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V Semana da Faced X Semana da Educação - A Educação tem futuro?

Desafios e possibilidades

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E DECOLONIALIDADE: ENTRE


MULTILETRAMENTOS E TRANSLINGUAGENS

Flávio Rodrigues
(PPG Linguística UFJF)
Rafael Jefferson Fernandes
(Cefet/RJ - PPG Linguística UFJF)
Nossa proposta para hoje...
• Refletir sobre o ensino de línguas na atualidade sob a
ótica da Linguística Aplicada.

• Discutir e problematizar questões que estão amplamente


arraigadas e difundidas no âmbito do ensino de línguas.

• Pensar caminhos possíveis para a inserção de práticas


de multiletramentos no contexto de aprendizagem formal.
Algumas reflexões iniciais...

• O que é língua para você?

• O que é saber uma língua?

• Você se considera bilíngue?

• Em sua concepção, o que é ser bilíngue?

• Brasil é um país monolíngue?


Para pensar...

• O que temos feito tradicionalmente


no âmbito da educação linguística?

•Qual o impacto de nossas práticas?


Concepções tradicionais da educação
linguística
üLíngua: sistema autônomo;
ü Falantes: “nativos”, “ideal”;
ü Língua: comunidade: lugar;
ü Línguas: puras e não se misturam;
ü Comunicação: baseada na gramática e não
na prática;
ü Línguas são “aprendidas” como L1 e L2 –
Língua estrangeira, Língua materna;
ü Acréscimo de sistemas L1,L2,L3,L4... LN;
Quais são as ideologias/ objetivos por trás
destes modelos?
Colonialidade
1. Refere-se às relações hierarquizadas desiguais entre saberes,
raças, gêneros línguas e culturas em nome do progresso e da
modernidade.

2. Estabelece relações desiguais de valor entre quem fala e a


quem se pode falar, entre qual língua é reconhecida como língua
e qual é vista como mero ruído.

3.Estabelece quem é sujeito/agente e quem não é.

(Menezes de Souza, 2015)


Decolonialidade

A opção decolonial é
promover o fim dessas
relações hierárquicas.

Walter Mignolo.
Um caminho alternativo...
ü A lingua(gem) é um fenômeno
social da interação verbal
(BAKHTIN, 2012);

ü Conceber a lingua(gem) como um


processo contínuo, uma
atividade: a língua não é algo que
temos, mas algo que
performamos: a língua não ocorre
no vácuo, mas em um contexto
geográfico, histórico, político...
O mundo mudou...

Repensando o conceito de MOBILIDADE (DURANTI, 2011)


O que vemos hoje...

ü Mobilização de recursos linguísticos e sociolinguísticos


adequados às necessidades locais dos falantes;

ü Práticas de linguagem e recursos que constituem seu repertório


linguístico: Spracherleben [Experiencing Language] (BUSCH,
2015);
[...] Language is not a simple system
of structures that is independent of
human actions with others, of our
being with others. The term
languaging is needed to refer to the
simultaneous process of continuous
becoming of ourselves and of our
language practices, as we interact
and make meaning in the world
(GARCÍA & WEI, 2014, p.8).
Mudança de Paradigma (CANAGARAJAH, 2013)

Os estudos translíngues
ü Práticas linguísticas dos sujeitos bilíngues na perspectiva dos falantes, e não
simplesmente do “uso” das línguas;

ü Indivíduos não possuem competências separadas para cada uma das línguas,
mas um repertório linguístico do qual selecionam* estrategicamente
características específicas;

ü Processo criativo que invoca, em um contexto sócio-histórico-cultural


específico, a negociação de novas práticas de linguagem, que permitem a
emergência das identidades bilíngues.

ü Prática social transformadora, liberadora de vozes;

ü Reconhecimento e validação dessas práticas de linguagem estigmatizadas


implica uma questão de justiça social com determinados grupos;
Translingual practice: A practice-based
perspective - 2 pilares (CANAGARAJAH,
2013):
1) A comunicação transcende as línguas individualizadas

ü Línguas estão SEMPRE em contato e se influenciam


mutualmente;
ü Em um contexto de diversidade linguística o sentido emerge
através de práticas locais de negociações;
ü A noção de multicompetência: proficiência integrada;
ü Línguas se completam: constante negociação e reconstrução
de sentidos;
ü A influência pode ser criativa, capacitante e geradora de
emergência de vozes;
2) Envolve uma diversidade de recursos semióticos e de
práticas locais;

ü Comunicação envolve diversos recursos semióticos: língua é


apenas um recurso entre muito como símbolos, ícones e imagens;

ü Língua e recursos semióticos operam juntos na construção de


sentidos.
ü Práticas linguísticas dos sujeitos bilíngues na perspectiva dos falantes, e
não simplesmente do “uso” das línguas;

ü Indivíduos não possuem competências separadas para cada uma das


línguas, mas um repertório linguístico do qual selecionam*
estrategicamente características específicas;

ü Processo criativo que invoca, em um contexto sócio-histórico-cultural


específico, a negociação de novas práticas de linguagem, que permitem
a emergência das identidades bilíngues.

