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GOIÂNIA 1987: NOVA SINALIZAÇÃO SOBRE

RADIOATIVIDADE PODERIA TER EVITADO O


ACIDENTE COM O CÉSIO-137?
GOIÂNIA 1987: NEW SIGNALING ON RADIOACTIVITY
COULD’VE AVOIDED ACCIDENT WITH CESIUM-137?
Ariadner Marília Pereira de Souza, Clayton Moreira Marques, Glaucio Menoni Honorato,
Jefferson Ricardo Quirino da Silva Campopiano, João Carlos Rodrigues Eugênio,
Lilian Silva de Oliveira Almeida, Osni Ricardo Antunes, Thais Lopes Honório.
UNIVERSIDADE PAULISTA – campus Sorocaba/SP
e-mail de contato: glaucio.honorato@docente.unip.br

RESUMO
O acidente com o Césio-137 em Goiânia/GO em 1987 foi o maior acidente radiológico do Brasil e um dos maiores do
mundo fora de usinas nucleares, causando inúmeras mortes, exposição e contaminação radioativa, grandes estragos e
problemas sociais para aquela cidade. Devido ao equívoco da fiscalização, à negligência dos responsáveis por um
equipamento de radioterapia fora de uso e à falta ou ausência de sinalização de radioproteção, dois coletores de
recicláveis removeram para uma residência e violaram a caixa que blindava o material radioativo (Césio-137), expondo
e/ou contaminando o local, a si mesmos, familiares, outros curiosos e, inclusive, terceiros por onde o material circulou.
O objetivo deste trabalho, elaborado via pesquisa bibliográfica e de campo com uma amostra de coletores/separadores
de recicláveis da região da cidade de Sorocaba/SP, foi inferir a hipótese de que o acidente teria sido evitado se existisse
uma sinalização de significados mais claros e/ou mais incisivos quanto ao real risco, assim como é o novo símbolo de
advertência de radiação ionizante (ISO 21482), lançado em 2007 (quase 20 anos após o que ocorreu em Goiânia). O
motivo dessa hipótese prende-se ao fato de as costumeiras sinalizações de radiação não exprimirem suficiente, clara e
evidentemente ao público leigo e/ou analfabeto o risco/perigo que a radiação ionizante apresenta quando não operada
adequadamente. E o que foi colhido aponta um significativo alerta quanto à possibilidade de ocorrer um novo problema
com exposição excessiva e desnecessária e/ou contaminação por radiação, caso os perigos desta não fiquem evidentes.
Palavras-chave: Acidente Césio-137, Radioproteção, Sinalização.

