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AVALIAÇÃO CRÍTICA DE EXPERIÊNCIAS DE PROJETO E

CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO

TEMA 111

Relator: Bayardo Materón

Agradeço ao Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) por me dar a


oportunidade de participar neste importante Seminário como relator
do tema 111 sobre Avaliação Crítica em projetos de barragens de
terra e enrocamento para os seguintes tópicos:

a. Deformações nos maciços utilizando métodos matemáticos


(FEA) ou apreciações empíricas.

b. Interface de barragens de terra ou enrocado com estruturas


de concreto.

c. Comparações técnicas entre barragens do tipo de


enrocamento compactado com cara de concreto (CFRD) e
enrocamento compactado com núcleo de asfalto (ACRD).

d. Influência das condições topográficas e geológicas na


definição de arranjos.

1) DEFORMAÇÕES EM MACIÇOS

As deformações em maciços especialmente de enrocamento tem


sido calculadas utilizando métodos matemáticos de elementos
finitos para estudos paramétricos, assumindo as propriedades
físicas dos materiais e modelando as barragens com programas
conhecidos como os tipos Flac 2D ou 3D que permitem calcular
deformações plásticas e recalques da barragem quando submetida
a esforços de compressão e corte. Estes métodos são úteis para
definir zoneamentos comparativos internos da barragem e decidir
alternativa mais conveniente para um projeto.

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Adicionalmente estas modulações permitem introduzir simulações
sísmicas e avaliar as potenciais tendências, recalques e
deformações que resultam quando se aplicam acelerações dentro
das premissas de operação, Fator sísmico (OBE) e também no
caso de máximas acelerações possíveis, Fator sísmico (MDE).

Entretanto, nos enrocamentos a apreciação das propriedades


físicas do material depende muito da homogeneidade dos estratos e
das características da rocha que podem produzir granulometrias já
sejam uniformes ou bem graduadas. O resultado das deformações
é difícil de avaliar por métodos matemáticos devido à anisotropia
que resulta na construção dos aterros. É importante durante a
construção da barragem calibrar continuamente os movimentos
obtidos pela instrumentação com os calculados por métodos
matemáticos já que na maioria dos casos existem diferenças com a
realidade.

A continuação se descrevem dois exemplos de barragens tipo


CFRD (Face de Concreto) construídas com diferentes tipos de
rocha e espessura das camadas, onde a deformação do
enrocamento referida à altura da barragem foi completamente
diferente. Nestes casos é importante o conhecimento do
comportamento dos enrocados pela experiência e os métodos
empíricos para determinar deformações são muito úteis.

A experiência em compactação de enrocamentos bem graduados


(Ignimbritas) com aplicação de água a razão de 200-300 l/m3 e
compactadores vibratórios de 20ton. de peso total, com camadas
entre 60 a 80 cm, nos indicam valores de densidades muito altas (>
2.10 t/m3) para rochas com peso específico de (~2.60) e absorções
da ordem de (3%). No caso específico da barragem de El Cajón,
186 m, construída no México o recalque final foi da ordem de 75
cm, antes do enchimento do reservatório, no centro da barragem
que representa 0.40% H. Seria oportuno que o Panelista Humberto
Marengo, ao final de minha exposição, nos narre a experiência da
CFE com enrocamentos bem compactados.

Em barragens com enrocamentos uniformes (basaltos) com


aplicação de água similar (200 l/m3) e compactadores de 20 ton
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porém camadas mais espessas de 80 a 160 cm. resultam valores
de densidades similares (2.1 t/m3) para rochas com peso específico
alto (~2.80) e absorções da ordem de (1.8%) porém com relação de
vazios alta > 0.30 devido à uniformidade do material. No caso
específico da barragem de Foz do Areia, 160m de altura, construída
no sul do Brasil o recalque final antes do enchimento foi de
aproximadamente 3.60m no centro da barragem que representa
2.25%H. Seis vezes maior que os valores observados na barragem
de El Cajón embora a barragem de Foz do Areia é de altura inferior.

