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I.

INTRODUÇÃO

A auditoria é uma das etapas do processo do gerenciamento, que possibilita


uma avaliação sistemática da assistência, com vistas a mensurar os resultados da
assistência, bem como analisar os seus custos; tem potencial para fornecer
informações que subsidem a reafirmação de medidas exitosas e a reordenação de
ações inadequadas, tanto no âmbito assistencial quanto no financeiro (Chaves, 2014).
Apesar de não haver um consenso entre os historiadores de sua origem a
técnica de auditoria está presente desde o início da atividade econômica do homem.
O termo auditor surgiu na Inglaterra, no reinado de Eduardo I, designando
aquele que era responsável pela realização de contas públicas e cujo testemunho
poderia levar à punição dos envolvidos em infrações. A auditoria ganhou força na
Revolução Industrial, ocorrida no século XVII, na Inglaterra e posteriormente foi
utilizada nos Estados Unidos da América, pelas companhias responsáveis pelas
estradas de ferro, expandindo-se então para todo o mundo (Passos, 2012).
Na área da Saúde, o médico George Gray Ward, dos Estados Unidos, publica
um trabalho em 1918 sobre avaliação da qualidade da assistência prestada ao
paciente através dos registros no prontuário marcando o inicio do que hoje chamamos
de auditoria Hospitalar (Scarparo, 2008).
No Brasil foi oficializada em 1968, através do Banco Central do Brasil, e desde
então a auditoria vem tomando impulso, necessitando de arranjos que melhor se
adaptem à nossa sociedade (Scarparo, 2008).
Em 1993 foi criado o Sistema Nacional de Auditoria (SNA), através da Lei
9.689, de 27 de julho, que estabelece como competência desse órgão o
acompanhamento, a fiscalização, o controle e a avaliação técnico-científica, contábil,
financeira e patrimonial das ações e serviços de saúde, integrando os níveis Federal,
Estadual e Municipal (Passos, 2012).

I.1 - Tipos de Auditoria Hospitalar

I.1.1 - Auditoria retrospectiva: realizada após a alta do paciente, pela avaliação do seu
prontuário, não garante a qualidade imediata do procedimento realizado identificando
somente as falhas ocorridas (Araújo, 1978; Motta ).

I.1.2 - Auditoria operacional ou concorrente: é a feita enquanto o paciente está


Hospitalizado ou em atendimento ambulatorial, pela análise dos exames, entrevista

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com o paciente e familiares, com os funcionários e médicos. É um trabalho difícil e
muito criterioso, em vista das questões éticas envolvidas (Araújo, 1978).

I.2 - Classificação da Auditoria

I.2.1- Quanto à forma de intervenção:

a) Auditoria interna: é realizada por elemento da própria instituição. Apresenta


a desvantagem de poder não ser efetiva em função dos entraves institucionais,
decorrentes dos envolvimentos afetivos do auditor com os elementos realizadores do
trabalho e os interesses das unidades envolvidas invalidando-o (Araújo, 1978).

b) Auditoria externa: é realizada por elemento não-pertencente à instituição,


contratado especificamente para a auditoria, que goza de independência
administrativa e afetiva. Mas há o risco do auditor não vivenciar a realidade da
instituição, podendo realizar um trabalho superficial, que apresente sugestões pouco
adequadas à solução dos problemas existentes (Araújo, 1978).

I.2.2- Quanto ao tempo:

a) Auditoria contínua: avalia em períodos determinados, sendo que a revisão


seguinte sempre se inicia a partir da última (Araújo, 1978).

b) Auditoria periódica: examina também em tempos estabelecidos, porém não


se prende à continuidade (Araújo, 1978).

I. 2. 3 - Quanto à natureza:

a) Auditoria normal: se realiza em períodos determinados com os objetivos


regulares de comprovação (Araújo, 1978).

b) Auditoria específica: atende a uma necessidade do momento (Araújo, 1978).

I.2.4- Quanto ao limite:

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a) Auditoria total: abrange todos os setores da instituição (Araújo, 1978).

b) Auditoria parcial: é limitada a alguns serviços (Araújo, 1978).

I.2.5 - Quanto ao caráter

a) Auditoria Preventiva: realizada a fim de que os procedimentos sejam


auditados antes que aconteçam. Geralmente está ligado ao setor de liberações de
procedimentos ou guias do plano de saúde, e é exercida pelos médicos e outros
profissionais da saúde (Collism, 2006).

b) Auditoria Operacional: é o momento no qual são auditados os procedimentos


durante e após terem acontecido (Collism, 2006).

c) Auditoria Analítica: atividades de análise dos dados levantados pela


Auditoria Preventiva e Operacional, e da sua comparação com os indicadores
gerenciais e com indicadores de outras organizações (Collism, 2006).

