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Inteligência artificial:
sistemas especialistas no
gerenciamento da
informação

Raquel Dias Mendes INTRODUÇÃO A SISTEMAS • existência de tarefas que, para serem
BASEADOS EM CONHECIMENTO realizadas, necessitem da participação
de vários especialistas que, isolados,
A expressão inteligência artificial está não possuem conhecimentos suficien-
associada, geralmente, ao desenvolvi- tes para realizá-la, ou seja, o conheci-
mento de sistemas especialistas. Es- mento necessário para a análise e re-
tes sistemas, baseados em conheci- solução do problema é multidisciplinar;
mento, construídos, principalmente,
com regras que reproduzem o conheci- • existência de tarefas que requeiram
mento do perito, são utilizados para conhecimento de detalhes que, se es-
solucionar determinados problemas em quecidos, provocam a degradação do
domínios específicos. A área médica, desempenho;
desde o início das pesquisas, tem sido
uma das áreas mais beneficiadas pelos • existência de tarefas que demonstrem
sistemas especialistas, por ser consi- grandes diferenças entre o desempenho
derada detentora de problemas clássi- dos melhores e dos piores peritos;
cos com todas as peculiaridades neces-
sárias para serem instrumentalizados • escassez de mão-de-obra especializa-
por tais sistemas 8. da no conhecimento requerido para a
solução do problema.
Nem todos os problemas devem ser re-
solvidos por meio de sistemas especia- Com a emergência desta técnica, evi-
listas. Existem características que in- denciaram-se alguns importantes as-
dicam se determinado problema deve ou pectos, até então inexplorados, como,
Resumo
não ser instrumentalizado por esta tec- por exemplo, o aumento significativo da
O principal objetivo deste artigo é propor um nologia. A análise do problema, então, produtividade de um especialista, na
modelo para sistemas de gerenciamento da constitui-se no primeiro estágio do ci- execução de tarefas especializadas,
informação baseado em técnicas de clo de desenvolvimento dos sistemas quando assistido por um sistema inteli-
inteligência artificial.
O modelo propõe uma arquitetura de
especialistas, contribuindo fortemente gente.
sistema especialista para gerenciamento da para o sucesso da implementação do
informação, sugerindo a utilização de um sistema. Buscando facilitar o processo Outro aspecto relevante é a portabilida-
analisador semântico embutido na interface de análise do problema, distinguimos, de destes sistemas especialistas, por
do usuário final.
dentre outras, algumas condições, que, serem passíveis de desenvolvimento e
A abordagem enfatiza a dificuldade em se
obter informações com precisão e se observadas, poderão contribuir para a utilização em microcomputadores. Isto
qualidade, para apoiar tomadores de identificação do nível de adequação do os torna bastante populares e acessí-
decisão, e a necessidade de prover os uso da tecnologia de sistemas especia- veis. Em geral, os sistemas com racio-
usuários finais com mecanismos poderosos listas para a resolução do mesmo7: cínio automatizado podem ser utilizados
capazes de analisar, selecionar e
direcionar-lhes informações, de acordo com incorporando bancos de dados já exis-
as necessidades e urgências de cada um. • existência de peritos que dominem o tentes na organização, ou sendo incor-
segmento do conhecimento que encer- porados ao conjunto de ferramentas dis-
Palavras-chave
ra o problema, pois é exatamente esse poníveis nos bancos de dados.
Inteligência artificial; Sistemas conhecimento que será o responsável
especialistas; Sistemas de informação. direto pela resolução do problema;

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Inteligência artificial: sistemas especialistas no gerenciamento da informação

