incorreto. O procedimento, em regra, é trifásico, seguindo-se a ordem da Licença Prévia, Licença
de Instalação e Licença de Operação.
Item (III): correto. Conforme entendimento doutrinário, a licença de operação consiste na autorização
para início das operações da atividade, após verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças
anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Item (IV): incorreto. O erro se encontra no prazo mínimo. O prazo de validade da Licença de Operação
é de, no mínimo, quatro, e no máximo, dez anos. Ademais, de fato, deve a renovação ser requerida com
antecedência mínima de 120 dias do seu vencimento.
DIREITO TRIBUTÁRIO
a) Dentre outras situações, a solidariedade ocorre quando as pessoas têm interesse comum
na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, admitindo-se, no Direito
Tributário, o benefício de ordem.
b) Para uma melhor interpretação da definição legal do fato gerador, devem ser considerados
os efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.
COMENTÁRIO
Revisamos, nesta questão, o tema obrigação tributária, constante em todos os programas dos editais
para concurso de procuradorias.
Alternativa (A): incorreta. Conforme artigo 124, parágrafo único, do CTN, não se admite benefício de
ordem na solidariedade.
Alternativa (B): incorreta. A assertiva se encontra contrária ao que dispõe o artigo 118, inciso II, do CTN.
Alternativa (C): incorreta. Os conceitos se encontram invertidos. Para a doutrina majoritária, a hipótese
de incidência é a previsão em abstrato e o fato gerador a sua aplicação em concreto, no mundo dos fatos.
Alternativa (D): incorreta. De acordo com o artigo 113, §3º, do CTN, A obrigação acessória, pelo simples
fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.
Assim, a assertiva se encontra em desacordo com referida previsão normativa.
Alternativa (E): correta. É o que se infere do artigo 113, §1º e §2º, do CTN.
II. A Dívida Ativa abrange, além do seu principal, a atualização monetária, juros e multa
de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato.
III. Em que pese a Lei de Execuções Fiscais dispor que a inscrição em Dívida Ativa suspenderá
a prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução
fiscal, em caso de esta ocorrer antes de findo aquele prazo, tal regra apenas é aplicável aos
créditos não tributários, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
IV. A dívida regularmente inscrita goza da presunção relativa de certeza e liquidez e tem
b) II e IV.
c) I e IV.
d) III e IV.
e) I e IIII.
COMENTÁRIO
A questão se enquadra no tema Dívida Ativa, presente na maioria dos programas de Direito Tributário
dos concursos de Procuradorias Municipais e Estaduais.
Item (I): correta. Nos termos da Lei nº 9492/97, em seu artigo 1º, o Protesto corresponde a um ato formal
e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e
outros documentos de dívida. Ademais, o respectivo parágrafo único, incluído pela Lei nº 12.767/2012,
passou a prever como títulos sujeitos a protesto as Certidões de Dívida Ativa.
Muito se discutiu sobre a possibilidade ou não deste efetivo protesto da CDA, argumentando-se que
a Fazenda Pública já possuiria instrumento próprio para cobrança (Execução Fiscal), bem como que
o protesto consistiria em abuso de poder, por ser a CDA constituída pelo próprio credor. Ocorre que
a Execução Fiscal é o meio pelo qual a Fazenda possui para cobrar seus créditos no âmbito judicial.
Considerando que cabe ao credor avaliar a melhor forma de realizar tal cobrança, já que existe previsão
legal não só para o não ajuizamento da execução fiscal, como para o protesto da CDA, a existência
da LEF não exclui tal ferramenta administrativa. Ademais, como cediço, a CDA é fruto da inscrição em
dívida ativa, que, por sua vez, é procedida de verdadeiro procedimento administrativo enriquecido com
o contraditório, no qual se oportuniza o direito à impugnação e ao prévio pagamento, não incorrendo a
Fazenda em abuso de poder ao protestar.
Com estes argumentos, o Superior Tribunal de Justiça reviu seu posicionamento, passando a entender
possível o protesto da CDA, no REsp 1.126.515-PR, julgado em 3/12/2013 e disponibilizado no Informativo
0533/2014.
Item (II): correta. É o que consta, expressamente, do artigo 2º, §2º, da LEF.
Item (III): correta. A Dívida Ativa, conforme definida pela Lei de Execuções Fiscais, em seu artigo 2º,
compreende a dívida tributária e não tributária. Embora a mencionada legislação, no mesmo artigo,
afirme que a inscrição em dívida suspende a prescrição do crédito por 180 dias, ou até a distribuição de
execução fiscal, se esta ocorrer antes, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento pacífico de
que esse prazo suspensivo apenas se aplica aos créditos de natureza não tributária, pois, no que tange
aos créditos tributários, devem seguir os normativos pertinentes à prescrição estabelecidos pelo Código
Tributário Nacional.
Item (IV): correta. É que consta na disposição expressa do artigo 204, do CTN.
20. Considere a seguinte situação e assinale a alternativa correta: “Maria, solteira, domiciliada no
Estado de São Paulo, ao falecer, deixou como herança para suas duas únicas filhas, Germana e
Josefa, domiciliadas no Estado da Paraíba: um sítio no Estado de Tocantins; um Duplex no Estado
de Santa Catarina; um automóvel que se encontra guardado em um depósito no Estado de São
Paulo; e a quantia de duzentos mil reais, guardada em um cofre no Estado da Pernambuco. O
inventário foi processado no Estado de São Paulo”.
a) A cobrança do ITCMD sobre todos os bens competirá ao Estado de São Paulo, por ser o
local onde se processou o inventário.
b) A cobrança do ITCMD sobre todos os bens competirá ao Estado da Paraíba, por ser o
local onde se encontram domiciliadas todas as herdeiras.
c) A cobrança do ITCMD competirá aos Estados de Tocantins, Santa Catarina, São Paulo
e Pernambuco, uma vez que devem ser cobrados pelo Estado em que se encontram
localizados os respectivos bens.
COMENTÁRIO
Tratamos, aqui, do último tributo estadual, o ITCMD, presente em todos os programas de editais de
concurso de procuradorias e com maior incidência nos concursos de procuradorias do Estado.
Para responder à questão, necessita-se ter conhecimento do disposto no artigo 155, §1º, incisos I e II, da
CF/88, segundo o qual, relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete o imposto ao Estado
da situação do bem, ou ao Distrito Federal. Já relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao
Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal.
Passemos às assertivas.
Alternativa (A): incorreta. Como visto, em relação aos imóveis, compete ao Estado em que se encontrarem
tais bens.
Alternativa (B): incorreta. Tratando-se de transmissão causa mortis, é irrelevante o domicílio das herdeiras
para fins de ITCMD.