ABSTRACT
The Cesium-137 accident in Goiânia/GO in 1987 was the largest radiological accident in Brazil and one of the largest in
the world outside nuclear power plants, causing countless deaths, exposure and radioactive contamination, great damage
and social problems for that city. Due to the misconception of the inspection, the negligence of those responsible for the
out-of-use radiotherapy equipment and the lack or absence of radioprotection signs, two recyclable collectors removed
to a residence and violated the box that shielded the radioactive material (Cesium -137), exposing and/or contaminating
the site, themselves, relatives, others curious and, including, third parties where the material circulated. The objective of
this study, based on bibliographical and field research with a sample of collectors/separators of recyclable from the city
of Sorocaba/SP, was to infer the hypothesis that the accident would have been avoided if there was a signaling of
clearer and/or more incisive meanings as to the real risk, just as is the new ionizing radiation warning symbol (ISO
21482), launched in 2007 (almost 20 years after that in Goiânia). The reason for this hypothesis is that the usual signs of
radiation do not express sufficiently, clearly and evidently to the lay and/or illiterate public the risk/danger that the
ionizing radiation presents when not properly operated. And what has been collected points out a significant warning
about the possibility of a new problem occurring with excessive and unnecessary exposure and/or contamination by
radiation, if the dangers of this are not evident.
Keywords: Cesium-137 Accident, Radioprotection, Signaling.
INTRODUÇÃO núcleo 55 prótons e 82 nêutrons. Por possuir
mais nêutrons do que prótons é mais instável e
No mês de setembro de 1987 ocorreu em emite radiação. [5]
Goiânia/GO o maior acidente radiológico do O Césio-137 pode ser encontrado na
Brasil e um dos maiores do mundo fora de natureza em sua forma alcalino-metálica e é
usinas nucleares, envolvendo exposição e utilizado na forma de sais muito parecidos
contaminação pelo material radioativo Césio- com o sal de cozinha, mas, diferente deste,
137 que dois coletores de materiais recicláveis possui a característica singular de emitir um
retiraram de um equipamento negligentemente brilho cristalino azul. Também pode ser obtido
abandonado. [1, 2, 3] como resultado de fissão nuclear de elementos
Nesta introdução do trabalho e baseado no como o Urânio e o Plutônio. [5]
que pode ser levantado na pesquisa O Césio-137 é bastante perigoso para o ser
bibliográfica há mais detalhes do ocorrido. Isto humano porque emite partículas ionizantes e
logo a seguir da descrição sucinta do que é radiações eletromagnéticas capazes de
atravessar vários materiais, incluindo a pele e
esse material radioativo, o Césio-137. os tecidos do corpo humano, interagindo com
Nos três próximos títulos, têm-se: algumas as moléculas do organismo e gerando efeitos
devastadores. Essa interação ocorre porque,
das regras e a importância da sinalização de
assim como ocorre com todos os isótopos
segurança relativa à área Radiológica; a radioativos, o Césio-137 emite radiações com
apresentação (para uma base comparativa) do energia suficiente para retirar elétrons dos
átomos e dar origem a cátions (partículas com
símbolo das radiações ionizantes – o trifólio; e carga positiva), que são altamente reativos e,
do novo símbolo de advertência lançado em por sua vez, podem causar alterações em
2007. reações que ocorrem nas células dos tecidos
vivos, alterando o DNA e podendo causar o
Nos três títulos finais está relatada a aparecimento de células cancerígenas. (Brasil
pesquisa realizada para levantar a diferença de Escola, 2018) [6]
interpretação desses símbolos de sinalização A meia vida do Césio-137, ou o tempo
sobre radiações ionizantes e, assim, a relação necessário para que a sua energia inicial
com a hipótese que motivou este trabalho e diminua pela metade, é de 30 anos. Após este
considerações do assunto até o momento. período, torna-se o Bário-137. [5]