Sob nosso ponto de vista, a ciência da refas, relatando que o "esforço dos es- Nos dias atuais, os sistemas especia-
informação e muitas outras áreas po- pecialistas em cada procedimento es- listas tornaram-se realidade, sob a for-
dem encontrar, nos sistemas especia- tende-se além do que é articulado em ma de sistemas interativos que respon-
listas, eficientes ferramentas para o um conjunto de regras formais" e que a dem a questões, solicitam e fornecem
gerenciamento da informação. Disponi- complexidade das atividades atuam con- esclarecimentos, fazem recomenda-
bilizar ferramentas para suporte à toma- tra a aplicação de uma abordagem de ções e, geralmente, auxiliam o usuário,
da de decisão, neste caso, vai mais sistema especialista 5. orientando-o no processo de tomada de
além do que fornecer gráficos e tabelas decisão, ou seja, simulam o raciocínio
ao usuário: significa prestar-lhe orienta- Lancaster (1993) relatou que as tarefas humano, fazendo inferências, julgamen-
ção, na identificação de suas necessi- intelectuais associadas à profissão de tos e projetando resultados.
dades, simulando cenários e possibili- especialistas em ciência da informação
tando maior exatidão e confiabilidade não podem ser facilmente delegadas para Assim, usuários e sistema caminham
nos seus resultados. máquinas. Considerando-se tudo que se juntos, perguntando e fornecendo infor-
espera de uma biblioteca como uma ins- mações um ao outro, até à completa
Sistemas de informação baseados tituição, é improvável que o especialista solução do problema analisado.
em conhecimento para bibliotecas com habilidades em bibliotecas seja subs-
tituído pela inteligência artificial ou por O que se observa, nos sistemas de in-
Metzeler( 1992) relatou5: qualquer outra tecnologia no futuro, em formações tradicionais, é uma eterna e
concordância com as afirmações elo- penosa procura pelo que se deseja em
"A biblioteca do futuro pode ser capaz qüentes de Horton (1982), que acentuou meio a uma grande quantidade de infor-
de prover um rico acesso para a utiliza- que "criatividade, talento e poder men- mações emaranhadas. Sistemas de fil-
ção de conheòimento contido (freqüen- tal... são o real e principal bem da eco- tragem de dados esforçam-se para tor-
temente implícito) nas suas coleções. A nomia da informação", salientando tra- nar estas tarefas mais amenas, na ten-
maioria dos aspectos de desenvolvimen- tar-se de um bem tão valioso, que não tativa de busca pelas informações de
to, nesta linha, poderia ser baseada em haveria de ser delegado o seu manuseio forma a subsidiar o usuário com as in-
recuperação da informação. Isto, natu- a simples máquinas4. formações requeridas, a tempo e hora,
ralmente, requereria um mais geral e ro- para a tomada de decisão6.
busto estigma da inteligência artificial e Os crescentes investimentos em produ-
compreensão de linguagem natural do ção de sistemas especialistas permiti- É neste ponto que destacamos a efi-