ü Prática social transformadora, liberadora de vozes;

ü Reconhecimento e validação dessas práticas de linguagem


estigmatizadas implica uma questão de justiça social com determinados
grupos;
E como pensar perspectivas decoloniais em contexto formal de
ensino de línguas?
A Pedagogia dos multiletramentos

A ideia é que a sociedade hoje


funciona a partir de uma
diversidade de linguagens e de
mídias e de uma diversidade de
culturas e que essas coisas têm
que ser tematizadas na escola, daí
multiletramentos,multilinguagens,
multiculturas (Rojo, 2013, p.1).
1. O que são os multiletramentos? Em que medida
eles ampliam o conceito de letramento?

2. O que são gêneros discursivos? De que forma


eles se relacionam com a perspectiva dos
multiletramentos?

3. Que vantagens e desafios as novas tecnologias


trazem para o ensino de língua?

4. Qual o papel do (a) professor (a) no que diz


respeito a uma pedagogia dos multiletramentos?
5. Ao considerarmos que conforme a sociedade se
transforma as práticas de letramento se modificam,
qual o papel do professor de línguas neste cenário?

6. A professora Roxane Rojo afirma que “letramento é


prática”, entretanto, muitas vezes nos deparamos
na sala de aula de línguas com atividades
artificializadas que funcionam apenas para avaliar e
atribuir notas aos alunos. Sendo assim, de que
modo podemos minimizar essa artificialidade para
que possamos, de fato, letrar nossos alunos?
7. Que aspectos didáticos estão presentes na pedagogia
dos multiletramentos?

8. A professora Roxane Rojo afirma que na pedagogia


dos multiletramentos o aluno é o protagonista. O que
podemos compreender dessa afirmação?

9. O que é uma educação apropriada para mulheres,


para indígenas, para imigrantes em geral?
Então, uma proposta...
Vamos pensar caminhos possíveis para a
inserção deste texto na sala de aula de
língua?
1.Você já conhecia o “slam”? Como foi a experiência de entrar em
contato com esse texto?

2.Na sua opinião, qual o tema abordado no texto I? Explique sua


percepção, se possível, através de elementos linguísticos que o
constituem.

3.O slam é um texto caracteristicamente oral. Observe os múltiplos


recursos semióticos que constituem esse gênero discursivo. Você
conseguiria enumerá-los? De que forma eles contribuem para a
performance da poetisa? E para a construção desse texto oral?

4.Jade Fanny utiliza uma série de mecanismos linguísticos


(estratégias) que “corporificam” o texto. Você conseguiria
descrevê-los? Como eles contribuem para a construção do
“projeto de dizer” da slammer?
5. Você deve ter observado no vídeo que o slam é linguagem em
movimento. No que diz respeito à postura da poetisa durante todo o
texto, de que forma ela se associa ao texto em questão, isto é, às
outras formas de linguagem?

6. O texto I, cujo título é “Resistência”, foi vinculado no canal do


youtube “Sociedade dos poetas subversivos”, criado no ano de
2012. Você conhece esse canal? Na sua opinião, qual pode ter sido
o objetivo dos idealizadores ao criá-lo?

7. Na sua opinião, como é a recepção do slam na sociedade


brasileira atual?
8. Em meio à explosão tecnológica nos dias de hoje, isto é, a
popularização dos smartphones e o acesso a diversas redes sociais,
para você, qual o papel dessas novas mídias/tecnologias na
construção da sociedade? E no que diz respeito ao slam?

9. No que diz respeito, especificamente, à performance da poetisa o


que te chamou mais atenção? Por quê?
Vamos pensar caminhos possíveis para a
inserção deste segundo texto na sala de
aula de língua?
• 1. Que aspectos coloniais ou decoloniais podem discutidos a
partir do vídeo?

