Você está na página 1de 6

Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras.

OPlNIAO / ATIJALJCZAÇÃO
Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002
OPINlON / CURIRENT COMENTS

ESCOLA PROMOTORA DA SAUDE: UMA CONSTRUÇÃO


INTERDISCIPLINAR E INTERSETORIAL

HEALTH PROMOTING SCHOOL: AÍ INTERDISCIPLINARY


AND INTERSECTORIAL CONSTRUCTION

Dais Gonçalves Rocha 1


Vânia Cristina Marcelo 2
Isabel M. T; Bicudo Pereira 3

ROCHA, D. G.; MARCELO, V. C.; PEREIRA, I. M. T. B. Escola promotora da saúde: uma


construção interdisciplinar e intersetorial. Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., São Paulo, 12(1),
2002.

Resumo: As construções do conceito e do projeto de Escola Promotora da Saúde são trabalha-


das sob a Ática da Promoção da Saúde, a partir das concepções da Carta de Ottawa de 1986,
enfocandose, predominantemente os aspectos de interdisciplinaridade e intersetorialidade. Es-
tas construções são vistas como uma possibilidade concreta, levando-se em conta a realidade da
implantação dos Parametros Curriculares Nacionais no Brasil e da possibilidade de se entender
a saúde dos indivíduos e das coletividades como um recurso que favorece às pessoas o controle
de suas vidas.

Palavras~chave: educação; saúde; escola promotora de saúde; interdisciplinaridade;


intersetorialidade.

Neste ensaio, fruto da experiência das au- Com efeito, nas escolas chegam diferentes
toras com o desenvolvimento de ações no ambien- equipes das diversas áreas do setor saúde: equipe
te escolar e das reflexões promovidas pelas leitu- da saúde ocular, saúde bucal, prevenção das doen-
ras referentes ao tema, busca-se explicitar algumas ças sexualmente transmissíveis, saúde da família,
questões, inquietudes e impressões sobre a inter- além de outras como meio ambiente, trânsito, po-
disciplinaridade e a intersetoriedade enquanto ele- lícias civil e militar, etc. Esta avalanche de proje-
mentos fundamentais para o desenvolvimento da tos é proposta à escola de forma desarticulada,
proposta de Escolas Promotoras de Saúde. muitas vezes com superposição das ações e com
Uma crítica freqüente aos programas e diretrizes e intencionalidades díspares.
ações de saúde no ambiente escolar é a de que O que se busca aqui não é caracterizar
estes são propostos, em sua maioria, pelos profis- as práticas vigentes, mas apresentar alguns dos
sionais do setor saúde, de forma verticalizada e princípios da Promoção da Saúde que podem
desvinculados dos conteúdos programáticos do contribuir ou dar pistas de como mudar esta
currículo escolar. A equipe da saúde costuma en- realidade.
trar na escola “comunicando” o que deve ser fei- O conceito de Promoção da Saúde traba-
to pelos professores para que os alunos tenham lhado é aquele apresentado na Carta de Ottawa
mais saúde. (OMS, 1986):

1 Profa. Dra. Faculdade de Odontologia de Anápolis - GO. (dgrock@starmedia.com)


2 Profa. Dra. Faculdade de Odontologia/UFG. (vaniacm@cultura.com.br)
3 Profa. Dra. Faculdade de Saúde Pública/USP. (claianny@usp.br)

