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Introdução à

Ciência dos Materiais


Poliana Borges Bringel

Técnico em Metalurgia

Elaboração Impressão
Introdução à
Ciência dos Materiais
Poliana Borges Bringel

UFMT

Cuiabá - MT
2013

Nome da Aula 3 e-Tec Brasil


Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Diretoria de Integração das Redes de Educação Profissional e Tecnológica

© Este caderno foi elaborado pelo Instituto Federal do Pará / PA, para a Rede e-Tec
Brasil, do Ministério da Educação em parceria com a Universidade Federal de Mato
Grosso.

Equipe de Revisão Instituto Federal Tecnológico do Pará – PA

Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT Coordenador Institucional


Erick Alexandre de Oliveira Fontes
Coordenação Institucional
Carlos Rinaldi Coordenador de Curso
Antonio Roberto Oliveira
Coordenação de Produção de Material
Didático Impresso Equipe Técnica
Pedro Roberto Piloni Carlos Lemos Barboza
Darlindo Veloso
Designer Educacional Gisely Regina Lima Rebelo
Wuyllen Soares Pinheiro

Designer Master
Neure Rejane Alves da Silva

Ilustração e Diagramação
Verônica Hirata

Revisão de Língua Portuguesa


Marta Maria Covezzi

Revisão Científica

Projeto Gráfico
Rede e-Tec Brasil/UFMT
Apresentação Rede e-Tec Brasil

Prezado(a) estudante,

Bem-vindo(a) à Rede e-Tec Brasil!

Você faz parte de uma rede nacional de ensino, que por sua vez constitui uma das ações do
Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. O Pronatec, instituído
pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar
a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira,
propiciando caminho de acesso mais rápido ao emprego.

É neste âmbito que as ações da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre a Secretaria
de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e as instâncias promotoras de ensino técnico
como os institutos federais, as secretarias de educação dos estados, as universidades, as es-
colas e colégios tecnológicos e o Sistema S.

A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade re-


gional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação
de qualidade e ao promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões
distantes, geograficamente ou economicamente, dos grandes centros.

A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos técnicos a todas as regiões do país, incentivando os
estudantes a concluir o ensino médio e a realizar uma formação e atualização contínuas. Os
cursos são ofertados pelas instituições de educação profissional e o atendimento ao estudan-
te é realizado tanto nas sedes das instituições quanto em suas unidades remotas, os polos.

Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educação profissional qualificada – in-
tegradora do ensino médio e da educação técnica - capaz de promover o cidadão com ca-
pacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da
realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética.

Nós acreditamos em você!


Desejamos sucesso na sua formação profissional!
Ministério da Educação
Maio de 2013
Nosso contato
etecbrasil@mec.gov.br

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Indicação de Ícones

Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de lin-


guagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.

Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto


ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado.

Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão uti-


lizada no texto.

Mídias integradas: remete o tema para outras fontes: livros, filmes,


músicas, sites, programas de TV.

Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes


níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e con-
ferir o seu domínio do tema estudado.

Reflita: momento de uma pausa na leitura para refletir/escrever so-


bre pontos importantes e/ou questionamentos.

7 Rede e-Tec Brasil


Palavra da Professora-Autora

Caro estudante,

É um grande prazer podermos ter você participando conosco do curso a


distância em Introdução à Ciência dos Materiais, ofertado pelo Instituto Fe-
deral de Educação Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA. Esperamos que estas
aulas sejam úteis para você compreender como o curso está estruturado,
que atividades serão realizadas e como você será avaliado. É de fundamental
importância que você, estudante, assim que iniciar o curso, responda ao
formulário de perfil do participante que está disponível no ambiente virtual
de aprendizagem Moodle.

Para que seus estudos tenham pleno sucesso, além de realizar as leituras e
atividades, sugerimos que você estabeleça uma carga horária semanal de es-
tudos (por exemplo, duas horas semanais) e a cumpra com compromisso, a
fim de que isso se torne um hábito. É fundamental que você fique à vontade
para entrar em contato com seu tutor para esclarecer qualquer dúvida, seja
em relação ao conteúdo da disciplina, aos critérios de avaliação ou a qual-
quer outro assunto. Use para isso a sala de bate-papo disponível no Moodle.

Desejamos a você um ótimo estudo e esperamos que goste de participar


de um curso que oferece oportunidades de fundamentação teórica, facili-
tadoras na construção de metodologias adequadas ao processo de ensino
aprendizagem de alunos técnicos profissionalizantes da área da indústria.

9 Rede e-Tec Brasil


Apresentação da Disciplina

Com conteúdos e atividades distribuídos em uma carga horária de 40 ho-


ras, o curso busca contribuir na compreensão da importância dos materiais
como marco definidor da evolução da humanidade, como também da in-
terrelação entre ciência e engenharia dos materiais, em nível de estruturas e
propriedades, os possíveis defeitos dos materiais, tornando o conhecimento
acessível aos alunos dos diversos cursos técnicos profissionalizantes da área
da indústria.

Organizamos o curso em 6 aulas, que contam com uma estrutura composta


pelo material didático e atividades. Todas as atividades deverão ser realizadas
ao longo dos estudos, pois serão fundamentais em seu processo de avalia-
ção. É importante ressaltar que, no Moodle, há um cronograma de entrega
de atividades disponível que você deve consultar sempre para não perder os
prazos, pois é necessário que você cumpra pontualmente seus compromis-
sos para não prejudicar seu desempenho no curso.

A esta altura, você deve estar se perguntando: E como serei avaliado neste
processo?

Como a avaliação é muito importante no processo ensino-aprendizagem,


dedicamos uma atenção especial a ela. Vamos realizá-la de forma processual
e qualitativa. Então, é importante que você tenha em mente que o mais
importante neste curso não é obter uma nota, mas que você efetivamente
construa conhecimentos acerca do que será abordado ao longo dos módu-
los. E a única maneira que temos para acompanhar sua caminhada é através
das respostas que você dá às atividades. Por isso, para que você conclua com
sucesso o curso, terá que entregar, dentro dos prazos estabelecidos, as ativi-
dades por aula concluída, que serão devidamente comentadas e aprovadas
por um tutor. Finalizando 3 atividades corrigidas (a cada 3 aulas concluídas),
será realizada uma avaliação; no total, o curso terá 2 avaliações.

Os materiais têm sido importantes na cultura humana desde milênios de


anos atrás, quando os primeiros seres humanos tiveram acesso apenas a
um número limitado de materiais, os naturais. Prova disso é que transporte,
habitação, vestuário, comunicação, recreação, proteção, produção de ali-

11 Rede e-Tec Brasil


mentos e outros, virtualmente, cada segmento de nossa vida diária é influen-
ciado, em maior ou menor grau, pelos materiais; enfim, tudo que está ligado
à sobrevivência.

Faremos um breve histórico da importância dos materiais como marco defi-


nidor da evolução da humanidade, será abordada também a interrelação en-
tre ciência e engenharia dos materiais, em nível de estruturas, propriedades
e suas influências na fabricação e desempenho dos materiais.

No início da pré-história, o principal material utilizado na confecção de ob-


jetos e ferramentas era o sílex lascado. Em seguida, o homem produziu seus
utensílios a partir da pedra polida. Com a descoberta do fogo e com o início
do uso do barro na fabricação de objetos, iniciou-se a fabricação de peças
cerâmicas. A possibilidade de transformar um material maleável em outro,
com propriedades mecânicas totalmente diferentes, marcou o início da ciên-
cia e engenharia dos materiais.

Diante do que vimos agora, você tinha ideia da evolução dos materiais desde
a antiguidade até hoje? Vamos então analisar o gráfico abaixo?

Com a descoberta dos metais, nos últimos períodos da idade da pedra, tem
início a nova e importante etapa do desenvolvimento da humanidade. Para
refinar e moldar apropriadamente o metal, foi utilizado o fogo, o que deu
origem à metalurgia.

A baixa resistência mecânica do cobre estimulou alternativas para se produ-


zir um material mais resistente, o que levou à mistura deste metal, inicial-
mente com o arsênio e depois com o estanho, o que resultou no bronze.
Ainda na pré-história, o homem processou e utilizou ferro na confecção de
ferramentas, armamentos e utensílios, como mostra a figura 01, que rela-
ciona a importância do desenvolvimento de materiais desde o final da idade
da pedra aos dias atuais.

Há mais de 4.000 anos, o processo de fundição por cera perdida foi conce-
bido. Nesta técnica, o objeto a ser produzido era esculpido em cera, que em
seguida era recoberto com uma massa refratária. Ao se aquecer a escultura
e seu recobrimento, a cera podia ser eliminada, resultando em uma cavidade
no interior da massa refratária. A fundição era elaborada com o preenchi-
mento dessa cavidade pelo metal líquido.

Rede e-Tec Brasil 12 Introdução à Ciência dos Materiais


O objeto fundido era obtido pela quebra do molde. Apesar de esse pro-
cedimento existir há alguns milhares de anos, a fundição por cera perdida
Ferro fundido - Liga Fe-C,
é ainda hoje utilizada na fabricação de uma gama muito diversificada de suficientemente rica em carbono
a fim de produzir um líquido
produtos, como próteses odontológicas e ortopédicas ou componentes de eutético durante a solidificação.
turbinas aeronáuticas. Na prática, isto significa mais
carbono do que a quantidade
máxima disponível no ferro
gama (mais que 2%).

FIGURA 01 - Figura baseada em material do Prof. Arlindo Silva do Instituto Superior


Técnico da Universidade de Portugal.

Milhares de anos mais tarde, o desenvolvimento de novos processos de pro-


dução dos aços e dos ferros fundidos permitiu a viabilização da revolução
industrial. Neste século, o desenvolvimento dos materiais poliméricos, dos
materiais compósitos avançados, das cerâmicas de engenharia, dos aços
inoxidáveis, das ligas de titânio, dos materiais semicondutores, dos bioma-
teriais permitiu avanços significativos em inúmeras áreas, como a medicina,
a odontologia, a indústria aeroespacial, eletrônica, automobilística, naval e
mecânica.

Então, agora, vamos aos estudos?

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Sumário

Aula 1 - Introdução à Ciência e Engenharia dos Materiais 17


1.1 Classificação dos Materiais 18

Aula 2 - Estrutura Atômica 25


2.1 Conceitos Fundamentais 26
2.2 Elétrons em Átomos 27

Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido 37


3.1 Ligações Primárias ou Fortes 38

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 45


4.1 Formação dos Materiais 46
4.2 Tipos de Estruturas Cristalinas 50
4.3 Densidade Linear 51

Aula 5 - Defeitos Cristalinos 55


5.1 Principais Tipos de Defeitos Cristalinos 55

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 61


6.1 Propriedades mecânicas 62
6.2 Propriedades elétricas 66
6.3 Propriedades térmicas 70
6.4 Propriedades Magnéticas 74
6.5 Propriedades ópticas 79

Palavras finais 86

Referências 87

Currículo da Professora-Autora 88

15 Rede e-Tec Brasil


Rede e-Tec Brasil 16 Introdução à Ciência dos Materiais
Aula 1 - Introdução à Ciência e
Engenharia dos Materiais

Objetivos:

• Reconhecer a importância dos conhecimentos em Ciência e En-


genharia de Materiais;

• Identificar os campos de aplicações tecnológicas da Ciência e


Engenharia de Materiais

• Conceituar materiais;

• Apontar as características principais dos 6 tipos de materiais


estudados;

• Demonstrar a relação entre a estrutura interna e o comporta-


mento dos materiais;

• Explicar como o comportamento final dos materiais depende de


suas propriedades

Prezado estudante, a área do conhecimento denominada Ciência e Enge-


nharia de Materiais tem como finalidade estudar como ocorre a força mo-
triz acelerativa à evolução dos materiais, que atua como instrumento de
fundamental importância em vários campos dos conhecimentos científicos
e tecnológicos, como o da medicina, da indústria eletrônica, farmacêutica,
química, metalúrgica e mecânica.

Esses materiais estão totalmente a nossa volta; engajados em nossa cultura


e presentes em nossa mais ampla existência. Eles têm estado tão intimamen-
te ligados ao homem, que acabaram por dar nome a Idades da civilização,
como a da Pedra, a do Bronze e a do Ferro.

Aula 1 - Introdução à Ciência e Engenharia dos Materiais 17 Rede e-Tec Brasil


Mas, o que são materiais? Como os entendemos, manipulamos e usamos?
Bem, de forma mais específica, são as substâncias cujas propriedades as
tornam utilizáveis em estruturas, máquinas, dispositivos ou produtos con-
sumíveis. Sua produção e seu processamento visando à obtenção de produ-
tos acabados absorvem alta percentagem dos empregos e contribuem com
grande parcela do produto nacional bruto.

A ciência dos materiais está associada ao desenvolvimento e geração de co-


nhecimento fundamental sobre os materiais, tentando compreender o com-
portamento dos materiais em função de sua estrutura, devido aos arranjos
dos seus componentes internos – subatômica, microscópica e macroscópica,
e dos processos utilizados em seu processamento.

Por outro lado, em complemento à ciência, a engenharia dos materiais cor-


relaciona as estruturas e as propriedades ao projeto, ao desempenho dos
materiais e à otimização de processos de transformação dos materiais em
produtos finais.

Assim sendo, engenharia e ciência dos materiais constituem-se de um “es-


queleto” no qual profissionais de várias disciplinas trabalham para provar os
processos da natureza e avançar o seu conhecimento objetivando responder
ao conjunto das necessidades humanas.

1.1 Classificação dos Materiais


Os materiais industriais podem ser separados em dois grandes grupos: ma-
Os materiais têm sido
importantes na cultura humana teriais não metálicos e materiais metálicos. A tabela 01 esquematiza estes
desde milênios de anos atrás, grupos de materiais em subclasse, alguns exemplos e ligação predominante.
quando os primeiros seres
humanos tiveram acesso apenas Este esquema é baseado principalmente na constituição química e estrutura
a um número limitado de
materiais, os naturais. Prova atômica e muitos materiais caem num distinto grupamento ou num outro,
disso, que transporte, habitação, embora existam alguns intermediários. Em adição, existem dois outros gru-
vestuário, comunicação,
recreação, proteção, produção de pos de importantes materiais de engenharia: compósitos e semicondutores.
alimentos e outros virtualmente
cada seguimento de nossas
vidas diárias são influenciados Uma breve explanação dos tipos de materiais e características representati-
em maior ou menor grau pelos
materiais, enfim, em tudo que vas é oferecida no texto e, posteriormente, serão explorados os vários ele-
está ligado a sobrevivência. mentos estruturais e propriedades para cada um.

Rede e-Tec Brasil 18 Introdução à Ciência dos Materiais


Materiais Exemplo Tipo de Ligação
Alumina (Al2O3), Zircônica, Carbetos, Nitretos,
Cerâmicos Iônica e Covalente
Cimento, Vidros, Amianto etc.
Não Metálicos
Teflon, Nylon, Resinas, Vinílicos, PS, PE, PVC,
Polímeros Covalente
Borracha, Couro etc.
Alumínio, Cobre, Níquel, Cromo, Estanho, Chum-
Metais
Metálicos bo, Ouro, Prata etc. Metálica
Liga Metálica Aço-comum, Aço-inox, Latão, Bronze etc.

TABELA 01 – Classificação geral dos materiais industriais. Material didático, Prof.Poliana, IFPA.

1.1.1 Materiais metálicos


Materiais metálicos são normalmente combinações de elementos metálicos.
Eles têm grande número de elétrons não localizados, isto é, estes elétrons
não estão amarrados a particulares átomos. Muitas propriedades de metais
são diretamente atribuíveis a estes elétrons.

