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Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e

do Serviço
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento
de seus produtos, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a
segurança que dele legitimamente se espera, levando-se
em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de
outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só
não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o
defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

1º Fato do Produto X Vício do Produto: o fato do produto é um defeito


de segurança, em que a utilização do produto ou serviço é capaz de gerar
riscos à segurança do consumidor ou de terceiros, podendo ocasionar um
evento danoso, denominado “acidente de consumo”. Por sua vez, os vícios
do produto ou serviço estão relacionados aos vícios de adequação, em
que os produtos ou serviços não correspondem às expectativas geradas no
consumidor quando da utilização ou fruição, afastando, assim, sua
prestabilidade, tornando-os inadequados.

No fato do produto ou serviço, o prejuízo é extrínseco ao bem, ou seja,


não há uma limitação da inadequação do produto em si, mas uma
inadequação que gera danos além do produto (acidente de consumo). A
responsabilidade pelo fato do produto centraliza sua atenção na garantia da
incolumidade físico-psíquica do consumidor, protegendo sua saúde e
segurança. O fato do produto esta sujeito a prazo prescricional.

No vício do produto ou serviço, o prejuízo é intrínseco, estando o bem


somente em desconformidade com o fim a que se destina. A
responsabilidade pelo vício busca garantir a incolumidade econômica do
consumidor. O vício do produto está sujeito a prazo decadencial.

2º O conceito de fato do produto ou do serviço fica restrito não


precisa, necessariamente, envolver risco a segurança: O aparecimento
de grave vício em revestimento (pisos e azulejos), quando já se encontrava
devidamente instalado na residência do consumidor, configura FATO DO
PRODUTO, sendo, portanto, de 5 anos o prazo prescricional da pretensão
reparatória (art. 27 do CDC).
O art. 12, § 1º do CDC afirma que defeito diz respeito a circunstâncias que
gerem a insegurança do produto ou serviço. Está relacionado, portanto,
com o acidente de consumo. No entanto, a doutrina e o STJ entendem
que o conceito de “fato do produto” deve ser lido de forma mais
ampla, abrangendo todo e qualquer vício que seja grave a ponto de
ocasionar dano indenizável ao patrimônio material ou moral do
consumidor.
Desse modo, mesmo o produto/serviço não sendo “inseguro”, isso poderá
configurar “fato do produto/serviço” se o vício for muito grave a ponto de
ocasionar dano material ou moral ao consumidor. Foi nesse sentido que o
STJ enquadrou o caso acima (do piso de cerâmica) (REsp 1.176.323-SP).

3º Vício X Defeito: a doutrina diferencia o vício do defeito. O vício,


pertence ao produto ou serviço, tornando-o inadequado, mas não atinge o
consumidor ou outras pessoas. Já o defeito, não só gera uma inadequação,
como também um dano ao consumidor e a terceiros.

4º Garrafas de vinhos não precisam indicar a quantidade de calorias e


de sódio existentes: Não existe obrigação legal de se inserir nos rótulos
dos vinhos informações acerca da quantidade de sódio e de calorias (valor
energético) existentes no produto (REsp 1.605.489/SP).

5º Fabricante de veículo tem o dever de indenizar danos muito graves


decorrentes da abertura do “air bag”: A comprovação de graves lesões
decorrentes da abertura de air bag em acidente automobilístico em
baixíssima velocidade, que extrapolam as expectativas que razoavelmente
se espera do mecanismo de segurança, ainda que de periculosidade
inerente, configura a responsabilidade objetiva da montadora de veículos
pela reparação dos danos ao consumidor (REsp 1.656.614/SC).

6º ausência de responsabilidade civil pelo fornecimento de


medicamentos com contraindicações: Para a responsabilização do
fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os
danos foram causados pelo medicamento. O defeito do produto deve
apresentar-se, concretamente, como sendo o causador do dano
experimentado pelo consumidor.

Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento com


contraindicações), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis,
eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a
responsabilização do fornecedor. Isso porque, neste caso, não se pode dizer
que o produto é defeituoso (REsp 1.599.405/SP).

O fundamento é o seguinte: O fornecedor de um produto que possui uma


periculosidade inerente não responde objetivamente pelo simples fato de
ter colocado o produto no mercado. Para que ele responda, é necessário
que tenha violado o dever jurídico de segurança, o que se dá com a
fabricação e a inserção no mercado de um produto defeituoso. Em outras
palavras, não basta que o produto seja perigoso, é necessário que seja
defeituoso.