O que é o Césio-137? O Prelúdio do Acidente


Os cientistas Robert Bunsen e Gustav O Instituto Goiano de Radiologia (IGR)
Kirchhoff descobriram o Césio em 1860 funcionava no centro de Goiânia, em um
através de uma análise espectroscópica de uma terreno cedido pela Sociedade São Vicente de
amostra de água mineral, sendo o primeiro Paulo (SSVP), e realizava exames radiológicos
elemento químico descoberto com a utilização gratuitamente para a Santa Casa de
dessa técnica. [4] Misericórdia em acordo proposto pela SSVP
Valendo-se da espectroscopia, Bunsen e Kirchhoff como uma espécie de pagamento pelo
viram que cada elemento apresentava um espectro empréstimo do terreno. [1]
definido, ou seja, as cores que compunham a sua
luz podiam ser vistas, anotadas e medidas. Esse Com o descumprimento do acordo por
espectro funcionava como uma espécie de parte do Instituto Goiano de Radiologia, o
impressão digital e poderia ajudar na terreno foi vendido em 1984 para o Instituto de
caracterização e diferenciação dos elementos
químicos que compõem a natureza. (GLOBO Previdência e Assistência dos Servidores do
CIÊNCIA, 2011) [4] Estado de Goiás (IPASGO), antes mesmo de o
O elemento químico Césio possui 32 IGR o desocupar. [1, 2]
Isótopos, dentre eles o mais conhecido é o Apenas um ano depois, em 1985,
Radioisótopo Césio-137, que possui em seu aconteceu de fato a mudança do IGR para um
novo endereço, abandonando mobiliários e vendida a outros dois depósitos, mas a cápsula,
equipamentos antigos. Dentre estes um que despertou atenção, D.A.F. levou para sua
aparelho de Radioterapia que continha uma residência com a intenção de mostrar o curioso
cápsula com aproximadamente 19,26 gramas artefato aos seus vizinhos e familiares. [1]
do Radioisótopo Cloreto de Césio-137. [1, 2] Na mesma noite e fascinado com o brilho
Em maio de 1987, o IPASGO deu início à azul incessante do pó, D.A.F. abriu o
demolição do imóvel, mas foi impedido de recipiente com o auxílio de uma chave de
concluí-la por uma liminar judicial e o prédio fenda e teve contato direto com o Cloreto de
seguiu abandonado, parcialmente deteriorado e Césio-137. Ele então compartilhou o pó
abrigando a cápsula de Césio-137 no aparelho brilhante com seu irmão I.A.F. e com seu
de Radioterapia desprotegido. Também, pelo vizinho E.F., que também dividiu com o
que consta, não houve fiscalização desse próprio irmão E.F.. [2]
material/aparelho por parte da Comissão I.A.F., irmão de D.A.F. (o proprietário do
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) nos três ferro-velho), deixou o objeto contendo o
anos seguintes (1985 a 1987). [2] material radioativo sobre a mesa durante a
refeição da família, para que todos pudessem
A Descoberta da Máquina de Radioterapia ter contato com a “novidade”. E sua filha mais
Os catadores de ferro-velho W.M.P. e nova L.D.N., de apenas 6 anos de idade,
R.S.A. encontraram, entre as ruínas do prédio brincou com o pó no escuro e, com as mãos
em processo de demolição e abandonado, um ainda sujas/contaminadas, ingeriu-o
aparelho que para eles era desconhecido e sem acidentalmente junto com o alimento do seu
qualquer tipo de identificação visual alertando jantar. [1, 2]
o perigo que os dois estariam expostos caso o
violassem. O aparelho tinha o peso A Identificação do Material Radioativo
aproximado de 400kg e, por conter chumbo No dia 28 de setembro, quinze dias depois
(material de alto valor financeiro da abertura da cápsula de Césio-137, M.G.F.,
comercialmente), os catadores decidiram levar esposa de D.A.F., desconfiou que o objeto e o
suas peças para as vender em um ferro-velho pó em sua residência estavam causando vários
local, cujo proprietário era D.A.F.. [1, 2] sintomas que passaram a incomodar a família
e, então, solicitou ajuda de G.G.D.S., um
A Contaminação colaborador do ferro-velho. Ambos colocaram
o objeto radioativo em uma sacola plástica,
entraram em um transporte coletivo e seguiram
até o prédio da Vigilância Sanitária de Goiânia
(VSG), sem nem imaginar que estavam
ocasionando a exposição de todos os que
cruzavam o seu caminho à radiação
proveniente do material desconhecido que
levavam consigo. [1, 2, 3]
Figura 1: Cabeçote violado onde estava a No edifício da VSG foram recebidos por
cápsula com o Césio-137. [7] um servidor, o qual deixou o material sobre
Com golpes de marreta o aparelho foi uma mesa e chamou o médico A.M. para
aberto, expondo a cápsula que continha uma conferir do que se tratava. Este médico
espécie de sal que emanava uma luz azul que desconfiou que fosse algo radioativo, uma vez
cintilava muito intensamente no escuro. Parte que muitas pessoas já estavam aparecendo no
da estrutura do aparelho desmontado foi
hospital com os mesmos sintomas e que eram Das 249 pessoas que apresentaram
característicos de contaminação por material significativa contaminação, algumas passaram
radioativo, e ele solicitou a presença de um apenas por descontaminação simples, outras
físico para realizar testes. Quando o por avaliações mais complexas e 14 delas em
dispositivo de medição foi acionado, indicou estado grave receberam tratamentos
níveis altíssimos de radioatividade, ambulatoriais. [2, 8]