Alternativa (C): incorreta. No que tange aos bens imóveis, a assertiva está correta. Quanto aos móveis,
compete ao Estado do inventário.
Alternativa (D): correta. Como visto, o ITCMD competirá apenas aos Estados de Tocantins, Santa Catarina
e São Paulo.
Alternativa (E): incorreta. Tratando-se o dinheiro de bem móvel, competirá ao Estado em que se
processou o inventário.
DIREITO ADMINISTRATIVO
21. Acerca dos atributos dos atos administrativos, marque a alternativa incorreta:
COMENTÁRIO
Caros alunos, é imprescindível diferenciar os elementos do ato administrativo tais como, competência,
objeto, forma, finalidade e motivo dos atributos (características) dos atos administrativos, que são objeto
da presente questão. O tema dos atos administrativos é de suma importância e serve como base de
todas as outras especificidades do Direito Administrativo.
Alternativa (A): correta, e por isso não deve ser assinalada. A alternativa define exatamente o que seja
presunção de legitimidade, conforme entendimento tranquilo da doutrina.
Alternativa (B): correta, e por isso não deve ser assinalada. Naturalmente, em se presumindo a legitimidade
do ato administrativo emanado, cabe ao administrado provar a invalidade jurídica do ato, sob pena de
prevalecer todos os termos da vontade do Administrador.
Alternativa (C): correta, e por isso não deve ser assinalada. A alternativa define exatamente o que
seja presunção de legitimidade, conforme entendimento tranquilo da doutrina. São exemplos de atos
autoexecutórios: a retirada da população de um prédio que ameaça desabar, a demolição desse mesmo
prédio, a apreensão de mercadorias entradas ou encontradas no país irregularmente, a destruição de
alimentos impróprios para o consumo encontrados numa prateleira de supermercado, a demolição
de obras clandestinas que ponham em risco a segurança da população, dentre outros. Sobre o tema
interessante lição da doutrina:
Alternativa (D): incorreta, e por isso deve ser marcada pelo aluno. O equívoco da questão está em
atribuir a imperatividade a todos os atos administrativos. Vejamos a lição da doutrina:
“Como se depreende, não é um atributo presente em qualquer ato, mas apenas naqueles
atos que implicam obrigação para o administrado, ou que são a ele impostos, e devem
ser por ele obedecidos, sem necessidade de seu consentimento, como é o caso dos atos
punitivos de um modo geral (por exemplo, a imposição de uma multa por descumprimento
de um contrato administrativo), incluídos os praticados no exercício do poder de polícia (por
exemplo, apreensão e destruição de alimentos impróprios para consumo encontrados durante
fiscalização em um restaurante). Por outro lado, os atos administrativos cuja prática é
solicitada pelo administrado, em seu próprio interesse (desde que, também, atendam ao
interesse público), tais como a obtenção de uma certidão ou de uma autorização de uso
de bem público, não têm como atributo a imperatividade, uma vez que, evidentemente,
não criam obrigações para ele, nem são a ele impostos.” (PAULO, Vicente. ALEXANDRINO,
Marcelo. 23ª ed. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo: Método, 2015. p. 530).
Alternativa (E): correta, e por isso não deve ser assinalada. As multas, em regra, não são auto-executórias,
ressalvadas as hipóteses mencionadas na questão, escoradas na Lei 8.666/1993, artigos 80, III, 86, § 3º, e
artigo 87, § 1 º.
b) A declaração de urgência pelo Poder Público e a efetivação de depósito prévio, cujo valor
será arbitrado pelo juiz segundo critérios da lei expropriatória, faculta ao juiz a concessão
da imissão provisória na posse em favor do expropriante.
c) Da sentença que fixar o preço da indenização caberá apelação com efeito simplesmente
devolutivo, quando interposta por qualquer das partes.
COMENTÁRIO
Caros alunos, o tema cobrado na questão é clássico e certo de ser cobrado nos concursos para advocacia
pública. Indicamos o estudo do tema, em especial no âmbito da doutrina e jurisprudência, haja vista que
sua cobrança pode ocorrer em todas as fases dos concursos públicos, inclusive nas provas subjetivas e de
peças processuais, pois a desapropriação representa o cotidiano da advocacia pública.
Alternativa (A): incorreta. Disciplina o art. 20 do Decreto-Lei nº 3365/41 que a contestação só poderá
versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser
decidida por ação direta.
Alternativa (B): incorreta. O artigo 15 do Decreto-Lei nº 3365/41 diz que se o expropriante alegar urgência
e depositar quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil (código
anterior), o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na posse dos bens. Além do comando legal que não
deixa margem decisória ao juiz, impondo a imissão provisória, a doutrina entende que o expropriante tem
direito subjetivo à imissão provisória, não podendo o juiz denegar o requerimento, desde que cumpridos
os pressupostos acima indicados.
Alternativa (C): incorreta. O artigo 28 do Decreto-Lei nº 3365/41 diz que da sentença que fixar o preço da
indenização caberá apelação com efeito simplesmente devolutivo, quando interposta pelo expropriado,
e com ambos os efeitos, quando o for pelo expropriante.
Alternativa (D): incorreta. É possível a desistência da desapropriação em não mais havendo o motivo
que ensejou a declaração de utilidade do bem. Vejamos o que diz a doutrina sobre a desistência:
Alternativa (E): correta. O art. 184 da Constituição Federal diz que compete à União desapropriar por
interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor
real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei.
a) A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial não constitui ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
COMENTÁRIO
Alternativa (C): correta. Foi a decisão publicada pelo STJ no Informativo 581, possuindo a seguinte
ementa:
DIREITO FINANCEIRO-ECONÔMICO
Judiciário para fins de acesso aos documentos que instruem o respectivo procedimento
administrativo.
COMENTÁRIO
A Lei nº 12.529/2011 trata sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. O
acordo de leniência é um instrumento de defesa da concorrência por meio do qual um ou mais agentes
que praticaram infração à ordem econômica cooperam voluntariamente com as investigações em troca
de redução da pena ou até mesmo do perdão total, a depender do grau de auxílio conferido pelo agente.
Trata-se de instituto semelhante à delação premiada do direito penal. É importante salientar que existe
também um acordo de leniência envolvendo a prática de crimes contra a administração pública, que é
disciplinado na Lei nº 12.846/2013 e não é objeto da questão.
Alternativa (A): correta, e por isso não deve ser marcada. O item apresenta a disposição exata do artigo
86, I e II, da Lei nº 12.529/2011.
