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“assombrosas possibilidades [que] podem ser descobertas na matéria prima da fotografia, pois que a
análise detalhada de cada um destes aspectos nos abastece com uma série de valiosos indícios a respeito
de suas aplicações. ”As oito variedades de visão fotográfica são:
1. A visão abstrata mediante o registro direto das formas produzidas pela luz: o fotograma.
2. A visão exata mediante a fixação normal das aparências das coisas: a reportagem.
3. A visão rápida mediante a fixação do movimento no menor tempo possível: as instantâneas.
4. A visão lenta mediante a fixação de movimentos que se estendem através de um período de tempo: as
exposições prolongadas.
5. A visão intensificada mediante:
a) a microfotografia
b) a fotografia com filtro
6. A visão penetrante mediante os raios X: a radiografia
7. A visão simultânea mediante superposições
8. A visão distorcida: recursos óticos que se podem produzir automaticamente por:
a) a exposição através de uma lente equipada com prismas e o método de espelhos refletindo-se
uns nos outros;
b) a manipulação química ou mecânica do negativo depois da exposição.”
Este tipo de inventário dos tipos de visão especificamente fotográficos fazia parte de sua
tentativa de padronizar uma linguagem de gramática puramente ótica. Considerava que este era o
objetivo maior da arte moderna desde que começara a destruir os cânones da arte imitativa. A
novidade dessa forma de abordagem é que a fotografia deixava de ser um mero recurso auxiliar
da criação artística para assumir uma posição central no conjunto das artes visuais.
Dentre as experiências fotográficas científicas do século XIX que serão retomadas pelos
modernistas, encontramos a cronofotografia. Um dos artistas que se dedicou às experiências de
Muybridge e Marey foi Marcel Duchamp. No célebre “Nu Descendo a Escada” e em toda a série
que ele inicia, Duchamp procurou ultrapassar o que considerava a principal limitação do cubismo:
a estaticidade. Repudiava que a arte cubista fosse elaborada apenas sobre a multiplicidade dos
pontos de vista e suas relações espaciais, deixando de considerar os problemas do movimento e
suas extensões temporais. É a isto que a pesquisa da cronofotografia se propôs. Duchamp funde
diferentes instantes do movimento de um corpo, dissolvendo os contornos da figura e realçando a
continuidade espaço-temporal, alcançando uma interpretação plástica para a teoria das 4
dimensões do espaço-tempo apresentada pela física einsteiniana.
Também Giulio Bragaglia, com a concepção da “fotodinâmica”, proposta em 1911, buscava
a fusão absoluta de um movimento contínuo, por mais deformadora que fosse da figura original.
Considerava sua meta principal a tradução espacial do tempo. Em um texto de 1912 intitulado
“Fotodinamismo Futurista”, Bragaglia é contundente no seu ataque ao realismo da fotografia
convencional:
“De um meio mecânico como a fotografia só pode sair arte se se supera a mera
reprodução da realidade estática (...), longe já do realismo obsceno e brutal do estático para
chegar a uma condição que chamamos Fotodinâmica”. Para os futuristas, o movimento não se
resumia em uma sequência de imagens sucessivas. Era preciso captar a “natureza transcendente
do movimento”, a “poética da velocidade” em cuja imagem desrealizada o artista podia reconhecer
os valores estéticos de um fenômeno que não seria perceptível de nenhuma outra maneira.
E foi desta maneira que, no início século XX, a arte em crise se valeu da fotografia para
questionar, ampliar e transgredir seus limites como linguagem visual dos tempos modernos.