confirmando então todas as suspeitas. [2, 3] Os primeiros óbitos registrados devido às


complicações já esperados pela equipe que
As Primeiras Medidas de Intervenção cuidava da operação foram de M.G.F. (esposa
Foi acionado um plano de emergência de D.A.F. e quem carregou o artefato até a
para que fosse possível identificar, monitorar, VSG) no dia 23 de outubro e, horas depois, de
descontaminar e tratar a população envolvida. L.D.N. (a criança que ingeriu o pó). No dia 27
A operação foi denominada “Operação Césio- e 28 de outubro, respectivamente, ocorreram
137” e contou com auxílio de diversas as mortes de I.B.D.S. e A.A.D.S., ambos
instituições, dentre elas: a Comissão Nacional colaboradores do ferro-velho de D.A.F.. [3, 8]
de Energia Nuclear (CNEN), a Furnas Centrais
Elétricas (FURNAS), a Empresas Nucleares DIRETRIZES PARA CRIAÇÃO DE
Brasileiras S/A (NUCLEBRÁS), a Defesa SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA
Civil, a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás,
o Hospital Geral de Goiânia e o Hospital O objetivo da sinalização de segurança é
Naval Marcilio Dias. [2, 3] difundir informações de forma clara, para fácil
As áreas consideradas foco principal de e rápida compreensão e para direcionar e
contaminação foram isoladas e iniciaram uma orientar indivíduos que não possuem nenhum
triagem das pessoas no Estádio Olímpico de tipo de domínio sobre determinado espaço,
Goiânia. A descontaminação dos principais antecipando e preparando aos indivíduos
focos foi realizada removendo-se grandes alguns tipos de perigos que podem conter ou
quantidades de solo e as construções depois de ocorrer na respectiva área ou com
demolidas. Ao mesmo tempo, eram realizadas determinados objetos/produtos. [9]
a monitoração para quantificar a dispersão do E na criação de um sistema de sinalização
Césio-137 no ambiente e a análise do solo, de orientação é necessário levar em
vegetais, água e ar. [2, 3] consideração o público alvo e devem ser
solucionados os problemas informacionais
As Primeiras Mortes utilizando-se, ao menos, os elementos do
Com a violação do equipamento, foram sistema de cores, caracteres e pictogramas. [10]
espalhados no meio ambiente vários
fragmentos de Césio-137, na forma de pó azul
As Cores
brilhante, provocando a contaminação de
diversos locais, especificamente naqueles onde O sistema de cores deve dar ao indivíduo
houve manipulação do material e para onde uma diferença claramente visível, empregando
foram levadas as várias partes do aparelho de
Radioterapia. (JUNIOR, 2016) [3] um contraste entre figuras, letras e fundo, para
Todas as pessoas que tiveram contato com que, desse modo, fique tudo claro, visível e
o material radioativo naquele período legível. [11]
começaram a apresentar os mesmos sintomas:
diarreia, náusea, vômito, cansaço e lesões de
queimaduras na pele. L.D.N. (a criança que
ingeriu o pó) foi quem sofreu o maior grau de
contaminação. [3]
máximo na segunda vez que observa a imagem,
como descreve Neurath. O uso de pictogramas
pode ser resumido na simplicidade de
representação e eficiência na comunicação.
(DANKA, 2012) [11]

