ca do vencedor em relação ao inimigo vencido), ele examina o
corpo de Tiarnat para ver se com ele poderia "fazer obras
engenhosas". A seguir, Marduk racha o corpo da Mãe primordial, agora reduzido a matéria morta. Ergue uma metade para fazer o céu e seus luzeiros errantes; a outra metade se torna a terra Refletindo sobre criação e embaixo. O companheiro de Tiamat, Kingu, foi em seguida agarrado e sacrificado, e seu sangue misturado com argila para destruição Reavaliação do corpo fabricar os seres humanos, transformados em escravos dos deuses, no ecofeminismo a fim de os deuses poderem ficar livres do trabalho. Este relato sanciona uma relação entre deuses e humanos análoga à relação entre uma classe dedicada ao ócio e escravos que Rosemary Radford Ruether executam o trabalho que sustenta os governantes. O relato reflete também a nova relação desta classe dominante para com a natureza como uma relação baseada em guerra e morte. Através do matar, os . matéria informe (de Enuma Elish a Platão) seres humanos, seguindo seu próprio estilo de vida, são transformados em "matéria-prima" ou "recursos" de que os artesãos O relato babilônico da criação - o Enuma Elish - recebeu sua humanos podem dispor para suas construções2. forma definitiva por volta de 1800 aC, por obra de sacerdotes babi- No relato bíblico da criação (Gênesis 1) esta transformação já lônios que se basearam em materiais mais antigos. A história contida é pressuposta. Enquanto agente (masculino) transcendente, Deus neste relato revela a relação entre a classe dominante masculina, as "fala" e o abismo informe é transformado em céu e terra. No Ti-meu mulheres e a natureza que estava surgindo na primitiva civilização de Platão, que é o relato filosófico grego da criação, também é urbana do antigo Oriente Próximo e que moldou a civilização pressuposta a morte da Mãe primordial e sua transformação em ocidental até o presente. Neste relato vislumbramos uma mudança de matéria inerte. Para Platão existem duas realidades primordiais das consciência, que passa de uma consciência de dependência dos quais foi formada a terceira: a criação visível e os seres humanos. A processos naturais de geração a unia consciência em que os humanos primeira é a Mente eterna (Nous) que contém as formas intelectuais dominantes transformam a natureza viva em "matéria morta" e a ou protótipos de todas as coisas a serem geradas. A outra é um "re- moldam de acordo com as construções de sua mente. Guerra, ceptáculo" informe que PIatão chama de "espaço" (chãra). Não matança e trabalho artesanal são as metáforas para a construção da possui forma alguma pröpria e portanto é ininteligível, mas é por natureza através do poder e do intelecto humanos. isso suscetível de receber todas as formas impressas nela 3. A primeira metade do Enuma £f ish reflete uma teogonia que toma por modelo a gestação natural. A partir do casal primordial Mummu-Tiarnat e Apsu, são concebidas e gestadas as gerações de deuses e deusas. Mas estoura um conflito entre as gerações mais velhas e as mais novas de deuses. Depois de matar seu pai primor- dial, os deuses mais jovens enfrentam a ira da mãe primordial, Tia- mat. Eles nomeiam Marclulc como seu herói, o qual enfrenta Tiamat num combate corpo a corpo. Marduk mata Tiamat, transpassando seu corpo com urna flecha. Em pé sobre o corpo dela (posição típi O Criador ou "Artesão" é o agente ativo que imprime as for- 46 [182] mas eternas neste "receptáculo" passivo e assim as transforma nos elementos primordiais de ar, água, fogo e terra e a partir destes faz o cosmos. As Idéias eternas e seu agente o Artesão são compara- dos ao Pai, enquanto o receptáculo informe é a Mãe. Todo ser, ati- vidade, forma e inteligibilidade provêm do campo transcendental da Mente. A "matéria" ou corpo deriva desse "espaço" informe e ininteligível que recebe as formas nele impressas, mas também resiste à formação e com isso é o princípio da imperfeição, da sensibilidade e da finitude, A alma humana, ela própria uma partícula da alma do mundo moldada pelo Criador para tornar o Cosmos um ser vivente, pertence em última análise ao mundo celestial. Para voltar ao seu verdadeiro lar, ela deve resistir as paixões que nascem clo corpo e levar uma vida de "mortificação" que culmina na separação cla alma de seu veí- culo inferior que é o corpo, a fim de retornar à sua "estrela natal". Se não o consegue, será reincarnada numa forma inferior de vida, "como por exemplo uma mulher ou um animal" ~. Pressupõe-se aqui urna hierarquia em que o masculino é superior ao feminino, o huma- no é superior ao animal, refletindo a hierarquia da alma enquanto su- perior ao corpo. Nosso verdadeiro lar não se encontra no corpo aqui sobre a terra, mas num estado desencarnado celestial.