Em função do arranjo atômico, os materiais metálicos apresentam, em geral,


boa resistência mecânica e podem ser deformados permanentemente sob a
ação de forças externas. Além disso, como resultado das ligações metálicas,
eles são bons condutores de calor e eletricidade, também são metais bas-
tante fortes, ainda deformáveis, que respondem pelo seu extensivo uso em
aplicações estruturais.

Dentre os materiais metálicos, destacam-se as ligas de alumínio, larga-


mente empregadas na construção de aeronaves e como cabos condutores
de energia elétrica; as ligas de titânio usadas na confecção de implantes
ortopédicos; e as superligas de níquel, apropriadas para a fabricação de
componentes para operação em temperaturas elevadas. Os metais são
vitais para a indústria moderna, pois seu uso ocorre em uma gama de
aplicações excepcionalmente diversificada, da indústria de microeletrônica
à automotiva.

1.1.2 Materiais cerâmicos


Cerâmicas são compostos de elementos metálicos e não metálicos: eles são
muito frequentemente óxidos, nitretos e carbetos. A larga faixa de materiais
que caem dentro desta classificação inclui cerâmicas que são compostas de
minerais de argilas, cimento e vidro.

Aula 1 - Introdução à Ciência e Engenharia dos Materiais 19 Rede e-Tec Brasil


Em função do arranjo atômico e das ligações químicas presentes, os ma-
teriais cerâmicos apresentam elevada resistência mecânica, alta fragilidade,
alta dureza, grande resistência ao calor e, principalmente, são isolantes tér-
micos e elétricos.

Nas últimas décadas, uma gama bastante variada de novos materiais cerâ-
micos foi desenvolvida.

Tais materiais caracterizam-se, principalmente, pelo controle de suas com-


posições, das dimensões de suas partículas e do processo de produção dos
componentes. Como resultado desse procedimento, é possível produzir
dispositivos de alta resistência mecânica e resistentes a temperaturas ele-
vadas, o que possibilita a aplicação dos mesmos em máquinas térmicas,
em que o aumento do rendimento está ligado ao aumento da temperatura
de trabalho.

Em razão de sua excelente estabilidade térmica, os materiais cerâmicos têm


um importante papel na fabricação de diversos componentes, tais como
insertos de pistões de motores de combustão interna ou ainda, na produção
de componentes de turbinas a gás. A figura 02 mostra produtos automo-
tivos fabricados com materiais cerâmicos. Exemplos de materiais cerâmicos
incluem a alumina, a sílica, o nitreto de silício, a zircônia, todos caracteriza-
dos como materiais cerâmicos de engenharia.

FIGURA 02 – Produtos
automotivos fabricados
com materiais cerâmi-
cos: (a) Parte superior
de pistões ; (b) Rotor de
turbo-alimentador.
Foto (a): www.sxc.hu

(a) (b)

1.1.3 Materiais poliméricos


São materiais comuns de plásticos e borracha, compostos orgânicos base-
ados no carbono, hidrogênio e outros não metálicos, estrutura molecular
muito grande chamada de macromoleculares, baixa densidade e extrema-
mente flexíveis. A principal característica que diferencia os materiais polimé-
ricos dos outros tipos de materiais está relacionada à presença de cadeias
moleculares de grande extensão constituídas principalmente por carbono.

Rede e-Tec Brasil 20 Introdução à Ciência dos Materiais


O arranjo dos átomos da cadeia molecular pode levar a mesma a ser caracte-
rizada como linear, ramificada ou tridimensional. O tipo de arranjo da cadeia
controla as propriedades do material polimérico. Embora esses materiais não
apresentem arranjos atômicos semelhantes ao cristalino, alguns podem exi-
bir regiões com grande ordenação atômica (cristalinas) envolvida por regiões
de alta desordem (não cristalinas).

Devido à natureza das ligações atômicas envolvidas (intramoleculares li-


gações covalentes e intermoleculares ligações secundárias), a maioria dos
plásticos não conduz eletricidade e calor. Tal conjunto de características per-
mite que os mesmos sejam frequentemente utilizados como isolantes elétri-
cos ou térmicos ou na confecção de produtos nos quais o peso reduzido é
importante. Exemplos de materiais poliméricos incluem o poliuretano, que é
usado na fabricação de implantes cardíacos ou a borracha natural, utilizada
na fabricação de pneus, o polietileno, o poliestireno, o polipropileno e ou-
tros. A figura 03 mostra um exemplo de uso de plástico na indústria.

(a) (b) (c)

FIGURA 03 – Produtos fabricados com materiais poliméricos. (a) Capacete; (b) Mate-
riais hidráulicos e espelho de tomada; (c) Embalagens.
Fotos (a) e (c): www.sxc.hu. Foto (b): Verônica Hirata.

1.1.4 Materiais compósitos


Os materiais compósitos, também denominados de materiais conjugados,
consistem em dois ou mais tipos de materiais trabalhando juntos, o que re-
sulta em propriedades não apresentadas pelos constituintes individuais. Por
exemplo, o concreto e fibras de carbono impregnadas, fiberglass, no qual fi-
bras de vidro são embutidas dentro de um material polimérico (adquire resis-
tência mecânica das fibras de vidro e flexibilidade do polímero). Muitos dos
recentes desenvolvimentos de material têm envolvido materiais compósitos.

Esses materiais podem ser divididos em materiais compósitos naturais ou


tradicionais e em materiais compósitos avançados. No primeiro grupo, en-
quadram-se a madeira, o concreto e o asfalto. Por outro lado, os materiais
compósitos avançados surgiram há poucas décadas, como resultado de ne-

Aula 1 - Introdução à Ciência e Engenharia dos Materiais 21 Rede e-Tec Brasil


cessidades resultantes de avanços tecnológicos nas indústrias aeronáutica,
naval e automobilística.

Dentre os materiais compósitos mais comuns destacam-se os de matriz


plástica reforçada com fibras de vidro ou carbono, ou ainda, as ligas de alu-
mínio reforçadas com filamentos de boro. A figura 04 ilustra a variedade de
partes confeccionadas a partir de materiais compósitos em uma aeronave
de última geração.

1.1.5 Materiais semicondutores


São materiais que possuem propriedades elétricas intermediárias entre os
condutores elétricos e os isolantes. Eles tornaram possíveis os circuitos inte-
grados que revolucionaram as indústrias de eletrônicos, micro-circuitos, sem
mencionar as nossas vidas ao longo das duas décadas passadas.

Além disso, as características elétricas destes materiais são extremamente


sensíveis à presença de diminutas concentrações de átomos de impurezas,
cujas concentrações podem ser controladas ao longo de muito pequenas
regiões espaciais.

Átomos de impurezas: são átomos estranhos presentes nos espaços vazios


do arranjo espacial num cristal.

1.1.6 Biomateriais
São empregados em componentes para implantes de partes em seres hu-
manos, esses materiais não devem produzir substâncias tóxicas e devem ser
compatíveis com o tecido humano (isto é, não devem causar rejeição). To-
dos os materiais citados anteriormente podem ser usados como biomateriais
(metais, cerâmicos, compósitos e polímeros). A figura 05 exemplifica os bio-
materiais.

FIGURA 04 – Materiais utilizados para implantes no corpo humano.

Rede e-Tec Brasil 22 Introdução à Ciência dos Materiais


Resumo
Materiais sólidos têm sido convenientemente agrupados em três classifica-
ções básicas: metais, cerâmicas e polímeros. Este esquema é baseado princi-
palmente na constituição química e na estrutura atômica, e muitos materiais
caem num distinto grupamento ou num outro, embora existam alguns in-
termediários. Em adição, existem dois outros grupos de importantes mate-
riais de engenharia: compósitos e semicondutores. Compósitos consistem
de combinações de dois ou mais diferentes materiais, enquanto que semi-
condutores são utilizados quando precisam manter constantes, por longo
tempo, suas características de corrente/tensão. Uma breve explanação dos
tipos de materiais e características representativas é oferecida no texto.

Atividades de Aprendizagem
1. Liste seis tipos diferentes de classificação das propriedades dos materiais
sólidos e determine suas aplicações.

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2. Cite três critérios importantes à escolha do tipo de material para o pro-


cesso industrial.

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3. Qual a classificação primária dos materiais sólidos e em que se basearam


os critérios para essa classificação?

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Aula 1 - Introdução à Ciência e Engenharia dos Materiais 23 Rede e-Tec Brasil


4. O que é microestrutura de um material?

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5. Qual a importância da reciclagem dos materiais?

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Aqui, encerramos o primeiro passo para se compreender sobre a classifi-


cação dos materiais; as aulas subsequentes exploram em algum detalhe os
vários elementos estruturais e propriedades para cada um. Bom estudo!

Rede e-Tec Brasil 24 Introdução à Ciência dos Materiais


Aula 2 - Estrutura Atômica

Objetivos:

• Conceituar a estrutura atômica e química dos materiais;

• Relacionar esta estrutura com as propriedades físicas dos mes-


mos;

• Apontar as variações do número atômico entre os elementos


químicos e a resistência de materiais;

• Interpretar a expressão matemática: 6.0234x10²³;

• Explicar o modelo atômico de Bohr;

• Apontar as limitações desse modelo para os estudos de resis-


tência de materiais;

• Explicar a contribuição da mecânica quântica ondulatória e seu


modelo atômico para a ciência dos materiais;

• Descrever configurações eletrônicas a partir dos parâmetros


concernentes aos números quânticos;

• Demonstrar a importância da Tabela Periódica para os estudos


embasadores da disciplina.

Prezado estudante, algumas das importantes propriedades dos materiais só-


lidos dependem dos arranjos geométricos dos átomos e das interações que
existem entre os átomos ou moléculas constituintes. As estruturas, as confi-
gurações eletrônicas em átomos e a tabela periódica serão revistos para fa- Molécula: Grupos finitos de
cilitar o seu raciocínio sobre as diferenças de tamanho atômico e energia de átomos ligados por forças de
atração fortes. A ligação entre
ligação, por exemplo, que são impertinentes às propriedades dos materiais. moléculas é fraca.

Aula 2 - Estrutura Atômica 25 Rede e-Tec Brasil


Os materiais são constituídos por átomos e moléculas de diferentes elemen-
tos químicos, com ligações e estruturas distintas. Em função da natureza
Aço: Ligas à base de ferro,
contendo normalmente química dos elementos, dos tipos de ligações e dos diferentes arranjos de
carbono. Na prática, o carbono
pode ser dissolvido por
átomos e moléculas, o material apresentará suas diversas propriedades ca-
tratamento térmico; racterísticas (físicas, mecânicas etc.), pequenas variações na natureza das
sua percentagem,
até 2% em peso ligações e na estrutura dos átomos e moléculas poderão provocar grandes
diferenças no comportamento do material. Exemplo: aço verifica-se que: pe-
quenas variações na % de carbono, pequenas adições de elementos quími-
cos, tratamentos térmicos diferenciados e processos de conformação provo-
Sobre aço é importante cam grandes alterações nos materiais.
que saiba que existe o Aço
inoxidável, este que é de alta
liga (usualmente contendo Cr,
ou Cr-Ni) projetado para resistir O átomo é a unidade básica da estrutura interna para nossos estudos de
à corrosão ou à oxidação. materiais. Os conceitos iniciais envolvendo átomos individuais incluem
Sobre corrosão saiba que é
deterioração e remoção por número atômico, massa atômica e as relações da classificação periódica
ataque químico. Quanto à dos elementos.
oxidação é o aumento do
nível de valência de um
elemento, como decorrência
da remoção de elétrons. Uma molécula pode ser definida como um grupo de átomos que são
mantidos fortemente ligados, mas cujas ligações a outros grupos simila-
res são relativamente fracas.

2.1 Conceitos Fundamentais


Cada átomo consiste de um núcleo muito pequeno composto de prótons e
nêutrons, que são circundados por elétrons em movimento. Tanto elétrons
quanto prótons são eletricamente carregados, a magnitude da carga sendo
1,60 x 10-19 C, que é negativa em sinal para elétrons e positiva para prótons;
nêutrons são eletricamente neutros. As massas destas partículas subatômi-
cas são infinitesimalmente pequenas; prótons e nêutrons têm aproximada-
mente a mesma massa, 1,67 x 10-27 kg, que é significativamente maior do
que aquela de um elétron, 9,11 x 10-31 kg.

Cada elemento químico é caracterizado pelo número de prótons no núcleo,


ou o número atômico (Z). Para um átomo eletricamente neutro ou comple-
to, o número atômico também é igual ao número de elétrons. Este número
atômico varia em unidades inteiras desde 1 para o hidrogênio até 94 para o
plutônio, o de número atômico mais alto dentre os elementos que ocorrem
na natureza.

A massa atômica (A) de um átomo específico pode ser expressa como a


soma das massas dos prótons e dos nêutrons. Embora o número de prótons

Rede e-Tec Brasil 26 Introdução à Ciência dos Materiais


seja o mesmo para todos os átomos de um dado elemento, o número de
nêutrons (N) pode ser variável. Assim, átomos de alguns elementos têm duas
ou mais diferentes massas atômicas, sendo eles denominados isótopos.

O peso atômico corresponde à média pesada das massas atômicas de isó-


topos que ocorrem naturalmente. A unidade de massa atômica (u.m.a., ou
amu em inglês) pode ser usada para cálculos de peso atômico. Foi estabele-
cida uma escala na qual 1 u.m.a. é definida como 1/12 da massa atômica do
isótopo mais comum do carbono, carbono 12 (isto é, 12C) (A = 12,00000).
Dentro deste esquema, as massas de prótons e nêutrons são ligeiramente
maiores do que a unidade, e

(2.1)

O peso atômico de um elemento ou peso molecular de um composto pode


ser especificado com base em u.m.a. por átomo (ou molécula) ou em mas-
sa por mol de material. Num mol de uma substância existem 6,023 x 1023
(número de Avogadro) átomos ou moléculas. Estes dois esquemas de peso
atômico estão relacionados entre si através da seguinte equação:

1 u.m.a./átomo (ou molécula) = 1 g/mol

Número de Avogadro (N) é o número de u.m.a por grama, portanto,


número de moléculas por mol.

Por exemplo, o peso atômico do ferro é 55,85 u.m.a./átomo, ou 55,85 g/


mol. Algumas vezes, o uso de u.m.a. por átomo ou molécula é conveniente;
em outras ocasiões g (ou kg) /mol é preferido; este último é usado nesta aula.

2.2 Elétrons em Átomos

2.2.1 Modelo atômico de Bohr


Um entendimento do comportamento de elétrons em átomos e sólidos cris-
talinos necessariamente envolve a discussão de conceitos de mecânica quân-
tica. Entretanto, uma exploração detalhada destes princípios está além do
escopo deste estudo e apenas um tratamento simplificado é dado.

Um dos primeiros frutos da mecânica quântica foi o simplificado modelo


atômico de Bohr, no qual elétrons são supostos revolver ao redor do núcleo

Aula 2 - Estrutura Atômica 27 Rede e-Tec Brasil


do átomo em orbitais discretos, e a posição de qualquer particular elétron
é mais ou menos bem definido em termos de seu orbital. Este modelo do
átomo está representado na figura 06.

Núcleo contendo:
Prótons – dão o número atômico
Nêutrons – dão o número isotópico

Elétrons “girando” em volta do núcleo em níveis de ener-


gia discretos.
FIGURA 06 - Modelo Atômico de Bohr (Figura baseada em ilustração da apostila do Prof.Sidnei PUC-Rio).

