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REVISÃO REVIEW 2309

Modelos de atenção à saúde de usuários de


álcool e outras drogas: discursos políticos,
saberes e práticas

Health care models for users of alcohol and


other drugs: political discourse, knowledge,
and practices

Vânia Sampaio Alves 1,2

Abstract Introdução

1 Instituto de Saúde Coletiva,


This article aims to characterize health care O debate em torno dos modelos de atenção à
Universidade Federal da
Bahia, Salvador, Brasil. models for users of alcohol and other drugs in the saúde tem problematizado a adequação das
2 Escola Estadual de Saúde Brazilian context. Discourse analysis was per- práticas e dos processos de trabalho à resolu-
Pública, Secretaria de
formed on public drug policy in Brazil from the ção dos problemas de saúde da população. Três
Saúde do Estado da Bahia,
Salvador, Brasil. 1970s. This analysis was contextualized by a brief dimensões têm sido contempladas nesse de-
digression on the main political positions identi- bate: a político-gerencial, a organizacional e a
fied in several countries of the world in relation tecnológica 1. A primeira corresponde à esfera
Correspondência
V. S. Alves to drug use problems. Beginning in the current de formulação e implementação de políticas. A
Instituto de Saúde Coletiva, decade, drug policies in Brazil have been recep- dimensão organizacional refere-se às relações
Universidade Federal da
tive to harm reduction approaches, resulting in estabelecidas entre as unidades de saúde, que
Bahia.
Rua Clóvis Spinola 40, Bloco D, reorientation of the health care model. In conclu- geralmente considera a hierarquização dos ní-
apto. 202, Salvador, BA sion, the structuring and strengthening of a net- veis de complexidade assistencial. A dimensão
40080-24, Brasil.
vaniasampa@yahoo.com.br
work of care for users of alcohol and other drugs tecnológica contempla o conteúdo das práticas
and their families, based on community care and e a organização social dos processos de trabalho
the harm reduction approach and combined em saúde 2.
with other social and health services, is now a key Em conformidade com uma concepção sis-
public health challenge for the country. têmica, a reorientação do modelo de atenção à
saúde deve resultar da conjugação de propos-
Alcoholism; Substance-Related Disorders; Harm tas e estratégias sinérgicas nas três dimensões,
Reduction; Public Policies ainda que mudanças parciais, operadas em di-
mensões isoladas, possam propiciar o desen-
cadeamento de transformações mais amplas.
Nesta perspectiva, depreende-se que a reorien-
tação do modelo de atenção à saúde consiste
em um processo extremamente complexo, cuja
concretização exige tanto iniciativas nas esferas
político-gerencial e organizacional quanto tec-
nológica 1. A formulação e implementação de
políticas públicas, por exemplo, pode contribuir
para a reprodução de um modelo de atenção à

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saúde hegemônico ou propiciar condições para tizado mediante a formulação e implementação


a reinvenção das práticas e dos processos de tra- de políticas públicas.
balho em saúde. A revisão da literatura permite identificar
O presente artigo tem por objetivo caracte- dois principais posicionamentos políticos para
rizar os modelos de atenção à saúde de usuários o enfrentamento de questões relacionadas ao
de álcool e outras drogas existentes no contexto consumo de álcool e outras drogas: o proibicio-
brasileiro. Para tanto, parte-se do pressuposto nismo e a abordagem de redução de danos 5,6,7.
teórico de que das políticas públicas na área de Enquanto as políticas proibicionistas concen-
álcool e outras drogas emanam as racionalidades tram esforços na redução da oferta e da deman-
ou lógicas que orientam as práticas de atenção da de drogas, com intervenções de repressão
em saúde. Em conformidade com este pressu- e criminalização da produção, tráfico, porte e
posto, realizou-se uma análise do discurso das consumo de drogas ilícitas; as políticas e pro-
políticas públicas de drogas no Brasil. O corpus gramas de redução de danos têm disseminado
de análise 3 foi constituído pelo conjunto de leis, intervenções orientadas para a minimização dos
decretos, portarias, medidas provisórias e outros danos à saúde, sociais e econômicos relaciona-
documentos relativos a tais políticas, editados dos ao consumo de álcool e outras drogas sem
no país a partir da década de 1970. Contextuali- necessariamente coibi-lo 7,8,9. Os pressupostos
zou-se a revisão das políticas públicas de drogas ideológicos bem como os benefícios e os danos
e caracterização dos modelos de atenção à saúde associados às diferentes tônicas das políticas pú-
de usuários de álcool e outras drogas existentes blicas sobre drogas têm fomentado um profícuo
no Brasil com uma breve digressão acerca dos debate 10, particularmente no que concerne ao
principais posicionamentos políticos identifica- modelo de atenção à saúde de usuários de álcool
dos entre países do mundo para o enfrentamento e outras drogas 7,8,11.
de questões relacionadas ao consumo de subs- O proibicionismo constituiu-se no alicerce
tâncias psicoativas. Espera-se, enfim, fomentar ideológico da política pública sobre drogas nos
a discussão em torno da reorientação do modelo Estados Unidos 6,9,12,13. De acordo com Ribeiro &
de atenção à saúde de usuários de álcool e outras Araújo 14, o movimento proibicionista em relação
drogas na realidade brasileira frente às recentes às drogas teve sua origem no início do século XIX,
políticas públicas sobre drogas, sobretudo, as po- quando se observava o crescimento exponencial
líticas de saúde. da industrialização de bebidas alcoólicas no pa-
ís e, conseqüentemente, do seu consumo. Logo
esta racionalidade se disseminou na sociedade
Discursos políticos e a construção dos norte-americana e, em 1869, foi fundado o Par-
modelos de atenção à saúde de usuários tido Proibicionista. A proibição da comercializa-
de álcool e outras drogas ção de bebidas alcoólicas tornou-se uma reivin-
dicação ampla de segmentos daquela sociedade
O consumo de substâncias psicoativas, desde ci- e culminou, em 1920, com a promulgação da Lei
vilizações antigas, sempre esteve sob regulação Seca, que conferiu ao álcool o status de droga ilí-
social. A princípio, a regulação se estabeleceu em cita naquele país, entre 1920 e 1932.
contextos sócio-culturais específicos que condi- O discurso proibicionista, entretanto, não se
cionaram o consumo de determinadas substân- restringiu à questão do consumo de álcool. Em
cias mediante normas e convenções socialmente conseqüência do aumento do consumo de ópio,
compartilhadas. O isolamento de princípios ati- os Estados Unidos lideraram a campanha pela
vos de substâncias psicoativas e sua industria- supressão gradual do comércio internacional
lização, a partir do século XIX, resultaram em dessa substância, a qual desencadeou a realiza-
formas de apresentação mais potentes. Este fato ção de uma série de eventos internacionais para
foi acompanhado por popularização crescente o debate em torno da questão – os Encontros de
dessas substâncias e expansão de seu consumo Xangai, em 1906 e 1911, e as Conferências em
com finalidade terapêutica e também recreativa. Haia, em 1912 e 1914. Convenções internacio-
A expansão, entretanto, foi acompanhada pelo nais foram sendo firmadas para a repressão do
enfraquecimento das estratégias sócio-culturais comércio e o consumo de drogas – ópio, morfi-
de regulação do consumo das substâncias e da na, cocaína e toda substância que pudesse levar
emergência de um conjunto de questões sociais ao uso abusivo. Com grande apelo à adesão das
e de saúde a ele associado 4. Na ausência de um nações, o discurso proibicionista conquistava
lastro cultural que contextualizasse o padrão hegemonia 14.
contemporâneo de consumo de substâncias psi- A fundação da Organização das Nações Uni-
coativas, fez-se evidente a necessária interven- das (ONU), em 1945, representa outro importan-
ção reguladora do Estado, a qual tem se concre- te marco histórico para a consolidação de polí-