Alternativa (B): incorreta, por isso deve ser marcada. O artigo 86, §1º, III, da Lei nº 12.529/2011, diz
que o acordo de leniência somente poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, dentre
outros requisitos, que a Superintendência-Geral não disponha de provas suficientes para assegurar a
condenação da empresa ou pessoa física por ocasião da propositura do acordo. Ou seja, havendo provas
seguras para condenação, o acordo não pode ser celebrado.
Alternativa (C): correta, por isso não deve ser marcada. Trata-se da previsão do art. 86, §12º, da Lei nº
12.529/2011.
Alternativa (D): correta, por isso não deve ser marcada. O art. 86, §9º, da Lei nº 12.529/2011, diz que
considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações
e do processo administrativo. O STJ decidiu que:
“(...) Nos termos da legislação, assegura-se o sigilo das propostas de acordo de leniência, as
quais, eventualmente rejeitadas, não terão nenhuma divulgação, devendo ser restituídos todos
os documentos ao proponente. (...)” (REsp 1554986/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe 05/04/2016).
Alternativa (E): correta, por isso não deve ser marcada. A alternativa está de acordo com caso concreto
apreciado recentemente pelo STJ, cuja ementa segue:
d) Orçamento base zero consiste num método em que todo recurso solicitado é analisado
criteriosamente para que, na análise da proposta orçamentária, seja justificada a necessidade
de cada recurso requerido, não havendo dotação orçamentária prevista por mera decorrência
do orçamento anterior, afastando-se a presunção de necessidade de determinada unidade
em virtude dos recursos utilizados no ano antecedente.
e) O projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até sete meses antes
do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do
primeiro período da sessão legislativa, enquanto o projeto de lei orçamentária da União será
encaminhado até cinco meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido
para sanção até o encerramento da sessão legislativa.
COMENTÁRIO
A questão aborda o tema da escassez de recursos para que o Estado concretize todos os direitos
fundamentais e sociais previstos na Constituição Federal e as demandas judiciais que intervém na
discricionariedade do Administrador no sentido de concretizar um direito individual, matéria essa que
talvez seja a mais polêmica em discussão atualmente no Brasil. A questão cobra também questões
orçamentárias, exigindo do aluno conhecimento dos conceitos e prazos que envolve o orçamento público.
Alternativa (A): incorreta. O erro da questão está em afirmar que o Estado possui recursos para suprir
todas as necessidades sociais, ao passo que as escolhas trágicas consistem exatamente em delimitar a
aplicação de recursos públicos para determinada área em prejuízo das demais. O STF constantemente
lida com essa matéria, senão vejamos:
Alternativa (B): incorreta. A alternativa traz o conceito de orçamento de desempenho, que é voltado à
obtenção de resultado, sem vinculação a um programa ou planejamento governamental das ações.
Alternativa (C): incorreta. A alternativa traz o conceito de orçamento-progama, com vistas à concretização
de diversos programas que visam à solução de problemas ou ao atendimento de determinada necessidade.
“Diferentemente de alguns orçamentos que são feitos com base no orçamento do exercício
anterior, acrescentado apenas da projeção da inflação, o orçamento base zero demanda que o
administrador justifique o orçamento proposto em cada detalhe, com a respectiva quantia a ser
gasta, sem o parâmetro do exercício anterior.” (LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro.
5ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2016, p. 260-261).
Alternativa (E): incorreta. O artigo 35, §2º, I, II e III, do ADCT da Constituição Federal prevê: o projeto
do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial
subseqüente, será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro
e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa; II - o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro
e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa; III - o projeto de
lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício
financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa.
DIREITO CONSTITUCIONAL
26. Tendo em vista a jurisprudência do STF sobre o Tribunal de Contas, assinale a alternativa
correta:
a) João, servidor público federal teve reconhecido em seu favor, por sentença judicial
transitada em julgado, o direito à percepção de determinado valor, a título de gratificação.
Se, quando da aposentadoria de João, o TCU perceber que aquela gratificação foi absorvida
por leis posteriores e determinar seja ela suprimida, restará violada a coisa julgada.
b) João, servidor público federal teve reconhecido em seu favor, por sentença judicial
transitada em julgado, o direito à percepção de determinado valor, a título de gratificação.
Se, quando da aposentadoria de João, o TCU perceber que aquela gratificação foi absorvida
por leis posteriores, poderá determinar seja ela suprimida, sem que isso viole a coisa julgada,
e João terá de devolver os valores recebidos anteriormente à decisão do TCU.
d) Para efeitos de inelegibilidade por rejeição de contas, o parecer técnico elaborado pelo
Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo exclusivamente à
Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local,
sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo.
envolvido na relação, sendo que o acesso a informações pelo TCU na sua atuação fiscalizatória
não poderá, em qualquer caso, atingir o sigilo bancário de particulares.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): incorreta. A assertiva vai de encontro ao entendimento firmado pelo STF em repercussão
geral. Trata-se de hipótese em que o servidor fazia jus a valor que lhe havia sido garantido por sentença
judicial transitada em julgado e vinha recebendo esse valor. No entanto, lei posterior efetuou reajuste
na remuneração do cargo ocupado pelo servidor e aquele valor que ele recebia com fundamento na
sentença transitada em julgado foi absorvido pela reestruturação feita na remuneração do cargo por ele
ocupado. O servidor, no entanto, continuou recebendo em seu contracheque verba referente àquele valor
a que se referia a decisão judicial, até que se aposentou. Analisando a legalidade da aposentadoria desse
servidor, o TCU determinou a supressão daquela verba, tendo em vista a sua absorção pela reestruturação
remuneratória promovida por lei posterior.
De fato, como aponta a alternativa, a determinação do TCU, nesse caso, não viola a coisa julgada, já que,
tendo sido alterado o quadro fático-normativo em que se baseara a sentença (o valor foi incorporado,
por lei, aos vencimentos do servidor), não mais persiste a força vinculativa sobre aquela relação jurídica
de trato continuado. Confira-se a ementa do julgado do STF, com repercussão geral:
(RE 596663, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI,
Tribunal Pleno, julgado em 24/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-232 DIVULG 25-11-2014 PUBLIC 26-11-2014)
Assim, em se tratando relação de trato continuado, diante de superveniente alteração no status quo,
cessa imediata e automaticamente a eficácia da decisão acobertada pela coisa julgada. Para tal cessação
de eficácia não é necessária ação rescisória ou ação revisional.
Conforme pontua Marcus Vinicius Rios Gonçalves, “há certas situações, expressamente previstas em
lei, em que a imutabilidade dos efeitos da decisão só persiste enquanto a situação fática que a
ensejou permanecer a mesma, ficando autorizada a modificação, desde que haja alteração fática
superveniente” (Marcus Vinicius Rios Gonçalves. Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 543).