que existe no momento"5. ram avanço e disseminação desta tec- ciência dos sistemas baseados em co-
nologia. Atualmente, podemos assistir nhecimento no gerenciamento da infor-
Capturar o conhecimento humano não é a Lancaster, em recentes publicações, mação e propomos a sua utilização,
uma tarefa simples; o problema toma pro- participando do desenvolvimento de sis- acoplados a gerenciadores semânticos.
porções maiores quando nos dispomos a temas especialistas para seleção de Desta forma, eles serão capazes de re-
registrar a experiência humana, represen- bases de dados on-line e preocupando- ceber informações de diversas origens
tando-a sob a forma de programas a se- se em medir o desempenho dos siste- e tipos, interpretá-las, analisá-las, iden-
rem executados pelo computador. mas baseados em conhecimento dedi- tificando a sua pertinência e relevância,
cados à recuperação da informação310. e direcioná-las para os diversos usuários
O fascínio do homem é a possibilidade de acordo com o interesse e a necessi-
de se capturar a intuição humana. Em recente estudo sobre avaliação de sis- dade de cada um.
temas especialistas para serviços de refe-
Nível de exigências relativas ao conhe- rência, Shiao observou que estes siste- Em outras palavras, trata-se de um pro-
cimento, intuição e experiência para a mas demonstraram melhor performance cesso de análise de informação que pro-
execução de tarefas normalmente exe- com usuários totalmente inexperientes cura reduzir o espaço de busca recupe-
cutadas pelos bibliotecários são meno- em atividades de referência10. rando apenas as informações que são
res do que nas demais áreas como a úteis para a resolução de problemas
medicina, engenharia, geologia. Há cer- Ainda sobre o uso de sistemas inteli- específicos.
ca de cinco anos, acreditava-se que os gentes para bibliotecas, Aluri conside-
problemas envolvidos na automação de rou que, determinada a variedade de re- Para que o problema seja resolvido, o
bibliotecas eram tremendamente subes- cursos de máquina e software disponí- sistema deverá analisá-lo, à luz das
timados. Davis (1986) ressaltou que a veis, se um experimento falha, não se heurísticas armazenadas em seu mo-
experiência em catalogação estaria lon- perde muito a não ser tempo e energia, tor de inferência e base de conhecimen-
ge de ser explícita em regras, por estar podendo-se ganhar muito em termos de to, e interagir com o usuário, para obter
implícita em heurísticas empregadas compreensão dos processos envolvidos todos os elementos informacionais ne-
pelos especialistas que realizam o tra- nos diversos serviços oferecidos pelas cessários à montagem do problema e
balho5. Da mesma forma, Weibel (1992), bibliotecas1. possibilitar a busca de conhecimento
referindo-se ao trabalho executado por necessário para sua resolução.
Borko e Ercegovac (1989) sobre catalo-
gação de mapas, também se mostrou
contrário à aplicação de sistemas es-
pecialistas para a execução destas ta-

