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EXMO. SR.

DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA __ CÍVEL DA COMARCA DE _________/__

Fulana de tal, (qualificaçã o completa), por sua advogada infra-assinada (instrumento de


procuraçã o anexo, Doc. I), com escritó rio à Rua Jacob Emmerich, nº. 1.040, Centro em
São Vicente/São Paulo – CEP 11.310-071, onde receberá as notificaçõ es e intimaçõ es
futuras, vem perante Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA c/c INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
em face de EMPRESA 1, (qualificaçã o completa) e EMPRESA 2, (qualificaçã o completa),
pelos motivos de fato e de direito que passo a expor:
DA JUSTIÇA GRATUITA
A Autora nã o tem como suportar os ô nus do processo sem prejuízo do pró prio sustento
familiar, conforme declaraçã o inclusa (Doc. 02), razã o pela qual requer que se digne Vossa
Excelência a Justiça Gratuita, em conformidade com o artigo 1º e 3º da Lei nº 7.115 de 28
de Agosto de 1983, dando nova redaçã o a Lei nº 1.060 de 05 de Fevereiro de 1950.
Dos Fatos
A Autora é pessoa humilde, trabalha como cobradora nas chamadas “lotaçõ es” que
percorrem a cidade e os rendimentos percebidos com seu trabalho se destinam a sua
subsistência, nã o tendo a Autora condiçõ es de adquirir bens supérfluos.
Por esta razã o, surpreendeu-se ao começar a receber telefonemas informando-a que está
em débito com a Ré-2 em virtude de ter realizado financiamento de um automó vel.
A Autora nunca adquiriu o automó vel e tampouco realizou o financiamento junto a Ré-2,
por nã o possuir condiçõ es financeiras de arcar com as consequências de tal contrato.
Ocorre que em meados de 2009 a Autora compareceu na sede da Ré-1, uma concessioná ria
de veículos, junto com um parente que estava interessado em comprar um veículo, mas que
nã o conseguia aprovaçã o de crédito. Em razã o de a Autora ter o CPF sem restriçã o eles
foram até a loja e, junto a um funcioná rio do estabelecimento, fizeram uma simulaçã o de
financiamento de um automó vel em seu nome. Para isso, obviamente o funcioná rio da loja
recolheu os dados da Autora para consultar junto a Ré-2 quais seriam as possibilidades de
financiamento.
Embora a Autora estivesse com o nome limpo à época, ela nã o trabalhava, nã o tinha renda
e nem conta bancá ria e por isto o financiamento nã o foi aprovado.
Passaram-se os anos, e em 2018 a Autora finalmente começou a trabalhar como cobradora
de lotaçã o, fato que a ensejou a abrir uma conta-corrente para receber o seu salá rio.
Para sua surpresa, ela começou a receber diversos telefonemas, varias vezes ao dia, de
funcioná rios da empresa Ré-2, cobrando uma dívida de um financiamento de um veículo
realizado em seu nome.
Em uma dessas ligaçõ es, a Autora pediu ao funcioná rio que lhe passasse as informaçõ es do
veículo e com esses dados ela realizou pesquisa junto ao DETRAN.
Segundo o sistema do DETRAN, o veículo modelo/marca xxxx, ano xxx, placa xxxx,
renavam xxxxx, chassi xxxxxxx, está financiado para a Autora por alienaçã o fiduciá ria,
indicando a Ré-1 como proprietá ria e constando gravame em nome da Ré-2.
Segundo a pesquisa do DETRAN, o gravame foi incluído na data de xx/xx/xx e a data da
comunicaçã o de venda é de xx/xx/xx.
A Autora ficou muito nervosa apó s a realizaçã o da pesquisa, pois é evidente que foi vítima
de um golpe de um estelionatá rio que utilizou de seus documentos para financiar o veículo.
Quando teve conhecimento do nome da Ré-1 como proprietá ria do veículo na pesquisa
realizada, lembrou-se da visita que fez à loja em 2009 e teve a certeza de que naquele dia os
seus dados pessoais que foram colhidos foram aproveitados para realizar um
financiamento através de fraude.