Os medicamentos em geral podem ser qualificados como produtos de


periculosidade inerente. Isso porque todos eles, sem distinção, guardam
riscos à saúde dos consumidores, na medida em que causam efeitos
colaterais, alguns com maior e outros com menor gravidade.

Assim, para a responsabilização do fornecedor de medicamentos, é preciso


que se demonstre a ocorrência de algum efeito NÃO INDICADO na
bula do remédio. Se houver alguma das contraindicações expressamente
indicadas na bula, não há que se falar em produto defeituoso.

7º Legitimidade: o art. 12 não tratou do gênero “fornecedor”. Sempre que


o Código não se referir a fornecedor é porque está querendo diferenciar a
responsabilidade de alguém. Nesse caso, conforme o art. 13, o legislador
teve a clara intenção de diferenciar a responsabilidade do
comerciante.

8º Teoria Unitária da Responsabilidade: o direito consumerista não


cuida da distinção entre responsabilidade contratual e extracontratual.
Adotou-se a teoria unitária da responsabilidade civil.

9º Responsabilidade objetiva: a responsabilidade prevista no art. 12 é


objetiva, fundada na teoria do risco da atividade, sendo suficiente que o
consumidor demonstre o dano ocorrido (acidente de consumo) e a relação
entre o dano e o produto ou serviço adquirido (nexo causal).

10º Excludentes de responsabilidade: o CDC não adotou a teoria do


risco integral, podendo o fornecedor excluir sua responsabilidade se
provar: a) que não colocou o produto no mercado; b) que, embora haja
colocado, o defeito inexiste; c) culpa exclusiva do consumidor ou de
terceiros. O ônus de provar essas excludentes é do fornecedor.

11º Culpa concorrente: não é causa excludente da responsabilidade, mas


permite a redução da condenação imposta ao fornecedor (Resp
287.849/SP).

12º caso fortuito ou força maior: apesar de não estarem previstos


expressamente no CDC, o STJ admite o caso fortuito e a força maior como
excludentes de responsabilidade. A enumeração dos excludentes não seria
taxativa e sim exemplificativa.
13º Fortuito interno e externo: O fortuito interno é um fato ligado à
organização da empresa, relacionando-se com os riscos da atividade
desenvolvida pelo fornecedor (Ex: um roubo a banco). Já o fortuito
externo é aquele que não está ligado a organização da empresa (Ex: assalto
a empresa). Somente o fortuito externo exclui a responsabilidade do
fornecedor (AgRg no Resp 620.259), o fortuito interno não exclui a
responsabilidade do fornecedor (Resp 1.197.929/PR).

STJ – Súmula 479: As instituições financeiras respondem objetivamente


pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

14º Risco de desenvolvimento: é aquele risco que não pode ser


identificado quando da colocação do produto no mercado, mas em função
de avanços científicos e técnicos, é descoberto posteriormente. A doutrina
majoritária entende que não se trata de uma excludente de
responsabilidade.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos


termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador
não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu
fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os
demais responsáveis, segundo sua participação na causação
do evento danoso.

1º Responsabilidade do comerciante: a doutrina majoritária entende que


a responsabilidade do comerciante é subsidiária, somente ocorrendo nas
hipóteses do art. 13. Havendo responsabilidade, contudo, ela será
objetiva.

2º Inexistência de dever do comerciante de receber e enviar os


aparelhos viciados para a assistência técnica: O comerciante não tem o
dever de receber e de encaminhar produto viciado à assistência técnica, a
não ser que esta não esteja localizada no mesmo Município do
estabelecimento comercial. Existindo assistência técnica especializada e
disponível na localidade de estabelecimento do comerciante (leia-se, no
mesmo Município), não se pode impor ao comerciante a obrigação de
intermediar o relacionamento entre seu cliente e o serviço disponibilizado,
visto que essa exigência apenas dilataria o prazo para efetiva solução e
acrescentaria custos ao consumidor, sem agregar-lhe qualquer benefício
(REsp 1.411.136-RS)

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-
se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de
novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
será apurada mediante a verificação de culpa.

1º Responsabilidade pelo fato do serviço: o art. 14 cuida da


responsabilidade do fornecedor. Assim, não há responsabilidade
diferenciada para o comerciante.
2º Responsabilidade dos profissionais liberais: trata-se de
responsabilidade subjetiva.

