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Pyrard Laval Viajantes PDF
Pyrard Laval Viajantes PDF
m u n i.
( 1601 a 1 6 1 1 J
&OUÈ a dc««cripçâo exacta «lo» cosCames , leisi,
polícia, c g^overuo; do trato e eommereio»
n e iie s lia; do» auim ac», arvore»* frocta»* e
oatra» « iiigu larid ad e» , q u e a ll i »e encontram :
POR
TOMO IL
AO LEiTOU PORTüGüEZ
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SEGUNDA PARTE.
P r c a m S n ilo .
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CAPÍTU LO I
SEGUNDA PAUTE. 5
k s . Junto de nos poz uma biiha de barro com agua para
beber, e urn vaso de cama, iima toalha, e urn lenço de as-
'soar, qiie se mudam de tres em Ires dias. Não nos deram
logo de comer, ,porque c mister esperar a bora ordinaria.
E ’de notar que os superiores deste hospital são Porlii-
guezes,-e os servidores Ganarins de Goa, on Bramanes
christãos,'que dão de comer, e servem os doentes com
grande esmero, estando sempre Junto delles, scm ousar
desobedecer-lhes no que he razão. Estes servidores rece
bem seu salario, e os officiaes Portuguezes andam visitan
do de vez em quando a todos os enfermos, a ver se lhes
falta alguma cousa, ou se se obra-contra a sua saude a
-qualquer respeito.
E ’ pois este.hospital o melhor que na minha opinião-lia
no mundo, ou seja pela belleza do edifício c^suas pertenças,
porque tudo está mui bem disposto e accommodado; ou seja
pela.boa ordem c,policia que nelle se guarda, limpeza que
ahi ha, grande cuidado que se tem dos doentes, assistência
c consolação de tudo quanto se pode desejar, assim no que
toca a medicos, drogas, c remedios para restaurar a saude,
e alimentos que se oíferecem, como no que diz respeito á
consolação espiritual, que a toda a hora se pode haver.
O edifício é mui amplo, jaz á bo rd ad o rio, c ó susten
tado pelos Reis de Portugal com vinte e cinco mil pardáos
( que valem cada um vinte e cinco soidos da nossa moeda
[ franccza J , e lá trinta e dous e meio ?), não fallando nos
donativos e.presentes que lhe fazem as pessoas qualifica
das; 0 que é segundo o estado da terra um grande rendi
mento para este eífeilo, visto que os viveres alli são mui
baratos, e mui bom o tratamento que nelle se dá; por quan
to os Jesuilas, que o administram, mandam buscar até Cam-
baya e outras partes o trigo e bastecimenlo que é necessário.
E ’ como digo governado e administrado pelos Jesuitas,
que ali tem um Padre para este governo; os outros officiaes
são Portuguezes, excepto os servidores e escravos, que são
& VJAGEM DE FRANCISCO PYRARD)
Stiindo dulli nos niio SGriurnos tiio bem Iriitsdob, por isbo
ia sempre dilatando a nossa saida apesar de nossas ins
tancias. filhas do desejo que tínhamos dc ver aquella hel-
la cidade, de que ouvíramos contar tantas grandesas. Ten
do elle pois dado conta ao capitão-mór, no fim de^cinco
ou seis dias chegaram dous Meirinhos com seus Peões, e o
Padre Jesuíta veio a nós, e nos disse: Meus irmãos, levan-
lai-vos; e pois que tendes tão grande desejo de sair desta
casa, podeis fazel-o.; acompanhai-me. E nós mui alegres o
seguim os, e elle deu a cada um dos dous ( porque o outro
ficava ainda mui enfermo ) ceroulas, gibões, capas, sapa
tos, chapéo, duas camisas, dous calções novos ( elles não
usam meias, porque as ceroulas chegam até aos pós ) coni
uma moeda de pcirdáo, que vale lá trinta soldos e meio,
que fazem vinte e cinco soldos de França. Deu-nos também
de almoçar, posto que o não queríamos pela pressa que
linham os de sair. Por fim tendo-nos lançado a sua benção,
despedimo-nos delle, agradecendo-lhe todo o bem que nos
havia feito. Parecia-me que o Padre tinha dó de nós, porque
nos consolava quanto podia.
Quando porém descemos a escada principal topámos com
03 dous Meirinhos que tinham o mandado na mão, arma
dos de halabardas e partazanas, os quaes tomaram logo
posse de nós, e nos levaram comsigo tratando-nos mui as
peramente. 0 modo de levar os presos é ir diante o M ei
rinho com a sua vara, e detraz os Peoês, que seguram as
duas pontas da corda com que o preso vai amarrado. Pen
sai at^ora o nosso espanto quamio apoz uma tão curta a-
legria'^ nos vimos entre as rnaõs dos diabos destes cafres
mais negros que carvão. Eis como sahi deste hospital, a-
onde ainda de outra vez estive doenle por espaço do quinze
dias, e aonde entrei outras muitas a visitar o meu com
panheiro, e outros meus amigos, E por isso quiz referir
particularmente o que alli vi e conheci, sendo eu persua
dido que não ha outro tal em todo o resto do mundo.
Em todas as mais cidades dos Poríuguezes ba semeüiaii-
a
ITU
L
SEGUNDA PARTE. 19
ç>a
"?IAGEM DE FRANCISCO P1tT\AR1>
CAPÍTLLO lí.
r . - ■
1 loa^ c uma ilha que dependia anligamenlc do reino do
iJealcao ou Docan [ a ); tem do circuito (|uasi oito íciroas.
e tia irdla set (3 fortalezas que guardam os passos. V: cerra
da de um no que vem do duo reino do Deaicão, c vai ca-
ir no mar a duas legoas da citlade, jiassaiulo pelo pc delia.
Aa emnocadiira deste rio ba duas fortalezas, uma de ca
da banda, para impedir a entrada ao? navios inimi.m^
nia íegoa acima da entrada do rio ba a fortaleza e"" passo
oe J arif/ua, na mesma dha. e na fortaleza está um nipiíão
c governador posto pelo Vice-Rei, que manda alli ab.soíu-
bur^ íc;^ c e mister que Iodos os navios e embarcações
^ Lw a pai-occ-nos comipçuo tic Idnlcão, cüarun.liiido-^c
€ HO tia icrra com u mesimi tçrnu
24 TIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
i
VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
c
SEGUNDA PA RTE. 31
CAPÍTU LO l í L
D a C id a ilc d e Goa, » n a s p r a e a » . ig r e ja » , p a la e io » . e
ontro» c€Siíicio».
que tem de que se lance fogo aos navios, que são muitos,
assim de Portugal como da índia. Estes homens que fazem
guarda são indios ou christaõs, e são chamados Naiques.
São numerosos, c revezam-se todos os dias; e servem para
cumprir os mandados do Veador, levar os seus recados, e
outros serviços, como entre nós os sergens ou hedeaux,
Todos os artifices são contados duas vezes ao dia, e ha um
contador que lhes faz pagamento, e um apontador que os
TÍgia e aponta, de maneira que se lhes desconta todo o
tempo que não trabalham. Mas ha nisto muitos abusos,
pois se 0 contador e o apontador querem, dão na conta
quantos lhes apraz. O pagamento faz^se-lhes ein publico,
salvo sendo somma grossa, que se paga á parte.
He neste mesmo logar que está a prisão denominada
a Sala, onde eu estive, e a ella envia o Veador toda a qua
lidade de pessoas que são da sua obediência. Este Veador
tem dous Meirinhos c um Escrivão. Todos estes oííiciaes
se concertam mui bem para roubar a gente. Tem o Veador
uma pequena galeota, das a que chamam manchuas, mui
bem coberta, e que El-Rei lhe paga para ir e vir aos na
vios, ou a outra qualquer parte por mar, e ha nella somen
te oito ou nove homens para a navegar. O Vice-Rei tem
lambem uma, e todos os otíiciaes; o Arcebispo mesmo , e
muitos outros particulares as tem. São mui commodas, cm
forma de carroça, só com a differença de não serem tapa
das dos lados.
Mas tornando ao Veador, não ha em Goa ninguém, a-
baixo do Vice-Rei, que possa fazer maior bolça c roubar
tanto como clle. Porque tudo quanto sobeja nos navios que
vem de Portugal, e de todas as demais partes, assim em
mantimentos, como utensílios, e outras cousas, tudo isto
lhe fica na mão, e usa delle como muito bem lhe apraz, porque
quando novamente se hão de prover as armadas, é mister
dar-lhes novos mantimentos, munições, e utensílios, no que
ellc pode roubar ainda mais, pois por um soldo de despe*
SEGUNDA PARTE. 37
sa se poem dous. E o Vice-Rei e elle se concertam muito
bem, porque pouco importa que o Vice-Rei ordene paga
mentos ou merces por escriplo; o Veador nada paga senTio
vè um certo signal na assignatura, ou sem que o Vice-Rei
llio mande dizer de bocea; e o mesmo faz o Tliesoureiro.
li note-se que para os pagamentos é mister que muitos
intervenham, mas para as despesas e supprimentos das
armadas, e para tomar conta do que délias sobeja, só toca
ao Vedor da Fazenda.
A ’s duas portas desta praça ou ribeira os porteiros e
guardas sempre vigilantes não deixam sair ou entrar pes
soa alguma sem a apalparem para ver se leva alguma
cousa roubada; e não se fazem alii embarques de cousa-al-
guma, salvo se pertence a El-Rei ou aos ditos oíliciaes.
E ’ esta praça muito comprida e larga, mas quatro vezes
mais comprida que larga, e a largura é de perto de duzen
tos passos. Toda ella está recheada de grandes riquezas
pertencentes a El-Rei.
Dalli caminhando para oriente vai sair-se perto do Hos
pital Real da cidade, e entra-se em outra grande praca
também fechada, que esta entre o dito hospital e a ribeira,
c serve somente para desembarcação dos pescadores, e para
embarcação e desembarcação de toda a mais qualidade de
gente. Chama-se este sitio o Cae^ de Santa Catharina, o
também Bazar do peixe, porque alli se desembarca e ven
de. Este caes é mui commodo quando chega a armada de
Portugal, porque logo que os doentes tem saido em terra,
acharn-se junto da portado hospital, cujas paredes fecham
a cidade desta banda. Todas e quaesquer mercadorias se
podem também alli desembarcar, querendo-se, porípie as
da dita armada não pagam direito algum em Goa. E’ esto
largo como o meio de toda a cidade; e ha também nelbi
tranqueiras, e portas, que se fecham quando se quer. Toda
a borda do rio ao longo da cidade é cheia de lodo, e vasa.
Mas quando chegam os navios de Portugal é maravilha
10
38 VIAGEM DE FRANCISCO PTRARD
( a ) E s c r e v e acjui P y r a r d urna o b s e r v a ç ã o q u a s i i m p o s s í v e l d e
v e r t e r i n t e l l e g i v e l m e n t e e m p o r l u g u e z , e f u n d a d a n ’u m a e q u i v o c a -
I
1
SEGUNDA PARTE. 49
T
1 emlo faliaJo no capiliilo precedente das praças da ci
dade; direi lambem alguma coiisa aqui dos seus mercados.
Lstes mercados, no que toca aos inaiitimeiilos, lia-os Io
dos os dias de trabaJlio, desde a seis ou sete iioras da
Convento o Igreja do S. Francisco, tudo reformado no-lcrior.
nienu*, e hoje em inao estado. ‘
(líiiielia de Santa ('atharina, recoaslruida postenormcnlu
k'rejn dc Santo Antonm. >vtsituofiutna.
liíreja de N. S. dò Itosario..
Convento de ’Santa Moniea.
■<àa'za e Igreja do Bom Jesns.
dííreja de s. da Serra, reformada ( ao que parece 1 nosterí
onnente. A ostatu., dc Alfonso dc Allinnnerunc "
lionli-inno desta Igreja, foi em 18í 0 transferida’ a I'an-im ' on
de e.«;ta debaixo de um pavilhão na Praca cliamadi
janellas, adjacente ao t|uartel da arlilheria * ’ '
Ha minas de.stes ediíieiT.^í:
'Fortaleza ou Palacio dos Vice-Beis.
■Caza da Imjuisiçao ( vesitigios ),
Recüiliimenlo dá Serra.
Caza da Misericórdia, e sua igreja, ( apartada da da S e rn ) m,»
• i he de fimdaçao posterior á viagem de IS rard . ' « -
Ueeolhiinenlo c tgrcjii das Convertidas, on dc Santa Maria .Magda-
Convento e Igreja de S. Dominíros.
Convento e l-rreja de Santo .Viíoslínho
Coliegio de S. Paulo, o velho.
Igreja de Santo riioiné ( vesligios ).
Podem ainda assignalar-.se os logares .Io aiitiiio rne.s r Hizir .h»
líaneaçaei ele"'''’ Salles, Alfan.lega, Armazéns,
O caes chamado do Arcebispo, e que lira (>m sitio f»ro\imo »o
an igo caes de Santa ('atharina, e ohra moderna. *
\ mica, que ainda e.Mste no lerrciio adjacieite a S. Domiii-pos
parece-nos ser outra diversa da que nos discreve PvraN ' '
Hcliuiaiii SC aiüda a Rua Direita, a Praça do Pcloiiiiiiiio vdho,
VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
52
manhã ale ao meio dia. O mercado principal 1'®
0 comprimento da grande rua direita, a qual por um .
tremo loca na Misericórdia, e pelo outio no- pvt acio c ■
ce-Rei. Esta rua he das mais bellas e grandes, cheia de
tendas de ioalhetros, ourives, lapidarios, lapeceiros, m®'® -,
dores de sedas, e outros artífices de cousas ricas. Lm
nuanlo dura este mercado ha tal concurso-, de gente na ,
que mal se pode passar. Não temeiu a chuva no ""■ «‘' f o
liem 0 calor no verão, por respeito daquelles giandes som-
hi ciros, ou chapeos, que cada uin traz, e que tem pelo me
nos seis a sete pés de diâmetro;, de sorte que d ^ n d o a-
quella multidão está reunida, todos aquelles. somhieiros se
tocam, entre si, parecendo um só toldo inteiriço.
Uns très mez.es antes do eu partir de Goa foi oídenado
que o grande largo que está entre a Casa da Lainara e a
Inquisição servisse para se alargar este- mercado, por set
mui periueno o espaço da rua direita. Chamam, a este mer-
eado t ó l ã o , caoio- já disse, por se fazerem a a as anema-
tacões em liasta publica,. AHt se acham- inddterenlemente
toda a sorte de pessoas assim nobres camo. das outias clas
ses. de todas as nacõesc religiões, para comprar e ^ende^
ou encoutrar-se com aquelles com quem. tem negocios a
tratar: porque este legar lhes serve de coramei-,
cie. Nrlo sáo os- oíllciacs d.e justiça, que alli fazem as ai-t
rematações, mas oiiU-as pessoas ijue parliculanueute tem
Il • este oílicio, de que pagaiu remia a El-iiei; pois nao liaoM-
cio, occupa^iãOv ou uiisIlm’, por inímio que
tenha seu rendeiro, ou coutraclador da parte d Et-nei, qu
'I c‘i7i (!o. acoM-^ue, a Rua do S-. Paulo que í^áe ao campo de S.
Laziuo, e outras' militas, onde ainda se conservam calçadas co
iVirmoc; rom a liescriDcao do auctor.
T,i,io 0 muis .ic « l U f i l e falia d.csa.iqiarecco, e esta u m e r m o
red 1L71(1cy. â ualmaiNfs-, oiv matto.. , .
Ndo meiUM o Convento de S. Caetanoq cm hora estado
e as minas dc oulros, por serem fiiudaçoes posteriores ao tempo
de Pyrard.
SEGUNDA PA RTE. 53
dabi tira sempre algum lucro. E ’ pois alli que se faz a
venda de Iodos os moveis, por juslica, ou amigavelmente, c
ha muita gente que vende por sua conta sem apregoai-,
nem aíTrontar. como se faz nas lojas, üs que tem cargo
de vender em hasla puldicaScão chamados prryoeiros, e lie
mister que dem hoas franeas, pois muitas vezes se lhes
deixam na mão grandes e ricas joias.
Nesta praça vè-se Ioda a sorte de mercadorias: e entre
outras quantidade de escravos, qm' são alli levados emno
aqui se iaz aos cavallos, EsU's V' nd(Mlor(‘s le\am apoz si
gramh's ranchos dellcs; e depois, para os vender, louvam-
nos e gaham-nos, repetindo todas as suas prendas, otlicios,
força, e saude; e os compradores de tudo isso S(* informam,
interrogain-nos, c examinam-nos da cahrça até aos pés cu
riosamente, assim a machos como a femeas. E os mesmos
escravos, esperando melhor tratamento com a mudança de
senhor, mostram a sua hoa disposição, e se gaham a si
proprios, para mover a vontate dos compradores. Mas
quando os compram, assigna-se um certo dia lixo até ao
qual se pode retraclar o ajuste, aíim de que tenham tempo
de saber a verdade.
Entre os escravos enconlram-sc alli raparigas e mulheres
mui bellas e lindas de todos os paizes da índia, as quaes
pela maior parle sabem tanger instrumentos, bordar, co
zer mui deticadamenic. e fazer Ioda a sorte de obras, do
ces. coirservas, e outras cousas. Todos estes escravos são
a preço mui diminuto, e os mais caros não valem mais de
vinte ou frinta paníáos. moeda (|ue equivale a trinta e do-
us soidos 0 S3Ís dinheiros cada-uma. As moças donzcllas
são vendidas por laes, e fazem-nas observar por mulheres,
e neste ponto ninguém ousa commeller engano (a). Não
(u ) Vom aífiii a proposiio o seguinle dociimcnio, que adiámos
«a seu original « =l)iguo eu Berlollameu Pereira, casado, e nio-
« rador nesta cydade, qiie iic verdade qne eu veiidi liuma mos.sa
« minha por norne Uriatiz, da casta Coromhy, com todas hoas
«manhas, e sain, donzellu , e sabe taurar todo lauor dauihallas
14
:
Té p Mp ; n r ^ P®-®® cazas,
fp Jo u uao ''ao buscar a outra parte, porque
emem quo se lhes lance alguma cousa na agua que hão de
beber. Bebem por taças de cobre, feitas em forma de pe-
11
SEGUNDA PA R TE. 61
CAPITU LO V-
n o g o ve rn a de G o a , do V fic e -R e l» d e su a C o rte * c m a g .
nificencia»
Tia urn, 0 qual nunca entra sera o seu predecessor ter saí
do, e este se retira a uma caza destinada para esse eiiei-
to. Sendo retirado, entra o novo cora grande magnificên
cia c tnum pho; levanlam-Ihc muitos arcos Iriumphaes des
de 0 desembarcadouro a t é á Igreja Cathedral, e cada offi
cio, e classe de mercadores fazem o seu em competência
nus com os outros. E ’ acompanhado de todo o clero, no-
b r c p , povo, mercadores, e artifices até ao seu palacio, com
muitas salvas de arlilheria, fogos de alegria, e outros ap-
paratos. Se acerta de morrer o Vice-Rei dentro do espaço
de tres annos, o Rei envia outro, e no entretanto a cida
de nomea quem sirva (a). E m quanto eu estive em Goa
VI quatro providos uns apoz outros (b). A q u e lie q u e estava
q u a n d o salii de Goa chamava-se R uy Lourenço de Tavora.
se outros transportes da mesma especie, chamados Machilla: de va
riados feitios, para uma e para duas pessoas. Em quanto á cober
tura c a mesma que descreve o auctor; devendo advertir-se que a
WI*
cobertura de panno, ou seja de seda, ou de outra droga, é propria
para resguardar do sol no verão; e a cobertura de couro, ou paur
íio oleado, serve para resguardar da chuva no inverno.
