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Métodos de ensaios não destrutivos para estruturas de

concreto

Para garantir a segurança das estruturas de concreto é

necessário averiguar sua condição com um nível elevado de

precisão e

detalhe. De longa

data, a maneira

usual de se

inspecionar e

fazer

diagnósticos do

desempenho das

estruturas de

concreto está

relacionada com
Figura 1 - Ilustração da sequência de execução do ensaio de
ensaios de esclerometria (Mehta & Monteiro, 2008)
resistência à compressão em testemunhos extraídos da própria

estrutura. Porém, esse procedimento nem sempre é

recomendado devido à geometria dos elementos estruturais, que

muitas vezes não permite extrair testemunhos com as dimensões

padronizadas para os ensaios, bem como os próprios riscos e

danos que o seccionamento de estruturas pode causar. A

utilização de ensaios não destrutivos, ora restritos à avaliação da

uniformidade da resistência mecânica do concreto, passa a ser

então uma alternativa mais atraente, uma vez que os métodos se


modernizaram, aumentando a precisão de análise pela

combinação de métodos e detalhamento de outras

características.

Na inspeção de metais, a utilização de métodos de ensaios não destrutivos já


está consolidada, porém, para o concreto, isso é uma prática relativamente
nova. O desenvolvimento lento de técnicas não destrutivas para inspeção e
avaliação das propriedades do concreto se deve ao fato desse material ser
heterogêneo, causando interferências nas medidas realizadas, como atenuação,
dispersão, difração e reflexão dos sinais (Mehta & Monteiro, 2008). Apesar
disso, algum progresso tem sido observado no desenvolvimento de métodos de
ensaios não destrutivos para aplicação em concreto, e vários deles têm sido
normalizados por diversos órgãos regulamentadores no mundo todo.

De maneira geral, existem duas classes de métodos de ensaios não destrutivos


para aplicação em estruturas de concreto. A primeira consiste em métodos
usados para estimar
a resistência do
material, tais como o
ensaio de dureza
superficial
(esclerometria),
resistência à
penetração, ensaios
de arrancamento e
método da
maturidade. A
segunda classe inclui Figura 2 - (A) Equipamento penetrômetro Windsor composto
os métodos que pela pistola (1), pino (2), modelo de sonda simples (3) e escala
medem outras calibrada de profundidade (4); (B) Execução do ensaio de
resistência à penetração em uma amostra de concreto
características e
(Malhotra & Carino, 2004)
defeitos internos do
concreto por meio de
propagação de ondas e termografia infravermelha. Além desses métodos,
existem outros que fornecem informações sobre a armadura, como a
localização das barras de aço, seu diâmetro e o potencial de corrosão (Malhotra
& Carino, 2004).

Ensaio de dureza superficial ou esclerometria


Os métodos de ensaio desenvolvidos para medir a dureza superficial do
concreto são baseados na realização de um entalhe na superfície ou no
princípio do ricochete. O método da indentação consiste principalmente no
impacto de uma determinada massa com uma dada energia cinética sobre a
superfície do concreto, sendo medida a profundidade do entalhe resultante. O
método baseado no princípio do ricochete, mais aceito e praticado
mundialmente, consiste em medir o retorno de uma força no regime elástico
após seu impacto com a superfície do concreto (Malhotra & Carino, 2004).

O esclerômetro de reflexão de Schmidt é o instrumento utilizado para a


avaliação da dureza superficial do concreto com base no princípio do ricochete.
O procedimento para utilização do esclerômetro e, consequentemente,
realização do ensaio é apresentado na figura 1. No Brasil, o procedimento para
execução desse ensaio é estabelecido na NBR 7584:1995.

O esclerômetro é um
equipamento leve,
simples de operar e
barato. Com esse
instrumento é
possível avaliar a
uniformidade da
resistência mecânica
do concreto "in loco",
com danos
praticamente nulos à
superfície do material
(Evangelista, 2002),
mas os valores Figura 3 - Esquema para execução do método pullout
obtidos não são (Malhotra & Carino, 2004)
precisos já que
dependem da uniformidade da superfície, da condição de umidade, da
carbonatação superficial e da rigidez do elemento estrutural (Mehta & Monteiro,
2008), mesmo se corrigindo a localização do êmbolo.

Técnicas de resistência à penetração

Para medir a resistência à penetração de concretos, tanto em laboratório


quanto em campo, utiliza-se o penetrômetro Windsor.Esse equipamento
emprega um dispositivo ativado à base de pólvora (pistola finca-pinos) para
disparar um pino constituído de uma liga de elevada dureza contra o concreto
(figura 2). O comprimento do pino que fica exposto é uma medida da
resistência à penetração do concreto e pode ser relacionada com sua
resistência à compressão (Mehta & Monteiro, 2008).