–57 –
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002

“Promoção da Saúde é o processo de ca-


pacitação da comunidade na melhoria da demais ambientes onde vive a comunidade esco-
sua qualidade de vida e saúde, incluíndo lar. É a própria Organização Panamericana de
a maior participação no controle deste pro- Saúde (OPS, 2001 ) que coloca como necessários
cesso.” para a implementação da promoção da saúde nas
escolas uma educação com enfoque integral, a
A assunção deste conceito delineia uma criação de ambientes e entornos saudáveis, o pla-
nova forma de atuar no processo saúde-doença nejamento e oferta de serviços de saúde e alimen-
no interior de uma sociedade. KICKBUSCH tação. Rompe-se, assim, com programas setoriais,
(1996) afirma que a saúde, na perspectiva da Pro- de caráter meramente informativo, que têm como
moção da Saúde, passa a ser considerada “um re- objetivo principal a mudança de comportamen-
curso aplicável à vida cotidiana e não como o tos individuais no enfrentamento de determina-
objetivo desta vida; é um conceito positivo que dos problemas de saúde e que levam, muitas ve-
se apoia nos recursos sociais e pessoais e, tam- zes, à culpabilização da vítima, sem oferecer
bém, na capacidade física.” condições concretas de superação dos problemas.
A medida que se repensa o conceito de saú- Já há algumas décadas, no Brasil, estas
de, esta deixa de ser tão somente uma tarefa dos idéias perrneiam o discurso daqueles profissio-
profissionais de saúde e o indivíduo não é visto nais que atuam como educadores de saúde mais
isoladamente do contexto em que vive. A saúde críticos. Com a difusão, sistematização dos prin-
compreendida enquanto recurso que pode favo- cípios da promoção da saúde, publicações cientí-
recer às pessoas assumirem os destinos de suas ficas e relatos de experiências na perspectiva de
vidas e da sociedade em que vivem, está vincula- Ottawa, vêm aumentando o número de propostas
da à visão de que ela é tanto uma responsabilida- e de adeptos desta idéia.
de individual quanto uma responsabilidade polí- Uma destas propostas é a de escolas pro-
tica e social de uma dada sociedade. motores de saúde, que seriam escolas que:
As propostas de atuação dentro da escola,
orientadas pelos conceitos de Promoção da Saú- “Contam com um edifício seguro e
de, ao não isolarem os indivíduos e comunidades confortável, com água potável e com ins-
de seus contextos, fazem com que os programas talações sanitárias adequadas e uma at-
considerem a diversidade dos indivíduos e as par- mosfera psicológica positiva para a apren-
ticularidades de cada realidade. Estas requerem o dizagem, que fomentam o desenvolvimento
conhecimento dos recursos locais com os quais humano saudável e as relações humanas
se poderá contar; assim, o primeiro passo é a iden- construtivas e harmônicas e que promo-
tificação da rede de circunstâncias que faz com vem aptidões e atitudes positivas à saúde.
que uma escola tenha mais ou menos recursos, (...). Suas atividades estão orientadas a
dentre eles o recurso saúde. Isto significa o co- formar jovens com espírito critico, capa-
nhecimento e atuação em campos tão distintos zes de refletir sobre os valores, a situação
quanto as políticas que atingem a escola, as for- social e os modos de vida que favorecem a
mas de administração, os recursos locais, espe- saúde e o desenvolvimento humanos.”
cialmente os recursos humanos e vários outros. (OPS, 1998)
Segundo a Organização Panamericana de
Saúde (OPS, 1998): Observa-se nestas citações a visão mais
abrangente de saúde anteriormente apresentada,
“A promoção da saúde na escola forma onde se considera desde o contexto físico (estru-
parte de uma visão mais integral de ser tural e ambiental) até os valores que devem orien-
humano que considera as pessoas, e, em tar a formação dos escolares. TAVARES (1998)
especial, as crianças e os adolescentes relata que:
dentro de seu entorno familiar, comunitá-
rio e social. (...)” “A Organização Mundial de Saúde (OMS),
em Setembro de 1995, convocou para uma
Esta visão mais abrangente convoca todos reunião o Comitê de Experts em Educa-
os setores e instituições para juntos pensarem, co- ção e Promoção Integrais em matéria de
laborarem e assegurarem ações que promovam a Saúde Escolar para que junto às institui-
saúde numa determinada localidade. As ações não ções de educação e saúde e outros orga-
se restringem, exclusivamente, ao ambiente es- nismos, desenvolvessem a promoção da
colar. A escola é considerada o centro da atenção saúde através das escolas. Foi criada, en-
a partir do qual serão incluídos os entornos e os tão, uma Iniciativa Mundial de Saúde Es-