2.2.2 Modelo atômico mecânico-ondulatório


Verificou-se eventualmente que o modelo atômico de Bohr tinha algumas
limitações significativas por causa de sua incapacidade de explicar vários fe-
nômenos envolvendo elétrons.

A resolução dessas deficiências foi encontrada com o desenvolvimento do


que se tornou conhecido como a mecânica ondulatória (uma subdivisão da
mecânica quântica) e um modelo mais adequado do átomo.

No modelo mecânico-ondulatório, considera-se que um elétron exibe carac-


terísticas tanto de onda quanto de partícula e o movimento de um elétron é
descrito por matemática que governa o movimento de onda.

Uma importante consequência da mecânica de onda é que elétrons não são


mais tratados como partículas movendo-se em orbitais discretos; em vez dis-
to, considera-se a posição decorrente da probabilidade de um elétron estar
em várias localidades ao redor do núcleo.

2.2.3 Números quânticos


Usando a mecânica ondulatória, todo elétron num átomo é caracterizado
por quatro parâmetros, denominados números quânticos. O tamanho, for-
ma e orientação espacial da densidade de probabilidade de um elétron são
especificados por três números quânticos.

Além disto, os níveis de energia de Bohr separam-se em subcamadas de elé-


trons, e números quânticos ditam o número de estados dentro de cada sub-

Rede e-Tec Brasil 28 Introdução à Ciência dos Materiais


camada. Camadas são especificadas por um número quântico principal n,
que pode tomar valores inteiros começando com a unidade; algumas vezes
estas camadas são designadas pelas letras K, L, M, N, O e assim por diante,
que correspondem, respectivamente, a n = 1, 2, 3, 4, 5, como indicado na
tabela 02.

O segundo número quântico, l, significa subcamada, que é denotada por


uma letra minúscula - s, p, d, ou f. O número de estados de energia para
cada subcamada é determinado pelo número quântico, ml.

Para uma subcamada s existe um único estado de energia, enquanto que


para subcamadas p, d, e f, existem 3, 5 e 7 estados, respectivamente. As-
sociado a cada elétron encontra-se um momento de spin, que deve estar
orientado para cima ou para baixo. Relacionado a este momento de spin
encontra-se o quarto número quântico, ms, para o qual são possíveis dois
Momento spin: Movimento de
valores ( + 1/2 e -1/2), um para cada uma das orientações de spin. rotação assumido pelo elétron
em sua órbita dentro de um
átomo.
Assim o modelo de Bohr foi refinado mais uma vez pela mecânica ondula-
tória, na qual a introdução de três novos números quânticos dá origem a
subcamadas eletrônicas dentro de cada camada.

Número Quântico Estado de Número de Elétrons


Camadas Sub-camadas
Principal n Energia Por Sub-camadas Por Camadas
1 K s 1 2 2
s 1 2
2 L 8
p 3 6
s 1 2
3 M p 3 6 18
d 5 10
s 1 2
p 3 6
4 N 32
d 5 10
f 7 14

TABELA 02 – O Número de Estados de Elétrons Disponíveis em Algumas das Camadas


e Subcamadas de Elétrons.
Material didático, Prof.Poliana, IFPA.

2.2.4 Configurações eletrônicas


As discussões precedentes trataram principalmente dos estados eletrônicos
- valores de energia que são permitidos aos elétrons. Para determinar a ma-
neira na qual estes estados são preenchidos com elétrons, nós usamos o
princípio de exclusão de Pauli, outro conceito mecânico-quântico.

Aula 2 - Estrutura Atômica 29 Rede e-Tec Brasil


Este princípio estipula que cada estado eletrônico pode manter não mais do
que dois elétrons, que devem ter spins opostos. Assim, as subcamadas s, p,
d e f podem acomodar cada uma, respectivamente, um total de 2, 6, 10 e
14 elétrons, a tabela 02 sumaria um número máximo de elétrons que podem
ocupar cada uma das primeiras quatro camadas.

Naturalmente, nem todos os estados possíveis num átomo são preenchidos


com elétrons. Para muitos átomos, os elétrons preenchem os mais baixos
possíveis estados de energia nas camadas e subcamadas eletrônicas, dois
elétrons (tendo spins opostos) por estado.

A configuração eletrônica ou estrutura de um átomo representa a maneira


na qual estes estados são ocupados. Na notação convencional o número de
elétrons em cada subcamada é indicado por um superscrito após a desig-
nação camada-subcamada. Por exemplo, a configurações eletrônicas para
Hidrogênio (H1), Hélio (He2) e Sódio (Na11) são, respectivamente, 1s1, 1s2, e
1s22s22p63s1. Configurações eletrônicas para alguns dos elementos mais co-
muns estão listadas na tabela 03.

Neste ponto, comentários referentes a estas configurações eletrônicas são


necessárias. Os elétrons de valência são aqueles que ocupam a camada pre-
enchida mais externa. Estes elétrons são extremamente importantes; como
Elétrons de valência:
Elétrons da órbita mais será exposto, eles participam na ligação entre os átomos para formar agre-
externa de um átomo.
gados atômicos e moleculares. Além disto, muitas das propriedades físicas e
químicas de sólidos estão baseadas nestes elétrons de valência.

Em adição, alguns átomos têm o que se denomina “configurações eletrôni-


cas estáveis”; isto é, os estados dentro da camada eletrônica mais externa
ou de valência estão completamente preenchidos. Normalmente, isto corres-
ponde à ocupação justamente dos estados s e p para a camada mais externa
por um total de 8 elétrons, como num neônio (Ne), argônio (Ar) e criptônio
(Kr); uma exceção é o hélio (He), que contém apenas 2 elétrons 1s.

Estes elementos são gases inertes ou nobres, que são virtualmente não re-
ativos quimicamente. Alguns átomos dos elementos que têm camadas de
valência não preenchidas assumem configurações eletrônicas estáveis por
ganho ou perda de elétrons para formar íons carregados, ou pelo compar-
tilhamento de elétrons com outros átomos. Esta é a base para algumas rea-
ções químicas, e também para ligação atômica em sólidos.

Rede e-Tec Brasil 30 Introdução à Ciência dos Materiais


Elemento Símbolo Número Atômico Configuração Eletrônica
Hidrogênio H 1 1s1
Hélio He 2 1s2
Lítio Li 3 1s22s1
Berílio Be 4 1s22s2
Boro B 5 1s22s22p1
Carbono C 6 1s22s22p2
Nitrogênio N 7 1s22s22p3
Oxigênio O 8 1s22s22p4
Flúor F 9 1s22s22p5
Neônio Ne 10 1s22s22p6
Sódio Na 11 1s22s22p63s1
Magnésio Mg 12 1s22s22p63s2
Alumínio Al 13 1s22s22p63s23p1
Silício Si 14 1s22s22p63s23p2
Fósforo P 15 1s22s22p63s23p3
Enxofre S 16 1s22s22p63s23p4
Cloro Cl 17 1s22s22p63s23p5
Argônio Ar 18 1s22s22p63s23p6
Potássio K 19 1s22s22p63s23p64s1
Cálcio Ca 20 1s22s22p63s23p64s2
Escândio Sc 21 1s22s22p63s23p63d14s2
Titânio Ti 22 1s22s22p63s23p63d24s2
Vanádio V 23 1s22s22p63s23p63d34s2
Cromo Cr 24 1s22s22p63s23p63d44s2
Manganês Mn 25 1s22s22p63s23p63d54s2
Ferro Fe 26 1s22s22p63s23p63d64s2
Cobalto Co 27 1s22s22p63s23p63d74s2
Níquel Ni 28 1s22s22p63s23p63d84s2
Cobre Cu 29 1s22s22p63s23p63d104s1
Zinco Zn 30 1s22s22p63s23p63d104s2
Gálio Ga 31 1s22s22p63s23p63d104s24p1
Germânio Ge 32 1s22s22p63s23p63d104s24p2
Arsênio As 33 1s22s22p63s23p63d104s24p3
Selênio Se 34 1s22s22p63s23p63d104s24p4
Bromo Br 35 1s22s22p63s23p63d104s24p5
Criptônio Kr 36 1s22s22p63s23p63d104s24p6

TABELA 03 - Listagem das Configurações Eletrônicas para Alguns Elementos Comuns. Callister, 2000.

2.2.5 Tabela periódica


Todos os elementos foram classificados de acordo com a configuração ele-
trônica na tabela periódica (figura 07). Aqui, os elementos estão situados,
com crescente número atômico, em sete filas horizontais denominadas perí-
odos. O arranjo é tal que todos os elementos que são dispostos numa dada

Aula 2 - Estrutura Atômica 31 Rede e-Tec Brasil


coluna ou grupo têm similares estruturas de elétrons de valência, do mesmo
modo que similares propriedades químicas e físicas. Estas propriedades mu-
dam gradualmente e sistematicamente, movendo-se horizontalmente atra-
vés de cada período.

Os elementos posicionados no Grupo 0, o grupo da extrema direita, são


gases inertes, que têm camadas eletrônicas preenchidas e configurações ele-
trônicas estáveis. Os elementos dos Grupos VIIA e VIA têm 1 e 2 elétrons a
menos, respectivamente, para terem estruturas estáveis. Os elementos do
Grupo VIIA (F, Cl, Br, I e At) são às vezes denominados halogênios. Os metais
alcalinos e alcalino-terrosos (Li, Na, K, Be, Mg, Ca, etc.) são denominados
como do Grupo IA e IIA, tendo, respectivamente, 1 e 2 elétrons a mais do
que o necessário para estruturas estáveis.

Os elementos dos três períodos longos, Grupos IIIB até IIB, são denominados
metais de transição, que possuem estados eletrônicos parcialmente preen-
chidos e em alguns casos 1 ou 2 elétrons na próxima camada de energia
mais alta. Grupos IIIA, IVA e VA (B, Si, Ge, As, etc.) exibem características
que são intermediárias entre as dos metais e as dos não metais em virtude
de suas estruturas de elétron de valência.

A partir da tabela periódica, muitos elementos realmente se incluem na clas-


sificação de metal. Estes são algumas vezes denominados elementos ele-
tropositivos, indicando que são capazes de ceder seus poucos elétrons de
valência para se tornarem íons positivamente carregados.

Além disso, os elementos situados à direita da tabela são eletronegativos;


isto é, eles prontamente aceitam elétrons para formar íons negativamente
carregados ou, às vezes, compartilham elétrons com outros átomos.

Como uma regra geral, a eletronegatividade aumenta ao se mover da es-


querda para a direita e da base para o topo da tabela periódica. A massa
específica (densidade) aumenta da esquerda para o centro, assim como da
direita para o centro e do topo para a base da tabela periódica.

O ponto de fusão também aumenta da esquerda para o centro como da di-


reita para o centro, mas os metais alcalinos e os alcalinos terrosos aumentam
da base para o topo, no entanto, os metais de transição e os intermediários,
do topo para a base da tabela periódica.

Rede e-Tec Brasil 32 Introdução à Ciência dos Materiais


Aula 2 - Estrutura Atômica
33
FIGURA 07 - A tabela periódica dos elementos. Os números entre parêntesis são pesos atômicos dos isótopos mais estáveis ou comuns.
Adaptado de Callister, 2000.

Rede e-Tec Brasil


Resumo
Por que estudar a estrutura atômica?

• As propriedades dos materiais dependem essencialmente do tipo de liga-


ção entre os átomos.

• O tipo de ligação depende fundamentalmente dos elétrons. São os elé-


trons, particularmente os mais externos, que afetam a maior parte das
propriedades de interesse, são eles que controlam o tamanho do átomo,
afetam a condutividade elétrica dos metais e influenciam as característi-
cas mecânicas.

• Os elétrons são influenciados pelos prótons e nêutrons que formam o


núcleo atômico.

• Os prótons e nêutrons caracterizam quimicamente o elemento e seus


isótopos.

• Os elétrons são atraídos pelos prótons.

• Os elétrons se distribuem em orbitais:

• Níveis de energia bem definidos:

–– Os elétrons não podem assumir níveis intermediários.


–– Para trocar de nível, os elétrons têm que receber a energia exata que
diferencia dois níveis.

Se o elétron recebe energia suficiente, ele é arrancado, torna-se um elétron


livre e o átomo é ionizado.

Os tópicos futuros serão revistos brevemente, vários tipos de ligações inte-


ratômicas, primárias e secundárias que mantêm juntos os átomos que com-
põem um sólido farão possível o entendimento do aluno para acompanhar
mais facilmente os estudos.

Rede e-Tec Brasil 34 Introdução à Ciência dos Materiais


Atividades de Aprendizagem
1. Diferencie número atômico de massa atômica.

________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________

2. Explique por que os elétrons somente podem ocupar certos níveis de


energia num átomo, impedidos de ocupar outros níveis.

________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________

3. Dê a notação para a estrutura eletrônica ou arranjos orbitais:

a. átomo de ferro (Fe)


b. átomo de cloro (Cl)
c. átomo de argônio (Ar)
d. átomo de manganês (Mn)

4. Pela posição ocupada na tabela periódica, coloque os elementos nióbio


(Nb), tantálio (Ta), tungstênio (W) e vanádio (V) em ordem crescente de
densidade e de ponto de fusão.

________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________

Aula 2 - Estrutura Atômica 35 Rede e-Tec Brasil


Os átomos raramente podem ser encontrados isoladamente. As ligações
químicas unem os átomos, porém nem todos os átomos conseguem formar
ligações. Dois átomos de um gás nobre (família O ou grupo 18 ou ainda 8A
da tabela periódica) exercem entre si uma atração mútua tão fraca que não
conseguem formar uma molécula. Por outro lado, a maioria dos átomos
forma ligações fortes com átomos da própria espécie e com outros tipos
de átomos. Historicamente, a propriedade dos átomos de formar ligações
foi descrita como sendo a sua valência. Este conceito é pouco utilizado atu-
almente. Hoje ele é mais utilizado como adjetivo, por exemplo, elétron de
valência ou camada de valência.

Na próxima aula, vamos nos dedicar a este assunto. Até lá!

Rede e-Tec Brasil 36 Introdução à Ciência dos Materiais


Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido

Objetivos:

• Definir Ligações Primárias Fortes;

• Apontar a importância dessas ligações para a resistência dos


materiais;

• Citar os principais tipos de ligações em sólidos;

• Definir ligações covalentes apontando a sua importância para


os materiais poliméricos;

• Explicar as ligações metálicas;

• Conceituar as ligações secundárias ou fracas;

• Descrever a ligação de Van der Waals;

• Expor as condições para ligações dipolo;

• Vincular os estudos de resistência de materiais com os vários


tipos de ligações estudados.

Estimado estudante, os elementos químicos que apresentam o mesmo nú-


mero de elétrons na sua camada mais externa (camada de valência) apre-
sentam comportamento químico semelhante. Este fato deu origem à tabela
periódica. Os elementos químicos que apresentam 8 elétrons na camada
de valência, como o hélio (He) por exemplo, são muito estáveis e não se
combinam com outros elementos. São os gases nobres: He, Ne, Ar, Kr, Xe,
Rn. A maior parte dos outros elementos devem adquirir a configuração
altamente estável de 8 elétrons na camada de valência, através de um dos

Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido 37 Rede e-Tec Brasil


seguintes mecanismos: recebendo elétrons, perdendo elétrons ou compar-
tilhando elétrons.

Diante do exposto, as ligações interatômicas podem ser classificadas quanto


à suas intensidades em ligações primárias ou fortes e ligações secundárias
ou fracas.