( a ) Continuada com este periodo, e á margem segue-se no nosso
exemplar um»iVota manuscripia, em frnncez, e de letra lambem fran-
ceza, que parece ser do século X V II, que diz: -= k lo lie falso,
porque quando tal caso acontece, succede aquelle que de anic-
« mao ja esta nomeado por El-Rei em Provisões, que se conservam
cerradas, ciiamadas vias de successão; e se abrem quando aconte-
« ce morrer 0 \ ic e - R e i= x Observação exacta , e que não carece
de mais rectihcação, •
{ b ) O auctor ‘chegou a Goa em Junho de 1G08 quando governa
va 0 E^ado por via de successão o Arcebispo D. F r. Atei xo de Me
nezes. E tendo morrido na viagem o novo Vice-Rei D. Jocão Perei
ra Forjaz, Conde da Feira, abertas as novas üí«.? de successão saio
nomeado nellas André Furtado de Mendonça, que tomou posse do go
verno a 27 de Maio de 1601), e governou a*té 5 de Setembro do mes
mo anuo, eni que entregou o governo ao outro novo Vice-Rsi Ruv
Eourenço de Tavora, que íicoii governando quando o auctor recressoíi
a Europa. Donde se vê que os quatro providos no governo que ellô
Ojionta no seu tempo são; o Arcebispo D. F r. Aleixo do Menezes; o
\ice-Hci Conde da Feira ( que tedavia não chegou a governar ) •
Mendonça; e o Vice-Rei Riiy Lourenço de Ta-
SEGUNDA PA R TE. 65
; • -S
SEGÜXDA PA R TE, 60
obrigados a 1er armas. Não se jiinlara todos cm um só dia-
mas cada frcguezia em seu, e é sempre em dia saiiclilica-
do. Islo faz-so em presença do Vice-Ilei, iio campo de
• . Liumo, ou passam em formatura por diante do palacio
da fortaleza, estando o Vice-Rei na sua galeria, e o capi-
tao llie foz uma falia, e todos llio prestam juramento. O.s
mlieis nao fazem alardo, nem lires é perraittido ter armas
em suas cazas.
O Vice-R^ei não vai comer a parte alguma, salvo no dia
( a Uuvei-sao do S. Paulo ao Collegio dos Jesuilas, e no
dia da Gircumcisao a caza do Bom Jesus. E ’ servido com
apparato real e m ’sua comida, e come só; apenas o 4rce-
luspo rai algumas vezes comer com elle ao palacio Nos
(lias das festas sobreditas os maiores fidalgos comem com
elle a mesa, mas não em frente delle, nem do seu prato
.\s casas pnncipaes mandam ao Vice-Rei muitos maniares
delicados e e.vcelleute.s; mas elle nunca os prova, pÒ a ,m
eme muito ser envenenado. Só se fia dos Jesuilas, e ató
- Jesuilas joticanos, que ordinariameule lhe dão os re-
mcd.os; de sorte ,,ue estes Padres estam em grande c ó . l
ceilo e Cl edito para com elle.
Ern quanto aos ordenados e propinas do Vice-Rei são
dos grandes lucros que eile
pode tirar durante os très annos do soo cargo, que nion-
am as vezes a perto de um milhão de ouro (a), O^ordcnado
ic de tnnla mil cruzados, cada um dos quacs vale dous
pardaos pouco mais ou m en os, o que iião clicraria a
■ sua susteiitaçao, se não foram os presentes, e oal>-ys pro-
leilos, que estam em pratica, e moulam a nuiiio. que
governadores, o ofíiciaes^de
™ promplamcnte visitar para obi.er delle afoum
lavo, como por c.vemplo, uma capitania do viagem, dí«-
niJadc, ou outra coiisa semeliianle; e para osso li'm ifie fo-
18
70 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
CAPITULO VI.
rw^ , .
J. endo fallado do Vice-Rei e de seu estado, não será to
ra de proposito dizer alguma cousa do Arcebispo, primei
ro Prelado das índias. Aquclle que o era quando eu esla-
7G
VlACiEM DE FRAiXCISCO PYRARD
LV- í
SEGUNDA PA RTE. 87
levantam Iodos a mão, como ([iiern a ponta para o Sacra
mento, c bradam todos cm voz aba duas ou tres vezes, Mi-
senconha, batendo nos peitos. Não usam o pão bento co
mo nós. Ouando seus escravos, de um c outro scko , vão
á missa, tevam íerros nos pés, ao menos a(|aclles de rpie
se desconfia que querem fugir.
Nü (jue loca a seus casamentos o homem nunca vè a noi
va senão quando eiia vai á igreja, mas não lhe falia. \'ai
ella mui bem enfeitada á moda de Portugal, e coDerta do
pérolas e pedras pi’eciosas: e se lhe agrada, vai o [)reíeii-
denle ao outro dia com um padre a sua casa, e a pede em
casamento; de{K)is do (}ue pode continuar a ir vèl-a, mas
nunca os deixam sós. Casam-se ordinariamente de tarde,
e vao em grande solemnidade á igi'eja. A noiva é as vezes
acompanhada de oitenta ou cem cavalleiros hem ordena
dos, poiT{iic todos os parentes e amigos de uma e outra
parte assistem ao aclo. fgualmente é acompanhada de ou
tros lautos [»alanquins, em que vão todas as parenlas e a-
inigas. E conduzida por duas das suas mais próximas pa-
rentas, e semelhantemente o noivo [)or dons dos sons até
ao interior da igreja perante o padre. Estas quatro pessoas
são chamadas Compadres e Coriiadres (a).
Terminada a cerimônia da igreja voltam para casa pela
mesma ordem ao som de muitas liombetas, cornetas, e ou
tros instrumentos, que tangem desde a igi-eja até a ca-a;
e por onde passam lhes vao lançando muitas llorcs, aguas
cheiimsas, confeitos, c doces sobre o acompanhamento, o
que apaniiam os servidores. Chegados a casa os noivos
com os homens e damas mais proximos parentes e de mais
idade entram, e os mancebos ficam na rua, onde recebem
os agradecimentos; c no entretanto se recreiam em fazer
menear, correr, e saltar seus cavados de fronte da casa, e
( a ) Â.0 leitor portngtiez é inútil advertir que estas (jiiatro pes
soas eni relvarão aos noivos sao chamadas Padrinhos e 3Iadnnha9
S cm relaçcão aos pais Uos üoíyo s é que são Compadres c Comadreú
■»V
88 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
Kl
SEGUNDA PARTE.
SEGUNDA PAUTR. 91
cado geralmenle algumas cousas, deixando por cilas a jul
gar do resto.
Em quanto ás diversas mercadorias, que aportam a Goa
de todas as parles da Índia, fallaremos em seu íogar, se
gundo as regiões donde vem.
De maneira que quem houver estado cm Goa pode as
severar ler visto as maiores singularidades da ínclia, pois
é ella a mais famosa e celebrada cidade pelo trafico de to
das as nações indianas, que lhe levam tudo quanto as suas
terras podem produzir, assim em mercadorias, como em
mantimentos, e outras commodidades, que alli ha em mui
grande ahundancia; porque aportara alli cada anuo mais
de mii navios carregados de tudo; o que torna alli os man
timentos mais baratos auc em outro algum logar do num-
do, porque o que cá custaria cincoenía soidos não vale
lá cinco. X maior parte dos viveres, fruetos, e outros re-
galüs e commodidades lhe vem do Dcalcão. O peixe de
mar é alli em tal abundancia, que ha mais do que é mis
ter, com quanto se coma alli muito mais peixe que carne,
porque é aquelle o seu quasi unico alimento, e sem em
bargo disso perde-se outro tanto como se come, poiapie
se não pode guardar por mais de vinte e (jiiatro horas,
por causa do calor do paiz, que corrotnpe logo todas as
viandas. Não se vò pelas ruas e esquinas outra cousa ma
is que homens e mulheres que frigem e assam peixe para
vender, tudo temperado com os molhos e especiarias ne
cessárias.
is annos em
Goa entre os Portuguezes, ó impossivel referir e exprimir
as affrontas, injurias, e opprobrios que padeci. E em ver
dade posso dizer sem vaidade que sc durante o tempo de
dous annos que alli mo deli ve, eu tivesse o mouor vislum-
l)iG de esperança de regressar a Fiança, teria sido mais
curioso de conhecer e ohservar as cousas hellas c curio
sas daquella terra. Mas desde o dia de nosso naufragio
í\
92 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
CAPITULO VII.
K»o» exorctcios c Jog;oN dos portagrneKes, Blcstiços» c oa-
ti'os CbrisfAôs em Coa; c <le seo s usos c m odo de
vida« e d c suas m nllterefí.
/>í<íorò
liliguas-de origem sanscrita, como. no Bengali K a l a D a t u r a , no
iiindustaiii e Guzerate D a t u r a , no Concani ( sing. ) e D a t o -
r c ( plur. ) Foi daqui que passou á lingua portiigueza, onde com-
niumente se escreve- D u t r ó , mas alguns com mais correcçao ethy-
mologica escrevem D u t o r ó . O outro nome, M o e t o l , ^ usado no sul, e o
auctor 0 achou nas ilhas de Maldiva. Deriva-se do TamuI U m a-
l a y , noTelegú U m a t í e , no Malaio I l a m i n a t u , proxmio do Malui'a Moe-
lol Da<|ui veio o Poitnguez N o z M e t e l l a , e o Erancez M e t e i , para
Mr.'llèxander Faulkner, intitulado- A D ,ç -
t i Z r Z l Commerçai Terms, Bombay, 1 8 5 B, que pnncpaliimnte
uoTsïrviode gnia na synonimia, que temos referido se le, no^ar-
ti"0 TItorn A p p l e { uomë vulgar iiiglez da Üadira ) depots da des-
crlpcào commercial da planta que=« para o l"” "iji'
« l)os,e outros.intentos criminosos, as sementes
ft queiilemeute dadas na India cm dooes, ineraniente pa t
SEGUNDA PARTE. 00
Verdade é qiie os escravos são tão maltratados de seus se
nhores, e senhoras que cruelmente os tyrannisam, que não
ha muito que estranhar se elles se arriscam a tudo para se
vingarem. Vi um dia em Goa um escravo de dezoito ou de
zanove an nos d.e idade precipitar-se n’ um poço. onde se
matou, para evitar a furia de seu senhor, que corria apoz
d ie para o castigar..
Mas ainda que em Goa as mulheres sejam muito impu
dicas, e que o clima, e os alimentos da terra o favoreçam,
todavia nem lá, nem nas outras cidades dos Portuguezes
ha alcouce publico, nem é permettido^ liavel-o, como em í-
talia, e em Hespanha; mas encobre-se alli o peceado o me
lhor que se pode; e todavia não se passam maiores priva
ções do que em outros muitos logares.
As mulheres e filhas dos Portuguezes, Mestiças, e India
nas, banham-se, e lavam todos os dias as partes vergonho
sas, como fazem as outras mulheres indias, que não são
christãs.
Uma das recreações dos Portuguezes- em Goa é junla-
rem-se ás suas portas com cinco ou seis visinhos assenta
dos á sombra em bellas cadeiras para praticarem; e estarn
« car, mas não cora/tesignio de matar; ain.da* que não ha- hi duvida
« que para este ultimo eíTeito também tem sido usadas=»
No território de Goa, e provincias adjacentes ha duas especies
de Datura ou L)utoró\ uma azul, que c rara; e outra branca, que
é abundante,, e brota espontaneamente nos paímares, e em terrenos
incultos.
Os medicos inglezes, que praticara: a clinica na índia,, recommen-
dam a raiz, folhas seceas, capsulas, e sementes da Daturw i ara se
fumareni nos casos de asthma espasmódica. O povo usa das folhas
recentes pisadas com sal para applicar externamente sobre qiiahiuer
parte dolorosa; e nas dores de-garganta usa da capsula pendurada
ao pescoço. Não nos consta de exemplo algum moderno de- se fazer
em Goa uso-desta planta para os ílns criminosos a que alludem Py-
rard e Faulkner.
Não se deve confundir a Datura on Modal com: o M'ai fol, que
assira se cliama na India a Noz de Galha, derivando" do sanscrite
Mavufhul, do Guzerate e Hindustani Majowphal. ( Faulkner, arti
go )
100 TIAGEM de FRANCISCO PYRARD
' C APITU LO v m .
'W - • • S-
SEGUNDA PA RTE. Í0 7
dam-nos a Ceilão, Moçambique, Malaca, e outras fortale
zas para defensão delias, e tem somente os seus soldos,
sem esperarem mais recompensa; e a maior parte destes
casam-se alli, e la ficam toda a vida.
Quanto aos moços que são embarcados e pagos por sol
dados em Lisboa, quando chegam á índia, não são rece
bidos por taes, se não tem força sufficiente para menear
toda a sorte de armas; mas nem por isso lhes falta \ocro ar
rumo; porque todos os senhores, capitaes, e fidalo^s os
tomam por pagens, ainda que sejam de baixa condfção; e
não tazem a seu amo ou ama algum serviço vil, mas só
os acompanham quando sáem fora, e andam mui galhar
damente vestidos da libre de seu amo. E ha fidalgo que
chega a 1er doze ou quinze destes pagens, os quaes não
communicam, nem tratam com os escravos (a). Quando
sao grandes e fortes para pegar em armas, seu amo lhes
da ^algum dinheiro para as comprarem e se vestirem, e
cntao se embarcam como os outros, e os sete annos’ de
serviço se lhes começam a contar desde que sáem de pa
gens, e seguem a rida soldadesca.
Estes soldados são todos isentos, e ninguém tem sobre
elles mando senão o Vice-Rei, salvo quando estam alista
dos, embarcados, e tem recebido sua paga para irem á
guerra; porque então os capiíaes e capitaes-móres das ar
madas os governam durante aquella viagem somente. De
sorte que todos os homens, que não são cazados, e que
liazem espada por profissão, se podem dizer soldados, por
que so os homens addictos á igreja não usam espada. Es
ta palavra soldado significa pois um homem que não é ca-
zado; e lhes é defeso trazer capa, para se distinguirem dos
cazados, que as trazem. Estes cazados não podem ser cons-
trangidos a ir á guerra, e quando querem ir a ella, é para
n o lfn l e pragmaticas foi limitado o numero dos
pa^ens que devia ter cada capitão e fidalgo ; mas pelo testemunho
do auctor se ve que essas pragmaticas ficaram sem eíleito.
Î08 VIAGEM DE FRANCISCO PÏRARD
li,.
SEGUNDA PA RTE. iOO
CAPITU LO IX.
não era ainda cbristaõ, e todavia era vindo alli com len-
ção de se baptisar. Era doutrinado todos os dias, e assim
esteve entre os Porluguezes dous ou Ires annos naquella
esperança, e desejava mui efíicazmenlc baplizar-se; porque
lá não obrigam ninguém a isso. Neste comemos vieram
a elle alguns embaixadores do Dealcão, que lhe melteram
em cabeça que o rei era morto, e que a coroa lhe perten
cia, como mais proximo parente, dizendo que tinham até
promessa dos principaes para isso, se elle quizesse sa
ir donde estava; o que elle facilmente acreditou; e ajustou
com elles de sair secretamente, por não ser descoberto
dos Portuguezes, que o teriam despersuadido desse inten
to, e aos quaes elle havia dado palavra, e delles havia re
cebido mui bom gasalhado. De sorte que tanto fizeram,
que saio de Goa em companhia dos taes mensageiros, e
passaram ás terras do Ballagate, onde estava o rei. Sendo
alli chegado o pobre princepe, foi mui bem recebido ao
principio, mas guardado cora muita vigia; e lendo o rei
posto este negocio em conselho, foi resoluto que lhe tiras
sem os olhos, que é o supplicio de todos os que aspiram
á coroa, excepto o filho primogênito do rei; e assim 0 u-
sam todos os reis índios e Mahometanos á imitação do
lu r c o e do Persa. E isto foi feito por temor que o rei
linha de que este princepe no decurso do tempo não abal-
lasse os Portuguezes contra eiic, como havia feito o outro
de que acima fallei (a).
No proprio tempo em que eu parti de Goa, havia alli
de morada um princepe do Dealcão, parente do rei, e se
havia feito cbristaõ, e atò cazado; icrn pensão d’ El-Rei,
como todos os reis, princepes, e grandes senhores indianos,
que se fazem chrislaõs e se acolhem entre os Porlugue-
( a ) E a historia pouco correcta (ie Cufo-kan, filho de MeaU-
Aon, que se pode ver em Diogo do Coulo, üec. X . L iv . ÍV . Cap.
V ii, X , e X I. E veja-se lambenj o Archivo Portuguez-Onental, Fas
cículo ‘d.® Documento 23—X IY . Isto ioi no anuo de 1584.
m
Dom .)oào de Ment'zes Xà que a scmi avo Miallc Xá. iegiümo î\ci
das terras firmes do Î5alagat(‘, foi dado para nom comedia as terra.'^
de Salceîe e Bardez, por falecimento do quai Sna ^îaeestade <' os
Viso-Ilei' e Governadort's de^te Estado fizeraiu tnnitas Itonra.s c
Biercès ao pai d(dle sn[t[dicaDtc. c ago'.i a elle o dUo Senoor <icu
mil pardcàos de lença para sua sustentação e <1e sua Lnuilia, dos una-
es se t!ie nâo pagam mais que ametadc. que estão uuelirados juara
as rendas Heaes, sendo-lbe a '-iia fazenda devedora de outra nie.la-
de, e or« lem por noticia que V. S.® tem passado unni provis.io
para se nâo [»aear nenhiins ordfMiados. salvo aos capitaes dos pas
sos desta cidade: pede a V. S.* avcndo ic.-peilo a mj;\ caüdade, c
grande lamilia que tcm. e a sua nniila pobreza, e a tiào ter outifi
reniedio para a sua soslentacâo mais que a dila tciu a, Ibe Lu'a mei-
Cè mandar ao Thesourciro (lo Eslado que faca pagamciilo a elle sit-
15^2 VIA SEM DE FRANCISCO PYRARB
CAPITULO X.
YTAGF.M » F FHXNí^ISr.O F Y FA R D
m
em quanto alli medetivc, diügidas alem da costa, em quA
eslá si 1liada Goa. á ilha de Gieilão, a Malnca. Siirnatiay Ja-
Ya. c a outras ilhas da Soiuia, c as dc Maluco.
