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PANCREATITE AGUDA EM CANINO: RELATO DE CASO

ACUTE PANCREATITIS IN CANINE: CASE REPORT

José Lucas Xavier LOPES¹; Cícera Paloma de SOUSA¹*; Yury Carantino Costa ANDRADE¹; Vanessa de Souza
SOBREIRO¹; Clauceane de JESUS²; Virgínia Maiza Anastá cio QUIRINO³; Almir Pereira de SOUZA4; Rosangela
Maria Nunes da SILVA4

¹ Graduando (a) em Medicina Veteriná ria pela Universidade Federal de Campina Grande, Campus Patos-PB.
E-mail:sousappaloma05@gmail.com
2
Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais no Hospital Veteriná rio da Universidade Federal de Campina
Grande.
³ Residente em Diagnó stico por Imagem no Hospital Veteriná rio da Universidade Federal de Campina Grande.
4
Docente do curso de Medicina Veteriná ria da Universidade Federal de Campina Grande , Campus Patos-PB.

Introdução: A pancreatite aguda é uma doença que tem como base, um processo inflamató rio da
glâ ndula pancreá tica de início sú bito que decorre da ativaçã o errô nea de enzimas digestó rias produzidas pelo
pâ ncreas (Oliveira,2009). Alguns fatores como hiperlipidemia, medicaçõ es e endocrinopatias podem predispor à
pancreatite, porém a maioria dos casos sã o idiopá ticos. (Silva & Ponce2015). A pancreatite aguda é uma doença
comum em cã es, que pode ser fatal se nã o for tratada de maneira correta, sendo uma enfermidade que ocorre de
forma abrupta. O diagnó stico clínico é difícil devido à inespecificidade dos sinais clínicos. Exames laboratoriais,
além de exames de imagem ajudam a direcionar o diagnó stico, porém, este somente será definitivo apó s a
realizaçã o do exame histopatoló gico através da bió psia pancreá tica. A terapia é baseada de maneira individual,
tratando especificamente os sinais clínicos apresentados pelo animal (Marcato, 2010). Objetivou-se com este
presente trabalho, relatar o caso de uma cadela diagnosticada com quadro de pancreatite aguda no (HV/UFCG)
Hospital Veteriná rio da Universidade de Campina Grande.
Material e Métodos: Foi atendido no setor de Clínica Médica de Pequenos Animais do Hospital
Veteriná rio da Universidade Federal de Campina Grande uma cadela de 12 anos, sem raça definida, pesando
22kg e que estava apresentando há dois dias, segundo a tutora, uma urina diferente do habitual, aparentando
conter traços de sangue e com aspecto mais denso. O animal também nã o estava se alimentando e nem ingerindo
á gua, a tutora refere que o animal apresentou um quadro de febre e devido a isso, por contra pró pia forneceu
dipirona gotas (10 gts/VO/BID/dose ú nica). O animal possuía como contactante, cã o hígido, sem acesso à rua.
Sua alimentaçã o era baseada em raçã o comercial Pedigree e comida caseira à base de arroz e carne. Animal
vacinado somente com a antirrá bica e nã o era vermifugado. A tutora negou qualquer aplicaçã o de progestá genos
no animal. Ao exame físico, constatou-se que o animal estava com temperatura retal de 37°C, frequência cardíaca
e respirató ria dentro dos valores de referência para a espécie, sem alteraçã o à ausculta cardiopulmonar, estava
apático, porém, alerta e em estaçã o. As mucosas ó culo palpebrais estavam levemente hipocoradas, a mucosa oral
era pigmentada, o que impediu a sua avaliaçã o. O linfonodo poplíteo direito estava reativo (+), à palpaçã o
abdominal o animal nã o apresentava sensibilidade dolorosa, presença de nó dulo mamá rio, possuía carrapatos e
secreçã o ocular serosa bilateral. Diante dos dados obtidos na anamnese e no exame físico, foram solicitados os
seguintes exames complementares: Hemograma, série de bioquímicas hepá ticas e renais, ultrassonografia
abdominal e citologia do nó dulo mamá rio. Dentre os possíveis diagnó sticos diferenciais, estavam as seguintes
comorbidades: cistite, hemoparasitose, doença renal crô nica e pancreatite.
Resultados: O resultado do hemograma demonstrou: foi possível observar um Trombocitopenia. No
perfil bioquímico foi observado: aumento de ALT (216.2); AST (325); FAL (164.6); FOSF (12.47); CRE (3.8); URE
(160.55). Na ultrassonografia abdominal, foi evidenciado que o pâ ncreas estava hipoecó ico e aumentado de
tamanho, sugerindo que o animal fosse portador de pancreatite aguda e, também haviam achados sugestivos de
cistite. Através da citologia mamá ria, o animal foi diagnosticado com carcinoma mamá rio. O tratamento
instituído para o animal de forma ambulatorial foi constituído de: fluidoterapia com Ringer com Lactato + 30 ml
de suplemento vitamínico ( Herta Vita® ); Omeprazol (4mg/ml/IV/BID/durante 1 dia); Ondansetrona 2mg/ml
(1,6ml/IV/TID/durante 1 dia). Diante dos achados clínicos, dos exames laboratoriais e imaginoló gicos foi
prescrito a medicaçã o para fazer uso domiciliar: Vetmax Plus ® (2 comprimidos/VO/Dose ú nica/repetir apó s 15
dias); Apevitin BC® (2,2ml/VO/BID/20 dias); Tramadol 100mg (¾ de comprimido/VO/BID/7 dias); Gaviz V