2. Transformação em vida eterna (cristianismo clássico)
A hierarquia segundo a qual o céu é superior à terra, a mente
ou alma é superior ao corpo, assim como o masculino é superior ao feminino, moldou profundamente o cristianismo clássico ao passar do mundo hebraico para o mundo greco-romano do século I ao sé- culo V dC. Mas o cristianismo foi também moldado por uma idéia contrária, incompreensível em termos destes dualismos gregos: a crença na ressurreição do corpo. Como mostrou Peter Brown em seu clässico estudo The Body and Society 5, isto deu ao ascetismo cristão uma meta muito mais radical do que a encontrada na filosofia grega, que se contentava apenas em controlar o corpo embora dando-lhe o que ele merece, Os ascetas cristãos concentraram sua
4.¡bid., 42, p. 23; também 90-91, p. 66-67.
5.Peter BROWN, The Body ad Society: Men, Women and Sexual Renunciation in Early Christianity, Columbia University Press, Nova lorciue 1988. atenção com mais insistência no corpo e na repressão de suas ne- natureza animal com que fomos vestidos ao nos familiarizarmos com a cessidades de alimento, sono e impulsos sexuais, porque tinham uma complacência para com as paixões), iremos, junto com essa túnica, jogar visão mais profunda de sua capacidade de transformação. para longe de nós tudo quanto pertence a essa pele de animal: e essas excrescências säo: relação sexual, concepção, parto, impurezas, Os cristãos esperavam que o corpo, em vez de ser abandonado amamentação, alimentação, evacuação, gradual desenvolvimento até no momento da morte para permitir à alma voar sozinha para a vida a condição de adulto, plena maturidade, velhice, doença e a imortal, seria transformado naquilo que São Paulo chamava de "cor - morte. O poder divino, na superabundância de sua Onipotência, po espiritual" (1 Cor 15,42-44), perdendo seus impulsos para comi - não só te devolve aquele corpo outrora dissolvido, mas faz-lhe grandes da, sexo e sono que eram uma expressão de sua queda na mortalida- e esplêndidos acréscimos... O ser humano depõe na morte todos de. Este corpo espiritual, purificado de suas expressões mortais cor - aqueles acessórios peculiares que adquiriu da propensão às paixões: rompidas, iria reunir-se à alma num cosmos transformado de vida isto é, desonra e corrupção e fraqueza e características da idade; e no entanto o ser humano não perde a si mesmo. Ele muda para a incor- eterna. Os próprios rigores ascéticos expressam o início desta purga- rupção, ou seja, para a glória e a honra e o poder e a perfeição absoluta; ção do corpo para recuperar sua natureza espiritual originária. muda para uma condição em que sua vida já não é mais vivida nas Gregório de Nissa imagina este processo de transformação do formas peculiares à mera natureza, mas passou a uma existência corpo como um jogar fora uma túnica esfarrapada. Esta analogia tem espiritual e livre de paixões" 6. sua origem na exegese patrística grega de Gn 3,21., onde o fato de Adão e Eva vestirem "túnicas de pele" após a Queda é interpreta do como uma queda de um corpo imortal para um corpo mortal. 6.Gregório de Nissa, Sobre a alma e a ressurreição.