Isso significa que a coisa julgada funciona segundo a cláusula “rebus sic stantibus”, ou seja, somente
enquanto as coisas permanecerem como estão. Se houver modificação na situação de fato, aquela coisa
julgada deixa de produzir seus efeitos. Convém destacar as observações do Min. Teori Zavascki sobre o
tema:
“É incontroversa a premissa segundo a qual a força vinculativa da coisa julgada atua rebus sic
stantibus. Quer dizer, ao pronunciar juízos de certeza sobre a existência, a inexistência ou o
modo de ser das relações jurídicas, a sentença leva em consideração as circunstâncias de fato
e de direito que se apresentam no momento da sua prolação. Tratando-se de relação jurídica
de trato continuado, a eficácia temporal da sentença permanece enquanto se mantiverem
inalterados esses pressupostos fáticos e jurídicos que lhe serviram de suporte (cláusula rebus
sic stantibus). Dessa forma, não atenta contra a coisa julgada a superveniente alteração do
estado de direito, em que a nova norma jurídica tem eficácia ex nunc, sem efeitos retroativos.”
(AgReg MS 26.980).
Alternativa (B): incorreta. Conforme exposto nos comentários à alternativa “A”, a primeira parte da
assertiva está correta e de acordo com o entendimento do STF – a supressão, pelo TCU, da percepção
daquele valor não violará a coisa julgada.
A alternativa, porém, erra ao afirmar que João terá de devolver os valores recebidos anteriormente à
decisão do TCU. Isso porque o STF tem entendimento pacífico no sentido de que “o servidor a quem a
Administração concedeu a aposentadoria se presume de boa-fé até o julgamento da sua ilegalidade pelo
órgão competente” (trecho do voto do Min. Sepúlveda Pertence proferido no julgamento do MS 25.112,
Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJ de 03/02/2006).
Assim, se presumirá a boa-fé do servidor até a data em que teve conhecimento do ato que considerou
ilegal a concessão de sua aposentadoria, não se exigindo a devolução dos valores indevidamente recebidos
antes disso. Nesse sentido: “O Plenário do Supremo Tribunal Federal, em diversas oportunidades, já
assentou que, havendo boa-fé do servidor público que recebe valores indevidos a título de aposentadoria,
só a partir da data em que for ela julgada ilegítima pelo órgão competente deverá ser devolvida a
quantia recebida a maior (...)” (STF. 2ª Turma. RE 450.458-AgR-segundo, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de
22/08/2013).
Alternativa (C): A afirmativa é contrária a uma das recentíssimas teses de repercussão geral aprovadas
no dia 17/08/2016 pelo STF, a partir do julgamento conjunto dos Recursos Extraordinários (REs) 848826
e 729744.
O artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar 64/1990, que teve sua redação dada pela Lei da Ficha
Limpa, determina serem inelegíveis aqueles que “tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos
ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade
administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, para as eleições que se realizarem nos
oito anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do artigo
71 da Constituição Federal”.
Discutia-se, então, a quem caberia a competência para julgar as contas de governo e de gestão dos
prefeitos para os fins da aplicação da inelegibilidade prevista nesse dispositivo.
Julgando os REs 848826 e 729744, o STF entendeu que é exclusiva da Câmara de Vereadores a competência
para julgar as contas de governo e de gestão dos prefeitos, cabendo ao Tribunal de Contas auxiliar o
Poder Legislativo municipal, emitindo parecer prévio e opinativo, que somente poderá ser derrubado por
decisão de dois terços dos vereadores. Assim, incorreta a afirmação de que o Tribunal de Contas tem
competência exclusiva para julgar as contas de governo e de gestão de prefeitos.
Também está incorreta a segunda parte da assertiva, ao dizer que o parecer do Tribunal de Contas
rejeitando as contas do prefeito, por si só, já ensejaria a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea
“g”, da Lei Complementar 64/1990. Na verdade, como dito acima, trata-se de competência exclusiva
da Câmara de Vereadores julgar essas contas, de modo que o parecer do Tribunal de Contas é apenas
opinativo. Também evidencia isso a decisão do STF, no julgamento do RE 729744, na mesma ocasião, no
sentido de que, em caso de omissão da Câmara Municipal, o parecer emitido pelo Tribunal de Contas não
gera a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar 64/1990
A tese decorrente do julgamento do RE 848826 é a seguinte: “Para os fins do artigo 1º, inciso I,
alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das contas de prefeito, tanto as de governo
quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com auxílio dos Tribunais de Contas
competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos
vereadores”. A tese fundou-se no entendimento de que, por força da Constituição, são os vereadores,
representantes dos cidadãos, que detêm o direito de julgar as contas do chefe do Executivo municipal.
(Notícias STF. Disponível em www.stf.jus.br).
Alternativa (D): correta. A afirmativa está de acordo com redação da segunda tese aprovada no
dia 17/08/2016 pelo STF, elaborada pelo ministro Gilmar Mendes: “Parecer técnico elaborado pelo
Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo exclusivamente à Câmara de
Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local, sendo incabível o
Como dito no comentário à alternativa “C”, no julgamento do RE 729744, de relatoria do ministro Gilmar
Mendes, o Plenário do STF decidiu por maioria de votos que, em caso de omissão da Câmara Municipal,
o parecer emitido pelo Tribunal de Contas não gera a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea
“g”, da Lei Complementar 64/1990.
De acordo com o relator do recurso, ministro Gilmar Mendes, a Constituição confere à Casa Legislativa,
além do desempenho de suas funções institucionais legislativas, a função de controle e fiscalização das
contas do chefe do Poder Executivo, em razão de sua condição de órgão de Poder. A apreciação técnica
do Tribunal de Contas inicia o processo político-administrativo por meio do qual se desenvolve a condição
de órgão de Poder à Casa Legislativa. “Entendo, portanto, que a competência para o julgamento das
contas anuais dos prefeitos eleitos pelo povo é do Poder Legislativo (nos termos do artigo 71, inciso I,
da Constituição Federal), que é órgão constituído por representantes democraticamente eleitos para
averiguar, além da sua adequação orçamentária, sua destinação em prol dos interesses da população ali
representada. Seu parecer, nesse caso, é opinativo, não sendo apto a produzir consequências como a
inelegibilidade prevista no artigo 1º, I, g, da Lei complementar 64/1990”, afirmou o min. Gilmar Mendes,
ressaltando que este entendimento é adotado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Por fim, ‘e de se ressaltar que o ministro Lewandowski esclareceu que o entendimento adotado diz
respeito apenas à causa de inelegibilidade do prefeito, não tendo qualquer efeito sobre eventuais ações
por improbidade administrativa ou de esfera criminal a serem movidas pelo Ministério Público contra
maus políticos.