I.3 - Auditoria na Enfermagem

No campo da enfermagem, um dos principais trabalhos sobre o tema data de


1955, desenvolvido no Hospital Progress nos Estados Unidos.
A auditoria em enfermagem é definida como o conjunto de ações utilizadas na
avaliação e fiscalização dos prestadores de serviços de saúde e na conferência de
contas relativas aos procedimentos executados, do atendimento ao gasto, do custo à
qualidade a ser alcançada (Collism, 2006).
As atividades práticas no cuidado de enfermagem são documentadas de forma
a garantir a sua qualidade e estimular a sua rastreabilidade.
O controle na documentação na área de enfermagem faz parte integral na
rotina de trabalho de um enfermeiro e extremamente importante em uma equipe
multidisciplinar, de forma a garantir a padronização das ações e sua rastreabilidade
para que as informações contidas possam ser utilizadas na avaliação do paciente e
também forneça a administração uma transparência nos custos desses procedimentos
(Mykkanen, 2012; Pinto, 2010).

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A auditoria para a enfermagem traz ainda os seguintes benefícios:
desenvolvimento dos indicadores da assistência, estabelecimento de critérios de
avaliação e geração de novos conhecimentos (Miranda, et all, 2016).

II. JUSTIFICATIVA

Auditoria clínica ou auditoria dos cuidados ao paciente é um dos mecanismos


essencial para garantir qualidade no cuidado dos pacientes além de fornecer o
conhecimento dos custos, que é o passo fundamental para a gestão dos hospitais, que
estão inseridos em um contexto de custos elevados, recursos escassos, pressão por
qualidade e bons serviços.
Dentre as não conformidades registradas na unidade de internação do Hospital
X 60% são referentes à dieta enteral.
A idéia de que o profissional de saúde deve continuamente procurar pela
melhora no cuidado com o paciente é tão antigo quanto à profissão. No entanto,
recentemente as diversas especializações da medicina moderna urgem a necessidade
de uma transparência na qualidade do atendimento e a adoção de um sistema de
medição prática adequada a cada tipo de profissional clínico, gerando um universo de
práticas e procedimentos de âmbito administrativo e de saúde.
Neste sentido, torna-se necessário elaborar um processo de auditoria capaz de
atrelar a qualidade assistencial e as cobranças Hospitalares ao cotidiano dos
enfermeiros, de forma a minimizar glosas relacionadas à dieta enteral, bem como, o
desvio da função básica do enfermeiro, a assistência.

III. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é avaliar a importância da auditoria na documentação


da enfermagem e seu impacto nos custos na administração da dieta enteral pela
gestão do Hospital X.

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IV. MATERIAIS E MÉTODOS

IV. 1 - Coleta de dados

Os dados coletados a partir do sistema informatizado do Hospital X foram


disponibilizados pelos gestores da auditoria de enfermagem, recursos humanos,
gerência de enfermagem e gestão de leitos.
Os dados não disponibilizados foram estimados estatisticamente.

IV. 2 – Metodologia

A metodologia proposta iniciará pela análise retrospectiva dos últimos 3 anos


(2015 a 2017), das não conformidades dos faturamentos referentes aos pacientes
usuários da dieta enteral internados na unidade de internação do Hospital X pelo
método da retrospecção através da avaliação dos registros das glosas oriundas da
dieta enteral utilizando o método concorrente na análise dos registros da enfermagem
identificando as falhas ocorridas para a elaboração dos pontos críticos que serão
racionalizados pela auditoria operacional, pela comparação do nível de documentação
apresentada VERSUS padrões de assistência documentação aceitáveis preconizados
pela resolução 543/2017 do COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), pelos
Indicadores de desempenho, gestão imediata, treinamentos, qualificação, fornecedor,
plano de saúde e recursos humanos(Caldana, 2011). Figura 1

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 1: Metodologia para a avaliação

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V. RESULTADOS E DISCUSSÕES

V.1- Análise Retrospectiva

Foi realizada com base na análise dos dados registrados disponibilizados pelos
setores após solicitação formal à direção do Hospital X. Dentre os registros
inicialmente solicitados não foi possível avaliar os dados referentes aos planos de
saúde, qualificação profissional e gestão direta no período de 2015 a 2017, ao por não
terem sido disponibilizad.