Como o método de resistência à penetração é basicamente um método de


medida da dureza de um material, não se deve esperar que ele resulte em
valores absolutos ou precisos da resistência do concreto de uma estrutura.
Porém, é utilizado para medir o desenvolvimento de resistência do concreto nas
primeiras idades, a fim de se determinar o momento adequado para a remoção
de fôrmas (Mehta & Monteiro, 2008).

Ensaios de arrancamento

Existem três tipos de ensaios de arrancamento: pullout, break-off e pull-off. O


métodopullout mede a força necessária para extrair um fragmento metálico
com geometria específica de uma estrutura de concreto (figura 3). Essa força
de arrancamento é convertida em resistência à compressão equivalente por
meio de correlações estabelecidas previamente.

O método break-off consiste no rompimento de uma amostra cilíndrica no plano


paralelo à superfície do elemento de concreto. O equipamento para a execução
do método (figura 4) consiste de uma célula de carga, de um manômetro e de
uma bomba hidráulica manual. A amostra é obtida por meio de uma luva
plástica tubular descartável, a qual é inserida no concreto fresco e removida no
tempo planejado para o ensaio, ou ainda, pela perfuração do concreto
endurecido.

Figura 4 - Equipamento para


execução do método break-off
(Malhotra & Carino, 2004)
Figura 5 - Ilustração do
método pull-off mostrando os
dois procedimentos que podem
ser usados (Malhotra &
Carino, 2004)

O método pull-off é baseado no conceito de que a força de tração necessária


para arrancar um disco metálico, junto com uma camada da superfície de
concreto à qual ele está colado, está relacionada
com a resistência à compressão do material.
Existem duas configurações para o ensaio (figura
5): um disco metálico é colado diretamente à
superfície de concreto e o volume de material
destacado fica perto da face do disco; e a
carbonatação e demais efeitos de superfície
presentes podem ser evitados pela utilização de
um corte parcial a uma profundidade adequada
(Malhotra & Carino, 2004).

Os ensaios de arrancamento podem ser usados


para o controle da qualidade do concreto. A
utilização mais prática destina-se à determinação
do tempo adequado para a remoção segura das
fôrmas e do tempo de liberação para a
transferência da força em elementos de concreto
protendidos ou pós-tensionados. Além disso, a
tensão de ruptura medida pode ser relacionada às
resistências de compressão e de flexão do
concreto usando correlações predeterminadas.

Ensaios de absorção e de permeabilidade

Os ensaios de absorção envolvem a entrada de um Figura 6 - (A) Configuração


fluido devido à sucção capilar nos poros do do ensaio de absorção
concreto, enquanto os ensaios de permeabilidade superficial inicial (Isat); (B)
configuração do método de
Figg (Mehta & Monteiro,
2008)
medem o fluxo de um líquido ou de um gás dentro do concreto sob a ação de
um gradiente de pressão (Malhotra & Carino, 2004).

Existem diversos métodos de ensaio para medir a sucção capilar, a resistência


à penetração de água e a permeabilidade em laboratório, porém, para medida
em campo, existem dois métodos básicos (figura 6): o ensaio de absorção
superficial inicial (Isat) e o método Figg. No Isat uma coluna de pressão
constante é aplicada sobre a superfície do concreto, sendo medida a taxa
resultante de fluxo de água pelo material por unidade de área. O método Figg
consiste em fazer um furo perpendicular à superfície do concreto e, após o
preparo devido, é inserida uma agulha hipodérmica pelo tampão de espuma
quando, então, é aplicada uma coluna d'água, sendo medido o volume de água
absorvida em um tubo capilar calibrado; para determinar a permeabilidade ao
ar substitui-se a seringa por uma bomba a vácuo e um manômetro de pressão
(Mehta & Monteiro, 2008).

Método da maturidade

O método da maturidade é uma técnica não destrutiva para estimar o ganho de


resistência do concreto com base no histórico da temperatura desenvolvida
durante a cura do material. Os efeitos combinados do tempo e da temperatura
sobre o ganho de resistência são quantificados por meio de uma função de
maturidade: assume-se que amostras das mesmas misturas de concreto de
mesma maturidade atingirão a mesma resistência, independentemente das
combinações tempo-temperatura que levam àquela maturidade (Mehta &
Monteiro, 2008).

As principais aplicações desse método estão relacionadas com o monitoramento


do desenvolvimento da resistência à compressão nas idades iniciais do
concreto, visando à retirada das fôrmas e do escoramento. Suas limitações
devem-se ao fato do ensaio estar relacionado com medições pontuais, sendo
que para investigar as variações internas do concreto uma grande quantidade
de pontos seria necessária, encarecendo o ensaio (Evangelista, 2002).