Alternativa (E): incorreta. O inciso II do art. 71 da CF estabelece que compete ao Tribunal de Contas
“julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que
resulte prejuízo ao erário público”.
Assim, a competência fiscalizadora do Tribunal de Contas se dá sobre bens e valores públicos, ou seja,
em razão da origem dos recursos envolvidos, e não da natureza do ente. Tanto é assim que o dispositivo
supratranscrito fala em “administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos”.
O que determina, portanto a competência do Tribunal de Contas para fiscalizar determinado ente é a
natureza do recurso.
Assim, por exemplo, se uma Sociedade de Economia Mista estadual recebe recursos da União, o TCU será
competente para fiscalizar esses ingressos da União.
Quanto à segunda parte da assertiva, também está incorreta, na medida em que, em certos casos, a
natureza pública dos recursos (elemento que, como dito acima, determina a competência do Tribunal de
Contas para fiscalizá-los) faz relativizar o sigilo de informações, inclusive o sigilo bancário. Nesse sentido,
confira-se o acórdão abaixo:
b) Caso determinada lei ou ato normativo anterior ao atual ordenamento jurídico seja
objeto de ADPF, a sua revogação não impede o seu exame na ADPF.
e) Na ADO, a medida cautelar pode se dar pela suspensão da aplicação da lei ou do ato
normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como pela suspensão de processos
judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda por outra providência a ser fixada
pelo Tribunal.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. Conforme prevê a Lei 9.882/89, a arguição de descumprimento de preceito
fundamental se dá na modalidade autônoma (direta), e na modalidade incidental. A arguição autônoma
está regulada no art. 1º, caput, da Lei n. 9.882/99, destinada a evitar ou reparar lesão a preceito fundamental,
resultante de ato do Poder Público. Nesse caso, a arguição não se restringe a atos normativos, podendo
a lesão resultar de qualquer ato administrativo, inclusive decretos regulamentares. Note-se ainda que a
primeira situação (evitar) tem nítido caráter preventivo, ao passo que a segunda (reparar lesão a preceito
fundamental) tem caráter repressivo. Deve ainda haver nexo de causalidade entre a lesão ao preceito
fundamental e o ato do Poder Público, de que esfera for (Pedro Lenza, p. 407).
Já a arguição incidental é trazida pelo parágrafo único do art. 1º da Lei n. 9.882/99 e é cabível quando
for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual
ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição. A respeito dessa modalidade de ADPF, Pedro Lenza
aponta:
Busca-se, nesse sentido, procedendo a uma cisão funcional em relação ao caso concreto,
antecipar o entendimento da Suprema Corte sobre a matéria.
Gilmar Mendes, nesse caso, fazendo um contraponto ao art. 97 em relação ao qual se observa
uma cisão funcional horizontal, no caso da ADPF incidental, vislumbra uma cisão funcional no
plano vertical (de órgãos das instâncias ordinárias para o STF). (Pedro Lenza, p. 407). Grifou-
se.
Assim, é correta a afirmativa de que a ADPF incidental restringe-se a ato normativo e pressupõe a
demonstração de controvérsia judicial relevante, não devendo essa alternativa ser marcada, já que o
enunciado pedia a opção incorreta.
Alternativa (B): correta. A ADPF tem grande utilidade como instrumento de análise em abstrato de
recepção de lei ou ato normativo já que pode ter por objeto ato editado antes da Constituição. Nessa
hipótese, conforme observou o Min. Gilmar Mendes, a revogação da lei ou do ato normativo editado
antes do novo ordenamento jurídico e objeto da demanda “não impede o exame da matéria em sede de
ADPF, porque o que se postula nessa ação é a declaração de ilegitimidade ou de não recepção da norma
pela ordem constitucional superveniente” (ADPF 33, j. 07.12.2005, Plenário). (Pedro Lenza, p. 407 e 408).
Alternativa (C): incorreta. Conforme já decidiu o STF no julgamento da ADI 594-DF a súmula persuasiva
não pode ser objeto de controle de constitucionalidade perante o STF, já que não possui não possui o
grau de normatividade qualificada - só podem ser objeto de controle perante o STF leis e atos normativos
Quanto à súmula vinculante, esta também não pode ser objeto de ADI. A EC 45/2004 trouxe a possibilidade
de o STF, de ofício ou por provocação, mediante decisão de 2/3 dos seus membros, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (art. 103-A, CF). Já o § 2º do mesmo dispositivo prevê
que, “sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de
súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade”. Por
existir procedimento específico para a revisão ou cancelamento de súmula, entende-se que não é cabível
o controle de constitucionalidade de súmula, ainda que vinculante. Nesse sentido leciona Pedro Lenza:
Assim, tendo em vista o fato de a súmula não ser marcada pela generalidade e abstração,
diferentemente do que acontece com as leis, não se pode aceitar a técnica do “controle de
constitucionalidade” de súmula, mesmo no caso da súmula vinculante.
O autor traz, porém, uma ressalva a respeito de entendimento minoritário adotado pela ministra Ellen
Gracie em algumas decisões:
Todavia, em algumas decisões, a Ministra Ellen Gracie entendeu que o mecanismo para se
rever a súmula vinculante seria a própria ADI (com o que não concordamos, pelos motivos
acima expostos). Tratava-se de hipótese na qual se discutia a impetração de habeas corpus
tendo em vista a edição da SV 11 sobre o uso de algemas (HC 96.301, 06.10.2008, Min. Ellen
Gracie).
Alternativa (D): correta. O art. 9º, III, do Regimento Interno do STF estabelece que é competência das
Turmas o julgamento de recurso extraordinário, que será distribuído a um Ministro e ficará atrelado à
Turma em relação a qual o Ministro integra, ressalvadas as hipóteses regimentais de prevenção.