IV.1.1- Protocolo de Administração de dieta enteral

A administração da dieta enteral é regulamentando por um procedimento


operacional padrão (POP-X01) elaborado e disponibilizado pelo setor da Qualidade do
Hospital X e descrito na figura 2.

Fonte: Elaborado pela autora

Figura 2: Fluxograma do procedimento operacional padrão (POP-X01) adotado na


administração da dieta enteral no setor de internação do Hospital X.

A necessidade da administração de dietas por vias especiais é uma das praticas


do cuidado de enfermagem. O médico é sinalizado da necessidade da dieta pela
enfermagem, e este prescreve a dieta enteral via sistema informatizado. Nesse

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momento dois setores são acionados: 1) o setor de nutrição que faz a avaliação
nutricional determinando a dieta mais adequada às necessidades do paciente; 2) o
setor de farmácia é responsável por selecionar o kit para a implantação do cateter e o
enviar à enfermagem.
A enfermagem de pose do kit implanta o cateter naso-enteral e solicta um
exame de RX para a avaliação do posicionamento do cateter. Confirmado o
posicionamento do cateter pelo médico este autoriza verbalmente a administração da
dieta. A enfermagem por sua vez solicita verbalmente ao serviço de nutrição o envio
da dieta.
O setor de nutrição encaminha a dieta junto com a prescrição nutricional para a
administração pelo enfermeiro. O técnico recebe a dieta que deve conter as seguintes
informações: nome completo do paciente; número do atendimento; leito; plano de
saúde; data de nascimento; idade; data da internação; fórmula enteral; validade;
volume prescrito; tempo de infusão em 24h (mL/h); horário da segunda etapa; data da
liberação; horário de inicio da infusão da enfermagem; visto e carimbo da nutricionista.
Após a conferência da prescrição e dieta pelo técnico de enfermagem na presença do
enfermeiro (dupla checagem), inicia-se a administração da dieta pelo técnico de
enfermagem, seguida das anotações e registros de enfermagem no sistema.
Semanalmente a secretaria encaminha ao setor de auditoria de enfermagem o
prontuário do paciente para ser auditado e para a identificação das não conformidades
antes de ser enviado ao setor de faturamento.

V.1.2- Glosas referentes à dieta enteral

As glosas Hospitalares são problemas cuja solução é complexa, em função das


conseqüências que trazem. Como por exemplo, os faturamentos não recebidos,
devido à má comunicação entre instituições e convênios. As glosas também podem
ser conceituadas como: cancelamento; recusa total ou parcial de um orçamento ou
conta ou verba por motivos ilegais ou indevidos (Miranda, et all, 2016).

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Tabela 1: Glosas referentes à dieta enteral, registradas na unidade de internação do Hospital
X, entre os anos de 2015 a 2017.

Fonte: Elaborado pela auditoria de enfermagem do Hospital X

A partir dos dados disponibilizados não foi possível identificar se as glosas são
de origem administrativa, aquelas causadas por falhas operacionais, geralmente má
comunicação entre prestadores e convênio, de origem técnicas, que
envolvem diretamente o evento médico ou a linear, diz respeito ao convênio, mas
interfere diretamente na gestão Hospitalar.

V.1.3- Não conformidades encontradas

Os dados referentes ao ano de 2015 não foram contabilizados, uma vez que,os
registros de não conformidades pelo setor de auditoria de enfermagem começaram a
ser realizados a partir do ano de 2016. Tabela 2

Tabela 2: Não conformidades relacionadas ao registro de enfermagem na administração da


dieta enteral nos anos de 2016 e 2017 da unidade de internação do Hospital X.

2016 2017
Ano
Não conformidades Não conformidades Não conformidades Não conformidades
totais enterais totais enterais
Janeiro  - -  1 1
Fevereiro  -  - 2 1
Março  -  - 4 4
Abril  -  - 1 1
Maio -   - 0 0
Junho 4 2 1 0
Julho 4 2 2 0
Agosto 1 1 2 2
Setembro 1 0 3 1
Outubro 7 4 2 0
Novembro 4 4 0 0
Dezembro 3 3 6 6
Totais 24 16 24 16
Fonte: Elaborado pela autora
Observa-se que o total das não conformidades registradas nos anos de 2016
e 2017 é igual, revelando que houve uma diminuição das glosas no ano de 2017.

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Fonte: Elaborado pela autora
Figura 3: Não conformidades na administração da dieta enteral nos registros de enfermagem
no ano de 2016, na unidade de internação do Hospital X.