"Assim também nós, quando tivermos despido aquela túnica morta e
feia, feita de peles de animais e colocada sobre nós (pois penso que as "túnicas de pele" significam aquela configuração própria de unia 47 [ 183J Esta noção do corpo como capaz de ser transformado em processo que transformará o corpo em veículo da alma imortal na vida eterna enquanto companheiro da alma imortal pressupõe uma ressurreição. noção de corpo diferente da de Platão. Em vez de ser um "receptá- Contra algumas criticas feitas por feministas modernas ao culo" informe que encerrava o princípio da finitude e da existência cristianismo, Bynum protesta corn razão dizendo que a visão cristã espaço-temporal, aqui o corpo sugere um substrata ontológico de medieval da relação corpo-alma não pode ser considerada como uma ser que é uma expressão criada do próprio ser divino e sustentado simples nota de rodapé a Platão. Um novo elemento que valoriza o por este. Era este o "corpo espiritual" da primeira criação, desfigu- corpo como instrumento da transformação da alma em vida imortal rado em finitude através da queda mas capaz de eliminar estas ex- modificou a relação corpo-alma no cristianismo. No entanto, do que pressões finitas através de rigores ascéticos que antecipam essa expusemos acima deve também ter ficado claro que não foi o corpo transformação final do corpo ressuscitado. finito, a carne mortal terrena, que o cristianismo valorizou, mas sua Como mostrou Caroline Bynum em seu valioso artigo sobre o capacidade de ser purificado de todos os limites finitos, conservando corpo na mística medieval', a espiritualidade dos místicos, particu- embora um substrato ontológico da pessoa criada que pode larmente das mulheres místicas, assumiu uma consubstancialidade acompanhar a alma quando a própria vida finita sobre a terra é entre o corpo encarnado, crucificado e ressuscitado de Cristo e o transformada em vida eterna. O mundo medieval valorizava o corpo cio místico. Enquanto lado "feminino" da relação alma-corpo, o material/corporal, a sacramentalidade da água, do pão, da terra e os corpo de Cristo está relacionado particularmente com o corpo da corpos virginais e martirizados dos santos, mas apenas como mulher mística que experimentou em seus próprios sofrimentos o processo transformador jä antecipado no corpo ressuscitado de Cristo, manifestações e sinaleiros que apontam para um corpo transfor- vinha de cima, transcendente ao mundo material visível, como a mado, liberto da "escória" mortal, não o corpo em sua forma "na - palavra revelada acessível apenas através cia Escritura. tural" ou, aos olhos do cristianismo, "decaída". O calvinismo populista foi notável por sua hostilidade icono- clasta a representações visíveis do sagrado. Vitrais, estátuas, gravu - 3. Mudanças na época moderna ras e esculturas foram destruídos e as igrejas despojadas de quais- quer imagens visíveis. Ao mesmo tempo os cristãos reformados 1) Somente a palavra desencarnada (Reforma) precisavam ser purificados de seu apego a "sacramentais", água A Renascença, a Reforma e o inicio da ciência moderna re- benta, palmas bentas, relíquias de corpos de pessoas santas, sinais presentam uma série de mudanças nesta visão medieval, constitu- físicos do sagrado ao alcance do tato 8. indo ao mesmo tempo uma recuperação do mundo da natureza Nada de "natural" podia ser veículo ou portador do sagrado. corno esfera humana de poder e controle e a perda da noção de Somente a palavra desencarnada, extraída cia revelação bíblica, ex- corpo sacramental. Especialmente a tradição calvinista e a reforma - posta através da palavra pregada, podia ser portadora da presença da desmembraram a natureza do senso de sacramentalidade próprio divina, mas não numa forma que os humanos pudessem tocar, cheirar, dos medievais. Para o calvinismo a "natureza" era "totalmente comer ou agarrar. Mesmo o sacramento da eucaristia era olhado com depravada". Não havia nenhum resquício de uma presença divina na suspeita em sua materialidade e reinterpretado como urna natureza corporal que pudesse embasar um conhecimento natural de lembrança/lembrete intelectual do ato salvífico de Cristo ocorrido Deus e urna relação com ele. O conhecimento salvífico de Deus no