O TRIFÓLIO – SINALIZAÇÃO SOBRE


RADIAÇOES IONIZANTES

O primeiro esboço do Símbolo


Internacional das Radiações Ionizantes, em
teoria, surgiu em 1946, no Laboratório de
Radiação da Universidade da Califórnia,
Figura 2: Tabela significado das cores em segurança.[12] Berkeley, nos Estados Unidos, e foi
transmitido para o resto do mundo. O símbolo
Os Símbolos
chama-se trifólio porque tem o mesmo formato
Para garantir o melhor funcionamento das
de ervas com folhas em forma de trevo. Uma
sinalizações de segurança, foram adotadas
das especulações sobre significado do desenho
simbologias universais e padronizadas para
é que o círculo central representa um átomo e
indicar iminentes perigos. [11]
as três “hélices” as radiações Alfa, Beta e
Os símbolos são de grande importância,
Gama. [13]
uma vez que os usamos como parte da
Ainda hoje, não se sabe ao certo sua
orientação, e quando bem simplificados, tem a
origem e uma das curiosidades acerca do
capacidade de transmitir rapidamente
trifólio é a incerteza do real motivo que levou
conceitos e instruções. Dessa forma, são de
pesquisadores escolherem esse formato. [13]
extrema utilidade para pessoas que não têm
formação na área e/ou que não são
alfabetizadas. Os símbolos, inclusive,
objetivam informar a grandeza do perigo. [11]