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VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE FIGURA 1


SISTEMAS ESPECIALISTAS Estrutura básica de um sistema especialista

Os benefícios advindos da utilização da


técnica de sistema especialista são di- INTERFACE COM MOTOR DE INFERÊNCIA
ferentes daqueles obtidos pelos siste- O USUÁRIO • - heurísticas
mas tradicionais, por tratar-se de siste- - esquema de raciocínio
mas dotados de inteligência e conheci- - linguagem - inferências
mento. Dentre outras vantagens, pode- natural
mos destacar: - explanação
I I
BASE DE CONHECIMENTO
esquema de
- fatos e dados que repre-
• Um sistema especialista é capaz de interação com o
sentam o conhecimento
estender as facilidades de tomada de usuário final
decisão para muitas pessoas. O conhe- do perito
cimento dos especialistas pode ser dis-
tribuído, de forma que possa ser utiliza- ESTRUTURA BÁSICA DE UM Pode-se, também, desencadear-se um
do por um grande número de pessoas. SISTEMA ESPECIALISTA processo de aprendizagem automática
internamente no sistema. Istoquerdizer
• Um sistema especialista pode melho- A estrutura básica para um sistema que o sistema especialista provido de
rar a produtividade e desempenho de especialista é constituída por três ele- mecanismos de aprendizagem é capaz
seus usuários, considerando que o pro- mentos fundamentais: base de conhe- de analisar e gerar novas regras na base
vê com um vasto conhecimento, que, cimento, motor de inferência e interface conhecimento e ou armazenar informa-
certamente, em condições normais, com o usuário, conforme pode ser ob- ções sobre novos fatos, ampliando a ca-
demandaria mais tempo para assimilá- servado na figura 1. pacidade do sistema em resolver proble-
lo e , conseqüentemente, utilizá-lo em mas, cada vez em que este for utilizado.
suas tomadas de decisão. A base de conhecimento e de Isto é transparente para o usuário, ou seja,
informações de diversas fontes o usuário não percebe que todo este pro-
• Sistemas especialistas reduzem o cesso acontece durante uma sessão de
grau de dependência que as organiza- A base do conhecimento não é uma sim- utilização do sistema especialista2.
ções mantêm quando se vêem em situ- ples coleção de informações. A tradi-
ações críticas, inevitáveis, como, por cional base de dados com dados, ar- Diante disto, importante se faz que o
exemplo, a falta de um especialista. As quivos, registros e seus relacionamen- sistema seja cuidadosamente projeta-
pessoas morrem, ficam doentes, tiram tos estáticos é aqui substituída por uma do, de forma que seja capaz de analisar
férias e até optam por melhores ofertas base de regras e fatos e também heu- novas situações, extrair novas regras e
de trabalho. Ao assim proceder, tornam rísticas que correspondem ao conheci- analisar e deletar regras redundantes,
as organizações em que trabalham vul- mento do especialista, ou dos especia- complementar regras conflitantes, per-
neráveis e extremamente dependentes listas no domínio sobre o qual foi cons- mitindo uma depuração constante da
de suas decisões. Ao registrar o conhe- truído o sistema8. base de conhecimento. Caso contrário,
cimento de empregados nos sistemas a base de conhecimento poderá cres-
especialistas, promove-se uma signifi- Esta base de regras e fatos interage cer indiscriminadamente, promovendo
cativa redução no grau de dependência com o usuário e com o motor de infe- uso extensivo da memória, possibilitan-
entre empresa e presença física do rência, permitindo identificar o problema do uma degradação no desempenho do
empregado. a ser resolvido, as possibilidades de so- sistema, bem como tornando-o custo-
lução e o processo de raciocínio e infe- so e inviável.
• Sistemas especialistas são ferramen- rência que levam a conclusões sobre o
tas adequadas para serem utilizadas em problema submetido ao sistema. Desta forma, inicialmente uma base de
treinamentos de grupos de pessoas, de conhecimento pode ser construída com
forma rápida e agradável, podendo ser- Na interação com a base de fatos e re- poucas regras, mas, dependendo da
vir, após o treinamento, como instrumen- gras e com o usuário, obtêm-se as in- complexidade do ambiente e das neces-
to para coleta de informações sobre o formações necessárias para a resolu- sidades de informações variadas, esta
desempenho dos treinandos, obtendo ção do problema. Devido à utilização de base poderá eventualmente crescer para
subsídios para reformulação das lições heurísticas, o usuário é requerido pelo milhares de regras e fatos. Assim, é
para a obtenção de melhor desempe- sistema para prestar informações adicio- preciso que se tenha o cuidado de im-
nho, além de prestar suporte imediato nais e, a cada pergunta respondida pelo plementar instrumentos internos de re-
para os treinandos durante a utilização usuário ou a cada nova informação, re- finamento que possibilitem podas na
dos conhecimentos na realização de duz-se o espaço de busca a ser percor- árvore de decisão e cortes na base de
suas tarefas diárias. rido pelo sistema, encurtando-se o ca- conhecimento, para que o processo de
minho entre o problema e sua solução. busca localize segmentos cujas regras
e fatos contemplem os instrumentos
necessários que conduzam à solução
dos problemas em questão.