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ticas públicas sobre drogas de orientação proi- mediante as intervenções de prevenção e trata-
bicionista. Com a ONU, os debates em torno da mento aos dependentes químicos. Estima-se
questão das drogas foram reaquecidos no plano que dos recursos financeiros da política de dro-
internacional. Em 1946, foi criada pela ONU a gas norte-americana, menos de 10% sejam des-
Comissão de Narcóticos (CDN), com a atribuição tinados às ações de tratamento 9,15,18. Esta talvez
de formular políticas para o fortalecimento do possa ser apontada como a mais profunda das
sistema de controle e repressão internacional às contradições das políticas proibicionistas.
drogas. A CDN organizou três Convenções Inter- O proibicionismo encontra-se atrelado a dois
nacionais (Nova Iorque, 1961; Viena, 1971; Viena, modelos explicativos para a questão do consumo
1988) – conhecidas como as Convenções-Irmãs de drogas: o modelo moral/criminal e o modelo
da ONU – com o objetivo de construir um progra- de doença 7,9,19. Para o primeiro, o consumo de
ma em relação à questão das drogas comum aos drogas configura um problema moral, uma práti-
seus estados-membros. Para Ribeiro & Araújo 14 ca delituosa cujo enfrentamento consiste no en-
(p. 462), “as Convenções-Irmãs da ONU estabe- carceramento dos imorais/criminosos. O modelo
leceram o sistema internacional de combate das de doença concebe o consumo de drogas e a de-
drogas, reafirmando o proibicionismo como a po- pendência como uma patologia biologicamente
lítica a ser seguida por todas as nações”. determinada e, como tal, deve ser abordado com
Em 1998, a ONU convocou uma Sessão Es- a oferta de tratamento e reabilitação 19. Embora
pecial da Assembléia Geral (UNGASS) para a dis- os modelos explicativos divirjam quanto às su-
cussão da política mundial de drogas. Este evento as propostas de intervenção, ambos comparti-
não apenas ratificou as Convenções-Irmãs como lham do propósito de eliminação do consumo
também estabeleceu a meta de erradicação do de drogas – seja pelo encarceramento seja pelo
cultivo de plantas e vegetais para a produção de tratamento. De acordo com uma perspectiva de
drogas ilícitas, uma estratégia considerada chave não-tolerância às drogas, as ações de prevenção
para a supressão do consumo de drogas ilícitas objetivam especialmente a redução da demanda
no mundo. O plano de ação da UNGASS estabe- por drogas e o tratamento admite a abstinência
lecia o ano de 2008 como prazo para o alcance como única meta plausível.
dessa meta e intitulava-se Um Mundo Livre de A assistência à saúde ofertada segundo a
Drogas: Nós Podemos Fazê-lo 12,14. Em 2003, tanto perspectiva proibicionista tem sido caracteriza-
a meta quanto o prazo para atingi-la foram reafir- da como de “alta exigência” 19. Destaca-se a in-
mados pela ONU. distinção feita pelos adeptos desta vertente entre
As contradições produzidas pelas políticas o consumo de drogas ocasional daquele consi-
proibicionistas em relação às drogas são des- derado abusivo e/ou prejudicial, caracterizado
tacadas por muitos autores 6,9,10,12. Para Per- como um padrão de consumo capaz de produzir
duca 12 (p. 61), “o proibicionismo é um conjun- danos sociais e à saúde, inclusive a dependência
to de leis e políticas que não deslancharam; na química. Nenhum padrão de consumo é tolerado
realidade, um conjunto de leis e políticas que e a abstinência desponta como condição, meio e
falharam”. As ações de repressão à produção, finalidade do tratamento: “A única meta aceitável
comércio e consumo de drogas ilícitas definiti- de quase todos os programas de tratamento para
vamente não contiveram estes fenômenos em alcoolismo e drogas nos Estados Unidos é a abs-
qualquer parte do mundo. Ao contrário, obser- tinência vitalícia, juntamente com atendimento
vou-se o crescimento do tráfico ilícito de drogas contínuo em grupos de recuperação do tipo Doze
e de sua repercussão na política e na economia Passos. Na verdade, a abstinência é quase sempre
mundial 14,15. Em relação ao consumo, estudos pré-requisito para o tratamento, uma vez que a
epidemiológicos retratam o crescimento do nú- maioria dos programas de tratamento de depen-
mero de usuários de drogas lícitas e ilícitas, com dência química recusa-se a admitir pacientes que
a facilidade de acesso propiciando o início cada ainda estejam usando drogas. A exigência de que o
vez mais precoce do uso na vida 9,16,17. A cri- indivíduo deve primeiro abster-se a fim de receber
minalização do porte e do consumo de drogas o tratamento que visa manter a abstinência exem-
ilícitas tem se revertido em sobrecarga ao sis- plifica uma abordagem de “alta exigência”, a qual
tema de justiça, onerando-o tanto pela lotação muitas vezes torna-se um obstáculo para aqueles
de unidades prisionais quanto pelo aumento de que procuram ajuda” 19 (p. 46).
investimentos financeiros para a militarização Uma das limitações apontadas para o mode-
das ações policiais de “combate” às drogas 12. lo de atenção à saúde baseado exclusivamente
A ênfase na redução da oferta de drogas, por na abstinência refere-se ao fato de esta condição
meio da criminalização tanto do tráfico quanto representar uma importante barreira ao acesso
do uso de drogas ilícitas, conferiu uma importân- das pessoas que fazem uso prejudicial ou apre-
cia secundária à redução da demanda promovida sentam dependência de drogas às instituições de