Os Pictogramas
Os pictogramas são métodos de
representação de conceitos em forma gráfica e
utilizados para transmitir informações
essenciais às pessoas. Trata-se de uma técnica Figura 3: Símbolo Internacional das
visual eficiente, pois transmite a informação Radiações Ionizantes – ISO 361. [14]
de modo simples e objetivo. Os pictogramas
NOVA SINALIZAÇÃO SOBRE RADIA-
são importantes para pessoas que possuem
ÇÕES IONIZANTES
dificuldade em ler ou com problemas de visão,
crianças, idosos e estrangeiros, pois, quando
Com o objetivo de evitar futuras
desenhados com precisão, são facilmente
ocorrências de ferimentos graves e/ou mortes
compreendidos. [11]
pelo manuseio inadequado/descuidado de
Em linhas gerais, uma imagem deve ser
comunicativa, deve transmitir sua mensagem
fontes radioativas seladas, algo historicamente
ao leitor como um professor [...] Neste sentido, evidenciado entre pessoas com formação
um pictograma bem desenvolvido deve ter técnica insuficiente e/ou inexperientes que não
obrigatoriamente a capacidade de ocultar todos
os detalhes desnecessários, deixando a imagem entendem o significado do símbolo básico da
sintética o suficiente para que o observador radiação ionizante, ONU (Organização das
compreenda a mensagem na primeira, ou no
Nações Unidas), IAEA (International Atomic Eliana Amaral, manifestou que o novo
Energy Agency, em português, AIEA - símbolo deveria ser “aceito e aplicado pelos
Agência Internacional de Energia Atômica) e governos e pela indústria para melhorar a
direção da comunidade internacional buscaram segurança das aplicações nucleares, a proteção
desenvolver um novo símbolo e com todos os das pessoas e do meio ambiente". E o
requisitos necessários para alertar um especialista em radiação também da IAEA,
perigoso/alto nível de radiação ionizante em Carolyn Mac Kenzie, um dos desenvolvedores
uma fonte selada. [15] do novo símbolo, disse: "Não podemos ensinar
A correta interpretação e compreensão do ao mundo sobre radiação, mas podemos alertar
perigo existente em uma dessas fontes são de as pessoas sobre fontes perigosas pelo preço
suma importância para todas as pessoas e, por do adesivo". [16]
isso, o novo símbolo lançado em 2007 Além de Kenzie, desenvolveram o novo
apresenta ondas radiantes em direção a uma símbolo: especialistas em fator humano,
caveira com ossos cruzados e a uma pessoa artistas gráficos e especialistas em
correndo. O mesmo, como aviso de radiação radioproteção. E o Instituto Gallup efetuou o
ionizante, deveria estar introduzido desde teste de eficácia com um total de 1.650
então, não para substituir, mas sim, para indivíduos em vários países: Brasil, México,
complementar/suplementar o tradicional Marrocos, Quênia, Arábia Saudita, China,
símbolo internacional de radiação ionizante Índia, Tailândia, Polônia, Ucrânia e Estados
[ISO 361, ISO 7010: 2003, Tabela 1 (Número Unidos. [16]]
de Referência W003), o trevo de três pontas] O secretário-geral da ISO (International
ao fornecer com suas representações gráficas Organization for Standardization, em
mais informações de perigo e a necessidade de português, Organização Internacional de
pessoas não treinadas e/ou desinformadas Normalização), Alan Bryden, declarou como
ficarem longe. [15, 16] desejo da longa cooperação entre IAEA e ISO:
“Nós encorajamos a rápida adoção do símbolo
pela comunidade internacional". E, na época
(já há mais de 10 anos), vários fabricantes de
fontes radioativas planejavam usar o novo
símbolo nas novas fontes produzidas/montadas
e a IAEA estava planejando estratégias para
aplicá-lo nas fontes que já existiam. [16]
As fontes perigosas, às quais o novo
símbolo está destinado e que podem causar
Figura 4: Novo símbolo Internacional sobre
as Radiações Ionizantes – ISO 21482. [16] morte ou ferimentos graves, são as de
O novo símbolo visa alertar qualquer pessoa, categoria 1, 2 e 3: “irradiadores de alimentos,
em qualquer lugar, para os perigos potenciais máquinas de teleterapia para tratamento de
de estar perto de uma grande fonte de radiação câncer e unidades de radiografia industrial”.
ionizante, o resultado de um projeto de cinco [16]
anos realizado em 11 países ao redor do
mundo. O símbolo foi testado com diferentes O novo símbolo de advertência de radiação
grupos populacionais - idades variadas, suplementar deve ser colocado próximo da
diferentes níveis de escolaridade, masculinos e fonte, de preferência no escudo ou perto do
femininos - para garantir que sua mensagem de ponto de potencial acesso à fonte. A intenção
"perigo - fique longe" fosse clara e do símbolo no escudo é transmitir a mensagem
compreendida por todos. (IAEA, 2007) [16] de que o desmantelamento do dispositivo é
muito perigoso. (ISO 21482, 2007) [14]
A diretora da Divisão de Radiação,
[...] O símbolo deve ser colocado no
Transporte e Segurança de Resíduos da IAEA, dispositivo que abriga a fonte, como um aviso
para não desmontar o dispositivo ou ficar mais Segregação de Recicláveis nas cidades de
perto. Não será visível sob uso normal, apenas
se alguém tentar desmontar o dispositivo. O
Sorocaba, Itu e São Roque.
símbolo não estará localizado nas portas de
acesso ao edifício, pacotes de transporte ou
contêineres. (IAEA, 2007) [16]
Pode não ser viável colocar o novo
símbolo diretamente na fonte, já que a maioria
dessas é pequena, fazendo-se necessária sua
gravação ou etiquetagem na blindagem, por
exemplo, tampas, de forma estreitamente
associada ao dispositivo que abriga a fonte real
para, assim, ser visualizado claramente antes
do acesso à mesma e inibir a desmontagem.
Portanto, não é para ser visível no
equipamento quando o mesmo está em uso
normal e/ou nem estar nas superfícies externas Gráfico 1: Respostas sobre a faixa etária dos
de embalagens de transporte, contêineres de colaboradores.
carga, meios de transporte ou em portas de
acesso. [15]