3º Obrigação de meio X obrigação de resultado: o STJ possui


entendimento no sentido de que se a obrigação for de resultado haveria
responsabilidade objetiva do profissional liberal, permanecendo subjetiva
apenas nas obrigações de meio (Resp 81.101/PR). Recentemente, contudo,
o Tribunal entendeu que a responsabilidade na obrigação de resultado é
subjetivo, contudo, haverá uma presunção de culpa por parte do
profissional, cabendo a ele o ônus de provar que os eventos danosos
decorreram de fatores externos e alheios a sua atuação (Resp
1.180.815/MG). O tema, contudo, não é pacífico.

O STJ decidiu que quando houver dano decorrente de cirurgia estética


(obrigação de resultado) e reparadora (obrigação de meio) ao mesmo
tempo, deve ser analisada de forma fracionada a cirurgia para analisar a
responsabilidade do médico (Resp 1.097.955/MG).

O STJ decidiu que o tratamento ortodôntico é uma obrigação de


resultado e, assim, haverá uma presunção de culpa do profissional, a quem
competirá o ônus da prova (Resp 1.238.746/MG).

4º Responsabilidade dos provedores de internet: segundo o STJ, eles


não respondem de forma objetiva pelo conteúdo de dados em sites de
relacionamento (Resp 1.193.764/SP). No caso, somente haverá
responsabilidade subjetiva, consistente na demora em retirar o conteúdo
ofensivo ou na não adotação de mecanismos para identificar o autor das
mensagens ofensivas (Resp 1.501.187/RJ).

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos


consumidores todas as vítimas do evento.

1º Consumidores “Bystanders”: o art. 17 cuida dos chamados


consumidores “bystander” (espectadores), que são todas as vítimas do
acidente de consumo, ainda que efetivamente não tenha adquirido o
produto ou serviço (Ex: moradores de uma casa onde um avião de
passageiros cai. Embora não tenham adquirido o serviço, são considerados
consumidores).

2º Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação:


Determinada pessoa teve seu nome inscrito no serviço de proteção ao
crédito porque alguém utilizou seu nome em um cheque falsificado para
pagar estadia em hotel.

Diante do não pagamento do cheque, o banco levou a protesto o título de


crédito. Essa pessoa negativada será considerada consumidora por
equiparação, nos termos do art. 17 do CDC. Houve um acidente de
consumo causado pela suposta falta de segurança na prestação do
serviço por parte do estabelecimento hoteleiro que, no caso concreto,
poderia ter identificado a fraude.

Logo, sendo a vítima considerada consumidora e sendo o causador do


dano um fornecedor de serviços, a ação de indenização poderá ser
proposta contra o Hotel no foro do domicílio do autor (consumidor por
equiparação), nos termos do art. 101, I, do CDC (STJ - CC 128.079-MT).
Da responsabilidade por vício do produto ou
serviço
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis
ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza,
podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta
dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie,
em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação
do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser
inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos
contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser
convencionada em separado, por meio de manifestação
expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das
alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto,
diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I
do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do
bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca
ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do
disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será
responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,
exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados,
avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à
vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo
com as normas regulamentares de fabricação, distribuição
ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem
inadequados ao fim a que se destinam.

1º Vícios de Qualidade: o artigo 18 trata da responsabilidade por vícios


de qualidade do produto. O art. 18 tratou do fornecedor, portanto, a
responsabilidade dos agentes é solidária.

2º Responsabilidade na rescisão de arrendamento mercantil vinculado


a contrato de compra e venda de automóvel que apresentou vício
redibitório: consumidor adquire veículo novo e, para pagar o carro,
contrata leasing oferecido pelo banco da própria montadora. O automóvel
apresenta vício redibitório que o torna imprestável ao uso. O banco que
realizou o financiamento será também responsável? O contrato de leasing
também será rescindido?

Se foi o contrato foi feito com um “banco de varejo”: NÃO.


Se foi feito com um “banco de montadora”: SIM.

Isso porque a instituição financeira vinculada à concessionária do veículo


(“banco da montadora”) possui responsabilidade solidária por vício do
produto (veículo novo defeituoso),uma vez que ela foi parte integrante da
cadeia de consumo. Todos aqueles que participam da introdução do
produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente por
eventual defeito ou vício. O contrato de arrendamento mercantil não foi
feito de forma independente. Ao contrário, está atrelado ao contrato de
compra e venda, de forma que é possível vislumbrar a existência de uma
“operação casada”. (Resp 1.379.839/SP).