Pois tem elles por cosliime armar muilos navios e ga-
leolas. que enviam a Malaca, e ale as ilhas de Maluco, pa
ra dar guarda aos navios mercantes; e igualmente acom
panhar (>s (]ue vão mercadejar á China e ao Japão. Poi is
so descreverei a(|ui o que observei por todas essas parles,
nas qnaos me dilatei, c (iz a guerra.
Ceilão ó uma ilha muito grande junto da ponta do ca
bo Comorim; oslende-se do meio-dia ao septemlnão, e a
ponta anstral hea íronleira ao cabo Comorim, enlre o qual e
a ilha não podem passar navios, porque o mar alh e bai
xo. Avalia-se o sen circuito em trezenlas a quatrocentas
leiloas. E ’ a mais rica ilha que até ora se clescobrio, e e
^
clieia de multas cidades. Alguns índios lhe dao o nome de
'■
CAPITU LO XL.
CAPÍTULO XII.
35
.auetores amigos.
VlA G Eir CE FRANtJSCO PYRAîtD
38
■f
, •r
CAPÍTULO X ÍY ,
P,
L rimeiraniente quanto a'os navios de Portugal, petaem
todos os annos ires ou (juairo, ao mais-, dos a. que (-ha-
mam. Nam de viagem, e vão para voltar, se é possi-veb
eii case- extraordinário, quando EUR'oi. ifoer enviar alii al
guma armada,, ou al-gum Vice-Rei mais hem acompa^nhado,.
ou ainda algum aviso paiVieiilar, envia outrorr navios me-
aõs,. como gaíeo'*s-de Biscaia, navios francezes, ilanKMvgo,-.
inglezes, e caravedas: e desles nenhum volta a Portugal
salvo havendo necessidade de dar algum avis-o ex|M’<V'=sa-
inenlG, e fóra das nionções (irdiriarias. pvuque cnião da-í-
pedem uma caraveila, ou outro navio meão. E. se pela ven
tura as náos que partem de ÍAirlngal para Coa não pode
rem chegar iá a salvamenLo , ou a outro porto da.
nem por isso deixa>ria-m de enviar dxi lindia aignns galen-'es
de Biscaia carregados d e jdmenta*, e oiiiras (mM-cadoria r;.
porque estes galeões são pí>ueo mais oii! menos- do [e,: ie
íie setccentas a oitocentos toneliatlas. c são tnni proprios*
para guerra-, bons de vela. e-meibores'que as náoS'.
No que toca a- estas náos. são todas fabricadas em Lis
boa, e não em outra parte, por razão do porto que é-muM
40^
ir )8 VÎAGKM DE FRANCISCO PYRARD
tros tão enormes, qiie não ha arvore tão grande e tão gros
sa que abaste, não só para o grande, mas nem ainda para
0 de mezena. Poi isso ordinariamente todos os seus mas*
tros são enxerla(Í03 e accrescenlados, c cobertos ao redor
de clmmeas, que são grossos pedaços de páo embutidos
mui exactatiyenlo, e da espessura que se quer. E estes pe
daços, depois de mui bem ajustados, são eslreitameníe b ra
dos com coidoallia, e cintas de ferro mui apertadas, para
que não sejam impedimento a subir e descer a ver®'a, que
é de giossura proporcional ao mastro, e tem vinte e qua
tro braças de comprimento. São mister mais de duzentas
pessoas para levar acima uma destas vergas, e sempre com
■-N dous cabrestantes mui grossos ( a ).
Não forram as embarcações de chumbo como nós faze
mos as no^as; e sd o poem nas juntas para segurar a es-
topa, depois cobrem o navio de outra íiada de taboas de
pinho, e outra vez o calafetam, e untam de pez, e por ci
ma de tudo 0 cobrem de enxofre e sebo. De sorte que são
os mais tortes e espessos navios que ver-se pode, e causa
espanto ver tantas peças grossas de páo aju stad as, c tão
giande quantidade de ferro liado com ellas. E com tudo
iSbO 0 mar os quebra e rompe ás vezes mais depressa que
a ou ras embai caçoes menores , como na verdade conhecí
por expcrtencia que quanto maior e mais pesado hc um
navio, mais se alquebra; ao mesmo tempo que um navio
4i
i0 2 VIAGEM DE FR A SCISCO P T R A R D
I
fogo a dos outros; e por isso quando alguns eslam doen
les, e iião podcni dar ordem a sua cosinha, são mui inat
Iralados e alimentados, donde vem morrerem por esse res
peito muitos. Os Francezcs e íjollandezes não tem esta
usança, por que lem iirn cozinheiro pai‘a todos, e comem
a seis e seis em um prato. xMas entre os Portuguczes o
comer e beber é igual para lodo? geral. 0 sob(‘jo do
Iodos estes viveres e utensilios do navio heam em provei
to dos intendentes dos navios íjue residem ein G o a ; e
quando os navios se ajipareliiaío para a tonia-viagem, bas-
tecem-nos de novo á custa d’ KMlei. Os utensilios de to
do 0 navio são carregados ao mestre; e os mantimentos
e mercadorias ao escrivão. Os soldados que estarn a bor
do íazem guarda todas as noules, mas não eslam sugeitos
a outro algum trabalho. Quem tem refrescos no navio ven
de-os pelo preço que quer, e chegou a vender-sc uma ga
linha por vinte reaíes de quarenta soidos cada um, que fa
zem quarenta libras ( a ).
No que pertence ao salario dos oíTiciaes do navio, cum
pre notar que ao capitão, piloto, mestre, e outras pessoas
do governo dá Ei-Uei cerío espaço do navio a cada nm. c
da mesma maneira aos mariníieii'os. Os soldados, grume-
tes, maiinheiros, artífices, e ouiros oíiiciaos do navio são
pagos por igual, a saber, pela viagem (ie ihutngal a Goa
cincoeiita ciuzados cada um. O cviizodo vale cnicoonía
soidos. Sc as pessoas do governo, c os marinheiros tmii
meios dc comprar mercadonas, nãu pagam direitos do
certa quantidade dellas, cada um segumJo a sua qualidade
e^gráo. E por isso os que não tem meios do as coniprarem,
nao tiiam grande proveito desta liberiiade; em tíuanío oa
outiüs podem ganhar cinco por nm. Os (jue não lem di-
niiciio, nao deixam todavia de ascompiar, porque viniilcm
os seus gazaÜiados aos passageiros, assim íidalgos, como
( a ) Moetia franceza.
VIAGEM DE FRA.NCISCO PYRARD
CAPITULO X V .
rv
SEGUNDA PARTE.
183
s t! !* V t'V 7 -
IRMO. Mas dostas IlinilauÕPS *^10 Í-"““A>
^ ® s £ ^ :K e ^ n = q r n ^ t í::r ;r :i::;:
les, porque ainda quando fossem dous ou ires navios
TIAGEM DE FRANCISCO PY'RARD
CAPITULO XVI.
0 que lião mislcr, nãolev;im oiilra moeda. Corn esle paiz não
; despende natia o rei de ílespaniia, e tira dcllo andes
proveitos. Ha alli ii na ^mina de praia, o mesmo os natu-
raes trazem ás vezes este nvMal; de sorte qae os Porln-
giiczes, assim os daíjuella banda, como os de Moçambi
que e de Sofala, querem concerlai'-se para conquistarem
; a terra cada um da sua parle, e assim chegarem ao sitio
I daquclla mina, e ganhal-a. Por vinte e cinco soidos de
custo tirarão delia quarenta, c a prata é mui boa e pii-
( ra. A causa porijuc não vai maior numero de navios a
Angola, é por ser alli o ar intemperado o maisadio; c a-
! lem disso temerem-se da costa de Guiné, (|ue lambem é
mui inlemperada, e cheia de calmas; o (pie íaz ser alli
lão grande a carestiado sustento da vida, e os escravos tão
liaratos; mas quando estes chegam a outras terras são
mui caros por respeito do lisco (jue nisso se corro.
Os que querem voltar dalli direitamente a Portugal,
saern com carregamento de escravos; mas os que (jiierem
! fazer mais longa viagem, vão-nos vender ao Rio da Prata,
' donde tiram muito dinheiro, e dalli voltam ainda ao Bra
zil a tornar nova carga de assucares e doces, e do Bra
zil a Portugal. Outros vão direilamente de Angola ao Bra
zil para vender os seus escravos, porcjue alli hão mister
grande numero delles para servir em seus engenhos dc
, as.-mcar; ponjue os da America não são de tão l»oin Ira-
i balho, e não obedecem de lão boa mente como os de
Angola, e de Cabo Verde. Mas pela maior parle das ve
zes vão ás índias occidentacs, onde os vendem por alto
preço.
Ò Rio da Prata jaz a trinta e cinco gráos da banda
do sul na America, que é a mesma altura pouco mais ou
menos do Cabo da Boa Esperança; mas os qne abi vao,
fazem-no secrelamenle e com temor, por quanto o rei dc
Hespanha lem defendido o trato para estas partes, p aia
não ser defraudado nos seus direitos; e lodo o dinheiro
41) '
'y"' y
'4
CAPITULO XVII.
1ÏO trinfico c m ISoçamBíiqcae « Sofiilu» C n a m a * llellnclc^ r
ü o m b a r»a . Socíílorá.. e onlro»* logare». Wo c e rc o
do M o ç a m b iq u e , e o q u e tJell« r e s u l t o u .
Lv
SEGUNDA PARTK. 205
to pôde salvar-se. O Vice-Rei com a nova deste desastre
íicou mui penallsado, e resolveo vingar-se, Para isso ser-
vio-se do capitão e governador de Moçambique , aqnelle
mesmo que alli havia governado durante os dons cercos,
c que era um dos mais bravos e denodados fidalgos, do
que havia memória entre os Porluguezcs, amigo de Deos
e dos homens, mormente dos estrangeiros. Chamava-se D.
Estevão de Athaide. Tinha ganhado maravilhosa repu
tação entre os sens naturaes,e entre os proprios índios,
por haver defendido os dous cercos com tão pouca gen
te como elle linha, sem embargo de haver sido tomado de
súbito. E por isso esperava elle uma extraordinária re
compensa del-Rei, tanto mais que os Gapitaès de Moçam
bique que alli estarn tres annos. segundo o costume, re
colhem ordinariamente com o cabedal de cem mil cru
zados, pouco mais ou menos», assim das suas ordinárias
e trafico, como de seus lalrocinios e outras traças; mas
elle por razão daquelles dous cercos, em vez de tirar pro
veito, havia despeso todo o seu proprio cabedal, e á con
ta disso fora continuado mais um anuo no governo alera
dos tres annos ordinários,
O V ice-Rei resolveo em conselho que era mister cas
tigar aquelles Cafres, e enviar a esse fim uma armada ,
de que deu a capilania mór a D. Estevão , como quem
era experimentado naquellas regiões, peda longa residên
cia de quatro annos que alli fizera. O intento desta ex
pedição era dc ir mui avante pelo Rio de Guama, depois
sair em terra, e ir conquistar as minas de ouro e prata,
que eslam entre Angola e Sofala; c os Portuguezes de
Angola tinham aviso para virem a encontrar-se com elles
por terra n’ um certo logar indicado, e dalli irem todos
juntos áquella conquista. Para este eíTeito iançou-se ban
do em Goa a som de tambor para todos os que quizes-
sem ir á empreza, a quem se adiantou um anuo de su
as ordiuarias, que são setenta e dous pardáos ( cada um
52
Pt
CAPITULO XVIII.
s>o rcÊESd d c OrzsBs:»'.. nu^ cfiejt«crípçã.o. e do caotigo de
Ulna K*rfli£eÂ|i)c <Ee O r m u z em (mOA*
m
SEGUNDA PARTE 21 1
tão (}ue cIIg ePíT hoiTiom para á sua ciisla aperceber urna
armada, e capilaneal-a em pessoa por serviço d’ El-Rei ,■
e não para dar o seu dinheiro a outrem. Esta foi a causa',
poirpie recolhendo-se ambos a Portugal, não se embarcarani
no mesmo navio; e o Governador André Furtado parlio pri
meiro com tenção de chegar a Portugal antes do outro, pa I
►
ra 0 malsinar, e prevenir-lhe ináo recebimento. Quaiido
estes Governadores e capitals se recolhem para o reino, não
levam muitas mercadorias grossas, mas somente pérolas, pe
dras preciosas, ambar-gris, almiscar, ouro, prata, e outras
cousas raras e preciosas. Quando eu parti de Goa o filho
do Vice-Rei Ruy Lourenço de Tavora, que não tinha de
idade mais de doze a treze annos, era já provido na capi
tania de Orinuz, e ia entrar nella.
Esta ilha quanto ao mais é mui fértil, mas não tem a-
gua, e é em tudo semelhante á ilha de Mayo na costa de
Gabo Verde, porque toda é de rochedos de sal, e pedra sal
gada, que serve de sal. Ha também alli salitro. Os reis de
Ormnz pagam tributo ao rei da Persia, c estam em paz e
amizade com os Portuguezes. São mahometanos como os
Persas, e mandam furar os olhos a seus succcssores, como
fazem os do Dealcão. O povo de Ormuz é quasi tão liCgro
como os mouros de Ethiopia, e não se assemelham em na
da aos Persas, que são mais brancos. Quando algum ho
mem principal morre cm Ormuz, suas mulheres são""obriga
das a carpil-o uma vez por dia durante algumas semanas
continuas,’ e ha alli mulheres a quem se paga para carpir
os mortos.
Os habitantes^usam camisas compridas, cingindo-se com
um largo cinto de tafetá como muitos outros índios, e to
dos os Arábios. Na cabeça trazem turbantes brancos ma-
tisados de muitas cores. Muitos d’ entre elles trazem arme
is no nariz. Faliam a lingua da Persia; e são mui dados a
deshonestidades, e sobre tudo a peceados de ruim qualidade.
Amam a musica, e os instrumentos de musica. Suas armas
CM) Xi Qw VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
CAPITU LO X IX .
I
^ ^^ VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
CAPITU LO X X .
'HT
X endo voltado a Goa de minha viagem a Malaca e á Son
da, alli me detive por espaço d seis mezes a passar o in
verno. Mas antes de referir o mea embarque para Porlu-
58
230 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
niorar e viver sem jlies ser fcilo nojo algum. Depois es
tes Inglezes embarcaram para recolher á Europa n’ uma
das náos da nossa viagem. E quando eslavamos prestes
a partir chegou um dos outros Inglezes, que haviam toma
do 0 caminho por terra, e nos disse que por todas as ter
ras do Grão Mogor, que se extendiam muito ao longe, não
lhes foi feito mal algum por virtude do passaporte que
delle levavam, e que tomavam lingua cada dia mediante
hom pagamcnlo; mas que quando foram entrados mui a-
vante na grande Tartaria, lhes foi impossivel proseguir seu
caminho, poripie foram assaltados e desbaratados, de sor
to (}ue não ficou a terça parte delles, que se vio obrigada
a retroceder para o mesmo logar donde íiaviam partido ;
e não se sabe o que depois foi feito delles. Estes Ingle
zes, que estavam em Goa embarcaram-se depois todos corn-
nosco. ( a ).
CAPITULO X X L
do amictor c m B«oa. ^ stiu io das* iH ília s wa-
«íBieíIe tom iso. r»râ<9*ão do ancíos*, e sew Hva*a-
mcaiEo CJhic^ada d e <i«iatro náof«* e o u tr a »
coiswas* a in íc n ío .
CAPITU LO XXII.
CAPITU LO X X ÍÍL
C A PÍT U LO X X IV .
am iiido, (le sortc quo lioje s 6 por acaso se aclia alii al
gum friiclo, c a maior parle das arvores cslam quebradas
(HI corladas; c os iiavios ao passar levam os fruclos, ain
da que cslejam cm Jlor, e dizem que antes querem apanlial-
os assim, que deixal-os aos liollandezes c Inglezcs, c es
tes aos Porlugiiczcs.
Assim csla terra está inteiramente miidada desde que al
ii vão ouli íis gentes aiem dos Porliiguezes. Era cousa Lei
la e admiravel quando al)i chegámos no anno do IGOi cm
com})aração do quo achei á torna-viagem no anno de IGIO,
]H)r causa da ruina, assim da capella c da cruz, como das
arvores e cazinhas, de sortc que agora não se pode con
tar com os fruclos da terra. Tinha eu visto que havia li
ma quantidade prodigiosa do mostarda; agora quasi nenhu
ma.
Os Portuguezes tom costumado deixar alii os sens doen
tes; e agora os liollamlezcs fazem o rnesmo. Deixam-se pro-
vimentos aos doentes, como biscouto, e outras commodida-
des do navio; e cm quanto á carne e peixe, não lhes faltam
alli. Os animaes estam tão aífeitos a isto que quando vêm
chegar os navios, fogem todos para as moiitanlias, e quan
do sentem que são partidos, voltam para os valles, e entre
outros ])ara o da cajicjla, que é o mais bcllo e vasto; e por
que se líie semea sempre alguma coiisa, vem alli comer. Os
homens quo ficam na ilha apanham a caça com esta inven
ção, que como Iia alli liorlas cercadas de muros, deixam a
porta aberta, c depois de os animaes estarem dentro, uma,
pessoa escondida puxa de longe uma corda presa na por
ta, -e a feciia, c assim apanham quanta caça querem, e sol
tam 0 resto. Os doentes ficam alli até virem outros navios
que os recebam; e infallivclmente recobram a saude, tão
])ons são os ares; -c nenhum morre, segundo as informa
ções í{uo coilú. Mas não ousarão deixar alli mais gente a-
lem dos doentes, pelo Rei de ílespanha o ter defendido ex
pressamente, com temor de que se não fzessem senhores
i. i'
... .W..V jrui iaz,ui ci” uauci em. oama. noieiiOj loi-o-
liiamos^dci.vado em Goa; mas o costume' é metlol-o no fan -
CIO cm Santa Helena, on rompel-o, porquanto- ás vezes o ba
lei 0 causa, da perda do navio,, e dá aso aos capilfics e prin-
cipaos dos iiavíos ac serem^ pollroès, blades' na csperaiiray
cp.io tem. do se salvar nolle, quando virem o navio em no*
ngo.
CAPITULO X X V ..
ít'© ««ciíleiite «lacceílido ©o n a
vio,; mcB-g;iíi23iaííoa* fi^ssnceas t clic^ada ao BraziJ;
S^ertia cio u a v io ..
sfin nos darmos fc, até que estando jà mui proximo della,
0 cajolão reparou nisso, mandou coitar o cal)0 a toda a
pressa. largar a anciiora por Trião, e pôr prompíamciite á
vela, 0 que foi feito sern detença em quanto ás velas de
inezena e gurupez; mas não pudemos fazer isto tão prestes
que no meio tempo o vento, ^que vinha *da 1)anda dc ter-
ra, não virasse para o mar. e nos impeliisse para a terra,
de sorte que o navio ficou sobro o costado cm pouca agua
e fundo por espaço de cinco horas; ô que nos espantou
muito; e crescia a nossa admãração por vermos sair tabo-
as do fundo do nosso navio da pa/ie de fora, o que nos fa
zia crer que estavamos perdidos. Com tudo o navio foi al-
liviadü das aguas doces, que tinhamos tomado na ilha, e
»■ :■ de outras consas de menor valor; 'fizemos lançar anchora.»