MATERIAIS E MÉTODOS

Para elaboração do presente trabalho, foi


realizada uma pesquisa de campo em Ferros-
velhos e Cooperativas de Segregação de
Recicláveis nas cidades de Sorocaba, Itu e São
Roque. O objetivo da pesquisa baseou-se em
coletar dados sobre a quantidade média de
pessoas que conheciam ou desconheciam os
Símbolos Internacionais de Radiação
Ionizante. Para a pesquisa foi elaborado um Gráfico 2: Respostas sobre o tempo em que
realizam o trabalho de coletagem.
questionário com sete perguntas objetivas (que
constam nos gráficos a seguir em Resultados e No gráfico apresentado acima (Gráfico 1,
Discussão, sendo uma dessas apenas um teste questão 1) observa-se que a faixa etária dos
e, por isso, omitida) que foram respondidas colaboradores que responderam o questionário
voluntariamente por um total de 89 foi de: 41,6% (37 pessoas) tinham entre 18 e
colaboradores dos locais visitados. 30 anos; 20,2% (18 pessoas) entre 51 e 60
anos; 16,9% (15 pessoas) entre 31 e 40 anos;
RESULTADOS E DISCUSSÃO 15,7% (14 pessoas) entre 41 e 50 anos; e
apenas 5,6% (5 pessoas) tinham mais de 60
Os gráficos a seguir foram produzidos a anos.
partir das questões objetivas (Anexo-I: O tempo que esses colaboradores que
questões 1, 2, 4, 5, 6 e 7; questão 3 foi apenas responderam o questionário somavam no
um teste de identificação e que a maioria trabalho de coleta/segregação de material
absoluta acertou) aplicadas aos colaboradores reciclável (Gráfico 2, questão 2) foi de: 34,8%
dos Ferros-velhos e das Cooperativas de (31 pessoas) de 0 mês a 1 ano; 28,1% (25
pessoas) de 1 a 5 anos; 21,3% (19 pessoas) de
6 a 10 anos; e 15,7% ( 14 pessoas) mais de 10 ISO 21482 (Figura 4); 31,5% (28 pessoas)
anos. identificaram maior risco na que continha os
dizeres “PERIGO RADIAÇÃO SOMENTE
PESSOAL AUTORIZADO” junto ao trifólio;
e 10,1% (9 pessoas) identificaram maior risco
na Sinalização Internacional sobre Radiação
Ionizante – ISO 361 (trifólio, Figura 3).

Gráfico 3: Respostas sobre o que significa o símbolo


da ISO 361.

Gráfico 5: Respostas sobre a atitude ao encontrar


algum material identificado com a ISO 361.

