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3
MATERIAIS E SUAS PROPRIEDADES
CARLOS FÉLIX
SETEMBRO / 2015
Departamento de Engenharia Civil
ÍNDICE
3 Materiais e suas propriedades 3.1
3.1 Introdução
O EC0 tem como objetivo principal o estabelecimento das bases para a verificação da
segurança das estruturas, definindo os princípios e os requisitos para a segurança,
utilização e durabilidade das estruturas, baseados no conceito de estados limites, em
conjugação com o método dos coeficientes parciais de segurança.
As situações de projeto, classificadas no EC0, estão resumidas no Quadro 3.1 (ver 3.2 do
EC0).
O tempo de vida útil para o qual as estruturas devem ser dimensionadas é o dado no
Quadro 3.2 (ver 2.3 do EC0).
Tempo de
Classe vida útil Exemplos
(anos)
1 10 Estruturas temporárias (escoramentos)
Partes substituíveis de estruturas como um tirante de aço,
2 10-25
aparelhos de apoio ou guardas
3 15-30 Estruturas agrícolas
4 50 Estruturas de edifícios correntes
Estruturas de edifícios especiais como hospitais ou
5 100 monumentos;
Obras de engenharia civil como pontes ou barragens
Valor
Quantilho 95%
Frequência médio
Quantilho 5%
Xd = Xk / M (3.2)
Xd = Xk / M (3.3)
em que:
— fator de conversão.
3.2 Betão
Resistência à compressão
Classe C12/16 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60
fck
12 16 20 25 30 35 40 45 50
(MPa)
fck,cub
15 20 25 30 37 45 50 55 60
(MPa)
fcm
20 24 28 33 38 43 48 53 58
(MPa)
fctm
1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1
(MPa)
fctk, 0.05
1.1 1.3 1.5 1.8 2.0 2.2 2.5 2.7 2.9
(MPa)
fctk, 0.95
2.0 2.5 2.9 3.3 3.8 4.2 4.6 4.9 5.3
(MPa)
Ecm
27 29 30 31 33 34 35 36 37
(GPa)
Figura 3.2 - Prensa MTS, com um provete cilíndrico durante a realização do ensaio à compressão.
Pode ser necessário especificar o valor da resistência de um betão com idade diferente
dos 28 dias, quando está em causa, por exemplo, a desmoldagem ou a retirada de um
escoramento, ou a aplicação de pré-esforço. Naturalmente que esta evolução da
resistência depende de inúmeros fatores, de que se salienta o tipo de cimento e as
condições de cura e de endurecimento. Na ausência de adjuvantes, como os aceleradores
de presa, e a menos de avaliação mais precisa com recurso a ensaios laboratoriais, o EC2
apresenta expressões:
sendo:
28
cc t exps1 (3.6)
t
fcm – é a tensão média de rotura aos 28 dias de idade, de acordo com o Quadro
3.4.
A Figura 3.4 representa a evolução do parâmetro por aplicação da expressão (3.6) para
as classes de cimento S, N e R. Na Figura 3.5 indica-se a evolução do valor médio da
resistência à compressão de algumas classes de resistência de betões, quando
executados com cimento da classe N, por aplicação da expressão (3.5).
1.40
Classe S
1.20 Classe N
1.00 Classe R
0.80
βcc(t)
0.60
0.40
0.20
0.00
0 28 56 84 112 140 168
t (dias)
60.0
C40
50.0 C35
C30
40.0
C25
fcm(t) 30.0 C20
(MPa)
20.0
10.0
0.0
0 28 56 84 112 140 168
t (dias)
Resistência à tração
A resistência à tração refere-se à tensão mais elevada sob esforços de tração simples
(EC2 3.1.2-7). Este valor pode ser obtido a partir de ensaios de rotura à tração por
compressão diametral (Splitting Tensile Strengh), conforme EN 12390-6/2003,
recorrendo ao dispositivo representado na Figura 3.6. Neste ensaio, a resistência à
tração é avaliada através das tensões de tração transversal num provete cilíndrico
disposto na horizontal. Os valores da resistência à tração por compressão diametral fct,sp,
é geralmente um pouco maior que no caso do ensaio de tração axial, uma vez que as
fissuras começam no interior do provete.
2F
fct,sp (3.7)
LD
Onde,
A tensão de rotura à tração simples pode ser obtida a partir de fct,sp através da expressão
(ver EC2 3.1.2 - 8):
2F
fct,sp
fct,sp LD
Tração Compressão
F Peça em aço para
Faixas de cartão
prensado
aplicação da carga
F/2 F/2
Rolete de aplicação de
carga (susceptível de
rotação e inclinação)
150 = d2
Dimensões em mm
Figura 3.7 – Dispositivo de ensaio para determinação da resistência à tração por flexão.