111 ui longe ao mar, para espiar o navio á força de homens,
( dépens do termos feito muitas orações a Deos, e píidc-
cido grandes trabailios; em fim por graça do mesmo Senhor
o navio corneçon a hoiar, foi puxado ao mar.
11 aviam trazido para o pé do mastro grande a imagem
de Nossa .Senhora de Jesus, cujo nome o navio tiivíia, é
toda a gente a invocava, e llio rezava. E os frades Frau-
riscanos. que hiam a bordo, trouxeram tarribcm a imagem
<le S. Francisco o o seu cordão; de sorte que depois de
havermos trabalhado imriío, e alliviado o navio, começámo.s
a recobrar esjH'rança. E houve muitos que disseram Itr vis
to um jicixG, (|iie não havia deexado o leme, e quo quan-
fjo furam liuscar a imagem e o cordão do S. Francisco,
higo aqiielio peixe se salára, de socte que muitos acredita
vam que isto fòra milagre de S. Francisco, outros diziam
(|ue 0 fora de Nossa Senhora de Jesus; mas nesta disputa
í',u creio íiue isto veio só da mão do Todo Poderoso, que
nos tmiia sob smi guarda.
O que não obstante o uavio fazia muita mais agua do
que era costume, u que dava oceasião a duvidar-se sc nós
jdc.viaiiios iiccir nesta ilha, ou não; e lambem porque não
SEGUNDA PARTE.
iinha agua doco, nom toneis para tomar outra. Com tudo
tendo-iios dilalaílo alli por cs()aço de dez dias depois daquei-
le desastre, foi resoluto que nos aveníiirasseinos em ir á
Bahia de Todos os Santos, cidade capital do Brazil, onde
Icm seu assento o Vice-Rei Portnguez, da qual estávamos
afastados quinhentas e cincoenta legoas.
Logo que assim foi resoluto, lembrou cpie não era bom
deixar alii uma pequena imagem em vulto do Menino Je
sus, que mm fidalgo Porluguez tinha deixado e doado á ca-
polla da iiha; de sorte que todos diziam que a causa do
accidente (|ue nos era acontecido, era que a imagem de
Nossa Senhora, que nós levavamos, não queria deixar seu
filho apoz si. Tendo pois deliberado ir bnscaba, foram com
a cruz e bandeira, cantando hymnos e ladainhas, e fize
ram uma procissão ao redor dacapella; e depois desta antes dc
entrar no navio fizeram outra procissão em volla delie no
batei; e deixai aro somente na dita capella os painéis do
Nossa ‘Senhora, e dc Santa Helena, com um altar, e portas
novas, que nos lhe fizemos.
Mas tornando ao nosso inconveniente, direi ainda, que
nos deu assaz dc trabalho, c foi mister achar um homem
que soubesse mergulhar bem; de sorte que o capitão bra
dou que se ahi houvesse algum que o soubesse c quizesse
fazer, lhe daria cera cruzados, e uma certidão para haver
alguma recompensa'd’ El-Rei. Mas não se achava quem tal
soubesse, por mais esforço que alguns fizessem pelo con
seguir, porque era mister ddalar-se muito debaixo d’ agua,
e atravessar por debaixo do navio, a sete ou oito braeas de
fundo ou mais, e fazia muito frio, pvorque então o sol es
tava no Iropioo de cancer, que é o inverno dnlli. Mas hou
ve um carpinteiro do nosso navio o Corvo, de Saint Ma
io, que tinha corrido a mesma fortuna que eu, o qual se
arriscou a experimentar, com quanto não julgasse poder le
var a cousa ávante. O capiluo e os priiicipaes do navio lhe
fa&iam mui grandes'promessas, e sobre isso vendo ellc íam-
264 VIAGEM DE FRANCISCO PYUARD
CAPITU LO X X V I.
L
SEGUNDA PA RTE, 279
esle sem as lavar, e poem-se assim a seccar ao sol; e de
pois de bem seccas podem conservar-se largo tempo sem se
damnificarem, com tanto que sejam guardadas cm secco ;
porque se as deixam molhar, sem as pôr logo e logo a sec
car ao sol, corrompem-se, e enchem-se de bichos.
Quando estava nesta bahia encontrei ainda um Francez,
natural de Provença perto de Marselha, que era servidor »
ik
de um dos maiores senhores daquella terra, a que chama
vam Mangue la bote, nome que os negros de Angola lhe
haviam dado, e quer dizer o valeroso e grande capilão, por
que havia sido alli Vice-Rei. Este senhor tinha feito tuo va-
lerosamente a guerra contra os N eg ro s, que era delles
mui temido ( a ) . Passava por ter de seu cabedal mais de
trezentos mil escudos, e tirava grandes rendimentos de mui
tos engenhos de assucar que possuia. Este Francez, que es
tava cm sua caza, era musico, e tangedor de instrumentos;
e servia-lhe para ensinar musica a vinte ou trinta escravos,
que todos juntos formavam uma consonância de vozes c ins
trumentos, que tangiam sem cessar. Este senhor me rogou e
solicitou muito para fiear^com elle, e me promeltia cem es
cudos de salario, e boa comida, somente para governar cer
to numero de escravos no trabalho. Dizia-me também que
dentro de um anno, ao mais tardar, se iria para Portugal,
e de feito estava fabricando um mui bom e grande navio do
porte de quinhentas tonelíadas para esse fim; e andava bus
cando e recolhendo todas as raridades, assim de animaes,
como de outras cousas, que podia achar, para fazer delías
presente a El-Rei de Hespanha. Entre outros tinha dous a-
nimaes dos a que chamam .febras, de que faço menção no
( a ) Governador devia se r, e não Vice-Rei. Percorrendo nós po
rem 0 catalogo dos Govérnadores de Angola daquelies tempos, a nenhum i ■
acliamos applicavet o soÍ)renonie de lUangue la bole, senão a ioão
turtado de Mendonça, governou Angola desde IdOi a KiO^. I).
írancisco de Almeida, que governou pouco tempo era 1592, fugio
sim para o Brazil; mas não parece que lhe possa caber o titulo (lue
Pyrard mdica. ^
280 m CEM DE nUNCISCO PTRARO
CAPITU LO XXVÍÍ.
PeJa passagem.
á Eochella, onde, grácaf a’ Deis® r í ' n
de Feveremo; e è n líL L ^ S :^ ; £ fT ic tr '^ “ ^
terra de França one en tant vez a »
do barco em qVe p a « d c p L ’"^'’’'* ^^«'6 mestre
da ilha de Oleron^ l f n ,; , e era
ver Ilevado á patria e ®®“ *“ *^“ eD<o de me ha-
R ochella, não querendo n u n c a ^ ^ í^ °^ f“ “ ' íau<amenle na
outro aposento senão a sua cazl e m uL*^ “ f »ornasse
5 entou aos princinaes da rírlíirín " ^ ufano me apre-
admiração. v ^ ^consideravam com
n t e P í cam U o d f l e r r a ' r
cidade de lavai na Bretanhíi^^^V ? que é a
vereiro de 1 6 1 1 ; do que seja D m fo m fo !' '
73
ADDENDUM.
0 loo'ar proprio desta iVoia s e H a e m a lg u n i dos C a p U u l o s X X Í oü
X X I I 'd e s te livro, nos q u a es o a u c t o r trata da. a r m a d a , q u e v e i o d e
P o r tu g a l á I n d ia no a n n o d e 1 6 0 9 , e d a q u e v o lt o u d a , I n d ia á
P o r t u g a l n a i m m e d i a t a rhonção, C o m o p o r e m g u a n d o se i m p r i m i
am a q u e lle s d o u s C a p i t u lo s , a i n d a n ã o t i n h a m o s v is to o cUrioSo
Livro da Fazenda e Ileal Patrimonio dos Reinos de Poriugal, q u e
d e u logar as reflexões, q u e aqiii p o m o s , p or isso só a g o r a p o d e
m os a p r e s e n ta l-a s . ' « . ■ , « . ?
O Livro da Fazenda e Real Pâtrimoúio dos Retnos de Portugal
foi escripto por L uis de F i g u e i r e d o F a l c ã o e a t r e os a n n o s d e 1 6 0 7
e 1 6 1 4 , e im p resso u l i i m a m e n l e e m L i s b o a , n a i m p r e n s a n a c i o n a l ,
e m 1 8 o 9 . Uraã das m a is curiosas p artes d este L i v r o he a rela ção
das arm ad as, q u e v i e r a m d e P o r t u g a l á In d ia j c o m a n o t i c i a das
e m b a r c a ç õ e s q u e v o lta ra m a s a l v a m e n t o e das q u e se p e r d e r a m .
C o n f r o n t a n d o o L iv r o d e L u i s d e F i g u e i r e d o c o m a q a r r a t i y a d e
P y r a r d no p a h i c u l a r , q u e le m o s dito, da a r m a d a d e 1 6 0 9 n a v i n d a
’ e " t o r n a d a , a c h a m o s q u e sim e o n c o r d a m era parte, mas ém o u i r á
p arte ha en tre elles no.lavel v a r ie d a d e .
* E prirneiram énte c o n c o r d a m era que^ p artiram dfeiLishoa no a n
n o de 1 6 0 9 c in c o nãofe , e c h e g a r a m a I n d i a sò qiiatrp. Q u a n d o
P y r a r d saio de G o à ainda se h ã o sdb'ià áqiii o qiiè é ra feito da naò
q u e faltava; m as L u is de f i g u e i r e d o nos d e c la r à q u e essa náO d-
ra a Guadalupe, cap itão M a n o e l B a rr e to B o l i m , a q u a l a r r ib o u a
A n g o l a n a v i n d a , e dahi foi a L is b o a .
 s q u e c h e g a r a m á í n d i a eram Nossa Senhora da Piedade, em
(jue v i n h a por capitão m ó r D . M a n o e l d e M e n e z e s ; i V o w a Senhora
de Jesus, C a p itã o A n t o n i o B a rr o zo , q u e n a torna v i a g e m se perd eo
no B ra z il, e era a em q u e hia e m b a r c a d o P y r a r d ; Nossa Senhora
da Penha de França , capi ão A m b r o z i o d e P i n a ; e São Boaven-
tura, cap itão Liiis d e B a r d i .
N a t o r n a v i a g e m sairam d e G o a q u a tr o náos, a sab er; (res das
q u e tinh am v i n d o n a q u e l l e a n u o , e u m a q u e íicára do a n n o p a s
sado ; íicando s e m e l h a n t e m e n l e na í n d i a o u tr a d e s te a n n o ,
q u e era a náo São Boaventura. N isto c o n c o r d a m , ou nã o se c o n
tradizem os d o u s a u c lo r c s . M as em outras c i r c u n s t a n c ia s va r ia m e n
tre si. Pyrard n o m e ia as náos da t o r n a v i a g e m a s s i m : Nossa Se
nhora da Penha de França, Nossa Senhora da Piedade, e Nossa Se
nhora de Jesus-, todas da a rm a d a deste a n n o . N o m e i a m a is Nossa
Senhora do Carmo, q u e d e v e ser a q u e íicára do a n u o p assado.
M as e m L u i s de F i g u e i r e d o a c h a m o s a do a n n o a n t e c e d e n t e d e
n o m in a d a Nossa Senhora de Monserrate. P a r e c e - n o s q n e nesta p a r
te a e q u i v o c a ç ã o é de P y r a r d , (jue o u v i n d o d iz e r Nossa Senhora
de Monserrate se p ersu a d iría q u e diziam Nossa Senhora do Monte
do Carmo-, e q u i v o c a ç ã o facil e d e s c u l p á v e l n ’ u m e s tr a n g e ir o .
S e fosse p o r é m só nisto a d i v e r g ê n c i a dos d o n s a u c t o r e s , n ã o
teriam O^vinsistido n e st e ponto; m a s ha outras d ifléren ças q u e i m
porta m mais á historia. ^
291
P o r ura lado diz L u i s d e F i g u e i r e d o q u e a n á o Nossa Senhora
de Monserrate, d a a r m a d a d e 1 6 0 8 , era q u e v e i o por cap itão M a
n o e l d e Frias, recolliera a L is b o a no a n n o d e 1 6 1 0 indo n elia por
capitão G a s p a r F e r r e i r a , piloto q u e t r o u x e r a n o dito a n n o de
1 6 0 8 á í n d i a ao V i c e - R e y K u y L o u r e n c o d e T a v o r a ; e q u e a náo
S. Boaoentura, da a r m a d a d e Í 6 0 9 , c a p i tã o L u is d e B a r d i , c h e
g a r á a L is b o a a 7 d e J u l h o d e 1 6 1 1 , m o r r e n d o o cap itão do Ga
b o para lá, e A n d r é F u r t a d o q u e h ia n e lia .
P o r outra parte P y r a r d affirma com o t e s t e m u n h a de vista q u e
A n d r é F u r t a d o em bar cára na náo i V o w a Senhora da Penha de Fran
ça , e saira d e G o a a 26 d e D e z e m b r o de 16 0 9 . N esta parte
tem 0 te s t e m u n h o d e P y r a r d m uito m aior va lo r q u e o de L u is
d e F i g u e i r e d o , posto q u e t a m b é m seja a u c to r c o n t e m p o r â n e o ; e
a in d a q u e não fora o te s t e m u n h o d irecto d e P y r a r d , bastaria V e -
flectir q u e A n d r é F u r t a d o , ten d o a c a b a d o de g o v e r n a r a í n d i a ,
n ã o p o d e r ia ficar n elia p a r a o a n n o s e g u i n t e .
A n á o Nossa Senhora da Penha de JFrança c h e g o u a L is b o a a I
d e Julh o d e 1 6 1 0 , s e g u n d o o teste m u n h o de L u is de F i g u e i r e d o , e
isto e x p lic a c o m o P y r a r d depois da sua volta estand o era H e s p a -
n h a , o n d e d e s e m b a r c o u a 2 1 de Jan eiro d e 1 6 1 1 , p o u d e saber ahi
da m o r te d e A n d r é F u rtad o, q u e morrera no raar j u n t o das ilhas dos
Açores.
H e pois m anifesto o erro de L u is d e F i g u e i r e d o qu a n d o diz q u e
A n d r é F u r ta d o fôra na ná o S. Boaventura ,i^OT(\ue esta náo ficou
n a í n d i a a q u e lle a n n o , foi n a m o n ç ã o s e g u i n t e , c h e g a n d o a L is
b oa, s e g u n d o o m e s m o L u is d e F i g u e i r e d o , a 7 d e J u lh o de 1 6 1 1 .
A confrontação doà d o u s a u c t o r e s a in d a nos oíTerece outras r e
flexões. N a náo Nossa Senhora da Piedade veio no an u o de 16 0 9
por cap itão o capitão raòr da a r m a d a D. M a n o e l d e M e n e z e s ; e
n a t o r n a v i a g e m diz P y ra rd q u e fora cap itão d a dita náo D . P e
dro C o u t i n h o , q u e saia da fortaleza d e O r m u z , o le v a v a a ' P o r
tugal 0 e m b a i x a d o r da Persia. D . M a n o el de M e n e z e s foi na náo
Nossa Senhora do Carmo, ( q u e d e v e ser a Monserrate de L u is d e
F i g u e i r e d o ) , e a d v e r te hem P y r a r d q u e fora por sim p les capitão
d a q u e lla náo , p o ra u e q u a n d o o V ic e -R e i ou G o v e r n a d o r recolhia
a P o r t u g a l , era elle o capitão inór d a A r m a d a n a t o r n a v i a g e m ;
c d esta v e z o era A n d r é F u r ta d o . F az-n os porem e s p e c ie dizer L u is
d e F i g u e i r e d o q u e na náo Monserrate ( q u e com o dissem os, d e v e
ser a Senhora do Carmo d e P y r a r d ) fôra por capitão G asp ar F e r
reira , piloto q u e tro u x era á ín d i a o V i c e - R e i R u y L o u r e n c o de
T a v o r a . N o m eio destas d iv e r g ê n c ia s s o m e n te o b s e r v a r e m o s ’ q u e
no que toca ás náos da to r n a v i a g e m deste an n o nos in clin a m o s
mais a crer o t e s t e m u n h o ocular de P y r a r d do q u e as i n v e s t i g a
ções de L u is de F i g u e i r e d o F a l c ã o , posto q u e feitas com o m a m r
desejo de acertar na e x p o siçã o dos factos.
1 I(
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OBSEIUAGOES
õ IIEOGRAPIÜCAS
S O B R E A VIAGEM
DE FRANCISCO PYRARD
POR P- DÏÏVAL,
S
( EM IG6Ü )
----- '■■ g3»CgXE*-------
M
OBSERVAÇÕES
Panr
A a ç ) . 1.
l i a r e s a algnn.< . Î ,Vs t e s
tos C ass:i m .<e
, a B a c i a do Hav r e , a Cai.i Ir 1 d c 1...* 1!‘<í.. (
V-. l',
Pag.
È
yiAGEM DE FRANCISCO PYRARD
75
298 YIAGEM DE FRANCISCO PTRARD
Pouleron (a) €ma caza e aposentos onde tern ura Presidente era 5 ur-
rnte, e oulra era xítu. Feitorias era lsp ihani,(ivi{ Gonibru (Comerão)
onde tera raetade da alfandega, em Agrá, era Amednbacl, era Comb^y
era Barodá. era Baroche, era Snrrote, era I)abul\ era Bettapoh (b),
ein MosuUpfytnm; ç,vci Siãn, era Camboja, era f unkitn , pic.
Os Ilollandozes foram d“ sapossados da sua Nova Ifollanda pelos
Ingipzes no anno de lfib’4, e perderam alii a sua cidade de
lúatte, a que iinhani chamado Nova Abater dam ^c o scu forte de
Orange . Da niesma sorte perderam nas ilhas ^ Antil/ias a
de Sanío Enstadiio, e mais para o meio-dia as de e de
Tabnqo. Tora ainda a ilha de Sabá, parte da de São jtlartmho,
onde ha lanihem Fraucezes; a cidade de Coro na Terra r i me', as
cnlonias de Boirnn, dc Esquihe, de Hrebic , e oulras nas costas da
Gua ana. Era Africa, Argvim, e Soréa junto do Cabo Verde; o for
te de S nto André no rio de G mbia. Sã/) Jorge da Mina-, o lor-
te de Nassau, e o de Cabo ^ orso, pretendido nelos Suecos, em (jiii-
né; muitos fortes no ( ongo, a Povoação na ilha S. í iome etc.
í c ). Junto do •'abo d ' Boa Espernea, e na Tafel-bay o\\ Ia -
rI ble bay. d<'us fortes. A le'^te da ilha de Madagascar, a hg
nefo. Na costa do Afaíabar, Onor, Parcelor,, Àf(inga-0 '< , Canan >r ,
»,.