passado, e não como sua presença encarnada hoje. Enquanto provinham do Demônio. A espiritualidade medieval endossava a pobreza e a vida simples, o que não impedia o luxo, mas não glorifi - desmantelava o mundo sacramental do cristianismo medieval, o cava a riqueza como expressão do favor divino. Os adeptos do mé- calvinismo manteve e reforçou .seu universo demoníaco. todo científico como Francis Bacon, porém, viram nela um novo O mundo decaído, a natureza material e especialmente os evangelho de redenção. A queda do "homem" foi considerada uma grupos humanos fora do controle da Igreja reformada estavam sob perda do controle sobre a natureza, ao passo que a aplicação tecno- as garras do Demônio. Todos os que recebiam o rótulo de "pa- lógica da razão científica prometia superar esta queda restaurando o gãos", quer fossem africanos ou índios não convertidos, ou católi - controle clo "homem" sobre a natureza. Numa metáfora da inves - cos não-reformados, eram o campo de ação das forças demonia - tigação cientifica tomada da câmara de tortura dos caçadores de cas. (Os católicos retribuíram a "gentileza" aos protestantes, bruxas, Bacon exortava os cientistas a "forçar" ou "torturar" a na - considerando-os "hereges"). Tanto para os protestantes quanto tureza e "obrigá-la a entregar seus segredos"". Novamente a "natu- para os católicos, a mulher continuou a ser a princip al "porta" de reza" é imaginada como um ser feminino cuja perigosa autonomia entrada do demoniaco na sociedade, tornando-se suas mentes deve ser derrotada para colocar esse "ser feminino" sob controle. fracas e paixões facilmente presa do Demônio, caso não fossem Como no mito de Tiamat da antiga Babilônia, a Mãe vivente, uma controladas de perto por pais e maridos, ministros e magistrados' o vez transformada em "matéria morta", podia ser reconstruída inde- finidamente como fonte de poder e riqueza. 2) A natureza como ícone da razão dirima (ciência moderna) Este processo de controle sobre a natureza através da aplica ção A revolução da primeira ciência moderna a princípio tomou tecnológica do conhecimento científico começou a trazer grandes uma direção diferente, exorcizando da natureza as forças demoníacas a lucros na revolução industrial dos séculos XVIII-XIX. Mas este fim de recuperá-la como ícone da razão divina manifestada na lei crescente triunfo tecnológico da ciência fora precedido no século natural, cognoscível à razão do cientista. Mas no século XVII as tradi- XVI pela abertura, mediante o colonialismo, de novas e amplas fon - ções mais animistas dos "mágicos da natureza", como Paracelso, fo- tes de riqueza, terra e mão-de-obra barata. Desde o século XVI até ram desbancados por um rígido dualismo de intelecto transcendente e bem adentro do século XIX os europeus ocidentais apropriaram-se matéria morta. A natureza foi secularizada. Ela já não era mais o das terras das Américas, da Asia e da Africa e reduziram suas popu- campo de urna luta entre Cristo e o demônio, encarnação sacramental lações humanas à escravidão. A riqueza acumulada por esta vasta versus encarnação demoníaca. Tanto o espirito divino como o espírito expropriação de terra e mão-de-obra, com seus frutos em safras para demoníaco foram expulsos da natureza material. No dualismo exportação, metais preciosos e minerais, criava novos níveis de cartesiano e na física newtoniana a natureza corpórea torna-se matéria desenvolvimento tecnológico, transformando recursos materiais em em movimento, partículas mortas (átomos) empurrados ou puxados novas formas de energia e trabalho mecânico, controle de doen ças, por forças materiais, movendo-se obedientemente segundo leis rapidez sempre maior no tráfego e nas comunicações. As elites conhecíveis ao novo sacerdócio masculino dos cientistas. ocidentais tornaram-se cada vez mais otimistas, imaginando que este O mundo medieval suspeitava dos que procuravam controlar a estilo de vida tecnológico iria paulatinamente acabar com toda natureza no seu próprio interesse, imaginando que essas forças escassez material e até fazer recuar os limites da mortalidade huma- na. O sonho cristão de bem-aventurança imortal, liberta dos limites finitos do corpo, foi traduzido em termos científicos e tecnológicos. 