Ressalte-se, no entanto, que, o art. 11, I, do Regimento Interno do STF prevê exceções em que a Turma
remeterá o feito ao julgamento do Plenário independente de acórdão e de nova pauta:
• quando considerar relevante a arguição de inconstitucionalidade ainda não decidida pelo Plenário,
e o Relator não lhe houver afetado o julgamento;
• quando, não obstante decidida pelo Plenário a questão de inconstitucionalidade, algum Ministro
propuser o seu reexame;
Já o art. 22 do Regimento Interno STF permite que o Relator afete a questão ao Plenário quando
houver relevante arguição de inconstitucionalidade ainda não decidida, sendo que o parágrafo
único traz exemplos de situações em que isso poderá acontecer:
• quando houver matérias em que divirjam as Turmas entre si ou alguma delas em relação ao
Plenário;
Em vista das normas internas, sustenta-se que a reserva do plenário não se aplica, como regra, às turmas
do STF:
Portanto, tendo como premissa que o julgamento do RE (e, assim, a declaração incidental
de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo) é de competência da Turma no STF, o
encaminhamento do RE ao Plenário depende do preenchimento das hipóteses regimentais,
e não, simplesmente, de requerimento da parte. Dessa forma, de acordo com as normas
regimentais, a cláusula de reserva de plenário não se aplica às Turmas do STF no julgamento
do RE, seja por não se tratar de “tribunal” no sentido fixado no art. 97 (e essa poderia ser uma
justificação para não ficarmos apenas com o fundamento regimental), seja, tendo em vista ser
função primordial e essencial da Corte a declaração de inconstitucionalidade, a possibilidade
de afetação dessa atribuição aos seus órgãos fracionários, no caso, as Turmas. (Pedro Lenza,
p. 311)
Parte da doutrina, porém, entende que essa regra do Regimento Interno do STF viola o art. 97 da
CF/88, que atribui expressamente ao Plenário ou ao órgão especial a competência para declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. (Pedro Lenza, p. 312). Assim, em provas
de primeira fase de concursos, aconselha-se adotar o entendimento trazido pelo Regimento Interno do
STF, bem como pelo precedente acima, da 2ª Turma. Correta, portanto, a assertiva, não devendo ser
assinalada, já que o enunciado pede a incorreta.
Abaixo, colocamos um quadro esquemático das hipóteses em que não se aplica a reserva de plenário:
Hipótese Fundamento
DECISÃO DO PLENÁRIO Art. 949, parágrafo único do CPC. Ressalte-se que, conforme entende
DO PRÓPRIO TRIBUNAL
o STF, não é necessária identidade absoluta da decisão previamente
OU DO STF SOBRE O
existente e do caso em exame, bastando que sejam equivalentes.
TEMA
Nesse caso, o que se reconhece é a revogação
da norma, e não inconstitucionalidade.
“A incompatibilidade entre uma lei anterior e uma Constituição
posterior resolve-se pela constatação da revogação da espécie
normativa hierarquicamente inferior, não se verificando hipótese de
NÃO RECEPÇÃO inconstitucionalidade. Isso significa que a discussão em torno da
incidência, ou não, do postulado da recepção –precisamente por não
envolver qualquer juízo de inconstitucionalidade (mas, sim o de
simples revogação de diploma pré-constitucional) – dispensa a
aplicação do princípio da reserva de Plenário do art. 97.” (Luiz Fux,
1ª Turma, DJE de 14-2-2013).
Aqui, a norma não é declarada inconstitucional, mas apenas
interpretada– logo, sendo a interpretação atividade jurisdicional típica,
não se pode exigir a reserva do plenário. “Alegação de violação da Súmula
INTERPRETAÇÃO Vinculante 10. (...) Decisões reiteradas desta Corte têm respaldado a
CONFORME A prerrogativa de conferir determinada interpretação à lei como atributo
CONSTITUIÇÃO inerente à própria atividade jurisdicional, o que, em consequência,
afasta a equiparação de declaração de inconstitucionalidade do
dispositivo analisado.” (Rcl 12.107-AgR, rel. min. Rosa Weber, plenário
em 13-6-2012)
Alternativa (E): correta. A Lei 12.063/2009 inovou ao admitir medida cautelar em ADO. Conforme prevê
o art. 12-F da Lei n. 9.868/99, em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o STF, por decisão
da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22 (quórum de instalação da sessão
de julgamento com no mínimo 8 Ministros), poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos
órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo
de 5 dias.
Correta, portanto, a assertiva, não devendo ser assinalada, já que o enunciado pede a incorreta.
28. Tendo em vista a divisão das competências legislativas previstas na Constituição, marque a
alternativa correta:
b) Lei estadual pode dispor sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio, por se tratar
o direito penitenciário de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal.
d) Será constitucional, no que concerne à competência legislativa, lei estadual que disponha
sobre gratuidade de estacionamento em estabelecimentos privados.
e) Invade competência da União lei estadual que verse sobre meia entrada para estudantes
em eventos esportivos, culturais e de lazer.
COMENTÁRIO
Alternativa (A): correta. A alternativa trata da hipótese de mudança de competência legislativa provocada
por nova Constituição. Ex.: A Constituição passada dá competência para tratar de determinada matéria
à União, que edita lei federal. Surge uma nova Constituição e dá competência aos estados. Haverá
recepção nessa hipótese?
Na hipótese da lei federal, não há dúvida sobre a recepção (tempus regit actum). Se a competência da
União foi transferida aos estados e já existia norma federal sobre o tema, ela será recepcionada. Se,
em determinado momento, um estado legisla sobre a matéria, mas outro não, haverá a revogação
da lei federal no estado que legislou e manutenção da lei federal no estado omisso. A lei federal será
recepcionada com status de lei estadual e lei estadual revoga lei estadual. Essa é a hipótese trazida pela
alternativa, o que mostra a sua correção.
É bom que o aluno tenha em mente que há também a hipótese contrária – a Constituição anterior dava
competência aos estados para tratar de determinado tema, e a nova Constituição dá competência a
União. Nesse caso, há divergência sobre se essas leis estaduais serão recepcionadas.
Gilmar Mendes entende que não haverá recepção. Essa seria a única hipótese de não recepção formal.
O argumento é o de que, se a nova constituição conferiu a competência à União, a recepção de várias
leis estaduais sobre a matéria causaria enorme confusão e prejuízo à segurança jurídica.
Luís Roberto Barroso entende a ausência de norma até a União legislar sobre o assunto geraria ainda
mais insegurança do que a recepção das normas. Além disso, não haveria conflito normativo, porque cada
lei estadual valerá no respectivo estado, como era antes até a União exercer a competência legislativa.
Assim, para Luís Roberto Barroso, haverá recepção das leis estaduais, que continuarão valendo dentro de
cada estado até que a lei federal as revogue em bloco.
Daniel Sarmento adota uma posição intermediária. A princípio, a melhor opção é a recepção das leis
estaduais, porém a sua não recepção pode ser mais interessante dependendo do caso. Se, no caso
concreto, se verificar que a recepção das leis estaduais pode gerar prejuízos, deve-se afastá-las.
Como a assertiva traz hipótese de mudança de competência legislativa da União para os estados, é
correto, como apontado acima, dizer que a nova norma federal será recepcionada pela nova ordem. A
alternativa “A”, portanto, é a que deve ser assinalada.