Cranganor^ Cockim, e Coulão Na costa le Co-onvam.eL TuUco^im,
Negap tão. Ca ical, Giieldres junto de Pallecaíe; leitorias ^e.Li Ca-
lical, era Foíser-'^ ( d ) , e em outros logares. Na peninsica^ aa Ín
dia d’ alem do Ganges,. Malaca com os portos, ilhas, e, loaalezas ,
que delia dependem. Na ilha de Oilão, N^gumbo, ‘ olumbo GaJe,
fíaticale, Tringuilemale. iaffanapatão, e uma jorta.cza na ilha da
Manar. Na ilha de .]ava, Sacatra . chama iii Baiana , c suas de
pendências. Parte das ilhas de Maluco, a saber em lernate lo -
^ (b) Provavelm ente com este nom e d esign a o a u c t o r o lo g a r d e P ettu h, très m ilha»
bo torso em '.oiue
a - Ijinamarqiiezes tem também àigumas terras em uma e*outra
l Na America do Norte a Noca Dinamarca. Na Costa de Go-
ro;uaiid^j . ranqaebar.
Pag. 5.
as índias Orientaes; e ror issso não é fora de^ pioposito dar aqui
as Derrotas , que ordinariamente seguem as nações da Europa, que
para alli navegam. E para não fazer uma observação imperleila ,
junto aqui as iderrotas das mesmas nações para as India»^ Ocviden-
taes. Taes observações serão talvez fastidiosas aos que nao buscam
nos livros senão aventuras romanescas, ou historias divertidas; mas
eu não as ponho aqui senão para os que fazem da Carta um de
seus divertimentos, c que querem conhecer as navegações de longo
curso.
co“í i í ^ 4 í w ™ r ':r a \ t f i i f
por.to de Vera Cruz por uma (oriente
outra meridional no vercão. A n fa m e n L ^ a n o r^ f ^ P^^i’
^ulli os mercadores vão por terra á cid'ide dp Tnc À
d i i î î ! "
Uesp^DhTa Vm^'cru^ Gasiam-se quazi très mezes na vrajem'de
fh co ^ q w “ r s e ' l l m . ' ’®
Derrota dos Dollandezes para Jacatrá, por outro nome Batavia, na ilha
de Jara , para as ilhas de Maluco, Cochim, e Malaca.
■ m ik :r :tX a r T le p :% e lo S % to ^ le va n te , é
em Setembro da commodidade das r s n ** pora se aproveitar
«am a Bagdad. ü “ E a d i t m d ^ ' ^ V NovemVo che-
'tle lia-ssorl a Comorf^, ondt o u t i t r i s ' ! 'd- e doze
era liarcas, chamadas^ TraiKaiins- mas em iin e b t* transporto
«ao é alli boa para Suriaite ToVdTnarhm enl 1'" ® a man
eios inglezes, ou mouros (me fazem ‘^"'Itaroa alli em na^
. d ^ ^ v a l i a - s e pouco a r n H i r n o f ^ . l i î l V V r t e S L V Í T o Í
T ^^rá,
pomada .alguma, tem pcucss aldeas z,.qnd'e’s d t l" '’ acha ne Ile
temerosas, osdcse w ív ím do crand(?Í^^^^^^^ “■™ níanhas
raesmo algumas destas m o tia n lu fitt ““
certos homens, que os trm M rlm nf.? ‘ “ costas ,de
Os que babilani nas Jjordas do Alar^Nteg t so b m fn t * r <'* ^
nham o Araxes o Mu* rim m « « *n - sobem pelo l^azze, s:a-
ao rio indo, ouaté ao Gangis ’ e estes riof^ós
E por essa razão que ^icanor ' rei da SvrH ao. oqeano.
Fonte .Euxmo,,que é o Mar Negro áo Mar b S ^ f f T ^ juntar o
param por largo tempo a cidade de Caííã p a S mn^ Genoveses occu
pa ainda para os daoiiel'as reoinecní m commercio.
por Erzerum, e pelo Aiphrates^ q L Jeva ? T r P . o r Trebizonda, ii
tiissemos, ao mar das índia« D« \irtc/vn,r^Í^ ? e daJIi, como já
l“ «'oAIblamod e do *i2 e m n term '"'*® •
de de Moscou, sob<m pelo Voío-a ni^in’ n a sua qda-
T ...... . A v . i ^ i - i a f e ’ r i a 'S “r a „
78
VIA.GrEM DE FRàNClSuO PHIARD
310
t lATVi lirtio art i p l l l tïO O ô lob iô, CO'.ÎIO cU llioH R ^ R
taes, e qaa toiMam ® b i c c Ii o, e Â.le.^andre iMagno.
te a fh e ra m « “ Pi-J'«“ ® ;” ' f “ te:n sida in u t.h n m te
D ira i agoia ; , , , , , ’ 03 F r iiu '.J a i eim re'aanderara subir
procura los para ® " f’ p ^ „ , - „ „ » lo N u r Saptaiiitrio nal, que Hie
pelo rio de Sagu en ii no C in id i « ,j’ „e b
s r r t â s r ï r i ,* H / s r is s fW - s » n
î^ BSSæ
cadorias d as I n ü a s , se tran^poi tavaiu m a is frescas do que
N ilo; en là o c b e g a v a m * Europa^as^^esp^ciaria^^^
E
l i s t a p a s s a g e m f a r -s e n riS ?o % *^ et
smmms
" ® r - ’; “ t f l n i s ™ h ' f f ó feito“ . . r U e t l i e L o u r t , fidalgo Françez.
K m ^ T u e S p a , com
:æ , :^bièd^o d f m"
pete'1 .^ 0 ^ pHm‘ï™ ÜSdiàno, 'lí ' £Te|eJi| é a. maior^ije b-
lias, com a montanha do Pieo, que leva Ijc a gen-
até ao cume. Esta montanha esta sempre coberta de neve, g
OBSERVAÇÕES GEOGRAPIIICAS 311
(e do mar a repula a mais alla do mundo. Avisti-sc do cincoeiila
logons ao longe; serve de pliarol, quando se navega nos m ires jiro-
xinios; c alguns poem alii o primeiro Meridiano, A ilha de Tene-
rilíe é lão fértil, que produz todos os annos, segando se diz, mais
de vinte e oito mil toneis do mais excellente vinho, que ate rra
cria. As outras ilhas Canarias s<ão a Gomera , Palma, Forlavcntura,
e Lancerote. Diz-se que a ilha Inaccessivel jaz ao paente das Ca-
narias , e que quando se quer lá ir custa indizivel trabalho, ao mesmo
tempo que ás vezes se vai lá ter impensadamente. Dá-se-lhc lam-
liem 0 nome de ilha Encantada, Furiimada, çr muitas vezes lhe cha
mam a ilha Alcidiana, ou ilha de São Borondom. No de mais a.s
ilhas Canarias servem muitas vezes de logir o ide as frotas iiespa-
nholas, que trazem a prata das índias Oceidentaes, esperam umas
pelas outras, e ahi recebem ordem determinando o porto onde de
vem ir entrar,
Pag. ibid.
Pag. 8.
Pag. 15.
Pag. 17 .
il Africa, lîa signaes que dão a conhecer que se está proximo dél
ié; e sio, que a cincoenta eu ses^enla legoas ao mar, se vê boiar
troncos de cannas grossas, chaniados T r o m b a s ; e vcar grande quan-
ticlaoe de passaros brancos ccm malhas pretas. Os que voltara das
Jndias Orieniaes vêm alli rebanhos
---- --------- --- de
V, lohos raarinos parecidos corn
ursos; e nesse temno Jancara coniinuadaraente a sonda.
I) r K* VIOCCO fiV i*» IA n »"vk __ ____ â _ t
Pag. 18.
Pag. 29.
N
. ..sta pagina e nas seguintes está a descripção da ilha de Mada
gascar, que os Portuguezes tem chamado de São Lourenço. Mas co
mo depois da viagem de Pjrard temos tido muitas Belacôes desU
ilha mais amplas que a sua , é aqui logar de dar aos curiosos o
exlracto, quç dellas tenho feito.
79
3 14 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
' V
OBSERVAÇÕES GEOGRAPHIGAS
em pó; mas foram aili mortos; e semelhante sorte tem tido depois os
que se tem fiado muito nos naturaes da terra.
Ambahé não se entupe, e é proprio para barcos.
O Porto das ameixas tem bom sur^ddouro para navios.
A anera de Galenbule não é boa por via dos rochedos, que ahi ha
. .i debaixo^d’ agua; com tudo acha-se bom abrigo para barcos junto da
ilha. 11a alli abundancia de arroz ao longo da costa.
Matianguru tem quatro boccas, das quaes a mais septenatrional,
chamada ítimiame, é assaz larga , e tem seis ou sete pés d’ agua.
l'm barco pode subir por elle mais de dez Icgoas, e acham-se alli
nedacos grossos de cristal.
A bahia de Aníâo Gil, é assim chamada do nome de um Portugucz
nue primeiro a descobrio. Entra quatorze logoas pela terra dentro, e tem
nove legoas de bocca, com muitas aldeas ao longo de suas bordas. Uma
ilheta que alli ha proporciona boa acolheita aos navios. Os Hollande-
zes tem alli portado muitas vezes no intento de traficar com os na-
lur3.0s
A iíhade Santa Maria a duas legoas da terra íirme, tem tres le-
coas de largura, dez ou doze aldeas, c quasi seiscentos habitantes
i ^ alem de al«uns Francezes. E ’ rodeada de rochas, sobre as quaes po
dem navegar canoas na maré cheia; e ha alli bello coral branco, e
diversas conchas mui estimadas mesmo pelos da Europa. Acha—se am-
bar-gris na costa occidental. , j
Para alem da bahia de Antão Gil a costa corre norte-sul; porem des
de a angra Delphina até esta bahia corre su-sudoeste e nor-noroeste.
A bahia de Vohemaro é neste espaço ( a ), e o terreno produz ar
roz em abundancia. , ^ f .
O Cabo Natal, c o de São Sebasttao formara as duas pontas ma
is .septemtrionaes da ilha ( b ). . j t-
Toda a costa occidental é mui pouco conhecida dos brancezes.
B a nelia muitos logares, que conservam ainda os nomes de alguns
P orlu gu ezes, que alli desembarcaram antigam ente; e é esta costa
fronteira á s ’ terras que elles possuem na terra firme de Africa.
Mais adiante ha os baixos mui extensos conhecidos pelo nome de
Parcels- depois o rio de Mansiatre ; e outros ; mas nenhum é tão
conhecido como o de Onghlaté. Este rio de Onghlaté é por outro
nome chamado de Santo Agostinho, julga-se que ha ouro na sua vi-
sinhanca, mas 0 ar alli é insalubre.
A bahia de Santo Agostinho tem uma ilheía na entrada, e qua
si oito braças de agua de profundidade com um bom fundo de areia.
Os lochedos cobrem a bahia da banda do norte e do sul; só o noroeste,
e 0 oes-noroeste a varejam. Os Inglezes surgem muitas vezes nesta
bahia quando vão a Surraie; a ainda alli se vém os restos de um
( a ) Isto é, desde a babia de AntSo Gil para o norte. j.,,-
(b ) ^’ào se acba o nome de Cabo íífllaí nos geograpbos modernos' deve ser
« Cabo Ambro.
OBSERVAÇÕES GEOGRAPIIICAS 317
y
.: Pag. 3S.
Moçambique,
Png, 50. A
Achem na ilha de Samatra.
Pag. 85.
Û
Descripção dãs ilhas de Maldiva, sua situação etc»
Santo Thomè,
■'•li'-
bBSERVAÇÕES GEOGRAPHICAS
Pag. 1 9 8 .
Pag. 2 3 1 ,
Pag. 2 4 3 .
Rescripção da llollanda.
 Ilaya, residência do Tonselho dos Est .dos Geraes, não é mai< aue
hõ L Euronà“ ' ' «it^liniosaque
A vilia (ie que llie íica p o.dint. é conhecida pe'o narto
de irezemos c sessenti, e qiiairo lilims, qiie alii teve em mitrofom-
po Sigundc) se diz, uma Condeç.i de ííolli,nd<i.
Aicniaer é a melhor ciiiade dâ iloüanda do Norte
s a lm S '!" Pda pescaria dos
l a Ilnlle c Tewel são dons afomados portos de mar- csl- para
la r d ^ f "e
lanaez, aan eK ''n
e aqnelie ,“ f “o meio-dia
para os hahilautes iijm am a cauda do Leãolio 1-
Pag. 246.
Pag. 29 1,
Pag, ibid.
de Lahor até ao Sinde. Alexandre Maiçno fez descer por elle os seus
navios até ao oceano, cujo fluxo e refluxo causou grande admiração
aos pilotos deste conquis^dor, porque era cousa de que elles não-
tiuliam conhecimento.
. »
Pag. 3 12 .
Cochim, fade elles obtiveram licença para fazer uma fortaleza , que
foi a primeira que tiveram iias índias OrieiUaes. Esta fortaleza fol
hes tomada pelos Hollandezes no anno de 1662. O princepe de Ca-
heut chama-se o Samorim; pretende cobrar tributo de todos os reis
do Malabar, mas muitos se tem isentado de Iho pagar. Alem deste
princepe ha no paiz os reis de Cananor, de Tanor, de Cranganor,
de Cochim, de Coulão, de Travancor, e outros dez ou doze áe me
nos conta; mas os /ogares de que tem os titulos são hoje pela ma
ior parte dos Europeos , ao menos as cidades de baixo que são á
neira-mar, porque quasi todas estas cidades são duplas.
Tamul é o nome de uma lingua particular- que alli ha ; e alem
da língua Malaya ha outras a que chamam a Bagadana, e a Gran-
donica ( a ).
Cochim, que é quasi igual a Goa na grandeza , paga tributo aos
Hollandezes, que alíi tem uma fortaleza, como dissemos. O seu por-
to é perigoso por causa dos rochedos ecachopos que tem na entrada.
Coulão já foi mais rica e mais povoada do que agora é , porque
chegou a ter mais de cem mil habitantes. O Samorim prezava-a por
causa do seu assento, do seu porto, e da sua íidelidade. Depois,
tendo as areias do màr entupido o seu porto, Goa c Cochim lhe
t»raram todo o commercio.
Onor tem pimenta mui pezada , e arroz preto, que é melhor que
0 branco.
Pag. 3 7 9 .
(a) Por aqui se vô qu5o pouco erauí conhecidas então na Europa a$ tinguas
desta parto da índia.
■Jf-
. ( Nos vimos entre as mãos dos diabos destes Cafres mais ne
gros que carvão.
Pag. 33.
P
^ sta descripção de Goa sendo mui ampla, nada tenho a accrescentar
desta cidade, senão que é uma das mais bellas da índia, re-
ra Vice Uei Portuguez. eo arsenal da coroa de Portugal pa-
Tinrfa Onentaes. A ilha de Goa faz a separação da costa da
Hí. ^ peninsula da índia d’aquem do Ganges,
us que alli chegam esperam em duas pequenas ilhas, que estam a
cinco legoas da cidade, que lhe cheguem pilotos para os metter ordi
nariamente no porto de Murniurgão. ( a j Goa é muito grande, e
seria ainda mais povoada do que ora é, se os excessivos calores não
üzessem morrer alli tanta gente. O seu hospital é havido pelo mais
bello, mms rico, e melhor servido que o do Espirito Santo de Roma,
c que a Enfermaria de Malta.
Pag. 1 1 4 .
S r iï* ' s 3 ; ,7 c S =
Pag. 12 4 .
84
334 VIAGEM DE FRANCISCO PTRARD
Pag. 12 6 .
Os Portuguezes tem duas fortalezas nesta ilha. A principal é
chamada Columbo, e a outra porto de Galle.
Pag. 1 3 1 .
Descripção de Malaca.
Malaca é como o centro das índias orientaes onde se pode aguardar
Pag. 139.
Pag. 14 5 .
Pag. 14 9 .
7 a 4 '7 ™ r ‘' , t a 7
A de tendaija tem p.irticiilarraente” li * 7'® Particulares
85
338 HACBM DE PnAHClSCÔ PTRARO
Pag. 1 5 6 .
Pag. 19 1
Reino de Angola,
Pag. 20G.
A cidade de Camhaya,
'amhaya era chamada o Cairo das índias por causa da sua grande-
*a, que é de duas ley:oas de circuito, por causa de seu griinlecom-
mercio, e por causa da fertilidade de su:i terra, que produz entre outra»
cousas, algodão, aoil, opio, e agalbas, de que ha uma mina em Ba~
Toche. Mas desde as perdas dos Ponuguezes nas índias Orientaes.
está niiii decaila. O seu porto é muito niáo porque posto que aa
maré cheia haja alli rans de sa.te braças d’ agua, cora tudo o refluxo
deixa os navios em secco n’ um fundo mixto de areia e vasa.
Surrate é uma das cidades da Asia que faz mais commercio, ainda
Í a chegada alli seja perigosa, e as casas sejam baixas e cobertas de.
|uc
olhas de palmeiras. O seu rio é salgado pela maré, mas tão baixo
na sua foz, que é a quatro legoas abaixo da cid ide, que apenas po--
de supportar barcos de setenti e oitenta toneliadas, e é forçado des
carregar as mercadorias em Sohali. O porto de Surrate corre de nor
deste sudoeste; tem sete braças na maré ciieia, e s6 cinco na va
lante, e então a maior pane do< bancos Hcam desc ibertos. O fundo
é de areia, e está-se alli ao abrigo de todo- os ventos, exce;ito do»
de sudoeste. Os Inglezes tem alli o seu principal com.mercio das ín
dias Orientaes. Hj uns seis annos que esta cidade foi saqueada por
«m rebelde do Mogol. e avaliou-se a perda que houve nessa occa*
sião em mais de trinta milhões.
Pag. 2 2 0 .
ii
Este Grão Mogor.
Pasr. 2 2 5 .
fsta ilha de Dia é mui próxima da terra firme.
Pag; 267.
Pag. 284.
Pag. ibid.
22." rei, contando os très Piiilippes reis de Hespanha. Funda o seu di
reito na acclamaçào de sen pai D. João IV, e no cazamenio de seu
hisavô D. João Duque de Bragança com D. Catharina, filha de D. Du
arte, infante de Portugal, o qual morreu no anno de 1540, e era ir
mão de D. Maria, mulher de Alexandre, dnque de Parma.
Os reis de França tem algum direito sobre este reino por via de
Roberto de Bolonha, íilbo de Mathilde de Bolonha, mulher de Afion-
so 111 , que a re[)udiou depois de ser rei. < atharina de. Medieis sus
citou este direito, mas foi-lhe respondido que tal direito estava ob
soleto.
O nome de P o r t u g a l é provavelmente derivado do de P o r t o e de C a
l e pequena povoação próxima do Porto. O comprimento do reino é
de quasi cento e Vinte legoas, e na largura tem vinte e cinco ou
trinta, c em partes cincoenta. A sua situação, e a experiencia de
seus habitantes nas cousas da navegação dt ram logar a seus prince-
pes de se fazerem obedecer nas quatro partes do mundo, onde con
tam por vassalios muitos reis , com a commodidade de fazer vir á
inropa as mais raras e as mais preciosas mercadorias do Oriente.