Conforme observado na figura 3, durante a análise retrospectiva no setor de


auditoria de enfermagem onde os dados passaram a ser registrados somente a partir
do mês de Junho de 2016, observou-se que 62,5% das não conformidades registradas
eram referentes à dieta enteral. As glosas observadas no ano de 2016 referentes à
dieta enteral ocorreram com um prejuízo de R$ 18 947,16 reais ao Hospital X.
Situação similar foi observada na análise retrospectiva do ano de 2017, onde
se observou 56,25% de não conformidades gerando 16 glosas e um não faturamento
no valor de R$ 2 338,85 reais. Figura 4

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 4: Não conformidades na administração da dieta enteral nos registros de enfermagem
no ano de 2017, na unidade de internação no Hospital X.

V.1.4- Recursos Humanos

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Os recursos humanos diferem de outros ativos organizacionais, como o capital
físico, os ativos financeiros e os ativos tecnológicos. Na gestão Hospitalar, compete ao
enfermeiro estabelecer o quadro quantitativo de profissionais necessário para a
prestação da assistência de enfermagem (COFEN, 2010).

Tabela 3: Média do Staff e dos pacientes nos anos de 2015 e 2017 da unidade de internação
do Hospital X por plantão.

Média dos Média dos técnicos/ Média de


Anos
enfermeiros/mês mês pacientes/ mês
2015 1 4 31
2016 1 5 29,16
2017 1 4,2 25,75
Fonte: Elaborado pela autora

A unidade de internação recebe ao mês em média 30 pacientes que são


atendidos por cinco profissionais de saúde (1 enfermeiro e 4 técnicos de enfermagem)
e comporta 25 leitos. Tabela 3

V.2 - Análise Operacional

V.2.1- Cálculo da QP(Quantidade Profissional) da unidade de internação do Hospital X

O dimensionamento de pessoal/ paciente segundo a Resolução n. 543/2017


do COFEN (Conselho Federal de Enfermagem), determina que para que se alcance
os padrões de qualidade assistencial o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP)
deve ser usado para determinar, validar e monitorar o cuidado individualizado do
paciente (FUGULIN,1994; COFEN, 2017).
O SCP é um processo no qual se procura categorizar pacientes de acordo com
a quantidade de cuidado de enfermagem requerida, ou seja, baseada no grau de
complexidade da assistência de enfermagem (PERROCA e GAIDZINSKI, 2002).

Tabela 4: Mensuração do tempo de assistência de enfermagem direta nas 24 h, segundo a


Resolução 543/17 do Cofen.

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Tipo de cuidados Horas COFEn (h)
Cuidados mínimos 3,8
Cuidados Intermediários 5,6
Cuidados Semi-intermediários 9,4
Cuidados Intensivos 17,9
Fonte: Elaborado pela autora

Os pacientes de cuidados mínimos são classificados como sendo estável sob


o ponto de vista clínico e de enfermagem e auto-suficiente quanto ao atendimento das
necessidades humanas básicas. Os pacientes de cuidados intermediários são os
pacientes estáveis sob o ponto de vista clínico e de enfermagem, requerendo
avaliações médicas e de enfermagem, com parcial dependência dos profissionais de
enfermagem para o atendimento das necessidades humanas básicas. Os pacientes de
cuidados semi-intensivos são os pacientes recuperáveis, sem risco iminente de morte,
passível de instabilidade das funções vitais, requerendo assistência de enfermagem e
médica permanente e especializada e por sua vez os pacientes de cuidados intensivos
são os pacientes graveis e recuperáveis, com iminente de morte, sujeito à
instabilidade das funções vitais, requerendo assistência de enfermagem e médica
permanente e especializada (Fonseca, 2003).
A unidade de internação recebe somente os pacientes de cuidados mínimos,
intermediários, semi-intermediários e intensivos, comporta 25 leitos, e possui um
efetivo de enfermagem por plantão em escala 12/36 h, uma média entre 3 a 5 técnicos
gerenciados por 1 enfermeiro, conforme discutido no item IV.4.
A categorização da complexidade da assistência de enfermagem aos
pacientes pelo setor de enfermagem do Hospital X é realizado com base na
quantidade de cuidado de acordo com o escore de Schein/Rensis Likert, considerando
13 indicadores críticos: Estado Mental e Nível de Consciência, Oxigenação, Sinais
Vitais, Nutrição e Hidratação, Motilidade, Locomoção, Cuidado Corporal, Eliminações,
Terapêutica, Educação à Saúde, Comportamento, Comunicação e Integridade
Cutâneo-Mucosa. Cada um desses indicadores possui gradação de 1 à 5, apontando
a intensidade crescente da complexidade assistencial.
Não foi possível obter os dados referentes à classificação SCP do ano de 2015,
bem como os dados obtidos nos anos de 2016 e 2017 foram incompletos. Tabela 5

Tabela 5: Mensuração dos pacientes internados com base na classificação SCP.