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Os mecanismos de aprendizagem, que A interface com o usuário A interface com o usuário pode assu-
podem ser implementados nos sistemas mir formas variadas, dependendo de
especialistas, permitem que o sistema A interface com o usuário final é talvez o como foi implementado o sistema es-
aprenda, cada vez que for utilizado, ao elemento ao qual os desenvolvedores de pecialista.
se deparar com regras e fatos novos. sistemas especialistas dedicam mais
Isto é possível em virtude da estrutura tempo projetando e implementando. De qualquer forma, a interface com o
modular da base de conhecimento, per- usuário procura tornar o uso do sistema
mitindo a adição ou deleção de novos Os procedimentos heurísticos são infor- fácil e agradável, eliminando-se as com-
elementos sem alterar a lógica global mais. Um problema submetido a um sis- plexidades.
do sistema. tema especialista é endereçado por es-
tratégias de busca. O sistema sempre Linguagem natural
O motor de inferência retém elementos de memória que per-
mitem o encaixe e o desencadeamento A compreensão da linguagem natural é
O motor de inferência é um elemento com outra estratégia, sempre marcan- um problema muito complexo, que en-
essencial para a existência de um siste- do o caminho percorrido. volve, entre outros aspectos, os seguin-
ma especialista. É o núcleo do sistema. tes:
Para que isto ocorra, é necessário que
É por intermédio dele que os fatos e re- a interface com o usuário seja bastante • reconhecimento do significado da
gras e heurística que compõem a base flexível. Assim, a interação entre siste- mensagem;
de conhecimento são aplicados no pro- ma especialista e usuário conduz um
cesso de resolução do problema. processo de navegação eficiente na base • mapeamento da mensagem em um
de conhecimento, durante o processa- modelo adequado, a partir do valor se-
A capacidade do motor de inferência é mento das heurísticas. mântico das palavras, estrutura sintáti-
baseada em uma combinação de procedi- ca da frase e do conhecimento sobre o
mentos de raciocínios que se processam A interface flexível permite que o usuá- ambiente;
de forma regressiva e progressiva. rio descreva o problema ou os objetivos
que deseja alcançar. Permite, ainda, que • eliminação de ruídos.
Na forma de raciocínio progressivo, as usuário e sistema adotem um modelo
informações são fornecidas ao sistema estruturado de consultas \ Estes são os elementos mínimos de
pelo usuário, que, com suas respostas, que um ser humano necessita para com-
estimula o desencadeamento do proces- Isto facilita o processo de recuperação preensão de uma mensagem.
so de busca, navegando pela base de do caminho percorrido pelo sistema em
conhecimento, procurando pelos fatos, tentativas de solucionar o problema. No caso de comunicação oral, a contri-
regras e heurísticas que melhor se apli- Este caminho, denominado trace, é mui- buição da entonação da voz, para o en-
cam a cada situação. O sistema conti- to importante, pois é a base de pesqui- tendimento da mensagem, torna o pro-
nua nesta interação com o usuário, até sa para o desenvolvimento do processo blema da utilização de linguagem natu-
encontrar a solução para o problema a de explanação. ral em sistemas especialistas ainda
ele submetido. mais complexo.
O processo de explanação consiste na
No modelo de raciocínio regressivo, os explicação, quando requerida pelo usuá- Considerando situações mais restriti-
procedimentos de inferência dão-se de rio, sobre o "porquê" e o "como" o siste- vas, podemos amenizar o nível de com-
forma inversa. O sistema parte de uma ma chegou a determinada conclusão, plexidade que envolve a utilização de lin-
opinião conclusiva sobre o assunto, po- rumo à solução do problema analisado. guagem natural, tornando a solução do
dendo ser inclusive oriunda do próprio Neste momento, o sistema realiza um problema mais viável e menos custosa.
usuário, e inicia uma pesquisa pelas processo inverso de busca, percorren- Por exemplo, podemos nos restringir à
informações por meio das regras e fa- do as trilhas utilizadas e marcadas du- compreensão da linguagem natural es-
tos da base de conhecimento, procu- rante a sessão de consulta e apresen- crita, colocando a mensagem de forma
rando provar se aquela conclusão é a tando todos os argumentos que o leva- que não haja perda de conteúdo pelo
mais adequada solução para o proble- ram à solução apresentada. fato de a mensagem ser escrita. Outro
ma analisado. fator a ser considerado é a redução do
Este processo é muito importante e pro- contexto, de forma que o volume de
Se uma premissa (IF) é consistente para porciona ao usuário subsídios para jul- conhecimento a ser considerado não
o problema, o sistema continua com a gar se adota ou não a solução apresen- adquira proporções astronômicas. Com
cláusula IF (condição), tornando-a Then tada pelo sistema especialista. estes cuidados, reduzimos o problema
(conclusão) para a próxima pesquisa na a um processo de mapeamento da men-
base de conhecimento, até que encon- Ainda, pode-se considerar o processo sagem em um modelo conceituai ade-
tre uma regra que o (IF) não seja consi- de explanação como importante instru- quado, utilizando o valor semântico das
derado conclusão para outra regra, ao mento que poderá ser utilizado para o palavras, a estrutura sintática da frase e
mesmo tempo em que o sistema pode- treinamento do usuário, uma vez que o conhecimento armazenado, na base
rá iniciar uma nova pergunta ao usuário apresenta conceitos teóricos e aplica- de conhecimento do sistema. Ainda es-
para obter informações adicionais9. ções práticas. taremos considerando que a capacida-