F
M a (3.9)
2
em que:
6M
fct,fl (3.10)
bh2
23
fctm 0.3 fck para fck 50MPa
fcm (3.11)
fctm 2.12 ln(1 ) para fck 50MPa
10
Conforme se pode observar na Figura 3.8, a resistência do betão à tração apresenta para
uma da classe de betão uma grande variabilidade. Os valores extremos podem diferir em
mais de 30% do seu valor médio. A escolha do valor da resistência à tração a adotar em
cada verificação da segurança deve ser por isso cuidada e devidamente fundamentada.
7.0
fctk,0.95
6.0
5.0 fctm
4.0
fct fctk,0.05
(MPa) 3.0
2.0
1.0
0.0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
fck (MPa)
A Figura 3.9 ilustra a evolução do valor de fctm para betões realizados com cimento da
classe N, por aplicação da expressão (3.14).
5.0
4.0 C40
C35
3.0 C30
C25
fctm(t)
C20
(MPa) 2.0
1.0
0.0
0 28 56 84 112 140 168
t (dias)
Este valor do módulo de elasticidade deve ser entendido como um valor aproximado,
válido para betões com agregados contendo quartzo. Para outros tipos de agregados, o
módulo de elasticidade Ecm deve ser corrigido de acordo com a expressão:
f t
0.3
E cm t cm E cm (3.16)
fcm
A Figura 3.12 ilustra a variação do módulo de elasticidade com o tempo para betões
realizados com cimento da classe N, por aplicação da expressão (3.16).
40.0
C40
35.0 C35
C30
C25
C20
Ecm(t) 30.0
(GPa)
25.0
20.0
0 28 56 84 112 140 168
t (dias)
A tensão média de rotura à tração por flexão dos elementos de betão armado depende
da tensão média de rotura à tração simples (fctm) e da altura da secção transversal do
elemento em causa (h). A menos de indicação mais precisa, o EC2 propõe a seguinte
expressão, para a obtenção da tensão média de rotura à tração por flexão (ver Figura
3.13):
h
fctm,fl max 1.6 fctm; fctm , com h em mm (3.17)
1000
Idêntica expressão pode ser usada para a obtenção do respetivo valor característico.
1.6
fctm,fl
fctm 1.0
0.0
0 600
h (mm)
fck
fcd (3.18)
c
onde:
fctk,0.05
fctd (3.19)
c
O Quadro 3.7 resume os valores de fcd e de fctd para algumas das classes de betões.
Classe C12/16 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60
fcd
8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3
(MPa)
fctd
0.7 0.9 1.0 1.2 1.4 1.5 1.6 1.8 1.9
(MPa)
c2 = 2‰
(3.20)
cu2 = 3.5‰
c f cd c 250 c2 103 para 0≤ c ≤ c2
(3.21)
σ c f cd para c2 ≤ c ≤ cu2
Poderão também utilizar-se outras idealizações simplificadas deste diagrama, desde que
os resultados sejam equivalentes ou mais conservativos, como é o caso do diagrama
representado na Figura 3.14b. Neste caso, os valores das extensões representadas para
betões com fck≤50MPa são:
c3 = 1.75‰
(3.22)
cu3 = 3.5‰
c
fcd
=0.8
(3.23)
=1.0
Considerações gerais
Quando considerada nos cálculos, os efeitos da fluência podem ser associados às ações
permanentes e avaliados com a combinação quase permanente de ações (EC2 –
2.3.3.3).
Fluência
A fluência depende das condições de humidade ambiente, das dimensões das peças e da
composição do betão. Além destes fatores está também relacionada com a intensidade e
a duração da carga e com a maturação do betão à data do carregamento.
Desde que a tensão de compressão no betão não exceda o valor de 0.45f ck(t0) na idade
t0, idade do betão à data do primeiro carregamento, pode considerar-se que a fluência se
desenvolve no domínio linear. Caso contrário, deve considerar-se a não linearidade da
fluência (EC2 – 3.1.4).