As suas conquistas chegaram a extender-se a mais de cinco mil le
goas de costa, e todos os logares por elles occupados eram á beira
mar, porí|ue o seu intento foi sempre assenhorear-se só de commer-
cio.’ íla alguns annos a esta parte que não tem podido tirar delle
0, proveito costumado, por causa das guerras, e dos grossos presidi-
os que tem sido obrigados a''sustentar nas conquistas, o que os mo-
veo a dar uma parle délias aos Inglezes f á )i
As províncias de Portugal téin cada uma suas commodidades par
ticulares. Brqduzem entre outras cotisas limões, e excellentes laranjas.
Tem algumas minas, porque ós Gregos e Romanos vinham buscara
Portugal 0 ouro, que os Portuguezés vão buscar ás índias. São tão
povoadas, morménte a bèira-mar , óue .se contara no reino mais de
seiscentas cidades ^e villas
..._ rprivilegiadas,- e
____o____ 7 ® quatro mil paro-
çliias. Só é alli recebida a religião catholioa romana; e os da raça
judaica foram obrigados a hagtizar^ se.
Ha tres arcebispados; Lisboa , Braga, e Evora-; e dez bispados.
Os arcebispad-s de Lisboa e Evora tem hera cada um duzentas
mil libras de renda. Ha Inrmi^ições em Lisboa, Coimbra, e Evora,
e Relações ( i a r l e m e n s ) em Lisboa e Porto. Vinte e sete povoa
ções tem districtos, a que chamam Comarcas, e Almoxarifados.
A Ordem de Christo, cuja caza capitular é em Thomar, é a mais
considerável de todas. Os reis são os seus grão mestres, e desta Ordem
( a ) 0 auclor sabia certamente que as conquistas cedidas por Portugal aos In-
glezes eram somente T a n g e r em Africa, e a Ilh a de J io m b a im na India; mas
era tfio palpavel a nacionaes e estrangeiros que estas cessões e principalmente
a legunda haviam de trazer apoz si a perda de outras muiUs conquistas, que
e auctor insensivelmente se exprime como se fora cedida uma grande parte
das mesmas conquistas.
OBSEUVAÇü IÍS GEOailAPlIlCAS 349
v : , r a , ' , ” f t s a s g R r i J a .... ..
p s f t :;; í '1“
t r ir lT a í;* ‘odos as a-udafc'
no, e uma das mai> bailas, mais ricas, maiores, e melhor povoadas
da Europa Tm i ;iais de trinta mil cazas, e um admiravel porto,
com a c^mmodt }adí‘ do fluxo e refluxo da maré. Faz particularmen
te 0 trafico ua> índias Orieutaes.
A povoação de Belcm, que lhe fica próxim a, é o mausoleo, ou
logar df s-^pultuiM de muito.» reis de Portugal. Santarém tem tanta
copia de oliv.o's nos seus arredores, que os hahitaute.s se gabam de
poder fazer um rio de azeite do tamanho do Tejo. Setuhal é bem
assente, bem <diiic ida , e mui mercanul , por causa do seu porto,
que é 0 melhor de lodo o reino, e tem de comprimento trinta mi
lhas, e de larg.ra tres. As suas salinas, e p-scaria , pelo (jue di
zem os Porluguezes, dão maior rendimento ao seu rei, do que to
do 0 Aragcão a Ei »'*• i de Ilespai.ha.
O Alemtf'jo e reputado o c-dieiro de Portugal , por causa dos
seus trigos. A sua cidade principal, Evora, pretende o primeiro lo
gar alruixo de dshoa. No anno de 1603 os Ponuguezes alcança
ram elli uma celebre victoria. Eivas é conhecida por seus excel-
lentes azeite.s, e pelos cercos que tem sustenta io com feliz exito
contra os asiel.i.mos. Ourique c o logar da famo'a batalha, que no
anuo de 1139 ueu a coroa ao primeiro rei de Portugal. Era Âftbn-
so, que venceo cinco reis mouros, e que em memória disso poz no
seu es mdo , (pie era de pr ua , cinco es- udetes de azul em forma
de cruz. cadaescud 'te co u cinco dmheiros de prata postos em as
pa, <)' qiiaes representam os trinta dinhei-os, por que Nosso Senhor
foi >enlido, contan(io-.'e duas vezes o do meio.
O Alqarde, ainda (]ue pequeno na extensão, tem o titulo de reino.
Foi reunido á coroa pelo cazammto <ie Alfonso 111 com Beatriz de
Castclla ( a ; . Produz figos, azeitonas, amêndoas, e vinhos mui estima
dos. O propio nome de Algarve em lingua mourisca quer dizem cam
po fértil.
Pag. 286.
Tomámos a derrota das ilhas de Bayonna em Galliza etc*
A Galliza é uma das grandes provincias que a Hespanha tem á borda
de oceano, na qual ha muitos bons portos; mais para hem a conhe
cer parece de algum modo necessário tratar em geral da Ilespauha,
cuja parte é Galliza.
Dcscripção de Hespanha.
las jiOginas para os conter todos. Kis os de qiie usa o rei Philippe IV
iia caita de poderes que deu no anno dc 1Ò5& a Dorn Luis dc Ha
ro para tratar da jiaz— « J)om Philippe por graça de Dcos Ilei de
« ( asieüa, de l.cao, d’ Aragão, dus Duas Sicilias, de Jerusalem, dc
« Portugal, de Na\aira, de tJranada, dc Toledo, dc Valencia, dc Gal-
c liza, de ]\lalhoica, de Scvilha, de Sardenha, de ( ordova, de C or-
« bcga, de Miirciti, de .lacn , dos Algarves, d’ Algcziras, de Gihrai-
t.s !ar, das ilhas » ana'iias, das lUdias Orienlaes e Occidentaes, das
(( HI -as e Terra iirrne do Mar Oceano , Archidtique d’ Austria , Duque
« de Burton ha, de Pra haute, e dc Álilão, Conde de llapsbourg, de
« Flandres, dc Tirol, e de i arcelona, Senhor de Bisca\a, e de Ma-
'« linas, etc. — »
A jH'iucijial Ordcin de Cavallaria cm llcspanha é a do Tosao; as
oulras são asdeSão Thiago, dc Calatrava, d’ Alcantara, e de Mon-
tesa. Os Pels dc Hespanha (cm tornado para si os grão mestrados
destas Ordens sob o nome de Admini.^tradores ],'crpeluos. ila alem
disso mais de oilcrila Grandes dc Despanha, que são pouco mais ou
menos como os Duques e Pares em iTanca; mas esta dignidade, corno
anda aiincxa a senhoiio de terras , passa a femeas. O rei dc Hes-
panha tem Ires sortes de guardas, AValoiis, Alemães, e Borgonhezes.
Os Ilcspanhoes reimlain as artes p)r causa deshonrosa, e por isso
a maior paite dos seus artifices são Francezes. Prezam mais aguer
1 /■ ’i;
«L, *ÎTiV'. ra , na qual fazem mui bom serviço , [irincipolmenle na infaiUeria.
Sempre tem conservado a reputação de ser lieis a seus prmcepcs,
e (le não revelar voluntariamente o seu segredo. Marcham lentameii-
te a qiial(]uer conquista, mas de ordinário guardam hem o que gaii-
Bam. São tardios em deterininar-sc, mas corajosos cm proseguir na
sua determinação, não lhes metendo medo as diíliculdadcs que re-
Vrescem. São muito previstos, c iiiiiica jrerdem nem a paciência, nem
íi esperança, posto <jue a sua lentidão lhes faça muitas vezes per
der hoas oceasiões. Alguns d’ entre elles tem a vaidade de dizer que
0 sen paiz prove o mundo dc gencracs para os exercitos; que Decs
lãllava a Moisés no Monte Siiiav em lingua castelhana; e que o Se
nhor do universo deve nascer liespanhol, Não se adiam livros hes-
panhoes mais antigos que os do amio de 1200; c antes disso as leis
eram alli cscriplas em latim.
A llespanlia foi sugeila a estrangeiros diirauíc longo tempo. Os
( ’citas, os lihodios, os Phenicios, os Carthagiuezes, os Bomaiios, os
Yandalos, os Suevos, os Godos, c os Mouros, dominaram ou sobre
toda cila, ou sobre algema das suas partes. A sua primeira divisão
foi em duas partes; uma daquem e outra dalem do Ebro, que então
limitava os domiaios de Iloma c de Carthago ; porque ao depois o
que os Bomanos chamaram llesçanha ulterior somente comprehendia
a 1'etica c a Ludtania. N' uma e n’ outra os Bomanos tinbam esta-
lulecido quatorze ( onvcnlos jurídicos, ou districtos judiciários. Na
decaiidencm da dominação dos Mouros formaram-se alli cinco leinos;
Leão com la sld ia , Aragão, N a u irra, Portugal, e Granada. Depois
OBSERVAÇÕES GEOGRAPIIICÀS 353
«íehaiYo do dominio dos reis de Caslefla
Porliigal e Aragao; e e pnncipalmente por estes très títulos que o
rei de líesiiaiiha tem possuído todos os seus grandes Esiados nos
quaes lia hoje oito vice-remados. Desde Pelajiio a Gasiella lem re>
tai( ü dez vezes em femea. No anno de 1640 Portugal acclamou rei
ao Duque de Jíraganca. lei
Os priíicipaes rios de Despanha são, o Douro, mui piscoso o Tein
afamaâo p..r suas are,as de ouro, o Guadhma que s l d ,rsu m ir-Íe
por debaivo do chao, o Guadalquivir o mais profundo, e o Ebro
famoso por seu nome. Iodos tem suas origens emCasteila mas não
sao tao navegaveis como os de França, O Gnadiana deu motivo aos
Despan ioes paia dizerem oue elles tem na sua terra a mais rica
ponte do mundo, porque sobre ella pascem de ordinário mais úe á ã
mil carneiros, e pode passar um grosso exercito em batalha. Pare
ce que os antigos pozeram mui advertidamente a este rio o nome
de Anas, porque entra e sáe da terra assim como um pato entra e
sae da agua. A.guns modernos dizem que são as montanhas que
occultam este no; outros asseveram que são as sangrias, que se lh e
faz para reira Gos campos, que são mui pouco ferteis, masé certo que
isto acontece junto de suas origens, e não junto a Merida, como o in
dicam algumas cartas antigas. , v
Seja como Jor, é isto uma das 1res maravilhas de Hespanha. e as
outras duas sao, uma cidavie cingida de fogo cora muros de seixos,
que G Madrid; e uma ponte sobre a qual corre agua, queé o aqiie-
duclo de Segovia. Algumas cidades deste Eqado tem certos apoel-
hdos por excellencia, como, Seyilha a mercante, Granada a grande
Valença Barcelona » riça , Sanigoça a contente, Yaltiadolid
a gentil. Toledo a anti-,'a, e Madrid areai.
íla ena Hespanha oito arcebispidos, e quarenta e oito bispados.
Os arcebispados sao, Toledo, Burgos, Compostella, Seviiha, Gra-
Y^ícncia, Saragoça, e Tarragona. O rei Becaredo I introduzio alli
a religião catholica romana, a qual é hoje a unica recebida; e ha aiU
a Inquisição contra as outras crenças. Todavia ha em Toledo algumas
igrejas, onde se segue o rito mus-arabico, queé o que suardavam
os chnstaos, que viviam entre os Arabes.
Muitos portos de mar são de grande consideração, como, a Passa
gem de Santo Andre, Corunha, Cadiz, Carthagêua, Alicante etc.
Coutam-se era Hespanha quinze grandes partes, que quasi iodas ii
tiverain titulo de remo no tempo dos Mouros. Destas são cin-'o da
banda do oceano a s a b e r , Asturias, Galliza, Portugal, An
daluzia: cinco da banda do mar mediterrâneo, a saber, Granada
c
luurcia, \aloncia, Catalunha, e as ilhas úc Malhorca Minorca' e ou—
tras cinco no interior do paiz, que são Aragão, Navarra, as duas
Castellas, e Leão.
A Biscaia tem malas que lhe dão meios de fabricar mais navios
que todas as outras provincias de Hespauha. Tem também tão gran
de quantidade de minas, e de forjas de feno, que é ás vezes
89
354 VIAGEM .DE FRANCISCO PYRARD
3f ) j
TRATADO E DESGRIPÇAO
E>OS ANIMAES, ARVORES, E FRUCTOS
«
DAS INDÍAS ORJENTAES,
OBSERVADOS PGR
FRANCISCO PYRARI).
CAPITULO !.•
li
356 VUGEM M FRANCISCO PYRARR
CAPITULO II .
CAPITULO I I I .
CAPITULO IV ,
q « a t e e M a o S r r id a . “® ® «“ «rande
;:?S s p iT a r
te m a is d e mil e d u z e n ta s ^ 8 ^ ^ fica d is ta n -
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CAPITU LO Y.
CAPITULO Yl.
CAPITULO VII.
2 SS S“ ï4 £ ”S ;H S r H r - '“ "
W s r Æ Æ = 1 " ,S “ -
CAPITULO VIII.
Da A rm e Triste, do Ébano, do Betle, e da arvore da
Algodão.
92
366 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
CAPITULO IX .
CAPITULO X .
L l r a r T a T i a ™ ? e l “ d<is OT estranha , e
CAPITULO X I I .
dura, e nao deita leite, mas só oleo pela expressão, e desp ‘ga-se da cas-*
ca por si mesmo, e em vez de óranco como até aili era no interior
íica cór de chumbo, ena sua parte superior da mesma côr parda co
mo a casca.
\’s arvores que nas ilhas de Maldiva são próximas da cerca do pa
lácio real, não se sobe senão de nouie, sendo defeso subir a ellas dc
dia, porque se devassaria délias o interior do recinto por não ter mu
ros tão altos como estas arvores. E ainda os que se occupam em co
lher 0 fructo destas arvores, que elles .chamam R a v e n j , nãonusariam
subir a cilas de dia em Jogar onde possam ver o interior da cerca
de qualquer caza por mais pobre que seja, sem primeiramente gri
larem 1res vezes em voz alta antes de subirem a ellas. Isto se usa
assim por causa das mulheres q.ue se banhara c lavam nuas em se
us tan(|ucs, e junto aos poços dentro do recinto de suas habitações.
Guarda-se isto mui estreitaraonte entre elles.
E’ cousa admiravei ver as commodidades que se tiram desta ar
vore, de que não ha pedaço ou parcella que não tenha alguma ser
ventia. Os jamos fendem-se em dous , e com elles se cobrem as
cazas, e fazem sebes mui fortes e bem feitas ., com que cercam
as cazas e hortas ; afora uma infinidade de outras applicaçõcs, que
seria inutil referir aqui. Com as folhas cobrem-sc as cazas , so
brepondo-as umas nas outras,, e scgura,ndo-as com diversas fiadas
de cordel postas longitudinalracnte; e não se cobrem as cazas de ou
tra matéria; e isto resiste muito bem á agua, de que não passa u-
nia goita; mas é mister renovar esta cobertura de 1res em très
annos.
Quando a folha eslá ainda verde, servem-se delia como de pa
pel para escrever cartas e outras missivas , versos , e canções , e
âs doi»r«m com muita graça, o que se faz com facas e ponteiros
de ferro. Também quando as folhas estam seceas as fendem etn
tiras, de que fazem tecidos e entrançados cm forma de esteira mui
iindamente obrados ; e destas esteiras cosidas umas nas outras se
fazem velas de navios tão grandes como se quer, e por todas as
ilhas de Maldiva não se servem dc outras velas. Destas mesman
esteiras se servem em forma de alcatifas communs para se sentarem
no chão, segundo seu costume, c por toda a costa de Malabar não
ba outras esteiras, porque não ba lá verdadeiro junco como em Caol
( a ), e nas ilhas dc Maldiva se fazem desta mesma matéria outras es
teiras melhores e mais bonitas. Das me-mas folhas inteiras aquelles
povos fazem e tecem mui convenientemente alcofas, cabazes, e mil ou
tras obras, como nós fazemos cá de vimes e salgueiros; e scmelhan-
íemente fazem chapeos de sol, e da cabeça mui lindos, que se usam
para tapar a chuva, e eu me servi lá sempre delles.
Em somma destas follias quando são novas e brancas fazem mil sor-
f a j Será .Xaeí?
T ratado dos an im aes , a r v o r es etc 375
íes dtt obras, c formam délias passaros, peixes, e todos os outros ani
maes, como cá se faz de panno de linho appropria iamente afeiçoado
Quando querem fazer um presente de flores, fnictos, betie, oÍi ou
tra cou.^a, meltem-no n’ uma especie de condeça feita destas folhas
com muita perfeição; e quando hão de tirar o que está dentro, cor
tam a condeça, e abrem-tia com uma faca, e depois de tirado o que
ella contem lançam-na fora. O pequeno lenho que corre pelo meio da fo
lha, depois de seccoíica mui duro, de sorte que fazem delle vassouras,
e não usam de outras. Esta m-^sma varinha serve para fazer cofres e
bahús, tecendo umas nas outras, e ficam mui fortes, e podem fechar-
se á chave.
Fazem também desta matéria cabos de armas, como pequ?nos chu-
ços, aza^aias, e outras semelhantes. Li^am uns aos outros estes pão—
zinhos, que não são mais grossos que a ponta de uma a^^ulheta, e tem
0 comprimento dc meia braça, e os vão juntando até á^grossura qiie
querem. Este lenho pela sua parte mais grossa, que é no pé da fo
lha, é da grossiira que disse, c dalli vai sempre diminuindo ate á
ponta, que não é mais grossa que um pequeno alfinete; e agéitam estes
paozinliüs tão bem que formam delles um bastão todo i^ual sem
ser nem mais fraco, nem mais grosso n um logar que n’outro; e°dcpoisd'‘
bem ligado o cobrem de um verniz que elles tem de todas as cores com
mil figuras e feitios a seu gosto; e chamam a estes bastões Z a c o n -
t é . Estes bastões são da grossura de uma pollegada, mui rijos e for
tes, e todavia dobram-se, mas não se quebram. Fazem-nos tão ^^ros-
sos e tão compridos quanto querem; .e também fabricam assim arcos
Não se servem dc outros alfinetes cm tudo quanto é mister e os
aparam e aguçam com facas. ’ ^
Quanto ao coco ^quando está com toda a sua casca inteira c da
grossura da cabeça de um homem. A casca é por fora amarella
quando está madura, e da espessura de très a quatro dedos Esta
casca decompõe-se em filamentos, de que se faz cordoalha. Para es-
.se eífeito descasca-se o frueto estando verde como nós faríamos aê
nossas nozes, e separando aquella casca da outra mais interior
poem-na a cortir no mar coberta de areia. Depois de assim ter es
tado por espaço de très semanas, tiram-na, e batem-na com malhos
de .páo, como nós cá fazemos ao linho, e ao canharao; e assim ti
ram os filamentos separados, expoem-nos ao sol, e depois os ton^em
e entrançam para fazer cordas , das quaes sa serveui cm tudo e
não ha outras cm -ioda a índia. Esta mesma casca estando secea
serve para calafelar os navios.
E desta mesma corda fazem o murrão para os arcabuzes que
conserva mui bem o fogo, e faz bom carvão, melhor que o do nos
so ( a ); mas para fazerem e>te murrão não se servem do fio prepara
do para as cordas, mas é mister que a casca se seque com o fruc-
( a ) Sem duvida o fogo, o n3o o carvSo.