Alternativa (B): incorreta, devendo ser marcada. De fato, o direito penitenciário é matéria de competência
legislativa concorrente, nos termos do art. 24, I da CF/88. No entanto, o tema foi recentemente decidido
pelo Plenário do STF, tendo prevalecido a competência da União para legislar sobre telecomunicações.
Confira-se a ementa do julgado:
Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade
a competência da União para legislar sobre telecomunicações. (STF. Plenário. ADI 3835/
MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, ADI 5253/
BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgados em 3/8/2016 - Informativo 833).
Assim, a afirmativa vai de encontro ao entendimento atual do STF sobre essa competência legislativa.
Alternativa (C): incorreta. De fato, a União poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias de sua competência privativa prevista no art. 22 e incisos da CF/88. Porém, o art.
22, parágrafo único exige lei complementar para tanto.
Nesse sentido, Pedro Lenza destaca a LC n. 103/2000, “que, em razão da regra contida no art. 22,
parágrafo único, da CF/88, autorizou os Estados e o DF a instituírem, mediante lei de iniciativa do Poder
Executivo, o piso salarial de que trata o art. 7º, V, da Constituição Federal, para os empregados que não
tenham piso salarial definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho (cf. item 15.4.1)”
(Pedro Lenza, p. 494).
Alternativa (D): incorreta. Na verdade, caso o estado edite lei tratando de gratuidade de estacionamento
em estabelecimentos privados (shopping centers, escolas, hipermercados, rodoviárias e aeroportos),
estará invadindo a competência legislativa da União. Isso porque trata-se de matéria atinente a limitação
genérica ao exercício do direito de propriedade, o que se inclui no âmbito do direito civil, que é de
competência privativa da União, nos termos do art. 22 da CF/88. Nesse sentido, vejamos:
Incorreta, portanto, a alternativa ao afirmar que a lei estadual sobre o tema não padeceria de
inconstitucionalidade.
Alternativa (E): incorreta. Na verdade, trata-se de competência concorrente da União, estados, e DF, na
medida em que se enquadra em matéria de direito econômico (art. 24, I, CF). Confira-se a ementa do
acórdão proferido na ADI 1950:
(ADI 1950, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2005, DJ 02-06-2006
PP-00004 EMENT VOL-02235-01 PP-00052 LEXSTF v. 28, n. 331, 2006, p. 56-72 RT v. 95, n.
852, 2006, p. 146-153)
Em momento posterior ao julgamento, destaca-se o advento da Lei (federal) n. 12.933/2013, que dispôs
sobre o benefício do pagamento de meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e
jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes em espetáculos artístico-culturais e esportivos (CF,
art. 24, § § 1º a 4º da CF/88). (Pedro Lenza, p. 517).
DIREITO EMPRESARIAL
29. Assinale a alternativa que NÃO descreve uma situação que por si só legitima a deflagração
de processo falimentar:
b) Sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada
em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência.
d) Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo.
e) Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar
os credores.
COMENTÁRIO
A presente questão visa avaliar os conhecimentos do candidato sobre os atos de falência, tema de alta
incidência nos concursos de procuradoria. Recomenda-se ao candidato a leitura do art. 94 da lei 11.101/05
que prevê as hipóteses autorizadoras da decretação da falência do devedor, isto é, os chamados atos de
falência. A questão, contudo, pode ser resolvida apenas com o conhecimento da lógica adotada pelo
legislador de priorizar a insolvência jurídica em detrimento da insolvência econômica.
Explica-se: visando evitar dificuldades técnicas e operacionais para identificar a situação patrimonial
negativa de um empresário (insolvência na acepção econômica), o legislador optou por prever um rol
de condutas típicas dos insolventes, mas que autorização o pedido de falência independentemente
da situação patrimonial do devedor. Ou seja, a insolvência exigida pela lei 11.101/05 é ficta ou jurídica.
Praticado o ato de falência previsto em lei estará o devedor sujeito ao processo falimentar, ainda que
possua recursos para quitar todas suas dívidas. Confira o ensinamento da doutrina:
“Mas e necessário atentar-se para zero fato de que o pressuposto da falência (...) não é
a insolvência entendida em sua acepção econômica, ou seja, como um estado
patrimonial, mas sim, a insolvência entendida em um sentido jurídico preciso que a
lei estabelece. (...) Para fins de instauração da execução por falência, a insolvência não
se caracteriza por um determinado estado patrimonial, mas sim pela ocorrência de
um dos fatos previstos em lei. Ou seja, se o empresário for injustificadamente impontual
no cumprimento de obrigação Ilíquida (LF, art. 94, I), incorrer em execução frustrada (art. 94,
II) ou se praticar um ato de falência (LF, art. 94, III). Se restar caracterizado a impontualidade
injustificada, a execução frustrada ou o ato de falência, mesmo que o empresário tenha o seu
ativo superior ao passivo, ser-lhe-á decretada a falência; ao revés, se não ficar demonstrada
uma ou outra hipótese, não será instaurada a falência ainda que o passivo do devedor
seja inferior ao seu ativo. A insolvência que a lei considera como pressuposto da execução
por falência é meramente presumida. Os comportamentos discriminados pelo art. 94 da LF
são, geralmente, praticados por quem se encontra em insolvência, e esta é a presunção legal
que orienta a matéria.” (Manual de Direito Comercial, Fábio Ulhôa Coelho, p. 314, 21ª Ed).
Dessa forma, evidencia-se que a mera existência de dívidas que extrapolem o ativo de um empresário
não pode legitimar o processo falimentar contra este. A lei sempre exige certa conduta falimentar
acompanhada ou não da insuficiência de bens para garantir a dívida. Conclui-se, pois, que a alternativa
“A” está incorreta, devendo ser assinalada.
Reforçando a incorreção da alternativa “A” (gabarito), todas as outras condutas estão tipificadas como ato
de falência na lei 11.101/05. Confira o rol de atos de falência:
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora
bens suficientes dentro do prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento
para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou
fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a
terceiro, credor ou não;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com
bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
Alternativa (A): correta, devendo ser assinalada. A mera insolvência econômica não legitima a falência.
Faz-se necessário a prática de um ato de falência para que se configure a insolvência jurídica exigida pelo
legislador, logo a alternativa não narra uma situação justificadora da falência.
Alternativa (C): incorreta. Ato de falência previsto no art. 94, III, ‘c’.
Alternativa (D): incorreta. Ato de falência previsto no art. 94, III, ‘e’.
Alternativa (E): incorreta. Ato de falência previsto no art. 94, III, ‘f’.