3.1 Ligações Primárias ou Fortes


Três diferentes tipos de ligação primária ou química são encontrados em só-
lidos: iônica, covalente e metálica. As seções que seguem explicam os vários
tipos de ligações interatômicas primárias e secundárias.

3.1.1 Ligação iônica


A ligação iônica é sempre encontrada em compostos que são constituídos de
elementos tanto metálicos quanto não metálicos, situados em extremidades
horizontais da tabela periódica. Átomos de um elemento metálico facilmen-
te cedem seus elétrons de valência aos átomos não metálicos.

No processo, todos os átomos adquirem configurações estáveis ou de gás


inerte e, em adição, uma carga elétrica; isto é, eles se tornam íons. Cloreto
de Sódio (NaCl) é um material iônico clássico. Um átomo de sódio pode as-
sumir o elétron de neon (e uma carga positiva simples) por uma transferência
de um seu elétron de valência 3s a um átomo de cloro. Após a transferência,
o íon cloreto tem uma carga negativa líquida e uma configuração eletrônica
idêntica à do argônio (Ar). Este tipo de ligação é ilustrado esquematicamente
na figura 08.

Ligação iônica é denominada não direcional, isto é, a magnitude da ligação é


igual em todas as direções ao redor de um íon. Segue-se que, para materiais
iônicos serem estáveis, todos os íons positivos devem ter como seus vizinhos
mais próximos íons negativamente carregados num esquema tridimensional
Materiais cerâmicos: e vice-versa. A ligação predominante em materiais cerâmicos é iônica, como
Materiais consistindo de também para cimentos e rebolos.
compostos de elementos
metálicos e não-metálicos.
- O Sódio tem apenas 1 elétron na última camada. Este elétron é fracamente ligado porque os
outros 10 elétrons blindam a atração do núcleo.

- O Cloro tem 7 elétrons na última camada. Se adquirir mais 1 elétron forma uma configura-
ção mais estável.

- O Sódio perde 1 elétron e se ioniza ficando com carga positiva (cátion).

Rede e-Tec Brasil 38 Introdução à Ciência dos Materiais


- O Cloro ganha o elétron e também se ioniza fican-
do Negativo (ânion).

- Os íons se ligam devido à atração Coulombiana


(atração mútua entre positivo e negativo).

Figura 08 – Ligação Iônica do NaCl.


(Figura baseada em apostila do Prof. Sidnei - PUC-Rio)

3.1.2 Ligação covalente


A ligação covalente configurações eletrônicas estáveis são assumidas pelo
compartilhamento de elétrons entre átomos adjacentes. Dois átomos que
são covalentemente ligados contribuirão com pelo menos 1 elétron para a
ligação e elétrons compartilhados podem ser considerados como pertencen-
tes a ambos os átomos. Ligação covalente é esquematicamente ilustrada na
figura 09 para uma molécula de metano (CH4). O átomo de carbono tem 4
elétrons de valência, enquanto que cada um dos 4 átomos de hidrogênio
possui um único elétron de valência.

Cada átomo de hidrogênio pode adquirir uma configuração eletrônica do


hélio (2 elétrons de valência 1s) quando os átomos de carbono compartilham
com ele 1 elétron. O carbono agora tem 4 elétrons compartilhados adicio-
nais, 1 de cada átomo de hidrogênio, para um total de 8 elétrons de valência
e estrutura eletrônica do neon. A ligação covalente é direcional; isto é, entre
átomos específicos e pode existir apenas na direção entre um átomo e outro
que participa no compartilhamento eletrônico.

O número de ligações covalentes que são possíveis para um particular áto-


mo é determinado pelo número de elétrons de valência. Para N’ elétrons de
valência, um átomo pode se ligar covalentemente com, no máximo, (8 - N’)
outros átomos.

Por exemplo, N’ = 7 para o cloro, e 8 - N’ = 1, o que significa que 1 átomo


de Cl pode se ligar apenas com 1 outro átomo, como em Cl2. Similarmente,
para o carbono, N’ = 4, e cada átomo de carbono tem 8 - 4, ou 4 elétrons
para compartilhar. Carbono, na estrutura do diamante é simplesmente a
estrutura de interconexão tridimensional na qual cada átomo de carbono

Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido 39 Rede e-Tec Brasil


se liga covalentemente com outros 4 átomos de carbono. Este arranjo está
representado na figura 10.

Figura 09 (esq.) – Representação esquemática da ligação covalente da molécula de


metano (CH4). Adaptado de Callister, 2000.

Figura 10 (dir.) – Arranjo tridimensional do Diamante. Adaptado de Callister, 2000.

Ligações covalentes podem ser muito fortes, como no diamante, que é mui-
to duro e tem alta temperatura de fusão, > 3550 oC (6400 oF), ou elas
podem ser muito fracas, como no bismuto, que se funde a 270oC (518 oF).
Energias de ligação e temperaturas de fusão para uns poucos materiais co-
valentemente ligados estão apresentados na tabela 04.

Materiais poliméricos tipificam esta ligação, a estrutura molecular básica


sendo um longa cadeia de átomos (moléculas) de carbono que estão cova-
lentemente ligados entre si com 2 de suas 4 ligações disponíveis por átomo.
As duas remanescentes ligações normalmente são compartilhadas com ou-
tros átomos, que estão também covalentemente ligados. Típicas estruturas
moleculares poliméricas são mostradas na figura 11.

Energia de Ligação Temperatura de Fusão


Tipo de Ligação Elementos
KJ/mol (ºC)
NaCl 640 801
Iônica
MgO 1000 2800
Si 450 1410
Covalente
C (diamante) 713 >3550
Hg 68 - 39
Al 324 660
Metálica
Fe 406 1538
W 849 3410

TABELA 04 – Energia de Ligação e Temperatura de Fusão para alguns Materiais. Material


didático, Prof.Poliana, IFPA.
FIGURA 11 – Típica estrutura molecular dos polímeros de etileno e polietileno (liga-
ção covalente). Adaptado de Callister, 2000.

Rede e-Tec Brasil 40 Introdução à Ciência dos Materiais


Na molécula de etileno (C2H4), os carbonos comparti-
lham dois pares de elétrons.

A ligação covalente dupla pode se romper em duas


simples permitindo a ligação com outros ”meros” para
formar uma longa molécula de polietileno.

3.1.3 Ligação metálica


Materiais metálicos têm 1, 2 ou, no máximo, 3 elétrons de valência. Com
este modelo, estes elétrons de valência não se encontram ligados a qualquer
particular átomo no sólido e são mais ou menos livres para se moverem ao
longo de todo o metal.

Os remanescentes elétrons não valentes e os núcleos atômicos foram o que


se chama de núcleos iônicos, que possuem uma carga positiva líquida, igual
em magnitude à carga total de elétrons de valência por átomo. Em adição, os
elétrons livres agem com uma “cola” para manter os núcleos iônicos juntos.

Este tipo de ligação é encontrado para os elementos dos Grupos IA e IIA da


tabela periódica e, de fato, para todos os metais elementares. Estes materiais
são bons condutores tanto de eletricidade quanto de calor, como consequ-
ência dos elétrons de valência livres.

3.2 Ligações Secundárias ou Fracas


A seguir, abordaremos as ligações conhecidas como secundárias ou fracas,
que são as de van der Waals e as de hidrogênio.

3.2.1 Ligação van der Waals


Ligações secundárias, de van der Waals ou físicas, são fracas em comparação
com as ligações primárias ou químicas; energias de ligação estão tipicamen-
te na ordem de apenas 10 kJ/mol. Ligação secundária existe virtualmente
entre todos os átomos ou moléculas, mas sua presença pode ser obscurecida
se qualquer dos três tipos de ligação primária estiver presente.

Ligação secundária é evidenciada para os gases inertes, que possuem es-


truturas eletrônicas estáveis, e, em adição, entre moléculas em estruturas
moleculares que são covalentemente ligadas. Forças de ligações secundá-
rias surgem dos dipolos atômicos ou moleculares. Em essência, um dipolo

Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido 41 Rede e-Tec Brasil


elétrico existe sempre que exista alguma separação das porções positiva e
negativa de um átomo ou molécula, indicado na figura 12.

Verifica-se que a ligação de Hidrogênio, uma classe especial de ligação se-


cundária, existe entre algumas moléculas que têm hidrogênio como um dos
constituintes. Quando um ou mais átomos de hidrogênio estão ligados de
forma covalente a átomos grandes, tais como oxigênio, nitrogênio ou flúor,
estabelece-se um dipolo permanente de magnitude elevada. Estes mecanis-
mos de serão ligação agora discutidos brevemente.

FIGURA 12 – Esquema da ligação van der Walls entre dois dipolos.


Adaptado de Callister, 2000.

3.2.1.1 Ligação de dipolo induzido


Um dipolo pode ser criado ou induzido num átomo ou molécula que é nor-
malmente simétrica eletricamente; isto é, a distribuição espacial global dos
elétrons é simétrica em relação ao núcleo positivamente carregado, como
mostra a figura 13a.

Todos os átomos estão experimentando movimento vibracional constante,


que pode causar distorções instantâneas ou de curta duração desta simetria
elétrica para alguns dos átomos ou moléculas e a criação de pequenos dipo-
los elétricos, como representado pela figura 13b.

Um destes dipolos pode, por sua vez, produzir um deslocamento da distri-


buição de elétron de uma molécula ou átomo adjacente, induzindo este últi-
mo a também se tornar um dipolo que é então fracamente atraído ou ligado
primeiro; este é um tipo de ligação de van der Waals. Estas forças atrativas
podem existir entre grande número de átomos ou moléculas, cujas forças
são temporárias e flutuam com o tempo.

3.2.1.2 Ligação de dipolo induzido por molécula polar


Momentos de dipolo permanentes existem em algumas moléculas em virtu-
de de um arranjo assimétrico de regiões carregadas positivamente ou nega-
tivamente; tais moléculas são denominadas moléculas polares.

A figura 13c é uma representação esquemática de uma molécula de cloreto


de hidrogênio; um momento de dipolo permanente surge a partir de cargas

Rede e-Tec Brasil 42 Introdução à Ciência dos Materiais


positivas e negativas que estão respectivamente associadas com as extremi-
dades do hidrogênio e do cloro da molécula de HCl.

(a) (b) (c)

FIGURA 13 – Esquema representativo de: (a) átomo eletricamente simétrico; (b) dipo-
lo induzido; (c) dipolo induzido por molécula polar, por exemplo, uma molécula de
cloreto de hidrogênio. Adaptado de Callister, 2000.

Resumo
Os três tipos de ligações principais (primárias) em sólidos são: iônico, cova-
lente e metálico. Para ligações iônicas, íons eletricamente carregados são
formados pela transferência de elétrons de valência a partir de um tipo de
átomo para outro. Existe um compartilhamento de elétrons de valência entre
átomos adjacentes quando a ligação é covalente. Com ligação metálica, os
elétrons de valência formam um “mar de elétrons” que é uniformemente
disperso ao redor dos núcleos de íons de metal e agem como que formando
uma cola para eles.

Tanto as ligações de van der Waals quanto as ligações de hidrogênio são


denominadas secundárias, sendo fracas em comparação com as ligações
primárias. Elas resultam das forças atrativas entre dipolos elétricos, dos quais
existem dois tipos: induzido e permanente.

Atividades de Aprendizagem
1. Quais os tipos de ligações químicas existentes nos materiais metálicos,
cerâmicos e poliméricos?

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Aula 3 - Ligação Atômica em Sólido 43 Rede e-Tec Brasil


2. Por que o diamante tem alto ponto de fusão enquanto o ponto de fusão
do polietileno é muito mais baixo? (Os dois materiais apresentam liga-
ções covalentes fortes!).

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3. Por que o diamante é duro e o polietileno é mole? Por que o diamante é


frágil e o polietileno é maleável?

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4. Por que os sólidos iônicos são frequentemente frágeis enquanto os me-


tais são maleáveis?

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Nas aulas precedentes, foram apresentados os subsídios teóricos à natureza


dos elementos químicos constituintes dos materiais, aos tipos de ligações
que se desenvolvem e os arranjos observados entre átomos e moléculas. Nas
futuras aulas, buscamos comprovar a interrelação entre esses fatores inter-
nos ao material com alguns fatores externos que podem provocar variações
das estruturas de sólidos cristalinos e propriedades do material, tais como:
temperatura, tipos de esforços mecânicos etc.

Rede e-Tec Brasil 44 Introdução à Ciência dos Materiais


Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos

Objetivos:

• Relacionar o conteúdo da 3ª aula com a estrutura dos sólidos


cristalinos,

• Apontar as características dos materiais cristalinos,

• Conceituar sistemas cúbicos de cristalização,

• Indicar as características dos sistemas cúbicos de cristalização,

• Dizer em que consiste o sistema hexagonal de cristalização,

• Descrever as características desse sistema,

• Explicar a importância dos conhecimentos de estruturas crista-


linas dos materiais sólidos para cálculos da relações de densidades
lineares.

• Interpretar a equação: ρ=(NA)/(VcNA).

Então, vamos prosseguir com os estudos?

Prezado estudante, a presente discussão é devotada ao nível da estrutura


dos materiais, especificamente, a alguns dos arranjos que podem ser ado-
tados pelos átomos no estado sólido. Dentro deste horizonte, conceitos de
cristalinidade e não cristalinidade são introduzidos. Para sólidos cristalinos,
a noção de estrutura cristalina é apresentada especificamente em termos de
uma célula unitária. As três estruturas cristalinas comuns encontradas em Cristalinidade: Fração do
volume de um sólido que tem
metais são discutidas em detalhe. uma estrutura cristalina.

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 45 Rede e-Tec Brasil


Cristalinidade é a fração do volume de um sólido que tem uma estrutura
cristalina (contrastando com uma amorfa, de polímeros, por exemplo,
que tem uma estrutura não cristalina).

Um material cristalino, independentemente do tipo de ligação encontrada


no mesmo, apresenta um agrupamento ordenado de seus átomos, íons ou
moléculas que se repete nas três dimensões. Nesses sólidos cristalinos, essa
distribuição é muito bem ordenada, exibindo simetria e posições bem defi-
nidas no espaço. Denomina-se célula unitária a menor unidade que tenha a
simetria total do cristal.

4.1 Formação dos Materiais


A maioria dos metais cristaliza-se nos sistemas cúbicos e hexagonais. Vamos
ver como isso funciona?

4.1.1 Sistemas Cúbicos


Os átomos podem ser agrupados dentro do sistema cúbico em três diferen-
tes tipos de repetição. Existem metais, como o ferro, que mudam de estrutu-
ra cristalina com o aumento da temperatura: o ferro é CCC desde a tempe-
ratura ambiente até 910oC, quando então passa a ser CFC. Se continuarmos
a aquecer, o ferro novamente muda de estrutura cristalina, voltando a ser
CCC a partir de 1396oC, e mantém esta estrutura até sua fusão (≅ 1536oC).
Diz-se que metais como o ferro, sofrem transformações alotrópicas de fase
no estado sólido.

Alotropia é uma composição com mais de uma estrutura cristalina. O


mesmo que polimorfismo, por exemplo, o ferro.

Exemplo 1
O chumbo exibe estrutura CFC. Qualquer quantidade de chumbo sólido é
constituída por pequenos cubos imaginários (células unitárias), com arestas
medindo 0,495x10-9 m, em que os átomos desse elemento ocupam vértices
e centro das faces. A partir dessas informações, calcule o número de cubos
existentes em 1 cm3 (1x10-6 m3) de chumbo.