Gráfico 4: Respostas sobre qual das placas o


colaborador identificava maior perigo.
Sobre o reconhecimento do Símbolo
Internacional de Radiação Ionizante – ISO 361
(trifólio, Figura 3), os resultados (Gráfico 3,
questão 4) foram: 42,7% (38 pessoas)
responderam que o símbolo representa um
ventilador industrial; 38,2% (34 pessoas) que
Gráfico 6: Respostas sobre a atitude ao encontrar
representa Radiação; 11,2% (10 pessoas) que algum material identificado com a ISO 21482.
se tratava de um alto-falante; e 7,9% (7
A pergunta sobre a reação ao encontrar
pessoas) que avisava sobre área de ruído
durante a coleta/segregação algum material
intenso.
com a Sinalização Internacional sobre
Quanto à identificação de maior risco
Radiação Ionizante – ISO 361 (trifólio, Figura
entre as três placas que foram apresentadas, os
3) resultou (Gráfico 5, questão 6) em: 33,7%
resultados (Gráfico 4, questão 5) foram: 58,4%
(30 pessoas) avisariam as autoridades; 27,0%
(52 pessoas) identificaram maior risco na
(24 pessoas) não manipulariam por
Nova Sinalização sobre Radiação Ionizante –
acreditarem ser perigoso; 20,2% (18 pessoas) é facilmente confundido por causa do
manipulariam normalmente tomando alguns desconhecimento e/ou de sua ambiguidade
cuidados; e 19,1% (17 pessoas) não saberiam o com outros objetos, como, ventilador, alto-
que fazer. falante ou ruído intenso.
E sobre a reação ao encontrar algum Através da pesquisa e estatisticamente,
material com a Sinalização Internacional sobre denota-se que grande parte das pessoas
Radiação Ionizante – ISO 21482 (Figura 4) desconhece a sinalização de advertência de
resultou (Gráfico 6, questão 7) em: 49,4% (44 radiações convencional, o “simples” trifólio
pessoas) se afastariam e avisariam as (nesta pesquisa mensurou-se quase 2/3 dos
autoridades; 41,6% (37 pessoas) não questionados com potencial de repetirem o
manipulariam o material; 6,7% (6 pessoas) não ocorrido em Goiânia/GO em 1987). E que um
saberiam o que fazer; e 5.6% (5 pessoas) considerável número delas manipularia
abririam para ver o conteúdo interno. tranquilamente um objeto sinalizado com essa
Existem vários tipos de sinais a serem advertência e/ou não saberia o que fazer em tal
compreendidos: sinais de obrigações, sinais de caso (nesta pesquisa isso foi respondido por
perigo, sinais de avisos e sinais de emergência. quase a metade dos questionados).
Tais sinalizações, visando qualquer público, Dessa forma, o resultado estatístico com
devem ser claras e objetivas, ficarem em locais esse levantamento amostral alerta para uma
e lugares específicos e serem de fácil significativa possibilidade de ocorrer um novo
visualização para chamarem a atenção e evitar problema com exposição excessiva e
exposição acidental desnecessária. desnecessária e/ou contaminação por materiais
Porém, devido ao equívoco da radioativos, caso os perigos desta não fiquem
fiscalização, à negligência dos responsáveis evidentes.
por um equipamento de radioterapia fora de Uma das alternativas para minimizar o
uso e à falta ou ausência de sinalização de risco de um novo acidente, seria uma ampla
radioproteção, dois coletores de materiais divulgação da nova ISO e/ou o uso
recicláveis removeram da clínica desativada e concomitante das duas placas de Sinalização
abandonada e violaram a caixa que blindava o de Advertência Sobre as Radiações Ionizantes,
material radioativo (Césio-137), expondo e/ou a sinalização ISO 361 (trifólio, Figura 3) e
contaminando o local, a si mesmos, alguns mais a ISO 21482 (Figura 4) fixadas nas
familiares, outros curiosos com o material de cápsulas que contenham qualquer tipo de
cor e brilho fluorescente e, inclusive, terceiros material radioativo. Já que essa nova
por onde o material circulou na cidade. sinalização faz o alerta mais eficiente com sua
Uma das possibilidades de evitar o cor vermelha e simbologia de perigo e
acidente com Césio-137 na capital necessidade de se afastar do objeto (nesta
Goiânia/GO em 1987 seria as pessoas terem pesquisa, a maioria absoluta, 91%, se afastaria
respeitado ou compreendido a Sinalização e avisaria as autoridades ou, pelo menos, não
Internacional de Advertência sobre Radiação – manipularia o material identificado com a
ISO 361 (trifólio, Figura 3). Porém, o símbolo sinalização ISO 21482, Figura 4).
do trifólio estampado na cápsula não era de CONSIDERAÇÕES FINAIS
comum conhecimento ou de fácil
entendimento. Com base na pesquisa realizada e
O Símbolo Internacional de Radiação resultados colhidos, considera-se que uma das
Ionizante – ISO 361 possui em sua possibilidades de se ter evitado o acidente com
configuração cor amarela que nos remete a o Césio-137 é se na clínica desativada e/ou no
informação de alerta, mas o símbolo utilizado equipamento abandonado já existisse(m) uma
sinalização de significados mais claros e/ou DA SAÚDE. A História do Acidente Radiológico de
mais incisivos quanto ao real risco. Goiânia. Disponível em: <http://www.cesio137goiania.
go.gov.br/o-acidente/>. Acesso em: 24 out. 2018.
A Nova Sinalização Internacional de
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Projeto de Sinalização Hospitalar: A análise ergonômica
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exposto se manipular determinado objeto e/ou
adentrar local, mesmo sem conhecimento [11] DANKA, L. K. Pictogramas: Teoria,
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técnico sobre o assunto ou alfabetização.
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[8] SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE; GOVERNO DO
ESTADO DE GOIÁS; SECRETARIA DE ESTADO

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