20mg® (1 comprimido/VO/SID/10 dias); Ondansetrona 4mg (1 comprimido/VO/TID/3 dias);
Amoxicilina+Clavulanato de Potá ssio 500mg (1 comprimido/VO/BID/15 dias); OrgaNew ® (5 gramas/VO/SID/30
dias) e dieta rica em fibras e pobre em gordura. Foi pedido o retorno do animal com 10 dias para reavaliaçã o
clínica.
Discussão: Segundo Silva&Ponce, (2015), na rotina clínica, o diagnó stico é obtido por meio da
associaçã o entre exames clínicos, laboratoriais e de imagem, exames estes, realizados no presente caso. Os
achados laboratoriais sã o inespecíficos. Os mais comuns sã o anemia, leucocitose por neutrofilia e
trombocitopenia. Neste presente caso, o animal em questã o possuía trombocitopenia e uma leve reduçã o na
concentraçã o de hemá cias. Nas bioquímicas, as alteraçõ es mais comuns sã o: azotemia, aumento de enzimas
hepáticas ( ALT, FA ), hiperbilirrubinemia e alteraçõ es eletrolíticas, dentre as quais, o animal possuía as
seguintes alteraçõ es: azotemia, aumento de enzimas hepá ticas, e alteraçõ es eletrolíticas. Em relaçã o à amilase e
lipase, a dosagem destas duas enzimas é usada como indicadora de inflamaçã o pancreá tica. Os testes de rotina
dosam a Lipase e Amilase Total, que também sã o produzidas em outros ó rgã os, desta forma, estes testes
possuem baixa especificidade e sensibilidade para o diagnó stico em cães. Devido a esta inespecificidade e a
limitaçõ es laboratoriais, que dosa apenas a lipase e amilase total, a dosagem de tais enzimas nã o foram
solicitadas. Além disto, os valores destas enzimas podem ser encontrados em níveis normais em animais com
pancreatite grave, devido a destruiçã o extensa do ó rgã o. Por isso, a reduçã o das enzimas em dosagens
posteriores nã o indica melhora do quadro clinico, já que elas também podem indicar falência do ó rgã o. Outro
fator que pode gerar valores normais dessas enzimas, é a sua meia-vida curta, logo, o tempo entre o início dos
sintomas e o atendimento médico veteriná rio pode influenciar na acurá cia do teste. Além disso, doenças nã o
pancreáticas que causem vô mito e dor abdominal, como cetoacidose diabética, ú lcera duodenal, podem causar o
aumento de enzimas pancreá ticas. Desta feita, a dosagem de lipase e amilase sérica nã o devem ser incluídas no
perfil bioquímico de animais enfermos. Em relaçã o ao tratamento, ainda nã o há pesquisas e trabalhos que
apontem o tratamento mais eficaz. De acordo com Afonso (2012), tal como em qualquer doença, o tratamento
ideal deverá ser dirigido à causa primá ria embora, a maior parte dos animais apresentam pancreatite idiopá tica.
Quando tal nã o é possível, o tratamento é sintomá tico. No animal em questã o, o tratamento instituído foi
direcionado à sintomatologia que o mesmo apresentava. O tratamento tem início com a reposiçã o volêmica
agressiva, para melhorar a pressã o arterial e a perfusã o, restabelecendo a estabilidade hemodinâ mica. De acordo
com Silva&Ponce (2015), algésicos, antieméticos e protetores gá stricos sã o amplamente utilizados. A nutriçã o
parenteral e enteral reduzem os índices de mortalidade e o tempo de internamento. De início a terapia se
restringe aos sinais. As intervençõ es agressivas sã o priorizadas em complicaçõ es sistêmicas. Em casos de
pancreatite onde nã o há alteraçõ es sistêmicas, o uso de antibió ticos é controverso. Em casos de evidências de
infecçã o, pode-se optar por utilizar a antibió ticoterapia. A princípio, opta-se por aqueles com bom aspecto contra
as bactérias gram negativas e boa penetraçã o no tecido pancreá tico. O suporte nutricional com a sonda
nasogá strica deve ser considerada uma opçã o terapêutica por ser eficiente e de baixo custo. A alimentaçã o
espontâ nea é dificultada pela dor abdominal, ná useas, vô mitos, atonia gá strica e obstruçã o duodenal devido ao
aumento pancreá tico, logo, o combate a esses sintomas é essencial para que o animal volte a se alimentar
espontaneamente. Quando o paciente demonstrar apetite, uma dieta com baixa gordura deve ser oferecida.
Acredita-se que a glutamina exerça fundamental papel na proteçã o da mucosa intestinal. Em relaçã o aos
antieméticos, recomenda-se a Ondansetrona e o Citrato de Maropitant. A pancreatite gera um intenso processo
doloroso, assim, os fá rmacos mais utilizados para amenizar a dor sã o os opió ides. Em relaçã o à fluidoterapia,
prioriza-se o uso de cristaloides, como o Ringer com Lactato ou NaCl 0,9%. Um dia apó s a referida consulta, o
tutor do animal entrou em contato com o Hospital Veteriná rio, informando que o mesmo havia ido a ó bito, e que,
já havia se desfeito do corpo do mesmo maneira apropriada, nã o enviando o cadá ver para realizaçã o de estudo
necroscó pico. Tal acontecimento corrobora mais ainda com o diagnó stico estabelecido de pancreatite aguda,
comprovando que a mesma, quando presente na forma aguda, tende a ser fatal.