Solução
O número de células unitárias é obtido pela divisão do volume total pelo
volume de uma célula.

Rede e-Tec Brasil 46 Introdução à Ciência dos Materiais


Volume da célula unitária do chumbo=(0,495x10-9 m3) =1,2x10-28 m3

Número de células unitárias=1x10-6 m3 / 1,2x10-28 m3 = 8,2x1021 células


(cubos).

a. Cúbico Simples (CS): esta estrutura é hipotética para metais puros. A cé-
lula unitária possui 1/8 de átomo em cada vértice (cada átomo de canto é
compartilhado com 8 células unitárias). Na estrutura CS, o parâmetro de
rede, definido por a, corresponde ao tamanho da aresta desse cubo, ou
seja, a = 2r, onde r é o raio atômico. A figura 14 mostra a representação
esquemática de tal célula cristalina. Como forma de classificar o nível de
ocupação por átomos em uma estrutura cristalina, define-se o fator de
empacotamento (F.E.), que é dado por:

(4.1)

Onde: N = Número de átomos que efetivamente ocupam a célula = 1/8 x 8


= 1 átomo inteiro; VA = Volume do átomo (4/3. π. r3); r = Raio do átomo e VC
= Volume da célula unitária = Volume do cubo = a3 = (2r)3= 8r3.

FIGURA 14 - Célula unitária para o sistema Cúbico Simples (CS). Adaptado de Padilha, 1997.

Exemplo 2
Calcule o fator de empacotamento de uma estrutura cúbica simples (CS).

Solução
O número de átomos que estão efetivamente em uma célula cúbica simples
é resultado da soma dos átomos presentes em seus vértices.

Número de vértices = 8
Número de átomos por vértice = 1/8
Número total de átomos = 8 x 1/8 = 1
Volume ocupado por átomos (VA) = 1 x Volume de 1 átomo = 4/3.π.r3
Volume da célula unitária (VC) = 8r3. Da equação 4.1 resulta:

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 47 Rede e-Tec Brasil


Fator de Empacotamento (FE) =

b. Cúbico de Corpo Centrado (CCC): O ferro tem estrutura CCC, a tem-


peratura ambiente (outros exemplos Cr, W, Mo), cada célula unitária pos-
sui dois átomos inteiros sendo, um átomo no centro (pertence a apenas
2 células unitárias) e 1/8 de átomo em cada vértice, figura 15. O parâ-
metro de rede dessa estrutura é função da presença do átomo central e
é diferente do caso anterior. Ao se observar a diagonal principal da cé-
lula unitária dessa estrutura, constata-se que seu tamanho corresponde
a quatro raios atômicos. Assim, o parâmetro de rede é calculado a partir
do teorema de Pitágoras ou:

(4.2)

(4.3)

FIGURA 15 - Célula unitária para o sistema Cúbico de Corpo Centrado (CCC). Adaptada
de Callister, 2000.

Exemplo 3
Determine o fator de empacotamento da estrutura cúbica de corpo centra-
do (CCC).

Solução
O número de átomos que estão efetivamente em uma célula cúbica de cor-
po centrado é resultado da soma dos átomos presentes em seus vértices,
mais aquele localizado em seu centro.

Número de vértices = 8
Número de átomos por vértice = 1/8
Número total de átomos = 8 x1/8 + 1 = 2 átomos inteiros.
Volume ocupado por átomos (VA) = 2 x Volume de 1 átomo = 4/3.π.r3

Rede e-Tec Brasil 48 Introdução à Ciência dos Materiais


Volume da célula unitária (Vc) = a3= 64r3 / 3x3
Fator de Empacotamento = 0,68. Significa que somente 68% da célula uni-
tária CCC são preenchidos por átomos.

c. Cúbico de Face Centrada (CFC): O arranjo atômico CFC, figura 16,


além de possuir 1/8 de átomo em cada vértice, possui 1/2 átomo em
cada face e nenhum no centro, a célula unitária de uma estrutura CFC
possui um total de quatro átomos. A estrutura CFC é mais comum entre
os metais do que a estrutura CCC. Exemplos: Al, Cu, Pb, Ag, Ni, Au. O
parâmetro de rede no caso da estrutura CFC pode ser obtido através da
diagonal da face, que tem o tamanho de quatro átomos. Usando no-
vamente as relações de um triângulo retângulo, é possível relacionar o
parâmetro de rede com o raio atômico, ou seja:

(4.4)

(4.5)

FIGURA 16 - Célula unitária para o sistema Cúbico de Face Centrada (CFC). Adaptada de
Callister, 2000.

Exemplo 4 – Trabalho em grupo.


Determine o fator de empacotamento da estrutura cúbica de face centrada
(CFC).

4.1.2. Estrutura hexagonal (HC)


A estrutura hexagonal HC, figura 17, possui 12 vértices, 1/6 átomo em cada
vértice, 1/2 átomo em cada face (inferior e superior), 3 átomos do plano in-
termediário, totalizando seis átomos inteiros. A estrutura HC é presente no
magnésio, cobalto, zinco e berílio. Para calcular o fator de empacotamento
de cristais hexagonais é novamente necessário determinar o volume de uma
célula unitária desta estrutura. Tal volume é dado por:
Cristal: Um sólido, fisicamente,
(4.6) uniforme, tridimensional, com
repetitividade de longo alcance.

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 49 Rede e-Tec Brasil


O F.E. resulta em:
(4.7)

FIGURA 17 - Célula unitária para o sistema Hexagonal (HC). Adaptado de Callister, 2000.

4.2 Tipos de Estruturas Cristalinas


Um reticulado espacial é um arranjo infinito, tridimensional, de pontos, e no
qual todo ponto tem a mesma vizinhança e se chama ponto do reticulado.
Reticulado: O arranjo
espacial de posições Em meados do século passado, o cientista francês A. Bravais propôs que os
equivalentes num cristal.
pontos do reticulado podem estar arranjados de 14 maneiras diferentes,
denominadas reticulados de Bravais, envolvendo sete sistemas cristalinos bá-
sicos, chamados sistemas de Bravais, figura 18.

Os reticulados podem ser classificados em cinco tipos: primitivos (P), de cor-


po centrado (I), de faces centradas (F), de bases centradas (C) e o rombo-
édrico (R). Os reticulados primitivos apresentam pontos reticulares apenas
nos vértices da célula. Os reticulados de corpo centrado apresentam pontos
reticulares no interior da célula. Os reticulados do tipo F apresentam pontos
reticulares no centro das suas faces. A designação C para os reticulados de
base centrada se deve ao fato de que eles apresentam pontos reticulares nas
faces perpendiculares ao eixo c.

Rede e-Tec Brasil 50 Introdução à Ciência dos Materiais


Figura 18 - Os 14 reticulados de Bravais. Baseados em Padilha, 1997.

4.3 Densidade Linear


Um conhecimento da estrutura do cristal de um sólido metálico permite o
Densidade: Massa dividida
cálculo de sua densidade linear (participação atômica por unidade de com- pelo volume total.
primento) através da correlação:

ρ = (NA) / (VCNA) (4.8)

onde: ρ = densidade linear; N = número de átomos associados com cada cé-


lula unitária; A = peso atômico; VC = volume da célula unitária; NA = número
de Avogadro (6,023 x 1023 átomos/mol).

Resumo
Os sólidos cristalinos podem ser divididos em células unitárias, cada uma
possuindo as características de coordenação atômica fundamentada através
do cristal.

Há sete sistemas cristalinos baseados na geometria da célula unitária. Estes


sistemas possuem certo número de reticulados, baseados no arranjo interno
das posições equivalentes do interior da célula. Atenção dirigida aos siste-
mas cúbico de corpo centrado (CCC), cúbico de faces centradas (CFC) e a

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 51 Rede e-Tec Brasil


uma estrutura comum de arranjo hexagonal chamada hexagonal compacta
(HC). Ver Apêndice A.

Atividades de Aprendizagem
1. Descreva as diferenças entre a estrutura atômica e a estrutura cristalina
dos materiais.

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2. Quantos tipos de células unitárias são conhecidos? Que são redes de


Bravais?

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3. O ferro (Fe) tem estrutura CCC, raio atômico = 0,124 nm e peso atômico
= 55,9 g/mol. Calcule sua densidade e compare-a com a densidade de-
terminada experimentalmente (7,87 g/cm3).

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4. O molibdênio (Mo) tem densidade 10,22 g/cm3, massa molecular 95,94


g/mol e raio atômico 0,1363 nm. A estrutura cristalina do molibdênio é
CCC ou CFC?

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Rede e-Tec Brasil 52 Introdução à Ciência dos Materiais


5. Calcular a densidade do alumínio (Al). Dados:
raio atômico = 0,1431 nm
estrutura cristalina = CFC
A = 27 g/mol
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6. Calcular o raio atômico do irídio (Ir). Dados:


estrutura cristalina - CFC
A = 192 g/mol
ρ = 22,4 g/cm3.
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Você sabia que não existe uma ordem perfeita através de todos os materiais
cristalinos numa escala atômica? Todos eles contêm um grande número de
vários defeitos ou imperfeições. A microestrutura dos materiais cristalinos é
constituída basicamente de defeitos cristalinos e constituintes microestru-
turais, tais como fases e inclusões. É entendida por defeito cristalino uma
irregularidade de rede tendo uma ou mais de suas dimensões da ordem de
um diâmetro atômico. A classificação de imperfeições cristalinas é frequen-
temente feita de acordo com a geometria ou dimensionalidade do defeito.

Sobre este assunto é que trabalharemos na próxima aula. Bom estudo!

Aula 4 - Estrutura de Sólidos Cristalinos 53 Rede e-Tec Brasil


Aula 5 - Defeitos Cristalinos

Objetivo:

• Identificar os tipos de defeitos cristalinos.

Estimado estudante, os materiais cristalinos foram considerados isentos de


defeitos até aqui, neste texto. Mesmo os cristais crescidos cuidadosamente
em laboratório apresentam defeitos cristalinos. Na realidade, cristais perfei-
tos não existem, pois, como veremos nesta aula, acima de 0 K sempre existe
uma determinada concentração de defeitos puntiformes dentro dos cristais.
Portanto, os materiais cristalinos apresentam uma microestrutura.

A microestrutura de um material é determinada principalmente pela sua


composição química e pelo seu processamento (solidificação, conforma-
ção mecânica, tratamentos térmicos etc.).

5.1 Principais Tipos de Defeitos Cristalinos


Os defeitos que serão abordados a seguir são: puntuais, lineares ou discor-
dâncias e os planares.

5.1.1 Defeitos Puntuais:


Sobre os defeitos puntuais: são classificados geometricamente, incluem va-
câncias, interstícios, substitucionais, Frenkel e Shottky.

5.1.1.1 Vacâncias e autointersticiais


O mais simples dos efeitos de pontos é uma vacância ou sítio vazio da rede, isto
é, está faltando um átomo, figura 19, no sítio normalmente ocupado. Vacân-
cias são formadas durante o empacotamento imperfeito na solidificação inicial
e também como um resultado de vibrações atômicas em temperaturas eleva-
das, que causam o deslocamento de átomos a partir de seus sítios normais na
rede e autointersticiais o átomo da própria rede cristalina ocupa um interstício.

Aula 5 - Defeitos Cristalinos 55 Rede e-Tec Brasil


Solidificação é a extração de calor da extremidade de um molde para
produzir resfriamento.

FIGURA 19 - Representações bidimensio-


nais de uma vacância e de um átomo au-
tointersticial. Adaptadas de Callister, 2000.

(5.1)

Onde: nv: n° de vacâncias/cm3; n: n° de pontos na rede/cm3; Q: energia ne-


cessária para produzir a vacância (J/mol); R: constante universal dos gases,
ou constante de Boltzmann (8,31 J/mol.K); T: temperatura em K.

5.1.1.2 Átomos substitucionais


Quando um átomo é deslocado de sua posição original por outro e, confor-
me o tamanho, pode aproximar os átomos da rede e/ou separar os átomos
da rede. A/ Como consequência desse processo se dá a distorção da rede,
como mostra a figura 20.

Átomo substitucional pequeno Átomo substitucional grande

FIGURA 20 - Defeito Substitucional. Adaptado de material didático, Prof.Poliana, IFPA.

5.1.1.3 Defeito Frenkel e Shottky


O defeito Frenkel ocorre quando um átomo desloca-se de sua posição no
reticulado (formando uma lacuna ou vazio) para uma posição intersticial. Já

Rede e-Tec Brasil 56 Introdução à Ciência dos Materiais


o Shottky ocorre à lacuna de um par de íons, figura 21. Ocorrem em com-
postos iônicos (materiais cerâmicos).

Defeito Frenkel Defeito Shottky

FIGURA 21 - Defeitos Pontuais. Adaptada de material didático, Prof.Poliana, IFPA.

5.1.2 Defeitos Lineares ou Discordâncias


Uma discordância é um defeito linear ou unidimensional ao redor de alguns
átomos desalinhados; existe uma linha separando a seção perfeita da seção
deformada do material. Um tipo de discordância é apresentado na figura 22.
Esta é denominada uma discordância de aresta; ela é um defeito linear que
se centra ao redor da linha que é definida ao longo da extremidade do meio-
-plano extra de átomos. Algumas vezes, a discordância de linha é represen-
tada pelo símbolo ⊥, que também indica a posição da linha de discordância
(corresponde à borda do plano extra).

(a) (b)

(c) (d)

Aula 5 - Defeitos Cristalinos 57 Rede e-Tec Brasil


(e) (f)

FIGURA 22 - a) As posições dos átomos ao redor de uma discordância de aresta; b)


Meio-plano extra de átomos mostrado em perspectiva; c) Cristal perfeito, o circuito
se fecha; d) Discordância em linha, o vetor necessário para fechar o circuito é o vetor
de Burgers, b, que é perpendicular à discordância; e) Discordância em hélice, nesse
caso, o vetor de Burgers é paralelo à discordância; f) O vetor de Burgers mantém uma
direção fixa no espaço. S. Paciornik – DCMM PUC-Rio.

5.1.3 Defeitos Planares


A partir deste momento, estudaremos os defeitos interfaciais e fronteiras de
grão, estes também compreendidos como defeitos planares ou bidimensionais.

5.1.3.1 Defeitos interfaciais e fronteiras de grão


Defeitos interfaciais são contornos que têm duas dimensões e normalmente
separam regiões dos materiais que têm diferentes estruturas cristalinas. Es-
tas imperfeições incluem principalmente contornos de grão e contornos de
maclas, figura 23.

(a)

(b)

FIGURA 23 - Diagrama esquemático mostrando contornos de grão de baixo e de alto-


-ângulo e as posições dos átomos adjacentes: a) Contornos de grão; b) Contornos de
maclas. S. Paciornik – DCMM PUC-Rio.

Rede e-Tec Brasil 58 Introdução à Ciência dos Materiais


Resumo
Devemos considerar a desordem dos materiais tanto quanto a sua ordem. Os
cristais não são sempre perfeitos e muitas propriedades e comportamentos
importantes dos materiais decorrem das irregularidades cristalinas. Imper-
feições estão em todos os cristais, salvo em casos especiais em que meios
extraordinários sejam usados a fim de reduzi-las. Convém classificá-las ge-
ometricamente: defeitos puntuais, ao quais incluem vacâncias, interstícios,
substitucionais, Frenkel e Shottky; defeitos em linha, chamados de discor-
dâncias; defeitos planares ou bidimensionais, os contornos de grãos.