Ela foi até a sede da Ré-1 e apó s muita insistência e mediante um ardil, um vendedor da loja
lhe entregou o documento de negociaçã o do veículo. O vendedor e o gerente nã o queriam
de forma alguma ceder o documento a ela, sendo que a Autora precisou inventar uma
histó ria qualquer para que pudesse ter acesso à s informaçõ es da venda.
Segundo o documento de detalhes da venda, o veículo foi vendido pelo valor de R$
28.000,00, sendo o financiamento feito pela Ré-1 no valor de R$ 27.500,00 em 60
prestaçõ es de R$ 816,00. Houve entrada no valor de R$ 500,00 e a entrega do veículo se
deu na data de xx/xx/xx, a mesma data da inclusã o do gravame no sistema do DETRAN.
Ora, conforme já explicado, a Autora esteve na loja no ano de 2009 para fazer uma
simulação de financiamento que lhe foi negada. Após esse acontecimento ela jamais
voltou na sede da Ré-1, nunca adquiriu veículo algum, deu dinheiro de entrada ou
assinou contrato de financiamento.
Agora, a Autora sofre com inú meros telefonemas realizados pelos funcioná rios da Ré-1,
diversas vezes ao dia, lhe cobrando o valor do financiamento com juros e correçã o
monetá ria, sendo que em um contato telefô nico recente o funcioná rio da Ré-2 informou
que a dívida já está no valor de R$ 145.330,96 (cento e quarenta e cinco mil, trezentos
e trinta e noventa e seis centavos)!! (á udio da ligaçã o telefô nica anexa em CD-R,
protocolada em cartó rio).
É obvio que a Autora nã o tem esse dinheiro, em verdade, nã o tem nem o dinheiro do valor
pelo qual o veículo foi vendido em 2011. A Autora se vê “refém” de uma situaçã o da qual
nã o deu causa, pois em razã o do nã o pagamento das parcelas do financiamento do
automó vel que terceiro firmou sem seu consentimento e se passando por sua pessoa, teve
seu nome inscrito no serviço de proteçã o ao crédito, gerando constrangimentos a Autora
que por conta disso nã o pode mais realizar compras a prazo e praticar outras atividades
pelo fato de ser considerado um “mau pagadora”.
Apesar de ser pessoa simples, a Autora sempre honrou com todas as suas obrigaçõ es de
forma pontual e assídua, nunca tendo havido em sua vida, nã o só financeira como também
social e moral, fato ou ocorrência que abalasse a sua integridade, mantendo seu nome, sua
honra e boa fama intactos.
Além disso, ela é incomodada o dia inteiro por ligaçõ es de cobrança efetuadas de nú meros
diversos em seu telefone celular, além de que nã o consegue empréstimo pessoal em
nenhuma instituiçã o bancá ria, pois tem dívidas com a Ré-2.
Sendo assim, nã o resta para a Autora alternativa senã o ajuizar o presente pleito, afim de
que lhe seja feita Justiça.
Do Direito
Da inexistência da relação jurídica
A relaçã o jurídica é o vínculo que une duas ou mais pessoas atribuindo a uma delas o poder
de exigir uma obrigaçã o da outra. Nas palavras do doutrinador Sílvio Rodrigues: "Relação
jurídica é aquela relação humana que o ordenamento jurídico acha de tal modo relevante,
que lhe dá o prestígio de sua força coercitiva"
No Direito pá trio, uma relaçã o será caracterizada como relaçã o jurídica se contiver os
quatro elementos essenciais, quais sejam: o sujeito ativo, que é o credor da obrigaçã o; o
sujeito passivo, que tem o dever de cumprir a obrigaçã o; o vínculo, que pode se dar por
meio da Lei ou de acordo de vontades; o objeto, que é a coisa, o conteú do sobre o qual
dispõ e as partes.
Entre todos os elementos essenciais de uma relaçã o jurídica, o vínculo é o elemento
definidor da existência ou nã o de uma relaçã o. Nas palavras de Caio Má rio da Silva Pereira:
“É o vínculo que impõe a submissão do objeto ao seu sujeito. Impõe a sujeição de um a
outro”. Como visto anteriormente, o vínculo pode decorrer da Lei ou de acordo de
vontades, ou seja, de um contrato.