Conclusão: Desta feita, conclui-se que a pancreatite é uma doença de suma importância em cã es, sendo
a principal doença relacionada à porçã o exó crina do pâ ncreas e que possui um diagnó stico relativamente difícil
devido à inespecificidade dos sinais clínicos e da carência de métodos diagnó sticos sensíveis e específicos para a
doença. Sendo assim, é de suma importâ ncia o conhecimento desta afecçã o pelo médico veteriná rio, à fim de
diagnosticar a mesma de forma precoce e evitar as suas possíveis complicaçõ es.
Referências: Afonso, S. P. R. A. 2012. Doença Pancreá tica Canina - Estudo Retrospectivo. Dissertaçã o DE
Mestrado. (Mestrado Integrado em Medicina Veteriná ria) - Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2012.
Disponível em: https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/4984. Acesso em: 14 abr. 2019. – Marcato, A.
J. Pancreatite em cães. 2010. Trabalho de conclusã o de curso (Graduaçã o em Medicina Veteriná ria) - Porto
Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/38781. Acesso em: 13 abr. 2019. - Oliveira, F.
R. 2009. Clinica Médica e Cirú rgica de Pequenos Animais: Pancreatite Aguda Canina. Trabalho de Conclusã o de
Curso, Bacharelado em Medicina Veteriná ria – Universidade Federal de Goiá s, Jataí, 2009. Disponível em:
https://veterinaria.jatai.ufg.br/up/178/o/Rafael Farias de Oliveira.pdf. Acesso em: 14 abr.2019. - Silva, D. R &
Ponce, G. F. 2015. Pancreatite. IN: JERICÓ , MÁ RCIA MARQUES. Tratado de medicina interna de cã es e gatos /
Má rcia Marques Jericó , Má rcia Mery Kogika, Joã o Pedro de Andrade Neto.1.ed.Rio de Janeiro : Roca, 2015. Cap.
13, p. 1047-1052.

TERMOS DE INDEXAÇÃ O: Pâ ncreas exó crino, Enzimas, Ultrassonografia abdominal

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