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A absolvição de Cronos

Clamor dos vencidos (Luiz e Alcir)

Por mais que corra


Eu não te alcanço,
Teus privilégios
Conformam meus muros
E é sempre um prato de sobras
Que satisfaz meu ego.

Clamor dos vencidos!

Disputando migalhas
Eu destaco meus méritos.
Competindo por distinção
Sobrepujo meus irmãos.

Mas apesar dos pesares,


Do alto de minha soberba,
Entre eu e meus iguais,
Só se destaca sua diferença!

Clamor dos vencidos!

Absens heres non erit (Alcir e Luiz)

Vitória...
Não importa o lado da moeda.
Anestesiados pela alegria
De ter composto o hino da campanha.

Esconder o rosto atrás de uma falsa espiritualidade...


Melhor seria integrar-se à lista de mártires.

Esqueça
Que contestar é natural ao ser!
(E que o ritmo tem raízes na rebelião.)
Ser aceito na alcateia moderna...
Desejo primal de um novo sonho pueril.

Não há ausentes sem culpa,


Nem presentes sem desculpa!

Arquétipo (Alcir)

E se seu reino não vier?


As cerimônias foram em vão,
Também todo sangue derramado
E as velas acesas pelo chão.

Igrejas a queimar – essa é sua vitória.


Não percebe que seu antagonismo é ilusão?

Tão cego quanto o oponente,


Perpetuando a destruição.
Ato falho eternizado,
Incoerente em sua involução!

Agnóia (Alcir)

Pelo fim do prazer em ser rebanho...


Não reduzir o futuro ao amanhã,
Antecipando, assim, o seu final.

Despir a toga do conformismo...


Minha nudez macula seu ideal,
Pois sou um espelho às avessas,
Uma tempestade de imperfeição!

Maniqueísmo irrefutável...
Não ser a pedra angular não contradiz minhas ações,
Nem faz de mim avesso ao mal.

Cronos (Alcir e Luiz)

Um dia a menos – lucro menor...


A pressa de ganhar.
Sinta-se parte da engrenagem
E abra mão da liberdade!

O tempo corre – a vida gasta,


O sonho morre – a vida custa.

Sem sentido, de corpo e alma


Você se entrega à ambição.
As sombras das horas
Reprimem seu gosto pela verdade.
Matamos o tempo – o tempo nos enterra?
O sonho custa – o sonho morre!

Kairós (Luiz)

Quando a noite avança e as estrelas percorrem o céu


O que resta do presente é o horizonte.
Instante que se dilata em uma dança incessante,
O crepúsculo da espera como estopim da insurreição...

Num universo de infinitas cores,


Uma floresta de símbolos dum deserto de privações!

Subverter os mitos em uma nova perspectiva.


Uma galáxia de efêmeras intuições...

Num universo de infinitas cores,


Uma floresta de símbolos dum deserto de privações!

Aion (Luiz)

sub species aeternitatis

Além aos fragmentos


Não há algo parecido com o Eu.
Essa sede infindável
Forjou correntes e máscaras.

Não vê que o nosso desejo


Impulsiona as asas de Satã?
Nem sequer a Vontade
Justifica os meios...

Incapaz de aceitar o quão efêmero,


Criamos sentidos para dias perdidos.

Do ponto de vista da eternidade


Não restam desculpas...

Só fragilidade e a eterna busca,


Dínamo obscuro que nos constitui.
Incapazes de pensar um futuro
Muito além ao amanhã...

Podemos transformar o vazio e o desejo


Em armas capazes de mudar o presente?

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