3º Dano moral decorrente de carro 0km que apresentou inúmeros


problemas: É cabível dano moral quando o consumidor de veículo
automotor zero quilômetro necessita retornar à concessionária por diversas
vezes para reparar defeitos apresentados no veículo adquirido (REsp
1.443.268/DF).

4º Veículo importado que não poderia ser abastecido com combustível


nacional: O consumidor tem direito à indenização por danos morais e
materiais pelo fato de ter adquirido no mercado nacional um veículo 0km
que apresentou inúmeros problemas obrigando o adquirente a retornar à
concessionária, recorrentemente por mais de 30 dias, para sanar panes
decorrentes da incompatibilidade, não informada no momento da compra,
entre a qualidade do combustível necessário ao adequado funcionamento
do veículo e a do combustível disponibilizado nos postos nacionais (REsp
1.443.268/DF).

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos


vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido
for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária,
podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie,
marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo
anterior.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a
pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de


qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando
cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a
terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem
inadequados para os fins que razoavelmente deles se
esperam, bem como aqueles que não atendam as normas
regulamentares de prestabilidade.

Responsabilidade objetiva: aqui, não há exceção quanto à


responsabilidade objetiva para os profissionais liberais nos moldes do
art. 14, §4º. A exceção, portanto, somente se verifica para a
responsabilidade por fato do serviço (Art. 14) e não para a
responsabilidade por vício do serviço (Art. 20).

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por


objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á
implícita a obrigação do fornecedor de empregar
componentes de reposição originais adequados e novos, ou
que mantenham as especificações técnicas do fabricante,
salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do
consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,


concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra
forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos
essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as
pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os
danos causados, na forma prevista neste código.
1º Serviços Públicos: não é todo e qualquer serviço público que se
submete às regras do CDC, mas somente aqueles que são realizados
mediante uma contraprestação ou remuneração pelo consumidor ao
fornecedor, nos termos do art. 3º, §2º, pois somente os serviços fornecidos
“mediante remuneração” se enquadram ao CDC. Já o serviço realizado
mediante o pagamento de tributo, prestado a toda coletividade, não se
submete ao CDC.

2º Serviços essenciais: o STJ aceita o corte de serviços públicos


essenciais, tais como água ou energia elétrica, desde que a concessionária
avise previamente ao consumidor sobre a interrupção.

3º Inadimplência de pessoas jurídicas de direito público: com relação


as pessoas jurídicas de direito público, o STJ entende que, diante da
inadimplência, pode haver a interrupção do fornecimento de serviço, mas
devem-se preservar às unidades públicas provedores de necessidades
inadiáveis da comunidade(Hospitais, escolas etc).

4º Inadimplência atual: para o STJ, para que haja suspensão do serviço


público, a inadimplência deve ser atual, não servindo como meio de
cobrança para débitos pretéritos do consumidor, o que configuraria
constrangimento e ameaça, nos moldes do art. 42.

5º Tarifa mínima: o STJ entendeu ser legal a cobrança de tarifa mínima


para fornecimento de água e telefonia.

STJ – Súmula 356: É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos
serviços de telefonia fixa.

6º Juizados Especiais: o STJ considerou que as ações ajuizadas pelo


consumidor contra a concessionária de telefonia, visando ao
questionamento da cobrança da assinatura básica mensal e a devolução dos
valores cobrados a esse título, podem ser processadas nos juizados
especiais civis (CC 83.676/MG).
7º Tarifa Progressiva: o STJ considerou legal a cobrança de tarifa
progressiva de água.

STJ – Súmula 407: É legítima a cobrança da tarifa de água fixada de


acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo.

8º Prazo prescricional: o STJ e o STF entendem que o pagamento de


água e esgoto é feito mediante preço público (tarifa) e não taxa:

STJ – Súmula 412: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e


esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.

Prazo prescricional em caso de repetição de indébito de tarifas de


água e esgoto: O prazo prescricional para as ações de repetição de
indébito relativo às tarifas de serviços de água e esgoto cobradas
indevidamente é de:
a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do Código Civil de 1916; ou
b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de 2002,
observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028
do Código Civil de 2002 (REsp 1.532.514/SP).