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saúde 19. A alta exigência em torno da abstinên- deada pela constatação do aumento dos proble-
cia implica ainda censuras e recriminações aos mas relacionados às drogas em um país até então
episódios de recaída ou reincidência ao uso de aderente ao discurso proibicionista e às medidas
drogas, tornando as instituições de saúde espa- de repressão ao tráfico e ao consumo de drogas
ços pouco acolhedores àqueles estigmatizados ilícitas. No ano de 1972, o Comitê de Narcóticos
como “fracos”, “vagabundos”, “sem-vergonha”, da Holanda publicou um documento que defi-
“imorais”. nia que a política de drogas deveria ser coeren-
O modelo de atenção à saúde de usuários de te com os riscos associados ao uso das drogas.
álcool e outras drogas construído com base na ra- Em 1976, foi aprovada a Lei Holandesa do Ópio,
cionalidade proibicionista caracteriza-se, então, que distinguia as drogas de “risco inaceitável” à
pelo autoritarismo das intervenções propostas. saúde (heroína, cocaína, anfetaminas e LSD) e
A criminalização dos usuários de drogas reper- as drogas de “menor risco” (maconha e haxixe).
cute na garantia de direitos sociais e de cidada- Com essa medida política, buscava-se proteger
nia, dentre os quais o de livre acesso aos serviços os usuários de drogas de “menor risco” ou “leves”
de saúde e tratamento e mesmo o de fazer uso de dos ambientes de tráfico e das relações com os
drogas em condição não prejudicial ao indivíduo usuários de drogas “pesadas”, pressupondo que
e à sociedade. A despeito das crescentes críticas tais relações poderiam conduzir o usuário de
a este modelo de atenção, ele mantém-se hege- drogas “leves” ao consumo de substâncias mais
mônico nos Estados Unidos 6,9,13 e fortemente prejudiciais. O comércio das drogas “leves” foi
influente na Suécia, Japão, Cingapura, Malásia e legalizado em espaços conhecidos como “cafete-
alguns outros países asiáticos 20. rias” (coffeeshops), onde a maconha ou o haxixe
A hegemonia do discurso político proibicio- ali adquiridos podem ser consumidos no próprio
nista em relação às drogas não impediu, contudo, local 19.
a emergência de um enfoque político alternativo, Na década de 1980, o movimento social de
contra-hegemônico 7,8. A este respeito, Ribeiro & usuários e dependentes de drogas fundou, em
Araújo 14 (p. 464) pontuam que “historicamente, Roterdã, a Liga de Dependentes ou Junkies
os países europeus sempre defenderam a redução (a Junkiebond), que passou a reivindicar melho-
da demanda como política preferencial, em detri- rias das condições de saúde e de qualidade de
mento de políticas fortemente centradas na redu- vida dos usuários de drogas. Por intermédio des-
ção de oferta”. Ainda que tal enfoque político não ta organização política, estabeleceu-se a inter-
seja consenso em toda Europa, esta se constituiu locução entre os usuários de drogas e o governo
no berço da redução de danos como uma alter- holandês com a discussão de questões como a
nativa de saúde pública aos modelos de atenção disponibilização de seringas e agulhas esteriliza-
fundamentados exclusivamente na abstinência das e o tratamento de manutenção de metado-
19,20. A Holanda e o Reino Unido desenvolveram na. Em 1984, foi lançado o primeiro programa de
iniciativas precursoras do modelo de redução de troca de seringas e agulhas em Amsterdã, que foi
danos, que se consolidou, na década de 1990, consideravelmente ampliado nos anos seguintes
pelo impacto produzido na prevenção de trans- à medida que a epidemia da AIDS avançava e o
missão do HIV/AIDS entre usuários de drogas risco de infecção pelo HIV, em decorrência do
injetáveis (UDI) 8,11. compartilhamento desses recursos entre os UDI,
Os princípios da redução de danos se sus- apresentava-se fortemente evidenciado 19. O êxi-
tentam no pragmatismo de que o consumo de to da experiência holandesa na diminuição de
drogas sempre esteve e sempre estará presen- casos de infecção por HIV entre UDI contribuiu
te na história da humanidade 7,8,11,19. Assim, o para a popularização da estratégia de redução de
ideário de uma sociedade livre de drogas perde danos em outros países 8,11.
por completo o seu sentido. Se o consumo de No Reino Unido, as primeiras intervenções
drogas não pode ser suprimido da sociedade, na área de saúde referidas como precursoras do
é possível traçar estratégias para reduzir os da- movimento de redução de danos datam da déca-
nos a ele relacionados, tanto para os usuários da de 1920. Em 1926, um grupo de médicos reco-
quanto para a coletividade. Esse enfoque tem mendou a prescrição de drogas como a heroína
sido apontado como aquele que confere maior e cocaína para usuários dependentes com o pro-
racionalidade ao enfrentamento da questão das pósito de reduzir os danos de seu uso e assim
drogas, propiciando, por exemplo, compreen- melhorar a sua qualidade de vida. A prescrição
der o consumo de drogas como um problema de drogas não foi aprovada como uma política
de saúde pública e o tráfico como um problema pública, predominando no país o enfoque proi-
jurídico-policial 7,9,11,19. bicionista, mas continuou sendo praticada pe-
A reforma na política pública de drogas na lo Departamento de Saúde de Merseyside, que
Holanda teve início na década de 1970, desenca- atendia à população da cidade de Liverpool. Com