4. 0 pesadelo do progresso bertação definitiva: libertar-se do corpo para entrar numa "realidade virtual" de sinais eletrônicos. Relações face a face em comunidades Mas num breve período de 3/4 de século este sonho de pro- reais, de carne e osso, não são necessárias quando o computador gresso infinito começou a transformar-se em pesadelo. A vitória da pode oferecer uma "sala para bate-papos" de dimensões globais. O medicina sobre a doença, a diminuição da mortalidade infantil, du- progresso ainda pode ser infinito, livre das limitações da matéria plicando o tempo de vida dos abastados, não acompanhada satisfa- finita. toriamente por uma limitação da natalidade, provocou uma explo- O movimento ecológico traça um caminho diferente. Os eco- são populacional que está rapidamente ultrapassando a capacidade logistas pedem uma profunda reconstrução das relações fundamen- de produção de alimentos. O fosso entre ricos e pobres, entre os ri- tais entre mente e corpo, masculino e feminino, ser humano e natu- cos dos setores industrializados e as massas empobrecidas, especi- reza, que moldaram a sociedade industrial ocidental ao longo dos almente nos antigos continentes colonizados da América Latina, da últimos 500 anos, ou mais, remontando talvez ás suas raízes no Asia e da Africa, está se alargando cada vez mais. Ao mesmo tempo surgimento das sociedades patriarcais nas primeiras culturas urba- a pressão sobre o mundo não-humano do ar, da água e do solo foi nas do antigo Oriente Próximo do V milênio aC. tão grande que este chegou ao limite de sua capacidade. O dióxido Alguns "ecólogos", como Thomas Berry e Brian Swimme 13, de carbono e outros resíduos emitidos pela queima de combustíveis olham com esperança para a ciência pós-newtoniana, para a qual o fósseis ameaçam a camada de ozônio que protege a vida sobre a dualismo "matéria morta" / mente transcendente já não determina terra da excessiva radiação solar. Lagos e oceanos poluídos tornam- nossa visão do universo. O que percebemos como corpo é uma di- se incapazes de sustentar a vida marinha. O solo torna-se salgado námica manifestação de energia em movimento, transformando-se através de irrigação excessiva e entra ein processo de de- e reconfigurando-se continuamente nos níveis subatômico, atômi- sertificação. Paira uma grande interrogação sobre todo o processo de crescimento humano em termos quantitativos e sobre o crescen- co, orgânico e cósmico. Os seres humanos são recém-chegados ao te consumismo das elites As custas do resto do planeta terra e da planeta, não seus monarcas predestinados. São, por assim dizer, os últimos convidados para o banquete. Precisamos adotar todo este maioria dos seres humanos. processo de criatividade da terra e cio cosmos como nossa própria O alarme quanto a este processo de expansão já soou desde o fonte e base de vicia, em vez de imaginar que podemos dominar relatório do Clube de Roma no final da década de 1960 12. Mas os este mundo e/ou fugir dele para algum mundo transcendente não líderes das nações ricas, particularmente dos Estados Unidos, recu- sujeito a seus limites. sam-se a escutar o grito de alerta, consentindo apenas em expres- sões simbólicas mínimas, enquanto as nações pobres protestam Repensar "nossa" relação com o corpo e a natureza implica contra a exigência de preservar a saúde do planeta reduzindo seus também repensar as relações com aqueles grupos de pessoas que, esforços por sair da pobreza. Um conjunto nitidamente divergente segundo nossa visão estereotipada, expressam o corpo em vez da mente: as mulheres em relação aos homens, os negros e indígenas de caminhos parece orientar os humanos para maneiras diferentes em relação aos europeus, a classe trabalhadora e os pobres em rela- de imaginar o futuro. ção à classe dominante. Uma nova ética de reciprocidade precisa Por urn lado, temos o canto de sereia que insiste que a crise orientar nossas relações entre nós mesmos enquanto seres humanos, ecológica pode ser resolvida aplicando mais ciência a novas formas como também nossa relação com nosso corpo e com o mundo cor- de tecnologia. A revolução nas comunicações parece prometer a li- póreo de plantas e animais, terra, ar e solo que sustenta nossa vida.