No caso em tela, nã o há vinculo estabelecido entre a Autora e a Ré-2, uma vez que a Autora
nã o firmou contrato de financiamento com a Ré. Por via de induçã o tem-se a certeza que tal
contrato foi celebrado por meio de fraude. Em outras palavras, a Ré firmou contrato com
terceiro que utilizou os documentos da Autora e se passou por ela, tratando-se assim de um
caso de estelionato do qual a Autora aparenta ser mais vítima do que a Ré-2, tendo em vista
que depois disso passou a enfrentar todas as situaçõ es embaraçosas que nã o faz jus, pois
seu nome foi incluído nos famosos ó rgã os de proteçã o ao crédito.
Isto Posto, requer digne-se Vossa Excelência ordenar as Rés à juntada aos autos da có pia do
contrato de financiamento celebrado por estelionatá rio que utilizou os documentos da
Autora para tal. Ademais, requer seja declarada a inexistência da relaçã o jurídica pela falta
de vínculo jurídico entre Autor e Rés, pelos motivos aqui expostos.
Da Responsabilidade das Empresas Rés e da solidariedade entre elas
As Rés sã o responsá veis pela situaçã o injusta em que a Autora se encontra.
A Ré-1 agiu com extrema má -fé ao utilizar os documentos da Autora para fraudar contrato
de financiamento de veículo. A Autora jamais imaginou que fosse passar por uma situaçã o
dessas quando lá nos idos de 2009 adentrou a sede da Ré-1 para fazer uma mera simulaçã o
de financiamento.
Em relaçã o à Ré-2, esta agiu com imprudência no exercício de suas funçõ es bá sicas ao
celebrar contrato com pessoa que se utilizou dos documentos da Autora para obter
vantagem ilícita, caracterizando o crime de estelionato, previsto no art. 171, caput, do
Có digo Penal.
No entanto, a maior vítima do estelionato suportado pela Ré-2 e que poderia ter sido
facilmente evitado por ela é a Autora, que é cobrada por uma dívida ao qual nã o deu causa,
e por conta disso teve seu nome inscrito indevidamente em serviços de proteçã o ao crédito,
além de nã o conseguir contratar empréstimos e ser importunada por inú meras ligaçõ es
telefô nicas o dia inteiro.
É inadmissível, que a Ré-2 no exercício dos seus serviços, com setor específico, nã o
cumpriu com seu mister de maneira eficiente e principalmente, com o devido zelo,
causando prejuízos e transtornos a pessoa de bem, fazendo a Autora, de uma hora para
outra, passar por diversas situaçõ es humilhantes. A Ré-2 tinha a obrigaçã o de averiguar a
assinatura e documentaçã o pessoal que lhe foi entregue no ato da celebraçã o do contrato
de financiamento para resguardar a si pró pria de um eventual crime de estelionato e,
principalmente, proteger eventual consumidor que pudesse ter o seu direito violado,
situaçã o que acabou ocorrendo no presente caso.
Arruda Alvim comenta que “cada responsá vel solidá rio responde pela totalidade dos danos,
estando obrigado cada um individualmente a responder pela completa indenizaçã o”.
Induvidosamente, a lei quer dizer que a vítima poderá acionar um ou alguns dos agentes;
evidente o interesse legal em facilitar a defesa dos direitos do mais fraco e claro que a açã o
de um, o culpado direto pelo dano, tem liame com o outro, culpado indireto pelo evento.
O Có digo de Defesa do Consumidor preconiza em seu art. 25, § 1º:
“Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue
a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1º Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão
solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.”
A jurisprudência pá tria entende que em casos de fraude de financiamento de veículos, a
revendedora de automó veis e a instituiçã o financeira sã o responsá veis solidá rias na
causaçã o do dano e por isso têm o dever de indenizar.