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de de compreensão tenha uma abran- FIGURA 2


gência bem delimitada, como, por exem- Diagrama de Contexto de um sistema especialista para gerenciamento de
plo, um software que responda a pergun- informações
tas relativas a dados contidos em uma
base. Usuário final INTERFACE COM O MOTOR DE INFERÊNCIA
USUÁRIO FINAL (ESTRATÉGIA DE
Entradas RACIOCÍNIO)
Convém ressaltar que encontrar o valor Fonte de
semântico de cada palavra não se re- informações ANALISADOR
BASE DE
duz a um processo independente da SEMÂNTICO
CONHECIMENTO
análise sintática e da semântica global Entradas BASE DE INFORMA-
da frase. Fonte de BASE DE REGRAS ÇÕES ESTRATÉGICAS
informações SOBRE AXIOMAS
GRAMATICAIS E BASE DEREGRAS QUE
Por essa razão, a interface com o usuá- Entradas ESPELHAM AS NE-
Fonte de LÉXICO.
rio é de difícil implementação, por fazer CESSIDADES EIDENTIFI
informações CAM O USUÁRIO FINAL
uso de diversas ferramentas. Na maio-
ria das vezes, o emprego da tecnologia
de linguagem natural se afigura muito sistema Uniterm é um sistema em lin- ria com o desenvolvimento de sistemas
complexo, conforme mencionado ante- guagem natural no qual os termos de capazes de identificar ocorrências de
riormente. índices foram extraídos dos documen- palavras no texto, analisá-las e arma-
tos por indexadores humanos5. Com a zenar as suas sintaxes. As ocorrências
Nesta proposta, teremos um analisador utilização de computadores para recu- redundantes, então, seriam devidamen-
semântico embutido na interface com o peração de informações, os sistemas te eliminadas, permitindo a recuperação
usuário. Ele será responsável pela aná- de linguagem natural tornaram-se mais do texto, utilizando-se qualquer combi-
lise da sentença da mesma forma que prevalecentes e mais possíveis. Um dos nação de palavras. Na indexação auto-
observamos as sentenças em estudos principais problemas dos sistemas de mática, mantêm-se os arquivos inverti-
de gramática. Este processo resulta em recuperação de informação é a manipu- dos, possibilitando a recuperação de
uma construção de uma árvore de aná- lação física de uma longa lista de pala- textos que incorporem proximidade com
lise. Os fragmentos das informações são vras, o que se torna trivial em sistemas a palavra considerada, permitindo a re-
traduzidos por comandos por intermé- mecanizados4. cuperação de qualquer documento no
dio da análise semântica. Nesta análi- qual ocorrer a palavra utilizada na bus-
se, os componentes são encadeados Os documentos são indexados por meio ca. Neste caso, utiliza-se como restri-
iniciando-se pelos verbos usados nas de palavras que representam o assun- ção a especificação da palavra e de sua
perguntas e/ou nas respostas resultan- to-alvo. Em geral, esses índices são posição em relação a outras, dentro do
tes da interação homem-máquina. Tam- extraídos do próprio documento. mesmo parágrafo, sentença, ou em re-
bém, pode-se considerar, além dos ver- Existem situações em que os termos lação a determinado número de palavras
bos, outras palavras-chave, que são indexadores não são extraídos dos do- intervenientes.
devidamente comparadas com as pala- cumentos, mas isto raramente aconte-
vras contidas em um dicionário. O di- ce. Os termos indexadores, também, po- ARQUITETURA PARA O
cionário é essencialmente uma lista de dem ser selecionados, de forma auto- SISTEMA ESPECIALISTA EM
comandos, sinônimos para as palavras mática, ou seja, por meio de um siste- GERENCIAMENTO DA
que possam ser utilizadas no domínio ma especializado para extrair palavras INFORMAÇÃO (SEGI)
da aplicação. O sistema deverá pedir de textos.
explicações ao usuário, caso surjam, Um sistema de gerenciamento da infor-
no diálogo, palavras que possuam dú- É importante ressaltarque todos esses mação, conforme mencionado anterior-
bio sentido, antes de prosseguir com a métodos de indexação têm de ser com- mente, deverá ser construído a partir da
análise. preendidos pelo computador, ou seja, as integração dos seus elementos básicos:
regras da base de conhecimento do sis- interface com o usuário, base do conhe-
A linguagem natural interpreta muitas tema devem contemplartal conhecimen- cimento e motor de inferência, que po-
palavras comuns, mas palavras raramen- to, para que o sistema possa recuperar dem ser visualizados no diagrama apre-
te utilizadas e/ou jargões técnicos es- adequadamente as informações solici- sentado na figura 2.
pecíficos da área deverão ser integra- tadas. Por outro lado, um sistema cuja
dos ao dicionário. interface com o usuário contenha um Base de conhecimento
analisador semântico não terá, neces-
Linguagem natural na recuperação sariamente, de ser baseado em indexa- A base de conhecimento do sistema
da informação ção. Neste caso, os textos completos proposto consistirá da integração de
comporão uma base de dados textual sub-bases de conhecimento constituí-
Um sistema de recuperação da informa- (resumos, títulos). Isto provocará maior das pelas regras que reflitam o conhe-
ção sem controle de vocabulário pode exigência de recursos de hardware, cimento, as necessidades de informa-
ser chamado de sistema de linguagem mais especificamente, de memória, para ções, periodicidades e o nível de aces-
natural, ou, às vezes, de sistemas de viabilizar a implementação do sistema. so de cada usuário de cada segmento
texto livre. Segundo W. F. Lancaster, o Pode-se reduzir os custos com memó- da organização.

