Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
o Problema - Turato
o Problema - Turato
o Problema - Turato
Executar as tarefas que compõem um trabalho científico pode ser mais fácil do
que imagina um pesquisador principiante, desde que ele seja hábil em seguir o
que os cursos de metodologia dão como roteiro de pesquisa, verdadeiras receitas.
Aliás, o termo receita advém do latim recepta, "coisas recebidas", ou, mais
especificamente, fórmula ou indicação especial para se alcançar um resultado
(Ferreira, dicionário eletrônico). A receita mais usada pelos mestrandos e
doutorandos para a realização de seu trabalho científico costuma ser a
formulação metodológica e a organização de partes apresentadas em outras
teses: aquelas por eles "descobertas" e que empregam um modo de organização
que lhes parece interessante por vários motivos. Deste modo, não são apenas os
assuntos investigados, os métodos empregados e a literatura levantada que
passam a ser muito semelhantes, mas é, sobretudo, algo muito mais sutil: é o
modelo paradigmático que é mantido e que pode impedir a criatividade desejada
para um empreendimento em ciência. Passam a ser meros praticantes da
chamada ciência normal, segundo a concepção Kuhniana, questão que, devido à
sua extrema importância, merecerá comentários em parte própria deste tratado
(cap. 11, seção 3).
O indispensável mesmo parece ser articular com precisão os problemas, que não
precisam ser necessariamente novos, mas que devem ser enxergados sob novos
primas, como bem escreveu o grance cientista: Galileu formulou o problema
de determinar a velocidade da luz, mas não o resolveu. A formulação de
um problema é frequentemente mais essencial que sua solução, a qual
pode ser meramente uma questão de habilidade matemática ou
experimental. Suscitar questões novas, novas possibilidades, para
considerar problemas veIhos, de um novo ângulo, requer imaginação
criativa e marca o avanço real na ciência (Einstein & Infeld, 1966: 92). Na
mesma linha, lembro o epistemólogo Bachelard reforçando que, em primeiro lu-
gar, precisamos saber formular problemas para caracterizar o verdadeiro espírito
científico, o que não ocorre de modo espontâneo. Sendo todo conhecimento
científico uma resposta, dizia o filósofo francês em seu trabalho A formação do
espírito científico, publicado pela primeira vez em 1938: se não há
pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente.
Nada é gratuito. Tudo é construido (Bachelard, 1996: 18).