–58 –
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002

colar, cuja meta consiste em aumentar o disciplinas cientifícas e da reformulação


número de instituições escolares que pos- total das estruturas pedagógicas de ensi-
sam ser qualificadas como ‘escolas pro- no, de forma a possibilitar que as diferen-
motoras da saúde”. tes disciplinas se interpenetrem em um pro-
cesso de intensa fecundidade.”
Ainda, segundo TAVARES (1998), o refe-
rido Comitê delineou alguns aspectos que podem Este processo de favorecer a interpe-
caracterizar uma escola promotora da saúde: netração das disciplinas visa, deste modo, supe-
rar a superposição e fragmentação de conteúdos
“1 - Faz com que funcionários da saúde e que são ensinados, de um modo geral, desvin-
educação, professores, sindicatos de pro- culados da realidade cotidiana. As diferentes áreas
fessores, alunos, pais e lideres da comuni- (exatas, humanas, biológicas, artes) desenvolvi-
dade articulem seus esforços para fazer da das isoladamente requerem dos educandos respos-
escola um lugar saudável; tas imediatistas e específicas, não atendendo,
2 - Aplica politicas, práticas e medidas muitas vezes, às suas necessidades de capacita-
que potencializam a auto-estima, garan- ção e instrumentalização para as atividades da vida
tam muitas oportunidades de êxito e reco- diária.
nheçam tanto os bons esforços e intenções, Interdisciplinaridade é aqui, também, en-
quanto os ganhos pessoais; tendida da forma como JAPIASSU (apud PEREI-
3 - Procura proporcionar um entorno sau- RA et al., 1991) a refere:
dável, educação em saúde no âmbito da
saúde escolar e serviços de saúde escolar, “Uma relação de reciprocidade, de
bem como serviços periféricos e projetos mutualidade que pressupõe uma atitude di-
de saúde escolar/comunitários, programas ferente a ser assumida frente ao problema
de fomento à saúde para o pessoal da edu- do conhecimento, ou seja, é a substituição
cação, programas de nutrição e vigilân- de uma concepção fragmentária para uni-
cia dos alimentos, oportunidades de edu- tária do ser humano. É uma atitude de
cação física e recreação e programas de abertura, não preconceituosa onde todo
assessoramento, apoio social e fomento à conhecimento é igualmente importante.
saúde mental; Pressupõe uma atitude engajada, um com-
4 - Procura melhorar a saúde do pessoal prometimento pessoal. Atitude feita de cu-
da escola, da família e demais membros riosidade, de sentido de aventura, de in-
da comunidade para ajudar-lhes a enten- tuição das relações existentes entre as
der como podem ajudar a fomentar a saú- coisas e que escapam à observação co-
de e a educação.” mum.”

O desafio está posto para todos os profis- Acrescentou-se esta segunda definição por
sionais que atuam nesta área: como planejar e de- se entender que a interdisciplinaridade, mais do
senvolver ações, a partir da comunidade escolar, que a integração de disciplinas, requer uma de-
que sejam orientadas por esta visão? terminada postura do educador no fazer pedagó-
A hipótese deste estudo é a de que o exer- gico. Esta deve favorecer o intercâmbio, a coope-
cício da interdisciplinaridade e a intersetoriedade ração, o questionamento de saberes e práticas
como forma de atuação, não só no currículo, mas visando um objetivo comum: a produção de um
em todas as ações desenvolvidas com a comuni- conhecimento vinculado à realidade e significati-
dade escolar, constitui um dos fatores que pode vo para os educandos. Para PEREIRA et al.
favorecer a viabilização da proposta de escolas (1991):
promotoras da saúde.
GONÇALVES (1994), com base em “Buscamos a interdisciplinaridade como
JAPIASSU, define: forma de atuação que implica uma mudan-
ça radical nas relações de trabalho, ca-
“A interdisciplinaridade consiste em um racterizadas pela atuação isolada de pro-
trabalho em comum, tendo em vista a in- fissionais, tradicionalmente observadas na
teração de disciplinas científicas, de seus escola.”
conceitos básicos, dados, metodologia,
com base na organização cooperativa e Na visão das escolas promotoras da saúde,
coordenada do ensino. Trata-se do os programas setoriais propostos para escola pas-
redimensionamento epistemológico das sam a ser programas intersetoriaia ROCHA (2001)