Por definição, no domínio da fluência linear, o coeficiente de fluência φ é dado pela razão
entre a deformação diferida e a deformação elástica. A expressão que traduz esta
definição é:
c (t ) c (t0 ) cc (t, t0 )
(t , t o ) (3.24)
c (t 0 ) c (t 0 )
c
cc (t, t0 ) (t, to ) (3.25)
Ec
onde,
em que,
1 RH 100
RH 1 , para fcm ≤ 35MPa (3.28)
0.1 3 h0
1 RH 100 35
0.7
0.2
RH 1 35 , para fcm > 35MPa (3.29)
fcm
0.1 3 h0 fcm
2A c
h0 (3.30)
u
em que,
(fcm) é um fator que tem em conta a influência da resistência do betão e é dado por:
16.8
(fcm ) (3.31)
fcm
1
(t 0 )
0.1 t 0.20
0
(3.32)
c t, t 0
t t 0
0.3
(3.33)
H t t0
H 1.5 1 0,012RH18 h0 250 1500 , para fcm≤35 (3.34)
0.5 0.5
35 35
H 1.5 1 0,012RH 18
h0 250
1500
, para fcm>35 (3.35)
fcm fcm
O modelo exposto é válido para um betão com cimento da Classe N. Para outros tipos de
cimento o EC2 (ver Anexo B do EC2) apresenta correções a este modelo que permitem a
consideração de outras classes de cimento, assim como uma correção para ter em conta
a influência de temperaturas, elevadas ou baixas.
Para as situações em que não é necessária elevada precisão, poderá ser suficiente a
obtenção do valor final do coeficiente de fluência (∞,t0) a partir dos gráficos da Figura
3.17, que são válidos no domínio da fluência linear, para temperaturas ambientes
compreendidas entre -40ºC e +40ºC e humidades relativas médias entre RH=40% e
RH=100%.
Notas:
Figura 3.17 – Método para a determinação do coeficiente de fluência, (,t0), para betão
em condições ambientais normais (Figura 3.1 do EC2).
Retração
cs t ca t cd t (3.36)
onde:
sendo,
sendo,
ds t, t s
t t s
(3.41)
t t s 0.04 h30
fcm
cd,0 0.85220 110 ds1 exp ds2 .10 6. RH (3.43)
10
com fcm expresso em MPa, onde ds1 e ds2 são coeficientes que dependem do tipo de
cimento (ver Quadro 3.9) e βRH depende da humidade relativa do ambiente através da
expressão:
RH
3
RH 1.551 (3.44)
100
Quadro 3.10 – Valores finais da extensão total de retração cs (×10-6) para betão com
cimento da classe N.
h0 [mm]
fck
100 200 300 500 100 200 300 500
[MPa]
RH=50% (ambiente interior) RH=80% (ambiente exterior)
20 564 477 416 374 326 277 243 220
25 545 463 406 366 321 275 243 221
30 528 451 397 360 317 274 244 223
35 513 440 390 354 314 273 245 225
40 499 430 383 350 312 273 247 228
45 487 422 378 346 310 274 249 232
50 476 415 373 344 310 276 252 236
600
Betão C25/30
Total ho=500mm
500
Secagem RH=50%
400 ts=8 dias
Autogénea
cs (x10-6)
Cimento da classe N
300
200
100
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 100
0
t (dias)
Na Figura 3.19 representa-se o valor da extensão total devido à retração a tempo infinito
para betões das classes de resistência indicadas e realizados com cimento da classe N.
Admite-se que a retração por secagem se inicia ao fim de oito dias (t s=8). São
apresentados os valores para as humidades relativas de 50%, típico de ambientes
interiores) e de 80%, mais frequente em ambientes exteriores.
600
RH=50%
550 ts=8 dias
Cimento da classe N
500
cs (x10-6)
C20/25
450 C25/30
C30/37
400 C35/45
C40/50
350
300
0 200 400 600 800 1000
ho (mm)
400
RH=80%
350 ts=8 dias
Cimento da classe N
300
cs (x10-6)
250
C20/25
200 C25/30
C30/37
150 C35/45
C40/50
100
0 200 400 600 800 1000
ho (mm)
Da análise da Figura 3.20 pode ainda constatar-se que o modelo proposto pelo EC2
simula uma redução significativa da retração por secagem para humidades relativas
elevadas.
600 600
Betão C25/30 RH=50%
500 ts=8 dias 500 ts=8 dias
Cimento da classe N Cimento da classe N
400 ho=500mm 400 h0=500mm
cs (x10-6)
cs (x10-6)
300 300
Total Total
200 200
Secagem Secagem
0 0
0 20 40 60 80 100 10 20 30 40 50
RH (%) fck (MPa)
-100 Modelo do
EC2
cs (x10-6m/m)
-200
-300 Valores
experimentais
-400
-500
-600
0 50 100 150 200 250 300 350
t (dias)
Ao aplicar ao provete a tensão inicial c, esta provoca uma extensão instantânea dada
por:
c
c (t 0 ) (3.45)
Ecm (t0 )
em que:
c
cc (t, t0 ) exp (t, to ) (3.46)
Ecm (t0 )
Ec
exp,corr (t, to ) exp (t, to ) (3.47)
Ecm (t0 )
t0 c fcm Ec
RH φRH βH
[dias] [MPa] [MPa] [GPa]
A evolução do valor experimental da extensão por fluência foi obtida a partir da diferença
entre as extensões medidas nos prismas compensadores da retração e da fluência. A
Figura 3.25 ilustra os resultados obtidos com o modelo proposto pelo EC2 (φEC2), assim
como os valores experimentais observados no mesmo período. No exemplo apresentado,
a tempo infinito, o coeficiente de fluência obtido a partir do modelo será
aproximadamente 71% do valor indicado no EC2.