TJ-PR - Apelação Cível AC 7082962 PR 0708296-2 (TJ-PR)
Data de publicaçã o: 12/04/2011
Ementa: APELAÇÕ ES CÍVEIS - AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE INEXISTÊ NCIA DE RELAÇÃ O
CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS - FINANCIAMENTO DE
VEÍCULOFIRMADO POR TERCEIRO - FRAUDE NA UTILIZAÇÃ O DE DOCUMENTOS DA
AUTORA - INSCRIÇÃ O INDEVIDA DO NOME DO CONSUMIDOR EM CADASTRO DE
RESTRIÇÃ O AO CRÉ DITO - RESPONSABILIDADE SOLIDÁ RIA DA REVENDEDORA DE
VEÍCULOS E DA INSTITUIÇÃ O FINANCEIRA ENCARREGADA DO FINANCIAMENTO -
FIXAÇÃ O ADEQUADA DO QUANTUM RELATIVO AOS DANOS MORAIS. 1. "A associaçã o
entre a vendedora de veículos e as financeiras traz benefícios lucrativos para ambas e,
assim, devem arcar solidariamente com os eventuais danos sofridos pelo consumidor em
decorrência dos defeitos nos serviços prestados por elas, evidenciando que ambos
procederam de forma negligente, causando prejuízos." (TJDF - 5ª Turma Cível, Apelaçã o n.
399832720068070001, rel. Des. Lecir Manoel da Luz, j. 28.5.2009) 2. Mostrando-se
condizente com as peculiaridades da lide e atendendo à finalidade da condenaçã o -
reparaçã o e sançã o - o quantum fixado a título de danos morais deve ser mantido. 3.
Apelaçõ es desprovidas.

TJ-PR - 8298142 PR 829814-2 (Acórdão) (TJ-PR)


Data de publicaçã o: 12/09/2012
Ementa: RESCISÃ O CONTRATUAL COM REPARAÇÃ O DE DANOS.
RESPONSABILIDADESOLIDÁ RIA DA FINANCEIRA E DA REVENDEDORA DO VEÍCULO.
INTELIGÊ NCIA DO ART. 34 DO CDC . FRAUDE. DANOS COMPROVADOS. INDENIZAÇÃ O QUE
DEVE TER EM CONTA TANTO O CARÁ TER COMPENSATÓ RIO QUANTO PUNITIVO DO
INSTITUTO, SEM QUE SE CONVERTA EM ENRIQUECIMENTO INDEVIDO. VALOR FIXADO
MANTIDO RECURSOS, PRINCIPAL E ADESIVO, DESPROVIDOS. 1. Nos negó cios de compra e
venda de veículo, com pagamento financiado, a atividade da instituiçã o financeira nã o se
desenvolve de modo isolado, separada da venda do carro, devendo, em razã o disso, ser
analisada como parte de um conjunto, de um negó cio complexo: "compra e venda de
veículo com financiamento". 2. A instituiçã o financeira tem responsabilidade em relaçã o à s
parceiras comerciais que estabelece, devendo estar atenta à conduta do seu comparte,
como forma de garantir a perfeita extinçã o do contrato. (STJ. REsp 1201140, Min. Rel.
Sidnei Beneti, DJe 03/09/2010).
Por tais motivos, as Rés devem ser declaradas responsá veis solidá rias pela situaçã o de fato
e condenadas a pagarem danos morais a Autora por todos os constrangimentos causados.
Os danos morais sã o devidos, como será demonstrado no pró ximo tó pico.
Do dano moral
Diante da prá tica do ilícito pelas Rés, surge o dever de reparar os danos morais causados a
autora.
Por MORAL, na dicçã o de Luiz Antô nio Rizzatto Nunes, entende-se "(...) tudo aquilo que está
fora da esfera material, patrimonial do indivíduo" (O Dano Moral e sua interpretaçã o
jurisprudencial. Sã o Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).
Portanto, a definiçã o de dano moral tem que ser dada sempre em contraposiçã o ao dano
material, sendo este o que lesa bens, apreciá veis pecuniariamente, e à quele, ao contrá rio, o
prejuízo a bens ou valores que nã o tem conteú do econô mico.