Anos
Cuidados
2015 2016a 2017b

11
Mínimos NE 515 324
Intermediários NE 229 219
Semi-Intensivos NE 243 199
Intensivos NE 41 47
NE: dados não encontrados; a) somatório dos meses de Outubro a Dezembro;
b) somatório dos meses de Janeiro a Março
Fonte: Elaborado pela autora

IV.3 - Auditoria Analítica

Os dados levantados pela Auditoria Preventiva e Operacional foram analisados


de forma a racionalizar as glosas observadas, a partir de situações disponibilizadas
pelas gerências competentes do Hospital X.
Em função da dificuldade encontrada em obter informações completas, optou-se
por analisar os dados à luz da inferência estatística que tem por objetivo fazer
generalizações sobre um parâmetro, construindo um intervalo em torno da estimativa
por ponto, para que se possa associar uma confiança (probabilidade) à estimativa.

IV.3.1- Estimativas

Conforme descrito anteriormente no item IV. 1. 2, as glosas referentes à dieta


enteral passaram a ser registradas a partir de meado de 2016, onde os dados
passaram a ser contabilizados. A estimativa do número de glosas nos anos de 2015 e
2016 foi determinada pelos valores reais disponibilizados: número de internações e
glosas, por serem valores absolutos. As médias serão calculadas assim como a
estimativa dos erros associados à estimativa (Scarparo, 2008).

a) Igualdades entre as médias

Inicialmente foi necessário determinar se os valores reais absolutos entre si eram


iguais, ou seja, se estes eram uma amostragem real de todo o universo que esses
representavam e eram equivalentes entre si. Tabela 6

Tabela 6: Determinação do intervalo de confiança das médias das glosas referentes à dieta
enteral nos anos de 2015 e 2016 da unidade de internação do Hospital X.

Ano Internações Glosas

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2015 372 55228,8
2016 350 18947,4
2017 309 2338,85
Média 343,666667 25505
Desvio padrão 31,9739477 27047,89
Desvio padrão relativo 9,30376753 106,0494
Estimativa do erro 341,706667 25503,04
Intervalo de Confiança das
79,4341 67196,1
médias

Fonte: Elaborado pela autora

Inicialmente utilizou-se a estatística paramétrica para amostragem pequena


(n< 30) utilizando a distribuição t de Student (n=3, 95%). Os resultados indicam que o
intervalo de 264,2 a 423,1 e o intervalo -41691 a 92701 realmente contém o 95% do
verdadeiro valor de µ para o número de internações e custos respectivamente.
O intervalo maior observado deriva da incerteza das medições em função dos
seus valores que mudam aleatoriamente a partir da distribuição amostral. A
distribuição amostral de uma (amostra) estatística nos permite tirar conclusões sobre o
parâmetro de população correspondente com base em uma amostra aleatória, ou seja,
é a determinação de uma tendência com base na amostragem. Este valor estimado irá
mudar aleatoriamente se uma amostra diferente for extraída da mesma população
normal. Sugerindo que a extrapolação do número de internações versus as glosas
possui uma aleatoriedade muito grande não permitindo a confiabilidade dos dados. No
geral, amostras muito pequenas (< 6 observações) os testes de normalidade e
variância se tornam pouco confiáveis nessas situações, comprometendo a validação
das premissas e neste caso recomenda-se o uso da estatística não-paramétrica
(Siegel, 1975).
Sendo assim, aplicou-se o teste não-Paramétricos de Mann-Whitney para
amostras Independentes. Os valores de U ( = 5%) calculados pelo teste foram
maiores que o U tabelado. Nesse caso rejeita-se a hipótese nula de igualdade entre as
médias populacionais. Ou seja, as médias são iguais.

IV. 3.2- Estimativa dos dados

Uma vez determinada à comparação das médias entre a internação e as


glosas, este poderá ser usado na estimativa dos dados não disponibilizados.