O estado de arte atual indica que a compactação deve ser


executada com camadas pouco espessas, 0.60 – 0.80m, com um
número de passadas determinado previamente com aterros
experimentais utilizando compactadores modernos de peso estático
superior a 5t/m sobre o tambor e frequência de vibração entre 1300
e 2000 vpm.

Conclui-se que a utilização de métodos matemáticos em


enrocamentos pode ser útil para estudos paramétricos mais para a
determinação de deformações da estrutura estas devem ser
continuamente calibradas com a instrumentação quando se quer
predizer os movimentos de uma barragem em construção.

No caso de barragens de terra onde a mecânica de solos permite


calcular as deformações e recalques em forma mais precisa os
métodos matemáticos de elementos finitos são mais úteis.

2) INTERFACE DE BARRAGENS DE TERRA OU ENROCADO


COM ESTRUTURAS DE CONCRETO.

As interfaces entre muros de concreto em contato com solos do


núcleo impermeável ou enrocamentos da barragem devem ser
analisadas para cada estrutura já que o comportamento de cada
material é diferente e pode criar problemas de diferença de
pressões com variações na permeabilidade e consequentemente
fluxos ou percolações que causam erosão nas interfaces.

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O capítulo 13 do livro de Cruz P. (100 barragens Brasileiras) discute
amplamente os problemas que tem surgido em barragens onde a
interface de materiais diferentes como solo/concreto ou
enrocamento/concreto tem produzido:

- Problemas de arqueamento do núcleo;


- Recalques diferenciais com consequência de percolações e
erosões.
- Erosões em fundações na interface com arenitos.

Estes problemas podem ser corrigidos com o projeto de adequadas


transições que atendam requisitos de permeabilidade, estabilidade
interna contra erosão, resistência e deformabilidade, projetando os
muros com inclinações que garantam pressões de contato entre os
materiais e o muro. A continuação se apresentam ilustrações de
problemas ocorridos em interfaces.

INTRODUZIR POWER POINT INTERFACES

Seria importante que o panelista Cássio Viotti comente sobre estas


interfaces já que no Brasil com vales amplos existe vasta
experiência neste tipo de soluções bem sucedidas. (Marimbondo,
Itumbiara, Água Vermelha, São Simão).

3) COMPARAÇÕES TÉCNICAS ENTRE BARRAGENS TIPO


CFRD E ACRD.

A utilização de material asfáltico como elemento de


impermeabilização se remonta a milhares de anos como tem sido
relatado em utilizações na Índia (Vale do Indo).

Entretanto, recentemente a partir dos anos 60 se construíram


barragens com núcleos de asfalto na Alemanha, Áustria, Noruega e
China que permitem ser comparadas às barragens com face de
concreto embora as alturas atingidas por estas últimas sejam
maiores e sobrepassam os 230m de altura.

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Investigações efetuadas no concreto asfáltico permitem concluir que
este material apresenta características físicas que o favorecem na
utilização como elemento impermeável em diferentes tipos de
barragens. Quando se utiliza como núcleo impermeável de
barragens de enrocamento apresenta as seguintes vantagens e
desvantagens comparadas com barragens de enrocamento com
face de concreto:

INTRODUZIR POWER POINT COMPARAÇÃO BENA e BEFC

4) INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES TOPOGRÁFICAS E


GEOLÓGICAS NA DEFINIÇÃO DE ARRANJOS.

A maior parte das contribuições recebidas neste Seminário referem-


se a influência topográfica e geológica na definição do tipo de
barragem e se comenta os tratamentos necessários para neutralizar
instabilidades ou adotar medidas que garantam o perfeito
comportamento das estruturas.
Analisando os trabalhos recebidos pode-se concluir que dos 13
trabalhos selecionados para apresentação oral 1 trabalho refere-se
a utilização de modelos matemáticos para a predição de
deformações. (Reventazón).
Um trabalho apresenta o projeto da barragem de Foz do Chapecó
com núcleo de asfalto e o resultado de controles tecnológicos do
material do núcleo indicando sua qualidade para o bom
comportamento da estrutura.
Outro trabalho discute os resultados da instrumentação colocada
nas interfaces da barragem de Cana Brava.
Um terceiro trabalho discute a modelagem e a avaliação do
revestimento com enrocado do canal de derivação da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte e 8 trabalhos discutem a influência de
condições topográficas e geológicas e o tipo de solução para
resolver o projeto e construção de acordo às condições do sitio da
barragem.
As conclusões da análise dos trabalhos são as seguintes:

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O estado do arte das barragens de enrocamento indica que o
melhor comportamento se obtém quando se compactam em
camadas entre 60 e 80 cm com rolos vibratórios de 20 ton ou mais
e pressões estáticas sobre o tambor superior a 5 ton/m, utilizando
umedecimento com água a razão de 200-300 l/m³ .
A deformabilidade do enrocamento, dentro destas condições
depende de sua granulometría e relação de vazios finais. Altos
índices de vazios (>0.30) resultam em baixos módulos de
compressibilidade.
Os modelos matemáticos são uma ferramenta útil para estudos
paramétricos e para definição de zoneamento dentro da barragem,
porém precisam de correlações e correções com valores obtidos na
instrumentação quando se quer predizer a deformação da estrutura
com valores reais.
O trabalho sobre a barragem de Reventazón em Costa Rica
sustenta esta experiência além de ensinar que é possível utilizar
materiais locais de inferior qualidade quando se coloca um dreno
vertical no centro da barragem. Idêntica conclusão se deduz da
zonificação da barragem de Chaglla em construção no Peru.
As barragens de Angostura, Ancoa e Chaglla apresentam soluções
inéditas para o tratamento da junta perimetral quando se tem
ombreiras íngremes ou estratos deformáveis que produzem
movimentos excessivamente grandes (~30 cm) da junta perimetral.
O trabalho sobre Foz do Chapecó apresenta um projeto viável e
pratico comparável às soluções de barragens de enrocamento com
face de concreto. Neste relato se discutem as vantagens e
desvantagens que tem de ter-se em conta para selecionar o tipo
melhor de barragem para um sitio em estudo. O controle do núcleo
e transições é possível com um bom laboratório similar ao
laboratório empregado na construção. (Furnas).

Os trabalhos sobre a Usina de Mimoso e Cana Brava realçam a


importância no tratamento das fundações e interfaces. Em Mimoso,
com problemas de saturação, drenagem e interface, estes foram
corrigidos adequadamente utilizando investigações geofísicas. Em
Cana Brava além da instrumentação colocada nas interfaces se
enfatiza a importância de observar visualmente as estruturas já que
algumas medidas de esforços e pressões podem não representar
as forças que ocorrem na interface com a estrutura.
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O trabalho sobre arenitos apresenta uma classificação importante
sobre 4 tipos diferentes que alertam o tipo de tratamento que deve
ser dado para projetar uma estrutura estável. Métodos de
determinação de filtros e transições são bem apresentados na
barragem de Colíder da Copel.

O trabalho sobre a redução de fissuras e trincas das lajes de


concreto apresenta a experiência na barragem Chinesa de Jisi
Gorge recomendando controles na seleção dos materiais,
especialmente o cimento, e tratamentos construtivos que tem
reduzido a presença de irregularidades e o número de fissuras. O
autor compara os resultados desta barragem com barragens
chinesas construídas com alto conteúdo de cimento, pouca
utilização de aditivos e altos valores de abatimento (slump)
demonstrando que a redução de fissuras é substancial.

Finalmente o trabalho de modelagem do canal de derivação do


projeto de Belo Monte é muito interessante já que não tem
precedência por sua magnitude, pelas dimensões e comprimento da
ordem de 16Km, com vazões de 14.000 m³/s . O piso do canal é
protegido por um enrocamento e modelado para determinar as
curvas granulométricas e evitar erosões.

Um aspecto relevante deste Seminário é a participação de trabalhos


nacionais e internacionais com a presença de experiências em
barragens na China, Peru, Chile, México e Costa Rica que
valorizam a importância de construir novas barragens e
reservatórios como elementos básicos para o desenvolvimento
sócio econômico de qualquer país em crescimento.

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