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a epidemia da AIDS, na década de 1980, a pres- entre usuários assistidos por programas comu-
crição de drogas para dependentes ganhou novo nitários de redução de danos e a ampliação do
impulso como estratégia de redução de danos acesso a ações e serviços de saúde de um modo
entre UDI 18,19,21. geral 19,20,22.
A prescrição de drogas para dependentes co- O tratamento orientado pela lógica da redu-
mo estratégia de redução de danos pauta-se em ção de danos é descrito como de “baixa exigên-
algumas premissas. Entende-se que a prescri- cia”, por não exigir dos usuários a abstinência
ção reduz os sintomas da abstinência e constitui como um pré-requisito obrigatório, o que não
uma espécie de atrativo ao tratamento oferecido significa, todavia, que o enfoque da redução de
aos usuários de drogas, contribuindo, inclusive, danos contraponha-se à abstinência como um
para a adesão a ele. Outra função atribuída a resultado ideal ao tratamento 13,19,23,24. Ao invés
esta estratégia seria o estabelecimento de “me- de estabelecer a abstinência como única meta
tas intermediárias” no processo de mudança aceitável da prevenção e do tratamento, a re-
no padrão de consumo de drogas, de forma a dução de danos concilia o estabelecimento de
reduzir gradualmente os danos relacionados. metas intermediárias. O foco desta abordagem
Para aqueles usuários dependentes que não po- está na adoção de estratégias para minimizar os
diam ou não desejavam alcançar a abstinência, danos sociais e à saúde relacionados ao consumo
a prescrição de drogas teria a função de lhe pro- de drogas, mesmo que a intervenção não pro-
porcionar redução de danos e qualidade de vida. duza uma diminuição imediata do consumo. A
De acordo com Fonseca & Bastos 18, a prescri- atenção centra-se nas necessidades sociais de
ção de metadona contempla 98% dos usuários saúde do usuário, que precisa ser engajado de
britânicos de heroína que realizam tratamento forma respeitosa no delineamento das metas pa-
“não abstinente”. ra o tratamento buscado 7,19.
Se o movimento social dos usuários de drogas As experiências em redução de danos nos pa-
exerceu grande importância para a construção e íses que têm assumido este enfoque na revisão
consolidação do modelo holandês de redução de de suas políticas públicas de drogas evidenciam a
danos, o êxito da experiência inglesa tem sido re- diversidade de intervenções possíveis para dimi-
metido, em parte, à articulação estabelecida com nuir os danos que o uso de drogas pode acarretar
a polícia 19,20. Esta, ao invés de restringir o seu pa- ao usuário, a sua família e a comunidade em que
pel à repressão ao consumo de drogas, passou a vive 8. Tal diversidade, por sua vez, mantém es-
atuar em aliança e cooperação com os serviços de treita relação com o contexto sócio-político e sa-
saúde, oferecendo apoio público aos programas nitário de cada país que adota políticas e progra-
de troca de seringas e encaminhando usuários mas de redução de danos. Ressaltam-se, ainda,
infratores para tratamento. A articulação com a as transformações culturais transversais a essas
rede de farmácias para a distribuição gratuita de experiências, tendo em vista uma releitura social
seringas e agulhas estéreis, ampliando o acesso da questão das drogas e o reconhecimento do
dos usuários a esses recursos, também merece uso prejudicial e dependência como um proble-
destaque pela sua relevância ao programa inglês ma de saúde pública. Os caminhos percorridos
de redução de danos. Para Marlatt 19, a organiza- por cada país para a construção de um modelo
ção política de usuários de drogas e a articulação de atenção à saúde de usuários de álcool e outras
do sistema de saúde com outros dispositivos e drogas podem, então, ser compreendidos como
setores sociais são aspectos que caracterizam a processos históricos singulares. Com base nesse
redução de danos como uma política construída pressuposto, passa-se à análise da experiência
de “baixo para cima”, tendo em vista que o desen- do Brasil na atenção às questões relacionadas ao
volvimento de programas de redução de danos consumo de álcool e outras drogas.
local ou regional tem precedido, em muitos ca-
sos, a formulação de políticas públicas de drogas
referenciadas em seus princípios. Políticas públicas de drogas no Brasil:
Os receios que alimentaram desconfianças e entre o discurso proibicionista e o
resistências em relação às estratégias de redução enfoque da redução de danos
de danos nos anos iniciais de sua implantação
não foram confirmados. O aumento desenfrea- O Brasil consta entre os países signatários das
do do consumo de drogas ilícitas e a escalada do convenções internacionais para a repressão ao
uso de drogas “leves” para as drogas “pesadas”, tráfico e ao uso de drogas ilícitas, o que repercu-
por exemplo, são fenômenos não observados tiu na formulação de uma política de drogas na-
nos países e regiões que adotaram a perspectiva cional alinhada ao discurso proibicionista 5,25,26.
da redução de danos 8. Em contrapartida, cons- A partir da década de 2000, as políticas públicas
tata-se o aumento da demanda por tratamento de drogas brasileiras têm-se apresentado perme-