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Desta forma, teríamos, em uma empre- As estratégias de navegação nas bases de estratégias de buscas, montadas
sa, por exemplo, bases de conhecimen- de conhecimento, de forma progressi- pela combinação de palavras soltas, ou
to de publicidade, setor de pessoal, se- va, regressiva, são utilizadas, continua- grupo de sentenças que melhor expres-
tor de vendas, contabilidade, ou seja, mente, no sistema proposto, pois várias sem as suas necessidades.
de cada área específica da organização requisições de informações automáticas
seria extraída uma sub-base de conhe- são realizadas, considerando as neces- O sistema deverá permitir que o usuá-
cimento, que, integradas, comporiam a sidades preestabelecidas pelos usuários rio, respondendo a perguntas formula-
base de regras dos especialistas da das diversas áreas. das pelo sistema, de forma simples,
empresa, representando suas necessi- configure-o para fornecer diariamente
dades. Estas bases são implementadas No bojo do analisador semântico, tere- um resumo atualizado das informações
pelo engenheiro do conhecimento, que mos também um motor de inferência, que lhe interessam, sem que tenham
corresponde, nos sistemas tradicionais, ao. em separado, constituído por estra- de ser solicitadas rotineiramente. Estes
analista de sistema. tégias de raciocínio adotadas para a resumos deverão representar, por exem-
compreensão das informações oriundas plo, uma visão global dos negócios em-
Outra base que fará parte do sistema das diversas fontes de alimentação do preendidos pela empresa, em compa-
especialista é uma base de informações sistema, bem como para o entendimen- ração com outras empresas do ramo,
estratégicas criada pelo próprio siste- to das solicitações realizadas e identifi- caso o sistema possa receber informa-
ma especialista, mediante a integração cação dos usuários das diversas áreas ções de mercado, de fontes externas.
com outros sistemas internos e exter- da organização.
nos à instituição. Isto permitirá a cria- Analisador semântico
ção de visões, resumos, cenários ex- Interface com o usuário
traídos das diversas fontes de informa- O papel do analisador semântico é ob-
ção que alimentam o sistema especia- A interface com o usuário afigura-se um ter informações, entender o significado
lista, no modo on-line, permitindo atua- pouco mais complexa do que as inter- delas, por meio de um reconhecimento
lização, sempre que houver alterações faces implementadas normalmente em de regras gramaticais, e enviar a men-
nas fontes de informações. sistemas especialistas tradicionais. sagem para o motor de inferência que
Sugere-se o uso de um analisador se- iniciará o processo de raciocínio e bus-
Haverá também bases de conhecimen- mântico como parte integrante desta. ca pelas informações mais convenien-
to independentes, constituídas de regras tes para satisfazer as necessidades
gramaticais que permitirão, ao analisa- Como já foi descrito, a interface com o daquele usuário.
dor semântico, entender as diversas usuário neste caso é a estrutura que
solicitações de informação de cada seg- tem o papel de traduzir todas as infor- Exemplos práticos de uma seção de
mento da empresa - solicitações pré- mações externas ao sistema especia- consulta ao Segi
definidas pelos especialistas para com- lista que interajam com ele, seja alimen-
por os resumos especializados -, bem tando-o por informações oriundas de fon- Pressupõe-se que o sistema especia-
como as possíveis solicitações adicio- tes diversas, seja resultantes de infor- lista receba informações de diversas fon-
nais requeridas eventualmente por qual- mações advindas do usuário mediante tes dentro de uma instituição. Essas in-
quer usuário do sistema. perguntas e/ou respostas. formações são analisadas e interpreta-
das pelo analisador semântico que
No caso de um sistema de informações No caso do Segi, ao ser acionado, o atualiza uma base de informações es-
para apoio a usuários finais de bibliote- sistema iniciará a sessão, solicitando tratégicas segundo as necessidades
cas, as bases constituintes do sistema ao usuário que se identifique. Ao identi- dos usuários cadastrados no sistema.
especialista deverão conter, além do ficar o usuário, o sistema já entenderá No momento em que determinado usuá-
acervo bibliográfico da organização, co- a que área ele pertence e qual o nível rio se conecta ao sistema, o sistema o
nhecimentos sobre elaboração de es- de informação que lhe é permitido aces- reconhecerá e alocará, na memória, o
tratégias de busca e de características sar. Desta forma, o processamento da segmento da base de informações que
específicas das bases de dados dispo- base de regras relativas àquele usuário interessariam àquele usuário, bem como
níveis na biblioteca. será inicializado. Será apresentado, na a parte da base de conhecimento cujas
tela, um menu de opções referentes a regras espelham as suas necessidades.
O motor de inferência grupos de informações que poderão ser Nesse momento, informações rotineiras,
acessadas por aquele usuário. Ao es- previamente definidas pelo usuário, ser-
Conforme descrito anteriormente, trata- colher o grupo de informações que lhe Ihe-ão apresentadas devidamente atua-
se de componente fundamental para o interessam naquele momento, inicia-se lizadas. Ao solicitar informações adicio-
funcionamento do sistema especialista. uma interação entre usuário, analisador nais, o usuário provocará uma navega-
semântico, motor de inferência e bases ção na base de conhecimento e na base
O motor de inferência é composto pe- de conhecimentos. A partir daí, o usuá- de informações, o que permitirá o seu
las heurísticas adotadas para a resolu- rio poderá obter imediatamente um re- atendimento imediato.
ção de problemas e para a execução sumo geral ou setorial das informações
das tarefas diárias realizadas pelos es- atualizadas até aquele instante, ou ini-
pecialistas. ciar um processo de recuperação de
informações e/ou documentos por meio