375 TUGEM DE FRANCISCO PTRARO
{ a) Ou de barro.
( b ; ja g ra se cUama esta especie dc mellaço,
( c) Aa«l ?
TRATADO DOS ANIMAES, ARVORES ClC, 379
tâs vcies, C0D30 de mdDjar mui delicudo, e dá-se muito ás crian»
ças. Este pomo é o germen do coco, que brotaria, e produziria
outra arvore, se lhe dessem tempo, porque o miolo que está dentro
da casca interior, como já disse, de naaa serve na geração da pal
meira, mas sómente esta agua que está no centro é a que lhe for
nece a substancia. O resto do coco apodrece, e para nada serve.
Fazem ainda outra sorte de mercadoria do coco, que se espalha
por toda a índia, e é mui cara, a que chamam C o p r a ( a ). Para
isto tomara o miolo do coco, partem-no áo meio, e o poem a sec-
car ao sol, com o que secca e encolhe muito, e se guarda pelo
tempo que se quer. Mettem-no em saccos , e o expedem a toda a
parte; tem mui bom gosto, e servem-se delle nos seus molhos e
sopa Exporta-se muito para a Arabia. O oleo que daqui se tira
é muito melhor, e guarda-se por mais largo tempo que o que
se tira dos fructos frescos.
Tinge-se de preto com uma tinta feita da serradura damadeira da
palmeira, que lançam de molho em agua, e lhe misturam mel da
mesma arvore, e a deixam as sol por muitos dias. Esta tinta é muito
preta, e muito boa.
Do pé dos fructos fazem pincéis para pintarem seus bateis, galés,
templos, e cazas, que pintam inteiramente, mas nunca fazem fi
guras de homens, como já disse.
Vi frequentemente nas ilhas de Maldiva fazer infinito numero de na
vios do porte de cem ou cento e vinte tonelladas todos desta ma
deira, sem entrar nelles ferro algum, ou outro páo, ou utensilio que
não proviesse desta arvore. Até as ancoras são fabricadas desta mes
ma matéria; são mui boas e mui commodas, e formadas de um páo da
mesma arvore, posto de travez, que elles vasam, e depois enchem to
do de pedras, e o tapam muito bem, a fim de tornar a anchora mais:
pesada, e ficar mais segura em qualquer parte. As taboas do naviü
são presas com cavilhas que se ligam e cozem umas ás outras com
cordas fabricadas dos filamentos do fructo.
Alem disso quando estes navios são inteiraraente acabados, arma
dos, e esquipados da madeira e do fructo desta arvore, carregam-
nos cora mercadorias que também procedem da mesma arvore, co
mo cordoalha, esteiras, velas de folhas de palmeira, doees, oleo, vi
nho, assucar, e outras cousas produsidas inteiramente desta arvore.
Estes navios vão assim carregados e esquipados em tudo dos pro-
diictos desta arvore entrando até os provimentos de bebida e co ií
mida, ou á Arabia, que dista oitocentas ou novecentas legoas, ou á
costa do Malabar, a Cambaya, Sumatra, e outros logares. .Duram taes
navios quatro ou cinco annos, fazendo muitas e longas viagens, com
(a) O auctor escreve Supparra; mas S u p p a rra ou su p p a ri é formada de
areca, e náo de coco. O mioio de coco cgriidç ^ *íCC9 ao 80l Cliama-se C«-
ii( m , cuífH , 0« mail vuig^rmaate Copra.
380 VUGEM DE FRANCISCO PTRARD
® q n e r m eraprehender a Tiagem
cnit Orientaes saber em que tempo e estação devem partir
-eja na ida, ou iia tornada, e de que cousas devam prover-se e ro’
MO devem dirigir-se para evitar os accidentes que de hora em ho-
ra sobrevem, como eu muitas vezes experimentei, direi sobre tudo
m t n h f p a l a v r a s de passagem, para servirem de conclusão a
nha viagem ; e tocarei um pouco nas desordens e pouca policia
que ha na nossa navegação, e no meio de as remediar.
hUrei pois em primeiro logar que os viajantes devem sobre todas
as cousas cuidar ern parUr a tempo proprio, alim de passar com
Jicidade o Cabo da Boa Esperança, e a terra de Natal, onde os ven
tos e as tempestades são mui frequentes, e mui perigosas, nrinci-
pairaente quando se passam contra-monção. "
E também necessário escolher bons e experimentados pilotos
que tenham feilo e praticado a viagem por muitas vezes : e é bem
certo que se nós houvêramos tido um bom piloto, teriamos levado
ao cabo a nossa viagem felizmente. ”
o iá aguentado o mar
e feito algumas viagen-s, porque um navio novo, que ainda não es-
acontecer qualquer accidente n’
uma longa viagem, nao se lhe pode dar remedio. Alem disso pa
ra fazer uma viagem bem ordenada, devem ir pelos menos quatro
ou cinco navios em conserva , um dos quaes só sirva para levar
mantimentos, utensílios náuticos, e outro apparelho e material pro-
prio para reparar os demais navios quando disso hajam mister- .H
distribmndo-se acertadamente os homens e os provimentos quando
chegar a sua vez, e abandonando-se o navio depois que íicar vazio
rara isto seria o mais adequado um pequeno patacho, porque é so
bre maneira proprio para se chegar a terra, e ir a descobrir.
iNao acho que seja conveniente forrar os navios de chumbo, como
nos havíamos feito ao nosso. Porque, comquanto isto possa servir
contra o bicho, e atalhar ime fure o navio; todavia ficam a'^sim os
navios mui pezados. E os Portuguezes não se servem do chumbo
96
38 2 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
senão nas juntas e união das taboas. A folha de lata me parece mui
hoa para este oflicio.
E ’ lambem mister fazer provimento de agua doce muito m iis q u e
de vinhos, porque o calor é tão forte, que os vinhos mais accres-
cenlam a s e ie que a saciam; todavia deve havei os , e também a-
gua ardente, para se beber n is proximidades do Cabo da Boa Espe
rança, que 6 sitio frio; e igualm ente para se guardarem para a tor
na viagem , quando se chega ás alturas de Hespanha e de França.
Mas estes vinhos devem ser de Hespanha, porque os de França não
se podem guardar debaixo do zona tórrida. O que nós levámos es
tragou-se logo que chegámos á linha.
E’ ainda necessário levar velas de cera, porque as de sebo der
retem -se. D eve-se levar provimento de azeite de oliveira para a
nomida, porque é cousa mui sadia no mar, e alem disso mui pres
tável para tempero e molhos; e semelhantemente é necessário ter
azeite de eoco para as luzes.
Sobre tudo é necessário poupar os refrescos e provim entos, por
que sendo a viagem longa e d iflicil, sobrevem muitos accidentes e
enfórmidades, e entre outras a do Escorbuto. O que foi experim en
tado por muitos dos nossos, que em très ou quatro mezes de via
gem tinham, sem consideração comido e dissipado tudo ; e depois
sobrevindo-lhes algumas enfermidades não tinham nada para seu al-
livio; 0 que foi causa de morrerem muitos que não podiam comer
dos mantimentos do navio, que consistiam em carnes salgadas, bis
coito, e peixe salgado.
Mas entre outras cousas deve-se estar advertido das enfermida
des que sobrevem ordinariamente nesta viagem ; como é aquella que
é mui frequente na zona tórrida , c é uma das mais cruéis e p e
nosas, que é possivel ver e sentir; o que eu sei pela haver e x p e
rimentado duas vezes, uma na ida quando chegámos á ilha de São
Lourenço, c outra estando em Goa, onde me accom m etleo na caza-'
cm quê me agazalhava, qae era a de D. Diogo Furta io de M en
donça. Esta enfermidade c uma g ra n ie dor de estomago, que só dá
de noule, mas de um modo tã*o estranho , que quasi que se não
j)ode respirar, e não faz o paciente outra cousa mais que revolver-
.-;e e atormentar-se por causa das incriveis dores que sente. Isto a-
rontece ordinariamente perto da linha onde ha os maiores e mais
violentos calores, e todavia procede de frio, porque o calor excessi
vo do dia attrahe, c faz cxhalar to lo o calor natural do corpo, c so-
hrcvi.ido a noute íica-se tão frouxo e tão abatido, que se não sen
te 0 frio da noute, e adormece-se insensivelmente ao sereno, de sor
te que com a frescura corre o frio todo á bocea do estomago , (jue
por esse respeito íica inchado e com dores. Este mal dura ás vezes
vinte e quatro horas ; mas não deixa de repelir 1res ou quatro dias
depois; e não obedece a outro remedio senão ao calor, como beber
bom vinho dc Hespanlia ou das C a p a ria s, agua ardente, agua de
e=a:icl]a, c outras cousas quentes.
'(
AVISOS PARA A VIAGEM DAS INDIAS CtC.
383
e bem c o S a de tS d
e a r d a „oute. E ’ ll^ar a® c;bt“a ‘‘e“ "aT p e“ as"com
Que igualmente o estoniago; para o
e L tofadas largas a raedida do estomago acolclfoidas
n f . f ni n ^l^odao, cem rmiitos pos cheirosos. E e co-isa cstri-
F i v X d r c a l o T ''' e
toca a outra enfermidade chamada pelos Flollandczes Fscar
^e
cezeses cchamamos
lfa t a X '! :;^ ^ ^ de terra, nao sei porque
mal ^ a qu noisrn (Solla
s'os orp.im
C :
mette no mar, c cura-se em terra; é uma enfermidade mui commiioi
nas longas viagens, e contagiosa, mesmo pela approximacão ou noi
se receber o hal. to dos enfermos. Procede o r d i n ä r s te clL
de ongas da viagem , e demora no mar sem t o m X e r r a e f a Â
fd o ' L t : T i i : : ' / r - '“ p"- «v S
^ z r p r ::i
?aès s lo % s “^ s a s T o m l ® ao sereno da noulc;
Os que são feridos delia ficara inchados como hvdronico^ n a
mchaçao e dura corao páo,
ces, e pescoço, e todas estas partes se cobrem de san^ue^nizado de
co rh v id a e de chumbo; e são como tumores c contusões
os museulos e os nervos inteiriçados e tolhidos. Alem d?sso as <^00
f negras, e mm volumosas; os dentes abalados
e deslocados, ficando mui mal seguros, e até pela maior nn-ie oá-
em. Accresce a isto um hálito tão fétido e infecto quc^nin-^ueni
se pode aproximar do enfermo, e sente-se 0 máo chWr^o de um ex-
tiem o do navio ao outro. Não se perde 0 anetite Tmc n *
modo dos dentes é tal que não se pode conier% aívò cousas iiquH as'
poucas ha nos navios; e todavia lica-se tão esíainia Io e
tdo avido que parece que nem todos os viveres do mun Io basfam
para saciar a fome. »lan 10 oastani
Em (im ha mais incomino lo que dor, a qual pronriamen'e só se sr^n
te na bocea e nas gengivas ,'e rauitas\-ezesX^^^^^^^^^
ii
sr?
comecam a alterar-se e a uicer;ir-<Tí‘ to“ 1
í £ i£
as gtngiva>
pes, desraaio.ç, e dcsfallecimento de' nervos '’ °™
Quando csla vamos na ilha de São Lourm eo morreram dcsla doen
ça tres ou qua Iro dos nossos, e abiimlo-se-lbes a cabeca aebou sH b é
todo 0 cerebro negro, alterado, e podre. Os p .ib n õ l'ííc a ls ê c “o ' t
384 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
97
386 VIAGEM DE FRANCISCO PVRARD .
r ís r d f ip ,!í:£ .r ■ ■ •r-
xa sem outra formalidade e dn mpc«.? i ^
fora. tirada a çaiva do tmucador, e re to 'm o t.v o 'd e '“
laipedim ciito á canna do lem e Voin P\oiivq de causar
caidxa, e de sua auctoridade absoluta repôr aJli a^^'sÎa-^
seram um a outro palavras pesadas / o m in i- l - ’ P*"'® ‘I“ ®
muito custo os sepat,ram K v t m s % S or“ d L ” l “ %*^ *
bom ; e o nosso canitão env^ u intrA
Crescente, a d a r a v i s o a M onsieur ^ bordo d e
sado npdin rirr lu • ^ ^ o n siG U T d t Ia B a i 'd c l i c r e d o ciue e n m « ; -
i M t z s e ' ^ ^
todos os princ paes So dL*^^ n tv in ? '“ '" '“
^ r
0 to'ndo
« <=®^o de
que ouvinSo o m e rca d tr.'Îô r.so ^ o trà sta c t " a r f e t o n l,“ " " ' “ “ ’ • “
ícute^lL^antoT“» Í lít fo ^ i^ h '
r p o f S e ’ ïe t t l S í r “ - '- 'ò í e l :
:" S a f r t S u tS s
primeiro que lhe pozessc niãn 'rn m ;-i/l P'^ote.lando que mataria o
queria parlir dalli fem qSe elle licL sV res^" mas^'ot^^P*'“ ''"®'''
era homem manso c benigno, posto nue fosso f-?
elle mémo ao capitao mór que ífie n e río a s s rp a ^ ’ supplicou
dosdous navios. O capitão mór a^nÓMin n ^
0 mercador não fez apreço alíum di*sA ^ ^upplica ; e comtudo
e orgullioso boniem q u r n S vi o A m ^
to d o l ^ vingativo, e brigão eom
0u í ! r p 7 o fc?í% fn ta ^ bulhas, e
bos, como se faziam entre^nós t'entas vinganças e ron
de noute ao mar o fato uns dos oiifrot; '''” o ‘ nça botavam
seguravam as cainizas e outra m nm cordas que
maldade e travessura aue n^A somma mio havia especie de
doente, zombavam del?e com todá S í ”’
,b J “ y
98
390 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
diziam que era mais uma ração que se poupava nos mantimentosj
Maldiziam até a viagem, e a lo los os que a tinham emprchendido,
de sorte que não havendo alli nem regra nem policia, nem temor
de Dcos, desesperei totalmente do bom successo da nossa em preza.
E se é licito coiijccturar alguma cousa funesta pelos dias direi que
tomei nota de partir de Saint Maló uma sexta feira; em semelhante
dia parti de Goa, das ilhas de Maldiva, de Santa Helena, e do Hra-
2ÍI e nenhuma das minhas viagens foi feliz, como tenho dito.
Èmfim em quanto ao meu particular experimentei que sendo esta
viagem a primeira que íiz por mar, eslreei-me muito mal, poi en-
conlrar homens tão barbaros, tão incivis, e deshumanos; porque en
tre todos os do navio Corvo, a cujo bordo eu hia, não conhecí um
só que fosse meigo e cortez, e que prezasse a honra por pouco que
fosse salvo o nosso capitão chamado Du Cios Ne uf , que era con-
destable de Saint Maló, porque era pessoa de bons costumes , mui
sabio principalmente nas mathematicas, e eín tudo o que diz respei
to ao conhecimento do globo, e da carta nautica; de sorte que nin
guém diria que era Maloino ( a ); pelo que nã^o era prop no para
fazer esta viagem, e era a primeira q^e íazia. Era homem letrado,
e tinha mais ar de cortezão que de outra cousa. Em somma era mui
brando e mui timido para capitão, e os de Sarnt Maló, que se co
nhecem todos, e por isso se estimam menos, não faziam caso algum
de seus mandados; porque nenhum dc nossos capitaes tinha poder
d’ El-Rei nem do tribunal do Parlamento para administrar justiça;
e por isso cada um fazia o que queria. Alem disso era de uma com
pleição melancholica , e assaz delicada e fraca
sendo para grandes fadigas , não tinha as qualidades requisitas a
"um soldado, e a um navegador. O que deve servir de advertência
aos aue querem emprehender grandes viagens , para escolher bem
os homens segundo suas qualidades e condições; porque e mister que
‘OS cabecas e os principaes de taes empresas tenham boas condi-
còes e bops costumes; e eu conheci como pelo máo governo e di-
reccão da nossa nos veio lodo o mal. . ,
E ’ também mister que o capitão seja homem de auctoridade , e
bem nascido, e que entenda da esphera, e da carta da navegação;
outrosim Uque
U lillU O llil U.V
seja soldado , e
^
que
—
supporte facilmente^ a fadiga ,. c
— » A ,
j
sobre tudo
fíK / u x \ y
y
que
^
tenha ___
poder __ n t \ á \ c k c í c k m n c o i i
absoluto sobre osm que
__ , _____ 0/1 Á A a
estam a seu car-
o em n tar_
go e até 0 de os conaemnar á morte. Porque se é da mesma ter
ra^ e de baixo nascimento, não lhe têm respeito; e se elle inten-
ta'fazer*se respeitar á força , ha perigo de algum levantamento. A-
lem disso é mister que elle escolha homens das partes requisitas;
e sobre tudo que não sejam dados ao vinho, motins, nem bulhas;
norque basta um só bulbento no navio para perturbar fjjdo. Depo
is deve pôr por dispenseiros homens lieis. Não deve ralhar com a
DISCURSO
SOBRE AS YIAGENS ÁS REGIÕES RE5SOTAS,
E rO APEBCEBIMENTO NECESSABIO PARA AS EMPREUENBEB B IILM EN IB,
B FORBÂR DELLÂ8 BELAÇÕES EXACTAS:
D o a p e r c e b im e n to n e c e s s á r io p a r a v i a j a r u tilm e n te nas m a is r e m o ta s
r e g iõ e s ,
r . ‘- S í ^ e t t r
K £4?t-- A^^acfíTiots £ S f -
do commum, como igualmente das diversas
pode ser mui util a de soht^r f^ypr
cn artes
^ a jte s, entre as quaes
rl ‘
es que se podem e n c o m rt^ L m gem !'“'“ ^
0. Ter adquirido a'gum conhecimento da liugiia do nai/ nn,i„
se vai ou daquella que ahi é entendida pela maior Mrte dã cê^
t^e , cultnal-a quando para lá se caminha pelo au-ilio dos hvfes*
ou de alguém que a entenda, se por acaso se podè éncontr ^
por qualquer outro modo; pois a vantagem que^damif resi fá n ?l
SC pode assaz estimar. ® ^ «aqui resulta nao
6. Senão se tem todas estas luzes e conhecimentos Hpvíí
curar de os supprir associando-se a alguém uue os nossin^
sa pessoa e docij, razoavel e nronrii n-im pav» e se es-
zade, alem do auxilio que se^ ganharem tod^ n^
prazer , e consolação de^ uma tal corananhii o^^casioes, e do
melhor instruído de todas as cotisas nefss Intpc mlinitamente
dão um ao outro os companheirofde^ vuagé^^^
V
ger^alfmaVetu S ie T c L * V c 1 rta “ q u a ll' s f p L l p t r íf c íf T
lha™osvfaJa“ut“ s!' V e mais V '
1. Por que elles ordinariamente esquecem ou flesnri»<am a-
» “ ,ir r v í; r r ,; ^ .; i
qualquer parte em que se ache n os dilFereutcs ohipftnç^a’
V S s V
«m pai. e do seus luhitaatvs, se redaz a’ o'%a'pUufos segmn'«“ “ “
396 VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD
Das Relaçòcs.