• 2. Considerando o papel discursivo de um texto, que impactos


socioeducativos o discurso de Terry Crew pode gerar trazer?

• 3. No que diz respeito aos fatores da funcionalidade e da


estruturação dos gêneros discursivos, que elementos linguistico-
discursivos poderiam ser trabalhados com os alunxs?

• 4. No contexto socio-historico atual, qual a relevancia de se


trabalhar com um texto como esse?
1.Você já havia escutado essa canção?

2.As canções, como expressões artísticas, têm o poder de espelhar


o momento social, histórico e político de uma sociedade. Na sua
opinião, como a canção “Maria da Vila Matilde”, interpretada por
Elza Soares, reflete ideologicamente o contexto brasileiro? Por
quê?

3.Assim como o eu-lírico da canção, muitas mulheres em todo o


mundo passam por essa mesma situação cotidianamente. Na sua
opinião, o que muitas delas fazem diante disso? Qual a reação do
eu-lírico em relação a essa realidade? Podemos afirmar que
existem elementos no vídeo que corroboram esse
posicionamento? Explique.
4. Observe os mecanismos linguísticos verbais empregados para a
construção na canção. Quais recursos o autor articula de forma a
produzir a progressão textual, isto é, o processo pelo qual o texto se
constrói?

5. Na sua percepção, podemos estabelecer algum diálogo entre os


textos I, II e III? Fundamente seu ponto de vista em elementos que
os constituem.

6.Em relação às políticas públicas brasileiras, ou seja, ao poder


público, como é abordada, atualmente, a questão da violência
contra a mulher e do feminicídio no Brasil? Na sua opinião, qual o
papel do estado nessa questão social?
O grande desafio na atualidade...

üCompreender como as pessoas agem no mundo através


da linguagem;
Um caminho possível

ü Trazer para o contexto de sala de aula práticas de


multiletramentos;

ü Trabalhar com perspectivas locais;

ü Desmistificar concepções tradicionais;

ü Trabalhar com a oralidade;

üExtrapolar gêneros discursivos escritos;


ü Explorar gêneros discursivos atuais;

üExaminar as práticas de linguagem para além do seu


aspecto formal;

üProblematizar o mito da homogeneidade linguística que


apregoa a construção e a compreensão de sentidos
baseadas na tradição gramatical.

ü Conceber o processo de ensino como um processo


colaborativo;
üRomper com os pressupostos monolíngues impingidos,
coercivamente, em nossos corpos;

üDesmistificar a noção de falante nativo;

üDesnaturalizar a subalternização das práticas de linguagem


que apaga as identidades, as capacidades e inferiorizam os
corpos;

üRessignificar a lingua(gem) de algo que incapacita as pessoas


para algo que as empodera (BLOMMAERT, 2012);

üReposicionar a formação de professores* – oferecer


perspectivas alternativas;
Referências
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communication, n.25, p. 257-277, 2005.
JACQUEMET, Marco. Language in the Age of Globalization. In: BONVILLAIN, N. (ed.)
The Routledge Handbook of Linguistic Anthropology. New York: Routledge p.329-347, 2016.
MOITA LOPES, L. P. Inglês e globalização em uma epistemologia de fronteira: ideologia linguística para tempos
híbridos. D.E.L.T.A., v. 24, n. 2, 2008, pp. 309-340.
MOITA LOPES, L.P. da. (Org.). 2013b. O português no século XXI: cenário geopolítico e
sociolinguístico. São Paulo, Parábola.
OTHEGUY, Ricardo, Ana Celia Zentella & David Livert. 2007. Language and dialect contact in
Spanish in New York: Toward the formation of a speech community. Language 83. 770–802.
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OTHEGUY, Ricardo & Nancy Stern. 2013. Scholars and citizens: Judging the unfortunate term
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PENNYCOOK, Alastair. Language as local practice. New York: Routledge, 2010.
Otheguy, R., García, O. & Reid, W. Clarifying translanguaging and deconstructing named languages: A
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RUBDY, R. & ALSAGOFF, L. The Global-Local Interface and Hybridity: Exploring Language and Identity. New
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Referências
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pedagogia translíngue. Trab. linguist. apl. [online], v.53, n.2, p.321-332, 2014.
______. Esse é o final de uma era triste e o começo de uma fase muy feliz: translinguismo em telenovelas
brasileiras. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2015.
SOARES, M. S. “Só barulho do spray foskando algum tom”: os grafismos urbanos na paisagem sociolinguística da
cidade de Juiz de Fora/MG." Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de For
a, 2018.

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