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Inteligência artificial: sistemas especialistas no gerenciamento da informação

CONCLUSÃO Existem algumas metodologias para o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


desenvolvimento de sistemas de apoio
1. ALURI, Rao. Expert systems for libraries.
Como exemplo prático da utilização de à decisão. Alguns aspectos são co- Library administration & management.
sistemas inteligentes com analisador muns a todas as metodologias. Deve ser March 1988
semântico podemos citar sistemas inte- criado um grupo de profissionais que
ligentes de recuperação de informações têm por missão o acompanhamento da 2. CHECLAND, P.B. Systems Thinking,
Systems Practice, Chichester, England:
que incorporem conhecimentos e/ou es- evolução do sistema. No caso específi- JohnWiley, 1981.
trutura de registro, políticas de indexa- co de um sistema especialista, consi-
ção e estratégias de pesquisas. Estes derando que seja um sistema dotado de 3. LANCASTER, F.W. et alii. Evaluation of In-
sistemas poderiam auxiliar os usuários mecanismos de aprendizagem, tal sis- teractive Knowledge - Based Sistems:
Overview and Design for Empirical
que têm dificuldades em se lembrar de tema deverá ter a sua base de conheci- Testing. Journal of the American Society
regras, como, por exemplo, no caso de mento avaliada periodicamente, bem for Information Science. 47 (1) p.57-69,
bibliotecas, regras de truncagens, no- como o seu desempenho, para adequa- 1996.
ções dos operadores booleanos etc. ção quanto às necessidades de recur-
4. LANCASTER, F. Wilfrid. Information retrieval
sos de hardwares adicionais, ou mes- systems: caracteristics, testing and
Neste caso, a linguagem natural parti- mo para análise de sua eficácia. evaluation, Chichester, England: John
ciparia com expressivo valor, permitin- Wiley, 1978, p. 279-282.
do que os usuários interroguem o siste- Entre outras vantagens advindas do uso
5. LANCASTER, F. Wilfrid and Warner, Amy J.
ma de forma amigável. de um sistema inteligente, destacamos Information retrieval today, Information
a total facilidade no treinamento para o resources Virgínia: press, 1993, p.301-
Diversos outros exemplos de aplicação uso do sistema, bem como a rapidez 307.
se adequariam ao uso destes sistemas, na obtenção de sugestões para a reso-
6. LAND, F. Adapting to Changing User
considerando que a sua tônica principal lução dos problemas a ele submetidos. Requirements, Information &
é a capacidade de entender as informa- Management, 5(1), p 91-107, 1982.
ções advindas de diversas fontes e in-
terpretá-las, proporcionando saídas aos 7. MENDES, Raquel D. Projeto e desenvolvi-
mento de um sistema especialista para
usuários finais de acordo com as ne- diagnóstico de sarcomas ósseos.
cessidades de cada um. S.Paulo: ITA, 1991, Dissertação - mestra-
do.
Com este tipo de ferramenta, obtém-se
8. NILSON, Neils S. Principies of Artificial
a vantagem de o sistema ser totalmen- Intelligence, SpringerVerlag, Berlin, 1982.
te simples de operar e compreender a
linguagem do usuário que normalmente 9. RICH, Elaine, Artificial Intelligence, New
expressa suas necessidades em sua York: Mc Graw Hill Book, 1983.
língua nativa. 10. SHIAO, FengSu; LancasterF. W.. Evaluation
of Expert Systems in Reference Service
Applications. RQ 35, n.2, Winter 1995,
p.219-228.

Artificial intelligence: specialized


systems for information
management

Abstract

The aim of this article is to propose a model


for management information system, based
on artificial intelligence techniques.
This work proposes an expert system
architecture for management information.
The model suggests the utilization of
semantic analyzer, incorporated at end-user
interface.
The approach does emphasize the difficulty
to obtain informations with accuracy and
quality for support for makers decisions, and Raquel Dias Mendes
the need to provide end-users with a
powerfull mechanisms capable to analyse, Mestre em inteligência artificial pelo ITA, douto-
select and toward informations them, randa em ciência da informação no Departa-
according with their needs and urgency. mento de Ciência da Informação e Documenta-
ção (CID) da Universidade de Brasília (UnB).
Keywords
<mendes@sol.mz. cef.gov. br>
Artificial intelligence; Expert systems;
Information systems.

Ci. Inf., Brasília, v. 26, n. 1, p. 39-45, jan./abr. 1997 45

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