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PRINCIPAIS FORÇAS AERODINÂMICAS NAS ASAS DE AVES E AERONAVES

DURANTE O VOO1
Victor João Mbebe2

Como aves e aeronaves se sustentam no ar durante o voo? E quais são as


principais forças aerodinâmicos atuantes nas asas que explicam este voo? Embora estas
perguntas sejam aparentemente simples, possuem cientificamente respostas complexas.
O senso-comum, por outro lado, considera-as triviais, pois parecem ser do domínio de
todos bastando simples observações dos fenómenos para responde-las acertadamente.
O presente trabalho visa apresentar, de uma forma geral, as principais forças
aerodinâmicas que explicam a capacidade das asas proporcionarem voo aos corpos a
elas acoplados.
O voo ou a sustentação dos corpos físicos no ar depende inteiramente da força
aerodinâmica oferecida pelo meio circundante, neste caso, o ar livre. A Força
aerodinâmica consiste na distribuição de pressão e na tensão de cisalhamento (fricção)
sobre a superfície da asa. “Por mais complexo que seja o fluxo de campo, e por mais
complexo o formato do corpo, a única maneira que a natureza tem de aplicar uma força
aerodinâmica sobre um objeto sólido é pelas distribuições de pressão e tensão de
cisalhamento que existem na superfície” (ANDERSON, 2015, p. 65).
Afim de quantificar o desempenho do voo, quer duma ave quer duma aeronave,
considera-se três componentes vetoriais da força aerodinâmica: sustentação (lift), arrasto
(drag) e impulso (thrust) ou momento. Todas estas três forças combinadas resultam na
força aerodinâmica (pressão e fricção do ar sobre a asa):
a) A força de sustentação é definida como a componente vetorial da força
aerodinâmica vertical para cima e perpendicular à direção horizontal da corrente de ar
livre, vento relativo ou ar que se aproxima pela frente da asa.

1 Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação na disciplina de Comunicação e Expressão,


ministrada pela Dra. Vanessa A. A. Lima, Centro Tecnológico de Joinville (CTJ), Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), em 2019/1.
2 Estudante regularmente matriculado no Curso de Engenharia Aeroespacial. E-mail:

victor.mb.2020@gmail.com
b) A força de arrasto é a componente vetorial da força aerodinâmica sempre
paralela à direção (horizontal) da corrente livre ou vento relativo, oposta ao sentido
positivo do movimento.
c) O empuxo é a componente da força aerodinâmica com direção paralela ao
do vento relativo, mas de sentido oposto, isto é, a favor do movimento. Esta força é
responsável pela rotação da asa, por isso, Anderson (2015) usa o termo momento no
lugar de empuxo. “Além da sustentação e do arrasto, as distribuições de pressão e de
tensão de cisalhamento [A força aerodinâmica na asa] criam um momento M que tende
a rotacionar a asa” (ANDERSON, 2015, p. 292).
Segundo Lilienthal (1911)., a sustentação, o arrasto assim como o empuxo são
grandezas físicas em função da(o):
1. Velocidade da corrente livre (vento relativo);
2. Densidade da corrente livre;
3. Área da superfície da asa ou forma do aerofólio;
4. Coeficientes de sustentação (Cs), arrasto (Ca) e empuxo (Ce)
1 1 1
𝑙𝑖𝑓𝑡 = 𝜌𝐶𝑠S 𝐴𝑟𝑟𝑎𝑠𝑡𝑜 = 2 𝜌𝐶𝑎𝑆 𝐸𝑚𝑝𝑢𝑥𝑜 = 2 𝜌𝐶𝑒𝑆
2

Para além destas variáveis, a sustentação, o arrasto e o empuxo dependem da


inclinação da asa em relação a horizontal (corrente livre). A esta inclinação chama-se
ângulo de ataque.
As asas de certos aviões apresentam de per si uma certa inclinação ou
arqueamento mesmo com ângulo de ataque igual a zero. Ao que Anderson (2015) chama
de asa arqueada ou aerofólio arqueado em comparação a asa simétrica, sem nenhuma
inclinação em si.
Entretanto, como ocorre o voo? “O voo nada mais é que uma constante oposição
a essa força com a qual a terra atrai todos os corpos, incluindo criaturas vivas”
(LILIENTHAL, 1911, p.5, tradução nossa). Esta força é o peso ou força de gravidade.
Mas, a gravidade não é a única força que atua nos objetos sólidos durante o voo.
Para vencer a gravidade, a ave e a aeronave devem possuir uma propulsão. Esta
propulsão demanda energia que é o trabalho em função do tempo da força
musculoesquelética e da força das hélices das turbinas respectivamente (LILIENTHAL,
1911,14). Devido a pressão e fricção (viscosidade do ar) são produzidas forças reativas
a força de propulsão (isto é, as três componentes vetoriais da força aerodinâmica) que
sustentam o corpo.
No processo de voo, alcançando-se uma certa velocidade, a ave ou a aeronave
inclina suas asas ou abre o seu ângulo de ataque até um certo limite de coeficiente de
sustentação. Contudo, sem ultrapassar este limite, pois “... a algum valor de α (ângulo de
ataque de estol), o fluxo se separa da superfície superior. Quando a separação ocorre, a
sustentação diminui drasticamente e o arrasto aumenta de repente” (ANDERSON, 2015,
305), isto é, para além de um certo limite do ângulo de ataque, a ave ou o avião perde a
sua sustentação (o seu movimento é descendente) e o arrasto aumenta. Por isso,
“quando ave está voando abaixo da velocidade, ou durante a decolagem ou aterrizagem,
a asa, na sua margem anterior, pode ser inclinada consideravelmente para o alto,
procedimento este conhecido como aumento do ângulo de ataque” (NESPOLI et al., p.
28).
O voo das aves com o batimento das asas é muito complexo quando comparado
ao das aeronaves cujas asas são fixas. Segundo Nespoli et al., o tipo mais simples de
voo das aves é o planador durante o qual as asas fazem a elevação e o movimento para
diante vem com a queda no ar. A altitude é perdida num deslize com este, mas ela pode
ser mantida e, até mesmo, aumentada, se a ave elevar-se. E este voo das aves se pode
considerar, dum modo geral, o mais próximo do voo das aeronaves.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o voo duma ave ou aeronave estão em ação em suas asas três forças
principais: a sustentação que eleva a ave ou aeronave; o empuxo que tende a rotacionar
a asa no sentido favorável ao movimento (contracorrente), e o arrasto tanto paralelo à
direção do empuxo como da corrente de ar, mas com mesmo sentido desta (a favor da
corrente). Estas três forças são componentes vetoriais duma única força: a força
aerodinâmica que consiste na distribuição de pressão e na tensão de cisalhamento
existentes no fluído (corrente de ar).
O voo pode ser visto como a interação entre a ave ou aeronave com o meio
envolvente (ar) afim de gerar forças aerodinâmicas que permitam-lhe vencer a ação da
força da gravidade. Deste modo, sem ar não existem forças aerodinâmicas nas asas.
REFERÊNCIAS

ANDERSON Jr., John D. Fundamentos de engenharia aeronáutica: introdução ao


voo. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.

LILIENTHAL, Otto. Birdflight as the basis of aviation: a contribution towards a


system of aviation. New York: Longmans: 1911.

NESPOLI, Ziléa Baptista et al. Zoologia dos Vertebrados. Rio de Janeiro:


Universidade Castelo Branco: 2008.

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