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a) Determinação da equação da reta

As glosas foram os únicos valores disponibilizados em todos os anos e que


na verdade refletem o universo maior. Estas foram plotadas no eixo y (variável
dependente), enquanto as internações no eixo x (variável independente).
Sendo assim estabeleceu-se uma relação entre o número de internações e as
glosas observadas nos seus anos respectivos.

Fonte: Elaborado pela autora

Figura 5: Curva de linearidade entre as internações e as glosas referentes aos anos de 2015 a
2017 da unidade de internação do Hospital X.

A equação da reta encontrada (y = 26445x + 27385) em uma regressãocrescente,


e um Coeficiente de Correlação de Pearson próximo de 1 será usada para estimar os
dados não encontrados.

b) Estimativa das internações

Os dados referentes à internações por classificação SCP para a unidade de


internação disponibilizados foram somente dos meses de outubro, novembro,
dezembro de 2016 e janeiro, fevereiro e março de 2017. Nenhum dado foi obtido
referente ao ano de 2015.
Uma relação linear entre as glosas e internações foi observada, ou seja, quanto
maior o número de internações maior a probabilidade das glosas ocorrerem. Foram

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somente disponibilizados os dados anuais das internações, e uma pequena
amostragem (n=6) do número de internações segundo a classificação SCP (Tabela 5).

Tabela 7: Estimativa das internações referentes aos cuidados mínimos, intermediários , semi-
intensivo e intensivo, pela classificação SCP no ano de 2015 da unidade de internação do
Hospital X.

Semi-
2015 Internações Mínimo Intermediário Intensivo
intensivo
Janeiro 679 254 98 179 148
Fevereiro 244 152 48 25 19
Março 409 245 87 50 27
Abril 393 235 150 7 1
Maio 459 214 185 48 12
Junho 273 168 68 28 9
Julho 343 110 83 98 52
Agosto 236 173 58 5 0
Setembro 307 211 88 7 1
Outubro 362 169 102 82 9
Novembro 277 148 78 45 6
Dezembro 314 217 49 42 6

Fonte: Elaborado pela autora

A estimativa da classificação SCP foi realizada com base nos dados


disponibilizados através da estatística paramétrica pela construção do gráfico das
glosas versus média das porcentagens de classificação SCP disponibilizados. Os
valores de 2015 foram determinados a partir das diferenças entre as glosas entre 2015
e 2016. A equação da reta que determina as classificações (SCP) são: y = 0,572x -
11,12 e y = 0,772x - 23,12 respectivamente

Tabela 8: Estimativa das internações referentes aos cuidados mínimos, intermediários , semi-
intensivo e intensivo, pela classificação SCP no ano de 2016 da unidade de internação do
Hospital X.

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2016 Internações Mínimo Intermediário Semi-intensivo Intensivo

Janeiro 264 135 98 29 2


Fevereiro 179 84 48 22 1
Março 353 245 87 13 0
Abril 450 225 150 55 48
Maio 494 248 185 48 32
Junho 238 122 68 38 27
Julho 210 105 83 28 19
Agosto 348 189 58 101 0
Setembro 324 223 88 12 1
Outubro 409 186 102 116 9
Novembro 285 134 78 67 1
Dezembro 334 195 49 60 30
Fonte: Elaborado pela autora

A aplicação da equação da reta foi possível determinar os dados referentes aos


anos de 2015 a 2017 não disponibilizados. Com uma confiança de 95% de que a
média verdadeira encontra-se no intervalo determinado descrito na tabela 6. Os dados
obtidos a partir da equação da reta foram descritos nas tabelas 7 a 9.

Tabela 9: Estimativa das internações referentes aos cuidados mínimos, intermediários , semi-
intensivo e intensivo, pela classificação SCP no ano de 2017 da unidade de internação do
Hospital X.

Semi-
2017 Internações Mínimo Intermediário Intensivo
intensivo

16
Janeiro 264 103 79 61 21
Fevereiro 179 68 56 45 10
Março 346 227 48 70 1
Abril 190 74 57 44 15
Maio 210 119 67 21 3
Junho 238 138 79 19 2
Julho 302 194 99 8 1
Agosto 198 105 59 18 16
Setembro 274 177 85 11 1
Outubro 238 151 76 9 2
Novembro 354 233 111 10 0
Dezembro 298 195 90 12 1

Fonte: Elaborado pela autora

IV.3.3 - Cálculo de Quadro de Pessoal (QP)

O cálculo da quantidade de profissionais (QP) de enfermagem para unidade de


internação é realizado segundo a fórmula:

Equação 1 QP = Km x THE

Onde: THE (total de horas de enfermagem) calcula-se como segue abaixo:


THE = {(PCM x 3,8) + (PCI x 5,6) + (PCSI x 9,4) + (PClt x 17,9)}

Onde: Constante de Marinho (KM): coeficiente deduzido em função dos dias da semana, da jornada semanal de
trabalho e do índice de segurança técnico para uma jornanda de 12/36 (0,2236)

PCM: paciente de cuidado mínimo


PCI: paciente de cuidado intermediário
PCSI: paciente de cuidado semi- intensivo
PCIt: paciente de cuidado intensivo

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(a) (b)

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 6: Quantidade de profissional de enfermagem necessária na unidade de internação do
Hospital X, no ano de 2015: a) QP calculado e real de técnicos de enfermagem; b) QP
calculado e real da enfermagem.

O provimento de recursos humanos para a unidade de internação, ficou abaixo


do dimensionamento de pessoal de enfermagem, determinado pelo QP em todos os
anos estudados. Em média o efetivo é de 30 % do efetivo ideal.

(a) (b)

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 7: Quantidade de profissional de enfermagem necessária na unidade de internação do
Hospital X, no ano de 2016: a) QP calculado e real de técnicos de enfermagem; b) QP
calculado e real da enfermagem.

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O processo de dimensionamento deve produzir um quadro de pessoal
adequado às necessidades da clientela e da instituição. Porém, esta temática é
bastante complexa por encontrar-se dentro de uma área se conflito que se dá entre o
custo e o benefício; entre o pessoal e o institucional; entre o capital e o trabalho; entre
o técnico e o ético (Gaidzinski apud Fugulin; Gaidzinski, 2000)

(a) (b)

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 8: Quantidade de profissional de enfermagem necessária na unidade de internação do
Hospital X, no ano de 2017: a) QP calculado e real de técnicos de enfermagem; b) QP
calculado e real da enfermagem.

Os bons resultados assistenciais nas instituições estão atrelados aos recursos


humanos, principalmente referentes aos profissionais de enfermagem.

IV.3.4 – Análise dos dados

a) Glosas X Cuidados

Quando se correlaciona as glosas com os tipos de cuidados na assistência


relatados nos seus respectivos anos, observou-se que os cuidados mínimos não estão
relacionados às glosas, os pacientes intensivos e semi-intensivos parecem estar
relacionados diretamente ao número de glosas, especialmente as internações de
pacientes classificação intensiva.

19
(a) (b)

(c)
Fonte: Elaborado pela autora

Figura 9: Correlação entre as glosas e os cuidados na assistência no setor de internação nos


anos de; a) 2015; b) 2016 e c) 2017.

Quando observamos os anos de 2015 nos meses de abril, agosto e setembro não
obtivemos glosas e os cuidados mínimos mantiveram-se constante, somente com
minimos em fevereiro, junho e novembro associados a glossas. Os demais cuidados
estavam elevados, quando se compara com os anos de 2016 e 2017. Comportamento
semelhante é observado nos anos de 2016 (abril e junho) e 2017 (fevereiro, agosto).
Que pode também ser observado nos meses de janeiro a março, agosto, setembro e
novembro de 2016 e março, maio, junho, julho e de setembro a dezembro de 2017.

20
(a) (b)

(c)
Fonte: Elaborado pela autora

Figura 10: Correlação entre as glosas e os cuidados mínimos e intermediários no setor de


internação nos anos de; a) 2015; b) 2016 e c) 2017.

Quando observamos os cuidados intermediários na figura 9, comportamento


semelhante é observado.
A relação direta entre os cuidados mínimos/intermediário pode ser evidenciado
no mês de Janeiro de 2015 (ambos elevados com glosas), 2016 (ambos elevados sem
glosas) e 2017 (comportamento antagônico), também observado no mês de Julho.
Em 2015, um maior número de glosas foi observado em janeiro, quando se
compara com os demais meses do ano, seguido de julho, março, fevereiro, outubro,

21
maio e junho. Se olharmos isoladamente no mês de julho e outubro, somos
tendênciados a crer não haver relação entre as glosas e os cuidados (semi)intensivos.
No entanto, o número de cuidados intermediários é maior em julho do que outubro.
Sugerindo que quanto maior a complexidade do tratamento maior a probabilidade das
glosas ocorrerem. A hipótese é reforçada quando se analisa os meses de março,
setembro e novembro de 2016, onde não foi registrados não conformidades, os
tratamentos semi(intensivo) foram mínimos com máximos de mínimos e
intermediários. Somente nos meses de setembro onde teve um aumento nos cuidados
intermediários porem compensado com menos cuidados mínimos.