3.5
Modelo do
3.0 EC2
2.5
(t,t0)
2.0
Valores
1.5
experimentais
1.0
0.5
0.0
0 50 100 150 200 250 300 350
t (dias)
3.3.1 Introdução
As cláusulas do EC2 são válidas para armaduras para betão armado em forma de varões,
fios, redes electrossoldadas e vigas em treliça pré-fabricada. Aplica-se ainda a armaduras
nervuradas e soldáveis (ver Quadro 3.4 do EC2).
O EC2 especifica os requisitos das propriedades no corpo do texto (ver 3.2 do EC2) e
quantifica esses requisitos em Anexo Normativo (Anexo C do EC2), remetendo para a
EN10080 os procedimentos para a sua verificação.
O atraso na publicação da EN10080 conduziu a que no Anexo Nacional se refira que são
aplicáveis as especificações LNEC relativas a este material (ver NA.4.3 do EC2),
nomeadamente:
LNEC E 455: 2010 – Varões de aço A400 NR de ductilidade especial para armaduras
de betão armado. Características, ensaios e marcação.
LNEC E 456: 2008 – Varões de aço A500 ER para armaduras de betão armado.
Características, ensaios e marcação.
LNEC E 460: 2010 – Varões de aço A500 NR de ductilidade especial para armaduras
de betão armado. Características, ensaios e marcação.
3.3.2 Resistência
Os aços são caracterizados pelo valor característico da sua tensão de cedência. A tensão
de cedência (fyk) é definida como o valor característico da força de cedência a dividir pela
área nominal da secção transversal da armadura (ver Figura 3.26a). Num aço endurecido
a frio (ver Figura 3.26b), que não exibe um pronunciado patamar de cedência com nítido
valor da tensão de cedência, é defina a tensão limite convencional de proporcionalidade a
0.2% (f0.2k), que é o valor característico da força máxima em ensaios de tração simples,
dividido pela mesma área nominal da secção transversal.
f
k f
fk k
As classes de resistência dos aços a usar em Portugal (fyk ou f0.2k) deverão ser 400 ou
500 (ver NA.3 do EC2), ainda que o articulado do EC2 seja válido até f yk=600MPa (ver
3.2.2 do EC2).
3.3.3 Ductilidade
A ductilidade do aço para betão armado é definida pela relação entre a resistência à
tração (tensão máxima) e a tensão de cedência (ft/fy)k (ver Figura 3.26) e pela extensão
na carga máxima (uk).
O EC2 define três classes de ductilidade, conforme se resume no Quadro 3.13, para
varões, fios e redes electrossoldadas (Quadro C.1 e Quadro NA.II do EC2).
Classe de ductilidade A B C
Armaduras A500EL ou ER A400 ou A500NR A400 ou A500NRSD
K = (ft/fy)k ≥ 1.05 ≥ 1.08 1.15 ≤ k ≤ 1.35
uk (%) ≥ 2.5 ≥ 5.0 ≥7.5
As diferenças introduzidas neste capítulo tornam os cálculos das secções à flexão simples
ou composta mais complexos, ainda que o resultado final não se traduza numa alteração
significativa em relação ao anteriormente estabelecido.
(ii) O segundo, com um ramo superior horizontal sem limitação das extensões.
Diagrama idealizado
Diagrama de cálculo
Figura 3.27 – Diagramas tensões-extensões, idealizado (A) e de cálculo (B) do aço para
armaduras para betão armado (Figura 3.8 do EC2).
Na prática, a utilização do primeiro diagrama pode introduzir uma ligeira economia nas
soluções, que pode atingir os 8%. Não são, contudo, frequentes, além de que a
complexidade dos cálculos aumenta significativamente. Os melhores resultados são
obtidos quando se utilizam aços de elevada ductilidade e, para estados limites últimos, a
profundidade do eixo neutro se situe próxima de 0.25d (sendo d a altura útil). Para
3.4 Bibliografia