A reparaçã o que obriga o ofensor a pagar, e permite ao ofendido receber, é princípio de
justiça, com feiçã o, puniçã o e recompensa, dentro do princípio jurídico universal que adote
que ninguém deve lesar ninguém. Desta maneira: "Todo e qualquer dano causado à alguém
ou ao seu patrimô nio, deve ser indenizado, de tal obrigaçã o nã o se excluindo o mais
importante deles, que é o DANO MORAL, que deve automaticamente ser levado em conta."
(V.R. Limongi França, "Jurisprudência da Responsabilidade Civil, Ed. RT, 1988).
Neste sentido, a Constituiçã o Federal de 1988, no seu artigo 5º, incisos V e X, prevê a
proteçã o ao patrimô nio moral, in verbis:
"V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem.”
(...)
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.”
O Có digo de Defesa do Consumidor também ampara o consumidor que foi vitimado em sua
relaçã o de consumo, com a justa reparaçã o dos danos morais e patrimoniais causados,
como se pode constatar em seu artigo 6º, que no inciso VI explicita tal proteçã o:
"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor
(...) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos."
Insta ainda salientar que nã o se trata de pagar o transtorno e a angú stia causada a Autora,
mas sim de dar a lesada os meios derivativos, com que se aplacam ou afugentem esses
males, através de compensaçã o em dinheiro, a fim de se afastar os sofrimentos ou esquecê-
los, ainda que nã o seja no todo, mas, ao menos, em grande parte.
O Có digo Civil Brasileiro em seu art. 186 traz o conceito de ato ilícito, senã o vejamos:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
O dever de reparar os efeitos causados pelo ato ilícito sejam danos patrimoniais ou morais
causados, está presente no art. 927 do mesmo diploma legal, abaixo transcrito:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Ainda no mesmo Codex, em seu art. 932, inciso III, vemos a responsabilidade pela reparaçã o
civil do empregador pelos atos causados por seus serviçais e prepostos no exercício de suas
funçõ es:
“Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele;"
Como se os fundamentos acima nã o fossem suficientes, o Có digo de Defesa do Consumidor
consagra a responsabilidade objetiva da empresa e o dever de indenizar o consumidor
pelos danos causados em seu art. 14, caput, abaixo transcrito:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestaçã o dos serviços, bem como por informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruiçã o e riscos”. [grifamos]
Como vimos, no Có digo de Defesa do Consumidor o causador do dano deve reparar a lesã o
independentemente de culpa, nos casos previstos em lei. Ao contrá rio do que exige a lei
civil, quando reclama a necessidade da prova da culpa, na relaçã o entre consumidores esta
prova é plenamente descartada, sendo suficiente a existência do dano efetivo ao ofendido.
O artigo acima transcrito tem o objetivo de proteger, de forma privilegiada, a parte mais
fraca da relaçã o de consumo, visando evitar, claramente, abusos dos prestadores de
serviços, estes visivelmente mais fortes em relaçã o à queles.
E, finalmente, o art. 942 do Có digo Civil traz o instituto da solidariedade quando houver
mais um causador do dano:
“Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos
à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão
solidariamente pela reparação.”
Sendo assim, resta efetivamente caracterizada a conduta ilícita das Rés, dando ensejo à
reparaçã o do dano moral, no valor mínimo de 40 salá rios mínimos vigentes na época do
pagamento, afim de satisfazer todo o mal causado à vítima, além de impor as Rés, uma
sançã o que lhe desestimule e iniba a prá tica de atos lesivos à personalidade de outrem.
Da juntada dos documentos pelas Rés
A Autora já solicitou diversas vezes à s Rés para que lhe forneçam a có pia do contrato de
financiamento realizado em seu nome, entretanto, tal pedido nunca foi atendido por
nenhuma delas.
Isto Posto, requer digne-se Vossa Excelência ordenar à s Rés a juntada aos autos da có pia do
Contrato de Financiamento celebrado por terceiro utilizando o nome da Autora, bem como
todos os documentos utilizados para a celebraçã o do contrato, atendendo ao disposto no
art. 396 do Có digo de Processo Civil.