Atividades de Aprendizagem
1. Calcule o n° de vacâncias por centímetro cúbico e o n° de vacâncias
por átomo de cobre, quando o cobre está: a temperatura ambiente e a
1084°C. Aproximadamente 83600 J/mol são requeridos para produzir
uma vacância no cobre. Dados:

a0 = 3,6151 x 10-8 cm
Q = 83600 J/mol
R = 8,31J/mol.K

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2. Que tipo de defeitos pode ocorrer num cristal? Quais são os defeitos
pontuais? Descreva-os.

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Aula 5 - Defeitos Cristalinos 59 Rede e-Tec Brasil


3. O que são discordâncias e como podem ocorrer?

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4. Defina grão. O que é contorno de grão. Que tipo de defeito é considera-


do um contorno de grão?

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5. Uma medição muito acurada foi feita sobre amostras de alumínio (CFC),
visando determinar a densidade do metal. Para a condição de resfria-
mento a 650ºC, a densidade ideal é 2,698 g/cm3. Compare esse valor
com o da densidade teórica (real) obtida, onde o parâmetro de rede a0
foi determinado como sendo igual a 0,4049 nm. Dados:

A= 26,98 g/mol.
Na= 6,023 x 1023átomos/mol.
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6. De acordo com o resultado obtido da questão anterior, determine quan-


tas lacunas (defeitos) por 1000 átomos têm as amostras de alumínio,
assim como a maioria dos metais em estudo.

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Rede e-Tec Brasil 60 Introdução à Ciência dos Materiais


Estamos caminhando para a reta final da disciplina, por isso ressalto aqui que
a disputa pelo mercado cada dia mais competitivo e exigente representa um
desafio para os profissionais de todos os segmentos da sociedade. Isto só foi
possível, com a evolução de técnicas construtivas e o desenvolvimento de
novos materiais. As técnicas escolhidas devem garantir a maior produtivida-
de que, por sua vez, exigirá etapas correspondentes de inspeção e controle.
Novas técnicas exigem novos materiais ou pode requerer o aperfeiçoamento
das já existentes. Este mecanismo cíclico dá a ideia da importância do conhe-
cimento dos materiais e de suas propriedades.

A noção de “propriedade” merece elaboração. Enquanto usado em serviço,


todos os materiais são expostos a estímulos externos que evocam algum tipo
de resposta. Por exemplo, uma amostra submetida à força irá experimentar
deformação, ou uma superfície de metal, polido, refletirá luz.

Concentre-se, pois a próxima aula será nossa última, espero que esteja já se
sentindo apto a encarar os desafios desse segmento do mercado, que é a
metalurgia.

Aula 5 - Defeitos Cristalinos 61 Rede e-Tec Brasil


Aula 6 - Propriedades dos Materiais

Objetivos:

• Definir o conceito de propriedade dos materiais;

• Explicar os vínculos entre as propriedades dos vários tipos de


materiais e o contexto mercadológico da atualidade;

• Enumerar as categorias em que podem ser agrupadas as pro-


priedades;

• Explicar a relação: propriedade mecânica x deformação;

• Apontar os elementos constituintes do gráfico sobre tensão x


deformação convencional;

• Definir “regiões comportamentais”;

• Enumerar os tipos de deformação de materiais sólidos produzi-


dos por tração;

• Explicar a importância da Lei de Hooke para estudos relaciona-


dos com a elasticidade do Aço;

• Descrever as propriedades mecânicas de ductilidade e dureza;

• Especificar a importância das propriedades elétricas para na uti-


lização mercadologia de materiais;

• Interpretar a expressão matemática: V=1xR;

• Conceituar comportamento dielétrico;

• Conceituar condutividade térmica;


• Descrever as características do estado magnético dos materiais;

• Interpretar a expressão matemática: Bo=uo.H;

• Definir propriedades óticas.

Prezado estudante, geralmente, as importantes propriedades de materiais


podem ser agrupadas em diferentes categorias: mecânica, elétrica, térmica,
magnética, ótica etc. Para cada uma existe um tipo característico de estímulo
capaz de provocar diferentes respostas. Propriedades mecânicas relacionam
deformação a uma carga ou força aplicada; exemplos incluem módulo elás-
tico e resistência mecânica. Para propriedades elétricas, tais como condu-
tividade elétrica e constante dielétrica, o estímulo é um campo elétrico. O
comportamento térmico de sólidos pode ser representado em termos de
capacidade calorífica e condutividade térmica. Propriedades magnéticas de-
monstram a resposta de um material à aplicação de um campo magnético.
O estímulo eletromagnético ou radiação de luz é representativa propriedade
ótica. Nesta aula, discutiremos propriedades que se incluem dentro destas
classificações.

Propriedade é a característica de um material em termos do tipo e mag-


nitude de resposta a um específico estímulo imposto.

6.1 Propriedades mecânicas


A presente discussão está confinada principalmente ao comportamento me-
cânico de metais; polímeros e cerâmicas estão tratados como segmentos
exemplificados porque eles são, num grande grau, mecanicamente dissimi-
lares aos metais. Este item discute o comportamento tensão-deformação de
metais e as principais propriedades mecânicas relacionadas a ele.

6.1.1 Diagrama tensão x deformação (σ x ε)


Para a definição da tensão e deformação convencionais, vamos considerar
uma barra cilíndrica e uniforme que é submetida a uma carga de tração, se-
melhante ao procedimento aplicado para um ensaio de tração normalizado,
conforme mostra a figura 24.

Rede e-Tec Brasil 64 Introdução à Ciência dos Materiais


FIGURA 24 - Curva tensão-deformação convencional.
Apostila prof.Otávio Rocha-IFPA.

Normalização: Em todos os países existem entidades normalizadoras, cuja


função é produzir normas que regulamentem a qualidade, classificação, pro-
dução e emprego dos diversos materiais. Além das entidades locais, existem
outras regionais que englobam vários países como é o caso das seguintes:

ISO - International Organization for Standardization

COPANT - Comissão Pan-americana de Normas Técnicas

AMN - Associação MERCOSUL de Normalização

No Brasil, a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas está encarrega-


da de produzir as normas técnicas.

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 65 Rede e-Tec Brasil


Na curva da figura 24, observam-se quatro regiões de comportamentos dis-
tintos, quais sejam: OA – região de comportamento elástico; AB – região de
escoamento de discordância; BU – região de encruamento uniforme; UF –
região de encruamento não uniforme (o processo de ruptura tem início em U
e é concluído no ponto F). Para um material de alta capacidade de deforma-
ção permanente, o diâmetro do corpo-de-prova começa a decrescer rapida-
mente ao se ultrapassar a carga máxima (ponto U). Assim, a carga necessária
para continuar a deformação diminui até a ruptura do material. Quando um
corpo sofre a ação de forças externas, surgem esforços (reações) internos no
material e deformações, correspondentes ao carregamento. Dá-se o nome
de tensão (σ) à relação entre a força (F) aplicada num corpo e a área (A) da
seção transversal (perpendicular à força aplicada), exposto na figura 24.

A variação de comprimento, conhecida como deformação linear ou especí-


fica (ε) é obtida dividindo-se a variação do comprimento (Δλ), causada pelo
carregamento, pelo comprimento inicial (λ0), figura 25.

Figura 25- Deformação do material sólido por tração.


Apostila prof.Otávio Rocha-IFPA.

As deformações podem ser de dois tipos:

Elásticas: Quando ocorrem instantaneamente e são reversíveis. Elas podem


ser lineares, quando a deformação é proporcional às tensões aplicadas, ou
não lineares. Um indicador de deformação elástica é o módulo de elasticidade.

Plásticas: são deformações residuais que permanecem mesmo depois de ces-


sado o carregamento. Um indicador de deformação plástica é a ductilidade.

Módulo de Elasticidade (E) de um material é a função que relaciona a tensão


(σ) aplicada e a deformação (ε) desenvolvida por um material, pode ser ex-

Rede e-Tec Brasil 66 Introdução à Ciência dos Materiais


pressa graficamente pelo diagrama tensão-deformação, conforme exemplo
da figura 26:

FIGURA 26 - Módulo de Elasticidade do aço ASTM A-36.


Apostila prof.Otávio Rocha-IFPA.

Elasticidade – Propriedade do material segundo a qual a deformação que ocor-


re em função da aplicação de tensão desaparece quando a tensão é retirada.

Esta é conhecida como a lei de Hooke e a constante de proporcionalidade E


(psi ou MPa) é o módulo de elasticidade ou módulo de Young. Para muitos
metais típicos, a magnitude deste módulo varia entre 6,5 x 106 psi (4,5 x 104
MPa), para o magnésio, e 59 x 106 psi (40,7 x 104 MPa), para o tungstênio.
No Sistema Internacional de Medidas (SI) a unidade do módulo de elasticida-
de é dada em gigapascal (GPa), onde: 1 GPa = 109 N/m2 = 103 MPa.

Ductilidade é outra importante propriedade mecânica. Ela é uma medida


do grau de deformação plástica requerida para a fratura. Um material que
experimenta muito pouca ou nenhuma deformação plástica antes da fratura
é denominado frágil (“brittle”). Os comportamentos de tensão de tração-
-deformação para materiais tanto dúteis quanto frágeis são esquematica-
mente ilustrados na figura 27. Algumas vezes nos referimos a materiais rela-
tivamente dúteis como sendo “generosos” (“forgiving”) no sentido de que
eles podem experimentar deformação local sem fratura, caso exista um erro
em magnitude no cálculo de tensão do projeto. Materiais frágeis são consi-
derados como aqueles que possuem uma deformação de fratura de menos
de cerca de 5%.

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 67 Rede e-Tec Brasil


Figura 27- Representação esquemática de
comportamento tensão (σ) X deformação
(ε) para materiais frágeis e dúcteis carrega-
dos até a fratura. Callister, 2000.

6.1.2 Dureza
A dureza representa a resistência à penetração da superfície de um mate-
rial. Quanto mais duro é um material, maior é a dificuldade para riscá-lo e,
consequentemente, maior a sua resistência à abrasão. Existe uma relação
entre a dureza e a resistência mecânica de um material e, quanto maior a
dureza, maior será sua resistência mecânica. Como demonstra o gráfico a
Resistência mecânica:
Resistência à ação de tensões seguir, figura 28.
mecânicas.
Figura 28- Relação entre a dureza e a resistência
mecânica de um material.
Figura copiada da apostila do Prof.Sidnei PUC-Rio.

Resistência Mecânica é uma medida do ní-


vel de tensão requerido para fazer com que
um material seja rompido.

Material abrasivo é um material duro, me-


canicamente resistente.

6.2 Propriedades elétricas


O principal objetivo de explorar as propriedades elétricas dos materiais é ob-
ter respostas a um campo elétrico aplicado sobre eles. O início é o fenômeno
de condução elétrica, os parâmetros pelos quais ela é expressa e o meca-
nismo da condução por elétrons. Estes princípios são estendidos a metais,
semicondutores e isolantes. As seções finais são devotadas aos particulares
fenômenos de ferroeletricidade e piezoeletricidade.
Semicondutor: Um material
com condutividades controláveis,
intermediárias entre isolantes e
condutores.
6.2.1 Condução elétrica
Uma das mais importantes características elétricas de um material sólido
é a facilidade com a qual ele transmite corrente elétrica. Em 1827, o físico
alemão Georg Simon Ohm (1787- 1854) formulou a lei que relaciona a dife-

Rede e-Tec Brasil 68 Introdução à Ciência dos Materiais


rença de potencial (V), a resistência elétrica (R) e a corrente elétrica (i) como
se segue:

V = Ι× R (6.1)

As unidades para V, I e R são, respectivamente, volts (J/C), amperes (C/s) e


ohms (V/A). O valor de R é influenciado pela configuração da amostra e.
para muitos materiais. é independente da corrente.

A resistividade ρ é independente da geometria da amostra, mas está relacio-


nada à resistência elétrica R através da expressão:

(6.2)
Onde

é a distância entre os dois pontos nos quais a voltagem é medida e A é a


área da seção reta perpendicular à direção da corrente. As unidades para
são ohm-metros (-m). A partir da expressão para a lei de Ohm’s (6.1) na
equação 6.2,

(6.3)

A condutividade elétrica ρ é usada para especificar o caráter elétrico de um


material. Ela é simplesmente o recíproco da resistividade ou:

(6.4)

As unidades para ρ são recíprocas de ohm-metros, isto é, [(-m)-1 ou mho/m].


As seguintes discussões sobre propriedades elétricas usam tanto a resistivi-
dade quanto a condutividade. Em adição à equação 6.1, a lei de Ohm’s pode
ser expressa na forma:
J=σxξ
(6.5)

Na qual J é a densidade de corrente, a corrente por unidade de área da


amostra, , e ξ é a intensidade do campo elétrico ou a diferença de volta-
gem entre os dois pontos divididos pela distância que os separam, isto é,

(6.6)

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 69 Rede e-Tec Brasil


A condutividade elétrica é, dentre as propriedades dos materiais, a que apre-
senta valores mais característicos e distantes. Em função dos valores de con-
dutividade ou de resistividade, os materiais podem ser classificados como:
condutores, semicondutores e isolantes. Por exemplo, a condutividade elé-
trica de um condutor (metais), como a prata ou o ouro, é mais de 20 ordens
de grandeza maior que a condutividade de um isolante, como o polietileno
(polímero). A alta condutividade elétrica dos materiais metálicos é devida ao
grande número de condutores de carga (elétrons livres) que podem ser facil-
mente promovidos. Em uma rede cristalina isenta de vibrações (0 K) e de de-
feitos, a resistividade elétrica é teoricamente nula. A resistência elétrica dos
metais e ligas tem origem no espalhamento dos elétrons pelas vibrações da
rede, pelos átomos de impureza e pelos defeitos cristalinos. Materiais com
condutividades intermediárias são denominados semicondutores. A tabela
05 apresenta a resistividade elétrica de alguns materiais.
Tabela 05 - Resistividade de alguns materiais.
Material Resistividade
Condutores
Prata 1,7 x 10-6
Cobre 1,8 x 10-6
ReO3 2,0 x 10-6
Alumínio 3,0 x 10-6
Ferro 13 x 10-6
CrO2 3,0 x 10-6
Grafita 1,0 x 10-6
Semicondutores
Fe3O4 10-2
B4C 0,5
SiC 10
Germânio 40
Silício 2 x 10-5
Isolantes
Al2O3 >1014
SiO2 >1014
Si3N4 >1014
MgO >1014
Borracha Vulcanizada 1014
Nylon 1014
PTFE (teflon) 1016
Poliestireno 1018

Padilha, 1997.

Rede e-Tec Brasil 70 Introdução à Ciência dos Materiais


6.2.2 Comportamento dielétrico
Um material dielétrico é um material isolante que apresenta em nível atô-
mico ou molecular regiões carregadas positivamente separadas de regiões
carregadas negativamente. As propriedades dielétricas são muito importan-
tes no desempenho de um isolante, por exemplo, no projeto e utilização em
capacitores. Os valores de rigidez dielétrica dos polímeros, cerâmicas e vidros
estão na faixa de 10 a 40 V/mm.

Os materiais ferroelétricos são materiais dielétricos que podem apresentar


polarização na ausência de campo elétrico. Um exemplo típico de material
ferroelétrico é o titanato de bário, conforme ilustra a figura 29. Os materiais
ferroelétricos apresentam constante dielétrica extremamente alta e capacito-
res fabricados com eles podem ser muito menores do que os fabricados com
outros materiais dielétricos.