No ano de 2017, observam-se glosas em todos os meses (janeiro, março e


agosto) em que predomina o tratamento intensivo, associado a um maior número de
tratamentos mínimos e intermediários. Com exceção dos meses de maio e agosto.
Porém, quanto cruzamos estes dados com das não conformidades descritas na tabela
1 , observa-se um número menor de não conformidades nesses meses, sugerindo que
os erros foram menores porém mais onerosos.
to

(a) (b)

22
(c)
Fonte: Elaborado pela autora

Figura 11: Correlação entre as glosas e os cuidados intensivos e semi-intensivos no setor de


internação nos anos de; a) 2015; b) 2016 e c) 2017.

Uma relação direta entre o número de glosas e o número de cuidados


(semi)intensivo foi observado.

b) Glosas X QP

Com base no discutido acima, foi possível correlacionar as glosas à


complexidade dos cuidados: intensivo> semi-intensivo> intermediário > mínimo.
Segundo Fugulin, o ser humano é um complexo biopsicossocial em uma visão
mais ampla do conceito de saúde, uma vez que envolve o bem estar biológico,
psicológico e social, que irão afetar no desempenho social e produtivo (Fugulin, 2008).

(a) (b)

(c)
Fonte: Elaborado pela autora

23
Figura 12: Correlação entre as glosas e quantidade de pessoal no setor de internação nos
anos de; a) 2015; b) 2016 e c) 2017.

Sendo assim, uma relação entre glosas e QP foi estudado, conforme descrito no
item IV.3.3.
É visível que o número de glosas não está relacionado ao quantitativo de técnicos
de enfermagem. A única constante é o quantitativo de enfermagem que se mantêm
durante todo o ano independente do quantitativo de cuidados, o numero ínfimo de
profissionais de enfermagem sobrecarrega o profissional.
O processo de previsão do quantitativo de pessoal de enfermagem depende do
conhecimento da carga de trabalho existente nas unidades de internação. Esta
depende, por sua vez, das necessidades de assistência dos pacientes, bem como do
padrão de cuidado pretendido (Fugulin; Gaidzinski, 2000).
A unidade de internação do Hospital X trabalha com 30% do efetivo preconizado
pelo cálculo de QP.

24
V. CONCLUSÃO

O acesso à informação de uma forma clara é a ferramenta de um gestor na


construção da qualidade e do seu planejamento.
Durante a execução do trabalho as informações foram difíceis de serem
acessadas. Talvez em decorrência da estruturação do setor.
O hospital X tem o conhecimento técnico dos indicadores, porém as informações
são mais descritivas do que realmente informativa. Os dados precisam ser
racionalizados aos setores competentes para que as informações sejam
operacionalizadas.
A necessidade de pessoal é outro problema da unidade de internação do
Hospital X. Uma alternativa seria o hospital X lançar mão de instrumentos que os
auxiliem a gerenciar o cuidado prestado ao paciente. A informatização, utilização de
código de barras seriam um alternativa por diminuir a sobrecarga do profissional de
enfermagem. Uma avaliação do custo (glosas) benefícios (informatização, aumento de
pessoal), precisa ser avaliada pela gestão hospitalar a fim de e permitir traçar o perfil
de um sistema, atividade ou serviço adequado ao hospital de forma a adequar dos
recursos aplicados.
Vale ressaltar que nenhum erro operacional relacionado à assistência de
enfermagem que interferissem diretamente ou indiretamente na eficácia, na
eficiência e na efetividade dos serviços prestados, foi observado, ou seja, as não
conformidades são relacionadas aos procedimentos administrativos, não inferindo no
serviço prestado pela enfermagem.

25
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de Enfermagem, 1978(31),466-77.

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(Acessado em 07/10/2017 as 11:32 h).

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Fonseca, J. P., Isabel Cristina Echer, I. C. Grau de dependência de pacientes em


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Fugulin, F. M. T.; Gaidzinski, R. R., Horas de assistência de enfermagem: análise
comparativa de parâmetros. Nursing, 2000, 23, 30-34.

Gaidzinski, R. R; Kurcgant, P. Dimensionamento do pessoal de enfermagem:


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Mykkanen, M., Saranto, K., Miettinen, M. Nursing audit as a method for developing
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Siegel, S. Estatística Não-paramétrica, 1977, editora Mcgraw.

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