Da inversão do ônus da prova


Como dispõ e o artigo 6º, inc. VIII do CDC, é direito bá sico do consumidor: “a facilitação da
defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências.”
Por oportuno, trazemos à baila o ensinamento de Plínio Lacerda Martins, in “Anotaçõ es ao
Có digo de Defesa do Consumidor. Conceito e noçõ es bá sicas. DP & A Editora. RJ. 2001,
p.27”:
“Tendo em vista que o CDC, no artigo 6º,VIII, prevê como direito básico do consumidor o
direito à inversão do ônus da prova no processo quando a alegação for verossímil, facilitando
assim a defesa dos direitos dos consumidores, e que esta inversão ao nosso juízo é ope judicis,
não se justifica então a não-inversão do ônus da prova quando comprovada a
verossimilhança ou mesmo a hipossufiência.”
Saliente-se que no caso em foco, a Autora, sendo consumidora hipossuficiente e
verificando-se a veracidade das alegaçõ es (prova documental que segue em anexo), detém
entã o os requisitos para que o Douto Magistrado se digne conceder a Inversã o do ô nus da
prova em favor da Autora.
Da Tutela de Urgência
Diante do exposto acima e na conformidade do art. 300 do Có digo de Processo Civil, requer
a Vossa Excelência, a tutela de urgência, a fim de determinar à Ré-2, que efetue a imediata
exclusã o do nome da Autora, junto aos ó rgã os de proteçã o ao crédito.
Deferido o pedido acima, seja cominado a empresa requerida, multa cominató ria de R$
1.000,00 (mil reais) ao dia, a ser revertida em beneficio da Autora, em caso de
retardamento ou desobediência a determinaçã o deste r. juízo;

DOS PEDIDOS
Perante o acima exposto, requer-se:
I) Seja deferida à Autora da presente demanda assistência judiciá ria gratuita, com fulcro no
art. 5º, LXXIV da Constituiçã o da Repú blica e na Lei nº 1.060/50, por se tratar de pessoa
pobre na acepçã o da lei, de forma que o valor das custas irã o onerar em muito seu
orçamento mensal, uma vez comprovada a insuficiência de recursos.
II) O deferimento da tutela de urgência, ordenando à Ré-2 a imediata e total exclusã o do
nome da Autora junto a todos os cadastros de inadimplentes do País, eis que nã o concorreu
para a atual situaçã o, sob pena de multa cominató ria de R$ 1.000,00 (mil reais) ao dia, a ser
revertida em beneficio da Autora.
III) A total procedência da açã o, declarando inexistente a relaçã o jurídica entre a Autora e
as Rés, condenando as Rés ao pagamento dos danos morais cujo valor deverá ser arbitrado
por Vossa Excelência, considerando o mínimo de 40 (quarenta) vezes o valor do salá rio
mínimo vigente a época do respectivo pagamento;
IV) A citaçã o das Rés, nas pessoas de seus representantes legais, nos endereços descritos
no preâ mbulo desta peça para, querendo, responder os termos da presente Açã o, dentro do
prazo legal, sob pena de revelia, apresentando có pia do contrato objeto da lide bem como
todos os documentos utilizados para a assinatura deste.
V) A inversã o do ô nus da prova, em favor da Autora, diante da verossimilhança de suas
alegaçõ es, a teor do artigo 6º, inciso VIII, do CDC.
VI) A condenaçã o das Rés ao pagamento das despesas, custas e honorá rios advocatícios na
fixaçã o má xima de 20%, com fulcro no art. 84 § 2º do CPC.
VII) O deferimento da produçã o de todos os meios de prova em Direito admitidos, em
especial a documental, juntada posterior de documentos, expediçã o de ofícios, prova
pericial, depoimentos pessoais das partes e outras que se façam necessá rias, bem como a
oitiva de testemunhas.
Dá a causa o valor de R$ 39.920,00 (trinta e nove mil, novecentos e vinte reais).
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Sã o Vicente, xx de xx de 2019.
_____________________
Thamara Jardes
OAB/SP nº 307820

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