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áveis ao enfoque da redução de danos, favore- o discurso normativo da lei, a criação de serviços
cendo o delineamento de um modelo de atenção especializados para a atenção ao uso prejudicial
de usuários de álcool e outras drogas orientado e dependência de drogas não configura uma de-
por essa racionalidade 27,28. terminação legal, mas sim uma recomendação,
As primeiras intervenções do Estado brasi- fato que evidencia uma importância secundária
leiro de repressão às drogas datam do início do às ações de saúde em detrimento à repressão da
século XX, quando a venda de ópio e seus deriva- oferta/demanda de drogas.
dos e de cocaína foi proibida e a pena de prisão Ainda em relação à atenção à saúde, a Lei nº.
prevista aos infratores 25. Na década de 1920, a 6.368/1976 detalha que “o tratamento sob regime
legislação penal propunha a internação compul- de internação hospitalar será obrigatório quando
sória em estabelecimento correcional adequado, o quadro clínico do dependente ou a natureza de
por tempo indeterminado, dos denominados to- suas manifestações psicopatológicas assim o exi-
xicômanos. Na década de 1930, foi promulgada a girem” (art.10). O tratamento extra-hospitalar em
Lei de Fiscalização de Entorpecentes (Decreto-Lei serviços públicos ou privados estava previsto pa-
nº. 891/1938) que expressava claramente o posi- ra os casos em que a internação não fosse neces-
cionamento proibicionista do Estado brasileiro sária. A despeito da vigência da lei, os primeiros
em relação às drogas. O conteúdo deste decre- serviços extra-hospitalares especializados na as-
to-lei, posteriormente incorporado ao artigo 281 sistência aos usuários de drogas ilícitas começa-
do Código Penal de 1940, criminalizava o porte ram a ser criados no Brasil somente na segunda
de drogas ilícitas independentemente da quan- metade da década de 1980 31. Considerando-se a
tidade apreendida e da intenção de consumo lacuna da rede extra-hospitalar para esta atenção
próprio ou tráfico, sem distinção da penalização especializada e a restrição do acesso ao sistema
prevista para uma ou outra circunstância 25,26. de saúde aos contribuintes previdenciários, não
Na década de 1970, as medidas de prevenção e é difícil entender que a internação em hospitais
de repressão ao tráfico e uso de drogas ilícitas psiquiátricos tenha se constituído, naquele mo-
instituídas pela legislação brasileira estavam em mento histórico, como único recurso terapêutico
plena concordância com as resoluções das duas possível a uma importante parcela de usuários
primeiras Convenções-Irmãs da ONU, realizadas de álcool e outras drogas.
em 1961 e 1971. Na década de 1980, foi instituído o Sistema
No que concerne às intervenções de saúde, a Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repres-
Lei nº. 5.726/1971 29 não faz qualquer referência são de Entorpecentes, que deveria ser compos-
ao tratamento para a população usuária de dro- to pelo conjunto de órgãos e entidades da ad-
gas, exceto daqueles referidos como “infratores ministração pública que exerciam atividades
viciados”. Estes correspondiam àqueles que, em correlatas 32. Entre os objetivos deste sistema,
razão do “vício”, não possuíam condições de constava o de formular a Política Nacional de
discernimento acerca do caráter ilícito de seu Entorpecentes através do Conselho Federal de
ato ou de determinar-se de acordo com esse Entorpecentes (CONFEN), seu órgão central.
entendimento. Como medidas de “recuperação Embora a atuação do CONFEN tenha privile-
aos infratores viciados”, previa-se a determina- giado as atividades de repressão à produção, tráfi-
ção judicial de “internação em estabelecimento co e consumo de drogas, a relevância de algumas
hospitalar para tratamento psiquiátrico pelo iniciativas do órgão para o desenvolvimento de
tempo necessário à sua recuperação” (art. 10). práticas de atenção ao consumo de álcool e ou-
Com esta medida, o que prevalecia não era o tras drogas no cenário brasileiro é assinalada por
direito à saúde, com a garantia de tratamento à Machado 31. Dentre as iniciativas ressaltam-se o
dependência de drogas, mas sim a “reabilitação apoio aos centros de referência em tratamento,
criminal do viciado” (art. 13). pesquisa e prevenção na área de álcool e outras
A Lei nº. 6.368/1976 30 amplia, em certa me- drogas, às comunidades terapêuticas e aos pro-
dida, a abordagem sobre o tratamento e a recu- gramas de redução de danos voltados para a pre-
peração de usuários de drogas. A assistência à venção da transmissão do HIV/AIDS entre UDI.
saúde passa a ser considerada não apenas para Os centros de referência começaram a ser
os “viciados infratores”, mas para os “dependentes criados na década de 1980, em sua maioria vin-
de substâncias entorpecentes”. A lei afirma que culados a universidades públicas. Esses centros
as redes dos serviços de saúde dos Estados, Ter- voltavam-se ao desenvolvimento de ações de
ritórios e Distrito Federal contarão, sempre que prevenção e assistência especializada ao uso
necessário e possível, com estabelecimentos pró- abusivo de álcool e outras drogas, formação de
prios para tratamento dos dependentes de subs- profissionais qualificados para o atendimento de
tâncias entorpecentes ou que determinem de- dependentes químicos e realização de estudos
pendência física ou psíquica. Em contraste com e pesquisas sobre o consumo de álcool e outras

