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Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

Fundacentro

Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho na construção de rodovias:


Estudo de caso com foco na atividade de terraplenagem

Orientador: Dr. Gilmar da Cunha Trivelato

Cesar Penteado Kossa

Outubro/2014
INTRODUÇÃO
IMPORTÂNCIA DA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO

• A indústria da construção é um dos setores econômicos que mais


emprega trabalhadores no país e movimenta cifras significativas.

COPA DO MUNDO 2014


(Somente a construção dos estádios custou 8,48 bilhões de reais e
empregou mais de 50 mil operários).

JOGOS OLÍMPICOS (RJ – 2016)


(Previsão de 24,1 bilhões de reais somente em obras de infraestrutura).
• A construção de rodovias tem recebido investimentos dos
governos Estaduais e Federal.

• Exemplo PAC-2 que prevê a construção de quase 8 mil km de


rodovias e obras de manutenção em outros 50 mil km.

• Governo Federal prevê a destinação, nos próximos 25 anos,


de R$ 133 bilhões para ampliação e modernização da malha
rodoviária e ferroviária, sendo que R$ 79,5 bilhões serão
investidos já nos primeiros cinco anos.
OBJETIVO GERAL
• Conhecer as práticas de GSST nas atividades de
terraplenagem na construção de rodovias, a fim de identificar
suas dificuldades e, ao final, propor recomendações visando a
melhoria dos processos de prevenção.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Com base em modelos de avaliação e controle de riscos e de
gestão sistematizada da SST:

 Analisar e comparar os processos organizacionais das


empresas que atuam na área da construção de rodovias.

 Conhecer as práticas de SST adotadas por essas empresas.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1) SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO (SST)

 EMPREGADOR

• No mínimo cumprir a legislação;

Existem, no entanto, situações não contempladas pela legislação, o que exigirá


dos empregadores, irem além do mínimo legal, procurando adotar procedimentos
internos de SST, bem como orientando devidamente seus trabalhadores.

 TRABALHADORES

• Colaboração, participação e atendimento aos preceitos


estabelecidos.
2) AVALIAÇÃO DE RISCOS

 É o processo de quantificar ou valorar os riscos identificados e


tirar conclusões sobre a sua aceitabilidade, que pode ser
baseada na comparação com os valores dos Limites de
Exposição Ocupacional (LEO), com dados sobre os danos à
saúde ou acidentes.

 É a base para priorizar a implantação das medidas preventivas


de controle e gestão dos riscos.
 PRINCIPAIS ETAPAS DA AVALIAÇÃO DE RISCOS

a) identificação dos perigos;

b) estimativa do risco a partir de cada perigo, considerando a


probabilidade e a gravidade do risco; e

c) decisão se o risco é tolerável.


3) GESTÃO SISTEMATIZADA DE SST

Processo baseado no ciclo PDCA.

Plan = Planejar
Do = Executar
Check = Verificar
Act = Agir
• Existem vários modelos sistematizados por renomadas
instituições, que indicam caminhos que as organizações
devem seguir para implantar um SGSST satisfatório (OIT, ISO
31000, BS 8800).

• Todos esses modelos possuem requisitos comuns


considerados imprescindíveis ao sucesso de qualquer SGSST:
 Estabelecimento de uma política de segurança;
 Apoio da Alta Direção;
 Participação dos trabalhadores;
 Cumprimento dos requisitos legais aplicáveis;
 A avaliação e controle dos riscos;
 Monitoramento e melhoria contínua, dentre outros.
4) CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS

Classificação CNAE:

Grupo F (Construção)

42 Obras de Infra-Estrutura

42.11-1 Construção de Rodovias e Ferrovias

Grau de risco - 4

Fonte: Norma Regulamentadora nº 4 do MTE.


• Especificidades da construção de rodovias:

 Não seguem uma rotina de produção;

 Várias tarefas são desenvolvidas ao mesmo tempo em várias


frentes de trabalho e em diversos ambientes diferentes;

 Alta rotatividade e flutuação de trabalhadores.


• Dificuldades:

 Logística complicada (alimentação, água, sanitários,


transporte, alojamentos);

 Falta de uma legislação específica;

 Dificuldade de formação de uma consciência e cultura


prevencionista por parte dos trabalhadores.
 Não existe uma NR específica para o segmento de construção
de rodovias;

Segue especialmente a NR 18 que foi elaborada baseada na


construção de edifícios;

Segue várias outras NR em situações específicas.


-Limpeza e desmatamento;

-Terraplenagem;
-Subleito;
Etapas da construção de
-Leito;
rodovias
-Sub-base;
-Base;
-Revestimento

(RICARDO E CATALANI, 1990; SHIMIZU, 2012; DNIT, 2009)


TERRAPLENAGEM
-Escavação;
-Carga do material escavado;
-Transporte;
Etapas da
-Descarga;
terraplenagem -Espalhamento;
-Compactação; e
-Acabamento.