FIGURA 29 - Uma célula unitária de titanato de bário (BaTiO3): (a) numa projeção iso-
métrica (célula unitária tetragonal); (b) olhando numa face, que mostra os desloca-
mentos dos íons de Ti4+ e O2- em relação ao centro da face, (segundo Callister, 2000).

Os materiais piezoelétricos são materiais dielétricos nos quais a polarização


pode ser induzida pela aplicação de forças (tensões) externas. Este fenôme-
no é ilustrado na figura 30. Quando uma força é aplicada em um material
piezoelétrico, um campo elétrico é gerado.

Invertendo-se o sinal da força, por exemplo, de compressão para tração, a


direção do campo gerado é invertida. As tensões mecânicas podem polarizar
um cristal deslocando a posição relativa de seus íons desde que o cristal não
apresente centro de simetria.

Os materiais piezoelétricos são utilizados como transdutores, que são com-


ponentes que convertem energia elétrica em deformação mecânica e vice-
-versa. Eles são usados, por exemplo, em microfones. Os principais materiais

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 71 Rede e-Tec Brasil


piezoelétricos são: quartzo, titanato de bário, titanato de chumbo e zircona-
to de chumbo (PbZrO3).

Figura 30- Efeito da aplicação de tensão mecânica na polarização de um material pie-


zoelétrico: a) ausência de tensão e de polarização; b) presença de tensão e ausência
de polarização; c) presença de tensão e de polarização.
Padilha, 1997.

6.3 Propriedades térmicas


Quando um sólido absorve calor, sua temperatura aumenta e sua energia
interna também. Os dois tipos principais de energia térmica em um sólido
são a energia vibracional dos átomos ao redor de suas posições de equilíbrio
e a energia cinética dos elétrons livres. Serão abordadas neste contexto: a
capacidade térmica, a expansão e a condutividade térmica.

Por propriedades térmicas deve-se entender a resposta ou reação do ma-


terial à aplicação de calor.

6.3.1 Capacidade térmica


O aumento de temperatura provoca a expansão de diversos materiais. Em
alguns deles, esta variação é discreta enquanto que em outros pode ser fa-
cilmente notada.

Temperatura é uma grandeza física que mede o estado de agitação das


partículas de um corpo, caracterizando o seu estado térmico.

Se tomarmos massas idênticas de dois materiais diferentes na mesma tem-


peratura inicial e cedermos a eles uma mesma quantidade de calor, os dois
atingirão temperaturas finais de equilíbrio diferentes. A capacidade térmica
é a propriedade que indica a aptidão do material em absorver calor do meio
externo. Ela representa a quantidade de energia necessária para aumentar
a temperatura de uma unidade. A definição matemática da capacidade tér-
mica (C) é:

Rede e-Tec Brasil 72 Introdução à Ciência dos Materiais


(6.7)

Onde: dQ é a energia necessária para produzir uma mudança dT de tempe-


ratura. As unidades mais comuns de capacidade térmica são J/molK ou cal/
molK. Frequentemente, utiliza-se o termo calor específico para representar
a capacidade térmica por unidade de massa (J/kgK). O calor específico pode
ser determinado mantendo-se o volume do material constante (cv) ou man-
tendo-se a pressão externa constante (cp). As definições termodinâmicas de
cv e cp são as seguintes:

(6.8)
Onde: E = é a energia interna e H = é a entalpia.

A energia interna e a entalpia estão relacionadas da seguinte maneira:

H=E+PV
(6.9)

O calor específico à pressão constante (cp) é sempre ligeiramente maior do


que o calor específico ao volume constante (cv). Em outras palavras, para
os sólidos a entalpia e a energia interna são muito similares. Para a maioria
dos sólidos, a principal maneira de assimilação de energia é pelo aumento
da energia vibracional dos seus átomos. Os átomos nos sólidos, acima de
0K, estão sempre vibrando com frequências muito altas e com pequenas
amplitudes.

Não esquecendo que os átomos não vibram independentemente uns dos


outros, pois eles estão acoplados aos seus vizinhos pelas ligações atômicas.
Estas vibrações são coordenadas de tal maneira que tudo se passa como se
ondas atravessassem o material. Estas ondas podem ser imaginadas como
ondas elásticas (energia térmica vibracional = ela só é significativa nos ma-
teriais que apresentam elétrons livres) ou ondas sonoras, que se propagam
no cristal com altas frequências (comprimentos de onda curtos) e com a
velocidade do som.

Do exposto acima, é razoável esperar que a capacidade térmica dependa da


temperatura, contudo, depende muito pouco da estrutura e da microestru-
tura do material. Por outro lado, a porosidade tem grande influência prá-

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 73 Rede e-Tec Brasil


tica na capacidade térmica. Por exemplo, uma cerâmica porosa exige uma
quantidade menor de calor para atingir uma determinada temperatura do
que uma cerâmica isenta de poros. Em outras palavras, um forno revestido
com tijolos refratários porosos pode ser aquecido com menor consumo de
energia.

6.3.2 Expansão térmica


Na ausência de transformações de fase, a maioria dos sólidos aumenta de
dimensões durante o aquecimento (o aumento da temperatura de um corpo
provoca neste um aumento de suas dimensões, em função da maior agita-
ção apresentada pelos seus átomos, ocasionando maior número de choques
entre eles e, consequentemente, aumentando o espaçamento entre eles) e
contrai durante o resfriamento. O coeficiente de dilatação térmica linear αL
é definido da seguinte maneira:

(6.10)

Onde: li = é o comprimento inicial; lf = é o comprimento final; Ti = é a tem-


peratura inicial e Tf = é a temperatura final.

A figura 31 apresenta a expansão térmica de diversos materiais.

Transformações de fase são reações envolvendo alterações de fase dentro


dos sólidos.

Fase (material) uma parte fisicamente homogênea de um sistema material.

Exemplos desse fenômeno:

a. Uma rede elétrica aérea apresenta sempre folga entre dois postes, carac-
terizada por uma flecha. A causa disto é evitar uma tração e uma possível
ruptura no fio, quando ele diminui de comprimento com a diminuição
de temperatura.

b. Entre dois trilhos de uma ferrovia sempre existe pequeno intervalo. O


motivo é evitar a compressão nos trilhos, quando houver dilatação, em
virtude de aumento de temperatura.

Rede e-Tec Brasil 74 Introdução à Ciência dos Materiais


FIGURA 31- Expansão térmica de diver-
sos materiais cerâmicos, metálicos e
poliméricos (segundo D.W.Richerson).
Padilha, 1997.

6.3.3 Condutividade térmica


É a capacidade de um material conduzir ou transferir calor. Esta propriedade
pode ser observada também no estudo do conforto térmico da edificação
e até mesmo na segurança estrutural como, por exemplo, nas edificações
cujas estruturas são compostas por aço. Para um fluxo estacionário de calor,
pode-se escrever:
(6.11)

Onde: q representa o fluxo de calor, isto é, a quantidade de calor transpor-


tada por unidade de área e por unidade de tempo (em J/m2. s ou W/m2); k
é a condutividade térmica (em W/m.K); é o gradiente de temperatura
no meio condutor.

A equação 6.11 é válida somente para escoamento de calor em regime per-


manente, isto é, para situações nas quais o fluxo de calor não varia com o
tempo.O sinal negativo na expressão também indica que o sentido de esco-
amento de calor é a partir da parte quente para a parte fria.

Os problemas de transporte de calor são tratados nos livros e disciplinas de-


nominados fenômenos de transporte. Neste texto, são discutidas apenas as
propriedades dos materiais.

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 75 Rede e-Tec Brasil


6.4 Propriedades Magnéticas
De uma maneira simplificada, pode-se dizer que magnetismo é um fenô-
meno pelo qual os materiais exercem forças (de atração e de repulsão) uns
sobre os outros. Esta definição, embora útil e prática, apresenta algumas
limitações. Por exemplo, o estado magnético de um material não é constan-
te e pode ser alterado de diversas maneiras. Além disto, o fato de materiais
repelirem-se ou atraírem-se não significa que eles sejam magnéticos.

A força entre eles pode ser, por exemplo, de caráter eletrostático. Muitos
dos equipamentos e dispositivos modernos dependem do magnetismo e dos
materiais magnéticos: geradores e transformadores de eletricidade, motores
elétricos, rádio, televisão, telefone e computadores. O ferro, alguns aços
e a magnetita (Fe3O4) são exemplos de materiais comuns que apresentam
magnetismo.

Eletrostática - é a parte da Física que estuda os fenômenos que ocorrem


com a carga elétrica em repouso.

Forças magnéticas aparecem quando partículas eletricamente carregadas


(não neutras) se movimentam. Frequentemente, é conveniente raciocinar
em termos de campo magnético e linhas de força (imaginárias) podem ser
traçadas indicando a distribuição do campo magnético. Por exemplo, as li-
nhas de forças e o campo magnético aparecem ao redor de um condutor
pelo qual está passando corrente elétrica ou ao redor de um magneto (imã).

As linhas de força saem do polo norte em direção


ao polo sul. Outro conceito importante é o conceito
de dipolo magnético. Os dipolos magnéticos podem
ser imaginados como pequenas barras compostas de
polos norte e sul. A figura 32 apresenta, de maneira
esquemática, os momentos magnéticos de um corpo
sólido. O momento magnético do corpo é a soma dos
momentos magnéticos das unidades elementares que
o constituem.

FIGURA 32- Linhas de força de campo magnético ao redor de


um anel de corrente e de uma barra magnética.
Callister, 2000.

As relações entre o campo magnético aplicado (H) e a intensidade do campo


magnético induzido ou densidade de fluxo magnético (B), também denomi-

Rede e-Tec Brasil 76 Introdução à Ciência dos Materiais


nado indução magnética e magnetização serão discutidas com o auxílio da
figura 33.

Na figura 33.a, um campo magnético H é gerado pela passagem de uma


corrente i por uma espira cilíndrica de comprimento l e contendo N voltas.
O campo magnético é medido em termos do fluxo magnético no vácuo Bo
(Wb/m2):
(6.12)

Onde: µ0 é a permeabilidade magnética no vácuo (4π10-7 H/m ou T.m/A). A


permeabilidade tem dimensões de webers por ampere-metro (Wb/A-m) ou
henries por metro (H/m). Wb significa Weber, H significa Henry e a unidade
de B é Tesla [ou webers por metro quadrado (Wb/m2)]. A densidade de fluxo
magnético B dentro do sólido da figura 33.b é dada por:

B =µH (6.13)

Onde: µH é a permeabilidade magné-


tica do sólido.

FIGURA 33- Relações entre H e B em: a)


uma espira condutora no vácuo e b) no in-
terior de um material (segundo A.G.Guy e
W.D. Callister, Jr.). Vide descrição no texto.

A permeabilidade ou permeabilidade relativa de um material é uma me-


dida do grau até onde o material pode ser magnetizado, ou a facilidade
com a qual um campo B pode ser induzido na presença de um campo
externo H.

Outro parâmetro importante é a suscetibilidade magnética (χm) que é adi-
mensional1:
(6.14)

As permeabilidades µe µr medem a facilidade com que um campo magné-


tico (B) pode ser introduzido em um material sob ação de um campo externo
(H). A tabela 07 apresenta valores de permeabilidade magnética relativa (µr)
para alguns materiais.

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 77 Rede e-Tec Brasil


Esta χm é tomada como a suscetibilidade volumétrica em unidades do SI,
que, quando multiplicada por H, fornece a magnetização por unidade de
volume (metro cúbico) de material.

Tabela 06- Permeabilidade magnética relativa (µr) de alguns materiais.


Ferro “puro” (0,1% de impurezas) 0,5 103
Aço ao silício (4,25% Si) 1,5 103
Aço ao silício (3,25% Si) com grãos orientados (textura) 2,0 103
“Supermalloy” (79% Ni, 16% Fe; 5% Mo) 1,0 104
Ferrita cerâmica (Mn, Zn)Fe2O4 1,5 103
Ferrita cerâmica (Ni, Zn)Fe2O4 0,3 103

Padilha, 1997.

6.4.1 Comportamento magnético dos materiais


Do mesmo modo que os materiais diferem bastante na sua resposta a um
campo elétrico (condutores, isolantes e etc.), eles também diferem substan-
cialmente quando expostos a um campo magnético.

Os efeitos magnéticos nos materiais originam-se nas minúsculas correntes


elétricas associadas ou a elétrons em órbitas atômicas. Podemos classificar
os materiais quanto ao seu comportamento magnético em diamagnéticos,
paramagnéticos e ferromagnéticos.

Todos os materiais exibem pelo menos um destes tipos e o comportamento


depende da resposta dos dipolos magnéticos do elétron e atômico à aplica-
ção de um externamente aplicado campo magnético.

6.4.1.1 Diamagnetismo
Diamagnetismo é uma forma muito fraca de magnetismo, que só persiste
enquanto um campo magnético externo estiver aplicado. Na ausência de
campo externo, os átomos de um material diamagnético têm momento nulo.

A magnitude do momento magnético induzido pelo campo externo é ex-


tremamente pequena e sua direção é oposta à direção do campo aplicado
(vide figura 34). Todos os materiais têm diamagnetismo, mas ele é tão fraco
que só pode ser observado em materiais que não apresentam outro tipo de
magnetismo.

Esta forma de magnetismo não tem importância prática. Pode ser observado
em numerosos materiais, tais como gases inertes, muitos metais, elementos

Rede e-Tec Brasil 78 Introdução à Ciência dos Materiais


não metálicos (B, Si, P e S), compostos orgânicos e água. A tabela 07 apre-
senta a susceptibilidade magnética de alguns materiais.

Observe que a susceptibilidade magnética dos materiais diamagnéticos é nega-


tiva. Eles não apresentam temperatura crítica. Finalmente, é interessante men-
cionar que os materiais supercondutores têm comportamento diamagnético.

(a) (b)

FIGURA 34 - Configuração de dipolos em um material diamagnético: a) na ausência


de campo externo; b) com campo externo aplicado (segundo W.D. Callister, Jr.).

Tabela 07- Susceptibilidade magnética (χm) de alguns materiais diamagnéticos.


Óxido de alumínio -0,1 10-5
Cobre 2,38 10-5
Ouro -1,41 10-5
Mercúrio -1,56 10-5

Padilha, 1997.

6.4.1.2 Paramagnetismo
Nos materiais paramagnéticos, os átomos individuais possuem momentos
magnéticos, mas suas orientações ao acaso resultam em magnetização nula
para um grupo de átomos. Os dipolos podem ser alinhados na direção do
campo aplicado (vide figura 35). O paramagnetismo também, como o dia-
magnetismo, é uma forma muito fraca de magnetismo e não tem aplicação
prática. Os materiais paramagnéticos apresentam susceptibilidade magnéti-
ca na faixa de +10-5 a +10-3. A susceptibilidade magnética (χm) dos materiais
paramagnéticos diminui com o aumento da temperatura segundo a relação:

(6.15)

Onde: C é uma constante e T é a temperatura.

(a) (b)
FIGURA 35 - Configuração de dipolos em um material paramagnético: a) na ausência
de campo externo; b) com campo externo aplicado (segundo W.D. Callister, Jr.).

Aula 6 - Propriedades dos Materiais 79 Rede e-Tec Brasil


O paramagnetismo pode ser observado em numerosos materiais, tais como:
alguns metais (por exemplo, Cr e Mn), alguns gases diatômicos (por exem-
plo, O2 e NO), íons de metais de transição (plásticos), terras raras e seus sais,
madeira e óxidos de terras raras. A tabela 08 apresenta a susceptibilidade
magnética de alguns materiais paramagnéticos. Observe que a susceptibili-
dade magnética dos materiais paramagnéticos é positiva. Eles também não
apresentam temperatura crítica.

