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O poder do pênis: a sociedade em atraso

Será o pênis a última trincheira das masculinidades? Muitos homens acreditam que a única coisa
que os tornam homens é o pênis. É surpreendente o poder deste órgão. Ou o poder que deram e
dão a este órgão.

Você já deu uma flor a alguém? Você sabia que a flor é o órgão genital de uma planta? Você está
dando um órgão genital para alguém. Poder ser da cor rosa, amarela, branca ou sei lá. Mas é um
órgão genital.

O poder de dominação do pênis


Pois é, é isso mesmo, as subjetividades masculinas são construídas a partir de um ego fálico. É
revestida de poder de dominação. E o sexo sempre será o da dominação do homem sobre a
mulher. A sexualidade masculina será a da conquista, do ethos marcado pela soberania, pela
dominação, pela opressão e pela repressão.

A sexualidade masculina deixou de ser uma pulsão para ser uma


representação do poder
Na realidade ela passou a ser o código que legitima todas as outras sexualidades se tornando
referência para determinar o que é diferente, o que é minoria e o que é transgressor.

Esse revelamento do ego fálico por meio da sexualidade masculina se expressa na tentativa de
encobrir todos os desejos e afetos. A sexualidade não é o vir-a-ser, mas se torna como já sabemos,
um dispositivo de poder, estudado para ser controlado, vigiado para ser punido, detalhado para se
construir um discurso normativo.

Sexualidade masculina x frustações


O desdobramento desta sexualidade masculina só pode ocasionar uma frustração nas relações.
Estas relações se tornam fraturas que revelam a fragilidade com que são construídas as
identidades masculinas. Este ego fálico se fecha ao mundo de possibilidades.

É o condicionamento de uma sexualidade binária, passiva/ativa, dominadora/dominada,


racional/emotiva. Se fecha como uma ostra em si mesma. Não permite a entrada de novos valores
sobre as sexualidades privando o próprio homem de seus desejos, afetos ou fantasias.

Em um mundo fechado, não há a possibilidade para o diferente, para o novo, aquilo que irrompe
com a lógica da dominação. O sexo é alógico. Não segue regras. Não deveria seguir, mas sim dar
diretrizes. Mas o padrão hegemônico construído a partir deste ego focado em órgão como o pênis
reduz homens e também mulheres a uma sexualidade empobrecida e empobrecedora de novos
olhares.

Padrão da sexualidade a partir da fidelidade unilateral


A sexualidade masculina foi paulatinamente construída para dominar. O horizonte ético é o poder.
Tornou a mulher refém de um modo único de ser. O padrão da sexualidade se definiu a partir da
fidelidade. Porém apenas para um dos lados.
Costuma-se com esta sexualidade masculina criar uma visão dualista da realidade. O corpo é o
lugar do prazer. Então, lugar do proibido, do sujo, do selvagem. O corpo é a encarnação da
fragilidade.

E a outra realidade é a alma, traduzida aqui por razão. Lugar do pensamento lógico cartesiano.
Onde os fatos das vidas devem caber em caixas. Perfeitamente acomodadas e guardadas. Não é
possível propor outro modelo de sexualidade a não ser o que justifica a dominação do homem
sobre a mulher. Este lugar infelizmente está se multiplicando na sociedade.

Ficar na trincheira talvez seja o último espaço para este homem. Esta sexualidade está
sucumbindo aos seus próprios nós. Mas na verdade está preso e condenado. Esta trincheira ainda
reluta em ser derrubada. Pois a mudança não vem de fora para dentro. É necessário, nós homens,
que saiamos deste lugar condenado, arcaico empoeirado por velhas ideologias. Acreditar que há
possibilidades que serão maiores que um buraco na terra.

Gostou do conteúdo de hoje sobre o poder do pênis? Você acredita que o homem pode exercer
uma sexualidade de forma mais prazerosa, libertadora e transformadora para novos valores?
Qual é o grande medo de homens e mulheres viverem de forma transparente seus desejos e
suas vontades? Que tal refletirmos sobre o tema?

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