(RICARDO E CATALANI, 1990; SHIMIZU, 2012; DNIT, 2009)


TERRAPLENAGEM

-Corte;
Operações básicas -Aterro;
da terraplenagem -Caixa de empréstimo;
-Bota fora.

(Diagrama de Brückner, adaptado de COSTA, 2005)


5) ESTUDOS SOBRE GSST NA ATIVIDADE DA CONSTRUÇÃO

 Não foi encontrado nenhum estudo sobre GSST na construção


de rodovias e nem na atividade de terraplenagem;

Poucos estudos na construção pesada (destaque para um


estudo de caso na construção de oleodutos);

A maioria dos estudos na construção civil (edificações).


 Os estudos encontrados utilizam como referências
principalmente:

• A norma britânica BS 8800:1996;


• A especificação de auditoria OHSAS 18001 nas versões de 2007
e 1996.

Todos os trabalhos mostraram problemas comuns à respeito


da GSST, tais como:

•As empresas limitam-se a cumprir a legislação;


•Falhas na comunicação;
•Os trabalhadores pouco (ou nada) participam dos processos;
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste estudo de casos múltiplos foram
utilizadas as pesquisas:

a) exploratória para levantar as teorias a respeito do assunto e


conhecer as características das atividades de terraplenagem
na construção de rodovias e como são desenvolvidas as
ações de segurança e saúde do trabalhador em empresas
que atuam neste segmento; dentre outras;

b) descritiva com a finalidade de apresentar as características


do caso estudado.
 AS UNIDADES DE ANÁLISE

• Foram selecionadas três empresas do ramo da construção de


rodovias, todas situadas na região Centro-Oeste brasileira.

• Exigiu-se que empresas tivessem obras em andamento com


atividades de terraplenagem, foco desta pesquisa.

• A identidade das empresas foram mantidas em sigilo


(Empresas A, B e C).
 Aspectos analisados

1) Características gerais das empresas;


2) Caracterização das atividades e ambientes de trabalho na
terraplenagem;
3) Informações de SST disponíveis;
4) Avaliação e controle de riscos nas atividades de
Terraplenagem:
 Fontes e procedimentos para coleta de dados.

• Reuniões com representantes das empresas (principalmente


responsáveis pelos SESMT);

• Análise de documentos;

• Visitas às obras.
 Avaliação de riscos (1)

• Para a avaliação de riscos na atividade de terraplenagem,


baseamo-nos no método semiquantitativo, valendo-se da
experiência deste pesquisador e com base nas observações de
campo, análise de documentos e entrevistas com os
trabalhadores envolvidos.
 Avaliação de riscos (2)

• Utilizamos os princípios propostos pela norma BS 8800:1996,


tendo sido primeiramente elaborado um formulário
(APÊNDICE B) constando os aspectos impactantes, a
população sob-risco, a identificação do risco, os fatores
determinantes, os controles existentes, a estimativa do risco e
um campo para observações.
 Avaliação de riscos (3)

• O nível de risco foi estimado pela combinação da severidade


(S) com a probabilidade (P) da ocorrência de consequências
negativas para a saúde dos trabalhadores, utilizando-se uma
matriz de risco. Para cada nível de risco estimado foi atribuído
um grau de incerteza (INC).
 Avaliação de riscos (4)

• Para estimar a severidade (S), utilizou-se índices que variavam de 1


a 4 e que representam a gravidade e extensão das consequências
negativas para saúde e à integridade física e mental dos
trabalhadores, conforme quadro:
SEVERIDADE
 Avaliação de riscos (5)
• Para estimar a probabilidade de ocorrência das consequências
negativas também se utilizou índices que variam numa escala de 1 a
4. Para definir esses índices, foram consideradas as características
dos fatores determinantes bem como as medidas de controle
existentes, em que se adotou os seguintes parâmetros:
PROBABILIDADE
 Avaliação de riscos (6)
• Com base nos quadros anteriores, que determinam a
severidade e a probabilidade de ocorrência do risco, foi
possível estimar o nível desses risco, conforme matriz de risco
representada no quadro a seguir:
MATRIZ DE RISCO (NÍVEL DO RISCO)
 Avaliação de riscos (7)

• E, considerando o nível de risco estimado, é possível definir


prioridades de ações preventivas. :
AÇÕES DE CONTROLE
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
Caracterização das empresas estudadas
• Todas com experiência de 20 a 30 anos na área da construção
pesada;
• As empresas A e B atuam também em outras atividades na
área da construção (edificações, infraestrutura);
• A empresa C somente na construção de rodovias;
• Principal cliente o Poder Público (Federal, Estadual e
Municipal).
• Todas de médio e grande porte.
• Decisões centralizadas nas diretorias (alta direção) – todas;
• Todas com SESMT incompleto.
Caracterização das empresas (PONTOS COMUNS)
• Métodos de trabalho, máquinas e funções na terraplenagem
com as mesmas características;
• Institucionalização da hora extra diária (TURNÃO);
• Sistemas de alojamento e folgas semelhantes;
• Perfil dos trabalhadores semelhantes:

ESPECIALIZADOS NÃO ESPECIALIZADOS


- Mais velhos - Mais jovens
- Maior tempo de serviço - Pouco tempo de serviço
- Remunerações melhores - Baixos salários
- Menor escolaridade - Maior nível de escolaridade
- Maioria casado - Maior número de solteiros
- Maioria de outras localidades - Nativos
Empresa A
• A mais organizada;
• Procura ao máximo cumprir os requisitos legais,
principalmente no que diz respeito às condições de vivência e
fiscalização de terceiros;
• Adota sistema de avaliação dos requisitos de SST que
dependendo da classificação de cada obra, geram
bonificações ou reprimendas;
• Programas de SST não implementados;
• CIPA não participativa;
• Não há participação dos trabalhadores nos processos;
• Faltam requisitos importantes de gestão (política declarada,
programas de capacitação; comunicação, avaliação saúde...)
Empresa B
• A menos estruturada em termos de SST;
• Não cumpre devidamente os requisitos legais;
• 1 engenheiro de segurança e 2 TST para todas as obras (12 em
andamento);
• Programas de SST incompletos e não implementados;
• Não tem CIPA;
• Faltam EPI, treinamentos, capacitações, procedimentos...
• Falhas e inadequações nas condições de vivência e bem estar.
Empresa C
• A mais especializada na construção de rodovias;
• Profundamente afetada por problemas financeiros;
• Não consegue cumprir devidamente os requisitos legais;
• O SESMT apesar de existente, não tem recursos para atuar;
• Programas de SST não implementados;
• Priorização da produção;
• Trabalhadores insatisfeitos e revoltados (não recebem salários
em dia, não deposito de FGTS...);
• CIPA não participativa;
• Falhas e inadequações nas condições de vivência e bem estar.
AVALIAÇÃO DE RISCOS
MATRIZ
EMPRESA A

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS SEM
CABINE
EMPRESA B

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS SEM
CABINE
EMPRESA C

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS SEM
CABINE
EMPRESA A

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS COM
CABINE
EMPRESA B

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS COM
CABINE
EMPRESA C

OPERAÇÃO DE
MÁQUINAS COM
CABINE
EMPRESA A

SERVIÇOS DE APOIO
PRÓXIMO ÀS
MÁQUINAS
EMPRESA B

SERVIÇOS DE APOIO
PRÓXIMO ÀS
MÁQUINAS
EMPRESA C

SERVIÇOS DE APOIO
PRÓXIMO ÀS
MÁQUINAS
EMPRESA A

CONDIÇÕES DE
CONFORTO E BEM
ESTAR
EMPRESA B

CONDIÇÕES DE
CONFORTO E BEM
ESTAR
EMPRESA C

CONDIÇÕES DE
CONFORTO E BEM
ESTAR
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Considerando que essas empresas têm como clientes os
governos Federal, Estaduais e Municipais, a contratação dos
serviços se dá por meio de processos licitatórios, que utilizam
planilhas de custos com preços máximos para cada item a ser
orçado, mas não contemplam os investimentos com
segurança e saúde no trabalho, acarretando posteriormente,
a falta de recursos para tais ações.
Os Órgãos públicos deveriam, portanto, seguir o exemplo de
grandes empresas privadas, que na contratação de serviços
de terceiros, exigem o detalhamento e comprovação dos
investimentos em segurança e saúde no trabalho, compatíveis
com o porte do empreendimento.
 A participação dos trabalhadores em todos os aspectos de
segurança e saúde no trabalho deve ser incentivada, valendo-
se inclusive, da experiência desses trabalhadores, que podem
contribuir com sugestões valiosas para as ações
prevencionistas, tanto na investigação de acidentes quanto na
implantação de novas medidas de controle.
 A comunicação em todos os níveis deve ser melhorada,
criando mecanismos de acesso a informações e acatamento
de ideias, sugestões e críticas por todos os interessados.
Programas de treinamentos e capacitações devem ser
intensificados e melhorados, de modo a preparar e
conscientizar os trabalhadores de todos os níveis, a fim de
desenvolverem suas atividades com competência e
informação, e não apenas para servir de documento em caso
de fiscalização.
 Devem ser criados mecanismos eficazes para a avaliação e
controle dos riscos, também com a participação dos
trabalhadores, onde todos os fatores impactantes relativos à
segurança, saúde e bem estar, sejam considerados, incluindo
os de origem social e cultural, tais como os problemas
apontados neste trabalho em relação a trabalhadores de
outras localidades que permanecem longos períodos longe
das suas residências ou a prática costumeira de jornadas de
trabalho prolongadas.
 Finalmente, de nada adianta implantar procedimentos para a
detecção de problemas relativos à segurança e saúde no
trabalho, se as empresas não se estruturarem para estudar,
planejar e implementar medidas de controle de avaliação e de
melhoria contínua, visando não só cumprir o prescrito nas
normas vigentes, mas efetivamente aplicar mecanismos que
possibilitem a preservação da saúde e da integridade física
dos trabalhadores.
BONS EXEMPLOS A SEGUIR
MUITO

OBRIGADO

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