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drogas, as ações de prevenção, o tratamento clí- gas deveria ser feita pela SENAD e aprovada,
nico e a redução de danos. Como a ênfase dos acompanhada e atualizada pelo CONAD, órgão
centros de referência estava na produção de normativo e de deliberação coletiva do sistema.
conhecimento técnico-científico e formação A participação do Ministério da Saúde na cons-
de recursos humanos, muitos apresentavam trução desta política efetua-se pela sua repre-
uma oferta restrita de tratamento à população sentação, por intermédio da Coordenação de
e funcionavam de forma pouco articulada com Saúde Mental e do órgão de Vigilância Sanitária,
o sistema público de saúde 31. Em contraparti- no CONAD. O espaço institucional, que propicia
da, os levantamentos epidemiológicos sobre o o encontro entre representações de segmentos
consumo de álcool e outras drogas na população antidrogas e de atenção à saúde (governamental
brasileira e o estudo sobre as experiências euro- e não governamental), mostrou-se particular-
péias de prevenção da AIDS entre UDI segundo a mente fecundo para a construção da política de
abordagem de redução de danos realizados pelos drogas brasileira.
centros de referência exerceriam grande reper- A partir do ano de 2000, podem ser obser-
cussão na política de drogas em décadas futuras. vadas mudanças significativas no conteúdo da
As comunidades terapêuticas, em sua maio- legislação brasileira sobre drogas. Por mais que
ria instituições de natureza não governamental, ela permaneça alinhada ao discurso proibicio-
começaram a ser criadas no país na década de nista, a atenção à saúde deixa de ser uma es-
1970 e tiveram seu número expandido na década pécie de apêndice dessa política e se torna um
de 1990 31,33. O fenômeno de criação e expansão tema cada vez mais relevante, ainda que persis-
deste recurso terapêutico tem sido remetido à tam as contradições imanentes de uma estru-
própria lacuna assistencial no setor público de tura político-organizacional militarizada para
saúde na área de álcool e outras drogas. O apoio o enfrentamento das questões relacionadas às
do CONFEN a tais instituições deu-se mediante drogas. Uma importante mudança refere-se à
a deflagração de discussão sobre a normatização distinção feita entre as atividades antidrogas e
de seu funcionamento, objetivando promover a aquelas de prevenção, tratamento, recuperação
adequação técnica e ética da assistência prestada e reinserção social, conferindo maior destaque
por esses estabelecimentos a usuários de álcool e a estas últimas 36.
outras drogas e às suas famílias. A Lei nº. 10.409/2002 37 afirma que “o trata-
Das iniciativas do CONFEN, a mais contun- mento do dependente ou usuário será feito de
dente para as práticas de atenção à saúde na área forma multiprofissional e, sempre que possível,
de álcool e outras drogas certamente foi seu po- com a assistência de sua família” (art. 12, § 1o). A
sicionamento favorável, em 1994, à implementa- referência às ações de redução de danos sociais
ção no país de programas de redução de danos e à saúde é feita pela primeira vez na legislação
mediante a troca de seringas entre UDI 31. Ao cri- brasileira sobre drogas, cabendo ao Ministério da
minalizar práticas interpretadas como indução, Saúde a sua regulamentação. Com vários de seus
incentivo, instigação, auxílio ou difusão do uso artigos vetados, a vigência desta lei não revogou
de drogas, a Lei nº. 6.368/1976 instituía barreiras por completo a Lei nº. 6.368/1976, especialmente
legais à implantação dos programas. Ademais, di- no que se refere à criminalização do porte de dro-
versos setores da sociedade civil manifestavam- gas ilícitas para consumo próprio.
se resistentes à abordagem da redução de danos. A Política Nacional Antidrogas, instituída pe-
Em 1998, o CONFEN foi extinto e transforma- lo Decreto nº. 4.345/2002, retrata o uso indevido
do em Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) de drogas como uma ameaça séria e persisten-
34. O Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização te à humanidade e à vida em sociedade, asso-
e Repressão de Entorpecentes foi transforma- ciando-o ao tráfico de drogas e a outros crimes e
do em Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD), modalidades de violência 27. O texto da política
sendo mantidos, entretanto, os seus objetivos 35. justifica a adoção de uma postura firme do Es-
Neste rearranjo organizacional da estrutura polí- tado brasileiro de combate às drogas. Entre seus
tica para enfrentamento das questões relaciona- pressupostos básicos, destaca-se aquele que
das às drogas, cria-se a Secretaria Nacional Anti- traduz a essência da perspectiva proibicionista
drogas (SENAD), o órgão executivo do sistema. A em relação às drogas: “buscar, incessantemente,
declaração de guerra às drogas e o ideário de uma atingir o ideal de construção de uma sociedade
sociedade livre de drogas, reiterados durante a livre do uso de drogas ilícitas e do uso indevido de
UNGASS, foram assimilados pela política brasi- drogas lícitas”.
leira na extensão “antidrogas” conferida às suas A despeito da forte influência do discurso
instituições e à política nacional de drogas. proibicionista na formulação da Política Nacio-
Nesta nova estrutura político-organizacio- nal Antidrogas, o acúmulo de experiências na im-
nal, a proposição da Política Nacional Antidro- plementação de programas de redução de danos