Método da frequência de ressonância

Uma propriedade dinâmica importante de qualquer sistema elástico


corresponde à sua frequência fundamental de ressonância. Como a frequência
fundamental de um material está relacionada principalmente com seu módulo
de elasticidade dinâmico e sua densidade, é possível avaliar a integridade de
uma estrutura a partir de correlações matemáticas entre eles (Malhotra &
Carino, 2004).
Embora o equipamento básico e o procedimento de ensaio associados ao
método de frequência de ressonância tenham sido normalizados em diversos
países e há equipamento de ensaio disponível comercialmente, a utilização
desse método é limitada. Diversas tentativas têm sido feitas para se
estabelecer relações empíricas entre o módulo de elasticidade dinâmico e a
resistência do concreto. Algumas relações obtidas parecem se manter para
tipos particulares de concretos, mas há dúvida de que uma relação
generalizada qualquer possa ser estabelecida entre as propriedades em
questão.

Porém, apesar das limitações, a determinação da frequência de ressonância


tem sido empregada positivamente no estudo dos efeitos de ciclos de gelo-
degelo e de condições ambientais agressivas em
amostras de concreto, além da avaliação do dano
sofrido pela ação do fogo e da deterioração
decorrente da reação álcali-agregado. As
vantagens com a utilização desse método se
devem ao fato de que sucessivas determinações
podem ser realizadas em uma mesma amostra,
sendo capaz de identificar, com precisão, as
alterações na microestrutura do concreto
Figura 7 - Instrumento
(Malhotra & Carino, 2004).
utilizado para execução do
ensaio de ultrassom em
Método do ultrassom
estruturas de concreto
(Malhotra & Carino, 2004)
O método do ultrassom é baseado no conceito de
que a velocidade de um pulso de ondas
longitudinais através de um material depende de suas propriedades elásticas e
densidade. O instrumento consiste de um gerador e um transmissor para a
produção e introdução de um pulso de onda no concreto e de um receptor para
detectar a chegada do pulso e medir com exatidão o tempo de trânsito do pulso
pelo concreto. No mundo todo há equipamentos portáteis disponíveis para a
execução do ensaio de ultrassom em estruturas de concreto (figura 7). No
Brasil, o procedimento de ensaio pelo método do ultrassom é estabelecido na
NBR 8802:1994.

O método do ultrassom pode ser usado para a detecção de defeitos no interior


do concreto, bem como de alterações decorrentes da deterioração devido a um
ambiente agressivo e a ciclos de gelo-degelo. Além disso, esse método de
ensaio possibilita estimar a resistência à compressão do concreto tanto em
corpos de prova moldados durante a concretagem, quanto em testemunhos e
na própria estrutura (Malhotra & Carino, 2004). Porém, essa estimativa é
influenciada por diversos fatores relacionados com a composição (dimensão,
granulometria, tipo e teor de agregados), cura do concreto, geometria da peça
ensaiada e presença de armadura.

Métodos magnéticos e elétricos

Os métodos magnéticos e elétricos são usados de diversas maneiras para


avaliar as estruturas de concreto: localizar a armadura e medir a espessura do
elemento estrutural por indutância, medir o potencial de corrosão da armadura
e determinar a espessura de um pavimento pela medida da resistividade
elétrica (Malhotra & Carino, 2004).

Os métodos magnéticos e elétricos têm recebido uma atenção considerável nos


últimos anos. Seus princípios fundamentais variam de acordo com a
complexidade de como fazer suas aplicações práticas no campo.

Métodos nucleares e radioativos

Os métodos nucleares e radioativos destinados ao ensaio de concreto têm sido


tópico de diversas pesquisas, mas com a exceção de um ou dois ensaios, eles
não são amplamente usados. São métodos rápidos e precisos, porém sua
utilização tem sido limitada pela tecnologia complexa normalmente envolvida,
elevados custos iniciais e necessidades de treinamento e de licenciamento.

Os métodos disponíveis utilizam radiação gerada por fontes de radioisótopos,


geradores de raios-X e reatores nucleares para bombardear amostras de
concreto, tanto no estado fresco quanto no estado endurecido. A radiação
coletada após a interação com o concreto fornece informações sobre as
características físicas do material, tais como sua composição, densidade e
integridade estrutural (Malhotra & Carino, 2004).

Radar (Radio Detection and Ranging)

O Radar é uma ferramenta científica poderosa com uma faixa de aplicação


ampla na avaliação do concreto. Ele vem ganhando aceitação como uma
técnica não destrutiva rápida e útil para a detecção de defeitos, como
delaminações, vazios e fissuras, além de armaduras sobrepostas em
pavimentos de concreto.