–59 –
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002

afirma que, segundo o referencial teórico disponí- de, meio ambiente, educação e cultura requer uma
vel sobre escolas promeotoras de saúde, os progra- ampla discussão visando assegurar que sejam rom-
mas setoriais passariam a ser programas intersetoriais pidas as barreiras à colaboração (FLAHERTY et
e interinstitucionais pois, a partir da comunidade al., 1998).
escolar, pensar-se-ia os entornos e os demais am- Espera-se, também, que o discurso emer-
bientes onde vive a comunidade escolar. gente das escolas promotoras da saúde desperte
Esta intersetorialidade4, por sua vez, fun- necessidades de mudanças, no olhar e na prática
damenta-se na interdisciplinaridade, nas dimen- de Iodos os profissionais que continuam persis-
sões aqui discutidas. tindo no erro de atuar isoladamente, prescreven-
Esta atuação interdisciplinar não deve ser do receitas para a população brasileira.
uma busca da eliminação das características e co- Voltando a pensar nos valores que devem
nhecimentos próprios a cada uma das áreas envol- se fazer presentes quando da construção de uma
vidas ou invasão de uma pela outra. O que se pre- escola promotora de saúde, pode-se citar a Reso-
tende é que as diferentes dimensões do cotidiano lução da I Conferência da Rede Européia de Es-
escolar sejam incorporadas em todas as atividades, colas Promotoras da Saúde, realizada na Grécia
não havendo uma fragmentação da realidade. Para em maio de 1997 (WORLD HEALTH
isso é necessário que sejam superadas as barreiras ORGANIZATION, 1997), na qual são assinala-
criadas desde a forrnação dos profissionais, privi- dos os componentes que devem ser pensados para
legiando a especialização, até a forma como usual- orientar as práticas das escolas: democracia, igual-
mente é realizado o financiamento dos programas dade, capacidade para ação, entomo escolar,
de saúde escolar, com verbas destinadas de forma curriculo, formação de professores, avaliação,
setorial e por problema especifico. colaboração, comunidade local e desenvolvimento
Esta mudança radical nas concepções e sustentável.
ações escolares não se dá de forma fácil e imedia- No que diz respeito ao componente currí-
ta. Este compartilhar de saberes e de práticas re- culo, este documento afirma que:
quer capacitação, ruptura, esforço e persistência
pois a tendência é a manutenção de práticas há “O curriculo da Escola promotora da saú-
muito cristalizadas. de proporciona aos e às jovens oportuni-
Dentro desta lógica, o próprio planejamen- dades para aprendcr e compreender; as-
to das ações deve se dar de forma intersetorial, sim como para adquirir hábitos essenciais
não apenas pensando as ações futuras, pois os pro- da vida. O currículo deve adaptar-se às
gramas já em curso dentro da realidade escolar necessiadades tanto atuais como futuras
precisam ser considerados como ponto de parti- dos e das jovens impulsionar sua criativi-
da. É importante oportunizar a criação de eventos dade cstmulá-los a aprender e dotá-los das
que articulem os programas que até então vêm atitudes necessárias para esta aprendiza-
sendo desenvolvidos de forma isolada, transfor- gem. O currículo da escola promotora da
mando-os em uma ação intersetorial, envolvendo saude atua também como inspirador para
todos os setores em questão – educação, saúde, o professorado e quantas pessoas traba-
meio ambiente, segurança pública e outros. lhem na escola, servindo-lhes de estímulo
Pode-se pensar também na criação de um para seu desenvolvimento pessoal e pro-
grupo de trabalho que tenha como objetivo des- fissional.”
cobrir as conexões presentes, a teia de relações
existentes nos problemas enfrentados no ambien- O momento brasileiro é extremamente fa-
te – escolar e, assim, descobrir as melhores for- vorável a mudanças no ambiente escolar. Os Pa-
mas de enfrentá-los em seu conjunto. râmetros Curriculares Nacionais (PCNs)5 atual-
Por outro lado, a implementação de um mente em implantação no Sistema Educacional
projeto que articule, ao menos, os campos de saú- brasileiro, requerem que cada escola construa o