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na atenção à saúde de UDI e a pressão política NAD aprovou, em 2005, a Política Nacional sobre
exercida por profissionais e militantes na área Drogas 35. Tal política se orienta para a redução
contribuíram, de forma incisiva, para a permea- da oferta (ações de prevenção e repressão ao trá-
bilidade dessa política ao enfoque da redução de fico de drogas ilícitas), a redução da demanda
danos 31. Nesta perspectiva, a política de drogas de drogas (prevenção, tratamento, recuperação e
brasileira aproxima discursos antagônicos. Por reinserção social) e a redução de danos. O enfo-
um lado, compartilha do discurso proibicionista que da redução de danos aparece com força ain-
legitimado por convenções internacionais quan- da maior nessa nova versão do texto da política, o
to à redução da oferta e da demanda de drogas, que se faz notável naquela que talvez represente
mediante mecanismos de repressão e criminali- a mudança mais expressiva na trajetória discursi-
zação da produção, tráfico e porte de drogas ilíci- va das políticas públicas sobre drogas no Brasil: o
tas. Por outro lado, mostra-se aderente à aborda- discurso quanto ao ideal de uma “sociedade livre
gem de redução de danos. de drogas” 27 dá lugar ao ideal de uma “sociedade
Alguns pressupostos básicos da Política protegida do uso de drogas ilícitas e do uso inde-
Nacional Antidrogas mostram-se de grande re- vido de drogas lícitas” 38.
levância para a construção de um modelo de Em relação à atenção à saúde, a Política Na-
atenção à saúde de usuários de álcool e outras cional sobre Drogas converge com a política do
drogas orientado pela lógica da redução de da- Ministério da Saúde ao reiterar o objetivo de im-
nos e compromissado com a garantia de seus plantar e pôr em prática uma rede de assistên-
direitos de cidadania. Assim, propõe-se reconhe- cia a indivíduos com transtornos decorrentes do
cer as diferenças entre usuário, a pessoa em uso consumo de substâncias psicoativas. Admite-se
indevido ou dependente e o traficante de dro- que o tratamento, recuperação e reinserção so-
gas, considerando-se que esta distinção implica cial devem resultar da configuração de uma rede
abordagens igualmente diferenciadas. Ademais, assistencial integrada e articulada, constituída
refere-se como necessário evitar a discrimina- por instituições governamentais e não governa-
ção de indivíduos pelo fato de serem usuários ou mentais do setor saúde e da assistência social:
dependentes de drogas e garantir o seu direito à unidade básica de saúde, ambulatórios, Centro
atenção à saúde especializada. de Atenção Psicossocial, CAPsad, comunidades
Com a formulação da Política do Ministério terapêuticas, grupos de auto-ajuda e ajuda mú-
da Saúde para Atenção Integral a Usuários de tua, hospitais gerais e psiquiátricos, hospital-dia,
Álcool e outras Drogas, em 2003, admite-se o serviços de emergência, corpo de bombeiros, clí-
atraso histórico de inserção do uso prejudicial nicas especializadas, casas de apoio e convivên-
e/ou dependência do álcool e outras drogas na cia e moradias assistidas.
agenda da saúde pública 28. Afirma-se a respon- Todavia, enquanto a política do Ministério da
sabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em Saúde se posiciona em favor da construção de
garantir atenção especializada aos usuários de um modelo de atenção orientado pela lógica da
álcool e outras drogas, até então contemplada redução de danos, a Política Nacional sobre Dro-
predominantemente por instituições não gover- gas admite e incentiva a coexistência de distintos
namentais, como as comunidades terapêuticas e modelos de atenção à saúde de usuários de álco-
os grupos de auto-ajuda e de ajuda mútua 33. As ol e outras drogas. A explicação para este esforço
diretrizes da política setorial de saúde prevêem a de conciliação entre racionalidades divergentes
construção de uma rede de atenção a usuários de no que se refere ao conteúdo e à organização das
álcool e outras drogas valendo-se da implemen- práticas de saúde pode ser remetida ao conflito
tação de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e de interesses entre representantes dos diferen-
outras Drogas (CAPSad), que desempenham pa- tes modelos assistenciais no país. A este respeito,
pel estratégico de ordenamento da rede em seu Machado 31 assinala a participação das federa-
território de atuação, promovendo a articulação ções das comunidades terapêuticas e de profis-
necessária entre os mais variados dispositivos sionais e militantes de programas de redução
comunitários sociais e de saúde para a integra- de danos no processo de formulação da Política
lidade da atenção e inclusão social de usuários e Nacional sobre Drogas. A política do Ministério
familiares acompanhados. Espera-se que o con- da Saúde, inscrita no escopo da Política de Saúde
teúdo das práticas de atenção aos usuários de Mental, contrapõe-se claramente ao modelo de
álcool e outras drogas apresente embasamento atenção baseado na internação em hospital psi-
na concepção ampliada de redução de danos e quiátrico ou em comunidade terapêutica tendo
compromisso com os direitos de cidadania dos em vista a abstinência como meta exclusiva do
usuários de álcool e outras drogas. tratamento.
A Política Nacional Antidrogas passou por um No realinhamento discursivo da Política Na-
processo de realinhamento discursivo e o CO- cional sobre Drogas, a estrutura político-orga-