Esses sistemas operam pela transmissão de um pulso único seguida por um


"tempo morto" no qual os sinais refletidos retornam ao receptor. Um sistema
de Radar básico consiste de uma unidade de controle, uma antena monostática,
um gravador oscilográfico e um conversor de corrente para operação em
corrente contínua (figura 8).

Figura 8 - (A) Componentes de um


sistema de radar típico (Malhotra &
Carino, 2004); (B) e (C) exemplos de
equipamentos de radar comercialmente
disponíveis para inspeção em concreto

Métodos de propagação de ondas de tensão

Diversos métodos de ensaio baseados na propagação de ondas de tensão ou


ecotécnicas têm sido usados em inspeções de campo de estruturas de concreto,
sendo adotados procedimentos padrões para alguns deles. Os ecométodos são
usados para medir a espessura e detectar fissuras em estacas de fundação,
bem como determinar a espessura de pavimentos e o módulo de elasticidade
de sistemas de pavimentos em camadas.
Nesses ensaios, as ondas de tensão são introduzidas no objeto de ensaio e a
resposta da superfície é monitorada, sendo necessário o acesso a apenas uma
das superfícies. Dependendo dos detalhes da configuração de ensaio e da
resposta medida, são obtidas diferentes informações sobre a estrutura.

Termografia infravermelha

A termografia infravermelha constitui uma técnica não destrutiva de


sensoriamento remoto que tem se mostrado como um método de ensaio
eficiente, útil e econômico para avaliação do concreto. É baseada no princípio
fundamental de que anomalias abaixo da superfície dos materiais afetam o
fluxo de calor através dos mesmos. Assim, com esse método, é possível
detectar, com precisão, grandes defeitos e delaminações no interior de
estruturas de concreto, tais como tabuleiros de pontes, pavimentos de
estradas, pisos de garagens, pavimentos de estacionamento e muros de
arrimo. Como uma técnica de ensaio, destaca-se dentre suas qualidades a
precisão, a repetitividade, a economia e a não inconveniência ao público
durante a execução do ensaio (Malhotra & Carino, 2004).

Métodos de emissão acústica

De uma maneira geral, emissões acústicas são definidas como fenômenos em


que ondas elásticas transitórias são geradas devido à rápida liberação de
energia por fontes localizadas dentro do material, indicando mudanças
irreversíveis. No concreto, as emissões acústicas devem-se principalmente à
fissuração do concreto, à perda de aderência entre o concreto e a armadura, e
à fratura ou descolamento das fibras em concretos reforçados com fibras. As
ondas geradas se propagam através do material e sua chegada na superfície
pode ser detectada por transdutores piezoelétricos (Malhotra & Carino, 2004).

Os métodos de emissão acústica podem ser bastante úteis para a


complementação de medidas em laboratório de outras propriedades do
concreto, porém sua utilização em campo permanece problemática.

Perspectivas para a utilização de método não-


destrutivos na construção civil

A prática corrente no emprego de ensaios não-destrutivos para se avaliar o


desempenho mecânico de uma estrutura de concreto tem sido restrita ao uso
do ensaio de dureza superficial e de velocidade de propagação de ondas
ultrassônicas. Estas ferramentas permitem analisar a uniformidade da estrutura
e orientam a definição dos locais para extração de testemunhos destinados à
determinação da resistência à compressão, racionalizando o processo de
avaliação. Este procedimento, mesmo que confiável, é lento, de custo elevado,
além de causar danos nas estruturas.

Nos últimos anos, verificou-se um grande avanço tecnológico na área de


medições com auxílio da eletrônica, o que permitiu o desenvolvimento de
equipamentos modernos e mais precisos para avaliar as propriedades dos
materiais, sem danos ao mesmo. Em paralelo, a construção civil teve um
crescimento considerável, com desenvolvimento de novos materiais e
aprimoramento das propriedades do concreto. Porém, em função da
heterogeneidade do material, as tecnologias mais avançadas de medida de
propriedades por técnicas não-destrutivas empregadas em outros materiais não
têm sido aplicadas com a eficiência e nem com a freqüência necessárias no
campo do concreto. A carência de normalização nacional e internacional
correspondente reflete o cenário tecnológico e, ao mesmo tempo, dificulta a
sua aplicação na indústria da construção civil.

Neste contexto, a equipe do Laboratório de Materiais de Construção Civil do IPT


está atuando no âmbito do desenvolvimento de um procedimento para a
caracterização de estruturas de concreto por meio de métodos de ensaios não-
destrutivos, a fim de definir parâmetros adequados e confiáveis, de avaliação
das estruturas. Com isso, prospecta-se contribuir para o estabelecimento de
uma metodologia nacional necessária que seja atualizada, otimizada e, na
medida do possível, econômica para a caracterização de estruturas de concreto.

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