4 Intersetorialidade é concebida segundo definição de JUNQUEIRA (1997) como “a articulação de saberes e expenências no
planejamento, realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico em situações complexas visando o desenvolvimen-
to social, superando a exclusão social.”
5 Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs: documento elaborado pela Secretaria de Ensino Fundamental do Ministério da Eclucação
e do Desporto. Segundo SILVA (1998). Constituem um referencial para fomentar a reflexão tanto sobre a planificação do Currí-
culo – levando em consideração a dimensão nacional quanto sobre o que cabe aos currículos estaguais e municipais – respeita
a autonomia de cada unidade administrativa o que vem ocorrendo em diversos locais.

–60 –
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002

seu projeto pedagógico. Estes ^PCNs têm como rem com maior segurança seus entornos e assu-
função, segundo SILVA (1998): mirem o controle de suas próprias vidas.
Mas isto só será possível quando, dentro
“Orientar e gurantir a coerência das po- da própria escola, acontecer a superação da frag-
líticas de melhoria da qualidade de ensi- mentação disciplinar e quando esta tiver seu cam-
no socializando discussões pesquisas e re- po de atuação ampliado por ações intersetoriais
comendações subsidiando a participação que extrapolem os limites convencionais do setor
de técnicos e professores brasileiros prin- educação, atingindo o maior número possível de
cipalmente daqueles que se encontram setores sociais. Na prática, as ações devem en-
mais isolados com menor contato com a volver, desde o momento de sua concepção e pla-
produção pedagógica atual.” nejamento até a execução, não só o setor educa-
ção através das Secretarias de Educação, mas
Muitos dos princípios que são propostos também a saúde, segurança pública, meio ambien-
para nortear estes projetos comungam com os aqui te, desporto, cultura e lazer, obras públicas e ou-
discutidos e constituem o ideário das escolas pro- tras. Isso implica que o primeiro passo a ser dado
motores da saúde. Para exemplificar esta afirma- é a busca de integração entre os profissionais que
ção, a seguir serão citados alguns dos objetivos atuam nos diferentes setores, o que só pode ser
de ensino propostos, nos PCNs, para os educandos conseguido com um planejamento central adequa-
brasileiros. do e com clareza de objetivos.
ROBERTSON (1998) alerta para os mo-
“Os Parâmetros Curriculares Nacionais dismos presentes nos discursos sobre saúde:
indicam como objetivos do ensino fundamen-
tal que os alunos sejam capazes de: “Discursos sobre saúde entram e saem de
• Perceber-se integrante, dependente e agen- moda, mas não arbitrariamente. Ao contrá-
te transformador do ambiente, identifican- rio, eles emergem e se espalham ganhando
do seus elementos e as interações entre aceitação porque eles são mais ou menos
eles, contribuindo ativamente para a me- congruentes com o prevalecente no contex-
lhoria do meio ambiente; to social, político e econômico, dentro dos
• Desenvolver o conhecimento ajustado de quais eles são produzidos, mantidos e re-
si mesmo e o sentimento de confiança em produzidos. Ainda, porque eles estão sem-
suas capacidades afetiva, física, cognitiva, pre aderidos a outros interesses e agendas
ética, estética, de inter-relação pessoal e profssional, econômica, política, cultural,
de inserção social, para agir com perse- ideológica – as formas que conceituamos,
verança na busca do conhecimento e no falamos e escrevemos sobre saúde nunca
exercicio da cidadania; são simplesmente sobre saúde; elas também
• Conhecer e cuidar do próprio corpo, va- funcionam como depositários e espelhos de
lorizando e adotando hábitos saudáveis nossas idéias e crenças sobre a natureza
como um dos aspectos básicos da quali- humana e a natureza da realidade, bem
dade de vida e agindo com responsabili- como sobre o tipo de sociedade que nós po-
dade em relação à sua saúde e à saúde demos imaginar sendo criada e a melhor
coletiva.” (SILVA, 1998). forma de atingi-la.”