9º Competência:

STF – Súmula Vinculante nº 27: Compete à Justiça Estadual julgar


causas entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia,
quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente,
nem opoente.

STJ – Súmula 506: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a
concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de relação contratual.

Nesse sentido, não configura a hipótese de litisconsórcio passivo


necessário a discussão sobre a cobrança de tarifas movidas pelos usuários
contra as concessionárias (Resp 1.068.944/PB).

a) Hipóteses em que haverá litisconsórcio com a ANATEL:


1º Quando se tratar de ação coletiva, o STJ entende que haverá
necessidade de participação da ANATEL no polo passivo, firmando a
competência da Justiça Federal (REsp 1122363/PR).

10º Medições não individualizadas: o STJ entende que é ilegal a


cobrança de tarifa mínima multiplicada pelo número de economias
(unidades habitacionais) nos condomínios em que a medição do total da
água consumida é feita em um único hidrômetro. Nestes casos, o STJ
entende que deve ser considerado o efetivo consumo de água (Resp
1.166.561/RJ).

11º Débitos da tarifa de água de antigo proprietário do imóvel: a


responsabilidade por débito relativo ao consumo de água e serviço de
esgoto é de quem efetivamente obteve a prestação do serviço. Trata-se de
obrigação de natureza pessoal, não se caracterizando como obrigação
“propter rem”. Assim, não se pode responsabilizar o atual usuário por
débitos antigos contraídos pelo morador anterior do imóvel (AgRg no
REsp 1.313.235-RS).

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de


qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o
exime de responsabilidade.

Vícios: O artigo fala em vícios. Isso porque na responsabilidade pelo fato


do serviço, com relação aos profissionais liberais, a verificação da culpa é
relevante.

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou


serviço independe de termo expresso, vedada a
exoneração contratual do fornecedor.

Garantia Legal X Garantia Contratual: essa garantia independe de


termo expresso, já que não decorre da vontade das partes, mas da lei. A
garantia legal existe naturalmente, sendo interna ao produto ou ao serviço.
Mesmo que o fornecedor não garanta a adequação do produto ou do
serviço, a lei o faz, sendo, por isso, nula qualquer cláusula exoneratória. Já
a garantia contratual é complementar a legal e será facultativa, devendo ser
conferida mediante termo expresso (Art. 50, CDC).

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que


impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar
prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do
dano, todos responderão solidariamente pela reparação
prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça
incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis
solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que
realizou a incorporação.

Furto em estacionamento:

STJ – Súmula 130: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação


de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.
Da Decadência e da Prescrição
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de
fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e
de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da
entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo
consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços
até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca;

a) Direito à reparação de danos por vício do produto: Não tem direito à


reparação de perdas e danos decorrentes do vício do produto o consumidor
que, no prazo decadencial, não provocou o fornecedor para que este
pudesse sanar o vício (REsp 1.520.500/SP).

III - a instauração de inquérito civil, até seu


encerramento.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-
se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

1º Prazo Decadencial: o prazo do art. 26 é decadencial, pois se trata de


decurso de prazo para que o consumidor exerça uma direito potestativo.

O STJ entendeu que o prazo para ajuizar ação indenizatória em relação aos
danos causados em razão de vícios do produto ou serviço é o prazo
decadencial do art. 26 e não o prazo prescricional do art. 27. Isso porque,
em que pese a ação indenizatória seja uma ação condenatória e, portanto,
passível de prescrição, os danos são decorrentes de vícios do produto ou
serviço, de forma que deve se aplicar ao caso o prazo decadencial (Resp
442.368/MT).
2º Causas que obstam a decadência: a doutrina não é pacífica sobre o
significado termo (se se trata de uma modalidade de suspensão,
interrupção ou outra causa “sui generis”).

O STJ entende que não obsta a decadência a reclamação formalizada


perante os órgãos ou entidades de defesa do consumidor (Resp
654.498/SP).

3º Ação de prestação de contas:

STJ – Súmula 477: A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à


prestação de contas para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas,
tarifas e encargos bancários.

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação


pelos danos causados por fato do produto ou do serviço
prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a
contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria.

1º Prazo prescricional: trata-se de prazo aplicável para responsabilização


pelo fato do produto ou serviço, ou seja, nos casos de acidente de
consumo.

2º Início da contagem: conforme o art. 27, o termo inicial do prazo ocorre


a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. São requisitos
cumulativos.