DESCRIPÇÃO EXACTA
B A COHTA B ’ A F R I C A .
ze^nín^cavalVoV^^P e quin-
dar«altos^P rnm»«r.r^ coDgregado muitas Iribus passaram a
fe T u o s ^ ^ K r : S^^e^s
là r^ c re ir';'» “
de^nbrTraTos“‘^ íc ,!« * possuído por muitos chefes
ouc Gueilhau dn= especialmeute por Xeque Bembonker, e por x t
Slamoraf SaTé, e Fu3ella®*ou" K í a ® e ® f *'®
Tetuão Tanffpr « Arl-n e o segundo para as partes de
Os Mouro"®de lató Z a ^ ? ± '®!? ® P” >>eipal fortaleza.
Hespanha, que vieram no a n í f riTÍfiOft*^'': Mouriscos expulsos de
dita costa da Aíauritania i ® Passando ao longo da
dade de Salé em grLde’ nSmm áquella ci-
dinos, como tamhem Andaluzes , como Grana-
Divan. Os Mouros rermlní^í^^^^^’ ^ <“J*Jg‘r8ni em republica e em
Salé velha, e os ditos Mouri«fríI« r ^ g*’3Dde cidade que se chama
que se chama Rieval MetiP^Pm ai "^'^«de nova .
corsários por se vincarem díí guarniçao na fortaleza, e fizeram-se
I t^ rn ^ ^ m a rT té tra Z q rd ^ e
hera mil pés quadrados. Esta agua passa depois a outro jardim ma-
ior, chamado
lado EEll Abessera, que é_ cheio
......... ....................
de ruas de laraiigeiras , li-
moeiros, palmeiras de tamaras, oliveiras, amendoeiras, figueiras’, e
romeiras, entremeiadas de arbustos de jasmim, e outras flores chei
rosas. Destes dous jardins, que são públicos e de uso conimum, es
ta agua passa ao bello palacio do rei, chamando Elbedeh , onde se
diz (porque não entrei nelle ) que forma quatro lagos, abaixo dos
quaes ha quatro jardins, o topo de cujas arvores toca ao rez da bor
la dos ditos lagos, de sorte que estes jardins estam em baixo e os
ditos lagos em cima, bem compassados, ficando um jardim entre do
ns lagos, e um lago entre dous jardins.
Os reis de Marrocos dão ordinariamente suas audiências debaixo
do gande portal deste palacio; assim como se faz em Constantinopla.
Alguns reis tem havido, que depois de ter feito recolher as mulhe
res em seu serralho por sua camareira mór , que se chama Lanssi
Ramena, tem dado audiência dentro do palacio a alguns embaixa
dores, mas mui raras vezes, em uma longa sala, cuja abóbada e pa
redes são cobertas de fino ouro da grossura de um ducado, alem da
qual sala ha outros muitos bellos apozenios, segundo nos contavam
os eunucos guardas do dito palacio , e as mulheres judias que alli
entravam a levar os provimentos.
Contigua a esta caza ha outra, que se chama o Michouard , onde
residem os Elchats ou renegados, que acompanham o rei quando
sáe. Ha também outra caza que se chama das Rachas , isto he ,
caza do dizimo , e a esta caza são obrigados os mercadores chris-
tãos a acudir com todas as suas mercadorias, eahi o Lumina Sul
tão , ou thesoureiro d’ El-R ei hia receber o direito Lehetel isto
é , 0 direito ligitimo, convem a saher , de cala dez fardos de fa
zenda iguaes um, e assim no demais. Ha ainda outras cazas con
tíguas, mode moram os alcaides eunucos, e outros oíliciaes , e ainda
um jardim commum , no qual ha uma caverna de leões, e tudo isto
n úm grande recinto murado, chamado Aliá Seba (a), como cm Paris
0 Louvre.
Junto a esta cerca ha uma grande mesquita, do comprimento de
cem passos, e sobre esta mesquita uma torre quadrada, da qual sáe
pela parle superior um grosso varão de ferro, em que estam enfia
das très bolas de ouro; a primeira mui grossa, a outra de cima
menor, e a outra mais décima ainla menor , as quaes bolas de ou
ro, principalmente a debaixo, e a mais grossa, estam amolgadas
de muitos pelouros de mosquete que lhe foram atirados, e ainda
em algumas partes passadas de meio a meio; porque não são massisas, mas
somente da gtossui’a de um dedo; do que tendo-me eu admirado,
e perguntado a mouros velhos o motivo porque se haviam atirado
estes tiros de mosquete, me responderánv que haviam sido os sol-
fa; Será—Afcaíf6a ?
m VIAGEM DE FRANaSCO PYRARD f,*:
.'íí-
dados de Jacob Elmançor quando tomaram a cidade que os haviam
atirado ; e perguntando eu ainda porque não tinham elles leva
do aquellas bolas, disseram que o não haviam ousado a fazer por
serem sagradas.
No extremo desta mesquita ha uma sala em forma de capella ,que
é onde são sepultados os reis de Marrocos, e nella os Chrislãos entravám
livremente acompanhados do porteiro, eahi vi muitos monumentos que
não sul)iam a maior altura que dous óu très pés somente acima do
chão. Esta sala é de abóbada, a qual, e as paredes são cobertas de
mosaico concavo , cujas concavidades são douradas de fino ouro da
grossura de um ducado.
A quinhentos passos deste logar ha um grande recinto murado ,
do tamanho de Magny, o qual he a Judaria, onde ha muitos Judeos,
que tem svnagoga ; e boas cazas. Tem só uma porta , que se fecha
á noute. e" se abre pela m anhã, debaixo da vigilancia de um especi
al encarregado.
A cincoenta passos dalli ha uma grande caza , ou por melhor di
zer prizão , que se chama Segena , que é onde estam os pobres cap
tives christãos, edonde saem pela manhã para ir ao trabalho, e fi
cam encerrados á noute.
A mil passos dalli ha um grande recinto de cazas, chamado a
Alfandega, e é onde assistem os mercadores christaõs, na qual cada
nação tinha os seus aposentos quando alli assistiam ; e esta caw
era lambem sugeita a ser fechada á noute, e aberta pela manhã,
para o que havia um porteiro, que disso tinha cargo.
Ha também neste bairro uma grande mesquita, que tem uma am
pla torre, a qual se diz ser semelhante a outra que ha em Sevilha
em Hespanha , e fabricada pelo mesmo archilecto. Não entrei nesta
torre, mas asseveraram-me que quatro cavalleiros a M r podem subir •'rt-
até ao mais alto delia , e ainda uma carroça o pode fazer. í:
Perto dalli ha uma grande cerca onde está a prizão dos Albauros,
e junto delia muitas cazinhas, onde mettiam os mercadores cliris-
taõs e judeos, que o tinham merecido. . , > 3
Em toda esta grande cidade não ha todavia mais de dous juizes,
um Cadv, que é o juiz do civel, e um Jlaquin, que é o ju izd o
crime. O Cadv sentado á porta de sua caza, ou dentro do seu pa
tio dá andiencia ás parles verhalmente, as quaes logo julga, e man
da dar á execução a sua sentença verba[, porque não tem escri
vão, mas ha junto dclle citairios, que são uma especie de raeiri-
nhos que vão dar á e.xecução o mandado , ou raetter na cadea o
condemnado. E porque alguém se poderá admirar da facilidade com
que qualquer pessoa faz comparecer perante aquelle juiz a outra par
te sem citação nem intimação, cumpre saber que quando unaa pes
soa tem apregoado na rua a outra pessoa com as palavras Aoi sei
chera, isto é, vem á justiça, é mister que esta vá logo sem deten-
ça, porque aliás correria risco de ser apedrejada pelo povo, que
DESCUIPCAO DA COSTA D AFRICA 405
não aclia coiisa alguma mui razoavel do que comparecer em justiça.
Quanto ao llaquiu ou juiz do crime , tem diante da sua caza
um-a grande praça onde lia pranchas, e páos arvorados, no alio dos
(juaes ha ganchos de ferro , em que se espetam os (jiie Scão con-
demnados a este suppiicio. \garrain n’ um homem pebs pés , ou
pelos homhros , e m-no sobre estes ganchos, e seja (jiial íbr
0 logar I or onde H[ue preso, assim o deixam ate morrer, de sor
te (jue é melhor para o padecente íicar cravado pelo logar mais
mortal. Este ílaquin lem também em sua caza espadas em cabides
para cortar as cabeças , e bordões para bastonar os menos crimi
nosos. E como elle tem ordinariamente muito que fazer , e a cida
de é grande, ha um seu tenente, que esta n’ uma tenda perto de
Yalcaseba (a) , o qual da sua parte exerce a mesma jurisdição.
Esta cidade é mui grande, mas as suas ruas, e a apparencia das
cazas não são melhores que as das nossas villas. Tem algumas :a-
zas bonitas; mas a maior parte não tem mais que um, ou dous an
dares ao muito. As ruas não são calçadas, e por isso são lama iv.l
centas quando chove , e cheias de pó no verão. Desde Abril até
Outubro não ha alli chuvas, mas grande calor de dia , e grande
orvalho de noiite.
Os Mouros são mui ciumentos, e não imaginam que possa haver
mulher honesta; e por isso não vão uns ás cazas dos outros sem
ahi estar o dono délias, c esto ter manlaJo recolher suas mulhe
res.
Deixámos as aguas das montanhas no palacio do rei , chamado
Redel. Dalli estas aguas vão regar e prover a dita cidade em mui
tos logares, e depois saindo delia entre as duas portas chamadas do
Cany e de Duquella , juntam-se , e formam um no nias vadeavel ,
í|ue corre para oceidente a entrar no mar enlr Mogador e Saíim.
Este rio chama-se o Tausit.
Antes de sair de Marrocos não cáe rml fallar de algumas acções
de Mulcy Zidan , que alli rclna\a, quando eu lí estive. Houve um
dia grande briga entre os caplivos franccics da Semana , entre os
quaes havia grande numero de Provetiçaes , e de Uociielezes. .A-
qiielles faziam as suas devoções a um cuit) laS ig aiia, on lc havia
uma capcila, c alguns Padres também caplivos lhes diziam alli mis-
.sa; no extremo opposto estavam os ou lro', que faziam as suis
devoções a seu modo em seu> cubic ihs. Os Provcne.ics amotinadas
foram perturbar os Uociielezes, sobre o (pie hmve tint) barníno
que 0 Alcaide da Seguia se vio obrigad > a dar co:iti a Muley Zidan,
que mandou lhe levassem dous de cadi parte , o que foi feito ; o
logo os mercadores francezes correram a elle para interceder cad i
um pelo seu partido; mas o rei depois de ouvir as partes, e saber
que a briga era sobre pontos de religião miiidou (l,i,ir a cada um
( a) X lc a íe b a ?
m
VÍAGEM DE FRANCISCO PYRARD
FÍM
INDICE
O A SEGtJIViîA P A R ' î ' e .
Pag
P R E Â M B U L O ...................................................................................... j
C A d iU L O 1. C h e g a d a a O oa. U escripçào de seu
h o s p i t a l , e p' ri soe' ^. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CAPITU LO I I . D e s c r i p ç à o d a li ha de G o a , e d e s e
u s h a b i t a n t e s , e d o m i n a d o r e s .................. . 23
CAPITU LO III. D a C id a d e de G o a, suas praças,
i g r e j a s , p a l a c i o s , e o u t r o s e d i f í c i o s ....... . . 33
CAPITU LO IV. D os m ercados, escravos, m oedas, a-
g u a s , e o u t r a s c o u s a s n o t á v e i s d e G o a ........... 5 [
CAPITU LO V. D o governo de G o a, do vice-R ei,
s u a co rte, e m a g n i f i c ê n c i a ..................... 03
CAPITU LO VI. ü o A rcebisp o de G o a, Inquisição,
E c c le s ia s tic o s , e c e r im ô n i a s , q u e alli se
o b s e r v a m ....................................................
CAPITU LO VII. Dos exercícios e jogos dos P o r-
tu g u s z e s , M estiço s, e outros C hristaos e m
G o a ; e de seus usos e m o d o d e v i d a , e de
s u a s m u l h e r e s ............................... 94
CAPITU LO V III. D o s soldados portuguezes em
G oa; de seu m odo de vida , e em barques;
de suas diversas exp ed ições; e ordem que
guardam n a g u e r r a ................ lOo
C A PIIU LO IX . D o Reino de Dealcão, Decan, ou
B a l l a g a t e n a v i s i n h a n ç a d e G o a . ... .......... 114
CAPITU LO X. V i a g e m do auctor á ilha do Ceilào,
6 d e s c r i p ç à o d e l i a ......... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
CAPITU LO X I. De M alaca, sua descripçào, e do
m e m o r á v e l c e r c o , q u e os H o U a n d e z e s l h e
p o z e r a m ....................................................... 131
CAPITU LO XII. D a s ilhas d a S o n d a , S u m a t r a , e
J a v a ; d as c i d a d e s d e B a n t a m e T u b a m ; i-
Ihas d e M a d u r a , B a l l i , d e M a l u c o , e B a n
d a ....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13G
CAPITU LO XIII. D a s c o u s a s s i n g u l a r e s , q u e se
ex tra h e m das ilhas de S u m atra , J a v a , Bor*
néo, e das P h ilip p in a s e M a n ilh a . D a C n i -
Pag.
n ■ ). e ilo J a p i T o , e d o t r a f i c o , q u e d e s t a s
p a r t e s s e i ' a z e i n G o à t ........................................... ^ i iîi
C A lM rG L () X IV. Da í’o f > m a e f e i t i o d o s n a v i o s
p o r l u g u e z e s d a c a r r e i r a d a I n d i a : e (ia o r
d em , e polícia q u e a b o r d o d e ü e s se
g u a r d a , assina n a i d a c o m o na torna
v i a g e m .......................................................
C \P I 11'íiO XV, D o t r a f i c o d o s P o r t u g u e z e s p o r to)-
(ia a í n d i a e m g e r a l , e d a o r d e m q u e n i s s o
g n a r d a m .........................................
( A! Í I L Í X ) X V I . Do trafico no Brazil, Rio da Pra
ta. Angola, (' ongo, S . Th o mé , Alina, e dos
escravos d ’ A f r i c a ..................................... j 90
C A P IlU L O X VÍÍ. D o t r a f i c o ern M o ç a m b i q u e , S o -
íala, C u a m a , A lelind e, iMornbaça, S o c o to rá ,
e outros logares. D o cerco de à ío c a m b iq u e ,
e 0 q u e d e l i e r e s u l t o u .................1 q c
CAPITU LO x y ill. D o r o i n o d e O r m u z , snâ d e s ’-
c r i p ç a o , e d o c a s t i g o d e urn P r i n c i p e d e
O r m u z e m G o a ........... . -
C A I'IÏU I.O X IX . D,, ., , e i n o s d e C a m b ; ; ; ; ' S u ' r l ®
rate, d o G r ã o M o g o r , D i u , e d o resto d a
costa da ín d ia e M alabar; do R e i de
CAPITÍTT p e r f í d i a ................................ 914
u t i l l . JAr A X . iMuitas p resa s de n a v io p o r t u g u e -
?es, e outras c o u z a s s u c c e d i d a s na L u l i a
í" l í M T r i J ^Icteve ein G o a . . 229
(. R m b arq n e do auctor em G o a .
R atad o das ín d ia s n a q u elle tem po. Prisão,
d o auctor, e seu livram en to . C h e g a d a de
í ’A Pi:rirr ® outras cousas a este intento. 2 :U
^ X X íí Partida de G o a; m odo dos e m
barques; ração a bordo; tr a ta m e n to do auc*
tor; b i c h o s d a í n d i a ................. 9 i0
CAÍ IIU í/) X X íIÍ. Torna- viagem doaucior; avista-
se a Ilh a de D io g o R o d r ig u e s : to rm en ta
horrivel: p ied o so s a c c id e n te s ; T e r r a de N a
tal; C a b o d a B o a E s p e r a n ç a ; t e m p e s t a d e s ,
e c a l m a s .............. 9 .0
CA IT T U L O X X IV . ] l h a d e ” “s a n t V * H i d e n a ’ ;' ‘ .^uk
descripçuo o e que alli
nos succedeo___ 255
Gã i IIULO XXV. Parlida de Sania H elena; acci.
I e n te s u c c e d i d o ao navio; m e r g u lh id o r
^^ancez; c h e g a d a a o B r a z i l ; p e r d a d o na*
C Arpj[’U L o XX VI *
* « * * * r ............... *................
Brazil, e suas sin gu larid a-
aconteceo em quanto
a u c t o r la e s t e v e . . . . . . . . . . . 0^7
G AM ILLO X X V ir, S a ld a do B razil;'V ern am bü co;
i lh a s dos A ço r e s; B e r ie n g a s em Porlii-
p i ; grande tormenta; Ilhas de B ayon a;
jo r n a d a a S. T t n a g o ; regresso do auctor,
a d d e n d u m . * " . . . . . . . . ..............
O B yE R V A C O E S G E O G R A 'p H 'l'c'A S so b r'e'a'via gm 'n V i;
P ran crsco Pyrard p or P. D «vai, G eo gra p h o
^ a E l . R e i d e F r a n ç a ....... ^ ^ 900
OISSERVAÇÜKS s o b r e a s e g u n d a o a r t e ..................... nno
T K iT iO O B O E SC R /M O
por si p r o d u z to d a s as c o m m o d i d a d e S y
c cousas necessárias á vida do h o m e m . . 37I
A V I S O S aos q u e q u i z e r e m e m p r e h e n d e r a v i a g e m
das índias Orientaes. D a ordem e policia q u e
os F r a n c e z e s g u a r d a m e m s u a n a v e g a ç ã o . D o s
g r a n d e s e r r o s e d e s o r d e n s q u e e l l e s n i s s o oomet-
tern, c o m s e u s e x e m p l o s , e u m a a d v e r t ê n c i a p a r a
os evitar, por F r a n c is c o P y r a r d ................................. 38^1
D I S C U R S O S sobre as v ia g e n s ás regiões r e m o ta s , e
do a p e r c e b im e n to n ecessário p ara as e m p r e h e n
der utilm ente, e formar délias relações e x a c ta s ,
por M. N. N..................... ............... ........................ 392
DESCRirCAO EXACTA da costa d’
Africa............ 40<J
Pag. lin,
8 28 enroladas— lae-$e— enroladas com suas cintas,
10 32 admittim— lease— admiltem.
54 22 uerndy por— /m-sg— uemdy ha Senhora Maria Ro
drigues, dona viuva, por
05 33 ioeut— lease— iouent.
120 6 e mbai xadores— /ea-se — embaidore s.
150 29 Macáo não é ilha— lease— Macáo propriamen
te não é ilha, mas peninsula pretencente á ilfia
de Ançam.
17 5 29 baixos de Judas— lease— baixos da Judia,
309 1 prôa 0 por— /ea-se— prôa e por
317 1 fabricada— lease — fabricado.
339 36 Xioco — lease— Xicoco,
350 29 dizem— — dizer,
33 m ais—lease— mas.
351 1 mediteranio— lease— mediterrâneo,
20 quinhetos— lease— quinhentos,
44 lhes—lease
356 ult. 30 0 0 0 1— /^a-se-loOOOO.
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