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nizacional para enfrentamento das questões re- atenção e reinserção social de usuários e depen-
lacionadas às drogas, até então adjetivadas an- dentes de drogas a afirmação de um modelo de
tidrogas, tiveram suas instâncias recentemente atenção coerente com a abordagem da redução
renomeadas. O Sistema Nacional Antidrogas de danos e com a promoção da cidadania. Em
passou a ser denominado Sistema Nacional de razão disso, esta legislação aponta para a reorien-
Políticas Públicas sobre Drogas 39; o Conselho tação de um modelo de atenção referenciado na
Nacional Antidrogas, Conselho Nacional de Po- abstinência como objetivo terapêutico exclusivo,
líticas sobre Drogas; e a Secretaria Nacional An- na segregação sócio-familiar e na exclusão social
tidrogas, Secretaria Nacional de Políticas sobre de usuários e dependentes de drogas, que ainda
Drogas 40. Os objetivos desta estrutura e de seus se faz expressivo no país.
órgãos constituintes permanecem mantidos,
embora seja perceptível uma transformação
da compreensão da problemática das drogas Considerações finais
e, conseqüentemente, das respostas do Estado
diante dela. As vicissitudes na trajetória discursiva das po-
A concepção do problema das drogas no líticas públicas de drogas no Brasil decorrem
discurso político emergente mostra-se cada vez de tensionamentos entre fatores externos e in-
mais ampliada. Nesse cenário, as drogas deixam ternos. Por um lado, o compromisso do país,
de ser referidas como uma ameaça para serem mediante firmamento de acordos e convenções
reconhecidas como um problema social com- internacionais, com o combate ao tráfico e con-
plexo a ser enfrentado com políticas públicas sumo de drogas ilícitas lhe confere um posicio-
intersetoriais e políticas setoriais específicas, namento de guerra às drogas com adoção de
integrando de forma equilibrada estratégias na- ações repressivas intensamente militarizadas.
cionais e internacionais de repressão à produção Em outra vertente, questionamentos internos
e ao tráfico de drogas e de prevenção, atenção à sobre o conteúdo da legislação brasileira, par-
saúde e reinserção social de usuários e depen- ticularmente no que se refere à abordagem do
dentes de drogas. consumo de drogas lícitas e ilícitas como um
A nova legislação brasileira sobre drogas problema de saúde pública – e não mero pro-
– a Lei nº. 11.343/2006 41, que revoga a Lei nº. blema jurídico-policial – repercutiram na des-
10.409/2002 e a Lei nº. 6.368/1976 – apresenta al- penalização da conduta dos usuários 5. Embora
guns avanços historicamente significantes e re- o porte de drogas ilícitas para consumo próprio
veladores de um posicionamento político mais ainda constitua um crime, admite-se o direito
moderado em relação às drogas. Se por um lado de cidadania aos usuários de drogas, inclusive o
as atividades de repressão à produção não autori- de fazer consumo com redução de danos sociais
zada e ao tráfico ilícito de drogas são acentuadas, e à saúde e o de acesso aos bens e serviços de
com definição de novos crimes correlatos e o au- saúde pública.
mento das penalidades previstas; por outro lado, A despeito dos avanços, há ainda muitas pá-
distingue a condição de usuários e dependentes ginas a serem escritas e revisadas na história das
de drogas e aborda, de forma mais extensiva que políticas públicas brasileiras de drogas. No que se
as leis anteriores, as atividades de prevenção ao refere à atenção à saúde, a estruturação e fortale-
uso indevido, atenção à saúde e reinserção social. cimento de uma rede pública de saúde especiali-
Outra mudança expressiva refere-se ao estabele- zada na assistência a usuários de álcool e outras
cimento de penas alternativas ao crime definido drogas e às suas famílias, centrada na atenção
como porte de drogas para consumo pessoal. comunitária, orientada pela concepção amplia-
A lógica da redução de danos apresenta-se da de redução de danos e articulada com outras
transversal ao texto da nova legislação sobre dro- redes de serviços sociais e de saúde constitui, na
gas 41. Assim, espera-se que as atividades de pre- atualidade, um importante desafio. Para a reo-
venção do uso indevido de drogas sejam orienta- rientação do modelo de atenção na área de álcool
das para a redução dos fatores de vulnerabilidade e outras drogas, o setor público de saúde aposta
e risco e para a promoção e o fortalecimento dos na implantação dos CAPSad. Dos 250 serviços
fatores de proteção. As atividades de atenção aos propostos pela política do Ministério da Saúde,
usuários e dependentes de drogas e suas famí- 182 foram implantados até outubro de 2008 42,
lias são definidas como aquelas que objetivam mas para além deste quantitativo ressalta-se a
a melhoria da qualidade de vida e a redução dos relevância de compreensão dos saberes e das
riscos e danos associados ao uso de drogas. Para práticas de saúde em construção com base neste
a reinserção social destes sujeitos, almeja-se a dispositivo assistencial estratégico.
sua integração ou reintegração em redes sociais.
Depreende-se dessas concepções em torno da

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Resumo

O presente artigo tem por objetivo caracterizar os mo- reorientação do modelo de atenção à saúde. Conclui-se
delos de atenção à saúde de usuários de álcool e outras que a estruturação e o fortalecimento de uma rede de
drogas existentes no contexto brasileiro. Para tanto, atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas
realizou-se uma análise do discurso de políticas públi- e às suas famílias, centrada na atenção comunitária,
cas de drogas no Brasil a partir da década de 1970. Tal orientada pela concepção ampliada de redução de da-
análise foi contextualizada por uma breve digressão nos e articulada com outras redes de serviços sociais e
sobre os principais posicionamentos políticos identi- de saúde constitui, na atualidade, um importante de-
ficados entre países do mundo para o enfrentamento safio à saúde pública.
de questões relacionadas ao consumo de substâncias
psicoativas. As políticas públicas brasileiras de drogas Alcoolismo; Transtornos Relacionados ao Uso de Subs-
apresentam-se, a partir da presente década, permeá- tâncias; Redução do Dano; Políticas Públicas
veis ao enfoque da redução de danos, repercutindo na

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