3º Contrato de transporte aéreo de passageiros internacional: O STF


entendeu que, nos termos do art. 178 da Constituição da República, as
normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de
Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa
do Consumidor (RE 636331/RJ e ARE 766618/SP).

O fundamento foi o seguinte: a Constituição Federal de 1988 determinou


que, em matéria de transporte internacional, deveriam ser aplicadas as
normas previstas em tratados internacionais.
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes
aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do
transporte internacional, observar os acordos firmados
pela União, atendido o princípio da reciprocidade.

Assim, em virtude dessa previsão expressa quanto ao transporte


internacional, deve-se afastar o Código de Defesa do Consumidor e aplicar
o regramento do tratado internacional.

Qual a consequência prática?: a Conversão de Varsóvia estabelece


limites para indenização por danos materiais, de forma que a indenização
não será superior aos limites previstos na Convenção. Esclarece, contudo,
que a limitação indenizatória prevista nas Convenções de Varsóvia e de
Montreal abrange apenas a reparação por danos materiais, não se
aplicando para indenizações por danos morais.

Ademais, a Convenção prevê o prazo prescricional de 02 anos para


assuntos envolvendo a responsabilidade civil em transporte aéreo
internacional. Assim, afasta-se o prazo de 05 anos previstos no CDC.

4º Danos causados por cigarro: o STJ entende que se aplica o prazo de


05 anos para ações envolvendo danos causados pelo cigarro (Resp
782.433/MG).

5º Prazo prescricional nos casos de inscrição indevida: O STJ entendeu


que a indenização por negativação indevida não se amolda a nenhum dos
prazos previstos no CDC e pelo CC. Assim, entendeu que o prazo
prescricional é aquele de 10 anos previsto no art. 205 do CDC (Resp
1.276.311/RS).
Da Desconsideração da Personalidade Jurídica
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade
jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
ou contrato social. A desconsideração também será efetivada
quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados
por má administração.
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as
sociedades controladas, são subsidiariamente
responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente
responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma,
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.

1º Grupo de Sociedades: é formado pela sociedade controladora e suas


controladas, mediante convenção, pela qual se obrigam a combinar
recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos, ou
participar de atividade ou empreendimento comuns (Lei 6.404/76, art.
265).

a) Sociedade controlada: é aquela cuja preponderância nas deliberações e


decisões pertencem à outra sociedade, dita controladora (Lei 6.404/76,
art.243, §2º e art. 1.098 do CC/02). Assim, diante da manifesta
insuficiência dos bens que compõem o patrimônio da sociedade
controladora, a sociedade controlada responde pela dívida.

b) Os consórcios são uma reunião de sociedades que se agrupam para


executar um determinado empreendimento. Para o CDC, ao contrário da
Lei 6.404/76 (Art. 273, §1º), a responsabilidade das sociedades
consorciadas é solidária.

c) Sociedades Coligadas: são aquelas em que uma sociedade participa


com 10% ou mais do capital de outra, sem, contudo, controlá-la.
Justamente pela falta de controle nas deliberações das decisões de uma
sobre a outra é que responsabilidade é apurada mediante culpa (Lei
6.404/76, art. 243, §1º e art. 1.099 do CC/02).

2º Teoria menor: Em mais de uma oportunidade, o STJ tem afirmando


que a regra, no âmbito da desconsideração, e a Teoria Maior (adotada pelo
CC), que, além da insolvência da pessoa jurídica, exige também a
demonstração do abuso do sócio, caracterizado pelo desvio de finalidade
ou confusão patrimonial.

Contudo, em situações jurídicas especiais, para facilitar a satisfação do


direito, adota-se a Teoria Menor (CDC e Direito Ambiental), que se
contenta simplesmente com a demonstração do descumprimento da
obrigação ou insolvência da pessoa jurídica.

Assim, o CDC adotou a teoria menor da desconsideração, em que a


personalidade pode ser desconsiderada sempre que ela for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.

Bibliografia consultada para elaboração da


apostila e indicada para aprofundamento do tema:
- Direito do Consumidor - Leonardo de Medeiros
Garcia.
- Código Brasileiro de Defesa do Consumidor -
Comentado pelos Autores do Anteprojeto - Ada
Pellegrini Grinover e outros.
- Dizer o Direito
(http://www.dizerodireito.com.br/)

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