Portanto, diante do arsenal teórico propor- A expectativa aqui posta é a de que as re-
cionado pelas discussões de escola promotora de flexões sobre o papel da escola na sociedade,
saúde e dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a presentes nas discussões sobre Escolas
sociedade brasileira depara-se com um momento Proinotoras de Saúde, possam servir de base para
em que é grande a possibilidade de concretização a construção de novos tipos de relações entre os
de práticas que possibilitem à escola tornar-se um diversos setores sociais, de modo que os inte-
polo difusor de valores e de ações que possibili- resses predominantes sejam os de uma realidade
tem aos indivíduos e às coletividades construí- mais saudável.

–61 –
Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 57-63, 2002 Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(1), 2002

Abstract: The constructions of the concept and project of the Health Promoting School are
approached from the standpoint of ~e Health Promotion, as it is understood in the Ottawa
Declaration of 1986. The main focus are the aspects of interdisciplinarity and intersectoriality.
These constructions are seen as a concrete possibility, considering the reality of the
implementation of the National Curriculum Parameters in Brazil and the possibility of
understanding individual and collective health as a resource that makes easier for people to
control their own lives.

Key-words: education; health; health promoting school; interdisciplinarity; intersectoriality.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, M. C. I. et al. A interdisciplinaridade


no fazer pedagógico. Educação & Sociedade,
FLAHERTY, L. T.; GARRISON, E.G.; 39: 286-296, 1991.
WAXMAN, R.; URIS, P.F.; KEYS, S.G.; ROBERTSON, A. Shifting discourses on health
GLASS-SIEGEL, M.; WEIST, M.D. in Canada: from health promotion to
Optimizing the roles of school mental health population health. Health Promotion Int.,
professionals. J. Sch. Health, 68 (10): 420-424, 13(2): 155-166, 1998.
dec, 1998. ROCHA, D. G. O movimento da promoção da
GONÇALVES, F. S. Interdisciplinaridade e cons- saúde na década de 1990: um estudo do seu
trução coletiva do conhecimento: concepção desenvolvimento e difusão na saúde pública
pedagógica desafiadora. Educação & Socie- brasileira. São Paulo; 2001. [Tese de Douto-
dade, 49: 468-484, 1994. rado - Faculdade de Saúde Pública da USP]
JUNQUEIRA, L. A. P. Novas formas de gestão SILVA, M. I. L. Recortes do documento “Parâ-
na saúde: descentralização e intersetorialidade. metros Curriculares Nacionais”. In: Projeto
São Paulo, Rev. Saúde e Sociedade, 6(2): 31- gestores sociais: textos de apoio. São Paulo:
46, ago/dez, 1997. Comunidade Solidária., 1998.
KICKBUSCH, I. Promoción de la salud: una pers- TAVARES, M. F. L. Escolas promotoras da saú-
pectiva mundial. In: OPAS. Promoción de la de. In: BUS S, R. M. (Org.). Promoção da saú-
salud: una antologia. Washington D.C., 1996. de e a saúde pública: contribuição para o de-
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Promoção da saúde: bate entre as escolas de saúde pública da
Carta de Ottawa, Declaração de Adelaide, América Latina. Rio de Janeiro: Escola Na-
Sundsvall e Santa Fé de Bogotá. Brasília, cional de Saúde Pública,1998.
1996. WORLD HEALTH ORGANIZATION - Europe.
OPS (Organización Panamericana de la Salud). Primera conferencia de la red europea de
Escolas promotoras de la salud: entornos escuelas promotoras de salud. Resolución de
saludables y mejor salud para Ias geraciones la conferencia. Salónica-Halkidiki, Grécia, l-
futuras. Washington/EUA, 1998. [Comunica- 5 mayo, l 997.
ción para la salud No.13]
OPS (Organización Panamericana de la Salud).
Sobre escuelas promotoras de la salud. [on
line] Disponible em <URL: http://
165.158.1.110/spanish hpp/ hs about.htm
[2001 jun 13].
ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SALUD Recebido em 12/12/2001
/ MINISTÉRIO DE LA SALUD Y Modificado em 13/02/2002
BIENESTAR SOCIAL CANADA. Carta de Aprovado em 20/02/2002
Ottawa para la promoción de la salud, 1986.

–62 –

Você também pode gostar