30. Sobre a deliberação acerca da concessão ou não da recuperação judicial, assinale a alternativa
correta:
b) São os credores que, de fato, decidem ou não sobre a concessão da recuperação judicial,
sendo a decisão do juízo sempre de caráter meramente homologatório.
c) É possível que o juiz conceda recuperação judicial ainda que o plano tenha sido rejeitado
pelos credores.
d) O plano de recuperação judicial deve ser aprovado por todas as classes, sempre por
credores que representem mais da metade do valor total dos créditos em cada classe.
COMENTÁRIO
A questão explora tema recorrente nas provas de direito empresarial: deliberação sobre o plano de
recuperação judicial e concessão da recuperação judicial.
Como regra, a recuperação depende do consentimento dos credores. Para garantir o par conditio
creditorium, a lei prevê que tal anuência deve ser dada por “classes” de credores, isto é, o plano deve
atender as expectativas dos diversos grupos de credores que compõem a assembleia geral. Na atual
dinâmica da lei 11.101/05 são quatro classes:
O consentimento para a aprovação do plano deve ser dado assim por maioria de cada uma dessas
classes. O legislador, contudo, elenca dois critérios para obter a “maioria” de uma classe:
• Maioria do “valor” dos créditos + maioria simples dos credores classes (ii) e (iii).
• Maioria simples dos credores independente do valor dos créditos classes (i) e (iv)
O resultado dessa deliberação, como regra, vincula o juiz quanto ao mérito da recuperação, restando
a ele apenas o controle de legalidade da deliberação e concessão ou não da recuperação, inclusive
vedando o abuso do direito de voto. Confira nesse sentido os seguintes enunciados do Conselho de
Justiça Federal (CJF):
44. A homologação de plano de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita ao
controle judicial de legalidade.
Nessa linha doutrina e jurisprudência são pacíficas no sentido de que não cabe ao juiz recusar a conceder
recuperação aprovada pelos credores com fundamento em análises que excedem a mera legalidade, tal
como a viabilidade econômico financeira do plano. Confira o seguinte enunciado do CJF, reiteradamente
cobrado nas provas objetivas:
Contudo, a própria lei confere certa margem ao magistrado analisar o “mérito” econômico e social da
recuperação judicial em uma hipótese específica: quando o plano que não foi aprovado “por pouco”. É o
chamado “cram down”, sendo a única hipótese que o juiz pode contrariar o deliberado pela assembleia
geral.
A lógica do instituto é deixar a opção para o juiz contrariar a maioria dos credores quando quase se
obteve o quorum qualificado e, na visão do juiz, os interesses institucionais prestigiados pela conservação
da empresa (geração de emprego, recolhimento de tributos, produção de bens e serviços etc) naquele
caso concreto deve prevalecer sobre o direito de crédito dos credores. Tal instituto tem previsão no art.
58 da lei de falências:
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor
cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido
aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve
aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido,
de forma cumulativa: (INSTITUTO DO “CRAM DOWN”).
II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso
haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma)
delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores,
computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.
§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste artigo
se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver
rejeitado.
Note, contudo, que, como indica o caput, se o plano for aprovado o magistrado CONCEDERÁ a
recuperação, não podendo negá-la, salvo por razões de ilegalidade. Do mesmo modo, a contrario sensu,
depreende-se que caso rejeitado o plano não configurada as condições do parágrafo primeiro, o juiz
deverá rejeitar necessariamente o plano. É justamente essa a lição da doutrina, confira:
Cabe à assembleia dos credores, tendo em vista o proposto pela a devedora e eventual
proposta alternativa que lhe tenha sido submetida, discutir e votar o plano de recuperação. Três
podem ser os resultados da votação na assembleia: a) aprovação do plano de recuperação,
por deliberação que atendeu ao quorum qualificado da lei; b) apoio ao plano de recuperação,
por deliberação que quase atendeu a esse quorum qualificado; c) rejeição de todos os planos
discutidos. Em qualquer caso, o resultado será submetido ao juiz, mas variam as decisões
judiciais possíveis em cada um deles. No primeiro, o juiz limita-se a homologar a aprovação
do plano pelos credores; no segundo, ele terá a discricionariedade para aprovar ou não o
plano que quase alcançou o quórum qualificado; no terceiro, deve decretar a falência da
sociedade requerente da recuperação judicial. (Manual de Direito Comercial, Fábio Ulhôa
Coelho, p. 383, 21ª Ed).
Alternativa (A): incorreta. Como visto, é necessário o consentimento da maioria dos credores ou, ao
menos, quase a maioria, na hipótese do “cram down”.
Alternativa (B): incorreta. Nem sempre a decisão do juiz será meramente homologatória, na hipótese do
“cram down”. (art. 58) o juízo poderá conceder recuperação rejeitada pela assembleia.
Alternativa (C): correta. Sim, isso será possível quando reunida as condições autorizadoras do “cram
down”. (art. 58)
Alternativa (D): incorreta. Na classe dos créditos trabalhistas e créditos de ME/EPP exige-se somente a
maioria dos credores, independentemente do valor do crédito.
Alternativa (E): incorreta. Como visto, o juiz faz mero controle de legalidade da recuperação, podendo
adentrar no mérito econômico da recuperação apenas na hipótese do cram down expressamente
autorizada no art. 58 da lei de falências. Assim, é vedada tal análise para rejeitar o plano dos termos do
enunciado 46 do CJF: “Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a
extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos
credores”.
QUESTÕES DISSERTATIVAS
DIREITO CIVIL
b) Definição da teoria dos atos emulativos e sua adoção ou não pelo Código Civil de 2002.
A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
08/09/2016: profcei.nataliamaia@gmail.com
DIREITO CIVIL
a) Empresa privada está obrigada a indenizar danos ou furtos de (ou havidos em) veículos
estacionados em vagas disponibilizadas gratuitamente aos seus clientes, em ambiente
fechado no interior ou proximidade dos seus estabelecimentos?
Justifique cada uma das respostas, inclusive com base na lei e no entendimento doutrinário e
jurisprudencial sobre o tema. Caso qualquer delas seja positiva, indique também, necessariamente,
qual a natureza (contratual ou extracontratual) e o(s) fundamento(s) jurídico(s) da indenização.
A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
08/09/2016: profcei.joseamerico@gmail.com
PEÇA PROFISSIONAL
DIREITO AMBIENTAL
Não é necessário datar a peça ou calcular prazos. Ao final, assine apenas PROCURADOR.
A resposta para correção individualizada pode ser enviada para o seguinte e-mail, até o dia
08/09/2016: profcei.rodolfocursino@gmail.com