Tabela 08- Apresenta a susceptibilidade magnética de alguns materiais paramagnéticos. Susceptibilidade

magnética (χm) de alguns materiais paramagnéticos.

Alumínio 2,07 10-3 Molibdênio 1,19 10-4


Cromo 3,13 10-4 Sódio 8,48 10-6
Cloreto de cromo 1,51 10 -3
Titânio 1,81 10-4
Sulfato de Mn 3,70 10-4 Zircônio 1,09 10-4

Padilha, 1997.

6.4.1.3 Ferromagnetismo
Alguns materiais metálicos possuem momento magnético na ausência de
campo externo, conforme ilustra a figura 36. Os materiais ferromagnéticos
podem apresentar valores de susceptibilidade magnética tão alta como 106.

Alguns materiais cerâmicos também apresentam forte magnetização per-


manente, denominada ferrimagnetismo. Estes materiais são denominados
ferritas (não confundir com a fase αdo ferro, de estrutura CCC, também
denominada ferrita).

As características macroscópicas do ferromagnetismo e do ferrimagnetismo


são similares. As diferenças encontram-se na origem do momento magnéti-
co. A susceptibilidade dos materiais ferrimagnéticos é da mesma ordem de
grandeza da dos materiais ferromagnéticos e diminui com o aumento da
temperatura.

(a) (b)

Figura 36 - a) Configuração de dipolos em um material ferromagnético na ausência


de campo externo aplicado (segundo W.D. Callister, Jr.); b) configuração de dipolos
no ferro.

Rede e-Tec Brasil 80 Introdução à Ciência dos Materiais


O comportamento antiferromagnético é apresentado por alguns materiais,
sendo que o protótipo é o óxido de manganês (MnO). O MnO é um material
cerâmico com caráter iônico e a sua estrutura cristalina é CFC do tipo cloreto
de sódio (NaCl). A susceptibilidade dos materiais antiferromagnéticos é da
mesma ordem de grandeza da dos materiais paramagnéticos e diminui com
o aumento da temperatura.

6.5 Propriedades ópticas


Por propriedades ópticas entende-se a resposta ou reação do material à in-
cidência de radiação eletromagnética e, em particular, de luz visível. A ra-
diação eletromagnética pode ser considerada como sendo ondas com dois
componentes perpendiculares entre si e ambos perpendiculares à direção de
propagação. Portanto, uma onda eletromagnética pode ser bem represen-
tada em um sistema cartesiano com três eixos ortogonais entre si: um eixo
representa o campo elétrico (E); o outro representa o campo magnético (H)
e o terceiro eixo representa a direção de propagação. Luz, calor, ondas de
radar, ondas de rádio e raios x são formas de radiação eletromagnética. A
figura 37 apresenta o espectro de radiações eletromagnéticas, que consiste
em enorme faixa de frequências de radiação.

Atualmente, o estudo da Óptica congrega todos os fenômenos em que


intervém a energia radiante, que se propaga no espaço por meio de
ondas eletromagnéticas. Ao conjunto dessas ondas eletromagnéticas de-
nominamos espectro eletromagnético.

Todos os corpos emitem radiação eletromagnética devido ao movimento tér-


mico de seus átomos e moléculas. Este tipo de radiação é denominado ra-
diação térmica e é uma mistura de comprimentos de onda. A quantidade de
radiação térmica visível depende da temperatura. Por exemplo, por volta de
300°C predomina a radiação infravermelha, enquanto por volta de 800°C a
quantidade de radiação visível já é considerável e os corpos nesta temperatu-
ra já apresentam luz própria. Os filamentos de uma lâmpada incandescente
atingem temperaturas por volta de 3000°C.

A luz visível ocupa uma região muito estreita do espectro de radiações ele-
tromagnéticas, com comprimentos de onda que vão de 0,4 µm até 0,7 µm.
As cores são determinadas pelos respectivos comprimentos de onda: 0,40 a
0,45 µm violeta; 0,45 a 0,50 µm azul, 0,50 a 0,55 µm verde, 0,55 a 0,60 µm
amarelo, 0,60 a 0,65 µm laranja, 0,65 a 0,70 µm vermelho. A luz branca é
uma mistura de todas as cores.

Aula 5 - Defeitos Cristalinos 81 Rede e-Tec Brasil


Toda radiação eletromagnética atravessa o vácuo
com a mesma velocidade, ou seja, com a velocidade
da luz: 3 x 108 m/s. Esta velocidade (c) está relacio-
nada com a constante de permissividade elétrica no
vácuo (εo) e com a permeabilidade magnética no vá-
cuo (µo) por meio da fórmula:

(6.16)

Quando um feixe de luz com intensidade I0 incide


em um sólido, uma parte é transmitida It, outra é
absorvida Ia e outra é refletida Ir. Estas intensidades
estão relacionadas pela equação:
FIGURA 37- Espec-
tro de radiações I0 + It + Ia + Ia = + + (em W/m2)
eletromagnéticas
(segundo Padilha, (6.17)
1997). Uma forma alternativa da equação anterior é a seguinte:

T+A+R=1
(6.18)

Onde: T é a transmitância ; A é a absorbância ; R é a refletância .

Materiais com T >> A + R são denominados transparentes, enquanto mate-


riais com T << A + R são opacos e materiais com T pequeno são denomina-
dos translúcidos. Em seguida, serão discutidas as propriedades ópticas dos
materiais. Eles serão divididos em dois grandes grupos: materiais metálicos e
materiais não metálicos. No caso dos materiais metálicos, a alta refletância é
a característica predominante. Para os materiais não metálicos outros fenô-
menos como a refração e a transmissão são importantes.

6.5.1 Propriedades Ópticas dos Materiais Metálicos


Grande parte da radiação absorvida é reemitida pela “superfície” do metal,
na forma de luz visível, de mesmo comprimento de onda da luz incidente.
A refletância da maioria dos metais situa-se entre 0,90 e 0,95. Uma peque-
na parte da energia proveniente do decaimento eletrônico é dissipada na
forma de calor.

A cor de um metal é determinada pela distribuição dos comprimentos de


onda que são refletidos e, portanto não são absorvidos. Por exemplo, o ouro

Rede e-Tec Brasil 82 Introdução à Ciência dos Materiais


reflete quase que completamente luz vermelha e amarela e absorve parcial-
mente comprimentos de onda mais curtos (vide figura 38).

Já a prata reflete eficientemente quase to-


dos os comprimentos de onda do espec-
tro visível, daí a sua cor esbranquiçada.
Os metais são opacos a todas as radiações
eletromagnéticas de alto comprimento de
onda (ondas de rádio e TV, microondas, in-
fravermelho, luz visível e parte da radiação
ultravioleta) e transparentes às radiações de
Figura 38 - Porcentagem
baixo comprimento de onda (raios x e raios de luz refletida pelo
ouro e pela prata em
γ). Naturalmente, a quantidade de radiação função do comprimento
transmitida depende da espessura e do co- de onda (segundo
Padilha, 1997).
eficiente de absorção do material.

6.5.2 Propriedades Ópticas dos Materiais Não


Metálicos
Em virtude de suas estruturas, materiais não metálicos (cerâmicos e políme-
ros) não dispõem de elétrons livres (no caso dos metais) e podem ser trans-
parentes à luz visível. Portanto, em adição à reflexão e absorção, fenômenos
de refração e transmissão também necessitam ser considerados.

6.5.2.1 Refração e reflexão


Quando a luz passa de um meio, com índice de refração n1, para outro meio,
com índice de refração n2, parte da luz é refletida na interface entre os dois
meios (vide figura 39), mesmo se ambos fossem transparentes. A refletância
(R) é dada por:

(6.19)

Se um dos meios (n1) for o ar, como o seu índice de refração é aproximada-
mente igual a 1, a fórmula anterior se transforma em:

(6.20)

83 Rede e-Tec Brasil


FIGURA 39- Mudança de direção
de uma onda quando ela penetra
em outro meio (refração).
Padilha, 1997.

Quanto maior for o índice de refração do material, maior será a sua refletân-
cia. A refletância da maioria dos vidros é cerca de 0,05. Como o índice de
refração depende do comprimento de onda da luz incidente, a refletância
também depende do comprimento de onda, conforme ilustra a figura 40.

FIGURA 40 - Variação das


frações da luz incidente que
é transmitida, absorvida e
refletida por um determina-
do vidro em função do com-
primento de onda (segundo
W.D. Callister, Jr.).

6.5.2.2 Absorção e transmissão


A maioria dos materiais transparentes é colorida. Um feixe de luz branca
contém o espectro completo de cores. Quando um comprimento de onda é
absorvido pelo material, o olho humano combina os comprimentos de onda
que passam através do material, isto é, que são transmitidos. Em outras
palavras, a cor dos materiais transparentes é uma combinação dos compri-
mentos de onda que são transmitidos. A tabela 09 apresenta as cores com-
plementares para vários comprimentos de onda absorvidos.
Tabela 09 - Comprimentos de onda absorvidos (em nm) e as respectivas cores complementares.
Comprimento de onda Cor absorvida Cor complementar
410 violeta amarelo limão
430 azul índigo amarelo
480 azul alaranjado
500 azul esverdeado vermelho
530 verde púrpura
560 amarelo limão violeta
580 amarelo azul índigo
610 alaranjado azul
680 vermelho azul esverdeado
Padilha, 1997.

Rede e-Tec Brasil 84 Introdução à Ciência dos Materiais


Impurezas também podem contribuir para que alguns comprimentos de
onda sejam absorvidos. Um exemplo clássico é o caso da safira e do rubi,
cujos espectros de absorção são apresentados na figura 41.

A safira é um cristal relativamente puro de Al2O3. Os cristais de safira são iso-


lantes e transparentes. Se uma pequena quantidade do íon Cr+3 substitui o
alumínio, isto acarreta uma forte absorção na região de luz azul do espectro
visível. O cristal resultante tem cor vermelha e é denominado rubi.

FIGURA 41- Espectro de absorção


da safira e do rubi (segundo E.
Hornbogen e W.D. Callister, Jr.).

Resumo
Nesta aula, citamos algumas, mas não todas as propriedades que reque-
rem atenção. As que encontramos, nos tornarão aptos a discutir aspectos
de estrutura interna que (a) proporcionam resistência à alteração mecânica
causada por tensões aplicadas; (b) causam as várias características comuns
de um material quando este é termicamente agitado em temperaturas mais
altas; (c) referem-se ao comportamento de um material dentro de um campo
elétrico; (d) ao comportamento de um material dentro de um campo magné-
tico e (e) resposta do material à incidência de luz visível. Estes aspectos são
importantes porque o seu conhecimento permite ao tecnólogo a produção
de materiais com estruturas e características mais favoráveis aos atuais e
futuros produtos.

Atividades de Aprendizagem
1. Cite três propriedades mecânicas importantes no estudo dos materiais e
explique cada uma delas.

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85 Rede e-Tec Brasil


2. Uma barra de aço com comprimento de 1 m, figura abaixo, é subme-
tida a uma força de tração, sofre um alongamento de 2 mm e, após a
aplicação da força, volta ao comprimento inicial. Determine o valor da
deformação linear (em %) medida durante a aplicação da carga. Esta
deformação é elástica ou plástica?

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3. Determine o alongamento (Δλ) de uma barra de seção transversal qua-


drada (Área=1 cm2) e comprimento de 150 cm, submetida à força de
tração de 50 KN, conhecendo-se seu módulo de elasticidade (E=21.000
KN/cm2).

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4. O cloreto de sódio é isolante no estado sólido. Entretanto, no estado


líquido, ele é um bom condutor. Justifique.

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5. Pode um condutor metálico apresentar os fenômenos de ferroeletricida-


de e/ou piezoeletricidade?

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6. Em um dia frio, as partes metálicas de um carro causam maior sensação


de frio que as partes de plástico, mesmo estando na mesma temperatu-
ra. Justifique.

Rede e-Tec Brasil 86 Introdução à Ciência dos Materiais


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7. Trilhos de trem são feitos de aço 1025 e foram instalados numa época do
ano em que a temperatura média era 10°C. Normalmente, cada trilho
tem 11,9 m (39 pés) de comprimento e são instalados com uma folga de
4,6 mm (0,18 polegadas). Calcule a máxima temperatura que pode ser
tolerada sem introduzir tensões. O coeficiente de dilatação térmica linear
do aço utilizado é 12,5 10-6 (°C)-1.

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8. Quais as principais diferenças e similaridades entre um material diamag-


nético e um material paramagnético?

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9. Que tipo (diamagnético, paramagnético, ferromagnético, antiferromag-


nético ou ferrimagnético) de material magnético tem mais aplicações
práticas?

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10. Por que elementos de liga e impurezas diminuem a condutividade térmi-


ca do material?

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87 Rede e-Tec Brasil


Palavras finais

Enfim, chegamos ao encerramento desta disciplina. Espero ter contribuído


com seu anseio de estudo e formação. A metalurgia é um campo vasto e
fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade, independentemen-
te de seu porte tecnológico e financeiro, pois, como você pôde verificar, não
tratamos apenas de mega estruturas mas também de materiais, e eles estão
presentes nas mais diversas formas e circunstâncias. Sendo assim, desejo a
você sucesso e persistência, pois, sem isso, não se alcança o êxito pessoal e
profissional.

Rede e-Tec Brasil 88 Introdução à Ciência dos Materiais


Referências
ANDRADE, A. J. P. Ciência e Engenharia dos Materiais. Universidade São Judas
Tadeu/USJT: Engenharia Mecânica.

CALLISTER, W. D. Materials Science and Engineering - An Introduction. John Wiley &


Sons,Inc.: 7th. Ed, New York/NY, 2000.

CHIAVERINE, V. Tecnologia Mecânica. Volume 01.

GARCIA, A.; Spim, J. A.; Santos, C. A. Ensaios dos Materiais. Livros Técnicos e Científicos:
Editora S. A, Travessa do Ouvidor, 11 – Rio de Janeiro, RJ, 2000.

PACIORNIK, S. Apostila de Ciência e Engenharia de Materiais. DCMM – PUC - Rio.

PADILHA, A. F. Materiais de Engenharia – Microestrutura e Propriedades. Editora


Hemus: São Paulo, 1997.

PASSOS, L. Apostila de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Faculdades Integradas


Einstein de Limeira, 2006.

Rocha, O. F. L. Processos de Fabricação de Materiais. Apostila – Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Pará/IFPA, 2000.

SANTOS, R. G. Transformações de Fases em Materiais Metálicos. Campinas, SP :


Editora da Unicamp, 2006.

SMITH, W. F. Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. 3a. Edição: New


York/NY, McGraw-Hill.

VLACK, V. Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Elsevier: 4a. Edição, Rio
de Janeiro, 1984.

89 Rede e-Tec Brasil


Currículo da Professora-Autora

Poliana Borges Bringel possui graduação em Enge-


nharia Mecânica pela Universidade Federal do Pará-
-UFPA (2002) e mestrado em Engenharia Mecânica
na área de Materiais e Processos de Fabricação pela
Universidade Federal do Pará-UFPA (2007). Atual-
mente, é professora substituta de ensino técnico e
superior do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará - IFPA. Tem experiência na área de reciclagem, fundição,
com ênfase em Engenharia de Materiais e Metalurgia.

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/6781488666192787

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